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BANCA EXAMINADORA
(_ _ / _ _ / _ _ _ _)
Horário:
(_ _ : _ _)
Local:
CERI - FACAMP
Monografia executada sob a orientação do Prof. Rogério dos Passos, como requisito
parcial para a conclusão do Curso de Relações Internacionais nas Faculdades de
Campinas – Facamp.
Campinas
2008
iv
FICHA CATALOGRÁFICA
v
AGRADECIMENTOS
• A Deus, por ter cuidado de todos nós nesses quatro anos de faculdade, e por esta
oportunidade de estar concluindo a graduação.
• A minha mãe Suzana de S. L. Carvalho e meu pai Ivo Ridolfi Carvalho que
me proporcionaram os estudos para que eu pudesse estar hoje me graduando em
Relações Internacionais.
• Ao meu Orientador, Professor e Amigo Rogério dos Passos que se empenhou
em me ajudar a construir este trabalho.
• A todos os Professores, os quais me ensinaram muito nesses quatro anos de
faculdade.
• A todos os meus colegas da sala de Relações Internacionais, mas em especial,
meus amigos: Aline Tranchitella, Débora Oska, Fábio Marques, Juliana
Bicudo, Karen Pasqualini e Tatiane Krice
• A todos os meus amigos dos corredores da faculdade, e fora dela, e em especial,
meu companheiro Diego Costella que sempre me incentivou e apoiou.
• E aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste
trabalho fica registrado o meu Muito OBRIGADA.
viii
ix
Resumo
O trabalho irá determinar quais são os grandes problemas causados pela falta
de um tratado / acordo formal existente entre os países cujo Aqüífero Guarani abrange,
notadamente. Argentina Brasil, Paraguai e Uruguai, que não possuem uma
regulamentação para o uso da maior reserva de água doce do planeta em âmbito
internacional, não determinando assim, por exemplo, a quantidade de água que pode ser
extraída, além dos riscos que algumas atividades superficiais podem causar para uma
reserva do porte do aqüífero e das atividades agrícolas que fazem uso de agrotóxico, ou
outros produtos que podem prejudicar sua qualidade. A busca pelo estabelecimento de
um acordo regulamentando o uso, gestão e a proteção do Aqüífero Guarani é de
fundamental importância para a continuação das boas relações diplomáticas entre esses
países, já que eles compõem o MERCOSUL.
Abstract
The work will determine what are the major problems caused by lack of a
treaty / formal agreement between the countries whose Guarani Aquifer covers.
Argentina Brazil, Paraguay and Uruguay, which do not have a regulation for the use of
the largest reserve of fresh water on the planet at the international level, not determining
until, for example, the amount of water that can be extracted, in addition to the risks that
some surface activities can lead to a reservation the size of the aquifer and agricultural
activities that make use of pesticide, or other products that may damage their quality.
The search for the establishment of an agreement regulating the use, management and
protection of the Guarani Aquifer is of fundamental importance for the continuation of
good diplomatic relations between these countries, since they make up the
MERCOSUR.
Sumário
RESUMO....................................................................................................................................................XI
ABSTRACT..............................................................................................................................................XII
SUMÁRIO...............................................................................................................................................XIV
INTRODUÇÃO........................................................................................................................................XV
1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA.........................................................................................XVII
1.1 DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL..................................................................XVII
1.2 A ÁGUA E O DIREITO AMBIENTAL INTERNACIONAL.................................................................................XXVII
2. AQÜÍFERO GUARANI................................................................................................................XXXV
2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS.......................................................................................................................XXXV
2.2 O GUARANI......................................................................................................................................XXXIX
3.MERCOSUL E O AQÜÍFERO GUARANI................................................................................XLVIII
3.1 DOS CONFLITOS AO MERCOSUL..........................................................................................................XLVIII
3.2 LEGISLAÇÕES........................................................................................................................................LIV
3.2.1 BRASIL.....................................................................................................................................lvii
3.2.2 ARGENTINA..............................................................................................................................lix
3.2.3 URUGUAI..................................................................................................................................lxi
3.2.4 PARAGUAI...............................................................................................................................lxii
3.3 PROJETO AQÜÍFERO GUARANI - PAG.....................................................................................................LXII
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................................LXVI
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................LXIX
xv
Introdução
Com o passar dos anos, a consciência de que as atividades econômicas
desempenhadas com base na utilização do meio ambiente podem gerar danos
irreversíveis se tornou mais presente nos debates internacionais, pois o que se busca é
uma continuidade dessas práticas econômicas sem que estas prejudiquem as gerações
futuras. Logo uma utilização controlada e menos danosa dos recursos naturais deve ser
o pilar sustentador das relações internacionais no que concerne ao meio ambiente, já que
muitos países, quando ambicionados pela obtenção de vantagens e maiores lucros, não
promovem uma política de exploração, na qual a sustentação e preservação do meio
ambiente deveriam ser fundamentais. No entanto, quando os recursos naturais são
compartilhados por Estados, a responsabilidade de existir uma política de regulação
entre eles sobre o uso desse determinado recurso deve ser essencial para que não cause
possíveis conflitos, principalmente quando o recurso em questão é a água, o mais
essencial de todos para a vida humana no planeta.
O presente trabalho irá determinar quais são os grandes problemas causados
pela falta de um tratado/acordo formal existente entre os países cujo Aqüífero Guarani
abrange, notadamente Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que não possuem uma
regulamentação para o uso da maior reserva de água doce do planeta em âmbito
internacional, não determinando assim, por exemplo, a quantidade de água que pode ser
extraída, bem como os riscos que algumas atividades superficiais podem causar para
uma reserva do porte do aqüífero, além de atividades agrícolas que fazem uso de
agrotóxico, ou outros produtos que podem prejudicar sua a qualidade. A busca pelo
estabelecimento de um acordo regulamentando o uso, gestão e a proteção do Aqüífero
Guarani é de fundamental importância para a continuação das boas relações
diplomáticas entre esses países, já que eles compõem o MERCOSUL.
O objetivo do trabalho é analisar as conseqüências e os possíveis conflitos
gerados pela ausência de um tratado/ acordo regulamentando a exploração do Aqüífero
Guarani, tido como a maior reserva de água subterrânea doce do mundo. As
conseqüências seriam tanto de ordem econômica, causando uma ocorrência de maior
utilização de um país em comparação a outro, quanto de ordem político-social,
causando desgaste das relações internacionais desses Estados que buscam uma maior
integração. Além da conseqüência da própria degradação ambiental que a falta de uma
regulamentação poderia gerar, já que não são claros os mecanismos de exploração.
xvi
1. Contextualização Histórica
Logo, conclui-se que o nível de produção industrial atual não somente faz uso
de matérias-primas e de energias, que assim como ressalta o referido autor são
principalmente extraídas do Hemisfério Sul, mas também necessitam de locais para
despejar os poluentes, ou seja, os resíduos que sobram do processo industrial e não
possuem utilidade. Dessa forma, observa-se que esse sistema pressupõe interferências
globais, mesmo porque ao desenvolver o parque industrial de determinado país, acaba
por modificar o meio ambiente dessa região e possivelmente de outra, no que condiz
importação de matérias-primas e energia (recursos naturais) e a “exportação” de
resíduos químicos e poluentes, os quais não respeitam fronteiras.
xviii
Assim sendo, como já foi analisado por Marx, o homem metaboliza a matéria-
prima por processos particulares para transformá-la em mercadoria, pois no sistema
capitalista o indivíduo é obrigado a levar sua mercadoria para o mercado, e dessa forma
é fundamental a existência de reservatórios imensos de matéria-prima (recursos
naturais) para o contínuo processo de produção industrial capitalista. Por isso, Altvater
afirma que o meio ambiente atua ao mesmo tempo como um fator condicionante para o
desenvolvimento e um fator limitante (MARX, 1988, p. 64).
Desse modo, é visível que o meio ambiente tornou-se apenas uma ferramenta
para o desenvolvimento da sociedade capitalista, as preocupações com qualidade de
vida, níveis de poluição e degradação ambiental permaneceram por muito tempo longe
dos debates nacionais e internacionais. A exploração de uma reserva de matéria-prima,
com o objetivo de alimentar processos de produção industrial, ou o desmatamento de
florestas tropicais em níveis superiores às taxas de recuperação e o consumo de água
acima da cota de reposição – apenas para aumentar o consumo nos países
industrializados – tornaram-se comuns, assim como Chesnais (1996), que afirma que “o
uso da terra, bem como de todos os recursos naturais, renováveis ou não, foi submetido
ainda mais estreitamente às leis do mercado e do lucro capitalista” (CHESNAIS, 1996,
p. 42).
Porém esta sobre-exploração de recursos naturais acaba por ter como
conseqüência um ecossistema menos diversificado, freqüentemente prejudicado ou
destruído, já que assim como Altvater (1995) afirma, os recursos naturais que uma vez
foram utilizados no processo de desenvolvimento, não estarão disponíveis uma segunda
vez para as estratégias de desenvolvimento:
“O óleo queimado não pode por uma segunda vez impulsionar um motor ou
aquecer uma caldeira. As cotas de poluição já gastas no ar ou nas águas não
podem ser reutilizadas uma segunda vez. O suposto resultado é amargo: a
industrialização é um luxo exclusivo de parcelas da população mundial, mas não
para a ampla maioria dos seus 6,25 bilhões de habitantes na virada do milênio. É
impossível simplesmente dar continuidade às estratégias de desenvolvimento e
de industrialização das décadas passadas. Não só elas fracassaram em extensas
regiões do Hemisfério Sul, como estavam condenadas ao fracasso por causas das
contradições que contêm. É uma ilusão, e por isto uma desonestidade, alimentar
xix
Faz parte da natureza do homem buscar por uma qualidade de vida que seja
digna e sadia, assim torna-se indispensável a defesa e a proteção do meio ambiente. E
aos poucos a busca desse meio ambiente saudável passou a fazer parte das discussões,
ganhando as ruas, e a sociedade passou a pressionar os Estados assim, de maneira que o
assunto passou definitivamente a fazer parte da pauta interna de todos os países,
inclusive dos em desenvolvimento. E sobre isso D’Ávila e Tabet (2004) concluem que
“Believing that sustainable development, which implies meeting the needs of the
present without compromising the ability of future generations to meet their own
needs, should become a central guiding principle of the United Nations,
Governments and private institutions, organizations and enterprises” (Report of
the World Commission on Environment and Development – Report "Our
Common Future"/ Brundtland, General Assembly, 1987).
Além dessa definição, o relatório ainda apresenta uma lista de medidas que os
Estados nacionais, instituições privadas nacionais e internacionais e organizações não
governamentais devem tomar, tais quais: diminuição do crescimento populacional,
garantia de satisfação de necessidades básicas a longo prazo, preservação do meio
ambiente, diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que
admitem o uso de fontes energéticas renováveis e aumento da produção industrial em
países em desenvolvimento à base de tecnologias ecologicamente adaptadas. Já no
âmbito internacional, o Relatório incentiva as organizações de desenvolvimento a adotar
estratégias condizentes com o desenvolvimento sustentável e incita os Estados e outras
organizações a prover a proteção de ecossistemas supranacionais como a Antártica, os
oceanos e o espaço.
No entanto, vale ressaltar que o foco da preocupação com o meio ambiente
muda no Relatório Brundtland em relação a Conferência de Estocolmo. Na declaração
de Estocolmo, o meio ambiente está diretamente relacionado com a qualidade de vida
do homem, e todas as medidas a serem realizadas levam em primeira instância o meio
ambiente e sua preservação, assim como exposto no Princípio 18:
2
“14. Reaffirms the need for additional financial resources from donor countries and organizations to
assist developing countries in identifying, analysing, monitoring, preventing and managing environmental
problems in accordance with their national development plans, priorities and objectives; 15. Reaffirms
the need for developed countries and appropriate organs and organizations of the United Nations system
to strengthen technical co-operation with the developing countries to enable them to develop and enhance
their capacity for identifying, analysing, monitoring, preventing and managing environmental problems in
accordance with their national development plans, priorities and objectives;” (Report of the World
Commission on Environment and Development – Report "Our Common Future"/ Brundtland, General
Assembly, December 1987).
xxvi
corriam riscos. Vale ressaltar que o meio ambiente é um sistema fechado e limitado, e o
dano em determinados ecossistemas gera conseqüências não menos graves em outras
regiões do globo. Os países do Hemisfério Sul também foram fortemente pressionados
pela opinião pública, pois na busca pelo desenvolvimento destruíram partes de seus
recursos naturais. Assim foi estabelecido que em 1990 que haveria na Noruega uma
preparação para uma Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento.
Essa conferência foi nomeada como Cúpula da Terra, ou popularmente como
Rio-92, e foi sediada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, em junho de 1992. Dessa
forma, houve uma tentativa de aproximação entre o Hemisfério Sul e o Norte, já que até
então existia o preconceito de o Sul ser o grande responsável pelo aumento da
degradação ambiental. A conferência não somente atraiu milhares de pessoas da
sociedade civil e centenas de organizações econômicas, mas também chefes de Estado,
que até então não tinham participado maciçamente desse tipo de reunião.
abundante. Vale ressaltar, entretanto, que apenas uma parcela da água existente no
planeta é potável, e que pelo uso desmedido e sem cuidados com agentes poluidores,
vem fazendo com que o recurso – já ínfimo – diminua progressivamente. Nesse esteio,
as pessoas foram conscientizando-se que sem a água não há como existir uma
população saudável e desenvolvida, uma vez que esse recurso é fundamental para a
agricultura e também para o desenvolvimento da indústria.
Em 1949, com o fim da II Guerra Mundial é realizada a Conferência Científica
das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização dos Recursos Naturais. Nesse
encontro é discutida a questão da pilhagem de rios e mares e a poluição industrial
depositada nos mesmos. Foi o primeiro passo para o estabelecimento de Tratados
específicos na área de recursos hídricos. Em 1961, outro avanço representativo das
relações internacionais na questão ambiental se deu através da entrada em vigor do
Tratado Antártico, o qual foi negociado em 1959 em Washington. Nele fica expresso,
segundo o Ministério do Meio Ambiente, que seu objetivo primordial é “assegurar que a
Antártida seja usada para fins pacíficos, para cooperação internacional na pesquisa
científica, e não se torne cenário ou objeto de discórdia internacional”. Dessa forma, é
instituído, através da cooperação internacional, que a área antártica é livre para
pesquisas científicas, á proibida para testes nucleares e para despejos de resíduos
radioativos (TRATADO Antártico, 1959).
Os recursos hídricos continuaram progressivamente a fazer parte das
discussões internacionais de forma mais entusiástica. Em 1958 e 1960, ocorre a
Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e em 1982, entrou em vigor a
Convenção sobre o Direto do Mar, no intuito de fazer uma convenção que abrangesse os
interesses gerais dos países, procurando estabelecer “uma ordem econômica
internacional justa e equitativa que tenha em conta os interesses e as necessidades da
humanidade em geral e, em particular, os interesses e as necessidades especiais dos
países em desenvolvimento, quer costeiros quer sem litoral” (CONVENÇÃO das
Nações Unidas sobre Direito do Mar, 1982.).
Vale fazer referência do primeiro tratado assinado pelo Brasil, Argentina,
Uruguai, Bolívia e Paraguai em 1969, o qual previa um programa de gestão conjunta
para o desenvolvimento harmônico e a integração física da Bacia do Prata, promovendo
a identificação de áreas de interesse comum e a realização de estudos, programas e
obras que visem assegurar sua preservação para as gerações futuras através da utilização
xxix
racional dos aludidos recursos. Guimarães (2007) discorre sobre esse tratado do
seguinte modo:
realizada a I Conferência das Nações Unidas sobre a Água, em Mar Del Plata, com uma
abordagem nova sobre o tema; sua declaração chamada de Plano de Ação de Mar del
Plata previa e reconhecia que a água deve ser considerada uma das bases para o
desenvolvimento sócio-econômico da sociedade, além de defender que “todos os povos,
quaisquer que sejam seu estágio de desenvolvimento e suas condições sociais e
econômicas, têm direito ao acesso à água potável em quantidade e qualidade à altura de
suas necessidades básicas". Assim, foi declarado que a década de 1980 seria
considerada a Década Internacional do Fornecimento da Água Potável e do Saneamento
(RELATÓRIO da Conferência das Nações Unidas sobre a Água, Cap. I. Resolução II).
Sobre a importância da água Guimarães (2007) afirma que todos os recursos
naturais são primordiais para o equilíbrio dos ecossistemas, e que a alteração ou
destruição do um desses ecossistemas pode alterar de forma danosa o sistema como um
todo. No entanto pra ele, a água é um recurso que merece uma atenção especial, pois
além de dois terços do corpo humano ser formado por água, uma pessoa não pode
passar mais de cinco dias sem esse líquido sem que corra risco de morte. Para esse
mesmo autor, “além do valor essencial ao ser humano a água possui reflexos nos
campos cultural, religioso e, também, econômico, com conseqüências políticas e
estratégicas” (GUIMARÃES, 2007, p.14).
A década da água instituída pela ONU, não apresenta resultados efetivos. A
degradação do meio ambiente ocorre de modo cada vez mais acelerado, juntamente com
o aumento populacional, e o crescimento da miséria mudam sutilmente a abordagem
desse tema, que até então tinha seu enfoque centrado em instrumentos econômicos
(água e sua função no desenvolvimento econômico). Oficialmente em 1990, foi
realizado um encontro em Nova Déli, Índia, para analisar as resultantes de uma década
toda de incentivo a preservação e gestão planejada dos recursos hídricos. Para tanto
Lúcia Chayb Diretora da ECO - 213, faz referência aos resultados obtidos:
3
Revista mensal de distribuição nacional com a temática política ambiental e responsabilidade sócio
ambiental destinada ao terceiro setor e aos profissionais da educação, saúde, turismo, transporte, energia,
biologia, saneamento, entre outras.
xxxi
cooperação entre Estados, e para que esse princípio traga resultados expressivos
D’Ávila e Tabet salientam que alguns pressupostos devem ser seguidos:
Sustentável – Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, Nova Iorque Setembro de 2002. §18).
xxxv
2. Aqüífero Guarani
Atualmente a crescente demanda por água, fez com que a preocupação com
relação a esse recurso expandisse, já que com as alterações no modo de viver da
população mundial em crescimento, atreladas às formas insustentáveis de produzir e
consumir também crescentes, bem como a dinâmica da economia globalizada,
configuram-se em um cenário crítico para a gestão das águas no mundo.
Conforme dados da Food and Agriculture Organization of the United Nations
(FAO), a América do Sul ocupa a segunda posição na disponibilidade geral de água por
continente, tendo 35.808 m3 por habitante por ano, perdendo somente para a Oceania
que possui uma disponibilidade de 55.110 m3 por habitante por ano, assim como
descrito na tabela abaixo. No entanto, vale ressaltar que embora a disponibilidade de
água na América do Sul seja elevada, a distribuição dela no território é irregular, desse
6
BOSCARDIN BORGHETTI, Nádia Rita; BORGHETTI, José Roberto; ROSA FILHO, Ernani
Francisco da. Aqüífero Guarani: a Verdadeira Integração dos países do Mercosul. Curitiba, 2004.
xxxvi
Com o passar dos anos, as águas subterrâneas foram sendo valorizadas, pois
com o aumento da população mundial, o atual desenvolvimento das áreas
agriculturáveis e da produção industrial fez com que a demanda por novos espaços de
exploração de recursos hídricos fossem cogitados. Como resultado do crescimento
populacional, incorporado com outros efeitos danosos ao meio ambiente causados pelo
desenvolvimento, as águas superficiais dos rios e lagos tornaram-se insuficientes e
degradadas, assim a procura por água subterrânea aumentou.
7
BOSCARDIN BORGHETTI, Nádia Rita; BORGHETTI, José Roberto; ROSA FILHO, Ernani
Francisco da. Aqüífero Guarani: a Verdadeira Integração dos países do Mercosul. Curitiba, 2004.
xxxviii
qualidade da água subterrânea, já que é o local no qual a água da chuva penetra até
atingir o armazenamento, e se esse local for contaminado ou poluído, a reserva poderá
ser comprometida. Além disso, uma super-exploração dessas zonas pode ter como
conseqüência a diminuição do nível do lençol freático, já que sua recarga não seria
suficiente para cobrir sua evasão, podendo gerar danos irreversíveis em nascentes e rios
superficiais. Dependendo do nível do impacto, o aqüífero pode ser prejudicado como
um todo, já que em muitos casos as águas circulam de uma região a outra, não
respeitando fronteiras estaduais e nacionais.
As águas de aqüíferos estão sendo mais utilizadas no Brasil devido a um
aumento da demanda por água, principalmente, no campo agrícola, o qual exige uma
imensa quantidade de água para a irrigação, e no campo industrial, cujo crescimento se
intensificou na última década. A exploração de aqüíferos tem sido preferência devido à
independência de redes de distribuição pública que essa utilização tem por
característica, já que pode configurar seu uso no local da extração. Alguns condomínios
verticais e horizontais, assim como também alguns núcleos urbanos também optaram
por esse tipo de extração, pelas mesmas razões acima citadas.
O Aqüífero Guarani foi batizado com esse nome por sugestão de Danilo
Anton, geólogo uruguaio, o qual o propôs como homenagem a população indígena
guarani que habitava a região de abrangência dessa reserva. O Aqüífero Guarani
abrange Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sendo um dos maiores reservatórios de
água subterrânea doce do mundo, tendo 1,3 milhões de km 2. Ele perde apenas para o
Arenito Núbia (Líbia, Egito, Chade e Sudão) com 2 milhões de km2, e para a Grande
Bacia Artesiana (Austrália) com 1,7 milhos de km2, conforme dados de Boscardin
Borghetti expostos na tabela abaixo.
Tabela 3: Principais Aqüíferos
Aqüífero Local Extensão
Arenito Núbia Líbia, Egito, Chade, 2 milhões de km2
Sudão
Grande Bacia Artesiana Austrália 1,7 milhões de km2
Guarani Argentina, Brasil, 1,2 milhões de km2
Uruguai, Paraguai
Bacia Murray Austrália 297 mil km2
Kalahari/Karoo Namíbia, Botsuana, 135 mil km2
África do Sul
Digitalwaterway vechte Alemanha, Holanda 7,5 mil km2
Fonte: elaborado a partir de Boscardin Borghetti, 2004.
2.2 O Guarani
xl
todos eles têm o direito de usufruir desse recurso da melhor forma possível (PES, 2005,
p.33).
As águas subterrâneas, apesar de serem de mais difícil contaminação, estão
sendo cada vez mais prejudicadas em sua qualidade e isso se deve principalmente aos
postos de gasolina mal instalados, aos cemitérios mal utilizados, aos depósitos de lixo,
as usinas de açúcar, aos curtumes, aos frigoríficos, às fossas sépticas, aos agrotóxicos e
aos poços rasos e profundos que são construídos, operados e abandonados sem
tecnologia adequada.
De acordo com estudos feitos, provou-se que as águas do Guarani são em sua
maioria próprias para o consumo humano, para a utilização em indústrias e para a
irrigação na agricultura, e também em várias regiões, devido a temperatura ser em
média 30ºC, como já mencionado, sendo a água utilizada inclusive em balneários. Cerca
de 70% da reserva de água encontra-se a 500 metros da superfície, não apresentando
dificuldades para sua extração e, ainda, há possibilidade dos poços serem jorrantes
(REBOUÇAS, 2006, p.129).
Essas características comprovam que o Aqüífero Guarani constitui um incrível
potencial econômico a ser explorado, embora, sua exploração já tenha começado há
alguns anos. De forma tímida, não existe nenhuma forma de regulamentação e
planejamento para tal atividade, e o que aparentemente existe hoje, é uma reserva
imensa que pode ser destruída em poucos anos se seu uso não for feito de modo
consciente sob a proteção dos governos, garantindo sua sustentabilidade.
A água do Aqüífero Guarani é em algumas partes, um montante de água
confinada a milhares de anos, e em outras, da penetração da água da chuva. Dessa forma
seu uso não significa diretamente que ele pode um dia chegar a se esgotar, mas para
tanto existe um limite de exploração. Esse limite de extração é considerado o volume
estimado anual de recarga do aqüífero. No entanto, isso não significa que esse montante
possa ser explorado apenas de uma região, já que cada área apresenta características
específicas, por exemplo, pode se verificar na recarga de uma área, que pode ser mais
lenta que outra, com vulnerabilidade muito maior. Por isso, a atenção a todas as regiões
é essencial para a preservação do Aqüífero, além de ser necessário um estudo atento
para identificar cada área de risco.
A recarga do Sistema Aqüífero Guarani é feita através de partes da água da
chuva que se infiltra pelo solo, ou por rios, arroios e lagos, contribuindo para um
aumento da reserva. Estima-se que por ano o volume de recarga seja 166 km 3, ou seja,
xliii
166 trilhões de litros de água por ano. Sendo assim, o limite para a exploração das águas
subterrâneas dessa reserva considerando os perigos de cada região e as variações de
precipitações sem que apresente riscos para ela é de 40 km3/ano (40 trilhões de litros de
água por ano) (GUIMARÃES, 2007, p.31).
No Paraguai, a região do solo, no qual se localiza o Guarani, ocorre
predominantemente a agricultura, já na Argentina e Uruguai, além da atividade agrícola
há também a pecuária. No Brasil, além da agropecuária, ocorre atividade industrial, e
também são regiões que alocam grandes concentrações populacionais. No que diz
respeito à utilização de suas águas, o Guarani é diversificado nesses países. O uso
principal na Argentina é de atividade balneária hidrotermal turística e com fortes
perspectivas para o uso na área industrial. No Paraguai, a maioria da exploração ocorre
para abastecimento público da população, enquanto no Uruguai é mais ampla,
dividindo-se em recreação hidrotermal, tal como na Argentina, irrigação e indústria. No
Brasil, cerca de 70% da água explorada é destinada para abastecimento da população, a
quantidade remanescente é utilizada para turismo hidrotermal, irrigação, extração de
água mineral, e na área industrial. Boscardin Borghetti faz referência aos diversos usos
do aqüífero e suas potencialidades.
reversa, que é mais barata. A captação da água de rio também não apresenta valores
altos, no entanto, nessa abordagem não está contabilizado o transporte dessa água e nem
os custos de encanamento e afins, já que muitas vezes a água de rios é utilizada
quilômetros de distância de sua extração, ao contrário da água subterrânea que pode ser
extraída no local de sua demanda.
9
ROGERS, P. Assessment of Water Resources: Technology for Supply. Resources and World
Development. 1987, p.611-623.
xlv
subterrâneas dessa reserva sejam utilizadas por diversas formas de modo sustentável por
todos, em todos os quatro países de sua ocorrência (GUIMARÃES, 2007, p. 33).
As águas do Guarani para a utilização em abastecimento público são
consideradas muito viáveis, já que, além de serem próprias para o consumo, os custos
de sua produção são 50 vezes mais baixos em comparação com a captação de rios e
lagos (considerando também valores de instalação de encanamento e redes de
distribuição). A tecnologia avançou no sentido da produção de bombas desenvolvidas
para extração em grandes profundidades aumentando a facilidade do processo. Vale
enfatizar, que é de suprema necessidade existir uma rede de distribuição de água
saudável juntamente com um sistema de tratamento de esgoto confiável e eficiente para
que não haja devolução para a natureza sem o devido tratamento, ação que beneficiaria
a proteção do Sistema Aqüífero Guarani (ANA, 2005 apud GUIMARÃES, 2007, p.32.).
Outro uso possível das águas do Guarani é na indústria de água engarrafada.
Esse mercado está em constante crescimento, e há probabilidade alta de tornar-se um
dos maiores setores da economia. Cada vez mais os reservatórios de água doce estão
sendo poluídos ou acabam se esgotando. Dessa forma, ascende um setor capaz de suprir
a necessidade por esse líquido tão precioso e que, juntamente, beneficiaria a indústria
brasileira através da exploração consciente e sustentável das águas do Aqüífero Guarani.
A melhoria na qualidade de vida da população está diretamente relacionada ao
aumento de consumo de água mineral, e mesmo porque existe a noção que a água
mineral possui melhor qualidade do que a água distribuída pela rede pública;
concomitante a isso o mercado consumidor desse produto aumenta sua exigência. Em
países cujos índices de consumo são elevados o mercado de água mineral engarrafada
representa alguns bilhões de dólares, tal qual EUA que atingiu US$ 5,6 bilhões em
2001. No Brasil, a receita desse mercado gira em torno de US$ 400 milhões por ano,
logo está evidente que esse mercado pode aumentar significativamente se houver um
investimento no setor (GUIMARÃES, 2007, p.37).
Outra atividade capaz de se realizar com uso das águas subterrâneas é a
agricultura, isso se deve a qualidade do solo localizado sobre o Guarani. Essa qualidade
aumenta nas proximidades das áreas de afloramento, caracterizada pela terra roxa uma
das mais produtivas e com maior valor de mercado. Não suficiente o aumento da
produção, os custos com a irrigação também são baixos, já que como mencionado acima
não necessitam de grandes instalações ou redes, pois podem ser retiradas no local do
uso.
xlvi
Olhando para esse consumo, a FAO elaborou uma estatística com relação à
utilização da água por setor e país de abrangência do Aqüífero Guarani. Através dele
xlvii
conclui-se que o maior consumo de água está destinado à agricultura em todos os quatro
países, seguido pelo consumo doméstico e, por último, a indústria. No Uruguai 96,2% é
utilizada na agricultura; 1,3%, na indústria; 2,5%, doméstico. Na Argentina 74% é
usada na agricultura; 9,5%, na indústria; e 16% doméstico; esses valores são
semelhantes no Paraguai sendo 71% na agricultura; 9% na indústria e 20% de uso
doméstico. Já no Brasil, 62% utilizada na agricultura; 18% na indústria e 20% de uso
doméstico (FAO, 2004).
Embora a água seja essencial para o consumo humano, tanto na vertente
doméstica, quanto na agricultura e na indústria, é importante destacar que com o passar
dos anos ela tem se tornado mais escassa e seu uso deve ser ponderado de forma a
continuar sua utilização para o desenvolvimento social de cada região, mas também
planejar para que os reservatórios não sejam excessivamente explorados, ainda mais
uma reserva tão importante como o Aqüífero Guarani, que simboliza ainda mais
estreitamente a união dos países do MERCOSUL. Por esse motivo os governos devem
unir-se em cooperação para implantarem um programa de preservação do Guarani, já
que a água por não possuir um valor alto estimula um consumo desenfreado motivado
por um aumento na produção. Já ocorre casos no mundo todo de super-exploração de
fontes de água por empresas transnacionais, Guimarães ressalva esse fato citando:
Os recursos hídricos como qualquer outro recurso são razões para relações de
poder e de conflito no mundo todo, pois as relações conflituosas que advêm da
utilização da água são inúmeras e observáveis em grande escala. Essas contendas tanto
podem ocorrer internamente a um Estado, como por exemplo, zonas irrigadas que são
submetidas a determinadas repartições,e ainda, quando há disputa para qual empresa
prestará o serviço de distribuição de água caso ele seja privado, ou podem existir
conflitos quando duas nações disputam entre si uma pequena bacia hidrográfica. Dessa
forma, a América do Sul não escapará de possíveis conflitos políticos de poder ou de
ordem econômica com relação ao Sistema Aqüífero Guarani, vista sua importância e
extensão, interessando a Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai (VIANNA, 2002, p.1).
Desse modo, cabe aos países acordar regulamentar, proteger e fazer uma
utilização sustentável os recursos hídricos da reserva citada acima, já que os riscos
futuros são crescentes. Esses riscos já são constatáveis em inúmeros exemplos na
América Latina, entre eles casos de devastações de florestas, assoreamento de rios e
barragens e, inclusive a poluição de aqüíferos são os mais presentes.
Assim como analisado no item anterior, muitos são os usos possíveis da água,
principalmente de uma reserva tão importante quanto a do Aqüífero Guarani. Com isso
conjugam-se também muitas as razões para haverem discórdia conforme o tratamento
dado a essa água armazenada, mesmo por que, além dela abranger vários estados
brasileiros, cada um com sua legislação, ela também abrange outros países soberanos
entre si, configurando-se uma reserva de água transfronteriça.
Vale destacar que a região do Aqüífero Guarani (Argentina, Brasil, Paraguai e
Uruguai), no passado apresentou uma série conflitos e alguns até mesmo relacionados
com os recursos hídricos. Embora a maioria dessas contendas não cause reflexos nas
políticas externas atuais, cabe ressaltar que a água é capaz de gerar desentendimentos
em âmbitos internacionais, mesmo em uma região com pouca possibilidade de casos de
“stress” hídrico como na América do Sul.
“Para o Brasil, a temática da gestão da água é estratégica, seja por estar relacionada
ao tema do desenvolvimento, seja porque a maior parte das fronteiras do país é
definida por rios. A ativa participação do Brasil no cenário internacional tem
contribuído para avançar na gestão integrada dos recursos hídricos e nas questões
das águas fronteiriças e transfronteiriças, em particular. Entretanto, há outras
questões que se revelam sensíveis na agenda internacional no que se refere à água,
assim, o assunto extrapola a dimensão técnica, constituindo matéria de interesse da
própria política externa do país” (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente – síntese
executiva, 2008 p.45).
Como já citado acima, a região abrangida pelo Aqüífero Guarani não apresenta
conflitos étnicos- religiosos, ou de outra ordem, que possam desencadear em um
conflito armado. Dessa forma, o Tratado entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai
tem como objetivo diminuir futuramente os conflitos que poderão ser estimulados em
um cenário de carência de água, além de regulamentar o uso dessa reserva tão
importante para as instituições privadas, permitindo uma maior harmonização
legislativa entre os quatro países e possibilitando uma fiscalização mais assídua e
eficiente, e conseqüentemente preservando de forma mais palpável a reserva.
Nesse sentido, com a preocupação cada vez mais direcionada para a
preservação do Guarani, nada mais conveniente do que submeter as questões ambientais
dessa região ao quadro institucional do Mercosul, acordo entre os próprios países
abrangidos pela reserva. Os pontos mais importantes a serem analisados são as políticas
de gestão dos recursos hídricos confrontados na realidade de cada Estado e em um
segundo momento dentro do próprio Mercosul.
Na década de 1980, todos os conflitos existentes na América do Sul foram
minimizados em suas proporções devido a intensa crise econômica que a maioria dos
países estavam passando, dessa forma, Brasil e Argentina, uniram esforços para a
superação das disputas antigas, e criaram uma comissão bilateral para gerir acordos
bilaterais entre eles na área comercial, esse comissão foi estabelecida pela Declaração
de Iguaçu.
3.2 Legislações
O uso do Aqüífero Guarani muitas vezes é feito de forma ilícita; logo, por não
seguir as leis exigidas de cada país, esses usuários podem prejudicar a fonte desse
ambiente e conservação dos recursos naturais do Mercosul. (...) Art.5º Os Estados Partes cooperarão no
cumprimento dos Acordos Internacionais que contemplem matéria ambiental dos quais sejam parte. Esta
cooperação poderá incluir, quando se julgar conveniente, a adoção de políticas comuns para a proteção do
meio ambiente, a conservação dos recursos naturais, a promoção do desenvolvimento sustentável, a
apresentação de comunicações conjuntas sobre temas de interesse comum e o intercâmbio de informações
sobre posições nacionais em foros ambientais internacionais” (ACORDO – Quadro sobre Meio Ambiente
do Mercosul, 2001).
11
“A certeza de que a conservação e o manejo adequado do Aqüífero Guarani poderão propiciar aos
povos dos países afetados ao reservatório condições permanentes de abastecimento de água potável. A
necessidade de incluir os temas de conservação e de manejo sustentável dos recursos naturais,
principalmente quanto aos aspectos da troca de informações, na agenda da integração do Mercosul. A
importância de mecanismos de gestão pública e controle social dos mananciais subterrâneos de água”
(CARTA de Foz de Iguaçu, 2004 apud Câmara dos Deputados, 2008).
lv
recurso como um todo. Ou quando a forma de exploração é permitida por lei, muitas
vezes o volume extraído de água é maior do que a capacidade de recarga, não
promovendo assim, um uso sustentável. Nesse ínterim verifica-se a necessidade de
harmonizar as regulamentações voltadas para a gestão da água subterrânea nos quatro
países de sua abrangência, mesmo porque antes da formulação do tratado em si, deve
ser estudado as condições atuais do aqüífero e suas características em cada região, para
com isso determinarem as diretrizes que serão obedecidas.
Sabe-se que as questões ambientais podem levar tanto ao conflito quanto à
cooperação entre os Estados, no entanto, os conflitos podem gerar maiores problemas
ambientais em determinados ecossistemas, desse modo, a cooperação deve ser o pilar
sustentador das negociações e soluções dos problemas entre os países. Desde a
Declaração de Estocolmo os Estados têm uma liberdade limitada, ou relativa para a
exploração dos recursos hídricos, já que ela estabelece que os Estados são soberanos e
possuem o direito de explorar os recursos naturais de acordo com sua políticas públicas,
mas estão condicionados a supervisionar que as atividades praticadas dentro de sua
jurisdição não causem prejuízos ao meio ambiente de outros Estados. Nesse ponto fica
acordado que a soberania cria para os Estados obrigações que são corolário de seus
próprios direitos (MACHADO, 2006, p.1029).
Assim, como previsto pela Declaração de Canela/92, os acordos multilaterais
de meio ambiente devem respeitar a soberania de cada Estado no âmbito do Direito
Internacional, e através disso, possibilitar um quadro de regulamentos que seja uma
realidade de interdependência garantindo benefícios iguais a todos os integrantes12.
Logo a cooperação não se choca com a soberania dos Estados, pois, ela é a autoridade
superior para aprovar e fazer cumprir as leis dentro dos territórios, pressupondo a
independência em relação à autoridade de qualquer outra nação e a igualdade em
relação às mesmas nos termos do direito internacional (SANT’ANNA; RIBEIRO, 2007,
p.2).
Cabe aos Estados Partes do Mercosul promover uma harmonização de suas
legislações pertinentes a água, principalmente a águas subterrânea, já que o Aqüífero
Guarani é uma reserva de água a nível internacional e que cada país abrangido por ele
adota um tipo de legislação referente a esse assunto, embora no ordenamento jurídico
12
Para atingir plenamente seus objetivos, os programas ambientais multilaterais têm de definir
adequadamente as responsabilidades, respeitar as soberanias nacionais no quadro do Direito Internacional
e tornar realidade uma interdependência que garanta benefícios equitativos às partes (DECLARAÇÃO de
Canela dos presidentes dos Países do Cone Sul com vistas à Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, 1992).
lvi
recursos hídricos os países da América do Sul estão quase todos na mesma situação:
com crise nos aparelhos de Estados e multiplicação de conflitos entre setores usuários e
gestores. Em nenhum Estado, sequer, o sistema de gestão é integrado, participativo e
descentralizado estando plenamente em funcionamento, pois todos se dividem entre
privatizações seletivas, concessões estaduais, e até mesmo gestão por municípios; o que
dificulta ainda mais as ações propostas no âmbito do Mercosul para uma harmonização
legislativa com relação ao Guarani. Logo para que seja possibilitado compartir recursos
como a água, dentro do Mercosul, será necessária a formulação de diretrizes de uma
política comunitária no setor (VIANNA, 2002, p. 47).
3.2.1 BRASIL
No Brasil, o primeiro texto referente à água, foi o Código das Águas de 1934, o
qual dava a responsabilidades e atribuições ao Ministério da Agricultura, devido a
prioridade desse setor na economia. Já em 1960, a competência é passada para o
Ministério das Minas e Energia, pois o setor elétrico passa a ser o maior consumidor dos
recursos hídricos. Embora se tenha criado a Secretaria Especial do Meio Ambiente em
1975, o setor só passou a dar importância para a água em 1995, no momento em que o
Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (MMA) fora criado. Em síntese,
houve no Brasil dois períodos da legislação brasileira referente às águas: um a partir de
1934 até 1997, período, no qual o Código das Águas foi o principal texto legal; e o
período após 1997, com a Lei Federal 9.433 que cria bases para uma política e um
sistema de gerenciamento de recursos hídricos, no entanto, o Código das Águas não foi
totalmente revogado, já que ele consiste em um documento detalhado sobre as relações
da sociedade e do cidadão com as águas (PES, 2005, p.56-57).
Dessa forma fica evidente que somente após a criação da MMA em 1995, e
com a criação de Lei 9.433 de 1997 é que o Estado brasileiro passou a formular uma
“Política Nacional de Recursos Hídricos”. As águas subterrâneas, no entanto não
possuíam uma titularidade completamente definida até a emenda Nº 43/2000, na qual
define que as águas subterrâneas comuns aos estados e que ultrapassam limites das
fronteiras como bens da União13. Assim, fica estabelecida a titularidade das águas
subterrâneas, e conseqüentemente as do Guarani, a qual representa um dos principais
13
“Art. 1º O inciso III do art. 200 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: “Art.
20. São bens da União:...”. III – os lagos, rios e quaisquer correntes de águas, superficiais ou
subterrâneas, inclusive os aqüíferos, em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um estados,
sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem
como os terrenos marginais e as praias fluviais”; (SENADO, 2000 apud VIANNA, 2002, p.60).
lviii
focos de disputa, já que a titularidade significa poder de outorga e cobrança sobre seu
uso significando recursos financeiros elevados. Essa disputa também já é percebida no
cenário internacional, pois tanto o Banco Mundial (BM) quanto a Organização dos
Estados Americanos se propuseram em financiar os estudos e as pesquisas do Projeto do
Aqüífero Guarani.
Em 2000 foi criada a Agência Nacional de Águas (ANA), caracterizada como
um organismo federal com certo grau de autonomia com relação aos governos, e em
2001 foram criados organismos de gestão estadual da água, no entanto depois de
promulgada a lei federal, muitos estados brasileiro promulgam suas leis estaduais
diferente de outros estados desencadeando conflitos entre eles:
“Um ponto preocupante, no que diz respeito às legislações estaduais é que, do ponto
de vista territorial, podem aparecer vantagens comparativas entre estados brasileiros
na oferta de recursos hídricos, o que certamente influência na alocação de
investimentos nos campos: industrial, lazer, agro-industrial e agrícola, entre outros”
(VIANNA, 2002, p.61).
3.2.2 ARGENTINA
Na República Federativa da Argentina, os recursos naturais são propriedade
pública das 23 províncias e da cidade de Buenos Aires. O que se torna a principal razão
para não existir uma lei nacional que garanta conformidade para a gestão das águas; a
descentralização e a dispersão são as principais características da gestão dos recursos
hídricos no país, razão pela qual existe uma série de organizações com o intuito de gerir
esse assunto. Com relação às águas subterrâneas das dezenas de organizações existentes
para recursos hídricos apenas uma trata do tema, o Centro de Águas Subterrâneas,
dentro do Instituto Nacional da Água (INA). Vale ressaltar que até 1968 as águas
subterrâneas eram tidas como bens privados, a partir desse ano elas passaram a ser de
domínio público, gerando muitos conflitos dentro do país, pois algumas províncias
ainda estabelecem que elas são de domínio privado (PES, 2005, p. 64).
A primeira Lei Provincial foi elaborada em 1884, no entanto, as províncias
sempre apresentaram dificuldades para a gestão dos recursos hídricos, tendo por
conseqüência a falta de prioridade com relação a esse tema no país, por isso dentre os
quatro Estados abrangidos pelo Guarani, a Argentina é o que menos possui dados sobre
a reserva. Isso se deve também a ausência de registros sistematizados, pois apenas
algumas províncias guardam dados e informações sobre poços de extração de água
subterrânea (VIANNA, 2002, p. 77).
Na Argentina, o Aqüífero Guarani abrange as províncias de Santa Fé, Entre
Rios, Corrientes, Chaco, Formosa e Missiones. Como mencionado acima as províncias
apresentam certo grau de autonomia no que concerne ao meio ambiente, dessa forma as
disparidades entre as legislações sobre gestão dos recursos hídricos são elevadas; assim,
cabe verificar as características gerais do ordenamento jurídico de cada umas das
províncias (PAG, 2008).
Em Entre Rios a legislação ressalva a importância das águas subterrâneas e
principalmente com as águas termais advindas do subsolo. Desde 1953 existe um
mecanismo de outorga para as águas subterrâneas, ou seja, uma permissão para a
lx
perfuração de poços. Assim a Lei 9064 de 14/02/97 e um decreto após essa data
declaram que as águas termais, em especial as do Aqüífero Guarani, devem ser
protegidas; em 1998, com a Lei Provincial de Águas 9.172 é que foi criada uma série de
mecanismos de gestão, embora ainda em estágio embrionário; não existe um sistema de
cadastros de usuários, e as informações existentes sobre as águas subterrâneas são
dispersas e dependem dos proprietários dos poços. Entretanto, está sendo elaborado um
Plano Provincial de Recursos Hídricos com o intuito de angariar informações sobre os
recursos hídricos, e monitorá-los de forma mais consistente (VIANNA, 2002, p. 81).
Em Corrientes, existe um Código de Águas, embora a Constituição Provincial
não aborde o tema, a outorga de direito de uso é feita na forma de permissões e
concessões que estabelecem as prioridades de usos da água. A água subterrânea é
considerada como direito privado, apesar de também estabelecer prioridades para caso
de uso comum. As concessões são feitas pelo Instituto Correntino de Água (ICA), e este
vem incentivando a criação de Comitês de Bacias que podem abranger produtores
rurais, indústrias, empresas usuárias de água em geral e municípios (VIANNA, 2002,
p.82).
A Constituição da Província de Misiones estabelece que os recursos naturais
são públicos, assim como a água subterrânea, e apenas a Lei 1.838/88, define como
deve ser feito o aproveitamento, o uso, a conservação e a preservação, e, ainda, garante
que as fiscalizações deverão ser feitas pela SubSecretaria de Obras Hidroelétricas. Em
1997, a Província de Formosa reestruturou o seu Código das Águas de 1978, e inclui
temas como as águas subterrâneas e determinando como órgão gestor a Dirección
Provincial de Recursos Hidricos (DPRH), divididos em quatro setores: obras, estudos e
projetos, hidrologia e geologia e legislação de água; as águas dessa província são
consideradas públicas, e poucas outorgas são concedidas, não há controle de registro de
permissão e concessões, inviabilizando a formação de um cadastro de usuários
(VIANNA, 2002, p. 82-83).
Na província de Chaco, o Código de Águas determina que a água é de domínio
público, trata especificadamente das águas subterrâneas, especifica a necessidade da
outorga na forma de permissões e concessões e prevê diversos tipos de cadastros e
registros. No entanto, não existe um Plano Diretor dos Recursos Hídricos, nem Planos
de Bacias, e embora incipiente há um programa para a implantação de um sistema de
informações sobre os recursos hídricos (VIANNA, 2002, p. 83-84).
lxi
3.2.3 URUGUAI
A República Uruguaia é unificada em sua legislação, não existem legislações
de caráter regional ou local. O Código de Águas de 1978 rege o regime jurídico
nacional, sendo o único voltado para esse tema no país, este código determina ser
necessária uma permissão ou concessão para a exploração de qualquer tipo de água. As
regras são específicas quanto a navegabilidade, mas genéricas quando se trata de sua
gestão, uso, cobrança e regulação (PAG, 2008)
As águas no Uruguai podem ser públicas ou privadas, mas seus usos devem ser
registrados, e os usuários devem informar mensalmente os volumes utilizados; este
mecanismo serve para todos os tipos de águas. As águas em terrenos privados são
classificadas como privadas desde que tenham autorização do Ministério, e águas
encontradas em terrenos públicos é propriedade do Estado. Tendo em vista essa
característica o governo criou através de um Decreto Presidencial o “Marco de Gestão
para o Aqüífero Guarani no Uruguai”, já que as águas do Guarani podem ter dois tipos
distintos de regime de propriedade, o que dificultaria sua gestão. Ainda em relação às
águas de domínio público, o Estado garante que as normas de direito internacional
poderão estar acima do Código de Águas do Uruguai (VIANNA, 2002, p.89).
Desse modo a fiscalização uruguaia é uma das mais eficientes, pois além de ter
um sistema de gestão integrado, possui mecanismos de controle de poços e de volume
de extração de água. Além disso, foi criado um fundo gerido pelo Instituto Geológico
del Uruguai que controla as perfurações e tem por objetivo incentivar o uso das águas
subterrâneas no meio rural.
lxii
3.2.4 PARAGUAI
O primeiro texto que decorria sobre o tema água foi o Código Rural de 1906,
tratava da água como uso agropecuário, a qual vinculava a propriedade da água à
propriedade de terra. Ele também estabelece que o direito tanto das águas superficiais
quanto subterrâneas é privado, e é o poder municipal quem gerencia a água, autorizando
concessões e permissões. O limite de exploração também era legalizado, sendo
permitida a retirada de 50% da vazão média (VIANNA, 2002, p. 91).
Em 1972 foi criado um organismo que teria como função se dedicar ao
saneamento básico rural, o “Servicio Nacional de Saneamento Ambiental”, as
comunidades atingidas por esse serviço alcançou 80% da população paraguaia. Seu
ordenamento jurídico tal qual o da Argentina é disperso com relação aos recursos
hídricos, e os princípios da Constituição Paraguaia de 1992 salientam que o objetivo é a
descentralização e minimização do Poder Público, incrementando assim maior
participação da esfera privada nos serviços públicos (VIANNA, 2002, p.92).
“Assim como no Brasil, a Lei Nº 1.561/2000 que criou o Sistema Nacional de Meio
Ambiente e a SEAM (Secretaria de Meio Ambiente), com status de ministério,
trouxe as questões relativas á águas e recursos hídricos para a esfera ambiental. O
texto define como objetivos da SEAM organizar e consolidar um Sistema Nacional
de Gestão Ambiental e de Manejo Autosustentáveis dos Recursos Naturais. Entre
suas nove áreas de atuação desde ordenamento territorial e gestão ambiental até
fiscalização e monitoramento ambiental, uma é dedicada à Proteção dos Recursos
Hídricos” (VIANNA, 2002, p.92).
Assim ficou estabelecido que a SEAM que também foi instaurada pelo
Paraguai seria o órgão estruturador das iniciativas do aparato legislativo de regulação,
no entanto não será o organismo gestor dos recursos hídricos, logo o Paraguai ainda não
possui um órgão responsável para tal função. Mesmo porque a gestão por bacia
hidrográfica no Paraguai só foi feita em duas ocasiões – internacionais: Comitê do Rio
do Prata (com Brasil, Uruguai, Argentina e Bolívia) e a Bacia do Pilcomayo (com
Bolívia e Argentina) (VIANNA, 2002, p.93).
“(...) o Projeto Sistema Aqüífero Guarani (PAG) tem por objetivo, por meio de
financiamento estrangeiro, mapear e melhorar o conhecimento sobre o Guarani. Essa
necessidade fez com que os governos dos países onde está situado o Sistema
Aqüífero Guarani buscassem apoio junto ao Global Environment Facility ou Fundo
para o Meio Ambiente Mundial (GEF ou FMAM) para prepararem o Projeto de
Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani.
O apoio foi concretizado por intermédio do Banco Mundial, como agência
implementadora dos recursos, e da Organização dos Estados Americanos (OEA),
como agência executora internacional. Há, ainda, como agências cooperantes a
Agência Internacional de energia Atômica e o Instituto Federal de Geociências e
Recursos Naturais da Alemanha” (GUIMARÃES, 2008, p. 67).
Esse projeto visa planejar como se dará a utilização das águas do Aqüífero,
assim, como promover uma gestão coordenada de suas águas, para dessa forma alcançar
a proteção ambiental integral do sistema como um todo. O projeto identificará e aplicará
políticas, mecanismos e instrumentos capazes de promover uma gestão ordenada do
sistema guarani entre todos os países envolvidos; mesmo porque esse estudo – que
antecipa o projeto – tem como função avaliar as áreas de ocorrência do aqüífero e
recomendar para quais usos a água deve se destinar. Como dito anteriormente cada
lxv
Considerações finais
Os recursos hídricos transnacionais, que ultrapassam as fronteiras dos Estados,
podem causar situações de conflitos entre as partes abrangidas pela reserva, no entanto,
também podem levar a cooperação entre os países pela sua utilização. No caso do
Aqüífero Guarani, compartilhado por quatro países, todos integrantes do Mercosul, já
existe um projeto com o intuito de formular soluções para os problemas comuns através
da cooperação; o Projeto de Proteção do Sistema Aqüífero Guarani coordenado pelo
Mercosul com financiamento da GEF, da OEA e do Banco Mundial busca unir esforços
para promover uma gestão integrada dessa reserva tida como uma das maiores do
mundo.
Essa preferência pela cooperação se deu através de duras penas. A
conscientização de que o processo de desenvolvimento capitalista causava impactos
desastrosos no meio ambiente só foi realizada após muitos ecossistemas estarem
completamente, ou quase completamente destruídos. A cooperação passou a fazer parte
das agendas internacionais dos Estados na realização de acordos, tratados, convenções,
reuniões e encontros internacionais sobre o meio ambiente. Ficou estabelecido que as
ações antrópicas deveriam ser permeadas pela ótica da exploração responsável,
inicialmente, e após o Relatório Brundtland, pela ótica do desenvolvimento sustentável.
A introdução em escala global do processo de industrialização capitalista ameaça
todos os ecossistemas do planeta, já que o meio ambiente é por um todo conectado, e
ações em determinada região causam reações em outras. Os recursos hídricos também
foram alvos de discussões sobre as conseqüências das ações antrópicas, já que por se
conjugar um recurso finito, cada vez mais, sofre com a falta de políticas específicas para
a sua gestão e preservação. Nesse cenário, o Aqüífero Guarani desponta como uma das
reservas mais importante de água subterrânea do mundo, por sua extensão e volume e
por seu caráter transnacional, envolvendo Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
A gestão compartilhada desse recurso esbarra em questões burocráticas dentro dos
quatro países do Mercosul, pois a cooperação é conhecida como um processo lento, mas
com o tempo tem alcançado resultados positivos, principalmente no que diz respeito ao
meio ambiente. Com a crescente tendência de limitação do acesso a água, o Aqüífero
Guarani representa uma reserva estratégica para a região, e para que nas próximas
décadas todos desfrutem de seus recursos, suas águas devem ser preservadas para não se
esgotarem ou não serem poluídas, através de um acordo de cooperação entre os países
abrangidos por ele, o qual já está em andamento.
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Bibliografia