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O Desenvolvimento Sustentável do Médio Poti

Marcos Airton de S. Freitas


Um dos temas de pauta fundamental para a consolidação da democracia é o debate sobre a questão ambiental e o
desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, a sociedade civil piauiense vem se organizando para participar dos processos
decisórios, manifestando suas reivindicações e anseios, reconhecendo-se como sujeito-social, no sentido dado por Touraine.
Entretanto, quase nada vem sendo feito efetivamente no intuito de se constituir espaços de ação comunicativa (Jürgen
Habermas) entre os stakeholders, visando uma racionalidade no processo político.

Defendendo uma espécie de teoria societária da democracia Habermas vislumbra a modernidade ocidental via racionalização
cultural e social, e suas conseqüências sobre os diversos atores sociais. O autor elenca dois processos de racionalização: a
racionalização técnica instrumental e a racionalização comunicativa. O primeiro processo centra-se no sistema (Estado e
mercado) e age estrategicamente tentando colonizar o “mundo da vida”.

As ciências sociais, conforme Claus Offe, devem abandonar sua intenção de converter-se em fontes de conselho e informação
“prática” para os administradores e responsáveis pela política. Ao contrário, devem orientar-se a promover debates sobre
tendências de crises e, portanto, a identificar deliberadamente mais problemas do que os que podem assimilar e resolver as
elites dominantes em política, administração e finanças. Para isso, Offe emprega uma versão revisada da teoria de sistemas
(tributária do marxismo e dos trabalhos de Niklas Luhmann - Gesselschaftsstruktur und Semantik: Studien zur Wissensoziologie
der modernen Gesselschaft ). Segundo Offe, as políticas estatais desmercantilizam consideravelmente a vida cotidiana da
população ao substituir o “contrato” pelo status político e os “direitos de propriedade” pelos “direitos de cidadania”.

Deixemos, contudo, as explanações teóricas e passemos a um exemplo prático. O rio Poti apresenta uma vazão média
considerável no trecho em que percorre o semi-árido piauiense. No entanto, o aproveitamento dessas águas fica comprometido
pela alta variabilidade das vazões ao longo do ano e também pela ocorrência de grande variação interanual dessas vazões,
alternando enormes picos de cheias com valores quase nulos, as famosas secas hidrológicas.

Considerando que a água é um insumo essencial na implementação de projetos com elevado poder de alavancar o
desenvolvimento regional, infere-se que a regularização da vazão no trecho do rio, com menor garantia natural de oferta de
água, certamente, é uma medida a ser tomada. Nesse sentido, a construção da barragem de Castelo, objetivando regularizar a
vazão do rio Poti, poderia ser uma importante forma de responder ao anseio de desenvolvimento da região, sem comprometer
sua qualidade ambiental. Inexplicavelmente, desde sua concepção até o projeto executivo, que certamente deverá ser revisto
devido ao novo marco regulatório vigente na bacia hidrográfica, já se arrastam mais de 40 anos. O que não é mérito somente
dessa obra de infra-estrutura! Há, lamentavelmente, exemplo de inúmeras outras no Piauí, que de tão conhecidas não se faz
necessário aqui listá-las. É injustificável a não existência de espaços de ação comunicativa para a discussão desses projetos,
que bem poderiam ser os comitês de bacias hidrográficas, ainda a espera de suas criações.

É trivial arrolar alguns possíveis benefícios dessa ação: 1) geração de energia elétrica; 2) reforço aos sistemas de
abastecimento humano locais, que normalmente empregam água de poços; 3) melhoria da quantidade e da qualidade da água
ofertada para consumo animal e do homem no meio rural; 4) recarga dos aqüíferos Serra Grande e Cabeças; 5) viabilização de
atividades de eco-turismo na região; 6) disponibilidade de água para irrigação suplementar de suporte à agroindústria (cana-
de-açúcar, caju etc); 7) oferta de água para atividade industrial na região, principalmente para a agroindústria de aguardente e
para a atividade de lapidação de minerais rochosos; 8) se bem operada, a barragem poderia contribuir para minorar o
problema crônico dos aguapés, resultante da poluição urbana doméstica de Teresina. Como possíveis impactos negativos
pode-ser ter a inundação de terras férteis e de sítios arqueológicos. Porque não são feitos os estudos ambientais para se
avaliar a viabilidade ou não desse empreendimento? Ali vizinho, a cidade de Pedro II encontrou uma vocação e destino
sustentável de desenvolvimento.

Além de permitir o desenvolvimento da região onde seria construída, a barragem de Castelo teria uma influência direta na
melhoria da condição de vida da população de Teresina, com efeitos sobre a economia de recursos públicos a serem
investidos nessa região metropolitana. Assim, verifica-se que, além da obtenção de alimentos a partir de áreas mais próximas
(hoje, praticamente, todos os principais hortifrutigranjeiros provêm de áreas plantadas em outros estados, em especial do
Ceará, devidos aos inúmeros projetos de irrigação viabilizados pelos reservatórios construídos na porção cearense do rio Poti
e seus afluentes), Teresina seria também beneficiada pela contenção de cheias e pela melhoria da qualidade da água, que
chega até ela pelo rio Poti. O Estado do Ceará, em breve, construirá mais três reservatórios na bacia. E o que o Piauí tem a ver
com isso?

Outro aspecto que confere à região uma grande atratividade para implantação de produção agrícola sob irrigação é a
existência de uma rede viária privilegiada em termos regionais, que permite uma rápida ligação da mesma à cidade de
Teresina. Especificamente, passa pela região a rodovia PI-115, que liga Teresina a Castelo do Piauí. Sem dúvida, é na capital
que se encontra o principal cliente em potencial da produção esperada, a Central de Abastecimento – CEASA. Existem
também na região diversas estradas vicinais em bom estado de conservação propícia ao escoamento da produção.

A região é ainda entrecortada por ferrovia que, além da conexão com Teresina, conferiria aos agricultores a opção de enviar
seus produtos para exportação, através dos portos marítimos do Pecém, no Ceará, Itaqui, no Maranhão, e quiçá de Luis
Correia, no Piauí. Redes de distribuição de energia elétrica passam na região e cercanias, devendo-se, no entanto, apenas
executar estudos sobre a necessidade de melhoria ou ampliação.

Assim, um projeto de desenvolvimento da região do médio rio Poti, calcado em equipe multidisciplinar e multi-institucional, que
deverá analisar de modo mais acurado todos os impactos positivos e negativos da implantação de um projeto dessa
magnitude, poderá assumir grande relevância no que diz respeito à fixação dos habitantes na região e, conseqüentemente,
poderá evitar uma migração descontrolada para Teresina. A depender de sua concepção, poderá, ainda, viabilizar um novo
perfil fundiário na região, considerando a valorização da agricultura familiar, bem como incentivar as parcerias público-públicas
– PPPs. Parece, entretanto, ser mais cômodo aguardar os eventos críticos (secas e cheias), que certamente virão, e, por
conseguinte, as famigeradas dotações extraordinárias. O que causa maior espanto, é a não discussão desses assuntos, a
absoluta falta de espaços de ação comunicativa, mesmo em pleno ano eleitoral, o que certamente reduziria a crescente
judicialização envolvendo a área de regulação.

Artigo publicado originalmente em 26.05.2008.

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