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Águas, o que fazemos por elas?

(*) Marcos Airton de S. Freitas1


(*) Fred Maia2

No dia 22 de março passado comemorou-se o Dia Mundial da Água e no dia 5


de junho próximo comemorar-se-á o Dia Mundial do Meio Ambiente. Mais do
que comemoração, as datas exigem reflexão: o que estamos fazendo com
nosso meio ambiente, com nossas águas? O que estamos fazendo por nossos
mananciais e rios? O que os rios significam para nós? O que está acontecendo
com eles?

É inegável a contribuição dos rios na história humana. Praticamente, todas as


grandes civilizações foram mantidas e guiadas pelos rios. Podemos citar
algumas: a civilização egípcia ergueu-se no rio Nilo; as tribos e povos do
Oriente Médio acamparam milenarmente às margens dos rios Tigres e
Eufrates; os hindus consagram o Ganges [hindu - do sânscrito sindhu, „rio‟,
pelo persa hindu, „do vale do rio (Indo)‟, fonte: Aurélio]; os asiáticos veneram
o Mekong e o Amarelo; os americanos do norte cantam blues ao Mississipi; os
americanos do sul irmanam-se no Amazonas e os europeus refletem suas vidas
e moradas nos espelhos do Reno e Danúbio. E no Piauí? o rio Parnaíba - o
“Velho Monge”, na visão do poeta maior do estado -, é um rio cada dia mais
velho e cansado de sua labuta, desde suas nascentes até o seu magnífico
delta, independentemente de como o queiram denominar. Os rios têm,
portanto, significado social, cultural e religioso.

Como não poderia ser diferente, a origem e o desbravamento do Piauí deu-se


graças aos rios. A primeira fazenda de gado foi fundada às margens do
“Mocha”, em Oeiras. Fala-se que Domingos Jorge Velho, alcançou o nordeste
do Piauí por meio da falha geológica do rio Poti, com seus maravilhosos
câniones. Em seu período de estiagem, o rio Poti quase sempre se transforma
num tapete verde de aguapés devido, muito provavelmente, aos nutrientes
provenientes dos esgotos lançados na região urbana de Teresina.
Enquanto os rios nos possibilitam inúmeros usos, tais como a geração de
energia, a navegação, o abastecimento de água (doméstico e industrial), a
dessedentação animal, o lazer, a pesca etc, cabe-nos perguntar: o que
estamos fazendo com eles? Transformando-os meramente em desaguadouros
de todo o lixo da civilização moderna? Freqüentemente, encontramos de tudo
em nossos rios: armários, guarda-roupas, geladeiras, pneus velhos,
computadores e toda sorte de quinquilharias.

Os rios, assim como seus lagos e lagoas marginais, devem ser preservados em
sua dinâmica, em termos de quantidade e qualidade. Os recursos hídricos são
elementos fundamentais não só para o desenvolvimento econômico, mas
também para a preservação da biodiversidade.

A Constituição Federal, de 1988, em seus artigos 20 e 26 declara as águas


bens públicos, de domínio da União e dos Estados, e passíveis de outorga.
O rebaixamento do lençol freático devido à super-explotação dos aqüíferos,
na região de Picos, o desperdício de água em dezenas de poços jorrantes na
região do Gurgüéia, o aterramento de inúmeras lagoas marginais (estimadas
em cerca de 130 pelo ilustre geógrafo e professor João Gabriel Baptista; só na
bacia do rio Piauí são mais de 30) são exemplos de problemas, apontados em
diversos estudos e diagnósticos realizados, ainda a demandar soluções.

Felizmente, depois de discussões iniciadas pela Associação Brasileira de


Recursos Hídricos - ABRH, o Brasil ganhou uma Lei das Águas, a Lei 9.433/97,
que vem, com bastante esforço, mas com êxito, sendo implementada.
Entretanto, o desmatamento indiscriminado de imensas áreas nativas - a
exemplo da Serra Vermelha -, do ainda não implantado Parque das Nascentes
do rio Parnaíba, da Chapada Grande e de inúmeras matas ciliares, é uma
grave ameaça à fauna e flora, podendo causar danos inimagináveis às zonas
de recarga e nascentes dos cursos d´águas.

Um rio é a contribuição de todos os efluentes, que conjuntamente com a rede


de drenagem, florestas e solos compõem a bacia hidrográfica. Portanto, não
se pode reduzir um rio a sua calha principal. Os cursos de água têm sua
capacidade de diluição e auto-depuração. Para uma mesma carga de
efluentes, em geral, quanto maior a vazão do rio maior será sua capacidade
de diluição. Restringir ou priorizar o tratamento dos esgotos das cidades à
margem da calha do rio principal não resolve o problema no todo. Melhor e
mais eficiente, possivelmente, seria tratar os efluentes dos municípios
localizados à margem dos afluentes, de vazão relativamente menor.

O Piauí vive um momento excepcional de crescimento e desenvolvimento


social, mas precisa combinar esse crescimento, com o desenvolvimento
sustentável e respeito aos seus bens naturais. Provavelmente, o motivo do
atraso histórico do Estado advenha da incapacidade gerencial de uma
oligarquia feudal, herdeira das sesmarias, que transformou a terra em
latifúndio improdutivo. Como resultado desse processo, surgiu uma população
famélica, empobrecida e destituída de direitos. O poeta Carlos Drummond
sinaliza: “existe a coisa e a sua sombra” e, o povo, sabiamente afirma: há
males que vêem para o bem.

Esse processo de não-ocupação da terra pelo trabalho e a lavoura - que tanta


miséria causou -, permite hoje ao Piauí, a existência de enormes áreas
verdes, ricas em biodiversidade e possibilidades de manejo, que deverão ser
transformadas em riqueza sustentável para a sua gente.

A ocupação da terra, tarefa necessária para o crescimento e desenvolvimento


sustentável do agricultor familiar piauiense, não pode desconsiderar as águas:
nascentes, cursos, lagoas, lençóis freáticos -, sob risco de perder o Piauí, o
seu maior bem: a bacia hidrográfica do rio Parnaíba, que é formada por
centenas de rios ameaçados.

1) Engº Civil, professor universitário licenciado e pós-graduado em meio


ambiente e recursos hídricos
2) Jornalista, gerente de Articulação Institucional do MINC

* Matéria publicada no Jornal Diário do Povo, 02 de junho de 2008

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