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escolas, nos fundamentos e práticas dos supervisores e nas

contribuic6es de cada leitor.

Bibliografia
RANGEL, Mary. Bom aluno: real 011 ideal? Petrópolis, Vozes, 1997.
Consideracoes sobre o papel do supervisor como especialista em
educacao na América Latina, 1998.
. Diníiniicas de leitura para sala de atila. 11" ed. Petrópolis, Vozes,
1999a.
. Representapies e reJe.xñes sobre o "bom professor". 4" ed. Petrópolis,
Vozes, 1999b. DA DEMOCRATIZACAO A 0
SILVA JUNIOR, Celestino Alves da & RANGEL, Mary (orgs.). Nove
olhares sobre a Supeniisáo. Campinas, Papinis, 1998.
PROFISSIONALISMO*

Mariano F. Enguita*'

Entre a Lei Geral da Educacao (LGE), de 1970, e a Leí


Organica do Direito i Educacáo (LODE), de 1985, pasando
pela Lei Organica do Estatuto de Centros Docentes (LOECD),
de 1980, uma parte importante dos velhos desejos de professores,
pais de alunos e estudantes em favor de maior autonornia dos
centros e uma participacáo mais democrática em sua gestao,
embora apenas em parte, passou das plataformas reivindicativas
ao texto da Lei. Devemos considerar ainda que os órgáos da
"comunidade escolar" levam na maioria dos centros, uma vida
moribunda, cuja inércia se interrompe em geral para ve-los
transformar-se em cenário de ácidos conflitos entre as partes,
sobretudo entre professores e pais, do que para dar lugar a
urna colaboracao verdadeiramente frutífera, ou, ainda, para nao
falar da explosáo de imaginacao de iniciativa e inovacáo com
que muitos sonharam.

* Este artigo baseia-se nos resultados do projeto de pesquisa La participación


en la gestión de los centras de emeiianza no universitaria, financiado pelo Plano
Regional de Pesquisa de 1990 da Comunidade de Madri.
** Mariano Enguita é professor do Departamento de Sociologia 111 da Universidade
Complutense, Espanha.
Náo vou entrar aqui na análise detalhada das mudancas Quadro 1 x.
ocorridas na regulamentaciio legal da gestáo e da participaciio, Composicao dos Conselhm Escolares
nem em suas implicacóes mais gerais, coisa que já fiz em
outras oportunidades'. Basta assinalar que os órgiios colegiados
formados por professores, pais e alunos siio agora de existencia
obrigatória em todos os centros nao-universitários públicos e
privados regulares, que sao a imensa maioria, e que suas
fungoes siio amplas e de caráter executivo. Cabe destacar
algumas das mais importantes: escolher e destituir o diretor,
contratar os professores (no caso dos centros privados), aprovar
a programaciio anual, autorizar o orcamento, elaborar o regu-
lamento do regime interno e supervisionar as atividades do
centro.
Isto é o resultado de um longo processo pelo qual
paulatinamente os órgiios colegiados tem ganhado peso, e com
eles as possibilidades de participar ou influenciar nas decisoes
por parte dos setores neles representados. De sua prática
inexistencia no contexto da LGE, passando por sua subordinaciio
i Administraciío nos centros públicos ou ?ipropriedade nos
particulares no 2mbito da LOECE, até o teórico estatuto de
órgiio máximo do centro concedida pela LODE aos conselhos,
o percurso sem dúvida tem sido importante. O Quadro 1
apresenta os aspectos principais das tres leis mencionadas (e
suas disposicoes complementares) no campo da gestiio e par-
ticipaciio.
Embora a mudanca de um modelo de organizaciio da
gestiío para outro niio tenha vindo sempre acompanhada na
roupagem de um discurso vertebrado em torno da "participacao
EEGB: Escolas de educacáo Geral Básica. Ens. Médio: Ensino médio. Form. F'rof.:
de todos os setores implicados", o "servico público" ou a Centros de ensino profissionalizante. Pré-esc.: Pré-escola. Ed. Esp.: Centros de
"comunidade escolar", o certo é que seus grandes beneficiários educacáo especial. u.: número de unidades. Tit.: representantes do titular. Dir.: Diretor.
tem sido os professores. Provavelmente todos os setores tenham CdE: Chefe de estudos. F'rof.: representantes dos professores. Pais: representantes
dos pais. Aln.: representantes dos alunos. Adm.: representantes do pessoal administrativo
saído ganhando e, inclusive é possível afirmar, visto seu ponto e servicos. PP: representantes da equipe psicopedagógica. Tot.: número total de
de partida. que a posicáo dos pais e dos alunos é a que mais componentes do Centro Escolar. Os números separados por hífen (1-2) indicam que
espetacularmente tem-se modificado, pois estes passaram do o número de componentes varia segundo certas características do centro: os chefes
de estudos seráo um ou dois se o centro funcionar com um ou dois turnos; os
representantes administrativos serio, em certos casos, um ou dois, se forem menos
ou mais de dez os representados. Os números separados por uma barra (412, 012)
1. Ver: ENGUITA. M. Poder y participación en el sister~iaeducativo. Barcelona, indicam que uma representacáo aumenta na medida em que diminui a outra, na
Paidós. 1991. cap. V. Idem. La participacidr~ de~nocráticaeri los centros de enseñanza prática, a representacáo dos pais na medida em que possam estar presentes os alunos.
no universitaria, op. cit., 1991, mimeo.
Quadro 11
nada a serem titulares de um conjunto de direitos e garantias,
Cornposic&o dos Conselhos Escolares de serem tratados como um simples sujeito ~ s s i v odo ensino
a serem considerados como agentes ativos de sua gesta0 e de
estar virtualmente ausente a contar corn uma presenca relevante
num importante elenco de decisks. Nem por issg é menos
certo que o iimbito de gestao configurado pela LOPE nao só
colocou os professores numa posicao proeminente, mas Ihes
assegurou a possibilidade de impor quase em todo momento
suas decisoes, conforme o caso, mesmo contra a vontade das
outras partes. Isso se manifesta claramente na composicáo dos
conselhos escolares que o Quadro 11 apresenta para o iimbito
de competencia do Ministério da Educacao e Ciencia.
Observa-se uma consistente característica da composiqáo
dos conselhos nos centros públicos. Podemos considerar que
os membros natos do mesmo, por pertencerem ao corpo diretivo
(o diretor e, no caso, o chefe de estudos), os representantes
dos professores (e, no caso, da equipe psicopedagógica de
apoio) e o solitário representante do pessoal administrativo e
de servicos formam, por assim dizer, o bloco institucional ou,
mais exatamente, docente. Por outro lado, os representantes
dos pais, dos alunos e do município (este último raramente se
l apresenta) formam, digamos, o bloco social ou clientelar. Pois
bem: os professores tem garantida a maioria, sem necessidade
sequer do auxílio do pessoal nao-docente, em todos os centros
de ensino médio (no Brasil, antigas 5" a 8" séries), j á que
I constituem a metade de seus membros, ampliável com sucessivos
chefes de estudos sem que sejam alteradas as outras partes do
conselho e contem, em todos os casos, corn o voto de qualidade
do presidente, que é o diretor e, nos centros de 16 ou mais
EEGB: Escolas de Educagio Geral Básica. Ens. Médio: Ensino rnédio. Form. Prof.:
Centros de Ensino Profissionalizante. Pré-esc.: Pré-escola. Ed. Esp.: Centros de unidades, corn o provável apoio do representante do pessoal
Educacao Especial. u.: número de unidades. Tit.: representantes do titular. Dir.: nao-docente. Nos centros de ensino básico, os professores tem
Diretor. CdE: Chefe de estudos. Prof.: representantes dos professores. Pais: repre- assegurada a metade dos representantes, e por isso a maioria
sentantes dos pais. Alu.: representantes dos alunos. Adm.: representantes do pessoal
administrativo e servicos. PP: representantes da equipe psicopedagógica. Tot.: número efetiva corn o voto de qualidade; nos centros de oito ou mais
total de componentes do Centro Escolar. Os números separados por hífen (1-2) 1
unidades, corn reforqo análogo do nao-docente nos de 16 ou
indicam que o número de componentes vana segundo certas características do centro: mais. No entanto, os professores esta0 em minoria nos de sete
os chefes de estudos ser20 um ou dois se o centro funcionar corn urn ou dois
turnos; os representantes administrativos serso, em cenos casos, um ou dois conforme unidades ou menos. Nos centros de pré-escola, necessitam do
forem menos ou mais de dez os representados. Os números separados por urna barra representante do pessoal nao-docente para atingir a maioria
(412, 012) indicam que urna representapo aumenta na medida em que diminui a nos centros de oito unidades ou mais e a perdem indefecti-
outra, de fato a dos pais na medida em que possam estar presentes os alunos.
velmente nos de menos. Nos centros de ensino especializados
(artes e idiomas), o bloco docente conta corn a metade das e os professores e direcáo, o braco obediente da entidade
vagas, sem necessidade do pessoal administrativo e de servicos, titular. Os próprios representantes dos pais, a o s centros parti-
e portanto corn uma maioria efetiva assegurada tanto gracas culares, surgem corn muita freqüencia de uma Associacáo
a este como ao voto de qualidade presidencial. montada e teleguiada, corn o efeito de conseguir as subvenc6es
Dessa maneira, o corpo de professores (com auxílio dos e acordos, pelo titular, ou pela máo deste, mas sem necessidade
funcionários nao-docentes, conforme o caso) tem mais poder sequer de montar associacáo alguma. 6

quanto mais elevado for o nível de ensino no qual trabalham Ao mesmo tempo, é mais que provável que os repre-
e maiores forem as dimensoes do centro, enquanto o bloco sentantes da entidade titular sejam professores, normalmente
clientelar (com a inclusiio do representante municipal, se for professores do centro (nao tanto porque se de uma forte
o caso) ganha posicoes justamente no sentido contrário. Os identidade de intereses entre proprietários e professores, mas
professores, portanto, veem aumentar seu peso perante todos porque muitos membros da família ou da ordem proprietária,
os detnais na medida em que se eleva seu nível profissional como é o caso na maioria dos centros privados, sejam colocados
ou a idade de seus alunos. Os alunos, por sua vez, veem no centro como professores), corn o que, se somarmos seu
aumentar o seu perante os país corn a idade, mas, em con- número aos dos representantes dos professores e o diretor, nos
trapartida, o veem diminuir ao mesmo tempo perante os deparamos de novo corn que o professorado tem a maioria
professores. A "profissionalizacáo" docente, aqui entendida assegurada frente it soma de pais, professores e pessoal admi-
como categoria ocupacional, toma-se um fator mais determinante nistrativo e de servicos, inclusive nos centros menores, recor-
que a idade discente. rendo ao voto de qualidade e contando corn o representante
do pessoal administrativo, frente a pais e alunos em todos os
Quanto aos centros de ensino privado, a Lei consegue casos.
ao mesmo tempo consolidar a "comunidade escolar" perante
o titular ou proprietário e reduzir seus demais componentes a
uma posicáo minoritária frente ao professorado. A pessoa ou A cinzenta realidade da participacüo
entidade titular do centro conta apenas corn dois ou tres
representantes diretos, mas quase todos os demais sáo ou Embora seja impossível aqui, no espaco de um artigo,
podem ser também, até certo ponto, seus representantes indiretos. dar conta detalhadamente da tonica habitual da participagiio na
O diretor é nomeado pelo titular por indicaciio do conselho, gestáo dos centros, podemos apresentar um resumo das carac-
o que garante ser uma pessoa de confianca, sendo que ainda terísticas comuns ao processo em nove centros recentemente
náo se tem notícia de uma nomeacáo contra a vontade do estudados? Parece oportuno centrar-nos nas competencias legais
titular. Os professores, em geral, sáo contratados por acordo mais relevantes dos conselhos - aprovar a programaqáo geral
entre o conselho e o titular (nao váo parar no centro corn do centro, escolher o diretor e gerir os recursos economicos
independencia deste ou de seu diretor, como os do ensino
público), o que significa também uma relacáo de confianqa;
2. O Sistema Educacional Espanhol constitui-se de Ensino de Regime Geral e
ou, se preferimos, de dependencia. Se os professores ou Ensino de Regime Especial. O ensino de regime geral compreende a educacao infantil
professoras forem membros de alguma ordem religiosa, entáo, (até os 6 anos de idade) de caráter nao obngatório; a educac.50 primária (dos 6 aos
a hierarquia desta se sobrepije it estrutura democrático-estamental 12 anos de idade) obrigatória; a educacalo secundária que compreende as seguintes
do conselho, corn o que os representantes dos professores neste etapas: a educaea0 secundária obrigatóna (dos 12 aos 16 anos de idade), o bacharelado
(dos 16 aos 18 anos de idade) e a formacao profissional específica de grau médio;
seriio, na verdade, e embora se continue o procedimento formal a formacao profissional de grau superior e a educacao universitária. (Nota da
previsto para sua eleicáo, apenas o eco obediente da direcáo Organizadora)
- nos casos de atuacáo conjunta mais clara de todos os professores, é habitualmente delegada aos representantes destes
setores e nos motivos mais comuns de conflito. e ao titular, e seria conflitivo nao faze-lo assip.
A Lei destina aos conselhos a tarefa de "aprovar e avaliar Quanto h gestáo economica, as possibilidades reais de
a programacáo geral do centro", como "supervisionar as ati- decisáo sáo limitadas, já que o orqamento chega aos centros
vidades gerais" do mesmo. Embora a normativa seja algo organizado por divisoes estanques. No entanto, o $@bit0 de
confusa a este respeito, parece claro que se, por um lado, se autonomia dos centros tampouco dá lugar a um exercícjo visível
mantém uma clara intervencáo da congregacáo a este respeito, de competencias pelo conselho. As contas sáo aprovadas ro-
pois Ihe compete "programar as atividades docentes do centro", tineiramente, sem que jamais se discutam prioridades e quase
a programacáo que chegar ao conselho deve incluir os horários, nunca propostas alternativas. A atuaqáo dos representantes dos
as atividades docentes, as complementares e o relatório admi- pais e dos alunos se limita a ouvir algumas contas que sáo
nistrativo. O mesmo ocorre com o relatório anual que deve aprovadas sem discussáo, comumente em poucos minutos. Os
ser aprovado no final de cada ano letivo. Entretanto, o que únicos recursos economicos cujo emprego é objeto de certa
acontece na verdade, porém, é muito diferente. Por um ou atencáo sáo os especialmente levantados pelos pais para ativi-
outro procedimento, a direcáo do centro furta em geral do dades extra-escolares e outras.
conselho a possibilidade de discutir realmente a programacáo: Em que empregam seu tempo, entáo, os conselhos? Além
em alguns centros é apresentada simplesmente a introducáo a da aprovaciio de rotina da programacáo e do relatório, do
esta, formada por uma série de idéias vagas carentes de candidato único a diretor ou das contas, seu tempo volta-se
conteúdo concreto; em outros, sáo submetidos 2 discussáo mais 2 discussáo das atividades extra-escolares e servicos
táo-somente os horários, as atividades extra-escolares elou complementares, peticáo de recursos 2 Administracáo - dois
acompanhamentos pedagógicos; em outros, enfim, é apresentado pontos sobre os quais em seguida retornaremos -, as questoes
o conteúdo da programacáo como um conjunto de decisoes de disciplina e diversas queixas dos pais sobre suspensks,
- nao de propostas - já tomadas pela congregacáo ou pela orientacóes e outras questoes. Episodicamente, a direcáo, a
direcáo, limitando-se a discussáo a aspectos marginais. congregacáo ou algum professor apresenta a proposta de in-
A escolha do diretor é puramente protocolar. Em geral, corporacáo a um ou outro programa, simplesmente porque a
quando se apresenta uma candidatura ante o conselho, a mesma convocatória exige que o conselho seja informado. Nos centros
já foi aprovada previamente pela congregacáo. Isto pode ocorrer particulares, um capítulo importante é a abordagem dos fundos
de maneira formal, refletindo-se nas atas deste órgáo, ou por parte dos pais para atividades extra-escolares e comple-
simplesmente informal. Ainda sendo pais e alunos minoria no mentares, que arniúde tem o caráter de uma contribuicáo
conselho, a apresentacáo de duas ou mais candidaturas lhes encoberta. Esta rotina é rompida em dois tipos de ocasioes:
daria um peso decisivo na eleicáo, e é justamente esta possi- quando todos os setores se unem para exigir recursos públicos
bilidade que é cuidadosamente evitada mediante o filtro prévio e quando se enfrentam entre si pelo ambito de suas competencias
da congregacáo, que carece de qualquer fundamento legal. Nos e suas responsabilidades.
nove centros por nós pesquisados houve, apenas, um caso de O primeiro tipo ocorre, por exemplo, quando se fecham
aparecerem dois candidatos devido A forte discordancia entre salas de aula nos centros públicos ou nao se concede toda a
os professores. subvencáo solicitada aos centros privados, ou quando é preciso
A pouca disposicáo geral a assumir tarefas de direcáo solicitar recursos ou a ~ k extraordinárias
s para levar a cabo
facilita muito este mecanismo. Outra importante competencia uma obra, colocar um semáforo na porta do centro ou outras
nominal do conselho nos centros privados, a contrataciio dos questoes similares. Entáo se produz uma unidade militante no
conselho e as resolucóes reivindicativas deste seguem acom- maciqamente nas eleicóes, mas confiam pouco na efetividade
panhadas de cartas dos pais i Administracáo correspondente, de sua representaqáo e costumam limitar-se a apresentar longas
visitas as autoridades e outras. O diretor ou o titular quase listas de pedidos triviais no momento das solicita@es e per-
nunca pedirá sozinho e, nos casos mais graves, é aos pais - guntas. A atitude de pais e professores merece ser tratada corn
as máes, para sermos exatos - a quem corresponde manifes- mais detalhes. +
tar-se e utilizar outras formas de pressáo. De certo modo, Os pais participarn pouco na Associaqáo. Umaiproporqáo
pode-se dizer que os pais de alunos agem como a infantaria importante deles se afilia, em parte porque faze-lo costuma
do pequeno exército escolar. oferecer algumas vantagens na hora de seus filhos tomarem
O segundo tipo, mais freqüente, ocorre quando os pro- parte nas atividades extra-escolares, mas apenas um punhado
fessores querem diminuir o horário, negam-se a organizar acode As reunióes. Quanto a participaciio nas eleicóes, a por-
diretamente atividades extra-escolares, colocam obstáculos a centagem é muito baixa, geralmente menor que dez por cento,
atividades diretamente organizadas pelos pais, lavam as máos salvo no caso excepcional de que haja um forte enfrentamento
a respeito das funcóes de custódia (cuidar do refeitório, vigiar corn o professorado ou entre os própnos pais (e, mesmo assim,
a chegada do transporte etc.), recebem críticas ou, simplesmente, nem sempre). Seus motivos sáo heterogeneos: preocupacáo pelo
pedidos de informacao que, a seu entender, entram no que ensino, rnilitancia política, desejo de mostrar a seus filhos que
consideram sua parcela de competencia profissional exclusiva: se preocupam por eles, experiencias anteriores de conflitos
a organizacáo da atividade docente, a avaliacáo dos alunos ou individuais com o centro, vontade de fazer algo, esperanca de
a valonzacáo de alguma atuacáo individual (de um professor). conseguir um melhor tratamento individual ou apoio da dirqáo.
Este é o motivo dos conflitos mais difíceis que em alguns Em geral, nao tem a menor pretensáo de controlar as atividades
casos chegam ao enfrentamento quase absoluto entre o pro- propriamente docentes, e se a tem, guardam-na. Sua intervenciio
fessorado (em geral encabecado pela direqáo) e os representantes centra-se sobretudo na organizaqáo das atividades extra-escolares
dos pais (desigualmente apoiados, mas nao questionados, por e dos servicos complementares e, se algum motivo pode levá-los
seus representados). Estes conflitos sáo muito mais freqüentes a por em questao a atividade do centro, na certa entrará no
nos centros públicos, onde os professores se sentem amparados amplo item da funcáo de custódia: o refeitório e outros servicos,
por sua condicáo de funcionários, que nos privados, onde a
as atividades, a jornada e, de forma superficial corn tudo o
autonomia destes é menor e os titulares nao querem nem
que for especificamente docente, as orientacóes (que siio a
podem ignorar a funcáo de simples custódia que, além de
janela dedicada a eles no centro). De modo geral, sáo conscientes
outras, os pais esperam que as escolas desempenhem.
de sua posicáo minoritária, nao se consideram capacitados para
opinar sobre questóes pedagógicas (exceto para queixar-se
A atitude dos setores envolvidos
quando aumentam as suspensCes), fogem de qualquer tensáo
corn o professorado, temem suas possíveis represálias, confiam
em sua atuacáo e apenas aspiram a que sua presenqa nos
Nenhum dos setores chamados a participar nos órgáos de
gestáo pode se dizer que se sinta entusiasmado pela possibilidade órgáos lhes assegure certo entendimento e lhes permita fazer
nem por seus resultados. No representante municipal e no do sugestóes e participar em algumas atividades.
pessoal nao-docente nao vale sequer a pena deter-se: o pnmeiro A atitude dos professores é a que agora mais nos interessa.
raramente assiste ao conselho, enquanto o segundo se apresenta Em princípio, ao menos no plano do discurso, todos concordam
como cumprindo uma obrigacáo, nao participa em seus debates corn a idéia de paríicipacáo. Via de regra, a maioria se queixa
e vota regularmente corn a direqáo. Os alunos participam de que a LODE subtraiu competencias da congregaqáo para
oferece-las ao conselho. Esta queixa resultará curiosa para Isto nos leva a um terceiro ponto: embora o professorado
qualquer um que examine esta Lei e as anteriores, pois as nao se oponha frontalmente ii idéia da pqicipacáo, talvez
competencias da congregacáo nao fizeram senáo serem aumen- porque um par de décadas de transiciio política o imbuíram
tadas e reforcadas. Entretanto, pode-se entender num sentido de seu discurso, no fundo se sente ofendido por ser a única
nao-literal. Por um lado, embora a LGE e a LOECE outorgassem profissiio ante a qual se reconhecem funcks descontrole e
menos competencias As congregacóes, elas consideravam ainda gestiio i clientela. Este mal-estar se intensifica eqormemente
menos aos pais, alunos e órgiios em que estes estavam presentes, quando os pais pretendem que os professores assumam funqks
de maneira que os professores nao se enganam quanto ao de custódia ou aventuram opiniks sobre seu trabalho, confun-
verem aproximar-se deles o resto da "comunidade escolar". dindo-se corn a conviccáo de que a sociedade nao recompensa
Por outro lado, apesar de que as Leis proporcionassem poucos econornicamente seu trabalho nem aprecia seu labor, assim
poderes explícitos ii congregacáo, o pequeno tamanho do corpo como o correspondente ii incongruencia de status típica de
docente em cada centro, a necessidade para qualquer autoridade qualquer grupo que se considera numa posicáo muito alta em
obter um certo consentimento do professorado e o fato de que dimensóes (neste caso, sua titulacáo universitária e a nobre
o diretor e outros cargos constituíssem alguns professores a funcáo de educar) e muito baixa em outras (sua remuneraciio
mais, transformavam a congregacáo num poder de fato; em e seu prestígio social).
meio de um certo vazio legal e ante qualquer delegaciio de
Resultado disto é uma atitude amiúde desinteresada ou
responsabilidades por parte da Administracáo, a congregaciio
hostil diante dos conselhos escolares. A participacáo nas eleicóes
se beneficiava, por assim dizer, de uma notável vis attractiva:
é alta, mas a disposiciio de fazer parte é muito baixa. Embora
formal ou informalmente, exercendo competencias por defeito.
nao faltem os professores que acudam a eles corn a idéia de
Por sua vez, a idéia de participacáo presente na maioria que sáo necessários, ou que a partir daí se possa e se deva
do professorado coincide pouco corn a do discurso oficial. melhorar o centro, siio mais os que o fazem repetidamente a
Para aquele, a participaciio do alunado deve ser sobretudo um pedido da direcáo (que talvez tenha problemas corn uma parte
servico (ocupar-se de tarefas menores, pouco agradáveis e da congregacáo), para conseguir recursos para sua área de
subordinadas como limpar a lousa, conferir a lista de chamada trabalho ou, simplesmente, porque é preciso preencher a vaga
ou anotar os alunos corn mau comportamento) e um aprendizado e submete-la ii aprovacáo (o referendo do conselho é necessário
(primeiro votar em ordem e logo observar como gerir seus formalmente para muitas decisóes).
superiores). Quanto ii participacáo dos pais, deve consistir antes
de mais nada em apoiar coletivamente o professorado quando Outro efeito é uma considerável obstinaciío corporativa.
Ihe for requerido (prestando seu apoio pessoal e trazendo Mesmo que os professores possam ver corn maus olhos as
recursos, quando necessário, para acóes internas e agindo como atuacóes de alguns de seus colegas, compartilhar críticas feitas
emissários nas reivindicacóes externas) e, acima de tudo, co- por pais ou alunos ou considerar aceitáveis suas propostas, os
laborar individualmente corn o docente. Esta última opiniáo se professores se apresentam diante deles como um bloco compacto
manifesta até a saciedade, e reflete o desejo nada oculto de e, chegado o momento, aplicam sem piedade o rolo compressor
que os pais dos alunos atuem como o prolongamento da máo da maioria. Qualquer crítica suscita uma indignacáo unanime,
do docente fora dos muros da escola: daí a pitoresca mas as decisóes sao referendadas, a disciplina deve ser mantida a
freqüente proposta de colocar em prática a "escola de pais". todo custo, as competencias e prerrogativas defendidas até o
No fundo, quem ensina aspira a que os pais o amparem como fim. A maioria dos assuntos importantes que passam pelo
se ele fosse o pediatra: ouvindo respeitosamente seus conselhos conselho foram antes discutidas na congregaqáo, e suas decisóes
e aplicando suas receitas de pés juntos. funcionam de fato como um mandato para os professores
membros daquele. O diretor, por outro lado, atua sempre como gularmente. Mas, embora o protagonismo fosse principalmente
um amortecedor entre os pais e alunos e o professorado: o dos professores, como correspondia 5 sua maiqr e mais estável
conselho, que com freqüencia felicita o professorado por qual- implicaqáo e 5s suas melhores condiqks para a mobilizaqáo,
quer coisa, jamais o repreende como tal, mas sim é o diretor tudo discorria como se estes fossem os porta-vozes dos intereses
o encarregado de dizer a um ou outro professor que existe gerais da comunidade escolar. e

este ou aquele problema. Mais que o braco executivo do Expressáo disto foi a recorrencia da demand4 de urna
conselho (no Smbito de suas compettkcias), o diretor é o gestáo democrática dos centros docentes e do sistema educativo
porta-voz do professorado e o mediador entre este coletivo nos diversos documentos que, em seu momento, a segunda
(que é o seu) e o órgáo de decisáo, porém, mais precisamente,
metade da década de setenta, foram genericamente conhecidos
como uma mesa de acordos entre as partes: o professorado e
como as "alternativas", Embora o valor intrínseco destes do-
o público do centro, mas com a peculiaridade de que, chegado
cumentos fosse muito desigual, misturando propostas maxima-
o caso, prevalece sempre a posicáo do professorado.
listas com sugestoes de ir de casa em casa e propostas que
foram e sáo objeto de um amplo interese social com ocorrencias
E o vento levou... mais ou menos rocambolescas, tiveram a virtude, ao menos
em relaqiio a um punhado de questóes essenciais, de sintetizar
Décadas (para nao dizer séculos) de organizaqáo hierár- o estado de opiniáo do momento entre importantes setores do
quica e autoritária da educaqáo num contexto de ausencia de professorado e de outros grupos coletivos implicados ou, no
liberdades geraram em todos os setores implicados na marcha mínimo, interesados. Uma destas questóes, sem dúvida, era a
do sistema educativo uma demanda de estruturas participativas gestáo democrática do ensino. Vale a pena deter-nos no que
que lhes permitissem ter voz sobre os objetivos e o processo os principais documentos diziam:
de seu trabalho (os professores), as condiqoes de escolarizacáo O mais popular deles, Urna alternativa para o ensino,
de seus filhos (os pais), e os processos de aprendizagem e a foi aprovado pela Junta Geral do Colégio de Doutores e
vida nas aulas (os a~unos)~. Os últimos anos da ditadura Licenciados em Filosofia e Letras e em Ciencias do distrito
espanhola foram testemunhas de uma explosáo dos pronuncia- universitário de Madri, em janeiro de 1976. No parágrafo
mentos e das mobilizaqóes reivindicativas entre os professores, dedicado 5 "Gestao democrática", afirmava:
pais e alunos maiores de idade. Contudo, nem todos desem-
penharam o mesmo papel. Enquanto os professores foram os (...) A marcha interna dos centros de ensino, no que se refere
principais impulsionadores de alternativas globais A organizaqáo aplica~iioconcreta das normas gerais, contrata~iioe sele~áo
vigente do ensino, os pais fizeram sentir sua presenqa de forma de pessoal, controle dos fundos econ6micos, dirqiio pedagógica
mais discreta através de pequenos movimentos e do apoio ao etc., correrá a cargo dos professores, alunos e pais de urna
professorado, e os alunos se manifestaram esporádica e irre- maneira democrática4.

Meses depois, se celebravam em Alcobendas, Madri, as


3. Esta secáo e a seguinte sáo urna síntese de alguns dos resultados da pesquisa Primeiras Jornadas de Estudos sobre o Ensino, onde o Colégio
já mencionada, La participacidn denzocrática (...). A pesquisa de campo foi realizada
por Fernando Suárez Galván, Victoria Sáiz Calvo e Ana Medina García. Consistiu de Doutores e Licenciados apresentaria urna comunicaqao que
em recolher as atas de conselhos e congregacoes de vários anos e outros documentos
diversos, na realizaqáo de entrevistas e p p o s de discussáo com representantes de
todos os setores em cada centro e a observacáo de todas as reunióes possíveis. Jesús 4. Citado em: BOZAL, V. Una alternativa para la enseñariza. Madrid, Centropress,
Montes Corral colaborou na transcricáo das entrevistas. 1977, p. 126.
desenvolvia, entre outros, o ponto relativo ii gestiio democrática representantes dos mestres, do pessoal náo-docente (com fungoes
dos centros: educativas e administrativas), da Associaciio d e Pais, dos alunos
- conforme sua idade - e das demais forqas sociais repre-
O órgáo de gesta0 estará integrado pela Congregacáo (formada sentativas do lugar em que se localiza o centro, que estejam
por docentes e nao-docentes), representacáo da Associacao de objetivamente interessadas no funcionamento da escola * (sindi-
Alunos e da Associacáo de Pais. catos, associaqao de vizinhos etc.).
4
(...) A linha educativa, que compreende a fixacao de objetivos As competencias deste organismo ser50 de tipo economico,
gerais, métodos, conteúdos e programas, deve ser elaborada organizativo e de definiqáo das linhas gerais da pedagogia do
pelo Ó g a o Gestor, ajustando-se ao ambito que, primeiro, de centro, tendo em conta o meio em que se situa a escola. (...)
forma ampla, estabelece o Estado e logo, de forma mais A Congregaciio da Escola, constituída pela totalidade dos pro-
concreta, os órgáos públicos representativos das Nacionalidades fessores do centro e do pessoal nao-docente com funcóes
e regióes5. educativas, tem como tarefa primordial a elaboracáo das pro-
postas pedagógicas e metodológicas, que devem ser aprovadas
O segundo documento em importancia, Por urna rzova pelo Conselho de Escola. A Congregaqao concretizará e aplicará
escola pública, declaraciio da Escola D'Estiu de Barcelona, as decisóes deste ~onselho.'
conheceu duas versoes aprovadas por sucessivas assembléias.
Na primeira, a da X Escola d'Estiu, de 1975, dizia-se: Um terceiro pronunciamento relevante foi o do colégio
de Doutores e Licenciados do distrito universitário de Valencia,
A direcao educativa do centro compete ao conjunto dos pro- Urna alternativa para o ensino no País Valenciano. Anteprojeto.
fessores do mesmo. A funciio coordenadora e executiva tem
Esta, que nao abordava sistematicamente a gestiio dos centros,
que recair sobre um ou mais professores, eleitos democratica-
mente por um período determinado e revogável.
a exigia em forma dispersa, nao obstante, em passagens dife-
rentes:
Os pais tEm de intervir no controle dos resultados da escola,
bem como na aplicacao correta dos fundos economicos desti- A participacao dos alunos na gesta0 da classe, de centro ou
nados. Desse controle participar20 também os alunos, conforme ao nível mais global, através de suas organizacóes próprias, é
a idade, e o pessoal nao-docente.
um indubitável direito (...).
Para que os intereses pessoais que inevitavelmente o pai possui
A congregacáo de professores, assim como os pais de alunos,
com respeito 2 escola nao parcializem excessivamente sua
deveráo participar na gestao dos centros. (...)'
gesta0 de controle, interessa arbitrar a participacao daquelas
entidades representativas que esta0 objetivamente interessadas no
funcionamento da escola: sindicatos, associactks de vizinhos e t ~ . ~ Houve outras tomadas de posiqiio, é claro, e nem todas
na mesma linha. Entre as opostas iis aqui apontadas, devemos
Um ano mais tarde, a assembléia geral da XI Escola destacar necessariamente a da Cornissiio de Ensino da Confe-
d'Estiu apresentava uma formulaqiío urn pouco mais concreta rencia Episcopal, inspiradora de diversos documentos posteriores
e com melhor sintaxe: da FERE, da CECE, da CONCAPA e outras entidades vinculadas
ao ensino privado em geral e católico em particular. Destaquemos
A gestao do centro deve recair num conselho de Escola, da primeira delas, simplesmente que, embora sob os princípios
organismo máximo de representacáo e de decisáo, formado por gerais da liberdade de criaciio de centros e do direito preferencial

5. Idern, p. 291. 7. Idern, p. 272-3.


6. Idern, p. 187. 8. Idern, p. 221 e 223
dos pais de escolher o tipo de educaqáo de seus filhos, se mantivesse o contrapeso cidadáo, e se apostava num órgáo
aceitava-se a participacáo de todos os setores, sempre e desde máximo com a presenqa de todos os setores , o conselho
que respeitassem o caráter próprio de cada centro: - responsável pelas "linhas gerais da pedagogia do centro"
e a aprovaqáo das "propostas pedagógicas e metodológicas"
(...) A liberdade docente e de expressiio dos professores, como apresentadas pela congregacáo, que, por sua vez, deveiia "con-
a participacáo destes em todo o processo educativo, devem ser cretizar e aplicar" as decisks daquela. I
exercidas no respeito objetivo a consciencia pessoal do aluno
e ao projeto educativo da escola que os pais escolheram para
seus filhos.
É necessário (...) conseguir que a organizaciio academica e
economica [dos centros docentes dependentes da Igreja] se
É evidente que a agregacáo de professores, pais, alunos
e outros num órgáo máximo, qualquer que fosse a denominacáo
deste, nada revelava sobre seu peso respectivo. Entretanto,
parece razoável que fosse interpretado no sentido que excluísse
a submissáo de todos os outros setores a um único deles,
1
t
S

inspire nos princípios de:


participacáo ativa dos diversos setores da comunidade edu- concretamente ao professorado. Por outro lado, as atribuiqóes
cativa, na orientaciio do centro docente, sempre dentro da de competencias, embora vagas, eram amplas. Com respeito
fidelidade ao caráter católico da instituiciio educativa e de ao documento mais remissivo ?i intervencáo dos outros, o da
seu projeto educativo. (...19 X Escola d'Estiu, deve-se notar que a crítica aos pais se
baseava em seu particularismo (o peso de seus "interesses
O fio que conduz ?i Lei Organica do Direito Educaqáo pessoais"), de modo que se retirava dos pais o que lhes é
(LODE) nao procede do episcopado, mas das "alternativas" pedido agora: que venham de um em um e sem outra coisa
mencionadas. Todas elas invocavam os tres principais setores que seu filho na cabeca.
envolvidos na educacáo, e nenhuma chegava a concretizar A igreja era mais inequívoca: toda participacáo deveria
sobre a composicáo dos órgáos a partir dos quais se unificaria subordinar-se a respeito do caráter próprio do centro, fixado
sua intervencáo. As alternativas de Madri e de Valencia indicava por seu criador (seu proprietário) e ratificado pelos pais ao
a todos primeiro a "orientaqáo pedagógica", e depois a "linha escolhe-lo para seus filhos. É possível se dizer que o que
educativa", entendendo esta última de maneira bastante generosa,
trouxe consigo a LODE foi uma aplicacáo laica da proposta
incluindo "objetivos gerais, métodos, conteúdos e programas".
eclesiástica. A maioria dos professores nos conselhos escolares,
Os documentos da Escola d'Estiu, pelo contrário, refletiam bem como o desvio de fato ii congregacáo de algumas de suas
uma atitude notavelmente menos favorável aos pais. No primeiro mais importantes competencias, coloca os pais e alunos numa
deles, direqáo, coordenacáo e execucáo se destinavam aos situaqáo na qual podem participar, mas sempre dentro do
professores, enquanto que para os pais, o pessoal nao-docente respeito ao "projeto educativo", 5 "orientacáo do centro" ou
e, conforme o caso, os alunos, restava o controle econ6mico ao "caráter" do mesmo determinados pelo professorado, que é
e dos resultados. Sobre os pais ainda se apresentava outra quem domina claramente a situaqáo.
cautela: como eram considerados particularistas demais, se
Que semelhante variante nao era, nem mais nem menos,
propunha, nao se sabe bem se como contrapeso ou como
a concretizacáo necessária da linha de defesa da gestáo de-
alternativa, a intervencáo de diversas entidades cidadás "obje-
mocrática assurnida pelos partidos de esquerda e por boa parte
tivamente interessadas7' na escola. Na segunda versáo da de-
das organizacóes de ensino, é algo que ficou claro no amago
claracáo, evitava-se já toda referencia negativa aos pais, embora
da Lei que quase ninguém lembra. No debate parlamentar
sobre a LOECE, sem ir mais longe, o Grupo Socialista, que
9. Idem, p. 240, 252-3 nao tardaria muito em ser maioria na Camara dos Deputados
e aprovar corn seus votos a LODE, propos a seguinte composiqiio nadas aos conselhos; por outro, os alunos e os pais, que foram
para os conselhos dos centros público^'^, conforme se tratasse embutidos em certos órgiios nos quais estavaq condenados a
de centros corn maior ou o menor número de alunos e se ser minoria, de competencias confusas e frente a um professorado
fossem de educaciio geral básica ou ensino médio (este último que, depois de tudo, conservava a autonomia na aula e a
só fazia variar o número de representantes dos alunos, maior espada da avaliaqiio. e

no segundo caso):
Centros com menos d e 400 alunos Centros com 400 alunos ou mais
Diretor Diretor
Chefe de Estudos Chefe de Estudos
5 representantes dos professores 6 representantes dos professores
A crítica das ofertas e os mecanismos de participaciio
6 representantes dos pais 8 representantes dos pais dirige habitualmente seus dardos contra essa entidade, onipre-
1-3 representantes dos alunos 2-4 representantes dos alunos sente e inapreensível ao mesmo tempo, 2 qual costumamos
1 representante dos administrativos 1 representante dos adminisbativos chamar de "sistema". Todo mecanismo de participaciio nasce
1 representante do Município 1 representante do Município marcado pela suspeita de ser, antes de mais nada, instrumento
de integraciio. E, embora fosse necessário explicar entiio por
Adotando-se esta proposta, os representantes dos profes- que alguns a pedem quando niio a tem e outros a negam
sores teriam sido minoria em todos os conselhos, inclusive enquanto podem, é justo reconhecer que é muito provável que
corn a adiciio do representante do pessoal de administraciio e seja assim. No caso dos centros de ensino, que é nosso objeto
servicos teriam sido, na maior parte deles, mesmo que em de estudo, nao resta dúvida de que professores, pais e alunos
alguns poucos (os de EGB, corn menos 400 alunos e corn os se viram chamados a intervir num espaco institucional do qual
administrativos), teriam somado a metade e, corn o voto de apenas dominam uma parte das chaves, permanecendo as outras,
qualidade atribuído pela Lei de Procedimento Administrativo em geral as mais importantes, nas miios da Administraqiio e
ao diretor presidente do órgiio (por outro lado, a escolher sem dos titulares dos centros privados.
maioria de professores), teriam uma maioria de direito. Isto No entanto, por mais certo que isto seja, a insistencia
sim: uma "minoria majoritária" diante da qual teria resultado monocorde nisso apenas pode nos levar a ignorar que, além
altamente improvável um bloco de todos os dernais repre- de estruturas, sistemas, normas etc. existem atores sociais,
sentantes, o que teria sido também uma alfinetada para a busca grupos, práticas. Se tivéssemos que resumir este trabalho numa
de fórmulas de consenso. única conclusiio, seria precisamente esta: aquilo que vemos
Mas nao houve sangria desatada. Montanhas de pronun- acontecer no 2mbito da participaciio na gesta0 dos centros de
ciamentos a favor da participaciio de todos os setores apenas ensino é, sobretudo e em primeiro lugar, o resultado de
pariram uma fórmula chamada a reforcar o poder dos professores estratégias grupais, dos comportamentos dos autores, de práticas
ante todos os demais setores em disputa: por um lado, a que nao estáo normativamente estabelecidas. Em uma palavra:
o fator que determina a forma de participaqiio de todos pro-
Administracáo e os titulares dos centros, que perderam as
fesores, pais e alunos, consiste, em essencia, nos intereses e
competencias (tampouco muitas, é preciso que se diga) desti-
práticas coletivas dos professores.
I
Preso na armadilha de todas as sub-profissoes o profes-
10 Ver EEITO, R Lu particlpaclón de los padres en el ronrrol y ge~tiónde
sorado trata de defender e melhorar sua posiciio de grupo
1
(
la en~eñania Tese de Doutorado Universidade Complutense, Departamento de So-
c i o l o ~ a111, 1991, p 205-6 frente a seus empregadores (a administraciío e os proprietários
de instituiqks privadas) e frente a seu público (os alunos e nenhum seja ambas as coisas no mesmo grau. Todo o resto
seus pais ou miies). Enfrenta, por um lado, "o autoritarismo", parece-me inaceitável: a teoria é, como dizia Vegel sobre o
o "ordenancismo" etc. da Administraqiio frente a qual reclama Absoluto de Fichte, urna noite na qual todos os gatos siio
uma maior autonomia dos centros; por outro lado, os pais pardos. Por mais que todas possam ser objeto de crítica ou
como "compradores" de ensino e como zelosos "proprietários" merecam a atenqáo social, as relaqks de classe, que sZo
de seus filhos, perante os quais reclama uma maior autonornia impessoais e implicam por si mesmas exploraqáo economica,
para si mesmos. E, em um hábil jogo de equilíbrios se apóia nao podem ser metidas no mesmo saco com as relaqks de
a administracáo contra os pais e nestes contra aquela, ou pelo privilégio baseadas no sexo ou na etnia (ou a idade, ignorada
menos assim tenta. por Parkin), que concemem a características adscritas dos
Aqui bem podenamos aplicar, mesmo transformado, o indivíduos e niio implicam por si mesmas exploraqiio (numa
conceito de "feixe social" e mais concretamente o de "feixe sociedade aberta), se bem que pesam enormemente sobre as
dual", do sociólogo ingles Frank Parkin", embora para isso oportunidades desiguais de cada qual para transformar-se em
deveremos nos permitir uma excursus. Este autor toma o termo explorador, explorado ou nem em uma coisa e nem em outra.
"feixe social" de Weber, alterando seu conteúdo, para englobar No demais, o que Parkin denomina "feixe de usurpaqiio" nem
é tal feixe, pois consiste precisamente em abrir o que estava
sob o mesmo todo um conjunto de práticas "exploradoras" (no
sentido também weberiano: que produzem uma distribuicao fechado para a maioria, m m usurpa nada, a nao ser que se
desigual das oportunidades vitais) como as que utilizam os adote a perspectiva de Maria Antonieta.
que possuem um capital economico ou cultural contra os que Era necessário este parentese, porque os termos de Parkin
carecem dele, os homens contra as mulheres ou as maiorias servem como uma luva para explicar o caso do professorado
étnicas contra as minorias. Segundo Parkin, os grupos privile- (e, por extensiio, o da maioria das profissóes liberais e das
giados exercem "um feixe de exclusiio", para baixo, que se "semi-profissionais"). Porém, no sentido em que aqui utilizamos,
apóia em geral em práticas "legalistas" (por isso foram eles o feixe nao se refere ao acesso a recompensas materiais, e
que fizeram a lei, ou que siio mais favorecidos por ela). Em sim a delimitaqiio de 2mbitos de competencia: nao é uma
resposta, os grupos subprivilegiados tratam de exercer um prática economica, mas política. Se, onde Parkin coloca as
"feixe de usurpaqiio", para cima, que se baseia comumente em oportunidades economicas, colocamos as "políticas", ou seja
práticas "de solidariedade" (por exemplo, de mobilizaqiio con- as competencias, a capacidade de decidir, a teoria parece feita
junta e solicitaciio de apoio de outros setores, apoiando-se no sob medida. (É claro que, atrás de suas oportunidades políticas,
maior número). A maioria dos grupos, segundo Parkin, nao o professorado persegue também, como qualquer outro grupo,
exercem apenas um tipo de feixe, mas alguma combinaqiio de oportunidades economicas: a diferenqa reside em que os grupos
ambos, ao que denomina "feixe dual". que nao tem pretensks profissionais exigem simplesmente
Em minha opiniiio, este último ponto tem grande valor, recompensas economicas, enquanto que os grupos que já as
pois incide em algo que é difícil aceitar em outras teorias tem gostariam de ve-las chegar associadas as políticas e sim-
sobre as classes ou a estratificaqáo social: que muitos gmpos bólicas, mas sem necessidade de pedi-las de maneira expressa.)
sáo ao mesmo tempo explorados e exploradores, sujeitos ao No campo da gestiio do ensino, o que os professores
mesmo tempo de privilégios e desvantagens etc., embora quase necessitam "usurpar" siio as competencias que a Administraqiio
e os proprietários de centros mantem em suas máos, e a quem
11. Ver: PARKIN, F. Marxisrrto y reorfa de clases: una critica burguesa. Madrid,
necessitam "excluir" é aos pais e aos alunos das competencias
Espasa-Calpe,1984. que, individual ou coletivamente, estiio em suas próprias miios
(as do professorado). No jargáo próprio, tudo isto tem um A história recente do movimento de professores dá con-
nome específico e original. O que Parkin chamaria de "usur- sistencia a esta hipótese. No final dos anos sesenta, durante
pacáo", no sistema educativo espanhol se chama de "demo- os setenta e nos primeiros anos da década de oitenta, diante
cratizaqáo", "descentraiizaqáo", "autonomia dos centros" etc.; da ditadura e dos governos de direita zelosos por manter a
o que o sociólogo ingles denominaría de "exclusáo", aqui autoridade da Administracáo, da Igreja e dos empre&rios do
chamamos de "profissionalizac~o", "dignificaqáo", "reconheci- ensino, os professores exigiam a democratizaqáo d d sistema
mento do trabalho docente" e outras coisas do estilo. O Quadro educativo, invocando para isso o apoio de alunos e pais, e
III apresenta graficamente esta idéia e o Quadro IV sintetiza recorriam a "táticas de solidariedade", isto é, h mobilizacáo 5
o dualismo inerente h atuacáo social da coletividade docente. margem das vias legais, embora pouco apreciáveis. Hoje em
dia, quando a lei reconhece, ainda que com resultados náo
Quadro 111 muito espetaculares, a pais e alunos a capacidade de intervir
A dupla discussáo ou feixe dual da profissiio docente na gestáo dos centros docentes, os professores recorrem
frente a estes com "táticas legalistas" colocando sua maioria
(Administracáo) ORGANIZACOES (Proprietários) nos conselhos, envolvendo os representantes dos demais

I
Demanda de democratizacáo
(feixe de usurpaclo)
setores em um jargáo que nao conhecem, provocando que
se submetam aos mecanismos burocráticos elou de lento
funcionamento.
A mesma mudanca pode verificar-se em termos de iden-
tidade. Há pouco mais de uma década, professores se reco-
nheciam como " trabalhadores do ensino" (13): hoje, no entanto,

1
se consideram profissionais. É evidente que esta variacáo nos
termos do discurso nao é casual: representa a passagem do
desejo de identificar-se com o restante dos trabalhadores com
a intencáo de diferenciar-se deles. Independentemente de que
PROFESSORADO isto corresponda mais ou menos adequadamente a mudanca de
caráter político registrado por nossa sociedade, podemos também

1
Demanda de profissionalizac50
(feixe de excluslo)
interpretá-lo de outro modo: embora o problema fundamental
dos professores tenha sido o de exigir competencia 5 Adrni-
nistraqáo e aos proprietários, ou seja, a "democratizaqáo do
ensino", o pedido de solidariedade que se dirige aos pais e
aos alunos, principalmente aos primeiros, viu-se favorecida pela
identificacáo com eles dentro de uma categoria comum, a de

(Alunos)
1
CLIENTELA (Pais)
"trabalhadores"; quando o problema passou a ser a defesa de
velhas ou novas competencias frente aos pais, ou arrebatar-lhes
algumas de suas prerrogativas sobre seus próprios filhos, fez-se
necessário buscar uma identidade que situasse o grupo por
cima de seu público, a do "profissional".
Quadro IV do docente nao deve vir da definicáo de um campo formal
Os professores diante das organizaqoes e o público de competencias exclusivas, mas da conquista da um conjunto
real de capacidades, conhecimentos, técnicas e formas de saber
fazer que Ihe pennitam dominar intelectualmente sua atividade.
Se o cntério do docente chega a predominar, deverá sei porque
é aceito como melhor pelos outros setores envolddos 'na
educaqáo, nao porque seja ímposto corn a maioria nos órgiios
de gesta0 ou por procedimentos menos ortodoxos. Poderíamos
afirmar que os docentes se mostram tanto mais zelosos de
suas competencias formais quanto menos seguros estiverem de
suas capacidades reais. Por sorte, também um setor entre eles
j/ Auto-imagem associada a I~rabalhadores 1 Profissionais está mais pela tarefa de convencer que pela de vencer.
No plano organizacional, isto significa que é preciso, ou
De certo modo, no reconhecimento ou nao da necessidade modificar a composicao dos conselhos escolares, dando um
de que o ensino seja o resultado de um consenso entre os peso maior neles aos alunos elou pais (conforme a idade dos
professores, de um lado, e os alunos e pais, de outro, e náo alunos), o que exigiria mudar a lei, ou ainda, o que nao
precisamente mediante a aquiescencia destes diante das decisóes requereria tal medida, exigir maiorias qualificadas para decidir
daqueles, mas mediante a co-decisáo por parte de uns e outros, sobre as questóes mais importantes, de modo que se forqasse
reside a diferenqa entre que o sistema educativo seja um servico o consenso entre as partes. O melhor sena uma combinaqiio
público ou, simplesmente, uma agencia pública (embora par- de ambas as coisas: reforqar a presenca de pais e alunos e
cialmente em miios privadas). No primeiro caso, o papel dos exigir maiorias qualificadas, de maneira que nao se pudesse
professores seria colocar seu saber científico ou humanístico, dar tampouco uma situaqao simetricamente contrária ii atual,
técnico ou profissional a serviqo de objetivos fixados em parte corn os professores submetidos a um rolo compressor de pais
pela sociedade global e em parte pela comunidade escolar da e alunos. E, em todos os casos, asegurar-se, mediante cam-
qual eles mesmos sao um componente, mas apenas um. Em panhas de informaqao e um emprego adequado das atribuicóes
segundo, sua posiqao seria a de um agente da autoridade (com de inspecáo da Administraqao, de que os conselhos escolares
estatuto de funcionário ou corn uma relaqao contratual corn desempenhem efetivamente todas as suas competencias.
seu empregador) que, por si mesmo ou como parte de uma
hierarquia, e corn ou contra a vontade dos administrados, decide
por estes o que precisam e como satisfazer suas necesidades.
A pergunta pendente é óbvia: é possível outra relaqáo
entre os professores e seu público, em particular os pais de
alunos? Ou, formulando de outra maneira: deve a profissiona-
lidade dos docentes, necessariamente, traduzir-se em uma de-
posicao de pais e alunos? Creio que se pode responder clara-
mente que sim a primeira pergunta: é possível, embora seja
difícil; e que nao a segunda: nao necesariamente, embora
possa dizer-se que sim, provavelmente. A profissionalizaqiÍo

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