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Sou forjado pelas minhas relações sociais?

por Alberto Filgueiras

Você pode estar imaginando que esta pergunta


já traz uma resposta óbvia por trás, contudo não é tão
simples assim. As relações sociais nos são
doutrinadoras de pensamentos e formas de compreender
o mundo. Diversas instituições, anteriores ao sujeito,
são maneiras de relação social no sentido que o poder
que exercem molda, modifica e orienta nossas formas
de compreender as mais diferentes situações em nossas
vidas (3).
Podemos imaginar, portanto, que uma vez
construídos por nossas relações interpessoais, também
nossos comportamentos são forjados desta forma. As
relações de poder que envolvem as instituições
contemporâneas (Estado, Sexualidade, Classes Sociais,
etc.) são agenciadas por movimentos no jogo político
(1). Portanto, podemos imaginar que nossas formas de
nos comportar são agenciadas, da mesma forma, pelos agenciamentos dos diversos
atores sociais envolvidos nas nossas relações sociais: Governo, Família, Amigos,
Escola, Trabalho e todos os meios nos quais interagimos com o mundo.
Bom, neste momento começamos a pensar em comportamentos mais básicos no
ser humano como o sistema de luta-e-fuga*, a orientação da atenção** (para onde
olhamos quando algo nos chama a atenção: um barulho muito alto, por exemplo), ou
sentimentos de medo e raiva.
Vamos nos remeter a um autor que construiu uma nova ótica para a ciência
psicológica: Lev Semenovich Vigotsky. O autor questionou a formação de nosso
cérebro como unicamente gerado pelas reações fisiológicas. Sua obra célebre, “A
Formação Social da Mente” (6) traz a proposta de que nossas funções mentais são
forjadas a partir da chama de nossas experiências sociais. O ser humano tem, de fato,
reações fisiológicas diante de determinadas situações, mas a forma como o sujeito
responde às condições em que se encontra é regulada, primariamente, pela forma como
a sociedade em que está inserido compreende aquela situação específica.
Ora, vamos exemplificar o trabalho de Vigostsky a fim de compreendermos
como somos alicerçados em nossas relações sociais. A Índia possui uma sociedade que
pensa nos animais de forma diferente do Ocidente capitalista. Isto traz como
consequência a visão de divindade dos animais. Em última análise, há comunidades
indianas que convivem tranquilamente com aranhas e serpentes venenosas,
considerando normais as picadas destas criaturas divinas. Para muitos de nós, seres
ocidentais e capitalísticos, somente a idéia de sair de casa e ter de pular três cobras e
abrigar aranhas caranguejeiras em nossos quartos de dormir são horripilantes o
suficiente para que tenhamos reações fisiológicas diretamente explicadas pelo sistema
de luta-e-fuga*, fato que não ocorre com os indianos (4). Este mesmo exemplo funciona
para os faquires (com relação à dor), inuítes (com relação à percepção do branco), tribos
indígenas amazônicas (com relação à percepção do verde) e muitas outras sociedades
que possuem uma configuração histórica e compreensão do mundo diferentes da
tradicional ótica cartesiana-ocidental-cristã-européia-capitalista na qual fomos
forjados.
Destarte, as reações fisiológicas que formam nossas impressões emocionais
acerca de determinado evento, e constrói nossas memórias e comportamentos, foram
todas geradas pelo aprendizado social (6). Portanto, em última análise, podemos pensar
em evidências que apontam para a eficácia da teoria vigotskiana, porém lembremos
sempre que a ciência é, essencialmente, falível e, quem sabe, não seremos capazes de
mudar nossa ótica para uma nova teoria?

*Para melhor compreensão do conceito, buscar sistema de luta-e-fuga em Gazzaniga e


Heatherton (2).
** Para melhor compreensão dos sistemas envolvidos na atenção, buscar a leitura de
Sternberg (5).

Referências:
1. FOUCAULT, M (2008). Microfísica do Poder. 25ª Ed. São Paulo: Graal.
2. GAZZANIGA, MS, HEATHERTON, TF (2007). Ciência Psicológica: Mente,
Cérebro e Comportamento. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed.
3. GUATTARI, F, ROLNIK, S (2006). Micropolítica: Cartografías del deseo. Madrid:
Traficante de Sueños.
4. MINEKA, S, COOK, M (1988). Social Learning and the Acquisition of Snake Fear
in Monkeys. In: ZENTAL, TR, GALEF Jr., BG. Social Learning: Psychological and
Biological Perspectives. Chicago: University of Chicago Press.
5. STERNBERG, R (2007). Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed.
6. VIGOTSKY, LS (1984). Formação Social da Mente. 1ª Ed. São Paulo: Martins
Fontes.

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