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ALUNOS COM MUITAS DIFICULDADES DE ESCRITA1
América Marinho
TEXTOS QUASE ILEGÍVEIS
Freqüentemente, no processo educacional do nosso país, alunos apontados como não‐alfabetizados são, de
fato, pessoas alfabetizadas que ainda apresentam muita dificuldade para escrever frases e textos. Em suas
produções, é comum encontrarmos a troca de letras, elementos aglutinados, palavras omitidas ou
segmentadas, além, é claro, de muitos erros de ortografia, pontuação etc. Por tal razão, muitas vezes, durante
uma leitura mais rápida, as idéias registradas por esses alunos tornam‐se quase ilegíveis. No entanto, quando
olhamos com atenção para essas produções, notamos a presença de aspectos reveladores, como palavras
escritas alfabeticamente, mas com os seguintes problemas:
• separação de letras e sílabas de palavras escritas alfabeticamente: a campa (acampar); a te (até);
apare ceu (apareceu);
• junção de palavras em que se omitem letras: fida (foi dar);
• palavras incompletas: cacoro (cachorro); amoada (almofada); lei (leite); a capnto (acampamento);
• palavras escritas alfabeticamente em que o aluno reduz tudo às sílabas simples (por exemplo:
remara em vez de remar; patino, em vez de patinho, porocuro, em vez de procurou);
• palavras escritas alfabeticamente mas com troca de letras: lefou (levou); teichou (deixou); pateu
(bateu); japel (chapéu);
• palavras escritas alfabeticamente, mas com falta de letras: vete (veste); saba (samba); avore
(árvore); uso (urso); ato (alto);
• palavras com letras fora de lugar: lugra (lugar); porcurar (procurar); ruso (urso); mu (um);
• frases e palavras que apresentam vários dos problemas acima todos juntos: a fo re (árvore); poro
curou (procurou); abale seu (apareceu); e la peqerou (ela procurou); eledonio (ele dormiu); tepatio
(três pratinhos); tracaza (para casa); gepacia (quer passear); paracmper (para sempre); purcaso (por
causa).
Com esses alunos é preciso desenvolver um trabalho de consolidação da alfabetização e de aprendizagem da
ortografia. O melhor a fazer é chamá‐los individualmente, pedir para que leiam o que escreveram, questionar
a forma utilizada, a letra colocada, a junção ou a segmentação feita. Não é necessário repassar o texto todo,
pois os problemas se repetem.
1
Texto utilizado como material de apoio no evento “Orientação Técnica sobre a recuperação paralela” realizado nos dias
23, 24 e 25 de julho de 2008.
Assim, se a reescrita de um trecho for feita com o aluno, ele poderá rever sozinho ou com ajuda de um colega
mais adiantado o restante da produção. Esse trabalho deverá ser complementado com jogos, leitura e
produção de trava‐línguas e também com o uso do dicionário.
Sempre que os alunos produzirem ou reproduzirem um texto, é importante que o leiam com atenção antes de
entregá‐lo para o(a) professor(a), de modo a corrigir (ou procurar corrigir) possíveis erros encontrados. Nessa
atividade, o(a) professor(a) precisa percorrer a sala, auxiliando os estudantes que apresentam mais
dificuldade.
ALUNOS NÃO ALFABETIZADOS
Caso haja realmente alunos não‐alfabetizados, ou seja, aqueles que sequer fazem relação entre o som da fala
e a escrita, é preciso despertar neles a consciência dessa relação. É preciso insistir:
• na escrita de listas de palavras: alunos falam e o(a) professor(a) escreve;
• na memorização e reescrita de letras de poemas, parlendas, cantigas etc.
• nos jogos que envolvem rimas, sons iniciais e finais.
Para aqueles que já perceberam a relação entre som e escrita, mas não colocam todas as letras, o que é
bastante comum em uma sala de aula, são bons os jogos do tipo:
• forca;
• cruzadinha;
• escrita de palavras com letras móveis;
• quebra‐cabeça de palavras recortadas em letras.
Nessa fase, é importante insistir no uso correto das consoantes, para evitar problemas futuros de troca de
letras.
NAS REPRODUÇÕES DE HISTÓRIAS
Em geral, alunos com muitas dificuldades escrevem muito pouco. É interessante retomar a história oralmente,
reconstituindo as partes principais do texto antes de fazerem a escrita. Durante o trabalho de reprodução de
texto, é importante que o(a) professor(a) percorra a sala incentivando com perguntas sobre a história aqueles
alunos que escrevem pouco.
OS TEXTOS APRESENTAM PROBLEMAS DE ORGANIZAÇÃO
Os alunos freqüentemente escrevem conforme vão se lembrando de um fato ou outro da história, sem se
preocupar com a seqüência correta. Nesse processo, omitem palavras e informações importantes para que se
entenda a história.
Para melhorar esse aspecto, é necessário fazer a reescrita coletiva do texto, desde que alguns procedimentos
sejam respeitados:
• escolher um texto que apresente problemas de estrutura, organização, clareza;
• pedir autorização do autor para que a classe toda o ajude a reescrevê‐lo. Colocar o autor em lugar
de destaque – ele deverá dizer se concorda ou não com as sugestões dos colegas;
• transcrever o texto em um cartaz com os problemas de ortografia corrigidos;
• fazer perguntas à classe: em que trechos colocar pontuação? Que pontuação colocar? Este trecho
está claro? O que está faltando? O que falta neste trecho para que as pessoas entendam a história?
Há muitas palavras repetidas? Podemos trocá‐las por outras? Podemos melhorar o começo ou o fim
da história? Esse argumento é convincente?
PARA GARANTIR AS MARCAS DO GÊNERO
Quando se tratar de reescrita de texto produzido pelo aluno (e não da reprodução da história de um outro
autor), é necessário também fazer perguntas que levem os alunos a aperfeiçoar os aspectos referentes ao
gênero: O texto é uma fábula? Por quê?; O texto prende a atenção do leitor? A escrita da notícia deu conta de
informar sobre o fato acontecido? A propaganda convence o leitor? A regra do jogo está clara? Etc.
Mas, antes de tudo, é importante ressaltar que os alunos só produzirão textos de um determinado gênero se
estiverem familiarizados com ele e se perceberem que a produção tem uma razão de ser (escrever para um
jornal comentando um fato veiculado por ele; relatar uma experiência vivida para que leitores que não
participaram dela a conheçam; escrever as regras de um jogo para que outros possam jogá‐lo; criar uma
narrativa para deleitar ou emocionar outras pessoas, escrever um poema para ser publicado numa antologia
da classe etc.).
Antes de iniciar a produção, é preciso conhecer bem o gênero escolhido. O(a) professor(a) deve trazer para a
sala de aula muitos exemplares daquele gênero e explorá‐los com os alunos: em que situação ele foi
produzido; onde foi veiculado; qual a intenção do autor; de que recursos o autor se utilizou para obter esse
efeito, enfim, fazer com que os alunos percebam as marcas do gênero.
É interessante que, no horário de trabalho coletivo, os professores façam exercícios de análise de textos e
algumas reescritas coletivas entre si para que todos se familiarizem com o processo.