Literatura juvenil dos dois lados do Atlântico
By Ana Margarida Ramos and Diana Navas
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Literatura juvenil dos dois lados do Atlântico - Ana Margarida Ramos
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Reitora: Maria Amalia Pie Abib Andery
EDITORA DA PUC-SP
Direção: José Luiz Goldfarb
Conselho Editorial
Maria Amalia Pie Abib Andery (Presidente)
Ana Mercês Bahia Bock
Claudia Maria Costin
José Luiz Goldfarb
José Rodolpho Perazzolo
Marcelo Perine
Maria Carmelita Yazbek
Maria Lucia Santaella Braga
Matthias Grenzer
Oswaldo Henrique Duek Marques
© Ana Margarida Ramos, Diana Navas. Foi feito o depósito legal.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri / PUC-SP
Ramos,Ana Margarida
Literatura juvenil dos dois lados do Atlântico [recurso eletrônico] / Ana Margarida Ramos, Diana Navas. - São Paulo : EDUC : 2019.
Recurso on-line: e-book
Bibliografia.
ISBN 978-85-283-0638-5
Disponível no formato impresso: Literatura juvenil dos dois lados do Atlântico / Ana Margarida Ramos, Diana Navas. - Porto : Tropelias & Companhia : 2016. ISBN 978-989-8582-48-5.
Disponível para ler em: todas as mídias eletrônicas.
Acesso restrito: http://pucsp.br/educ
1. Literatura infantojuvenil brasileira - História e crítica. 2. Literatura infantojuvenil portuguesa - História e crítica. 3. Literatura comparada - Brasileira e portuguesa. 4. Nunes, Lygia Bojunga, 1932- . 4. Vieira, Alice, 1943- . I. Navas, Diana. II. Título
CDD 869.099282
869.909282
869.09
Bibliotecária: Carmen Prates Valls - CRB 8a./556
EDUC – Editora da PUC-SP
Direção
José Luiz Goldfarb
Produção Editorial
Sonia Montone
Capa
Equipe Educ
Imagem: Designed by Freepik
Administração e Vendas
Ronaldo Decicino
Produção do ebook
Waldir Alves
Revisão técnica do ebook
Gabriel Moraes
Rua Monte Alegre, 984 – sala S16
CEP 05014-901 – São Paulo – SP
Tel./Fax: (11) 3670-8085 e 3670-8558
E-mail: educ@pucsp.br – Site: www.pucsp.br/educ
FronstispícioA uma amizade que também atravessa o Atlântico.
Sumário
1. Introdução
2. Panorâmica das literaturas juvenis portuguesa e brasileira: um olhar sobre a contemporaneidade
3. Figuras incontornáveis da ficção juvenil portuguesa e brasileira: Alice Vieira e Lygia Bojunga
4. Vozes íntimas e olhares pessoais: sobre a focalização interna na literatura juvenil portuguesa e brasileira
5. Textos que se (des)constroem: metaficção e intertextualidade na ficção juvenil contemporânea
6. Narrativas juvenis: o fenômeno crossover nas literaturas portuguesa e brasileira
7. Percursos da narrativa híbrida em língua portuguesa: um estudo comparado
Autoras
1. Introdução
Arquitetado e redigido quase todo à distância, este livro resulta de um diálogo de praticamente dois anos entre duas investigadoras e professoras divididas pelo Oceano Atlântico, mas unidas pelo interesse pela literatura juvenil em língua portuguesa, publicada nos últimos anos em Portugal e Brasil.
No seguimento da investigação desenvolvida no âmbito de um estágio pós-doutoral realizado por Diana Navas na Universidade de Aveiro, em 2015, foram muitas as conversas e as descobertas de afinidades entre literaturas que ainda vivem de costas voltadas, sendo ainda hoje praticamente desconhecidas da maior parte dos leitores.
Os desenvolvimentos recentes da literatura juvenil, com o crescimento do interesse por parte dos editores e dos investigadores, a publicação de mais livros, a tradução de várias obras de circulação internacional, a eliminação de fronteiras estanques entre destinatários de diferentes faixas etárias, a introdução de temáticas desafiadoras e estimulantes, os fenômenos dos bestsellers, entre outros, tiveram impacto quer em Portugal quer no Brasil, onde a aposta neste segmento, ainda que menor relativamente à literatura infantil, tem crescido ligeiramente. A consolidação de autores de referência, o aparecimento de novas vozes, as influências da literatura canonizada, em particular da narrativa pós-moderna, a elevada qualidade literária de algumas propostas, a relação interartística, com a ilustração, o cinema, a banda-desenhada e a novela gráfica ou mesmo o cinema são algumas das tendências que têm marcado a produção global neste segmento.
Deste modo, pretende-se, com esta publicação, não só dar conta das tendências recentes da literatura juvenil em ambos os países, mas sobretudo proceder a uma leitura comparada das duas produções literárias, chamando a atenção para as afinidades que as caracterizam a partir da análise de obras de alguns dos autores mais significativos dos dois países.
O volume, organizado em vários capítulos, identifica autores, obras, temas e procedimentos técnico-narrativos relevantes, refletindo sobre os elementos identificadores de um subsistema literário cuja existência – entre a literatura infantil e a adulta – coloca vários problemas. Nesta medida, a evolução – e até a legitimação – da literatura juvenil decorre da instabilidade do próprio conceito de adolescência e juventude, alvo de mutações em resultado das alterações da sociedade. A proximidade com práticas literárias marginalizadas, como as fórmulas usadas em séries e coleções de diverso âmbito, tem sido outro aspecto a condicionar a legitimação da literatura juvenil, não obstante a publicação de obras de assinalável originalidade e qualidade literária.
À exceção da panorâmica inicial e de um estudo sobre Alice Vieira e Lygia Bojunga, completamente inéditos até este momento, os outros quatro textos aqui reunidos foram alvo de edição prévia em revistas científicas da especialidade no Brasil e em Espanha, encontrando-se devidamente identificados os locais e as formas dessas publicações prévias. Estes textos foram alvo de correções e ajustes vários, quer em termos de registro/norma linguística, quer em termos de atualização/correção pontual dos dados apresentados, tendo em conta o contexto de publicação. Considerando que se trata de um livro percorrido por uma linha de análise comum, foram adicionados elementos de ligação entre os textos, reforçando a coesão interna da publicação, assim como foram eliminadas reflexões ou comentários mais repetitivos.
No âmbito dos estudos de fôlego sobre a literatura juvenil portuguesa, merecem destaque os trabalhos fundadores de Blockeel (2001) e Vila-Maior (2003), a que se vieram juntar, nos últimos anos, outras teses de relevo (Mergulhão, 2008; Tomé, 2013), além dos trabalhos dispersos, a aguardarem uma publicação monográfica, de Madalena Teixeira da Silva (2007a, 2007b, 2010, 2012), uma relevante investigadora na área da literatura juvenil em Portugal. Merece, igualmente, destaque, a publicação do volume A narrativa xuvenil a debate (2000- 2011) (Edicións Xerais de Galicia, 2012), dirigido por Roig Rechou et al., obra que reúne vários estudos sobre a literatura juvenil contemporânea em distintas línguas e países, incluindo Portugal e o Brasil, e onde surgem reflexões relevantes sobre este subsistema literário, incluindo comentários de obras de referência.
No território brasileiro, por seu turno, destacam-se os estudos que vêm sendo continuamente desenvolvidos por João Luís Ceccantini (2007, 2010, 2012, 2013, 2015), Vera Teixeira de Aguiar (2010, 2012, 2014) e Alice Áurea Penteado Martha (2010, 2011, 2012, 2014), autores que, junto a outros pesquisadores, têm produzido uma significativa abordagem da literatura juvenil brasileira.
O livro inicia-se com um texto panorâmico sobre as literaturas juvenis, portuguesa e brasileira, da primeira década e meia do século XXI, procurando dar conta das tendências contemporâneas de ambas as produções. Segue-se um capítulo sobre duas autoras de referência das literaturas dos dois países, Alice Vieira e Lygia Bojunga, dando conta de como as respectivas obras marcaram um momento de viragem na produção literária de ambos os países. No terceiro capítulo, trata-se a questão da focalização e da perspectiva narrativa na ficção juvenil, com especial relevo para os narradores adolescentes em primeira pessoa e para a forma como esse ponto de vista a partir do qual as histórias são contadas interfere no tratamento dos temas e na ligação com os leitores. O corpus de textos selecionados dá conta de que se trata de uma opção com um impacto significativo, sobretudo nos textos de ambiência realista e intimista. A questão da metaficcionalidade e da intertextualidade e a sua presença cada vez mais visível na ficção contemporânea dos dois lados do Atlântico é explorada no capítulo seguinte, tendo como ponto de partida dois romances, Os livros que devoraram o meu pai (2010), de Afonso Cruz, e A audácia dessa mulher (2011), de Ana Maria Machado. Segue-se um capítulo sobre o fenômeno crossover e a sua manifestação em obras contemporâneas, como Irmão Lobo (2013), de Carla Maia de Almeida e Aos 7 e aos 40 (2013), de João Anzanello Carrascoza. O último capítulo debruça-se sobre o gênero hybrid novel, explorando duas obras onde texto e imagem, com o contributo do design gráfico e da própria materialidade do livro, colaboram na construção de uma narrativa. As obras selecionadas para ilustrar esta tendência muito atual da produção literária destinada a jovens são Luna Clara e Apolo Onze (2002), de Adriana Falcão, e O Rapaz dos Sapatos Prateados (2013), de Álvaro Magalhães. Segue-se, para apoio da leitura, um índice de ilustrações, um índice onomástico e a identificação breve das autoras deste livro.
Necessariamente incompleto e circunscrito, atendendo até às limitações do volume, esta obra não tem pretensões de exaustividade, analisando um conjunto restrito de autores cuja produção, por diferentes razões, merece um olhar mais atento e demorado. Pretende-se, igualmente, que estas análises possam fomentar as trocas entre ambos os países, mas também um aprofundamento dos estudos comparados, estendendo e ampliando as análises e as propostas de cariz exemplificativo agora avançadas. Vozes consolidadas coabitam com outras mais recentes na tentativa de mapear o estado atual de um universo caleidoscópio cuja leitura merece ser aprofundada.
Referências Bibliográficas
AGUIAR, Vera Teixeira de; CECCANTINI, João Luís Cardoso Tápias; MARTHA, Alice Áurea Penteado (Orgs.) (2010). Heróis contra a parede: estudos de literatura infantil e juvenil. São Paulo; Assis: Cultura Acadêmica; ANEP.
AGUIAR, Vera Teixeira; CECCANTINI, João Luís Cardoso Tápias; MARTHA, Alice Áurea Penteado (Orgs.) (2012). Narrativas juvenis: Geração 2000. São Paulo; Assis: Cultura Acadêmica; ANEP.
AGUIAR, Vera Teixeira de; MARTHA, Alice Áurea Penteado (Orgs.) (2014). Literatura Infantil e Juvenil: Leituras Plurais. São Paulo: Cultura Acadêmica.
BLOCKEEL, Francesca (2001). Literatura Juvenil Portuguesa Contemporânea: Identidade e Alteridade. Lisboa: Caminho.
CECCANTINI, João Luís Cardoso Tápias; PEREIRA, Rony Farto (Orgs.) (2007). Narrativas juvenis: outros modos de ler. São Paulo; Assis: Unesp; ANEP.
CECCANTINI, João Luís Cardoso Tápias; VALENTE, Thiago Alves (Orgs.) (2013). Narrativas juvenis: literatura sem fronteiras. São Paulo; Assis: Cultura Acadêmica; ANEP.
CECCANTINI, João Luís Cardoso Tápias; VALENTE, Thiago Alves (Orgs.) (2015). Narrativas juvenis & mediações de leitura. São Paulo; Assis: Cultura Acadêmica; ANEP.
MARTHA, Alice Áurea Penteado (2011). Tópicos de Literatura Infantil e Juvenil. Maringá: EDUEM Editora da Universidade Estadual de Maringá.
MERGULHÃO, Teresa de Lurdes Frutuoso Mendes (2008). Vozes e silêncio: a Poética do (Des)encontro na Literatura para Jovens em Portugal. Tese de Doutoramento em Estudos Literários Especialidade em Literatura Comparada. Lisboa: Universidade de Lisboa.
ROIG RECHOU, Blanca-Ana; SOTO LÓPEZ, Isabel; NEIRA RODRÍGUEZ, Marta (2012) (eds.). A narrativa xuvenil a debate (2000-2011). Vigo: Edicións Xerais de Galicia.
SILVA, Maria Madalena Marcos Carlos Teixeira da (2007a). Literatura em crescimento: o lugar problemático da literatura juvenil no sistema literário
. Casa da Leitura. Acessível em: http://magnetesrvk.no-ip.org/casa-daleitura/portalbeta/bo/abz_indices/001175_Lc.pdf
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TOMÉ, Maria da Conceição Dinis Alves Ferreira (2013). O Outro na Literatura Juvenil Portuguesa do Novo Milénio. Vozes, Silêncios e (Con)Figurações. Tese de Doutoramento em Estudos Portugueses – especialidade em Literatura e Cultura Portuguesas. Lisboa: Universidade Aberta.
VILA-MAIOR, Isabel (2003). Représentations et Stratégies Narratives dans la Litterature de Jeunesse au Portugal - De la Dictature à la Democratie. Tese de Doutoramento em Literatura. Rennes: Université Rennes 2.
2. Panorâmica das literaturas juvenis portuguesa e brasileira: um olhar sobre a contemporaneidade
¹
1. Introdução
O conceito de Literatura Juvenil é ainda bastante recente e resulta do tardio reconhecimento da adolescência como um período vital e com características específicas, reconhecimento que só ocorre nas sociedades pós-industriais. A relativa novidade
do conceito suscita algumas indagações que marcaram os debates em torno da literatura infantil: existe uma obra especificamente juvenil? O que a distingue dos textos destinados às crianças e aos adultos?
De difícil delimitação, visto não ser possível definir com exatidão a faixa etária a que se direcionam as obras juvenis – justamente em resultado do fato de a adolescência ser uma categoria histórica e, por isso, socialmente construída – autores como José António Gomes (2007) e Maria Madalena Teixeira da Silva (2010, 2012) referem-se à literatura juvenil como uma literatura de fronteira ou uma literatura de intervalo. Enquadram-se, aqui, as obras destinadas a um público intermédio, entre os 11 e os 16 anos, aproximadamente, e que, se por um lado, já não é exatamente criança – e daí o desinteresse que demonstra por obras que se destinam preferencialmente a este público, por outro, não apresenta ainda a maturidade para a leitura de obras destinadas aos adultos. Sendo o seu corpus indistintamente incluído nos estudos da literatura infantojuvenil, sem que sejam consideradas as suas especificidades comunicativa e enunciativa, a literatura juvenil é de extrema relevância na formação do jovem leitor que já passou pelo processo de alfabetização, mas que ainda tem de desenvolver as suas competências em termos do uso da língua e da capacidade interpretativa a partir de uma linguagem rica e simbólica, como a que propõem as obras de qualidade destinadas preferencialmente a este público.
Ainda que de complexa definição, mas nem por isso inexistente ou inútil em termos de discussão, a literatura juvenil revela traços distintivos, alguns eventualmente exclusivos, que a caracterizam, proposta esta que defendemos e que decidimos apresentar a partir do diálogo entre as produções brasileiras e portuguesas contemporâneas destinadas ao jovem leitor. Interessa-nos refletir sobre o panorama contemporâneo da produção literária juvenil, procurando responder a questões como: quais os temas e assuntos abordados nos livros juvenis atuais? Quais as estratégias e técnicas narrativas hoje empregadas na construção das ficções destinadas aos jovens leitores? Que obras recentes estão à disposição deste público e que respostas oferecem às suas indagações mais prementes? Quais os principais autores contemporâneos de literatura juvenil no contexto português e brasileiro e o que caracteriza as suas publicações em termos temáticos e estruturais?
No afã de refletirmos acerca desses questionamentos e considerando a extensão deste livro, foi necessário estabelecer limites cronológicos para esta panorâmica enquadradora. Partindo do fato de