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JORNALISMO E COLABORAÇÃO
Jornalistas, fontes e leitores na construção das informações
Recife
2008
1
JORNALISMO E COLABORAÇÃO
Jornalistas, fontes e leitores na construção das informações
Recife
2008
2
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
Agradecimentos 02
Resumo 03
Introdução 05
1. A Construção no Jornalismo 09
1.1 O newsmaking 09
1.2 A Agenda-setting 12
1.3 A Teoria Interacionista 13
1.4 Críticas aos processos 15
2. A Construção Coletiva 18
2.1 Internet e Comunicação Colaborativa 18
2.2 Jornalismo Colaborativo 21
2.3 Críticas 23
2.4 Novas Relações 24
2.5 Incorporações de ferramentas e modelo 26
3. O Cidadão Repórter 29
3.1 Estrutura 29
3.2 Participação 32
3.3 Conteúdo 34
3.4 Meio Tradicional 38
Considerações Finais 40
Referências 42
5
Introdução
Desde o ano de 2002 até este ano, 133 milhões de blogs foram criados (de acordo
com pesquisa realizada e divulgada pelo Technorati1). Até o momento três destes são
administrados por mim. O primeiro foi criado em 2004 – que é também o ano em que o site
norte-americano iniciou seus estudos sobre a blogosfera. Neste ano, o domínio que
administro fazia parte de um conjunto ainda pequeno de 4 milhões registrados no mundo.
Esse primeiro blog foi criado com o intuito de publicar algum conteúdo produzido
por mim, não conteúdo informativo, mas textos opinativos e literários. Essa costumava ser
a cara dos blogs – que já foram conhecidos como diários virtuais, em que as pessoas
publicavam acontecimentos comentários pessoais sobre sua vida e os acontecimentos de
seu dia. Ainda fazendo uso dos dados publicados no relatório anual do Technorati, pode-se
dizer que a vontade (e possibilidade) de se expressar continua sendo uma motivação para
criar e manter um blog – tendo sido a justificativa dada por 79% dos entrevistados pela
pesquisa. A escolha foi seguida pela vontade de dividir algum conhecimento ou experiência
(73%) e conhecer pessoas com interesses semelhantes (62%).
Esses dados, mesmo fazendo parte de uma pesquisa específica sobre o uso de blogs
pode servir de base para compreender um fenômeno ainda maior, o da internet. A rede de
computadores permite um acesso fácil à comunicação, liga pessoas de pontos distintos do
globo com rapidez, diminuindo distâncias. Assim, ao mesmo tempo que se pode receber
conteúdo de locais distantes, com rapidez, a rede (principalmente depois do surgimento das
redes de compartilhamento de ponto-a-ponto, ou p2p) também permite o envio de
conteúdos próprios; passando a ser utilizada para divulgação da produção de grupos
musicais, artistas, fotógrafos, escritores.
Assim, possibilitando as trocas entre seus diversos usuários, a rede deu início a uma
quebra de um esquema de comunicação em que apenas os poucos que tinham acesso aos
meios (econômicos, de comunicação, aos patrocinadores, etc) podiam ser reconhecidos por
sua produção; quebrando com um esquema vertical, ou broadcast, de difusão de
conhecimentos – em que poucos falam para muitos – popularizando o direito de expressão,
uma vez que qualquer conteúdo na rede pode estar acessível a qualquer um de seus
1
http://www.technorati.com/blogging/state-of-the-blogosphere/
6
2
Para ler a matéria: http://www.pernambuco.com/diario/2007/04/10/urbana8_0.asp
3
http://www.pernambuco.com/cidadao
7
eventos ocorridos sem a presença de equipes de reportagem no local). Mas fui descobrindo
a existência de um movimento, se assim pode ser chamado, que vê uma mudança de
posição do leitor, que em lugar de apenas consumir as notícias, tem se tido um papel cada
vez mais importante na seleção, e produção da informação que lê.
Tanto que já há na Internet, e fora dela, no Brasil e no exterior, diversas
experiências desse formato de produção e publicação de informações que tem-se
convencionado chamar jornalismo colaborativo – mas que também é chamado de
participativo, cidadão ou open-source (em referência aos software de código-fonte aberto,
que em inglês são chamados open-source. Entre esse projetos, há o OhMyNews, site
coreano, com versão internacional em inglês que publica matérias de colaboradores
cadastrados em todo o mundo; SlashDot, site norte-americano especializado em conteúdo
sobre tecnologia; mesmo a revista Sou+Eu, da Editora Abril, sujo conteúdo é enviado por
seus leitores.
Esse quadro também pode ser visto no levantamento desse ano do Technorati, cujo
relatório mostra que 42% dos blogueiros enquadram seu blog na categoria “news” – que
pode ser traduzido como notícias ou informações. “News” é ainda o tag (adesivo ou
classificador) mais utilizado pelos blogueiros para classificar seus posts, chagando a ser
utilizado 191.403 vezes no mês de junho de 2008.
Dentro de um contexto histórico em que são contemporâneos, ao menos no Brasil o
movimento que pretende tornar obrigatória a posse do diploma de nível superior para a
realização do trabalho jornalístico e a busca por uma maior participação e representação
dos leitores na construção das notícias, torna-se importante uma discussão sobre essa forma
de difusão de informações. Uma discussão que problematize, a partir da forma como as
notícias são produzidas hoje, como pode ser encarado esse fenômeno, que mesmo se
assemelhando a uma “vontade de ser jornalista”, está também ligada à necessidade de
questionar a representação dada pela mídia a determinados temas, e à vontade de participar
ativamente da escolha dos temas que devem ser discutidos amplamente, em uma sociedade
mais e mais multi-facetada, de interesses e diversos em que minorias têm buscado o
reconhecimento e exercício de direitos.
Com esse intuito, o presente ensaio se inicia com uma tentativa de apresentar,
baseado nas teorias do jornalismo (principalmente nas teorias construcionistas, em especial
8
1. A Construção no Jornalismo
1.1 O newsmaking
em qualquer lugar, enquanto os jornalistas têm que trabalhar sob a pressão da hora do
fechamento.
Traquina apresenta alguns dos mecanismos utilizados pelos meios de comunicação
para “face à imprevisibilidade, [...] impor ordem no espaço e no tempo” (2004, p.181).
Entre elas está a distribuição dos jornalistas em espaços onde é mais provável que a
ocorrência de acontecimentos noticiáveis – normalmente as capitais dos estados e cidades
de relevância econômica ou política. Mesmo falando da realidade de Portugal, o exemplo
de Traquina serve à realidade brasileira, ao dizer que o resto do país, é notícia quando há
algum tipo de desordem ou transtorno, como cheias, acidentes, greves ou crimes; ou
“quando serve de palco para os deslocamentos das autoridades institucionais” (2004,
p.182).
O fator tempo (o dead-line) parece ser o que mais determina a atividade jornalística,
uma vez que, os jornais têm um compromisso de fornecer (quase que) diariamente uma
certa quantidade de informações, de modo a preencher seu espaço na programação (da TV
ou do rádio) ou as páginas (do jornal ou das revistas). Atualmente, a falta de material
noticiável não tem sido problema, principalmente devido ao excesso de informações
enviadas pelas agências de notícias e assessorias de imprensa. No entanto, em meio ao mar
de releases, sugestões de pauta e acontecimentos um problema se estabelece: como
selecionar, apurar e produzir as matérias que serão apresentadas ao leitor; e também, como
fazê-lo antes do fechamento do jornal?
Uma das tentativas de impor ordem ao tempo, de trabalhar com ele é a criação de
uma agenda, na qual alguns temas ou acontecimentos são previamente selecionados para
ser notícia. Normalmente são acontecimentos que fazem parte do calendário político ou
social (eleições, carnaval), eventos programados (assinaturas de convênios, julgamentos,
depoimentos). Dessa forma, os jornalistas podem realizar um levantamento de informações
antes de o fato se desenrolar, poupando tempo para acompanhar seu desenrolar.
Além desses dois constrangimentos presentes no dia-a-dia de todas as redações, há
ainda outras rotinas, identificadas pelas pesquisas do newsmaking que têm papel
determinante na definição das notícias. Entre elas está a seleção das notícias. Além da já
citada agenda, é preciso que os jornalistas possam selecionar entre os do cotidiano, aqueles
11
não previstos e que devem ou não entrar no jornal; em alguns casos substituindo um tema
“agendado”.
Mesmo que o chamado “faro” para a notícia ganhe, ainda, bastante fama, e
contrariando o que dizia a teoria do gatekeeping, as observações gnósticas os critérios
utilizados para selecionar os acontecimentos que serão noticiados não são individuais, nem
mesmo subjetivos, mas fazem de um conjunto de valores comungados pelos membros do
grupo: os valores-notícia. Esses valores, ou critérios de noticiabilidade, são utilizados pelos
jornalistas na seleção de suas pautas.
Os valores-notícia, de acordo com Wolf (2001, p.200) são divididos por seus
critérios substantivos, utilizados para: avaliar a relevância e o interesse do acontecimento –
em que influenciam a sua atualidade assim como a hierarquia dos envolvidos e a
possibilidade de impacto sobre a sociedade; critérios produtivos, relacionados à forma
como esse acontecimento tomará forma no veículo; critérios relativos ao público, baseados
na compreensão que o meio têm de seu público e de suas expectativas; e relativos à
concorrência, em que a relação de um meio com os demais existentes no mercado.
Além da seleção de acontecimentos e fatos outro fator analisado pelo newsmaking é
a escolha das fontes, uma vez que serão essas as pessoas cujas falas e opiniões serão
tornadas públicas pela imprensa. Wolf (2001) apresenta 5 fatores considera que considera
responsáveis pela escolha de uma fonte em detrimento de outras. “Esses fatores são: a. a
oportunidade antecipadamente revelada; b. a produtividade; c. a credibilidade; d. a garantia;
e. a respeitabilidade” (2001, p.225). É interessante destacar entre esses fatores as sutis
diferenças entre credibilidade e garantia.
O primeiro deles – a credibilidade – está normalmente ligado a experiências
anteriores do jornalista com a fonte, ou seja: se informações anteriores foram confirmadas,
suas próximas contribuições podem ser consideradas críveis por si sós. Assim, fontes que
ganharam credibilidade em outras “negociações” acabam obtendo o valor da garantia;
servirão mesmo que sua história não possa ser confirmada por outras fontes. Já
respeitabilidade está ligada à autoridade (comumente institucional) que a fonte detém sobre
o tema, justificando a relevância de seu discurso.
A última etapa é o fim do processo produtivo, e talvez aquele em que as possíveis
interferências sejam menos óbvias: a redação e edição da notícia. Aqui, mais uma vez, é
12
clara a presença da influência do grupo sobre o trabalho individual, já que grande parte das
matérias produzidas busca seguir um modelo: a pirâmide invertida, na qual se concentram
no primeiro parágrafo do texto (o lide), as principais informações – respostas às perguntas
Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Por quê? –, que serão desdobradas e acrescidas de
detalhes no restante do texto.
1.2 A agenda-setting
Noelle Neuman (1973 apud WOLF, 2001) apresenta 3 características dos meios que
estão ligados a essa relação entre conteúdo veiculado e interesse da sociedade. O primeiro é
a acumulação, que diz respeito à presença contínua de informações sobre um determinado
tema nos jornais e noticiários, dando a ele certa relevância. A segunda característica, a
consonância – bastante relacionada às rotinas descritas pelo newsmaking – aponta que
devido a semelhança nos processos de produção dos diversos meios seus produtos finais
costumam ser também parecidos, ou seja, mesmo empresas concorrentes acabam por
apresentar conteúdos bastante similares a seu público. Já a onipresença está associada à
superexposição das pessoas à mídia e aos conhecimentos e opiniões veiculadas nela.
McCombs e Shaw (1993) apontam também para a ampliação dessa teoria a partir
dos questionamentos sobre quem são os responsáveis por definir a agenda da mídia. Ou
seja, se é aceito que as notícias “nos dizem o que é que devemos pensar [...] e também
como devemos pensar sobre o que pensamos” (2000, p.131), torna-se necessário quem
define o quê pensam e como os jornalistas. Para isso, é necessária a compreensão das
relações que os jornalistas desenvolvem com os demais agentes da sociedade eles percebem
os acontecimentos que serão noticiados.
Como foi visto anteriormente, a seleção das notícias – segundo o newsmaking, está
ligada aos critérios de noticiabilidade dos acontecimentos que estão sendo promovidos. No
entanto, de acordo com a teoria interacionista, as notícias então seriam, também, produto da
interação entre esses atores, na qual os diversos promotores de notícias buscam chamar a
atenção dos jornalistas, de modo a dar visibilidade pública aos seus temas e ocorrências. Os
autores levantam então o acesso desses tais promotores ao campo jornalístico como fator de
influência para que suas sugestões sejam, de fato, transformadas em notícia. São destacados
três tipos de acesso: o acesso habitual, o disruptivo e o direto.
As fontes com acesso habitual costumam ser aquelas já tidas pelos jornalistas como
produtivas, credíveis e garantidas – como figuras políticas, cujas ações por si só já são
consideradas relevantes. Já o acesso disruptivo é utilizado pelos que, na realidade, não têm
acesso ao campo e para obtê-lo “têm de „fazer notícias‟, entrando em conflito, de qualquer
modo, como o sistema de produção jornalística, gerando a surpresa, o choque ou qualquer
forma latente de „agitação‟” (MOLOTCH e LESTER 1974/1993 apud TRAQUINA, 2004,
p.188). A terceira forma de acesso é restrita aos jornalistas, quando exercem sua atividade
de propor e selecionar pautas.
Assim, mesmo sublinhando “que o acesso habitual é uma das „importantes fontes e
sustentáculos das relações existentes de poder‟” (TRAQUINA, 2004, p.188), enquanto aos
demais agentes teriam a necessidade de recorrer ao conflito e à desordem para obter
visibilidade, os autores ainda apontam para uma certa “liberdade” dos jornalistas, a quem
cabe, de fato, o papel de decidir – e têm maior influência nessa decisão que qualquer outra
fonte – quais acontecimentos serão noticiados.
No entanto, há que se comentar o risco da utilização excessiva das fontes
corriqueiras. Se, como Wolf (2001, p.227-228) aponta, os constragimentos mesmos da
produção das notícias – como a pressão do tempo – podem levar os jornalistas a utilizar –
seja pela credibilidade e confiança atribuídas, ou pela rotinização do trabalho – apenas as
informações de suas fontes em na construção de suas narrativas.
Em estudo realizado com os dois principais jornais diários de Pernambuco, Santana
(2005) mostra como as “sugestões de pauta” enviadas por relações públicas ou assessorias
de imprensa acabam sendo utilizadas pelos jornalistas como recurso para driblar a falta de
tempo para apurar e buscar novas fontes. Com essa prática, no entanto, os jornais passam a
15
veicular versões de apenas um dos participantes envolvidos nos fatos, e de certa forma,
trabalhando a serviço da fonte, cujo acontecimento ganha publicidade.
A essas fontes, cujas informações são utilizadas por jornalistas sem confrontamento
de idéias – às vezes da mesma forma como foram “sugeridas” nos press-releases –,
podemos atribuir a classificação que de definidores primários, que acabam por estabelecer,
nas vezes do jornalista, “a definição ou interpretação primária do tópico em questão. Então
essa interpretação „comanda a ação‟ em todo o tratamento subseqüente” (HALL et. al. apud
TRAQUINA, 2004, p.178).
Diante deste cenário em que há pouco confrontamento de idéias, novos estudos têm,
aos poucos, se debruçado sobre as rotinas de produção de modo a propor modificações que
permitam um exercício mais consciente da mídia. No Brasil, tem tido destaque os trabalho
de Moretzsohn (2007) em que a autora questiona a naturalização da rotina de produção da
notícia, que tem sido transformada em uma linha de produção, em que os jornalistas devem
trabalhar sob a imposição do tempo – ou contra ele – de modo a fornecer notícias em
“tempo real”. A pressão do tempo tem impulsionado redações a incorporar métodos mais
rápidos para obter informações e veiculá-las, como a utilização de despachos de agências
noticiosas e de press-releases.
É na intenção de modificar essa atitude que Moretzsohn põe em questão a
necessidade de se “pensar contra os fatos”: uma atitude de desnaturalizar a atividade
corriqueira do jornalismo, forçando o profissional a um processo de suspensão em que
interpretará o acontecimento não apenas no que tem de particular, mas ligando-o a questões
diversas, contextualizando-o. O trabalho de Moretzsohn tem como principal força a buscar
a re-valorização da mediação, e busca ressaltar a importância do jornalista como indivíduo
preparado para realizar a construção das notícias.
Essa proposta se assemelha ao que Pena (2007) chamou jornalismo de resistência.
Em ambas é possível perceber a necessidade de maior cuidado com a produção da notícia,
de uma busca aos preceitos ligados à função social do jornalismo. Ambos tentam encorajar
16
suas verdadeiras preocupações; ênfase na discussão séria como atividade básica na política
democrática; foco nos cidadãos enquanto atores do drama público e não meros
espectadores” (2004, p.48).
Com muitas preocupações semelhantes a essas um outro movimento – que será
aprofundado no próximo capítulo –, o do Jornalismo Cidadão, ou Colaborativo, se
desenvolve paralelamente ao de Rosen. O que os distingue, de maneira bastante gritante, é
que neste, são os cidadãos que se dispõem a mudar as rotinas de produção da notícia e
estabelecer novas relações com os meios de comunicação e os jornalistas, utilizando-se,
principalmente, da Internet e das tecnologias digitais para isso.
18
A Construção Coletiva
A Internet foi desenvolvida, como bastante sabido, pelo governo dos Estados
Unidos para ser um sistema de comunicação indestrutível. Desde a ARPANET, sua
primeira plataforma de funcionamento que ligava postos de defesa do governo norte-
americano, o sistema funcionaria como uma rede descentralizada, em que todos os pontos
se conectariam entre si e a informação não estaria em um desses pontos, mas compartilhada
por todos eles.
O modelo que buscava segurança contra ataques inimigos se potencializou com a
expansão e popularização da rede primeiro aos centros de pesquisa acadêmica e depois na
sociedade como um todo. Os computadores pessoais transformaram cada usuário da rede
em um desses pontos, ligados uns com os outros de maneira horizontal, compartilhando a
mesma ligação. Não só a estrutura física (sejam cabos, computadores, torres de transmissão
– haverá sempre alguma estrutura física mínima), a linguagem dessa rede, o hipertexto,
também é formada por uma rede de nós, em que cada página pode se conectar a outras
(através dos chamados hiperlinks) sem que haja qualquer relação de hierarquia entre elas.
19
4
Colocar referência catedral e bazar
20
rede. Os softwares que realizam essas operações ficam hospedados em um site, que
oferecem um serviço, na maioria das vezes gratuito, e com uma interface bastante simples,
de forma que os internautas podem utilizá-los sem necessariamente compreender da
linguagem de programação e publicação ou mesmo dispor do programa que a realiza. Além
da publicação de conteúdos, essas ferramentas possibilitavam também um maior nível de
interação entre os usuários da rede ampliando os horizontes da participação dos usuários.
Essa maior interação dos usuários com a ferramenta e principalmente dos
internautas entre si é o que se tem chamado de comunicação colaborativa (CATTAFI,
ZAMBRANO, 2008).
Essa forma de comunicação, em que os atores interagem mediados por
computadores é também analisada por Primo e Recuero (2003), que no entanto a
denominam como uma forma de escrita coletiva. Essa nova escrita seria realizada através
de uma modalidade do hipertexto (que se aproxima da idéia da web 2.0) chamada
cooperativo. Nessa forma de interação “todos os envolvidos compartilham a invenção do
texto comum, à medida que exercem e recebem impacto do grupo, do relacionamento que
constroem e do próprio produto criativo em andamento” (PRIMO, RECUERO, 2003, 2).
As outras duas formas de escrita seriam, ainda segundo Primo, a hipertexto
potencial, em que interação seria apenas responsiva, cabendo ao usuário apenas escolher
alguns dos caminhos previstos na versão original do hipertexto; e o hipertexto colagem, em
que uma escrita coletiva seria realizada por uma reunião de partes enviadas por diversos
agentes, sem que exista de fato uma colaboração entre estes.
Essa idéia de escrita coletiva é interessante para ressaltar que, ainda que a web 2.0
tenha facilitado a difusão dos conteúdos gerados pelos indivíduos, ou a auto-publicação
(como bem faz referência uma das mais conhecidas de suas ferramentas o YouTube –
broadcast yourself ) também permite uma maior participação das pessoas, dando a todos os
agentes papel de relevância na construção do sentido do produto final.
Aqui é importante fazer uma ressalva: é importante não se deixar levar
simplesmente pela tecnologia em si, acreditando que está nela a chave para quaisquer
mudanças que essa nova forma de comunicação pode permitir. Como aponta Lévy (2000),
a tecnologia não pode por si só provocar mudanças, sejam elas de ordem política,
econômica, social ou cultural. Essas serão sim, e muito mais, influenciadas pela forma
21
como essas novas ferramentas são utilizadas. Ou seja, é da apropriação da tecnologia que os
frutos podem surgir.
Dentre as utilizações dessas ferramentas uma tem chamado bastante atenção, na
própria rede e na academia – e será ela o foco deste trabalho a partir de agora –: o
jornalismo colaborativo.
5
A expressão é utilizada em Bowman e Willis. Gillmor utiliza a expressão grassroots.
23
comungados pelo grupo, essa nova forma de jornalismo propõe mais ênfase na publicação
das informações, considerando que os filtros de seleção seriam realizados diretamente pelos
leitores (também eles prossumidores). Além da regra – publicar primeiro, filtrar depois – o
novo jornalismo feito em rede, é também definido pela participação de outros agentes; as
informações não são tidas como produtos fechados, estão comumente abertos a
contribuições de outros internautas, assim, seja através de comentários na mesma página ou
respostas em outras páginas.
Mesmo que essas teorizações e tentativas de descrever o funcionamento dessa nova
forma de comunicação favoreçam um caráter descentralizado e uma auto-orgazniação
completamente aberta e livre dos agentes envolvidos no processo, sejam eles emissores ou
leitores da informação, são as experiências com algum nível de organização
institucionalizada têm ganhado mais destaque.
Entre esses, pode-se destacar o site coreano em que formado apenas por matérias
produzidas por “cidadãos repórteres”. No entanto, a página conta com uma equipe de
revisores, que analisam os textos antes de publicá-los.
2.3 Críticas
6
Apenas a principal emissora de TV brasileira, a TV Globo, atinge, de acordo com seus próprios dados de
cobertura cerca de 98,5% da população.
26
7
Como no painel “A (Re)construção do Jornal para a Era Digital”
8
Rosenthal Calmon Alves é diretor do Knight Center for Journalism in the Americas, da Universidade do
Texas.
9
Na edição n° 285 do Jornal ANJ, em outubro de 2008
27
10
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/tecnologia/?p=1789
28
Além dos comentários em notícias – publicadas ou não em blogs –, muitos veículos têm
aberto espaço para conteúdo gerado pelo leitor: os sites de jornalismo colaborativo. Um
exemplo de projetos de integração do jornalismo colaborativo é o Cidadão Repórter que
será trabalhado com maior profundidade no próximo capítulo.
29
3. O Cidadão Repórter
3.1 estrutura
Lançado no final de março de 2007, como parte do portal dos Diários Associados
no estado (o Pernambuco.com), o cidadão repórter11 é um fórum de discussões. Sua página
inicial é formada por um índice de acesso aos fóruns propriamente ditos, onde os
integrantes criam tópicos e discutem os temas.
11
http://pernambuco.com/cidadao
30
Dentro dos fóruns, os tópicos criados estão ordenados a partir da data do último
comentário publicado. Assim, apenas tópicos com comentários recentes aparecem no topo
da página, ganhando destaque; enquanto assuntos e temas com menos participação vão
perdendo visibilidade. Vê-se, com isso, uma organização a partir do valor dado pelos
participantes; ou seja, um tópico que não gere interesse aos poucos é substituído por outros
à medida que recebem mais comentários.
Figura 2 - Fórum
novamente a importância do grupo nessa construção; pois por mais que os membros
contribuam individualmente, é o grupo continuamente que “elege as manchetes” do fórum.
Participação
12
http://cidadao.dpnet.com.br/cidadao/profile.php?mode=register&sid=691d0caf91b82106cda4ee3d799daa84
13
http://cidadao.dpnet.com.br/cidadao/faq.php
14
idem.
34
Conteúdo
O próximo ponto de análise está ligado ao teor das mensagens enviadas, com o
intuito de delinear como as ferramentas do fórum têm sido utilizadas por esses usuários.
Aqui não serão utilizadas contagens ou percentuais do material avaliados, mas vão ser
destacadas as principais utilizações do espaço a partir de exemplos encontrados durante o
período de acompanhamento da dinâmica do espaço.
O primeiro destaque que se faz é em relação à divulgação e discussão de
informações. Se na apresentação do site foi apontado que ele permite a troca de
informações, assim como uma escrita coletiva das mesmas é importante frisar que de fato
essa construção acontece.
35
Figura 4
36
Figura 5
Como é visto nas figuras 4 e 5 15, a partir de alguma informação enviada, muitas
vezes os demais participantes do fórum colaboram com novos dados, seja para confirmar,
acrescentar ou mesmo corrigir o que foi apresentado. Nesse caso grande parte das
15
http://cidadao.dpnet.com.br/cidadao/viewtopic.php?t=2599&highlight=borborema+s%E3o+paulo
37
informações ou não têm fontes explícitas ou são fontes da própria rede, como os sites das
empresas envolvidas.
Por vezes as informações enviadas são extraídas de outros veículos de comunicação
e apenas coladas no fórum. Dessa forma, muitas vezes, se busca referenciar o conteúdo
enviado, dando a ele maior credibilidade.
No entanto outra grande forma de utilização do espaço tem sido através de
denúncias, relatos de experiências ou comentários opinativos. Esse, talvez o objetivo
primeiro do grupo ao desenvolver o site, como está presente no cabeçalho dos tópicos: “O
Cidadão repórter é um fórum onde você pode denunciar problemas que estejam
acontecendo em sua rua, bairro ou cidade. [...] Exerça sua cidadania.” 16
Isso se reflete no fato de grande parte desses comentários serem de opiniões
baseadas no senso comum, e recebam apenas comentários de apoio às denúncias,
ratificando-as, sem que de fato se busquem soluções para os problemas ou outras
informações que possibilitem entendê-lo. Mesmo assim, em alguns casos as denúncias
conseguem obter respostas dos agentes envolvidos.
Figura 617
16
http://cidadao.dpnet.com.br/cidadao/
17
http://cidadao.dpnet.com.br/cidadao/viewtopic.php?t=1429&postdays=0&postorder=asc&start=30
38
Figura 718
18
http://cidadao.dpnet.com.br/cidadao/viewtopic.php?t=2582&highlight=diletos
39
O Meio Tradicional
19
imagem capturada pelo computador através da ferramenta de visualização virtual do jornal, disponível em
http://flip.pernambuco.com/flip.php?idEdicao=f5e07db254d4c5a557ce5251cf2031aa&idCaderno=eb9e295e3
36347c8a9236e25043aad81&page2go=1&origem=4
40
Considerações Finais
A parte final deste ensaio não poderia se chamar conclusão. Não há aqui qualquer
resultado ou finalização, mas considerações e apontamentos. Mesmo porque, não cabe
concluir qualquer coisa que seja a respeito de um processo que está apenas se iniciando.
Um processo que envolve que diz respeito à sociedade como um todo, e não apenas à
comunicação ou ao jornalismo.
2. Uma das formas de utilização dessas ferramentas apresentada neste trabalho está
ligada às novas formas troca de informações, que aqui foram chamadas de comunicação
colaborativa, através das quais, além da possibilidade de publicar seus próprios conteúdos,
os indivíduos podem interagir entre si, e colaborar na discussão de temas de interesse.
Nesses espaços os indivíduos têm a possibilidade, e a estão fazendo valer, de
publicar conteúdos e informações, ou seja, podem eles mesmos atender a suas necessidades
de acontecimento. Da mesma forma, a Internet possibilita que estes mesmos indivíduos
busquem informações através de outros meios que não a mídia tradicional.
Essa atitude está provocando uma mudança nas formas de interação entre os agentes
da comunicação. Pois, para promover um acontecimento e transformá-lo em notícia era
necessário o acesso ao campo jornalístico, a Internet permite a criação de outros espaços
(como um blog, ou uma lista de discussão) de comunicação, aos quais todos podem ter um
acesso direto. Ou seja, as classificações dos agentes entre promotores, seletores e
consumidores de notícias se tornam fluidas, os leitores passam a ser prossumidores de
informação, promovendo, recebendo e participando de sua construção coletiva.
4. A utilização das ferramentas em que essa nova forma de comunicação está sendo
realizada é uma maneira de a grande mídia participar mais ativamente desse processo de
mudança. Redefinindo seu papel diante do novo cenário.
43
Referências
BOWMAN, S.; WILLIS, C. We Media: How audiences are shaping the future of news
and information disponível em pdf em www.hypergene.net/wemedia
GILLMOR, D We, the Media: Grassroots Journalism by the people for the people
disponível em http://oreilly.com/catalog/wemedia/book/index.csp
ROSEN, J. Tornar a vida Pública mais pública: Sobre a responsabilidade política dos
intelectuais dos media in TRAQUINA, N.; MESQUITA, M. Jornalismo Cívico Coimbra:
Livros Horizonte, 2003