1. Vejamos a respeito do que foi a experincia da Frente Sandinista narrada pelo
comandante Bayardo Arce: 2. Como ramos uma organizao de carter poltico-militar, clandestina, perseguida, pequena, tnhamos que buscar uma formula de nos vincularmos s massas. Estvamos convencidos de que no podia fazer a revoluo sem as massas. Decidimos destacar companheiros, colocando-os frente de tarefas ligadas organizao do povo. No buscvamos que as massas se identificassem como sandinistas, nem como revolucionrias, seno que fossem sensveis a se organizarem. Sendo ns muito poucos, o primeiro que fizemos foi tomar a deciso de nos concentrarmos no setor estudantil e crescer nesse setor. Para que? Para poder dispor de um celeiro maior de quadros. Quando j havamos conseguido crescer e contvamos com algumas clulas de militantes, no setor universitrio fundamentalmente, nos perguntvamos aonde deviam trabalhar estes estudantes para vincular-se s massas, se nos sindicatos ou nos bairros. 3. Se podia cair facilmente na tentao de que como a classe operria a classe dirigente, devamos comear pelos sindicatos, porm analisando a situao chegamos a outra concluso. J havamos feitos certos esforos de penetrao nos sindicatos e nos encontrvamos bloqueados. Em primeiro lugar, ramos desconhecidos. Nossa base no era de trabalhadores nesse momento, seno estudantes e gente de classe mdia e, em segundo lugar, estvamos queimados de alguma maneira. A direo sindical reformista de esquerda imediatamente nos acusava de intrusos, de sandinistas, nos denunciava praticamente ante aos rgos repressivos para no permitir que chegssemos ao setor operrio. Ento, que fizemos? Decidimos concentrar nosso trabalho nos bairros, com um duplo objetivo: conseguir ali casas de segurana que necessitvamos para levar adiante a guerra, para acumular nossas armas, para esconder militantes clandestinos, etc. E, por sua vez, recrutar o trabalhador que vivia nesse bairro e com ele, devidamente preparado, penetrar no sindicato e no centro de trabalho. 4. Mas, ento nos perguntamos como entrar nos bairros e o que o povo podia esperar dos universitrios. Sem dvida nosso melhor contribuio devia ir no sentido de ajudar o desenvolvimento natural do bairro. Ento comeamos a organizar dispensrios mdicos com estudantes de medicina que chegavam a atender a gente, alfabetizar, a organizar os jovens em clubes, os ajudvamos a organizar suas festas nos fins de semana, suas equipes de esporte. No falvamos de poltica. Isto criou uma identificao pessoal entre o bairro e o jovem que est chegando. Uns eram da Frente, outros eram da FER, e alguns sequer eram da FER: eram s ativistas entusiasmados com a ideia de chegar a um bairro. 5. Se comea assim a se dar uma vinculao anmica, uma identificao pessoal que permite, uma vez que se v selecionando nesse contato cotidiano os melhores, chegar a dizer a um cidado: Eu sou da Frente Sandinista. Eu ando aqui organizando a guerra do povo, e creio que voc tem caractersticas para ser da Frente Sandinista. Assim comeamos a organizar, a recrutar. E, efetivamente, a partir dos bairros, comeamos a penetrar nos centros de trabalho. 6. Por nosso esforo, por organizar os bairros, fomos acusados nos debates tericos da esquerda tradicional nessa poca, de estar fazendo a tarefa dos Corpos de Paz yanquis, de andar impulsionando o reformismo. Diziam que em vez de enfrentarmos a Ditadura a ajudvamos, pois resolvamos seus problemas. A Ditadura no atendia a sade do povo e ns fazamos campanhas e recolhamos medicamentos para levarmos aos bairros. Ns no entrvamos muito nessas discusses com a esquerda, porque amos nos queimar totalmente nossa estratgia e nossa ttica. Ns ficamos calados e ali
fomos crescendo at converter os bairros em verdadeiros baluartes da Frente
Sandinista, onde podia se mover um clandestino como se fosse uma zona liberada. 7. Tambm trabalhamos com os cristos, com os jornalistas, com os professores, em todos os lados. Para ns, todas essas eram nossas organizaes intermedirias, nossa forma de estar vinculados s massas. 8. Desta narrao do comandante Arce acerca dos primeiros passos organizativos da FSLN podemos sacar duas concluses importantes: a primeira se refere ao papel protagonista desempenhado pelos universitrios nos passos iniciais na luta contra Somoza, e, a segunda, a importncia de detectar corretamente quais sos os setores do povo mais suscetveis de ser trabalhados para a revoluo.
"Futuro da nação ou pequenas sementes do mal"?: uma análise sobre a assistência, as representações e a gestão da infância desvalida, moralmente abandonada e trabalhadora do Distrito Federal (1890-1920)