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CLÉMENT ROSSET
O PENSAMENTO DA IMANÊNCIA
E S U A V I R T U D E N E G AT I VA
RESUMO
ABSTRACT
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ETHICA RIO DE JANEIRO, V.9, N.1 E 2, P.45-52, 2002
and artifice. We intended moreover to show that this negativity does not
excludes the idea of affirmation, but rather the idea of positivity (that is, an
ontology of the Being or the substance).
Key-words: Rosset, immanence, real, virtue
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1
Lógica do Pior. Rio de Janeiro: Espaço & Tempo, s/d. p.126
2
Ibid., p. 66
3
O Real e seu Duplo. Porto Alegre, L&PM, 1988. p. 17
4
Le Démon de la Tautologie. Paris, Minuit. p. 35
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interpretação, qual pode ser a tarefa da filosofia? Qual pode ser o seu
“conteúdo”? De que modo ela pode dizer seu objeto? Em última
instância, a forma que esse pensamento deveria assumir é a da
tautologia: limitar-se a repetir o real em sua identidade, numa insistência
da linguagem que, impossibilitada de dizer seu objeto, volta-se sobre
si mesma. Assim, “o discurso sobre o real será tautológico ou não
será”.5 Rosset esclarece no entanto que é preciso distinguir o enunciado
tautológico enquanto tal (que a rigor não acrescenta qualquer
conhecimento sobre seu objeto) de um pensamento de inspiração
tautológica, que pode encontrar diferentes formulações. 6
De fato, para falar da ausência de sentido, qualquer discurso é
necessariamente impotente e toda palavra seria, por definição, excessiva.
Mas a questão que se coloca é: excessiva em quanto?7 Se todo discurso
produz sentido e instaura por si só uma ilusão de transcendência, isso
não implica que todos o façam da mesma forma ou na mesma medida. Em
Lógica do Pior, Rosset afirma que para fazer falar o silêncio seria preciso
dispor de uma palavra mágica, que soubesse falar sem nada dizer. 8 Esta
palavra, no contexto da obra em questão, é o termo acaso. Mas podemos
levantar a hipótese de que esta propriedade silenciosa se aplique
igualmente aos demais conceitos que marcam o pensamento de Rosset
- como é o caso dos termos aparência, materialismo, artifício. Trata-se
aqui de conceitos fundamentalmente negativos, cuja função prioritária é
a de esvaziar o pensamento de sua carga metafísica, destituindo a ilusão
de transcendência que caracteriza nossa percepção habitual e
possibilitando a afirmação do mundo em sua imanência. Para evocar a
noção de anti-princípio, proposta por Rosset em Lógica do Pior,
poderíamos sugerir que termos como acaso, materialismo e artifício são
anti-conceitos, que se propõem menos a dizer o que o mundo é do que
esvaziar a pretensão filosófica de obter um conhecimento teórico do
mundo, destituindo a ilusão metafísica de um mundo dotado de sentido.
Assim entendida, a função teórica da filosofia revela-se
fundamentalmente negativa: segundo a tradição metafísica, a tarefa do
filósofo consiste em dizer o que é (ou seja, dizer o Ser); concebida
5
Ibid., p.12
6
Ibid., p.49
7
Lógica do Pior, p.81
8
Ibid., p.79
48
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9
Ibid., p.89
10
Anti-Natureza, p.69
11
Princípio de Crueldade. Rio de Janeiro: Rocco, 1989. p. 34
49
ETHICA RIO DE JANEIRO, V.9, N.1 E 2, P.45-52, 2002
12
Lógica do Pior, p. 31
13
Princípio de Crueldade, p. 29
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14
Lógica do Pior, p. 20
15
Le Démon de la Tautologie, p. 49
16
Crítica e Verdade. São Paulo: Perspectiva, 1970, p. 22
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Gaia Ciência, § 58.
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Ecce Homo, “Assim Falava Zaratustra”, § VII
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