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Resumo
Introdução
Como Pedagoga atuando na Escola Reunida Municipal Pastor Faulhaber desde 1993, tem-se utilizado a
musicalização, principalmente na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
Defende-se neste artigo que a escola deva ser um espaço cultural e a musicalização um elo para que o
aluno tenha acesso à cultura musical, desenvolvendo-se o gosto estético-expressivo. Pois como
menciona Penna (1990, 26) a escola, no mesmo tempo em que forma alguns, exclui outros – basta
observar os índices de evasão e repetência, e quem são os que conseguem ter êxito. O ensino da
música, especificamente, não escapa do quadro geral do sistema de ensino brasileiro, que é excludente
e elitista.
O objetivo que motivou a realização deste artigo foi buscar a cientificidade da musicalização na melhoria
do processo ensino-aprendizagem, principalmente na alfabetização, com as contribuições das
neurociências e a inter e a transdisciplinaridade.
A palavra “Mousikos”, do grego musical, refere-se às musas, referia-se ao vínculo do espírito humano,
com qualquer forma de inspiração artística (BECKER, 2003). A música potencializa os circuitos
cerebrais, melhorando a sensibilidade, a concentração, o raciocínio lógico e a memória
(BAÑOL,1993 e STRALIOTTO, 2001). Seus benefícios no âmbito escolar, se dá em todas as áreas,
principalmente na alfabetização, por sua relação com a ritmicidade orgânica (influenciando mudança de
ânimo, tais como desânimo, alegria, etc.). As músicas suaves e instrumentais, dão uma sensação de
paz, penetrando o âmago do nosso ser. Mas, apesar dos seus efeitos positivos, orientá-la cientificamente
ainda é um problema epistemológico a ser resolvido inclusive através dos temas transversais.
Há uma intima relação entre o som e o ser humano, desde a vida intra-uterina (TOMATIS apud
SIVADON e FERNANDEZ-ZÖILA,1988). A música faz parte da vida do homem desde a antiguidade,
atribui-se a ela considerável valor contra as enfermidades e o preparo para a guerra. Papiros egípcios de
1550 AC ., já destacavam a sua influência positiva sobre a fertilidade feminina. Pitágoras, inclusive
desenvolveu um método de cura através dos intervalos e ritmos de melodia, visando cura das paixões
humanas (BECKER, 2003).
Na Idade Média, o uso terapêutico da música foi substituído pelo religioso, pois a doença passou a ser
vista como possessão demoníaca. Com o advento do Renascimento, a moral volta-se para a valorização
da razão, da vontade e da sensibilidade. Então, as causas naturais foram consideradas responsáveis
pelas patologias, havendo o rompimento com o pensamento medieval e a retomada da música como
tratamento eficaz e meio educativo.
Para Descartes, os intervalos musicais podem influenciar estados mentais. No século XX, sob a
influência do positivismo houve a redução no seu uso terapêutico, por este ter como base o método
experimental e as ciências naturais (BENENZON, 1988 e BAÑOL, 1993). Mas, a experimentação
psicofisiológica, aproximou a neurologia, da psiquiatria, surgindo a possibilidade de fundamentar
cientificamente, o seu uso na Psicopedagogia Clínica .
Sua utilização em Psicopedagogia Institucional suscita prazer, ludicidade, tanto na criança “normal” como
na portadora de necessidades educativas especiais (NICOLAU, 1987), através da mediação e
favorecimento da zona de desenvolvimento proximal (VIGOTSKY apud FONSECA, 2002). A falta de
conta to com o ritmo interno pode originar distúrbios diversos, com reflexo no processo de aprendizagem,
principalmente na alfabetização. Por isso, a retomada do próprio ritmo, favorece a abertura de canais de
comunicação e autoconhecimento, visando a correção de comportamentos inadaptados.
Ela pode ser utilizada para favorecer a inclusão no espaço social de pessoas “marginalizadas” no âmbito
escolar, por facilitar o reconhecimento e a aceitação das diferenças, afinal Ray Charles, Andrea Bocelli e
Steve Wonder, apesar de cegos se tornaram famosos por terem tido a oportunidade de melhor o
nível de atenção, pois todo conhecimento acompanhado com música parece ficar gravado com mais
profundidade no espírito, aliviando sofrimento, reduzindo barreiras interpessoais, desde que seja
utilizada como um meio e não como um fim (NARDELLI, 2000). Mas, infelizmente ela ainda fica a critério
da sensibilidade do educador, inclusive na pré-escola e na alfabetização.
Cabe ao educador no seu planejamento estipular objetivos gerais e específicos da musicalização que
visem favorecer o processo de alfabetização. Quanto aos conteúdos, cada educador deverá procurar
desenvolvê-los de acordo com a sua realidade, levando em consideração a interdisciplinaridade, a
transdisciplinaridade e os temas transversais.
Há cerca de 2000 anos, Hipócrates, percebeu que o cérebro nos ajudava a pensar. Até esta época,
muito pouco se sabia dele e tal “conhecimento”, resumia-se a crenças como a de espíritos nos causavam
doenças. Com a evolução científica concluiu-se que além de nos permitir pensar, ele também afetava as
nossas habilidades de ver, ouvir, cheirar, sentir diferentes paladares e sensações. Mas, apesar dos
avanços das neurociências, ele ainda é um mistério e novas explicações sobre este complexo órgão,
surge através de aparelhos cada vez mais sofisticados, afinal fazem somente cerca de 400 anos, que os
médicos iniciaram a abertura de corpos humanos para ver as partes internas, verificando “ in loco ” como
funciona.
Desde então, muitas descobertas aconteceram, sendo muitas delas equivocadas. Na menção de
Lambert (1992, 8)
Andréas Vesalius, que viveu na região da atual Bélgica, afirmou que os pensamentos e sensações
vinham do cérebro e não do coração. Então, um médico inglês William Harvey, demonstrou que o
coração era apenas uma “bomba” para distribuir sangue pelo corpo. Assim, mesmo, muitas pessoas
ainda pensavam que o cérebro funcionava movimentando os “espíritos animais” de Golen, por todas as
partes do corpo. Elas acreditavam que um braço ou perna se movia quando seus músculos eram
preenchidos com este fluído .
Suvammerdam na Holanda provou que esta idéia estava errada, demonstrando que os músculos não
aumentavam, eles se juntavam ou se contraíam. Na Itália, Galvani descobriu que era a eletricidade que
fazia os músculos se contraírem. Mais tarde, demonstrou-se que eram os nervos que forneciam esta
energia.
há aproximadamente 200 anos, um médico australiano chamado Franz Gall. Afirmou que as diferentes
partes do cérebro, eram responsáveis pelas diferentes partes do corpo. Ele estava certo em relação a
isto, mas algumas de suas idéias estavam erradas. Gall acreditava que o formato do cérebro de uma
pessoa definia como ela era. Ele pensava que podia medir o formato do cérebro sentindo os ossos da
cabeça ou o crânio (Lambert,1992, 8).
Tal abordagem ficou conhecida como frenologia e a partir daí, os médicos começaram a se interessar
pela reação entre algumas de suas partes e o que acontecia no organismo. Nesta época Pierre Flourens,
na França descobriu a parte que controlava nossa visão e equilíbrio, já Pierre Broca descobriu a parte
que controlava nossa fala. Rapidamente, os cientistas estabeleceram a ligação entre a maior parte das
funções do organismo humano e as áreas do cérebro que as controlam (LAMBERT, 1992 )
O cérebro vertebrado primitivo – o cérebro ancestral de animais que tem coluna vertebral, como peixes,
répteis, pássaros e mamíferos – se desenvolveram de maneira linear (FONSECA, 1998 e 2002).
McCrone (2002, 9) afirma que todo este processo começou como um simples tubo neural, medula
espinhal segmentada, que então se expandiu para formar uma série de protuberâncias numa das
extremidades. O prosencéfalo ocupava-se com o sentido do olfato e com comportamentos associados,
como comer e acasalar. Já o mesencéfalo lidava com a visão e a audição. Finalmente a protuberância
do tronco cerebral (o rombocéfalo) tomava decisões sobre níveis de excitação e atividade motora. Cada
uma dessas protuberâncias primitivas estavam intimamente conectada a sinais nervosos que fluíam para
a frente e para trás a fim de entrelaçar suas atividades. A medida que o cérebro do vertebrado ficou
maior, tanto o número de divisões como os mecanismos que contrabalançam as integrações ficaram
complexas.
Os genes podem especificar apenas grosso modo onde qualquer bloco de células deve ser posicionado.
A interconexão delas deve ser realizada pela educação (por tentativa e erro, resolução de problemas,
etc.). Ao nascer o bebê está praticamente sem conexões no córtex, o seu cérebro superior é como uma
massa de células desconexas (LAMBERT, 1992). O cérebro inferior está bem desenvolvido, produzindo
uma variedade de comportamentos instintivos, tais como: mamar, chorar, recuar e até seguir objetos
com os olhos. O cérebro superior está quase vazio de memórias, com as quais irá tornar o mundo
compreensível, mas “os neurônios corticais entram numa fase de crescimento exuberante, fazendo
brotar uma profusão de dendritos e axônios (McCRONE, 2002, 32)”. Assim, nos primeiros anos de vida,
o cérebro de um bebê está formando quase 2 milhões de novas conexões sinápticas a cada segundo.
Mas, é um crescimento aleatório, as conexões são vacilantes, são imaturas, não têm bainha de
substâncias brancas para fazer o isolamento (mielina) e em vez de emitir sinais nervosos velozmente,
arrastam-se lentamente. Daí a importância de uma estimulação psicomotora precoce nas creches.
Aos seis meses, o cérebro do bebê criou quase dobrou em conexões de que precisa. Então, as sinapses
competem entre si, para descobrir qual está mais bem posicionada para a tarefa de processar
informações sobre o mundo. Assim, as sinapses prontas para utilização, sobreviverão, enquanto que as
outras morrerão e assim as conexões neurais começam a desaparecer e a partir dessa seleção há a
organização do conjunto funcional final. Por isto, ao acompanharmos a evolução cerebral percebemos
que o sistema nervoso da criança não está morfo e fisiologicamente completo, mas à medida que os
centros nervosos evoluem, os centros de aprendizagem o acompanham, pois são influenciados por
estímulos vindos de todos os outros centros nervosos das sensibilidades. Isto indica que os outros
centros nervosos conscientes comunicam-se com os centros responsáveis pela aprendizagem
(DAMÁSIO, 2000 e GAZZANIGA, 2000). Tudo o que é aprendido, é guardado em outros centros,
responsáveis pelos diferentes tipos de memória (auditiva, cinestésica, etc).
O processo de tornar-se consciente de algo é complexo e função de vários fatores que interagem
simultaneamente, como atenção, percepção, emoção (LIMA, 2001). Pesquisas com novas tecnologias
de imagem, demonstram que a consciência tem seu equivalente orgânico na formação de uma saliência
no cérebro, provocada pela elaboração consistente de uma rede neural, que se constitui em função do
tempo e forma de exposição do indivíduo a determinado conteúdo. Portanto, a aprendizagem
processando-se durante toda a vida, em um ritmo individual, que aliado ao seu esquema próprio de ação
irá constituir sua individualidade. A aprendizagem possui fundo genético, mas depende de vários fatores,
dentre os quais: esquemas de ação inatos, estágio de maturidade de seu sistema nervoso, seu tipo
psicológico constitucional (introvertido ou extrovertido), seu grau de desenvolvimento, seu esforço e
interesse e ativação bioquímica (FONSECA, 1998 e 2002).
Para que haja a aprendizagem, é necessário o estabelecimento de uma conexão entre estímulos ou
situação e respostas, da qual resulta a percepção, que pode ser proporcionada pela musicalização
facilitando assim, o processo de alfabetização. Há assim, melhoria da capacidade seletiva da atenção,
ou seja, a concentração em estímulos sensoriais relevantes, eliminando ou inibindo os irrelevantes.
Portanto, existe a possibilidade do cérebro humano de aprender, ao eliminar as associações ou vias
neurológicas inúteis (FONSECA, 1998).
Assim, é de fundamental importância o conhecimento da evolução e da cognição para melhor mediar o
conhecimento dos educandos ao invés de dar-lhes diagnósticos precoces e rótulos que poderão marcá-
los negativamente pelo resto de suas vidas, excluindo-os e impedindo-os de desenvolver suas
potencialidades. Afinal, o cérebro não é só o órgão onde ficam gravadas as experiências afetivas dos
indivíduos e as aprendizagens, mas também é o órgão que controla várias funções somáticas, contendo
o sistema límbico, que através da musicalização pode organizar melhor as emoções (LIMA, 2001), pois
para “relembrar” ele leva em conta a biografia.
Portanto, o conteúdo estiver ligado a algum evento da vida do indivíduo, para que este venha a recorda-
lo (DAMÁSIO, 2000). Por isto a musicalização deve fazer parte do cotidiano dos educandos e não se
deve negar a eles este processo facilitador da alfabetização, da aprendizagem e das emoções.
Durante a ontogênese, a evolução do cérebro envolve uma evolução que vai do menos organizado
(medula) ao mais organizado (córtex). Este desenvolvimento vai se organizando pela vida afora,
pressupondo uma organização vertical ascendente. A organização funcional do cérebro, e o resultado da
interação de três blocos funcionais, dos quais dependem as funções que organizam o trabalho do
cérebro, implicado em todas as formas complexas de comportamento. As formas complexas do
comportamento têm origem social. Luria, apud Fonseca (1998, 352) caracteriza assim os três blocos
funcionais :
Fonseca (1998, 353) construiu, uma bateria Psicomotora para avaliar a retrogênese, subdividindo-a em
sete fatores, segundo o modelo de Luria:
Equilibração (E)
A organização psicomotora evolui do 1 º ao 3 º bloco, isto é, da Tonicidade a Praxia Fina, sendo que
cada fator antecede o fator seguinte (ontogênese). Ao que tudo indica, a musicalização atua sobre o 1 o
e o 2 o bloco de Luria, responsáveis diretamente pela a atenção e vigília (1 o bloco) e a consciência
corporal e a estruturação espaço-temporal (2 o bloco), sendo que a bateria psicomotora desenvolvida e
validada por Fonseca (1995), constitui-se em um instrumento cientificamente operacional para mensurar
sua influência no âmbito escolar.
Referências Bibliográficas
LAMBERT, M. Como funciona o corpo humano – O cérebro e o sistema nervoso. São Paulo: Maltese,
1992.
SNYDERS, G. A Escola pode ensinar as alegrias da música? 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
STRALIOTTO, J. Cérebro & Música – Segredos desta relação. Blumenau: Odorizzi, 2001.