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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA


MÓDULO I
DIREITO PROCESSUAL PENAL
__________________________________________________________________ Praça Almeida
Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010 Tel.: (11) 3346.4600 –
Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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DULO I
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. PRINCÍPIOS GERAIS INFORMADORES DO PROCESSO
1.1. Princípio da Imparcialidade do Juiz O Juiz situa-se entre as partes e acima
delas (caráter substitutivo). Para assegurar sua imparcialidade, a CF estipula
garantias (art. 95) e vedações (art. 95, par. ún.) e proíbe tribunais de exceção
(art. 5.º, XXXVII).
1.2. Princípio da Igualdade Processual As partes devem ter, em juízo, as mesmas
oportunidades de fazerem valer suas razões. No processo penal, esse princípio so
fre alguma atenuação, devido ao princípio constitucional do “favor rei”, segundo
o qual o acusado goza de alguma prevalência e contraste com a pretensão punitiv
a.
1.3. Princípio do Contraditório É identificado na doutrina pelo binômio “ciência
e participação”. O Juiz coloca-se eqüidistante das partes, só podendo dizer que
o direito preexistente foi devidamente aplicado ao caso concreto se, ouvida uma
parte, for dado à outra o direito de manifestar-se em seguida.
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DULO I
1.4. Princípio da Ampla Defesa Implica o dever do Estado de proporcionar a todo
acusado a mais completa defesa, seja pessoal, seja técnica (art. 5. , LV, da CF/
88), seja o de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados
LXXIV, CF). Decorre a obrigatoriedade de se observar a ordem natural do process
o, de modo que a defesa se manifeste sempre em último lugar. (art. 5. ,
1.5. Princípio da Disponibilidade e da Indisponibilidade Disponibilidade é a lib
erdade que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos. No processo penal, pr
evalece o princípio da indisponibilidade, pelo fato do crime ser considerado uma
lesão irreparável ao interesse coletivo. Decorre algumas regras, tais como:

impossibilidade de a autoridade policial arquivar o inquérito policial (art. 17
do CPP);

o Ministério Público não pode desistir da ação (art. 42 do CPP), nem do recurso
interposto (art. 576 do CPP).
A CF abranda essa regra, ao permitir a transação em infrações de menor potencial
ofensivo. E também nos casos de ação penal privada e ação penal condicionada à
representação ou à requisição do Ministro da Justiça.
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DULO I
1.6. Princípio da Verdade Material ou da Manifestação das Provas É característic
o do processo penal. Consiste no dever de o Magistrado esgotar todas as possibil
idades para se alcançar a verdade real dos fatos, para servir de fundamento na s
entença. Regra: o que não está nos autos, não está no mundo.
1.7. Princípio da Publicidade É uma garantia de independência, imparcialidade, a
utoridade e responsabilidade do Juiz. Exceção: casos em que o decoro ou o intere
sse social aconselham que eles não sejam divulgados.
1.8. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição Consiste na possibilidade de revisão,
por via de recurso, das causas já julgadas pelo Juiz de primeiro grau. Não é tr
atado de forma expressa em nenhum texto legal, nem na Constituição. Decorre da p
rópria estrutura atribuída ao Poder Judiciário pela CF.
1.9. Princípio do Juiz Natural Previsto no art. 5. , LIII, da CF/88, que dispõe
que “ninguém será sentenciado senão pelo Juiz competente”.
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DULO I
Juiz natural é, portanto, aquele previamente conhecido, segundo regras objetivas
de competência estabelecidas anteriormente à infração penal, investido de garan
tias que lhe assegurem absoluta independência e imparcialidade. Decorre também a
proibição de criação de tribunais de exceção, art. 5. , XXXVII, CF.
1.10. Princípio do Estado de Inocência Ninguém será considerado culpado até o tr
ânsito em julgado da sentença penal condenatória (art. 5. , LVII, da CF/88). Des
dobra-se em três aspectos:

prova: deve ser valorada em favor do acusado quando houver dúvida; instrução pro
cessual: inverte-se o ônus da prova, i. e., o réu não precisa provar que é inoce
nte, mas sim a acusação precisa fazer prova de que ele é culpado;


no curso do processo: trata-se de entendimento expresso na Súmula n. 9/STJ: “A e
xigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional
da presunção de inocência”.
1.11. Princípio do “favor rei” A dúvida sempre beneficia o acusado. Alguns recur
sos são exclusivos da defesa (protesto por novo júri e embargos infringentes).
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DULO I
Só cabe ação recisória penal em favor do réu (revisão criminal). Consultando as
indicações bibliográficas, estudar os seguintes pontos:
1.12. Princípio da Ação ou Demanda 1.13. Princípio da Oficialidade 1.14. Princíp
io da Oficiosidade 1.15. Princípio da Verdade Formal ou Dispositivo 1.16. Princí
pio do Impulso Oficial 1.17. Princípio da Persuasão Racional do Juiz 1.18. Princ
ípio da Motivação das Decisões Judiciais 1.19. Princípio Lealdade Processual 1.2
0. Princípio da Economia Processual 1.21. Princípio do Promotor Natural
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DULO I
2. PRINCÍPIOS INFORMADORES DO PROCESSO PENAL
2.1. Princípio da Verdade Real 2.2. Princípio da Legalidade 2.3. Princípio da Au
toritariedade 2.4. Princípio da Indisponibilidade 2.5. Princípio da Iniciativa d
as Partes 2.6. Princípio “ne eat judex ultra petita partium” 2.7. Princípio da I
dentidade Física do Juiz 2.8. Princípio do Devido Processo Legal 2.9. Princípio
da Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos 2.10. Princípio da Br
evidade Processual
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO
A lei processual aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a
vigência da lei anterior (art. 2. do CPP). Vige, no processo penal, o princípi
o da aplicação imediata, com a ressalva de que os atos anteriores serão preserva
dos.
2. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO
A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em territ
ório brasileiro, sem prejuízo das convenções, tratados e regras de Direito Inter
nacional. Algumas exceções à territorialidade do CPP:

Código Processual Militar; Código Eleitoral; Lei de Tóxicos; Lei de Imprensa; Le
i dos Juizados Especiais Criminais.




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3. IMUNIDADES
3.1. Imunidades Diplomáticas Quem comete crime no Brasil responde por ele no Bra
sil. Como exceção a essa regra, temos: Chefe de Governo Estrangeiro, Embaixadore
s e seus familiares, funcionários estrangeiros de embaixadas etc. Admite-se a re
núncia à garantia da imunidade diplomática.
3.2. Imunidades Parlamentares São de duas espécies:

material (absoluta): alcança os Deputados Federais e Senadores, garantindo-lhes
a inviolabilidade por suas palavras, opiniões e votos. Para alguns, trata-se de
causa de exclusão de ilicitude, para outros, causa funcional de isenção de pena.
É irrenunciável. Estende-se também aos Vereadores se o crime foi praticado no e
xercício do mandato e na circunscrição do Município;

processual, formal ou relativa: consiste na garantia de não ser preso, salvo por
flagrantes de crime inafiançável. Alcança os Deputados Estaduais, mas não alcan
ça os Vereadores.
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4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
4.1. Espécies
4.1.1. Quanto ao sujeito que elabora

Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração da
lei. Pode ser: – contextual: feita pelo próprio texto legal; – posterior: feita
após a entrada em vigor da lei.

Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos e doutores do Direito. Obs.: a
s exposições de motivo constituem forma de interpretação doutrinária, uma vez qu
e não são leis.

Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais.
4.1.2. Quanto aos meios empregados

Gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido literal das palavra
s.

Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à
sua posição dentro do ordenamento jurídico.
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DULO II
4.1.3. Quanto ao resultado

Declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra da lei e sua vontade.

Restritiva: a interpretação vai restringir o seu significado, pois a lei disse m
ais do que queria.

Extensiva: a interpretação vai ampliar o seu significado, pois a lei disse menos
do que queria.
4.2. Interpretação da Norma Processual Penal A lei processual admite interpretaç
ão extensiva, pois não contém dispositivo versando sobre direito de punir. Exceç
ões: tratando-se de dispositivos restritivos da liberdade pessoal (prisão em fla
grante), o texto deverá ser rigorosamente interpretado. O mesmo quando se tratar
de regras de natureza mista.
5. ANALOGIA
Consiste em aplicar, a uma hipótese não regulada por lei, disposição relativa a
um caso semelhante.
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5.1. Fundamento Ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se
o mesmo Direito).
5.2. Natureza Jurídica Forma de auto-integração da lei, ou seja, forma de supres
são de lacunas.
5.3. Distinção

Analogia: inexiste norma reguladora para o caso concreto, devendo ser aplicada n
orma que trata de hipótese semelhante.

Interpretação extensiva: existe norma reguladora do caso concreto, mas esta não
menciona expressamente sua eficácia.

Interpretação analógica: a norma, após uma enumeração casuística, traz uma formu
lação genérica. A norma regula o caso de modo expresso, embora genericamente.
5.4. Espécies de Analogia

In bonam partem – em benefício do agente. In malam partem – em prejuízo do agent
e.

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6. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL
É de onde provém o Direito.
6.1. Espécies

Material ou de produção: aquela que cria o Direito. Formal ou de cognição: aquel
a que revela o Direito. Pode ser: – imediata: lei; – mediata: costumes e princíp
ios gerais do Direito.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. INQUÉRITO POLICIAL
1.1. Conceito É o conjunto de diligências investigatórias realizadas pela políci
a judiciária visando a apuração do crime e sua respectiva autoria.
1.2. Natureza Jurídica O inquérito policial é procedimento persecutório de carát
er
administrativo e natureza inquisitiva instaurado pela autoridade policial. É um
procedimento, pois é uma seqüência de atos voltados a uma finalidade. Persecutór
io porque persegue a satisfação do jus puniendi. Persecução é a atividade estata
l por meio da qual se busca a punição e começa oficialmente com a instauração do
inquérito policial. Também conhecido como informatio delicti.
1.3. Finalidade Segundo leitura dos arts. 4. e 12 do CPP, conclui-se que o inqu
érito visa a apuração da existência de infração penal e a respectiva autoria par
a fornecer
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ao titular da ação penal elementos mínimos para que este possa ingressar em juíz
o. A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fat
o criminoso. Apurar a autoria consiste em a autoridade policial desenvolver a ne
cessária atividade visando descobrir, conhecer o verdadeiro autor da infração pe
nal.
1.4. Jurisdição e Competência O art. 4. , caput, do CPP usava inadequadamente o
termo “jurisdição”. A Lei n. 9.043, de 9.5.1995, trocou o termo “jurisdição” por
“circunscrição” (limites territoriais dentro dos quais a polícia realiza suas f
unções). O parágrafo único do citado artigo dispõe que: “a competência definida
neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja
cometida a mesma função”. Porém, a autoridade policial não tem competência, mas
sim atribuições. O termo jurisdição designa a atividade por meio da qual o Estad
o, em substituição às partes, declara a preexistente vontade da lei ao caso conc
reto. O termo competência deve ser entendido como poder conferido a alguém para
conhecer determinados assuntos, não se confundindo com competência jurisdicional
, que é a medida concreta do Poder Jurisdicional. A atribuição para presidir o i
nquérito policial é conferida aos Delegados de Polícia, com raríssimas exceções
(art. 144, §§ 1. e 4. , da CF/88), conforme as normas de organização policial d
os Estados. A atribuição pode ser fixada,
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quer pelo lugar da consumação da infração (ratione loci), quer pela natureza da
mesma (ratione materiae). A autoridade policial, em regra, não poderá praticar q
ualquer ato fora dos limites de sua circunscrição, sendo necessário:

se for em outro país: carta rogatória; se for em outra comarca: carta precatória
; se for no DF ou em circunscrição diferente, mas dentro da mesma comarca, não p
recisa de nenhuma carta (art. 22 do CPP).


1.5. Autoridade Competente para Lavratura do Auto de Prisão em Flagrante O flagr
ante deve ser lavrado no local em que se efetivou a prisão. Não havendo Delegado
de Polícia, na circunscrição mais próxima (arts. 290 e 308, ambos do CPP). Conc
luído, o flagrante será enviado ao juízo competente, ou seja, devem os atos subs
eqüentes ao da prisão serem praticados pela autoridade do local em que o crime s
e consumou. Obs.: tem-se entendido que a falta de atribuição de competência da a
utoridade policial não invalida os seus atos, ainda que se tratem de prisão em f
lagrante, pois a Polícia, ao exercer a atividade jurisdicional, não se submete à
competência jurisdicional ratione loci. O inquérito policial “é peça meramente
informativa, cujos vícios não contaminam a ação penal” (jurisprudência STF e STJ
).
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O art. 5. , LIII, da CF/88 não se aplica às autoridades policiais, visto que est
as não processam nem sentenciam. Não foi adotado pelo referido artigo constituci
onal o princípio do Delegado de Polícia Natural.
1.6. Inquéritos Extrapoliciais (art. 4. , par. ún., do CPP) Em regra, os inquéri
tos policiais são presididos por Delegado de Polícia de Carreira (art. 144, § 4.
, da CF/88), mas o art. 4. , par. ún., do CPP deixa claro que o inquérito reali
zado pela polícia judiciária não é a única forma de investigação criminal. Excep
cionalmente, portanto, há casos em que são presididos por outros que não o Deleg
ado de Polícia de Carreira. Ex.:

Inquérito judicial por crime falimentar (presidido pelo Juiz); Comissões Parlame
ntares de Inquérito (art. 58, § 3. , da CF/88); Crime cometido nas dependências
da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal (Súmula n. 397 do STF –“O poder de
polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido i
nquérito”); nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão e
m flagrante do acusado e a realização do



Inquérito civil público (presidido pelo representante do MP; tem a finalidade de
promover a ação civil pública, art. 129, III, da CF/88);

Inquérito policial militar.
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1.7. Valor Probatório do Inquérito Policial O inquérito policial tem conteúdo in
formativo, visa apenas fornecer elementos necessários para a propositura da ação
penal. Tem valor probatório relativo, pois os elementos de informação não são c
olhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, tampouco na presença do
Juiz de Direito.
1.8. Dispensabilidade do Inquérito Policial O inquérito policial é uma peça útil
, porém não imprescindível. Não é fase obrigatória da persecução penal. Poderá s
er dispensado sempre que o MP ou ofendido tiver elementos suficientes para promo
ver a ação penal. No art. 12 do CPP a expressão “sempre que” é uma condição. O a
rt. 27 do CPP refere-se à delatio criminis postulatória, onde qualquer um do pov
o poderá fornecer, por escrito, informações sobre o fato e a autoria, indicando
o tempo, o lugar e os elementos de convicção, demonstrando que quando as informa
ções forem suficientes não é necessário o inquérito policial. Segundo o art. 39,
§ 5. , do CPP, o órgão do MP dispensará o inquérito se forem apresentados eleme
ntos suficientes para a propositura da ação. O art. 46, § 1. , do CPP nos alerta
para mais uma hipótese de dispensabilidade do inquérito policial.
1.9. Características do Inquérito Policial

procedimento escrito: conforme demonstra o art. 9. do CPP;
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procedimento sigiloso (art. 20 do CPP): é uma garantia para o indiciado, resguar
dando-se, assim, seu estado de inocência (art. 5. , LVII, da CF/88). O sigilo nã
o alcança o advogado (Lei n. 8.906/94, art. 7. , XIII a XV, e § 1. , do Estatuto
da OAB);

procedimento inquisitivo: não há acusação, não há contraditório; não pode ser ar
güida suspeição da autoridade policial (art. 107 do CPP). O art. 14 do CPP diz q
ue a autoridade policial poderá indeferir qualquer pedido de diligência. O art.
184 do CPP trata de uma diligência que não pode ser indeferida, o exame de corpo
de delito;

oficiosidade: esse princípio se funda no princípio da obrigatoriedade ou legalid
ade. Sendo um crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade tem o dev
er de promover o inquérito policial ex officio, independente de qualquer espécie
de provocação;

oficialidade: o inquérito policial é dirigido por órgãos públicos oficiais, no c
aso, a autoridade policial.É uma atividade investigatória feita por órgãos ofici
ais;

indisponibilidade: uma vez instaurado, não pode ser arquivado pela autoridade po
licial (art. 17 do CPP), é indisponível;

autoritariedade: é presidido por uma autoridade pública. Trata-se de exigência c
onstitucional (art. 144, § 4. , da CF/88).
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1.10. Incomunicabilidade Destinada a impedir que a comunicação do preso com terc
eiros venha a prejudicar o desenvolvimento da investigação. Mediante despacho fu
ndamentado pelo Juiz a partir da representação da autoridade policial ou de requ
erimento do MP, poderá ser decretada a incomunicabilidade do indiciado pelo praz
o de até 3 dias, por conveniência da investigação ou interesse da sociedade (art
. 21 do CPP). Somente o Juiz pode decretar a incomunicabilidade. O despacho será
fundamentado. A incomunicabilidade não poderá ultrapassar 3 dias. É decretada p
or representação da autoridade ou requerimento do MP. Não alcança o advogado. O
Prof. Fernando Capez entende que a incomunicabilidade não foi recepcionada pela
nova ordem constitucional. O art. 21 do CPP foi revogado pela CF de 1988, pois e
m seu art. 136, § 3. , IV, proíbe a incomunicabilidade durante o estado de defes
a. Logo, se a CF proíbe o mais, também proíbe o menos. Em sentido contrário: o P
rof. Damásio de Jesus entende que a proibição está relacionada com crimes políti
cos ocorridos durante o estado de defesa. Predomina o entendimento de que o art.
21 do CPP é inconstitucional. Porém, nos concursos, devemos considerá-lo consti
tucional.
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1.11. Notitia Criminis
1.11.1. Conceito É o conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentem
ente delituoso pela autoridade policial.
1.11.2. Espécies

Notitia Criminis de cognição direta, imediata, espontânea: ocorre quando a autor
idade policial toma conhecimento direto da infração penal por meio de suas ativi
dades rotineiras. Ex.: policiamento, imprensa, pelo encontro do corpo de delito
ou até pela delação anônima. A delação anônima (apócrifa) é chamada de notitia c
riminis inqualificada;

Notitia Criminis de cognição indireta, mediata: quando a autoridade policial tom
a conhecimento por meio de alguma comunicação oficial. Também é chamada de notit
ia criminis de cognição provocada ou qualificada, quando a autoridade policial t
oma conhecimento do fato por requisição do MP ou autoridade policial. Sendo a co
municação feita por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do delito,
temos como exemplo a delactio crimini que é o requerimento feito pela vítima ou
por qualquer um do povo, contendo a narração do fato com todas as circunstâncias
, a individualização do suspeito e a indicação das provas. É subscrita pelo requ
erente (notitia criminis qualificada).
A delactio criminis se divide em:
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- simples: só comunica o fato; - postulatória: além de comunicar o fato, postula
providências.

Notitia Criminis de cognição coercitiva: ocorre com a prisão em flagrante, em qu
e a notícia ocorre com a apresentação do autor.
1.12. Início do Inquérito Policial 1.12.1. Nos crimes de ação pública incondicio
nada

de ofício, mediante portaria ou por despacho do Delegado de Polícia, que deverá
conter o esclarecimento das circunstâncias conhecidas e a capitulação legal da i
nfração. Necessário sempre para a instauração do inquérito policial, a existênci
a de justa causa.

por requisição do Juiz (art. 40 do CPP) ou Promotor de Justiça (art. 129, VIII,
da CF/88 e art. 5. , II, do CPP). A autoridade policial não pode se recusar a in
staurar o inquérito, pois a requisição tem natureza de determinação, de ordem, m
uito embora inexista subordinação hierárquica.

pela delactio criminis, quando a comunicação de um crime é feita pela vítima ou
qualquer um do povo. Caso a autoridade policial indefira a instauração de inquér
ito, caberá recurso ao Secretário de Estado dos Negócios da Segurança Pública ou
ao Delegado Geral de Polícia (art. 5. , § 2. , do CPP). A delactio criminis é m
era faculdade conferida ao cidadão de colaborar com a atividade repressiva do Es
tado. Contudo, há algumas pessoas que, em razão do seu cargo ou da sua função, e
stão obrigadas a notificar no desempenho de suas
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atividades (art. 66, I e II, da LCP; art. 45 da Lei n. 6.538/78; arts. 104 e 105
da Lei de Falências).
1.12.2. Nos crimes de ação pública condicionada

por representação do ofendido ou de seu representante legal. A representação é s
imples manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal, não há e
xigência formal para a sua elaboração.

requisição do Ministro da Justiça, que deve ser encaminhada ao chefe do MP, o qu
al poderá, desde logo, oferecer a denúncia ou requisitar diligências à polícia.
1.12.3. Nos crimes de ação privada Requerimento do ofendido, de seu representant
e legal ou sucessores, conforme disposto no art. 5. , § 5. , do CPP c.c. os arts
. 30 e 31 também do CPP. Para o Prof. Fernando Capez, o art. 35 do CPP não foi r
ecepcionado pela CF/88, tendo em vista o art. 226, § 5. , da CF/88, podendo a mu
lher casada requerer a instauração do inquérito policial independentemente de ou
torga marital. O art. 19 do CPP dispõe que, nos crime em que não couber ação púb
lica, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente.
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ULO III
Obs. 1: O inquérito policial também pode começar mediante auto de prisão em flag
rante nos três casos. Nos crimes de ação pública condicionada e de ação privada,
o ofendido deverá ratificar o flagrante até a entrega da nota de culpa (24h).
Obs. 2: A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não h
ouver justa causa. Porém, o desconhecimento da autoria ou a possibilidade do suj
eito ter agido sob a proteção de alguma excludente da ilicitude não impede a ins
tauração do inquérito.
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MÓDULO IV
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Inquérito Policial
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ULO IV
DIREITO PROCESSUAL PENAL Inquérito Policial
1. PROVIDÊNCIAS DA AUTORIDADE POLICIAL
O inquérito policial não tem um procedimento rígido, ou seja, uma seqüência imut
ável de atos. O art. 6. do CPP traz a seqüência (roteiro) pela qual normalmente
se procede.
1.1. Primeira Providência Dirigir-se ao local do crime e preservar o estado de c
oisas até a chegada da perícia. Qualquer alteração no estado de coisas pode comp
rometer as provas a serem produzidas. O art. 169 do CPP cuida da chamada perícia
de local (esta é a regra). Exceção: acidente automobilístico em que os veículos
devem ser deslocados com a finalidade de desobstruir a via pública (Lei n. 5.97
0/73).
1.2. Segunda Providência Apreender os objetos e instrumentos do crime após liber
ação pela perícia (art. 11 do CPP – instrumentos e objetos do crime apreendidos
serão anexados ao inquérito policial).
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Para essa apreensão, é necessária uma diligência denominada busca e apreensão, q
ue pode consistir em busca e apreensão domiciliar. Pode ser realizada em qualque
r dia, porém devem ser respeitadas as garantias de inviolabilidade domiciliar (a
rt. 5. , XI, da CF/88). À noite, só se pode entrar no domicílio alheio em quatro
situações:

a convite do morador; flagrante delito; para prestar socorro; em caso de desastr
e.



E durante o dia:

as quatro situações acima citadas; mediante prévia autorização judicial, corpori
ficada em instrumento denominado mandado de busca e apreensão.

Antes, a autoridade policial não precisava de autorização judicial, porém, mesmo
com esta, não podia entrar à noite. alterada. Não é mais possível sua aplicação
. Critério físico: dia é o período que medeia entre o romper da aurora e o crepú
sculo solar; entre o nascer e o pôr-do-sol; das 6 às 18h. Aplicava-se o art. 172
do CPC por analogia, contudo, em dezembro de 1994, esse artigo teve sua redação
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Domicílio (art. 150, § 4. , do CP) é qualquer compartimento habitado; aposento o
cupado por habitação coletiva; compartimento não aberto ao público, onde alguém
exerce profissão ou atividade. Ex.: quarto de hotel, motel. Escritório de advoga
do, na parte aberta ao público, não é domicílio, mas sua sala é. Balcão de bar é
domicílio, portanto, na análise da Lei n. 9.437/97, basta o registro de arma, e
não o porte. Automóvel não é domicílio. A busca pessoal é aquela feita na própr
ia pessoa. Independe de mandado, bastando a fundada suspeita. Pode ser realizada
a qualquer dia e a qualquer hora, salvo se a pessoa estiver em seu domicílio.
1.3. Terceira Providência Ouvir o ofendido e as testemunhas. Podem ser conduzido
s coercitivamente se o ofendido ou a testemunha desatenderem ao mandado (princíp
io da autoritariedade – art. 201, par. ún., do CPP). O ofendido e testemunha pod
em cometer crime de desobediência (art. 219 do CPP e art. 330 do CP). A testemun
ha tem o dever de falar a verdade, sob pena de crime de falso testemunho (art. 3
42 do CP). O ofendido, mesmo mentindo, não comete crime de falso testemunho. No
caso do representante do MP e do Magistrado como testemunhas, estes podem marcar
antecipadamente dia e hora para sua oitiva.
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ULO IV
1.4. Quarta Providência

Indiciamento: consiste na suspeita oficial acerca de alguém, ou seja, na imputaç
ão a alguém, em inquérito, da prática de ilícito penal, sempre que houver razoáv
eis indícios de sua autoria. “É o rascunho da denúncia” (Pitombo). É um ato abst
rato, um juízo de valor da autoridade policial que vai reconhecer alguém como pr
incipal suspeito. O ato seguinte é a identificação criminal.

Entendimento do STF: “Após a edição do texto constitucional promulgado em 5.10.1
988, o identificado civilmente não será submetido à identificação criminal, salv
o exceções que a lei ainda não fixou”.
1.5. Quinta Providência Reprodução simulada dos fatos (reconstituição). Há duas
limitações:

não pode atentar contra a moral e os bons costumes; não pode atentar contra o di
reito de defesa.

Se o indiciado, portanto, nega a autoria de um crime, ele não será obrigado a re
alizar a reconstituição ou realizá-la de forma diferente do que afirmou.
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ULO IV
1.6. Sexta Providência Encerramento do inquérito policial com o relatório, que é
a narração objetiva das diligências feitas pela autoridade. A autoridade soment
e pode fornecer a classificação jurídica do fato e essa classificação não vincul
a o MP.
2. INTERROGATÓRIO
2.1. Primeira Observação O interrogatório extrajudicial será assinado pelo Deleg
ado de Polícia, pelo escrivão, pelo indiciado e por duas testemunhas (testemunha
s instrumentárias: são aquelas que, em vez de deporem sobre os fatos, depõem sob
re a regularidade do procedimento. Espécies: testemunhas de leitura).
2.2. Segunda Observação O interrogatório extrajudicial tem valor probatório rela
tivo e só valerá se confirmado por outros elementos de prova.
2.3. Terceira Observação A CF consagrou o direito de silêncio ao indiciado. A au
toridade policial, portanto, deve informá-lo desse direito (art. 5. , LXIII, da
CF), não podendo mais adverti-lo de que seu silêncio poderá prejudicar sua própr
ia defesa, conforme art. 186 do CPP, já que este não foi recepcionado pela CF.
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ULO IV
2.4. Quarta Observação A autoridade policial não precisa intimar o defensor do i
ndiciado para acompanhar o ato, muito menos nomear um defensor.
2.5. Quinta Observação Embora tenha o direito de permanecer calado, o indiciado
deverá atender à intimação e comparecer ao ato. Cabe condução coercitiva do indi
ciado que não queira comparecer.
2.6. Sexta Observação Interrogatório do indiciado menor (dos 18 aos 21 anos), re
lativamente incapaz no CPP: a autoridade deverá nomear um curador. Se não nomear
curador no inquérito policial, nada acontecerá, pois esta é mera peça informati
va, cujos vícios não afetam a ação penal. Como sanção haverá a perda da credibil
idade do contraditório. No caso de prisão em flagrante, poderá haver relaxamento
por vício formal. Se o interrogatório for judicial, haverá nulidade (art. 564,
III, “c”, do CPP). A idade considerada é a do dia do interrogatório (tempus regi
t actum). O interrogatório extrajudicial tem valor probatório relativo e depende
de confirmação por prova produzida sob o crivo do contraditório. Qualquer pesso
a pode ser nomeada curador, que não necessita ser um advogado, bastando para tan
to ser maior e capaz. A jurisprudência faz, no entanto, uma restrição em relação
aos policiais, pois estes têm interesse na investigação.
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ULO IV
3. PRAZO PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
Deve ser encerrado no prazo de 30 dias a partir da instauração (recebimento da n
otitia criminis), se o indiciado estiver solto. Não terminado o inquérito no pra
zo de 30 dias, bastará que a autoridade policial requeira a prorrogação por mais
30 dias. Se o indiciado estiver preso, o prazo será de 10 dias, contados da dat
a da efetivação da prisão, e não se admitirá qualquer prorrogação. O prazo é de
Direito Processual (conta-se a partir do primeiro dia útil seguinte). O decurso
não acarretará a perda do direito de punir, apenas o relaxamento da prisão. A ju
risprudência tem entendido, no entanto, que, embora se trate de prazo processual
, como se cuida da restrição da liberdade, deve ser contado conforme o Direito P
enal (conta-se o dia do começo e excluise o do final). É um prazo processual que
se conta como penal. Obs.: Se o inquérito estiver tramitando perante a Justiça
Federal, o prazo será de 15 dias, prorrogável por mais 15 se o indiciado estiver
preso. Se o indiciado estiver solto, o prazo é de 30 dias, com a possibilidade
de prorrogação por mais 30 dias. No caso de crime previsto na Lei de Tóxicos, o
prazo para conclusão do inquérito com o indiciado preso será de 5 dias se o crim
e estiver previsto nos arts. 15, 16 e 17, e de 10 dias se previsto nos arts. 12,
13 e 14. No caso de crimes contra a economia popular, o prazo é de 10 dias, est
ando o indiciado preso ou não.
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ULO IV
4. ARQUIVAMENTO
Só pode ser determinado pelo Juiz se houver pedido do MP. Se o Juiz discordar do
pedido de arquivamento, ele aplicará o disposto no art. 28 do CPP, ou seja, rem
eterá os autos ao Procurador-Geral de Justiça, que pode:

designar outro Promotor de Justiça para oferecer a denúncia (princípio da indepe
ndência funcional). O Promotor de Justiça designado não pode recusar-se, pois qu
em está denunciando é o Procurador-Geral; e aquele estará apenas executando (tra
ta-se de delegação);

devolver os autos para diligências complementares; insistir no arquivamento. Nes
se caso, o Poder Judiciário não poderá discordar do arquivamento.

Arquivado o inquérito policial, não poderá ser promovida a ação privada subsidiá
ria da pública, nem recurso contra decisão que determinou o arquivamento. Isso p
orque, arquivado o inquérito, só poderá ser reaberto com novas provas (Súmula n.
524 do STF). O ofendido não pode iniciar a ação por meio de ação privada. Exceç
ões (recurso contra decisão de arquivamento):

em casos de crime contra a economia popular, caberá recurso de ofício;

em casos de jogo do bicho e mendicância, caberá recurso em sentido estrito.
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ULO IV
Se o tribunal der provimento a esses recursos, o inquérito policial será remetid
o ao Procurador-Geral de Justiça. Se o Promotor de Justiça requerer a devolução
dos autos à polícia para diligências complementares, o Juiz deverá, caso discord
e, aplicar, por analogia, o art. 28 do CPP, e não determinar a volta dos autos a
o Promotor de Justiça para promover a denúncia. Se assim fizer, caberá correição
parcial. Não existe arquivamento em ação privada, pois o pedido de arquivamento
feito pela vítima significa renúncia (extinção da punibilidade).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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DULO V
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. DA AÇÃO PENAL
1.1. Conceito Ação penal é o instrumento pelo qual o Estado busca, por intermédi
o de seu representante, a imposição de uma sanção para o acusado de ato praticad
o e tipificado como crime ou contravenção na legislação penal pátria.
1.2. Classificação Segundo o art. 100 do CP, que traça diretrizes básicas sobre
a classificação da ação penal, esta pode ser ação penal pública ou ação penal de
iniciativa privada.
1.2.1. Ação penal pública A ação penal pública tem como titular exclusivo (legit
imidade ativa) o MP (art. 129, I, da CF/88). Para identificação da matéria inclu
ída no rol de legitimidade exclusiva do MP, deve-se observar a lei penal. Se o a
rtigo ou as disposições finais do capítulo nada mencionar ou mencionar as expres
sões “somente se procede mediante representação” ou “somente se procede mediante
requisição do Ministro da Justiça”, somente o Órgão Ministerial poderá propor a
denúncia (peça inicial de toda a ação penal pública). Vale lembrar que, apesar
de a matéria constar no rol de legitimidade exclusiva do
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DULO V
MP, ante a sua inércia (MP não oferece a denúncia no prazo legal), pode o ofendi
do ou seu representante legal ingressar com ação penal de iniciativa privada sub
sidiária da pública (art. 5. , LIX, da CF/88). A ação penal pública subdivide-se
em ação penal pública incondicionada e ação penal pública condicionada.
a) Ação penal pública incondicionada O MP independe de qualquer condição para ag
ir. Quando o artigo de lei nada mencionar, trata-se de ação penal pública incond
icionada. É regra no Direito Penal brasileiro.
b) Ação penal pública condicionada Apesar de o MP ser o titular de tal ação (som
ente ele pode oferecer a denúncia), depende de certas condições de procedibilida
de para ingressar em juízo. Sem estas condições, o MP não pode oferecer a denúnc
ia. A condição exigida por lei pode ser a representação do ofendido ou a requisi
ção do Ministro da Justiça.

Representação do ofendido: Representação é a manifestação do ofendido ou de seu
representante legal, autorizando o MP a ingressar com a ação penal respectiva. S
e o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão “somente s
e procede mediante representação”, deve o ofendido ou seu representante legal re
presentar ao MP para que este possa ingressar em juízo. A representação não exig
e formalidades,
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DULO V
deve apenas expressar, de maneira inequívoca, a vontade da vítima de ver seu ofe
nsor processado. Pode ser dirigida ao MP, ao Juiz de Direito ou à autoridade pol
icial (art. 39 do CPP). Pode ser escrita (regra) ou oral, sendo que, neste caso,
deve ser reduzida a termo. A representação tem natureza jurídica de condição de
procedibilidade. A vítima (ou seu representante legal) tem o prazo de seis mese
s da data do conhecimento da autoria (e não do crime) para ofertar sua represent
ação (art. 38 do CPP). Tal prazo é contado da oferta da representação e não do i
ngresso do MP com a ação penal, podendo o MP oferecer a denúncia após os seis me
ses. Tal prazo não corre contra o menor de 18 anos, ou seja, após completar 18 a
nos, a vítima terá seis meses para representar ao MP. Em qualquer caso, tal praz
o é de direito material (segue as regras do art. 10 do CP – computa-se o dia do
começo e não se prorroga no último dia). Se a vítima for menor de 18 anos, somen
te seu representante legal pode oferecer a representação. Se maior de 18 e menor
de 21 anos, tanto ela como seu representante legal, com prazos independentes (S
úmula n. 594 do STF), podem oferecer a representação e, caso haja conflito entre
os interesses de ambos, prevalece a vontade de quem quer representar. Se houver
conflito entre o interesse do ofendido e o do seu representante legal, será nom
eado um curador especial, que verificará a possibilidade ou não da representação
. Segundo o art. 25 do CPP, pode o ofendido retratar-se (ou seja, desistir da re
presentação) até o oferecimento da denúncia.
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DULO V
Pode haver a retratação da retratação (a pessoa retira a representação e depois
a oferece de novo – sempre dentro dos seis meses da data do conhecimento da auto
ria). A representação não vincula (obriga) o MP a ingressar com a ação; o MP só
oferecerá a denúncia se vislumbrar a materialidade do crime e os indícios de aut
oria (poderá pedir o arquivamento do feito). A requisição é autorização para a p
ersecução penal de um fato e não de pessoas (eficácia objetiva).

Requisição do Ministro da Justiça: Requisição é o ato político e discricionário
pelo qual o Ministro da Justiça autoriza o MP a propor a ação penal pública nas
hipóteses legais. Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a
expressão “somente se procede mediante requisição do Ministro da Justiça”, para
que o MP possa oferecer a denúncia, é necessária a requisição do Ministro. Tem n
atureza jurídica de condição de procedibilidade e, como a representação, não vin
cula o MP a oferecer a denúncia (pode requerer o arquivamento). A requisição é a
utorização para a persecução penal de um fato e não de pessoas (eficácia objetiv
a). O Ministro da Justiça não tem prazo para oferecer a requisição, quer seja, p
ode oferecê-la a qualquer tempo (não se sujeita aos seis meses de prazo como na
representação). A lei silencia sobre a possibilidade de representação. Sobre o a
ssunto, a doutrina apresenta duas orientações:
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DULO V

segundo o Prof. Damásio de Jesus, entre outros, deve se aplicar a analogia à rep
resentação (art. 25 do CPP), sendo, portanto, possível a retratação;

segundo outra parte da doutrina, a requisição é irretratável, pois o art. 25 do
CPP não prevê tal possibilidade.
2. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA
2.1. Princípio da Oficialidade Somente o MP pode oferecer a denúncia (art. 129,
I, da CF/88). Esse princípio extinguiu o chamado procedimento judicialiforme, ta
mbém chamado de “jurisdição sem ação” (nas contravenções penais  art. 26 do CPP
; nas lesões corporais culposas e no homicídio culposo). Nesses casos, o Juiz, p
or meio de portaria, iniciava a ação penal (não havia denúncia por parte do MP).
2.2. Princípio da Obrigatoriedade O MP tem o dever, e não a faculdade, de ingres
sar com a ação penal pública, quando identificar a hipótese de atuação, ou seja,
se o MP concluir que houve um fato típico e ilícito. Como o Órgão Ministerial t
em o dever de ingressar com a ação penal pública, o pedido de arquivamento deve
ser motivado (art. 28 do CPP). Esse princípio foi mitigado (restrito) com a entr
ada em vigor da Lei n. 9.099/95 (arts. 74 e 76). Antes de oferecer a denúncia, o
MP pode oferecer a transação (um acordo) com o autor do fato (princípio da disc
ricionariedade regrada).
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DULO V
2.3. Princípio da Indisponibilidade da Ação Penal Pública Depois de proposta a a
ção, o MP não pode dela desistir (art. 42 do CPP). O art. 564, III, “d”, do CPP
prevê que o MP deve manifestar se sobre todos os termos da ação penal pública. T
ambém foi mitigado pela Lei n. 9.099/95 (somente em crimes de menor potencial of
ensivos e nas contravenções penais art. 89). O MP pode celebrar a transação com
o réu.
2.4. Princípio da Indivisibilidade O MP não pode escolher, dentre os indiciados,
qual vai processar. Decorre do princípio da obrigatoriedade.
2.5. Princípio da Intranscendência A ação penal não pode passar da pessoa do aut
or e do partícipe. Somente estes podem ser processados (não pode ser contra os p
ais ou representante legal do autor ou partícipe). Tanto a ação penal pública in
condicionada como a condicionada se norteiam por tais princípios. Quando se trat
ar, porém, de ação penal pública condicionada, deve ser observada a representaçã
o do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça (condições de procedibilida
de).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. AÇÃO PENAL PRIVADA
1.1. Conceito É a ação proposta pelo ofendido ou seu representante legal.
1.2. Substituição processual O Estado é o titular exclusivo do direito de punir.
Nas hipóteses de ação penal privada, ele transfere ao particular a iniciativa d
a ação penal, mas não o direito de punir. O ofendido, portanto, em nome próprio,
defende interesse alheio (legitimação extraordinária). Na ação penal pública, o
corre legitimação ordinária porque é o Estado soberano, por meio do MP, que movi
menta essa ação.
1.3. Espécies de Ação Penal Privada

Ação penal exclusivamente privada: é aquela proposta pelo ofendido ou seu repres
entante legal e, no caso de morte do ofendido, o direito de oferecer queixa ou p
rosseguir na ação passará ao cônjuge, ao ascendente, ao descendente ou ao irmão
(art. 31 do CPP).

Ação penal privada personalíssima: é aquela que só pode ser promovida única e ex
clusivamente pelo ofendido. Ex.: adultério (art. 240 do CP), induzimento a erro
essencial (art. 236 do CP).
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DULO VI

Ação penal privada subsidiária da pública: aquela proposta pelo ofendido ou por
seu representante legal na hipótese de inércia do MP em oferecer a denúncia.
1.4. Prazo Em regra, o prazo para o oferecimento da queixa é de 6 meses a partir
do conhecimento da autoria. Esse é um prazo decadencial, pois seu decurso leva
à extinção do direito de queixa. A decadência não extingue o direito de punir (o
que leva tal direito à extinção é a prescrição e não a decadência). A decadênci
a extingue o direito de ação (queixa) e o direito de representação. A decadência
é um prazo de direito material contado de acordo com o CP. O prazo decadencial
para o oferecimento da queixa interrompe se com o seu oferecimento, e não com o
seu recebimento. O recebimento interrompe a prescrição. O prazo decadencial não
se prorroga caso termine num domingo ou feriado. Inclui se o dia do começo e exc
lui se o do fim. No caso da ação privada subsidiária da pública, o prazo decaden
cial é de 6 meses também, contudo, conta se a partir do encerramento do prazo pa
ra oferecimento da denúncia. A decadência do direito de queixa subsidiária não e
xtingue a punibilidade, só extingue o direito de ação, portanto, o MP pode ofere
cer a denúncia a qualquer tempo. A ação privada subsidiária da pública conserva
sua parte pública.
1.5. Princípios da Ação Penal Privada 1.5.1. Princípio da conveniência ou oportu
nidade
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DULO VI
O ofendido tem a faculdade, não o dever de propor a ação penal.
1.5.2. Princípio da disponibilidade O ofendido pode desistir ou abandonar a ação
penal privada. O perdão do ofendido depende da aceitação da outra parte. A desi
stência com a aceitação do ofendido equivale ao perdão.
1.5.3. Princípio da indivisibilidade O ofendido é obrigado a incluir na queixa t
odos os ofensores. O ofendido não é obrigado a entrar com queixa, mas, se o fize
r, é obrigado a interpor contra todos (art. 48 do CPP). Ainda, segundo o princíp
io da indivisibilidade, a extinção da punibilidade alcança todos os querelados.
1.6. Denúncia e Queixa 1.6.1. Requisitos da denúncia

Endereçamento
da
denúncia:
o
endereçamento
equivocado
caracteriza mera irregularidade. O que causa nulidade não é o endereçamento erra
do, mas sim o Juiz incompetente remeter ao Juiz competente antes de recebê la.

Descrição completa dos fatos: todas as circunstâncias. Mais importante, pois, no
processo penal, é o réu se defenderdos fatos, sendo irrelevante a classificação
jurídica destes. O que limita a sentença são os fatos. A narração incompleta do
s mesmos pode ou
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DULO VI
não acarretar a nulidade da denúncia. Só haverá nulidade se a deficiência inviab
ilizar o exercício do direito de defesa. Na hipótese de concurso de agentes (co 
autoria e participação), é necessária a descrição da conduta de cada um. Exceçõe
s:

crimes de autoria coletiva (praticados por multidão); delitos societários (diret
ores se escondem atrás da pessoa jurídica).


Classificação jurídica dos fatos: não é essencial, pois o réu se defende dos fat
os e não da acusação jurídica (juria novit curia – o Juiz conhece o direito). Ar
t. 383 do CPP – emendatio libeli: corrigir a acusação. O Juiz não pode receber a
denúncia e, nesse momento, dar uma classificação jurídica diversa, porque a fas
e correta para isso é a sentença; o recebimento é uma decisão de mera prelibação
, sem o exame aprofundado da prova; não há prova produzida pelo crivo do contrad
itório. O recebimento com classificação diversa é recebimento parcial e, portant
o, dele cabe recurso.

Qualificação do denunciado: individualizar quem está sendo acusado. Não havendo
dados para a qualificação do acusado, a denúncia deverá oferecer seus dados físi
cos (traços característicos), desde que possível sua caracterização.

Rol de testemunhas: a denúncia é o momento oportuno para se arrolarem testemunha
s, sob pena de preclusão. Perdida essa oportunidade, dependerá de consentimento
do Juiz.

Pedido de condenação: não se exige formula sacramental (“peço a condenação”), ba
sta que fique implícita essa vontade. A falta acarreta mera irregularidade.
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DULO VI

Nome, cargo e posição funcional: só haverá nulidade quando essa falta inviabiliz
ar por completo a identificação da autoria da denúncia.

Assinatura.
Denúncia alternativa é a descrição alternativa de fatos, de maneira que, não com
provado o primeiro fato, pede se a condenação do segundo subsidiariamente (princ
ípio da eventualidade). A denúncia alternativa é inepta, pois inviabiliza o dire
ito de defesa. Segundo a Súmula n. 1 das mesas de Processo Penal da USP, a denún
cia alternativa não deve ser aceita.
1.6.2. Requisitos da queixa São os mesmos requisitos da denúncia, acrescidos do
art. 44 do CPP. Na procuração, devem constar o fato criminoso e o autor, caso co
ntrário o advogado estará cometendo um crime.
1.7. Causas de Rejeição da Denúncia ou Queixa 1.7.1. Quando o fato narrado evide
ntemente não constituir crime O Juiz só rejeitará a denúncia quando da leitura d
o fato concluir que este é atípico ou que está acobertado com causa de exclusão
de ilicitude. Nesse caso, falta uma condição da ação. Há uma verdadeira impossib
ilidade jurídica do pedido. O art. 43, I, do CPP faz coisa julgada material (não
pode ser oferecida a denúncia de novo).
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DULO VI
1.7.2. Quando já estiver extinta a punibilidade do agente Falta uma condição da
ação, que é o interesse de agir. Faz coisa julgada material (art. 43, II, do CPP
).
1.7.3. Ilegitimidade de parte Implica rejeição in limine (art. 43, III, do CPP).
1.7.4. Quando faltar condição de procedibilidade Ex.: entra com denúncia sem rep
resentação (art. 43, III, 2. parte, do CPP).
1.7.5. Quando faltar justa causa para a denúncia É preciso um mínimo de lastro p
robatório (art. 648, I, do CPP).
1.8. Renúncia É a abdicação do direito de oferecer queixa ou representação. Só s
erá possível renunciar a uma ação penal privada ou a uma ação penal pública cond
icionada, tendo em vista que o MP jamais poderá renunciar qualquer ação pública.
A renúncia é unilateral, ou seja, não depende da aceitação do réu, sendo causa
extintiva da punibilidade. A renúncia, no entanto, é extraprocessual, ou seja, s
ó poderá existir renúncia antes da propositura da ação.
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DULO VI
Existem duas formas de renúncia:

expressa: quando houver uma declaração assinada pela vítima; tácita: quando a ví
tima praticar ato incompatível com a vontade de processar (ex.: o casamento da v
ítima com o agressor).

A renúncia concedida a um réu estende se a todos, ou seja, quando houver vários
réus, caso haja renúncia a um deles, haverá, obrigatoriamente, renuncia a todos.
No caso de dupla titularidade, a renúncia de um não significa a renúncia do out
ro. Não se deve confundir renúncia com desistência, tendo em vista que aquela oc
orre antes da propositura da ação e esta depois da propositura da ação. A única
situação de desistência da ação está prevista no art. 522 do CPP.
1.9. Perdão do Ofendido Só será possível na ação penal privada, tendo em vista q
ue o MP jamais poderá perdoar o ofendido. O perdão obsta o prosseguimento da açã
o, causando a extinção da punibilidade. Só haverá o perdão após o início da ação
, pois, tecnicamente, o perdão antes da ação seria a renúncia. O limite para ser
dado o perdão é o trânsito em julgado final. Existem duas formas de perdão:

expresso: quando houver uma declaração assinada pelo querelante; tácito: quando
o querelante praticar ato incompatível com a vontade de processar.
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O perdão é bilateral, ou seja, dependerá sempre da aceitação do querelado. Caso
não haja aceitação, o processo prosseguirá. A aceitação do réu poderá ser:

expressa: quando houver uma declaração assinada pelo querelado; tácita: se o que
relado não se manifestar em três dias.

O perdão concedido a um co réu estende se a todos, entretanto, se algum dos co r
éus não o aceitar, o processo seguirá para ele. É possível o perdão parcial (p.
ex.: perdoar por um crime e não perdoar por outro), sendo uma posição doutrinári
a sem previsão legal. No caso de dupla titularidade, o perdão concedido por um,
havendo oposição do outro, não produzirá efeitos.
1.10. Perempção Significa a “morte” da ação penal privada em razão da negligênci
a do querelante. São hipóteses de perempção:

quando o querelante deixa de promover o andamento do processo por 30 dias seguid
os, a perempção é automática;

quando morre o querelante e nenhum sucessor aparece para dar prosseguimento à aç
ão. O sucessor terá 60 dias para dar seguimento ao processo;

quando o querelante deixa de comparecer a ato em que deveria
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DULO VI
pessoalmente estar presente;

quando o querelante deixa de pedir a condenação do querelado nas alegações finai
s;

quando o querelante é pessoa jurídica que se extingue sem deixar sucessor;

quando morre o querelante na ação penal privada personalíssima.
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MÓDULO VII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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DULO VII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. AÇÃO CIVIL EX DELICTO
Ação Civil ex delicto é a ação cível que pode ser proposta pelo ofendido, seu re
presentante legal ou seus herdeiros em razão da ocorrência de um delito. Sua fin
alidade é a obtenção da reparação do dano. Está disposta nos arts. 63 a 67 do CP
P. É proposta no juízo cível contra o autor do crime ou seu responsável civil. D
ispõe o par. ún. do art. 64 do CPP, in verbis: “Intentada a ação penal, o Juiz d
a ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela
”. Se a ação penal, portanto, ainda estiver em curso, a vítima poderá entrar com
a ação civil no juízo cível para requerer a indenização. Como poderá ocorrer, n
o entanto, o conflito de decisões, o Juiz da ação civil poderá suspender o curso
dessa ação até julgamento final da ação penal. Em regra, a absolvição do réu no
juízo criminal não impede a ação civil de indenização, que poderá ser proposta
quando não tiver sido categoricamente reconhecida a inexistência material do fat
o. Também não impedirão a propositura da ação civil:

o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; a decisão qu
e julgar extinta a punibilidade; a sentença absolutória que decidir que o fato i
mputado não constitui crime.
1/2


_____________________________________________________________________________ MÓ
DULO VII
Não cabe ação civil:

quando o Juiz criminal reconhecer a inexistência do fato; quando o Juiz criminal
reconhecer que o sujeito não participou do fato;


quando o Juiz criminal reconhecer uma causa excludente da antijuricidade (legíti
ma defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito ou estrito cumpri
mento do dever legal). Nesta hipótese, entretanto, pode haver exceção em que cai
ba ação civil nos casos previstos nos arts. 1.519 e 1.520 do CC (estado de neces
sidade agressivo quando há ofensa a um inocente) e no art. 1.540 do CC (legítima
defesa real com aberratio ictus, ou seja, erro de alvo cometido pelo agente do
crime).
1.2. Execução Civil A sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, pode
rá ser executada no juízo cível, mas como o Juiz criminal não fixa o quantum, é
necessário que se faça a liquidação da sentença. Quando o titular do direito à r
eparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1. e 2. , do CPP), a execução da senten
ça condenatória (art. 63 do CPP) ou a ação civil (art. 64 do CPP) será promovida
, a seu requerimento, pelo MP.
2/2
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO VIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Jurisdição e Competência
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LO VIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL Jurisdição e Competência
1. PRINCÍPIOS GERAIS DA JURISDIÇÃO
Jurisdição é a função por meio da qual o Estado Juiz aplica o Direito ao caso co
ncreto. Características:

Inércia: a jurisdição não age de ofício, depende de provocação das partes, pois,
caso contrário, sua imparcialidade ficaria abalada, ne procedat iudex ex oficio
.

Indelegabilidade: a jurisdição não pode ser delegada a nenhum outro órgão. O Jud
iciário é um Poder Constituído, que recebeu sua função do Poder Constituinte, pr
evisto na CF/88. “Não se pode delegar o que se recebeu por delegação”, dellegatu
r dellegare non potest.

Investidura: apenas aquele legalmente investido no exercício da função jurisdici
onal é que pode exercê la.

Inevitabilidade: consiste em sujeição do réu ao processo e sujeição de ambas as
partes à decisão.

Inafastabilidade ou indeclinabilidade: a lei não pode excluir a apreciação de le
são ao Direito. O legislador não pode produzir leis restringindo o acesso ao Jud
iciário e o próprio Judiciário não pode
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LO VIII
deixar de julgar, não pode declinar de sua função. Está expresso na CF/88 no art
. 5. , inc. XXXV.

Aderência ao território: a jurisdição é reflexo do poder soberano do Estado, atu
a dentro do território nacional. Para a jurisdição atuar em outro país, é precis
o que o outro país a aceite. Ex.: carta rogatória.
1.1. Competência Competência é a medida da jurisdição, é a quantidade de jurisdi
ção cujo exercício é atribuído por lei a um órgão ou grupo de órgãos. Os arts. 6
9 e ss. do CPP estabelecem os critérios de competência. São eles: I – o lugar da
infração; II – o domicílio ou residência do réu; III – a natureza da infração;
IV – a distribuição; V – a conexão ou continência; VI – a prevenção; VII – a pre
rrogativa de função. Obs.: a conexão e a continência não são critérios de fixaçã
o de competência, são critérios de modificação de competência.
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LO VIII
1.2. Determinação da Competência – Foro Competente Foro é o território dentro do
qual determinado
 órgão judicial exerce
 sua parcela de jurisdição. Âmbito Estadu

al – 1. instância – comarca e 2. instância – TJ/TACrim. Âmbito Federal – 1. i
nstância – seção ou subseção judiciária e 2. instância – TRF.
1.2.1.Competência pelo lugar da infração (art. 69, I, do CPP) Usa se como regra,
para fixar a competência, o lugar da infração. O CPP, no art. 70, utilizou o lo
cal onde ocorreu a consumação ou, no caso de tentativa, o lugar em que foi prati
cado o último ato de execução. O domicílio do réu é um critério subsidiário que
só será utilizado se for impossível determinar o lugar da infração. Atenção! Não
confundir: Art. 4. do CP – Tempo do crime, teoria da atividade – considera se
praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado. Importante para identificar a lei penal aplicável ao caso, a idade
do agente ao tempo da infração etc. Art. 6. do CP – Lugar do crime, teoria da
ubiqüidade – considera se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou om
issão, bem como onde se produziu ou deveria produzir se o resultado. Importante
para identificar se a lei penal brasileira será aplicada ao fato criminoso. Se a
ação ou o resultado ocorreram aqui no Brasil, a lei penal pátria será aplicada.
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LO VIII
Art. 70 do CPP – Lugar do crime para a fixação da competência, teoria do resulta
do, o local da consumação será o foro competente para iniciar a ação penal.
1.2.2. Casos especiais
a) Estelionato mediante a emissão de cheque sem fundo (art. 171, § 2. , VI, do C
P) O crime se consuma quando o banco sacado recusa o pagamento. O foro competent
e será o do banco sacado que recusou o pagamento do cheque. É esse o entendiment
o das Súmulas n. 521 do STF e n. 244 do STJ (1.2.2001).
b) Estelionato (art. 171, caput, CP) Foro competente: local do prejuízo. Ex.: Ad
onilza encontra uma folha de cheque na rua, vai até uma loja e faz uma compra, f
azendo se passar por titular do cheque, o lojista enganado entrega a mercadoria.
O foro competente para a ação penal será o do local do prejuízo – Súmula n. 48
do STJ.
c) Crimes qualificados pelo resultado (Ex.: art. 129, § 2. , V, lesão corporal q
ualificada pelo resultado aborto) O local da consumação do resultado agravador s
erá o foro competente para a propositura da ação penal.
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LO VIII
d) Falso testemunho praticado mediante precatória O foro competente será o Juízo
deprecado. O local onde ocorreu a oitiva da testemunha será o competente.e) Hom
icídio doloso consumado A jurisprudência entende que o foro competente será o do
local da ação e não do resultado, pois, dessa forma, o réu será julgado pelos s
eus pares, além de facilitar a produção de provas, já que as testemunhas que não
residem na mesma comarca onde se processa a ação não têm obrigação de comparece
r.
f) Crime de extorsão mediante seqüestro Crime permanente, sua fase consumativa s
e prolonga no tempo. Está consumado o crime com a privação da liberdade por temp
o juridicamente relevante. Ex.: um empresário seqüestrado em São Paulo é levado
para cativeiro em Campinas, depois o cativeiro é mudado para Americana. A consum
ação desse crime ocorreu em todos esse lugares. A competência, nesse caso, fixa 
se pela prevenção .
g) Crime que se consuma na divisa entre duas cidades O foro competente será qual
quer uma das cidades; fixa se pela prevenção.
h) Tentativa O foro competente será o do último lugar da execução, onde ocorreu
o último ato.
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LO VIII
i) Crimes a distância, iter criminis ocorre entre dois países Ex.: execução no B
rasil e consumação em outro país, ou execução em outro país e consumação no Bras
il. Foro competente será o lugar do último ato de execução ou o lugar onde o cri
me se consumou ou deveria ocorrer a consumação. Ex. 1: terrorista envia carta bo
mba da Argentina para explodir em São Paulo, sendo que a explosão não vem a acon
tecer. O foro competente para propor a ação será São Paulo. Ex. 2: brasileiro ma
ta empresário em Nova York. A execução e a consumação do crime ocorreram no exte
rior, entretanto será julgado pelas leis brasileiras em razão da extraterritoria
lidade da lei penal. O foro competente para processar a ação será a Capital do E
stado do último domicílio do réu. Se o réu nunca teve domicílio no Brasil, será
processada a ação no DF.
j) Crime praticado a bordo de embarcação Embarcação nacional pública: em qualque
r lugar que esteja e ocorrer o crime, este será julgado perante as leis pátrias.
Se a embarcação for nacional privada, quando se encontrar no mar territorial ou
em alto mar, os crimes a bordo ocorridos serão julgados pela lei nacional. O fo
ro competente para propor a ação será o local do porto nacional onde ocorreu o p
rimeiro atracamento após o crime ou o porto de onde a embarcação saiu do Brasil
para o exterior. Para os crimes cometidos a bordo de aeronave, utiliza se a mesm
a regra da embarcação, sendo que o foro competente para propor a ação será o loc
al do aeroporto onde ocorreu o primeiro pouso após o crime ou o aeroporto de ond
e saiu a aeronave antes do crime.
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LO VIII
l) Crimes de competência da Lei n. 9.099/95 A doutrina
 diverge quanto ao foro co
mpetente para processar a ação. 1. corrente: Prof . Ada Pellegrini
 Grinover – f
oro competente será o local da ação, teoria da atividade. 2. corrente: Prof. Mi
rabete – foro competente será o local da ação ou do resultado, teoria da ubiqüid
ade. 3. corrente: Prof. Tourinho – foro competente será o local do resultado, t
eoria do resultado. Como a competência é relativa, pode se usar qualquer uma del
as.
1.2.3. Domicílio ou residência – critério subsidiário Conforme o art. 72 do CPP,
não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular se á pelo domicí
lio ou residência do réu. Ex.: uma passageira de um ônibus que fazia o percurso
São Paulo/Bahia, ao desembarcar, percebe que teve sua carteira furtada. O ônibus
esteve o tempo todo em trânsito, não há como precisar o local da infração. A aç
ão será proposta no local do domicílio ou residência do réu. Se o réu tiver mais
de um domicílio, conforme o art. 72, § 1. , do CPP, a competência firmar se á p
ela prevenção, e caso o réu não tenha domicílio certo, ou seja ignorado seu para
deiro, será competente o Juiz que primeiro tomou conhecimento do fato. Na ação p
enal privada, o ofendido poderá preferir o foro do domicílio ou residência do ré
u, mesmo quando conhecido o lugar da infração. O critério é optativo, de acordo
com o art. 73 do CPP.
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LO VIII
1.3. Natureza da Infração Conforme a natureza do delito, a ação será julgada por
uma determinada justiça competente. Organização da Justiça Penal:

Especial – Eleitoral (art. 121 da CF/88) e Militar (art. 124 da CF/88). Comum –
Federal e Estadual (a Justiça Estadual também é conhecida como residual; para el
a resta o que não for da competência das Justiças Eleitoral, Militar e Federal).

1.3.1. Justiça Eleitoral

STF (Brasília) Tribunal Superior Eleitoral (Brasília) Tribunal Regional Eleitora
l (capital do Estado) Juiz Eleitoral (Juízes de Direito da Justiça Estadual)



Tem competência para julgar:

crimes eleitorais definidos no Código Eleitoral; crimes eleitorais previstos nas
leis extravagantes.

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LO VIII
1.3.2. Justiça Militar

 
Superior Tribunal Militar (Brasília – 2. instância) e Auditorias Militares (1.
instância).

Estadual: Tribunal de Justiça
 Militar ou Tribunal de Justiça (para
 os Estados qu
e não possuem TJM – 2. instância) e Auditorias Militares (1. instância).
Serão Julgados pela Justiça Militar Federal:

civis que pratiquem crime definido como militar; integrantes das forças armadas
(Exército, Marinha e Aeronáutica) que pratiquem crime definido como militar.

Serão julgados pela Justiça Militar Estadual (art. 125, § 4. , da CF/88): os pol
iciais militares e os bombeiros militares, nos crimes definidos em lei como mili
tares. Súmula n. 53 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar
civil acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais”. Cri
mes Militares:

Propriamente militar ou próprio – aqueles definidos no Código Penal Militar (Dec
. lei n. 1.001/69), sem equivalente na justiça penal comum. Ex.: motim, dormir e
m serviço, insubordinação.

Impropriamente militar ou impróprio – aqueles crimes definidos na legislação mil
itar com equivalente na lei penal comum. Ex.: estupro,
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LO VIII
roubo, furto. Se o crime for praticado pelo militar em serviço, será utilizado o
CPM, se o militar não estiver em serviço, será utilizado o CP.
A Lei n. 9.299/96 alterou a competência da Justiça Militar. Alguns crimes que er
am da Justiça Militar passaram para a competência da Justiça Comum. Antes dessa
lei, os crimes praticados por militar fora do serviço, mas com arma da corporaçã
o, eram definidos como crimes militares; agora, se o militar estiver fora do ser
viço, com ou sem a arma da corporação, será julgado pela Justiça Comum Estadual.
Os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil durante o s
erviço também passaram a ser da competência da Justiça Comum, julgados pelo Trib
unal do Júri. Se o militar em serviço pratica crime definido apenas no CP, será
julgado pela Justiça Comum. Ex.: abuso de autoridade – Lei n. 4.898/65. Súmula n
. 6 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorren
te de acidentes de trânsito envolvendo viatura militar, salvo se autor e vítima
forem policiais militares em situação de atividade”. Súmula n. 75 do STJ: “Compe
te à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar acusado de fac
ilitação de fuga de preso em estabelecimento penitenciário”. Súmula n. 78 do STJ
: “O policial militar será julgado pela Justiça Militar Estadual de seu Estado,
ainda que o crime seja praticado em outro Estado”.
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LO VIII
1.3.3. Justiça Federal Compete à Justiça Federal processar e julgar os casos pre
vistos no art. 109 da CF/88. O art. 109, IV, da CF/88 trata das infrações penais
praticadas em detrimento de bens ou interesses da União. Conforme a Súmula n. 3
8 do STJ, as contravenções praticadas em detrimento de bens ou interesses da Uni
ão serão julgadas pela Justiça Comum Estadual. Crimes praticados contra funcioná
rio público federal, quando relacionados com o exercício da função, são julgados
pela Justiça Federal, conforme a Súmula n. 147 do STJ. Os crimes de tráfico de
entorpecentes e de crianças, se internacionais, serão da competência da Justiça
Federal; se internos, a competência é da Justiça Comum. Também compete à Justiça
Federal processar e julgar os crimes a distância previstos em tratado ou conven
ção internacional e os crimes praticados a bordo de navio ou aeronave (Atenção!
Não é o foro competente, mas a Justiça competente). As embarcações de pequeno po
rte são de competência da Justiça Comum.
1.3.4. Observações finais A natureza da infração, portanto, serve para fixar a c
ompetência. Existindo mais de um Juízo igualmente competente, a competência será
determinada pela prevenção ou pela distribuição. Ocorre a prevenção quando um J
uízo, antecipando se aos demais, pratica algum ato processual ou medida relativa
ao processo. Ex.: decretação de prisão preventiva, determinação de busca e apre
ensão. Não havendo a prevenção, usa se a distribuição, que é o sorteio da ação p
erante os Juízes competentes, determinando qual atuará no processo.
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MÓDULO IX
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LO IX
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
1.1. Conexão e Continência A conexão e a continência (art. 69, inc. V, do CPP) s
ão critérios de modificação da competência e não de fixação. O art. 76 do CPP es
tabelece quando a competência será determinada pela conexão. Haverá conexão quan
do existir um liame subjetivo (entre as pessoas) ou objetivo (entre os delitos)
unindo duas ou mais infrações penais. Nesse caso, as ações serão reunidas e julg
adas em conjunto, simultaneus processus. A conexão pode ser:

Art. 76, inc. I, do CPP – intersubjetiva – quando as infrações houverem sido pra
ticadas: – ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas; – por várias pessoas em
concurso, embora diverso o tempo e o lugar; – por várias pessoas, umas contra as
outras (reciprocidade).

Art. 76, inc. II, do CPP – objetiva – quando as infrações houverem sido praticad
as: – para facilitar ou ocultar outras;
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LO IX
– para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas.
A conexão objetiva conseqüencial compreende os casos acima descritos, e a conexã
o objetiva teleológica é aquela que ocorre quando um crime é praticado para faci
litar ou assegurar a execução de outro crime.

Art. 76, inc. III, do CPP – instrumental ou probatória: – quando a prova de uma
infração ou qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outr
a infração; tem fins probatórios.
O art. 77 do CPP estabelece quando a competência será determinada pela continênc
ia.
A continência pode ser:

Art. 77, inc. I, do CPP – subjetiva – quando duas ou mais pessoas forem acusadas
pela mesma infração, configurando se concurso de agentes. Atenção! – na conexão
intersubjetiva são duas infrações, na continência subjetiva há apenas uma infra
ção.


Art. 77, inc. II, do CPP – objetiva – nos casos dos artigos: – art. 70, 1. part
e, do CP – concurso formal; – art. 73, parte final, do CP – aberratio ictus (err
o na execução);
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LO IX
– art. 74, parte final, do CP – aberratio criminis (resultado diverso do pretend
ido).
O art. 78 do CPP determina qual o foro prevalente em caso de conexão e continênc
ia: I – Competência do Júri e de outro órgão da jurisdição comum: prevalecerá a
competência do Júri. Obs.: se o crime for eleitoral e doloso contra a vida, os p
rocessos serão julgados separadamente, não haverá a reunião de processos, pois a
competência de ambos é fixada na CF/88. II – Concurso de jurisdições de mesma c
ategoria:

prepondera o local da infração à qual for cominada pena mais grave (reclusão > d
etenção > prisão simples. Se a pena máxima for igual, usa se a que tem a maior p
ena mínima);

sendo iguais as penas, prevalece o local onde foi praticado o maior número de cr
imes;

se nenhum desses casos fixar a competência, utiliza se o critério da prevenção (
ver módulo VIII, item 1.3.4).
III – Concurso entre jurisdições diversas: prevalece a mais graduada. Ex.: TJ e
Juiz singular – prevalece o TJ. Se a conexão for entre crime de competência da J
ustiça Estadual e da Justiça Federal, para o Prof. TOURINHO são jurisdições de m
esma categoria; para a jurisprudência, a Justiça Federal é especial em relação à
Justiça Estadual. A Súmula n. 122 do STJ decidiu a questão, determinando que: “
Compete à Justiça Federal o processo e
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LO IX
julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não s
e aplicando a regra do art. 78, inc. II, ‘a’, do CPP”. IV – Concurso entre Juris
dição Comum e Jurisdição Especial (Militar e Eleitoral): prevalecerá a Especial.
Não serão reunidos os processos para julgamento em conjunto nos casos do art. 79
do CPP: I – concurso entre jurisdição comum e militar – Súmula n. 90 do STJ – “
Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela pr
ática de crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele”
. II – concurso entre Justiça Comum e Justiça da Infância e Juventude. § 1. Sup
erveniência de doença mental a um dos co réus; § 2. Co réu revel que não possa
ser julgado à revelia (infração inafiançável, não comparece no Tribunal do Júri,
citação por edital) e na cisão do julgamento durante a sessão plenária do Júri
(art. 461 do CPP).
O art. 80 do CPP determina os casos em que a separação dos processos é facultati
va, apesar da conexão e continência:

se as várias infrações forem praticadas em diferentes condições de tempo e lugar
;

se excessivo o número de acusados ou para evitar o prolongamento do tempo de pri
são provisória;
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LO IX

se, por outro motivo relevante, o juiz julgar conveniente a separação (o juiz te
m discricionariedade para determinar isso).
1.2. Perpetuação da Competência (Perpetuatio Jurisdicionis – art. 81 do CPP) A v
is atractiva, efeito principal da conexão e continência, desloca para a competên
cia de um mesmo julgador os crimes conexos aos de sua competência. Se o juiz ou
o Tribunal absolver ou desclassificar o crime de sua competência, continuará com
petente para o julgamento das demais infrações. Ex.: concurso de agentes – juiz
e escrivão cometem crime de furto. Os dois serão julgados pelo TJ – vis atractiv
a. Se o juiz for absolvido, o escrivão continua a ser julgado pelo TJ. Exceção:
no Júri, se o juiz desclassificar, impronunciar ou absolver o acusado, de maneir
a que exclua a competência do Júri, remeterá o processo ao juiz competente (art.
81, par. ún., do CPP). Os crimes conexos ao do Tribunal do Júri, não dolosos co
ntra a vida, serão julgados pelo Juiz Presidente e não pelos jurados (posição pr
edominante da jurisprudência).
1.3. Art. 82, CPP – Avocação de Processos Se, mesmo ocorrendo conexão ou continê
ncia, foram instaurados vários processos, a autoridade prevalente deve avocar pa
ra si os processos que corram perante outros juízes, se ainda não foram julgados
em sentença definitiva. Se já houver sentença definitiva, isto é, julgamento de
mérito, a
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LO IX
unificação dos processos se dará posteriormente, na execução, para efeitos de so
ma ou unificação das penas.
1.4. Art. 83, CPP – Prevenção Concorrendo dois juízes, igualmente competentes, f
ixa se a competência pela prevenção. Ocorre a prevenção quando um dos juízes ant
eceder aos outros na prática de algum ato do processo ou medida referente a esse
, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou queixa.
1.5. Art. 84, CPP – Prerrogativa de Função A competência pela prerrogativa de fu
nção é do STF e dos Tribunais de Justiça, relativamente às pessoas que devam, pe
rante eles, responder por crime comum ou de responsabilidade. O foro por prerrog
ativa de função não é privilégio pessoal, mas sim em razão da função que exerce.
Extinguindo se a função, extingue se a prerrogativa. A razão da prerrogativa de
função é garantir a sociedade de eventual parcialidade do julgador, que estaria
vulnerável a eventuais pressões. A Lei n. 8.038/90 dispõe sobre o procedimento
para os processos perante o STJ e STF. Antes de receber a denúncia ou a queixa,
o Tribunal deve notificar a autoridade para apresentar, em 15 dias, a defesa pre
liminar. É oportunidade de defesa para a autoridade. O Tribunal pode, além de re
ceber ou rejeitar a inicial, julgar improcedente a acusação. Não é possível inte
rposição de recurso visando ao reexame de prova.
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LO IX
Fases do procedimento no Tribunal: 1) oferecimento da denúncia ou queixa; 2) def
esa preliminar; 3) recebimento da denúncia ou queixa, com fundamentação; 4) cita
ção; 5) interrogatório; 6) depoimento; 7) audiência de instrução; 8) diligências
; 9) alegações finais; 10) sentença. Se a infração for cometida:

Por quem tem prerrogativa de função (ex.: prefeito) e uma pessoa sem qualquer pr
errogativa, ambos serão julgados pelo TJ, pela continência.

Por duas pessoas que têm prerrogativa de função, p. ex., prefeito (TJ) e senador
(STF). São competências fixadas pela CF/88, não podendo ser reunidas para o jul
gamento em conjunto, pois a continência prevista no CPP é infraconstitucional; o
correrá, portanto, a disjunção.
A competência para oferecer a denúncia é do Procurador Geral da República (PGR),
quando for competente o STF, e do Procurador Geral da Justiça (PGJ), quando for
competente o TJ. Se um agente com prerrogativa de função comete crime doloso co
ntra a vida, terá dois foros estabelecidos na CF/88. Prevalece o da prerrogativa
de função, pela especialidade. Se for prerrogativa de função estabelecida em Le
i Ordinária, prevalece o Júri, que é previsto na Constituição. A Constituição Es
tadual fixa que a competência para julgar o ViceGovernador será do TJ. Se Vice G
overnador comete crime doloso contra a vida (competência prevista na CF/88), qua
l competência prevalece? Há duas posições:

prevalece a competência do Júri, conforme previsto na CF/88;
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LO IX

o STF entende que há um paralelismo entre a regra fixada na Constituição Estadua
l e na Constituição Federal. A CF/88 prevê para o Vice Presidente a competência
do STF, logo, para o Vice Governador a competência é do TJ.
Vice Presidente – STF – autoridade federal. Vice Governador – TJ – autoridade es
tadual.
Importante: A prerrogativa de função vigora enquanto durar o exercício do cargo
ou de função, independentemente do momento em que foi praticado o delito. Ex. 1:
uma pessoa pratica um crime, o processo se inicia perante juiz comum. O infrato
r, então, é eleito deputado federal. O processo, já em andamento, será remetido
para o STF. Se o processo não alcança seu fim e acaba o mandato, retorna para o
juiz comum. Ex. 2: se um deputado federal, durante o exercício do mandato, comet
e um crime, será julgado pelo STF. Se o processo não alcança seu fim e o mandato
acaba, será remetido para o juiz comum. Ainda que o crime seja praticado em out
ra unidade da Federação, a competência continua sendo a do Tribunal que tem comp
etência para julgá lo.
1.6. Tribunal Competente para Julgar Crimes Comuns O STF tem competência para ju
lgar em todas as infrações penais (crimes e contravenções) e em crimes eleitorai
s:
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LO IX

Presidente e Vice Presidente da República; Ministros de Estado; Ministros de Tri
bunais Superiores e Tribunal de Contas da União; Comandantes da Marinha, Exércit
o e Aeronáutica; Parlamentares federais; Agentes diplomáticos; Procurador Geral
da República.






O Advogado Geral da União não está relacionado no art. 102 da CF/88, mas a doutr
ina entende que seu cargo tem a mesma hierarquia dos Ministros de Estado, portan
to, também deve ser julgado pelo STF. Hoje, Medida Provisória já decidiu que tem
foro especial.
O STJ tem competência para julgar em todas as infrações penais, salvo nos crimes
eleitorais (nesse caso, cabe ao TSE apreciar a questão):

Governador; Desembargadores; Membros do TRF, TRE e TRT, TSE, Tribunal de Contas
do Estado, Tribunal de Contas do Município, MP da União que oficiem perante Trib
unais.


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LO IX
O TRF tem competência para julgar em todas as infrações penais, salvo nos crimes
eleitorais:

Juízes federais da área de sua jurisdição; Juízes do Trabalho; Juízes militares;
Prefeito Municipal, nos crimes de competência da Justiça Federal.



Ao TRE compete julgar, nos crimes eleitorais:

Juízes federais e estaduais; Membros do MP da União e dos Estados; Prefeitos, no
s crimes eleitorais.


O TJ tem competência para julgar:

Juízes de Direito; Juízes da Justiça Militar estadual e juízes de Alçada; Membro
s do MP estadual, salvo nos crimes eleitorais; Prefeitos municipais.



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LO IX
Atenção: Prefeito Municipal:

TJ – crime comum; TRE – crime eleitoral; TRF – crimes de competência da Justiça
Federal.


Juiz de Direito e MP estadual:

TJ – crime comum; TRE – crime eleitoral.

Juiz federal:

TRF – crime comum; TRE – crime eleitoral.

A Constituição Estadual de São Paulo estabelece foro especial no TJ para:

Vice Governador; Deputado estadual; Secretário de Estado; Procurador Geral de Es
tado – PGE;
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LO IX

Comandante Geral da Polícia Militar; Delegado Geral.

Todas essas autoridades, se cometerem crime federal, serão processadas no TRF. É
o entendimento do STF. Tribunal de Justiça Militar tem competência para julgar
em crimes militares – Constituição Estadual de São Paulo:

Comandante Geral da Polícia Militar; Chefe da Casa Militar.

O MP do Distrito Federal atua perante a Justiça
 Distrital. Se um de seus membros
comete um crime, será julgado pelo TRF da 1. Região; isso porque é ramo do MP
da União, apesar de atuar na Justiça Distrital.
1.7. Exceção da Verdade ou Defesa da Verdade (art. 85 do CPP) Nos processos por
crime contra a honra, em que o querelante tiver foro especial no STF ou no TJ, a
esses caberá o julgamento da exceção da verdade. Não cabe a oposição de exceção
da verdade:

Na calúnia: se o fato imputado a alguém for crime de ação penal privada, e ele n
ão for condenado;

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LO IX

fato imputado a Presidente da República ou Chefe de Governo estrangeiro;

se, do crime imputado, embora de ação penal pública, o ofendido foi absolvido po
r sentença irrecorrível.
A exceção da verdade é questão prejudicial homogênea, pois é anterior ao mérito
e pode ser objeto de processo autônomo. Deve ser oposta quando da defesa prévia;
mas para alguns esse prazo não é fatal, pois é questão de mérito, e o prazo fat
al caracterizaria o cerceamento de defesa. Há posicionamentos contrários. Oposta
a exceção, o querelante tem dois dias para contestá la. Poderá arrolar no máxim
o oito testemunhas. Se na queixa já tiver arrolado quatro testemunhas, poderá ar
rolar mais quatro na contestação da exceção, até completar o número legal. Isso
porque, embora o crime seja punido com detenção, o rito é ordinário. Conforme o
art. 85, do CPP, a exceção será julgada pelo Tribunal competente. Se o Tribunal
julga procedente a exceção, o mérito será julgado improcedente. Se julga improce
dente a exceção, o mérito será julgado procedente ou improcedente. Obs.:
 o Tribu
nal só faz o julgamento da exceção, as testemunhas são ouvidas em 1. instância.
Depois
 de julgar a exceção, o Tribunal devolve o processo para ser julgado, em
1. instância, o mérito.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO X
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510 010 Tel.: (11) 3346.4600 –
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ULO X
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES
O Código de Processo Penal fala inicialmente das questões incidentes e posterior
mente do processo incidente. Regula, na realidade, apenas uma espécie de questão
incidente, prevista nos arts. 92 a 94 do Código de Processo Penal – as denomina
das questões prejudiciais. Questões prejudiciais são todas as questões de fato e
de direito que, por necessidade lógica, devem ser analisadas antes da questão p
rincipal e podem, em tese, ser objeto de processo autônomo. Etimologicamente “pr
ejudicial” significa pre iudicate, isto é, julgar primeiro. A questão deve ser j
ulgada em primeiro lugar, antes da questão principal. Ex: um acusado de bigamia
(art. 235 do CP) alega que seu casamento é nulo. A validade ou não do casamento
é a questão prejudicial que deve ser decidida antes do mérito, pois influi diret
amente na decisão. A questão prejudicial condiciona a questão prejudicada; a pre
judicada está irrecusavelmente subordinada à prejudicial. Características da que
stão prejudicial:

Anterioridade lógica: a questão prejudicial é sempre anterior à prejudicada. Não
porque surgiu primeiro na discussão processual, mas por ser logicamente anterio
r. Primeiro decide se ou aguarda se a decisão da questão incidente e, posteriorm
ente, julga se o mérito.
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ULO X

Necessariedade: a questão prejudicial sempre subordina o exame da questão princi
pal. O mérito não pode ser decidido sem antes enfrentar a questão prejudicial.

Autonomia: a questão prejudicial sempre pode ser, em tese, objeto de processo au
tônomo.
Questão preliminar é diferente de questão prejudicial. Questão preliminar é toda
alegação que versa sobre pressupostos processuais ou condições da ação. O profe
ssor MIRABETE nos ensina que ambas são espécies do gênero ‘questões prévias’. Ap
resentam características em comum: anterioridade lógica e necessariedade. Mas ap
resentam diferenças importantes: a questão prejudicial refere se a direito mater
ial e a preliminar refere se a direito processual. Também se diferem no tocante
à autonomia. Somente as prejudiciais podem ser objeto de processo autônomo, as p
reliminares não. Ex: falta de citação é uma questão preliminar – não se ajuíza p
rocesso autônomo para discutir. Classificação das questões prejudiciais:
a) Quanto ao grau: total ou parcial A questão prejudicial total é aquela que con
diciona a existência da questão principal. Refere se a uma das elementares da in
fração penal. A questão prejudicial parcial se refere a circunstâncias do tipo p
enal.
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b) Quanto ao caráter: homogênea ou heterogênea A questão prejudicial homogênea é
aquela do mesmo ramo do Direito da questão principal. A questão prejudicial het
erogênea é aquela que pertence a ramo do Direito distinto da questão principal.
c) Quanto aos efeitos: obrigatória ou facultativa

Obrigatória: é a questão que, uma vez presente, obriga a suspensão do processo a
té o julgamento da questão incidental. Sempre versa sobre questão de estado civi
l das pessoas.

Facultativa: é aquela que não obriga a suspensão do processo principal, mas há n
ela controvérsia de difícil solução. Ex: acusado de crime contra o patrimônio al
ega ser o legítimo possuidor. São características da prejudicial facultativa que
não estão presentes na obrigatória: existência de ação civil em andamento; inex
istência de limitação à prova, na lei civil, acerca da questão prejudicial.
Observações:

Se a prejudicial for obrigatória o processo penal ficará suspenso por tempo inde
terminado. Se facultativa, o juiz deverá estabelecer prazo para suspensão que po
derá ser prorrogado a seu critério.

Durante a suspensão do processo, fica suspenso o prazo prescricional. Apesar da
suspensão do processo, o juiz criminal poderá inquirir testemunhas ou determinar
produção de provas que considere urgente.
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A decisão que determina a suspensão do processo por questão prejudicial comporta
recurso em sentido estrito. (art. 581, inc. XVI, CPP). Se a decisão indefere o
pedido de suspensão e a prejudicial for obrigatória, cabe correição parcial ou h
abeas corpus; se for questão prejudicial facultativa, o juiz tem discricionaried
ade para decidir.

As questões prejudiciais devem causar no juiz dúvida séria e fundada.
2. EXCEÇÕES
Exceção é a defesa indireta do processo penal, que visa extinguir a ação penal o
u retardar seu exercício. Recai sobre os pressupostos processuais ou as condiçõe
s da ação. Se a exceção visar extinguir a ação penal, é denominada peremptória.
Se visar retardar seu julgamento, é denominada dilatória.
2.1. Exceção de Suspeição (Dilatória) Se o juiz da causa se enquadrar em uma das
situações de suspeição, previstas no art. 254 do Código de Processo Penal, e nã
o se declarar suspeito espontaneamente, a parte pode argüir a exceção de suspeiç
ão. Se existir alguma causa de impedimento (art. 252 do CPP) ou incompatibilidad
e (art. 253 do CPP), também deve ser argüida por meio de exceção.
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A exceção pode ser argüida também contra o membro do Ministério Público e os suj
eitos processuais secundários (perito, intérprete, serventuário da Justiça). Pro
cedimento da exceção de suspeição: Inicia se por petição em que devem constar os
motivos e as provas da suspeição. Tem legitimidade para argüir: o autor, quando
do oferecimento da denúncia ou a queixa, e o réu (ou seu defensor com poderes e
speciais), no momento da defesa. Se a suspeição for superveniente, a parte tem q
ue se manifestar, nos autos, no primeiro momento em que puder. A parte não argüi
r no momento oportuno equivalerá a reconhecer a capacidade moral do juiz. P: O a
ssistente de acusação tem legitimidade para argüir a suspeição do juiz? R: O art
. 271 do CPP relaciona as funções do assistente e nada fala sobre essa possibili
dade. Para o Professor MIRABETE, o rol é taxativo, não podendo argüir. Para TOUR
INHO, o assistente tem interesse processual na imparcialidade do juiz, devendo s
er reconhecida a ele essa possibilidade.
Depois de argüida a suspeição em petição inicial, os autos são encaminhados ao j
uiz, que pode reconhecê la ou não. Se o juiz reconhece, remete os autos para seu
substituto legal, anulando os atos já praticados. O processo volta a correr per
ante o novo juiz. Se o juiz não reconhece, determina a autuação da exceção. O ju
iz excepto terá três dias para contestar a exceção, juntando testemunhas e
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ULO X
ouvindo testemunhas. Os autos são remetidos ao TJ, em 24h, para serem julgados p
ela Câmara Especial. Caso o TJ decida pela improcedência do pedido, irá indeferi
r liminarmente a exceção. Se decidir pela relevância da argüição, determinará o
processamento da exceção. O Tribunal comunicará o excepto e o excipiente, ouvirá
as testemunhas arroladas e julgará, independente de novas alegações. Se o Tribu
nal julgar procedente a exceção, remeterá os autos ao substituto legal, determin
ará a anulação dos atos já praticados e, se entender que houve erro inescusável
(indesculpável) do juiz excepto, poderá condená lo nas custas da exceção. Obs: n
o Estado de São Paulo a Lei Estadual n. 9452/85 isenta o pagamento de custas no
processo penal. Se o Tribunal de Justiça julgar improcedente, determinará a cont
inuidade normal do processo e condenará o excipiente ao pagamento de multa, se a
giu de má fé visando tumultuar o processo. Súmula n. 234, Superior Tribunal de J
ustiça: “A participação de membro do MP na fase investigatória criminal não acar
reta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.” Se o Promo
tor foi testemunha, não pode participar da ação penal.
2.2. Exceção de Suspeição de Jurado Instalada a sessão de julgamento com 15 jura
dos no mínimo, 7 formarão o Conselho de Sentença.
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No Júri as partes podem recusar jurados. Podem fazer três recusas peremptórias,
isto é, sem justificação, e poderão recusar tantos quanto necessário, desde que
justificado. Se o juiz não aceitar a recusa, o jurado tomará parte no Conselho d
e Sentença.
2.3. Suspeição de Autoridade Policial Conforme determina o art. 107 do Código de
Processo Penal, as partes não podem argüir a suspeição de autoridade policial.
Isso porque o inquérito policial é um instrumento inquisitivo. O próprio delegad
o, entretanto, poderá declarar se suspeito.
Atenção! Enquanto se processa a exceção, o processo principal flui normalmente.
Exceção: diante da exceção de suspeição, se a parte contrária considerar relevan
te a argüição, o processo será suspenso. Ex.: a defesa concorda que a argüição d
e exceção de suspeição feita pelo Ministério Público é plausível, tem fundamento
. Sob pena de ser declarada posteriormente a nulidade dos atos já praticados, o
processo será suspenso.
2.4. Exceção de Incompetência do Juízo O Código não distingue se a incompetência
é absoluta ou relativa. Há dois sistemas para argüir a incompetência do Juízo:

perante o próprio juiz ,e esse declina sua competência;
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ULO X

perante o órgão superior para que esse, decidindo a questão, iniba a participaçã
o daquele juiz no processo e remeta ao juiz competente.
No Brasil, vigora o primeiro sistema. O próprio juiz vai declinar de sua competê
ncia. O art. 109 do Código de Processo Penal determina que, se em qualquer fase
do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará lo á nos
autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo se na forma do artigo anterio
r. A incompetência absoluta e a relativa podem ser reconhecidas de ofício pelo j
uiz. A incompetência absoluta tem um versar sobre regime jurídico mais severo po
r
questões de interesse público. A incompetência relativa se
preocupa em atender a conveniência da parte. Ex: o lugar da consumação do delito
facilita busca de provas. Não é só interesse da parte. Há também interesse públ
ico. A exceção de incompetência do Juízo só pode ser argüida pela defesa, pois f
oi o autor quem ajuizou a ação perante o Juízo incompetente. Se o Ministério Púb
lico percebe que o processo foi distribuído para um Juízo incompetente, deve ped
ir a declinação do juiz e não oferecer a denúncia. Argüirá na condição de fiscal
da lei. A argüição deve ser feita no prazo de três dias da defesa prévia. Se a
incompetência for absoluta, poderá ser feita posteriormente. Procedimento da exc
eção de incompetência:

A exceção é autuada em apartado.
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Ouve se o representante do Ministério Público. juiz decide. Se pela procedência,
remete os autos ao juiz competente. Dessa decisão cabe recurso em sentido estri
to (art. 581, inc. III, do CPP). Não interposto recurso, os autos são remetidos
ao juiz competente. Esse novo juiz não é obrigado a concordar com essa declinaçã
o, podendo também ele suscitar o conflito de jurisdição ou competência. Se decid
ir pela improcedência, não caberá recurso. Caberá habeas corpus ou argüição em p
reliminar de apelação (futuramente).

Conforme o art. 567 do Código de Processo Penal a incompetência do Juízo anula s
omente os atos decisórios. Dessa forma somente os atos instrutórios serão ratifi
cados pelo juiz competente, os atos decisórios serão anulados.
Atenção! A Jurisprudência entende que o recebimento da denúncia ou da queixa não
tem carga decisória; pode, portanto, ser ratificado. Princípio da conseqüencial
idade: se o recebimento da denúncia ou da queixa fosse nulo, todo o processo est
aria perdido. A Jurisprudência, por isso, admite tranqüilamente a ratificação do
recebimento da denúncia ou queixa. O recebimento da denúncia ou queixa interrom
pe a prescrição. Se foi recebida pelo juiz incompetente e depois ratificada pelo
juiz competente, qual interrompe a prescrição? A ratificação do juiz competente
é que interrompe a prescrição. Essa regra aplica se para qualquer incompetência
, inclusive ratione materiae.
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Se a regra de competência violada estiver disposta na Constituição Federal de 19
88, os atos praticados perante o juiz incompetente são considerados inexistentes
. Não tem como ratificar. A decisão que julga procedente a exceção é recorrível.
Cabe recurso em sentido estrito. Salvo a decisão que decide exceção de suspeiçã
o, a qual é irrecorrível.
2.5 Exceção de Ilegitimidade de Parte São partes ilegítimas em Processo Penal:

Ministério Público, se oferecer denúncia em crime de ação penal privada.

querelante, se oferecer queixa em crime de ação penal pública. querelante incapa
z (a vítima deve ser maior de 18 anos). Alguém que se diz representante do ofend
ido em crime de ação penal privada, mas não é.


A ilegitimidade pode ser ad causam ou ad processum. A ilegitimidade ad causam re
fere se a condição da ação, ocorre se o Ministério Público oferece queixa e o qu
erelante oferece denúncia. A ilegitimidade ad processum ocorre se o querelante é
incapaz ou o representante do ofendido não é o representante legal.Tratando se
de ilegitimidade de causa ou de processo, o instrumento para argüir é exceção de
ilegitimidade.
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O reconhecimento da ilegitimidade ad causam acarreta a nulidade absoluta do proc
esso. O reconhecimento da ilegitimidade ad processum acarreta a nulidade relativ
a do processo, admitindo a convalidação, nos termos do art. 568 do Código de Pro
cesso Penal.
2.6. Exceção de Litispendência e Coisa Julgada A exceção de litispendência e coi
sa julgada baseia se na proibição de uma mesma pessoa ser processada mais de uma
vez pelos mesmos fatos (nen bis in idem ). Será argüida a exceção de coisa julg
ada quando o réu já foi julgado em definitivo sobre um fato e é proposta nova aç
ão com base no mesmo fato já julgado. Será argüida exceção de litispendência qua
ndo existirem duas ações penais em curso, processando o mesmo réu pelo mesmo fat
o. Se um mesmo fato é apurado em dois inquéritos penais, não há litispendência.
Instaurado inquérito policial com ação já em curso, sem ser por requisição do ju
iz ou do Ministério Público, para colher diligências complementares, caracteriza
se constrangimento ilegal, sanável por habeas corpus. Havendo duas ações iguais
, uma delas será excluída. Exclui se a segunda. Para determinar qual é a primeir
a ação, usa se o critério do art. 219, Código de Processo Civil, examinando em q
ual delas ocorreu primeiro a citação válida. O Supremo Tribunal Federal definiu
que, se alguém é absolvido como autor, poderá ser novamente denunciado como part
ícipe. Desde que não sejam
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alegados os mesmos fatos pelos quais já foi acusado; a descrição fática deve ser
outra. Há quem entenda que, se alguém foi absolvido, não pode ser pelo mesmo cr
ime novamente processado. Leva se em conta o fato concreto, não importa a condut
a descrita; se foi absolvido pelo fato, não pode novamente ser processado. Para
fins de concurso público, usar a posição do Supremo Tribunal Federal.
3. CONFLITO DE JURISDIÇÃO
O correto seria dizer conflito de competência. A própria Constituição Federal de
1988 fala dessa maneira. O objetivo é preservar o juiz natural. Há dois tipos d
e conflito de jurisdição:

Conflito positivo de competência: ocorre quando dois ou mais Juízos ou Tribunais
se consideram ao mesmo tempo competentes para o exame de determinada causa.

Conflito negativo de competência: ocorre quando dois ou mais Juízos ou Tribunais
se consideram ao mesmo tempo incompetentes para o exame de determinada causa.
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Também ocorre conflito de jurisdição quando houver divergência quando à unidade
de processo, seja sua junção ou sua separação. O conflito de competência pode se
r suscitado:

pelas partes, por requerimento – art. 115, do Código de Processo Penal;

por representação do juiz.
O conflito deve ser suscitado de forma escrita e fundamentado, com cópias da ale
gação, art.116, do Código de Processo Penal . O relator recebe o processo, deter
mina que os Juízos envolvidos prestem informações. Com as informações, colhe o p
arecer do Ministério Público em segunda instância (Procurador Geral). O conflito
então é julgado. Para o conflito positivo, o procedimento tem forma própria, po
r meio de instrumento que é remetido ao Tribunal. Como o processo continua trami
tando, a suspensão ou não dos atos processuais depende do relator do Tribunal. N
o conflito negativo, os próprios autos nos quais se suscita o conflito são encam
inhados ao Tribunal. O processo fica suspenso até a decisão do Tribunal. Competê
ncia para julgar os conflitos:

Cabe ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito envolvendo Tribunais Superiore
s. Se envolver o próprio Supremo Tribunal Federal e outro Tribunal, não há confl
ito; o Supremo Tribunal Federal dá palavra final. Se o conflito envolver Tribuna
is Superiores ou um Tribunal e um juiz , cabe também ao Supremo Tribunal Federal
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dirimir. Ex.: Superior Tribunal de Justiça X juiz de 1. grau, Superior Tribunal
de Justiça X Tribunal Regional Federal.

Cabe ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito envolvendo Tribunal Estadu
al ou Tribunal Regional Federal e um Juízo a ele não vinculado. Ex.: Tribunal de
Justiça de São Paulo X juiz do Rio de Janeiro.

Cabe ao Tribunal Regional Federal dirimir conflitos entre juízes federais da mes
ma região. Se for região diferente, cabe ao Supremo Tribunal de Justiça. Cabe ta
mbém ao Tribunal Regional Federal julgar conflito entre juiz federal e juiz esta
dual com competência federal (ex.: art. 27 da Lei n. 6.368/76) – Súmula n. 3 do
STJ .

Cabe ao Tribunal Regional Eleitoral dirimir conflito envolvendo Juízos eleitorai
s do mesmo Estado. De Estados diferentes, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral.

Cabe ao Tribunal de Justiça dirimir conflitos entre juízos estaduais do mesmo Es
tado e Tribunal de Alçada (no âmbito penal só cabe ao Tribunal de Alçada Crimina
l), ou Tribunal e juiz.

Entre Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada Criminal, não há conflito. Confor
me dispõe a Súmula n. 22 do Superior Tribunal de Justiça (“não há conflito de co
mpetência entre o Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo Estado membr
o”), a competência é do Tribunal de Justiça.

Cabe ao Tribunal de Alçado Criminal resolver conflitos entre Juízos de primeiro
grau quando for sua a competência recursal.
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4. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL – ART. 149, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
O incidente de insanidade mental é instaurado quando houver dúvida sobre a saúde
mental do acusado. Pode ser instaurado no inquérito policial ou na ação penal,
mas somente é instaurado por ordem judicial. A perícia psiquiátrica realizada no
inquérito policial só pode ser instaurada pelo juiz. Se o delegado percebe a in
sanidade, representa à autoridade judiciária o incidente de insanidade mental, c
onforme art. 149, § 1. , do Código de Processo Penal. O incidente pode decorrer
do requerimento das seguintes pessoas:

Ministério Público; defensor; curador; cônjuge, ascendente, descendente e irmão.



Observação: O incidente pode também ser instaurado de ofício. P: No interrogatór
io o juiz percebe a insanidade mental do acusado. Seu defensor junta ao processo
a interdição, no cível, do acusado; ainda assim deve se realizar o incidente de
insanidade mental? R: O incidente é instaurado quando há dúvida sobre a saúde m
ental e para verificar se na época dos atos era o indivíduo imputável ou inimput
ável, conforme art. 26, par. ún. do Código Penal. Não basta a doença mental, pre
cisa
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saber se em virtude dela, ao tempo da ação ou
omissão, era incapaz de
entender o caráter ilícito da infração. A interdição no cível é irrelevante para
o processo penal. A perícia penal visa verificar a imputabilidade.
Procedimento do incidente de insanidade mental: O incidente é autuado em apartad
o (art. 153, CPP), o juiz expede portaria de instauração e nomeia curador. Se já
houver processo em andamento, esse ficará suspenso até julgamento do incidente.
Determina o juiz que as partes elaborem quesitos. Com os quesitos, é realizada
a perícia psiquiátrica. O prazo para realização do exame é de 45 dias, prorrogáv
el por igual período, conforme. art. 150, § 1. , Código de Processo Penal. As pa
rtes examinam o laudo, se estiver regular, o juiz homologará. A homologação do l
audo não significa concordância. A homologação diz respeito somente quanto aos a
spectos formais. O juiz não está vinculado ao laudo, em razão do princípio do li
vre convencimento do juiz. O laudo pode concluir pela:

imputabilidade; semi imputabilidade, cf. art. 151, do Código de Processo Penal;
inimputabilidade, art. 151, do Código de Processo Penal; doença mental superveni
ente, cf. art. 152, do Código de Processo Penal.



Se o laudo decidir pela imputabilidade, prossegue o processo que estava suspenso
, dispensando se o curador que foi nomeado. Se concluir pela semi16/17
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imputabilidade, o processo segue com o curador nos autos. Concluindo pela doença
mental superveniente, o processo continuará suspenso. A prescrição continuará a
té sobrevir o prazo prescricional ou sanar a doença mental. A falta de nomeação
de curador gera nulidade absoluta.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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LO XI
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. DA PROVA
1.1. Conceito Prova é todo elemento trazido ao processo, pelo juiz ou pelas part
es, destinado a comprovar a realidade de um fato, a existência de algo ou a vera
cidade de uma afirmação. Sua finalidade é fornecer subsídios para a formação da
convicção do julgador.
1.2. Objeto de Prova São objetos de prova os fatos principais e secundários capa
zes de influenciar a responsabilidade criminal do réu, a aplicação da pena e a m
edida de segurança. Alguns fatos, entretanto, não podem ser objetos de prova. Sã
o eles:

o direito não pode ser objeto de prova, pois o juiz o conhece; salvo se for dire
ito consuetudinário, estrangeiro, estadual ou municipal;

os fatos axiomáticos, isto é, aqueles fatos evidentes. O fato axiomático é difer
ente do fato notório, que é aquele de conhecimento geral, que faz parte da histó
ria e refere se a fatos políticos, sociais ou fenômenos da natureza;

os fatos irrelevantes,
aqueles incapazes de influenciar a
responsabilidade criminal do réu, no caso concreto.
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LO XI

os fatos sobre os quais incida presunção absoluta iuris et de iure. Ex.: o inimp
utável recebe medida de segurança, absolvição imprópria. Tem como pressuposto a
periculosidade, pois a medida de segurança é aplicada apenas aos réus perigosos.
Não há necessidade de perícia para confirmar sua periculosidade.
No Processo Penal, os fatos incontroversos também são objetos de prova; não se a
plica a regra do Processo Civil, pois o que se discute no Direito Penal é o dire
ito à liberdade.
1.3. Classificação das Provas

Prova Direta: refere se diretamente ao tema probandu. Ex.: testemunha presencial
, exame de corpo de delito.

Prova Indireta: refere se indiretamente ao tema probandu. Ex.: álibi apresentado
pelo acusado.

Prova Pessoal: a prova emana de uma pessoa. Ex.: interrogatório, testemunha.

Prova Documental: a prova é produzida por escrito. Ex.: laudo pericial. Prova Ma
terial: refere se a objetos. Ex.: instrumentos do crime, arma do crime.


Prova Plena: é a prova que conduz a um juízo de certeza.
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Prova Não Plena: é a prova que conduz a um juízo de probabilidade. Para a decisã
o de pronúncia, aceita se a prova não plena, mas para a condenação é necessária
a prova plena.
1.4. Meios de Prova Meios de prova são os métodos por meio dos quais a prova pod
e ser levada ao processo. Os meios de prova podem ser:

nominados: são os documentos, acareações, reconhecimento de pessoas e objetos, i
nterceptação telefônica, interrogatório. São todos os meios de prova previstos n
a legislação;

inominados: são aqueles meios de prova que não estão previstos expressamente na
legislação. Ex.: juntar fita de vídeo, com um programa de TV em que o acusado ap
arece, para mostrar aos jurados.
1.5. Sujeitos da Prova Os sujeitos da prova são as pessoas incumbidas de levar a
o juiz os meios de prova. São as testemunhas, com o depoimento; o réu, com o int
errogatório; e o perito, com o laudo.
1.6. Princípios Relativos à Prova

Princípio da Comunhão da Prova: uma vez trazida aos autos uma prova, ela se inco
rpora ao processo. Por essa razão, a prova trazida por uma das partes, pode ser
usada pela parte contrária. Além disso, uma
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vez admitida a prova, para que a parte desista dela, deve haver anuência da part
e contrária.

Princípio da Audiência Contraditória: à parte contrária sempre deve ser dado o d
ireito de impugnar a prova produzida pelo ex adverso.

Princípio da Liberdade dos Meios de Prova: no Processo Penal são admitidos todos
os meios de prova, nominados ou inominados, salvo as provas ilícitas ou as prov
as ilegítimas.
Prova ilícita é a prova produzida com desrespeito à regra de direito material. E
x.: confissão mediante tortura. Prova ilegítima é a prova produzida com desrespe
ito à regra de Direito Processual. Ex.: exibição em plenário de documento do qua
l não foi dado ciência à parte contrária, com pelo menos três dias de antecedênc
ia. Teoria sobre as provas ilícitas: “A árvore dos frutos envenenados”. A prova,
ainda que lícita, mas decorrente de outra prova ilícita, também é considerada i
lícita. Ex.: o réu, mediante tortura, confessa e aponta três testemunhas. Essas
testemunhas são chamadas a Juízo. A oitiva dessas testemunhas, apesar de lícita,
será considerada ilícita, pois originou se de uma prova ilícita. Não poderá ser
aceita.
1.7. Ônus da Prova O ônus da prova é o encargo que recai sobre as partes, impond
o lhes o dever de provar algo, sob pena de suportar uma situação processual adve
rsa.
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A acusação deve fazer prova da autoria e da materialidade do delito. Deve fazer
prova plena desses elementos. Compete, ainda, à acusação fazer prova do elemento
subjetivo, isto é, do dolo da ação ou do elemento normativo, ou seja, a culpa:
provar que o agente agiu com imprudência, negligência ou imperícia. A defesa dev
e provar os fatos impeditivos (excludentes de ilicitude), extintivos (causas de
extinção da punibilidade) ou modificativos (desclassificação ou causas de diminu
ição da pena) do direito do autor. A defesa não precisa produzir prova plena, ba
sta o juízo de probabilidade.
1.8. Sistema de Apreciação da Prova Sistema Primitivo (hoje já está abandonado).
Utilizavam se dois sistemas: o sistema religioso e o sistema étnico pagão. O si
stema religioso invocava a divindade para apreciar as provas, qualquer que fosse
o julgamento. No sistema étnico pagão, a apreciação das provas era feita de for
ma empírica, sem qualquer regra. Sistema Moderno. São três os sistemas modernos:

Sistema da íntima convicção ou da certeza moral do julgador. Nesse sistema, a de
cisão ficava a cargo do juiz, que decidia com base em regras, porém, não havia n
ecessidade de fundamentação do julgamento. Ensejou abusos.

Sistema da prova legal ou da certeza moral do legislador. Nesse sistema, a lei p
reestabelecia os critérios para julgamento. Preestabelecia o valor de cada prova
.
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Sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional do juiz. Nesse sis
tema, o julgador tem liberdade para decidir, porém, com a obrigação de fundament
ar seu julgamento.
No Brasil, o Código de Processo Penal adota o sistema do livre convencimento mot
ivado. A exceção é para o Tribunal do Júri. Os jurados, quando julgam, não justi
ficam, sob pena de ser anulado o Júri.
1.9. Provas em Espécie 1.9.1. Provas periciais A perícia é um exame realizado po
r quem tem conhecimento técnico, científico ou artístico. Natureza jurídica: é u
m meio de prova nominado. Seu valor probatório é idêntico ao dos demais meios de
prova. A perícia pode ser realizada a qualquer momento, desde o Inquérito Polic
ial até a execução. A perícia realizada no inquérito é determinada pela autorida
de policial, salvo a perícia de insanidade mental, que somente pode ser determin
ada pelo juiz. A perícia realizada na instrução processual é determinada pela au
toridade judicial. O perito é um sujeito processual secundário. Não podem ser pe
ritos: os menores de 21 anos, os analfabetos, aqueles sujeitos à interdição temp
orária de direitos, aqueles que já se manifestaram sobre o objeto da perícia. O
perito pode ser um funcionário público concursado. É o perito oficial. Ou pode s
er o perito particular, nomeado para fazer uma determinada perícia, chamado de p
erito não oficial ou perito louvado. Em regra, as perícias são feitas pelos peri
tos oficiais, apenas em sua ausência é que a perícia é realizada pelo perito lou
vado.
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O perito louvado é nomeado pela autoridade policial ou judiciária. Assim que ass
ume o encargo, o perito deve prestar o compromisso de bem e fielmente cumprir su
as funções. Deve portar diploma de curso superior, de preferência na área do exa
me. As partes não podem interferir na nomeação dos peritos. Não há no Processo P
enal a figura do assistente técnico. As partes podem requerer, particularmente,
uma perícia e juntá la aos autos. Na perícia realizada por precatória, quem nome
ia o perito é o juiz deprecado. Salvo na Ação Penal Privada em que, havendo acor
do entre querelante e querelado, a nomeação será feita pelo juiz deprecante (art
. 177 do CPP). O laudo pericial deve conter: introdução, histórico, informações
que antecedem à perícia, descrição minuciosa do objeto, fundamentação, respostas
aos quesitos e conclusão. Sempre a perícia deve ser realizada por dois peritos.
O juiz, ao apreciar o laudo pericial, não é obrigado a acatá lo, mas, para afas
tá lo, deve fazê lo fundamentadamente. O Exame de Corpo de Delito é o exame peri
cial obrigatório, destinado a comprovar a materialidade das infrações penais que
deixam vestígios, isto é, infrações não transeuntes. Sua falta acarreta a nulid
ade absoluta do processo. Pode ser: direto, quando examina diretamente os vestíg
ios do crime (ex.: cadáver); ou indireto, quando se analisa outra prova que leva
rá à mesma conclusão (ex.: os peritos não examinam a vítima, mas a ficha hospita
lar). Excepcionalmente, na falta do corpo de delito, esse exame pode ser suprido
pela prova testemunhal. A confissão nunca supre a falta do exame de corpo de de
lito. O Exame Necroscópico é o exame pericial realizado em cadáver. Seu objetivo
é determinar a causa da morte. Só pode ser realizado seis horas após o óbito. S
erá dispensado em caso de morte natural ou morte violenta.
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Laudo
ou exame
complementar
é
qualquer
perícia
que
vise
complementar a perícia anteriormente realizada. No caso de lesão corporal grave,
a perícia complementar deve ser realizada logo depois dos 30 dias da ocorrência
do delito.
1.9.2. Interrogatório Interrogatório é o ato processual por meio do qual o acusa
do é ouvido pelo juiz. Envolve o direito de presença e o direito de audiência. O
direito de presença é o direito de acompanhar os atos processuais, e o direito
de audiência é o direito de ser ouvido. Para o réu presente, o interrogatório é
um ato indispensável e sua falta acarreta a nulidade absoluta. Réu presente sem
interrogatório, somente nos casos do Código Eleitoral e na Lei de Imprensa, em q
ue o réu só será interrogado se desejar. O interrogatório é público, oral (salvo
para o mudo, o surdo e o surdomudo), personalíssimo, individual e privativo ent
re o juiz e o réu. O réu tem o direito constitucional (art. 5, inc. LXIII, da CF
/88) de permanecer em silêncio. Se optar por responder, não estará obrigado a di
zer a verdade. Pode mentir sobre fato. A mentira do réu só será considerada crim
e se fizer auto acusação falsa. Conforme o Provimento n. 84 do Conselho Superior
da Magistratura do Estado de São Paulo, o réu pode ser citado e interrogado por
precatória. O interrogatório será feito pelo juiz deprecado. Válido somente no
Estado de São Paulo.
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O interrogatório on line ainda é visto com cautelas, pois o interrogado pode est
ar sofrendo algum tipo de coação que o juiz pode não perceber. A jurisprudência
já aceitou, excepcionalmente. No interrogatório do menor de 21 anos, doente ment
al ou silvícola inadaptado, será necessária a presença de um curador.
1.9.3. Confissão A confissão ocorre com a admissão, pelo réu, da autoria dos fat
os a ele imputados. A confissão não é meio de prova, é a própria prova. Não se p
rova a materialidade do delito pela confissão. A confissão se refere apenas à au
toria. A confissão perante a autoridade judicial configura uma atenuante. A conf
issão pode ser:

simples: o réu admite a autoria de fato único; complexa: quando o réu admite aut
oria de fato múltiplo; qualificada: o réu admite autoria dos fatos a ele imputad
os, mas alega algo em seu benefício;



judicial: feita em Juízo; extrajudicial: qualquer confissão feita fora do Juízo,
no Inquérito Policial;


explícita: admite a autoria dos fatos; implícita: não admite a autoria, mas real
iza atos que levam indiretamente à conclusão que ele é o autor do delito. Ex.: p
aga indenização à vítima, repara os danos causados.
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A confissão é um ato personalíssimo, livre, espontâneo, divisível (o juiz não é
obrigado a acatar a confissão como um todo, podendo acatá la parcialmente) e ret
ratável. Ocorre a confissão delatória quando um co réu, no interrogatório, imput
a a outro acusado a responsabilidade pela prática do crime.
1.9.4. Prova testemunhal Testemunha é toda pessoa, estranha ao processo e eqüidi
stante das partes, chamada em Juízo para depor sobre os fatos que caíram sobre s
eus sentidos. A testemunha pode ser:

direta ou de visu: depõe sobre os fatos que presenciou – teve contato direto;

indireta ou de audito: depõe sobre os fatos que tomou conhecimento por terceiros
– ouviu dizer;

própria: presta depoimento acerca do tema probandu, do fato objeto da prova;

imprópria ou instrumentária: é a testemunha chamada a presenciar a prática de at
os processuais ou pré processuais;

referida: são aquelas citadas no depoimento de outra testemunha; serão ouvidas c
omo testemunhas do Juízo;

informante: são as testemunhas que não prestam compromisso; numerária: testemunh
a que entra no cômputo legal;
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extra numerária: não entra no cômputo legal. São as referidas, informantes, test
emunhas que nada souberam a respeito dos fatos.
Características da prova testemunhal:

retrospectividade: é uma declaração retrospectiva, depõe sobre fatos passados;

oralidade: a prova testemunhal é oral, exceto para o surdo, o surdo mudo e o mud
o. Podem responder por escrito: o Presidente e o Vice Presidente da República, o
s Senadores, os Deputados Federais, os Ministros de Estado, os Governadores, os
Secretários de Estado, os Prefeitos, os Deputados Estaduais, os Membros do Judic
iário, os Membros do Tribunal de Contas da União e os Membros do Tribunal Maríti
mo.
A testemunha não pode trazer o depoimento por escrito, sendo permitida a consult
a a apontamentos. O depoimento da testemunha deve ser objetivo, não deve emitir
opiniões pessoais. As testemunhas são notificadas por mandado. O preso e o milit
ar são notificados por requisição. O sistema de inquirição das testemunhas é o p
residencialista: apenas o juiz faz as perguntas às testemunhas; salvo no plenári
o do Júri, em que a inquirição das testemunhas é direta, e a acusação e a defesa
podem fazer perguntas.
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A testemunha tem o dever de:

comparecer: se o desrespeitar, a testemunha pode ser conduzida coercivamente, po
de responder por crime de desobediência e pagar multa fixada pelo juiz.

depor e dizer a verdade: algumas pessoas, como cônjuge, ascendente, descendente
e irmão do réu, são, por lei, dispensadas de depor. Elas têm a obrigação de comp
arecer, mas não de depor. Se vierem a depor, não prestam compromisso.
Algumas pessoas, em razão da função (atividade de natureza pública), ofício (ati
vidade manual), ministério (atividade de cunho eclesiástico ou assistencial) ou
profissão (atividade predominantemente intelectual) são proibidas de depor. Pode
rão depor, se forem desobrigadas do sigilo e quiserem depor. As informantes são
as testemunhas que não prestam compromisso e não têm a obrigação de dizer a verd
ade. São os menores de 14 anos e os deficientes mentais.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510 010 Tel.: (11) 3346.4600 –
Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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LO XII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. INTERROGATÓRIO
1.1. Conceito Interrogatório é o ato processual pelo qual o acusado é ouvido pel
o juiz sobre a imputação contra ele formulada. O interrogatório possibilita ao a
cusado o exercício de autodefesa. A natureza jurídica do interrogatório é matéri
a controversa. O Código de Processo Penal tratou o interrogatório como verdadeir
o meio de prova. Já para a doutrina, o interrogatório tem caráter misto, é meio
de prova e também meio de defesa, pois o acusado pode exercer sua autodefesa. O
princípio constitucional da ampla defesa (art. 5. , inc. LV, da CF/88) constitui
se de: defesa técnica, que é aquela realizada pelo defensor do acusado, pelo ca
usídico; e autodefesa, que é ato exclusivo do acusado. A autodefesa pode ser ren
unciada pelo acusado. Constitui se a autodefesa de: direito de presença, que é o
direito do acusado acompanhar a realização dos atos processuais, depoimentos da
s testemunhas; e direito de audiência, que é o direito do acusado ser ouvido, pa
rticipando da formação do livre convencimento do juiz. O réu também tem a garant
ia constitucional de permanecer calado em seu interrogatório, sem que qualquer s
anção lhe seja aplicada. O interrogatório do réu presente é ato indispensável. S
ua falta acarretará a nulidade absoluta do processo. Exceção: poderá haver proce
sso de réu presente sem interrogatório nos crimes constantes do Código Eleitoral
e da Lei de
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Imprensa. Para o réu revel (citado pessoalmente que não comparece nem constitui
advogado), o interrogatório será dispensado. Se comparecer no decorrer da instru
ção, espontaneamente ou preso, será interrogado. Para o interrogatório, é indisp
ensável a citação do réu. O art. 188 do Código de Processo Penal estabelece o ro
teiro das perguntas que devem ser feitas no interrogatório.
1.2. Características do Interrogatório

Ato público. Ato processual oral. Exceções: para o surdo, as perguntas serão fei
tas por escrito e respondidas oralmente; para o mudo as perguntas serão feitas o
ralmente e respondidas por escrito; para o surdo mudo as perguntas e as resposta
s serão feitas por escrito. Se o réu for estrangeiro ou surdo mudo e analfabeto,
será nomeado um intérprete que funcionará também como curador.


Ato personalíssimo. Só o réu pode ser interrogado. Havendo defensor constituído,
esse deverá ser notificado a comparecer; não havendo, será nomeado um dativo pa
ra o réu.

Ato individual. Ato privativo entre juiz e réu. As partes não podem fazer reperg
untas. O defensor poderá, entretanto, zelar pela regularidade formal do processo
. Para o menor de 21 anos, a presença do curador é indispensável, sob pena de nu
lidade.

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1.3. Momento do Interrogatório Como regra, o momento do interrogatório é posteri
or à citação e anterior à defesa prévia. Mas como o Código de Processo Penal não
fixou prazo, entende se que o interrogatório pode ser realizado a qualquer mome
nto. É ato não preclusivo. Pode realizar se inclusive após a sentença, desde que
antes do trânsito em julgado. Assim, se o réu comparecer em Juízo antes do trân
sito em julgado e manifestar o desejo de ser ouvido, o juiz deverá interrogá lo.
Caso já exista apelação, o julgamento deverá ser convertido em diligênciapara q
ue o réu seja ouvido, sob pena de cerceamento da defesa. Em situações excepciona
is, entende se ser o interrogatório – após a sentença – facultativo, dispensável
quando, por exemplo, for possível antever a absolvição do acusado. Caso o juiz
entenda necessário, o réu já interrogado poderá ser novamente interrogado. No pr
ocedimento da Lei n. 9.099/95, o momento do interrogatório é posterior à oitiva
das testemunhas.
1.4. Direitos do Réu no Interrogatório O réu, durante o interrogatório, tem o di
reito de permanecer em silêncio, conforme art. 5. , inc. LXIII, da Constituição
Federal de 1988. O réu que responde ao interrogatório não está obrigado a dizer
a verdade, poderá mentir sem sofrer qualquer sanção. A mentira do réu no interro
gatório só será considerada crime se fizer auto acusação falsa, conforme art. 34
1 do Código Penal.
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O réu ainda tem o direito de entrevistar se com seu advogado antes do interrogat
ório. Esse direito vem previsto no Pacto de San José da Costa Rica, do qual o Br
asil é signatário.
1.5. Interrogatório por Precatória O provimento CXCI (1984) do Conselho Superior
da Magistratura de São Paulo possibilita a realização de interrogatório por pre
catória, pois, no processo penal, não vige o princípio da identidade física do j
uiz. O provimento vige somente no Estado de São Paulo. No tocante ao interrogató
rio on line, sistema de vídeo conferência, a doutrina questiona sua validade pel
a ausência física de um juiz, pois o interrogado poderá estar sofrendo alguma co
ação e essa não ser percebida. A jurisprudência o admite excepcionalmente.
1.6. Interrogatório do Menor de 21 anos Se o réu for menor, o interrogatório ser
á feito na presença de um curador. A omissão gera nulidade relativa, devendo ser
demonstrado o prejuízo, sob pena de convalidação. A idade do menor deverá ser c
onsiderada na data da realização do ato e não na do cometimento da infração pena
l. A Súmula n. 352 do Supremo Tribunal Federal dispõe que não é nulo o processo
penal por falta de nomeação de curador ao réu menor que teve a assistência de de
fensor dativo. A idade do acusado é provada por meio de documento hábil, como a
certidão de nascimento ou a carteira de identidade. Não haverá nulidade do proce
sso se o réu mentir acerca de sua idade. Também será necessário a nomeação de cu
rador para o interrogatório do silvícola inadaptado e do doente mental.
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2. CONFISSÃO
2.1. Conceito Confissão é a admissão pelo réu da autoria dos fatos a ele imputad
os em um processo penal. A confissão refere se à autoria do fato. A materialidad
e do delito não é objeto da confissão. A confissão feita perante a autoridade ju
dicial configura atenuante genérica, art. 65, III, “d”, do Código Penal. A confi
ssão não é mais considerada a rainha das provas; ao magistrado caberá apreciar a
confissão em consonância com as demais provas produzidas.
2.2. Espécies de Confissão

Simples: quando o réu admite a autoria de fato único, atribui a si a prática de
infração penal.

Qualificada: quando o réu admite a autoria dos fatos a ele imputados, mas alega
algo em seu benefício, opõe um fato modificativo ou impeditivo, culpabilidade. p
or exemplo: excludente de antijuridicidade,

Complexa: quando o réu admite a autoria de fato múltiplo. Judicial: é a confissã
o prestada perante o juiz competente, no próprio processo.


Extrajudicial: é a confissão prestada no Inquérito Policial, ou fora dos autos d
a ação penal.
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Explícita: quando o acusado reconhece espontaneamente ser o autor da infração.

Implícita: quando o acusado procura ressarcir o ofendido dos prejuízos causados
pela infração.
2.3.Características da Confissão A confissão é ato personalíssimo do réu. É ato
livre e espontâneo. A confissão é um ato retratável, isto é, o acusado pode desd
izer a confissão prestada. A confissão é ainda um ato divisível, isto é, o juiz
poderá cindir a confissão feita pelo acusado, acatando a em parte ou no todo.
2.4.Confissão Ficta A confissão ficta ou presumida não se verifica no processo p
enal, em virtude da verdade real que norteia o processo penal. Ainda que o proce
sso corra à revelia do réu, não haverá presunção de veracidade dos fatos alegado
s pela acusação.
2.5.Confissão Delatória ou Chamada de Co Réu Ocorre quando um réu, no interrogat
ório, imputa a terceiro a responsabilidade pela prática do crime, além de confes
sar sua própria participação. No tocante a imputação a terceiro, seu valor equiv
ale à prova testemunhal, havendo a possibilidade de reperguntas pelas partes.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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LO XIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. DOS SUJEITOS PROCESSUAIS
Os sujeitos processuais dividem se em principais e secundários. Principais são a
queles cuja ausência torna impossível a existência ou a complementação da relaçã
o jurídico processual: são o juiz e as partes. O juiz é o sujeito processual imp
arcial e as partes são os sujeitos processuais parciais, representados pela acus
ação, que é o Ministério Público ou o querelante, e pela defesa, que é o réu ou
o querelado. Secundários são aqueles que não são indispensáveis ao processo, mas
que nele intervêm de alguma forma: são os órgãos auxiliares da justiça, os serv
entuários, os peritos e os intérpretes. O assistente de acusação é também chamad
o de parte contingente, pois não é um integrante necessário da relação jurídico 
processual.
1.1. Juiz O juiz exerce o papel de maior relevo no processo. A lei confere lhe o
s poderes necessários para zelar pelo processo e solucionar a lide. Para tanto,
são necessários alguns pressupostos processuais subjetivos relativos à função de
juiz. São eles:

Investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem tenha sido regularmente
investido na autoridade de juiz, atualmente pela aprovação em concurso público d
e provas e títulos, observando se
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LO XIII
nas nomeações a ordem de classificação (art. 93, inc. I, da Constituição Federal
).

Imparcialidade: o juiz deve estar, no processo, acima e eqüidistante das partes,
super et inter partes. Se presentes algumas das causas de suspeição (art. 254 d
o Código de Processo Penal), impedimento (art. 252 do Código de Processo Penal)
ou incompatibilidade (art. 253 do Código de Processo Penal), o juiz deverá ser a
fastado do processo. Nos casos de impedimento, o juiz tem algum vínculo com uma
das partes; são causas graves que afetam a imparcialidade, acarretando a inexist
ência do ato realizado pelo juiz impedido. Na suspeição, o juiz tem interesse no
resultado do processo. Esta gera a nulidade absoluta do processo. Para parte da
doutrina, o rol que trata do impedimento e da suspeição, por ser restritivo de
direitos, é um rol taxativo que não pode ser ampliado.
Obs: O Código de Processo Civil, em seu art. 135, par. ún., permite que o magist
rado se afaste da causa argüindo motivo de foro íntimo. O Código de Processo Pen
al não faz essa previsão. Poderá, mesmo assim, o juiz do processo penal fazê lo?
R: Sim. No processo penal, o juiz também pode declinar de sua atuação por motiv
o de foro íntimo.

Competência: o juiz deve ser o competente para julgar a lide, segundo as regras
de competência previstas na Constituição Federal e no Código de Processo Penal.
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1.2. Acusador O acusador, no processo penal, é representado pelo Ministério Públ
ico, no caso da ação penal pública, e pelo querelante (ofendido ou seu represent
ante legal), no caso de ação penal privada ou ação penal subsidiária da pública.
O Ministério Público atuará sempre no processo penal, seja como parte na ação p
enal pública, seja como custus legis, isto é, fiscal da lei na ação penal privad
a. Conforme o art. 68 do Código de Processo Penal, o Ministério Público também t
em legitimidade para promover a ação civil ex delicto em nome do ofendido. Nesse
caso, o Ministério Público atua como substituto processual. A Constituição Fede
ral, no art. 129, relaciona as funções institucionais do Ministério Público e pr
evê, no § 2. , que essas funções só podem ser exercidas por integrantes da carre
ira. A Constituição Federal vedou a possibilidade do promotor ad hoc, isto é, a
nomeação de uma pessoa que faça as vezes do promotor para algum ato processual.
O Ministério Público, porque exerce a acusação pública, possui algumas peculiari
dades, como a possibilidade de impetrar habeas corpus e de recorrer em favor do
réu; além disso, seus membros estão sujeitos à disciplina das suspeições e imped
imentos, entre outras. Uma vez que atuam em nome da instituição e não em nome pr
óprio, podem ser substituídos no curso do processo, proibindo se, entretanto, de
signações discricionárias feitas pelo Procurador Geral de Justiça. Os membros do
Ministério Público não se encontram subordinados, quer ao Poder Executivo, quer
ao Judiciário, possuindo total independência.
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1.3. Acusado O acusado é aquele contra quem se dirige a pretensão punitiva. É o
sujeito passivo da relação jurídico processual. O acusado deve ser identificado
com o nome e com os demais dados. O Código de Processo Penal permite a propositu
ra da ação penal somente com a descrição das características físicas do indivídu
o. É necessário que o acusado tenha capacidade para ser parte (sujeito de direit
os e obrigações) e capacidade para estar em juízo em nome próprio, o que advém c
om a idade de 18 anos. Ao acusado menor de 21 anos, será nomeado curador, que po
derá ser advogado ou outra pessoa idônea. Se o acusado teve a assistência de def
ensor dativo, a falta de curador não anula o processo, conforme a Súmula n. 352
do Supremo Tribunal Federal. Não podem ser acusadas as pessoas que dispõem de im
unidade parlamentar ou diplomática. O acusado que, citado pessoalmente, não comp
arecer ao interrogatório, será considerado revel. A Constituição Federal previu
a possibilidade de a pessoa jurídica ser o sujeito passivo da infração penal nos
casos de crime contra a economia popular, contra a ordem econômica e financeira
e nas condutas lesivas ao meio ambiente. A Constituição Federal prevê uma série
de garantias ao acusado no processo penal, entre as quais:

o direito ao respeito à integridade física e moral; o direito ao devido processo
legal;
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LO XIII

o direito ao contraditório e à ampla defesa, que inclui a autodefesa e a defesa
técnica feita por defensor;

o direito ao silêncio.
O acusado poderá, sem o defensor: impetrar habeas corpus, interpor recurso, inte
rpor revisão criminal, pagar fiança arbitrada pelo juiz e argüir suspeição.
1.4. Advogado O defensor não é sujeito processual, mas sim o representante do ac
usado, que age em nome e no interesse dele. Exerce a defesa técnica do acusado,
que é tão importante e indisponível que poderá ser exercida ainda que contra a v
ontade do representado ou mesmo na sua ausência. No processo penal, o contraditó
rio e a ampla defesa são efeitos. A ciência e a participação são necessárias. A
ampla defesa, no processo penal, constitui se de autodefesa, feita pelo próprio
acusado no interrogatório, e de defesa técnica, desempenhada por pessoa legalmen
te habilitada, o advogado (art.133 da Constituição Federal). Se o acusado não po
ssuir defensor constituído, também chamado de procurador, o juiz irá nomear lhe
um defensor, chamado de defensor dativo. Se o acusado possuir habilitação técnic
a, ele mesmo poderá defender se. A constituição do defensor faz se por meio de o
utorga de procuração com cláusula ad judicia. A constituição do defensor pode se
r também apud
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acta, isto é, o próprio acusado em seu interrogatório indica quem é seu defensor
. Para a realização de alguns atos no processo, o defensor precisa de poderes es
peciais, como poderes para argüir a suspeição, argüir falsidade de documento e c
oncordar com perdão do querelante. Conforme entendimento do Supremo Tribunal Fed
eral, o defensor dativo não tem a obrigação de recorrer, mas, se o acusado inter
puser recurso, o defensor dativo tem a obrigação de arrazoar o recurso. A intima
ção do defensor dativo é feita pessoalmente e a intimação do defensor constituíd
o é feita por publicação na imprensa oficial. A Lei n. 1.060/50, art. 5. , § 5.
, que trata da assistência judiciária, prevê o prazo em dobro para o defensor pú
blico. A jurisprudência estende a prerrogativa do prazo em dobro ao defensor dat
ivo e aos advogados com convênio na Procuradoria Geral do Estado. A falta do def
ensor, ainda que motivada, não implica adiamento do ato processual, devendo o ju
iz nomear ao réu um substituto ad hoc para o ato.
1.5. Assistente do Ministério Público O assistente de acusação é parte contingen
te no processo. Podem intervir no processo, como assistentes do Ministério Públi
co, o ofendido, seu representante legal, ou, na falta, o cônjuge, ascendente, de
scendente ou irmão do ofendido, por intermédio de advogado, para reforçar a acus
ação e acautelar a reparação civil. Atualmente tem sido admitida a intervenção c
omo assistente da(o) companheira(o) do ofendido. Atenção: O Estado pode intervir
como assistente da acusação?
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LO XIII
Para os Profs. TOURINHO e MIRABETE, o Estado não pode intervir, pois o Ministéri
o Público já defende o interesse público. Não há necessidade de o Estado partici
par como assistente da acusação. Para o Prof. VICENTE GRECO, é possível a interv
enção do Estado, pois o Ministério Público, quando atua, defende interesse públi
co primário (sociedade), e o Estado, quando se habilita como assistente da acusa
ção, vai defender interesse público secundário (patrimonial). O Decreto lei n. 2
01/67, que trata da responsabilidade dos prefeitos, prevê expressamente a possib
ilidade de o Estado atuar como assistente da acusação. O assistente da acusação
intervém em todos os termos da ação penal, logo, não toma parte do inquérito pol
icial e da execução. Intervém a partir do recebimento da denúncia até o trânsito
em julgado da decisão. Intervém no processo no estado em que ele se encontra; a
ssim, não pode pretender a renovação de atos processuais sobre os quais já ocorr
eu a preclusão. O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do
assistente. Manifesta se sobre a legalidade. No tocante à avaliação pelo Minist
ério Público acerca da conveniência ou oportunidade para a intervenção do assist
ente, existem duas posições:

Para os Profs. TOURINHO e MIRABETE, o Ministério Público somente examina a legal
idade da intervenção.

Para os Profs. MAGALHÃES NORONHA e TORNAC, além da legalidade, o Ministério Públ
ico pode manifestar se sobre a conveniência e a oportunidade da intervenção do a
ssistente.
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LO XIII
Atualmente vigora a primeira posição. Da decisão que admite ou não o assistente
de acusação não cabe recurso, podendo, entretanto, ser impetrado mandado de segu
rança ou correição parcial. Qual o real interesse do assistente de acusação em i
ngressar no processo penal? Para o Prof. TOURINHO, a intervenção do assistente f
undamenta se exclusivamente em interesse na obtenção de uma sentença penal conde
natória, que será um título executivo judicial a ser executado no juízo cível, r
eparando os danos decorrentes do ato ilícito. Para uma segunda posição, dominant
e na doutrina e n jurisprudência, a além do interesse citado acima, o assistente
também tem o interesse de auxiliar o Ministério Público na busca da realização
da justiça. Um dos principais expoentes dessa corrente é o Prof. VICENTE GRECO.
Em razão dessa questão, levanta se uma nova polêmica: Se, no processo, foi aplic
ado ao réu o sursis penal e o Ministério Público se conforma, o assistente de ac
usação poderá recorrer, interpondo apelação? Novamente surgem duas posições: Par
a o Prof. TOURINHO, o assistente já alcançou seu objetivo, a sentença penal cond
enatória, restando executá la no juízo cível. Para o Prof. VICENTE GRECO, o assi
stente quer também a realização da justiça, a correta aplicação da lei ao caso c
oncreto, podendo, portanto, interpor apelação. O art. 271 do Código de Processo
Penal relaciona os poderes do assistente no processo penal. É um rol taxativo:
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LO XIII

Propor meios de prova. O assistente poderia arrolar testemunhas, já que esse é u
m meio de prova?
O momento para a acusação arrolar testemunhas de acusação é no oferecimento da d
enúncia, e o assistente intervém no processo após o recebimento da denúncia, qua
ndo, portanto, já ocorreu a preclusão. Há, no entanto, duas posições:

Para o Prof. TOURINHO, o momento para arrolar testemunhas já precluiu, não sendo
possível posteriormente propor tal meio de prova.

Para o Prof. MIRABETE, é possível, desde que dentro do número legal de testemunh
as que serão ouvidas, ou não, a critério do juiz.

Requerer perguntas às testemunhas, sempre posteriores às do Ministério Público.

Aditar o libelo, usando o prazo de 48h por analogia. Oferecer alegações finais,
sempre posteriores às do Ministério Público.


Participar dos debates orais. Arrazoar seus próprios recursos e os recursos inte
rpostos pelo Ministério Público. Pode também oferecer contra razões aos recursos
da defesa. O Código de Processo Penal só permite ao assistente de acusação inte
rpor recurso de apelação no procedimento do júri e no juízo singular e recurso e
m sentido estrito contra decisão de impronúncia e que julga extinta a punibilida
de. Conforme a Súmula n. 210 do Supremo Tribunal Federal, o assistente pode reco
rrer, inclusive extraordinariamente (e especial), contra acórdãos que
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LO XIII
julguem apelação ou recurso em sentido estrito. Da decisão concessiva de habeas
corpus, o assistente de acusação não pode recorrer, conforme a Súmula n. 208 do
Supremo Tribunal Federal. O prazo para o assistente interpor recurso em sentido
estrito é de 5 dias, se ele já estiver habilitado nos autos, ou de 15, se não es
tiver habilitado, pois, nesse caso, não é intimado da decisão. O termo inicial p
ara o assistente interpor recurso é supletivo e inicia se no primeiro dia subseq
üente ao término do prazo do Ministério Público. Se o Ministério Público já inte
rpôs recurso, não cabe ao assistente propor novamente. Se o Ministério Público s
ó recorreu de parte da decisão, o assistente pode recorrer da parte não recorrid
a.
Atenção: O co réu pode ser assistente de acusação? Ex: lesões corporais recíproc
as. Não há, nesse caso, legítima defesa. Ambos são denunciados pelo mesmo delito
. Serão ao mesmo tempo réu e vítima. Um deles poderá habilitarse como assistente
de acusação? O art. 270 do Código de Processo Penal dispõe que o co réu no mesm
o processo não poderá intervir como assistente do Ministério Público, concluindo
se, portanto, pela impossibilidade da intervenção do co réu como assistente da
acusação. A doutrina, entretanto, observa a seguinte possibilidade: no processo,
um deles é absolvido, o Ministério Público conforma se com a decisão e esta tra
nsita em julgado, enquanto o outro é condenado e apela de sua decisão. Aquele qu
e foi anteriormente absolvido posteriormente pode intervir como assistente da ac
usação, pois não é mais coréu.
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LO XIII
O assistente que não tiver legítimo interesse ou que perturbar deliberadamente a
acusação poderá ser afastado. O assistente que faltar injustificadamente a um a
to do processo não será intimado dos demais.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XIV
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510 010 Tel.: (11) 3346.4600 –
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LO XIV
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. DA PRISÃO E DA LIBERDADE PROVISÓRIA
1.1. Conceito Prisão consiste na privação da liberdade de locomoção, mediante cl
ausura, decretada por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária comp
etente, ou decorrente de flagrante delito. Conforme o art. 5. , inc. LXI, da Con
stituição Federal, ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por ordem es
crita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de tra
nsgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. A prisão será
efetuada sem o respectivo mandado somente nos casos de prisão em flagrante, tra
nsgressão militar, durante estado de sítio e no caso de recaptura do evadido. O
Código Eleitoral prevê que, 5 dias antes e 48h depois do dia da eleição, não pod
em ser cumpridos mandados judiciais de prisão processual. Tal disposição visa as
segurar o exercício do direito político. Podem, entretanto, ser efetuadas as pri
sões em flagrante e as decorrentes de sentença penal condenatória com trânsito e
m julgado.
1.2. Espécies As espécies de prisão são:
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LO XIV

Prisão Penal ou Prisão com Pena. É a prisão decorrente de sentença penal condena
tória transitada em julgado, irrecorrível.

Prisão Processual, Provisória ou Cautelar. É a prisão decretada no curso do proc
esso. Como tem natureza cautelar, precisam estar presentes o fumus boni iuris e
o periculum in mora para ser decretada. São espécies de prisão processual:

prisão em flagrante; prisão preventiva; prisão temporária; prisão para apelar; p
risão por sentença de pronúncia.





Prisão Civil. A Constituição Federal não permite a prisão civil por dívida, salv
o a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação ali
mentícia e a do depositário infiel, conforme art. 5. , inc. LXVII, da Constituiç
ão Federal.

Prisão disciplinar. É a prisão para as transgressões militares e os crimes propr
iamente militares.

Prisão administrativa. Com a Constituição Federal de 1988, a autoridade administ
rativa não pode mais aplicar a pena de prisão, sendo necessária a decretação pel
o Poder Judiciário, respeitando se o devido processo legal.
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LO XIV
1.3. Mandado de Prisão O Código de Processo Penal, nos arts. 285 e ss., trata do
mandado (ordem) de prisão. Conforme dispõe esse diploma, a autoridade judicial
que ordenar a prisão expedirá o respectivo mandado, que será lavrado pelo escriv
ão e assinado pela autoridade competente. Além de designar pelo nome ou sinais c
aracterísticos a pessoa a ser presa, o mandado mencionará a infração penal que m
otivou a prisão, declarará o valor da fiança, se afiançável o delito, e será dir
igido a quem tenha qualidade para executá lo. O mandado será apresentado em dupl
icata, e o preso passará recibo em uma das vias. A execução do mandado será real
izada em qualquer dia e horário, guardadas as disposições sobre inviolabilidade
de domicílio. Na prisão em flagrante, não há inviolabilidade de domicílio. Exemp
lo: guardar entorpecentes em casa é um crime permanente, sua consumação se prolo
nga no tempo. A prisão em flagrante pode ocorrer a qualquer momento.
1.4. Prisão em Domicílio e em Perseguição A prisão decorrente de mandado deve re
speitar a inviolabilidade do domicílio, prevista no art. 5. , inc. XI, da Consti
tuição Federal. O mandado de prisão só poderá ser cumprido durante o dia, compre
endido o interregno das 6 às 18h. Alguns entendem que o direito ao cumprimento d
o mandado de prisão se inicia com a aurora e se encerra com o crepúsculo. Nesse
período, a prisão pode ser efetuada ainda que sem o consentimento do morador, po
dendo o executor arrombar as portas se preciso, conforme art. 293 do Código de P
rocesso Penal. O morador que se recusar a entregar o réu oculto em sua casa come
terá o crime de favorecimento pessoal, art. 348 do Código Penal. Estão excluídos
o cônjuge, ascendente, descendente e irmão (cadi) do réu.
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LO XIV
Durante a noite, o mandado de prisão só será cumprido se houver concordância do
morador. A recusa, nesse caso, não configura crime, é um exercício regular do di
reito. Se não houver concordância do morador, como cautela, as saídas devem ser
vigiadas, tornando a casa incomunicável. Ao amanhecer será efetuada a prisão. No
caso de perseguição, passando o réu para outra Comarca, o executor da prisão po
derá prendê lo onde o alcançar, apresentando o imediatamente à autoridade polici
al local, que lavrará o auto de prisão em flagrante, se for o caso, e providenci
ará sua remoção para apresentação ao juiz que determinou a prisão.
1.5. Prisão Especial Algumas pessoas, em razão de sua função, cumprirão a prisão
processual em celas especiais ou quartéis – tal prisão só vigora até a sentença
condenatória definitiva. É assegurado: alojamento condigno, alimentação, recrei
o, uso de vestuário próprio, assistência do advogado, assistência religiosa, ass
istência médica particular, visita de parentes e amigos em horário previamente f
ixado, visita de parentes próximos durante o expediente, sem horário determinado
, recepção e transmissão de correspondência livremente, salvo casos especiais, e
transporte diferenciado. O art. 295 do Código de Processo Penal relaciona aquel
es que têm direito à prisão especial. Além desses, há outros previstos em leis e
speciais também. Se não houver estabelecimento adequado, poderá ser concedido o
regime de prisão provisória domiciliar, na própria residência, de onde o preso n
ão poderá se afastar sem prévio consentimento judicial.
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LO XIV
Conforme art. 86, § 3. , da Constituição Federal, o Presidente da República não
estará sujeito à prisão enquanto não sobrevier sentença condenatória transitada
em julgado.
1.6. Prisão em Flagrante A palavra ‘flagrante’ vem do latim, significando ‘queim
ar’. Flagrante delito é o crime que ‘ainda queima’, isto é, que está sendo comet
ido ou acabou de sê lo. A prisão em flagrante é uma medida restritiva da liberda
de de natureza processual e cautelar. Consiste na prisão – independente de ordem
escrita e fundamentada de juiz competente – de quem é surpreendido enquanto com
ete ou acaba de cometer a infração penal. Aplica se também à contravenção.
1.6.1. Espécies de flagrante

Flagrante próprio: é o flagrante propriamente dito, real ou verdadeiro. O agente
é preso enquanto está cometendo a infração penal ou assim que acaba de cometê l
a– art. 302, incs. I e II, do Código de Processo Penal.

Flagrante impróprio: é o flagrante irreal ou “quase flagrante”. O agente é perse
guido logo após cometer o ilícito, em situação que faça presumir ser ele o autor
da infração– art. 302, inc. III, do Código Penal.

Flagrante presumido: é o flagrante ficto ou assimilado. O agente do delito é enc
ontrado, logo depois, com papéis, instrumentos, armas ou
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LO XIV
objetos que fazem presumir ser ele o autor do delito– art. 302, inc. IV, do Códi
go de Processo Penal.

Flagrante compulsório: as autoridades policiais e seus agentes têm o dever de ef
etuar a prisão em flagrante, não possuindo qualquer discricionariedade.

Flagrante facultativo: é a faculdade que qualquer um do povo tem de efetuar ou n
ão a prisão em flagrante, conforme os critérios de conveniência e oportunidade.

Flagrante preparado ou provocado: é o delito de ensaio, delito de experiência, d
elito putativo por obra do agente provocador. Ocorre quando alguém, de forma ins
idiosa, provoca o agente à prática de um crime e, ao mesmo tempo, toma providênc
ias para que ele não se consume. No flagrante preparado, o policial ou terceiro
induz o agente a praticar o delito e o prende logo em seguida, em flagrante. O S
upremo Tribunal Federal considera atípica a conduta, conforme a Súmula n. 145.

Flagrante esperado: essa hipótese é válida. O policial ou terceiro esperam a prá
tica do delito para prender o agente em flagrante. Não há qualquer induzimento.

Flagrante prorrogado: é o flagrante previsto no art. 2. , inc. II, da Lei n. 9.0
34/95, que trata das organizações criminosas. O policial tem a discricionariedad
e para deixar de efetuar a prisão em flagrante no momento da prática delituosa,
tendo em vista um momento mais importante para a investigação criminal e para a
colheita de provas. Só é possível nesses crimes.
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Flagrante forjado: é o flagrante maquinado, fabricado ou urdido. Policiais ou te
rceiros criam provas de um crime inexistente para prender em flagrante. Exemplo:
o policial, ao revistar o carro, afirma ter encontrado drogas, quando na verdad
e foi ele quem colocou a droga dentro do carro, visando a incriminação. Apesar d
a dificuldade de sua prova, quando ela se dá é considerado crime inexistente, e
o policial responde por abuso de autoridade.
O flagrante em crime permanente pode ocorrer enquanto não cessar a permanência d
o delito. No tocante ao flagrante em crime habitual, surgiram duas correntes:

A primeira entende que o crime habitual exige a reiteração de condutas, logo, nã
o cabe a prisão em flagrante.

A segunda afirma que, se já existe prova da habitualidade, pode ocorrer a prisão
em flagrante.
A ação penal privada não impede a prisão em flagrante, desde que o ofendido auto
rize a lavratura do auto e o ratifique no prazo da entrega da nota de culpa, ou
seja, em 24h. Não podem ser presos em flagrante:

Menor de 18 anos (menor é apreendido). Diplomatas estrangeiros. Presidente da Re
pública.
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LO XIV

Agente que socorre a vítima de trânsito– art. 301 da Lei n. 9.503/97. Aquele que
se apresenta espontaneamente à autoridade após o cometimento do delito. Nada im
pede, entretanto, que lhe seja decretada a prisão preventiva, se necessário.

Podem ser presos em flagrante apenas nos crimes inafiançáveis:

membros do Congresso Nacional; deputados estaduais; magistrados; membros do Mini
stério Público; advogados no exercício da profissão.




A autoridade policial competente, para lavrar o auto de prisão, será aquela do l
ocal onde se efetivou a prisão. Se for local diferente de onde ocorreu o delito,
os autos devem ser posteriormente para lá remetidos a fim de instauração do inq
uérito policial e propositura da ação penal. Se se desrespeitar essa regra, o au
to será válido, haverá mera irregularidade. No caso de infração militar, o auto
de prisão em flagrante é lavrado pela autoridade oficial militar. Nos crimes com
etidos no interior da Câmara ou do Senado, a Mesa da Câmara ou outra autoridade
competente, designada no regimento interno, lavrará o auto. Se o fato foi pratic
ado contra autoridade ou em sua presença, ela própria, desde que investida de su
as funções, poderá lavrar o auto.
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LO XIV
Como o prazo para a entrega da nota de culpa ao preso é de 24 horas, por dedução
lógica, o prazo para lavratura do auto também é de 24 horas.
1.6.2. Etapas da prisão em flagrante

Comunicação ao preso de seus direitos, dentre eles os de permanecer em silêncio
no interrogatório. Deve se também comunicar sua família ou seu advogado sobre a
prisão. O direito do preso é o de comunicar e não o de ser assistido.

Iniciam se as oitivas do condutor do preso e depois, no mínimo, de duas testemun
has. Na falta de uma testemunha, o próprio condutor poderá ser a testemunha. Não
havendo testemunhas, devem ser ouvidas duas testemunhas que presenciaram a apre
sentação do preso à autoridade policial – são as testemunhas instrumentárias. Se
for possível, ouve se também a vítima.

Interrogatório do preso. Segue os mesmos requisitos do interrogatório judicial.
Se o acusado for menor de 21 anos, ser lhe á nomeado um curador, sob pena de rel
axamento do flagrante.

Após 24 horas, deve ser entregue ao preso a nota de culpa, que é o instrumento q
ue informa ao preso os motivos da prisão. Deve ser assinado pelas testemunhas. A
falta da nota de culpa também acarreta o relaxamento da prisão.

Encerrada a lavratura do auto, a prisão é comunicada ao juiz, que dará vistas ao
Ministério Público. Com essa comunicação, a autoridade policial se desincumbe d
a sua obrigação.
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1.7. Prisão Preventiva A prisão preventiva é uma prisão processual de natureza c
autelar. Pode ser decretada desde o inquérito policial até antes do trânsito em
julgado da sentença penal condenatória. Como é exceção, só pode ser decretada qu
ando demonstrado o fumus boni iuris e o periculum in mora. Será decretada a requ
erimento do Ministério Público, por representação da autoridade policial, ou de
ofício pela autoridade judicial, tanto em ação penal pública como em ação penal
privada. Se o Ministério Público, ao invés de oferecer a denúncia, devolver os a
utos para diligências complementares, não poderá ser decretada a preventiva, poi
s não estão caracterizados os indícios da autoria – falta o fumus boni iuris. A
apresentação espontânea do acusado não impede a decretação da preventiva. A deci
são que denega o pedido de prisão preventiva comporta recurso em sentido estrito
, conforme art. 581, inc. V, do Código de Processo Penal. A decisão que concede
pedido de prisão preventiva comporta o pedido de habeas corpus. A prisão prevent
iva não pode ser decretada nas infrações penais em que o réu se livra solto.
Pressupostos para decretação da prisão preventiva:

Fumus boni iuris: Prova da materialidade e indícios de autoria. Periculum in mor
a:
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LO XIV

Garantia da Ordem Pública (GOP): Visa impedir que o agente, solto, continue a de
linqüir ou acautelar o meio social. Maus antecedentes e reincidência evidenciam
provável prática de novos delitos. Também cabível quando o crime se reveste de g
rande violência e crueldade.

Conveniência da Instrução Criminal (CIC): Visa impedir que o agente perturbe ou
impeça a produção de provas.

Garantia da Aplicação da Lei Penal (GALP): Há iminente risco de o acusado fugir,
inviabilizando a aplicação da lei penal. Cabível principalmente nos casos do ag
ente não ter residência fixa ou ocupação lícita.

Garantia da Ordem Econômica (GOE): Foi introduzida pela lei antitruste (Lei n. 8
.884/94), visando coibir graves crimes contra a ordem econômica, ordem tributári
a e o sistema financeiro.

Só se admite a decretação da preventiva nos crimes dolosos:

punidos com reclusão; punidos com detenção, se o acusado for vadio ou de identid
ade duvidosa;


se o réu foi condenado por outro crime doloso em sentença transitada em julgado.
1.8. Prisão Temporária A prisão temporária não está prevista no Código de Proces
so Penal, mas na Lei n. 7.960/89. Suas principais características são:
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LO XIV

Somente é decretada durante o inquérito policial. Nunca pode ser decretada de of
ício, somente por requerimento do Ministério Público ou representação da autorid
ade policial.


Tem prazo determinado. Esgotado o prazo, o acusado deve ser solto. Em regra, o p
razo é de 5 dias, prorrogáveis por mais 5 em caso de extrema e comprovada necess
idade. Nos crimes hediondos e assemelhados (Lei n. 8.072/90), o prazo é de 30 di
as prorrogáveis. Apesar de ter prazo predeterminado, pode ser revogada antes dis
so.

É uma prisão de natureza cautelar, só tem razão de ser quando necessária. Após e
sgotado o prazo, o acusado pode continuar preso, se houver a conversão da prisão
temporária em prisão preventiva.
O art. 1. da Lei n. 7.960/89 determina os requisitos necessários para a decreta
ção da prisão temporária. São eles:

quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; quando o indi
ciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos suficientes para sua i
dentificação;


quando houver fundadas razões– provas de o agente ser autor ou ter participado d
os seguintes crimes:

atentado violento ao pudor; crimes contra o sistema financeiro nacional; extorsã
o; extorsão mediante seqüestro;
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LO XIV

estupro; epidemia com resultado morte; envenenamento de água potável ou de subst
ância alimentícia ou medicinal, qualificados por morte;



genocídio; homicídio doloso; quadrilha ou bando; roubo; rapto violento; seqüestr
o ou cárcere privado; tráfico de drogas.






O rol do art. 1. , inc. III, da Lei n. 7.960/89 é taxativo, mas não se esgota al
i; a Lei n. 8.072/90 o complementa. Os requisitos do art. 1. , incs. I a III, sã
o alternativos ou cumulativos? Posições:

Uma primeira corrente, sustentada pelos Profs. TOURINHO e MIRABETE, afirma que o
s requisitos são alternativos.

Uma segunda, sustentada pelo Prof. SCARANCE, estabelece que os requisitos são cu
mulativos e que todos devem estar presentes para
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que seja decretada a temporária. Inviabiliza, na prática, a aplicação da lei..

Uma terceira corrente, sustentada pelo Prof. VICENTE GRECO FILHO, entende que os
requisitos são alternativos, porém, o juiz só poderá decretar a prisão temporár
ia se presentes os fundamentos da preventiva (GOP, GOE, GALP, CIC).

Uma quarta, sustentada pelos Profs. DAMÁSIO DE JESUS e MAGALHÃES GOMES FILHO, su
stenta que, como em toda prisão cautelar, devem estar presentes o fumus boni iur
is e o periculum in mora. Na temporária, o periculum in mora é o requisito do ar
t. 1. , incs. I ou II, da Lei n. 7.960/89; e o fumus boni iuris é o requisito do
art. 1. , inc. III, da Lei 7.960/89. O juiz, portanto, no caso concreto, vai de
cretar a temporária se estiverem presentes:

o inc. III combinado com o inc. I; o inc. III combinado com o inc. II.

É a posição dominante e acolhida pela jurisprudência.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XV
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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LO XV
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. DA PRISÃO E DA LIBERDADE PROVISÓRIA (TOMO II)
1.1. Prisão por Sentença Condenatória Recorrível (Prisão para Apelar) O art. 393
, inc. I, do Código de Processo Penal dispõe que um dos efeitos da sentença cond
enatória recorrível é ser o réu preso ou conservado na prisão, seja no caso de i
nfrações inafiançáveis, seja nas afiançáveis – enquanto não prestar fiança. O ar
t. 594 do Código de Processo Penal dispõe que o réu não poderá apelar sem estar
recolhido à prisão ou prestar fiança, salvo se for primário e de bons antecedent
es– assim reconhecido na sentença condenatória– ou condenado por crime de que se
livre solto. Em virtude desses dispositivos, são requisitos da prisão por sente
nça condenatória recorrível:

Condenação, por sentença condenatória recorrível, a pena privativa de liberdade
não suspensa e não substituída (inexistência de sursis penal ou pena alternativa
).

Ser o réu reincidente ou primário de maus antecedentes. Se for primário e de bon
s antecedentes poderá apelar em liberdade.

Ser a infração for inafiançável ou, se afiançável, não tiver sido paga.
A prisão por sentença condenatória recorrível não é decretada no caso de infraçõ
es em que o réu se livra solto, em que não é aplicada pena privativa de
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liberdade ou quando o máximo da pena privativa de liberdade não exceder a 3 mese
s (art. 321 CPP).
1.1.1. Regras específicas A Lei n. 8.072/90 (crimes hediondos), no art. 2. , § 2
. , e a Lei n. 9.613/98 (lavagem de capitais), no art. 3. , determinam que o jui
z decidirá, fundamentadamente, se o réu apelará em liberdade ou não. A Lei n. 6.
368/76 (tóxicos), no art. 35, e a Lei n. 9.034/95 (organizações criminosas), no
art. 9. , vedam a possibilidade de o réu apelar em liberdade. Na visão da doutr
ina, o réu só poderá ser preso por força de sentença condenatória recorrível qua
ndo o encarceramento se mostrar necessário. Isso ocorre quando presentes os fund
amentos da prisão preventiva (fumus boni iuris, que é a sentença condenatória re
corrível; e o periculum in mora, garantia da ordem pública, garantia da ordem ec
onômica, conveniência da instrução criminal, garantia da aplicação da lei penal)
. Deve se compatibilizar essa prisão com o princípio do estado de inocência. Só
os requisitos do art. 594 do Código de Processo Penal não podem determinar a pri
são, pois seria execução provisória da pena. Quanto à jurisprudência, há duas po
sições:

Parte dela aplica o art. 594 do Código de Processo Penal in totum. Para outra pa
rte, o tratamento depende de como o réu respondeu o processo, se preso ou solto.
Se durante o processo o réu estava solto, não há porquê prendê lo para recorrer
da sentença. Se estava preso

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durante o processo, não há razão para soltá lo;ele permanecerá preso, ainda que
primário e com bons antecedentes.
1.2. Prisão por Pronúncia O art. 408 do Código de Processo Penal dispõe que o ju
iz, se convencido da existência do crime e de indícios de que o réu seja o seu a
utor, deverá pronunciá lo, indicando os motivos do seu convencimento. Conforme o
§ 1. , a sentença de pronúncia indicará o dispositivo legal em cuja sanção for
julgado incurso o réu, e o recomendará na prisão em que se achar, ou expedirá or
dem para sua captura. Dispõe o § 2. que, se o réu for primário e de bons antece
dentes, poderá o juiz deixar de decretar lhe a prisão ou revogá la, caso já se e
ncontre preso. Em virtude desses dispositivos, são pressupostos para que o réu s
eja preso por sentença de pronúncia:

réu pronunciado; réu reincidente, ou primário com maus antecedentes; ser o crime
inafiançável ou, se afiançável, o réu não ter pago fiança (nos crimes dolosos c
ontra a vida, são afiançáveis o infanticídio, art. 123 do CP, e o aborto provoca
do pela gestante ou com seu consentimento, art. 124 do CP);



a prisão ser necessária para não violar o princípio da presunção de inocência. P
ara a doutrina, são necessários os requisitos da prisão preventiva. Para a juris
prudência, se permaneceu solto durante o processo, continuará em liberdade. Se j
á estava preso durante o
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processo, permanecerá preso, ainda que primário e com bons antecedentes.
1.3. Liberdade Provisória Aplica se a liberdade provisória para a prisão em flag
rante (salvo se houver irregularidade ou nulidade que enseje o relaxamento da pr
isão em flagrante), para a prisão por pronúncia (art. 408, § 2. , do CPP) e para
a prisão para apelar (sentença condenatória recorrível, art. 594 do CPP). Para
a prisão preventiva e para a temporária, pede se a revogação da prisão. A liberd
ade provisória é uma contra cautela que vigora até o trânsito em julgado da deci
são final, quando haverá a execução da pena, aplicada no caso de condenação, ou
a liberdade definitiva, no caso de absolvição. A Liberdade Provisória é obrigató
ria nas infrações penais em que o réu se livra solto– as apenadas exclusivamente
com multa e as apenadas com pena privativa de liberdade que não exceda 3 (três)
meses (art. 321, incs. I e II, do CPP). A Liberdade Provisória é permitida nas
infrações em que há o pagamento de fiança. De acordo com o art. 322 do Código de
Processo Penal, são afiançáveis as infrações punidas com detenção ou prisão sim
ples (fiança concedida pelo juiz ou pela autoridade policial) ou punidas com rec
lusão cuja pena não exceda 2 (dois) anos (fiança concedida somente pela autorida
de judicial e fundamentadamente). A Súmula n. 81 do Superior Tribunal de Justiça
dispõe que, em caso de concurso material, para se determinar a afiançabilidade
ou não no caso concreto, as penas devem ser somadas.
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Até 1977, obtinha se a liberdade provisória somente mediante o pagamento de fian
ça. Em 1977, a Lei n. 6.416 acrescentou um parágrafo único ao art. 310 do Código
de Processo Penal, criando se a possibilidade da obtenção da liberdade provisór
ia sem fiança, sempre que estiverem ausentes os motivos da prisão preventiva, at
é mesmo nos crimes inafiançáveis. São inafiançáveis conforme os arts. 323 e 324
do Código de Processo Penal:

crimes punidos com reclusão, em que a pena mínima for superior a dois anos;

contravenções de mendicância e vadiagem; crimes dolosos punidos com pena privati
va de liberdade, se o réu for reincidente;


crimes punidos com reclusão e que provoquem clamor público, ou que tenham sido c
ometidos com violência contra a pessoa, ou que envolvam grave ameaça;

quebra de fiança anteriormente concedida, ou infringência de obrigação imposta;

prisão por mandado do juiz cível – disciplinar, administrativa ou militar;

o réu estiver no gozo de suspensão condicional da pena ou de livramento condicio
nal;

quando presentes os motivos que autorizam a preventiva.
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Nesses casos, o juiz deverá fazer o seguinte raciocínio: se o réu estivesse solt
o, haveria motivos para ser decretada a prisão preventiva? Se houver motivos, nã
o se concede a liberdade provisória. Se não houver motivos, concede se a liberda
de provisória. A liberdade provisória independente de fiança criou, na prática,
uma situação injusta. Se não é o caso de prisão preventiva e o delito é afiançáv
el, a liberdade provisória somente poderá ser concedida mediante o recolhimento
de fiança. Se o delito é inafiançável, a liberdade provisória poderá ser concedi
da sem qualquer pagamento. Ex.: o juiz recebe um processo de furto simples, cuja
pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos e que admite a fiança. Arbitrada e paga a fi
ança, é concedida a liberdade provisória. Em outro processo de roubo simples, co
m a pena de 4 (quatro) a 10 (dez) anos de reclusão – em pena mínima superior a 2
(dois) anos não cabe fiança –, conclui o juiz que, se o réu estivesse solto, nã
o seria o caso de decretação da prisão preventiva e, então, concede também a lib
erdade provisória. Percebe se uma injustiça da lei: no crime menos grave há o pa
gamento de fiança; no mais grave, não. Na prática, por razões de política crimin
al, o juiz, verificando o preenchimento dos requisitos, concede a liberdade prov
isória independente do pagamento de fiança em ambos os processos. A Lei n. 8.035
/90 determinou que, nos crimes contra a economia popular e de sonegação fiscal,
a liberdade provisória somente será concedida mediante recolhimento de fiança.
A liberdade provisória é vedada:
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nos crimes hediondos e assemelhados, salvo em caso de tortura que, apesar de ina
fiançável, admite a liberdade provisória;

no art. 7. da Lei n. 9.034/95, que trata das organizações criminosas; no art. 3
. da Lei n. 9.613/98, que trata da lavagem de bens e capitais.

P.: A vedação da liberdade provisória é inconstitucional? R.: Não, pois a Consti
tuição prevê que “ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admi
tir a liberdade provisória com ou sem o pagamento de fiança”, logo, nos casos em
que a lei não admita a liberdade provisória, pode se vedá la.
1.4. Fiança Fiança é a caução destinada a garantir o cumprimento das obrigações
processuais por parte do réu. Sua natureza jurídica é a de caução. Pode ser pres
tada pelo acusado ou por terceiro em seu favor, nas modalidades de depósito ou h
ipoteca. São infrações inafiançáveis, além das previstas nos arts. 323 e 324 do
Código de Processo Penal:

o crime de racismo, o crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de ent
orpecentes, terrorismo e a ação de grupos armados civis e militares contra a ord
em constitucional e o estado democrático de direito;
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a contravenção de aposta em corrida de cavalo fora do hipódromo (art. 9. , § 2.
, da Lei n. 7.291/84);

os crimes contra o sistema financeiro, se estiver configurada situação que autor
ize a prisão preventiva (art. 31 da Lei n. 7.492/86);

os crimes contra a fauna (art. 34 da Lei n. 5.197/67).
A autoridade policial pode arbitrar a fiança nas infrações punidas com detenção
e prisão simples; nos demais casos, compete ao juiz (art. 322, do CPP).
1.4.1. Obrigações do réu sob pena de quebramento da fiança

Comparecimento a todos os atos processuais a que for intimado. Obrigação de comu
nicar ao Juízo qualquer mudança de endereço. Não se ausentar da Comarca por mais
de 8 dias sem autorização do juiz.


A fiança é cabível desde o inquérito policial até o trânsito em julgado da sente
nça. Consistirá no depósito de bens, valores, pedras preciosas, títulos da dívid
a pública ou na hipoteca de imóvel.
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1.4.2. Valor da fiança O valor da fiança será fixado pela autoridade, conforme o
disposto no art. 325 do Código de Processo Penal (questão do concurso n. 172 da
magistratura!). Será de 1 (um) a 5 (cinco) salários mínimos quando a pena priva
tiva de liberdade for de até 2 (dois) anos; de 5 (cinco) a 20 (vinte) salários m
ínimos quando a pena privativa de liberdade for de, no máximo, 4 (quatro) anos;
de 20 (vinte) a 100 (cem) salários mínimos quando a pena privativa de liberdade
for superior a 4 (quatro) anos. Conforme a situação econômica do réu, o valor da
fiança pode ser reduzido até o máximo de dois terços ou aumentada até o décuplo
(art. 325, § 1. , incs. I e II, do CPP). Para determinar o valor da fiança, ser
á levado em consideração:

natureza da infração; condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado;
circunstâncias indicativas da periculosidade do agente; importância provável da
s custas do processo até o final do julgamento.



1.4.3. Reforço da fiança Poderá ser necessário o reforço da fiança, nos casos pr
evistos pelo art. 340 do Código de Processo Penal; não sendo reforçada, a fiança
ficará sem efeito e o réu será recolhido à prisão. Será exigido o reforço quand
o:

por engano, for tomada a fiança em valor insuficiente;
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houver inovação na classificação do delito; houver depreciação do objeto da fian
ça.

Se o juiz verificar que é impossível ao réu prestar fiança, por motivo de pobrez
a, poderá conceder lhe a liberdade provisória, sujeitando o ao cumprimento das o
brigações, que, se não cumpridas, acarretarão a revogação do benefício, conforme
o art. 350 do Código de Processo Penal. Esse dispositivo é anterior ao surgimen
to da possibilidade da liberdade provisória sem fiança. As atenuantes e as agrav
antes não são levadas em conta para a fixação da fiança, pois não alteram o míni
mo e o máximo da pena.
1.4.4. Cassação da fiança A fiança será cassada quando se verificar, posteriorme
nte, que não era cabível. Se a fiança foi concedia por autoridade policial, comp
ete a juiz cassála; se foi concedida por juiz, será cassada por tribunal mediant
e recurso da acusação.
1.4.5. Quebra da fiança Haverá quebra da fiança nos seguintes casos:

quando o réu descumprir suas obrigações processuais; quando o réu estiver, media
nte fiança, no gozo da liberdade provisória e praticar nova infração penal.

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São conseqüências do quebramento da fiança:

perda da metade do valor da fiança; obrigação de recolher se à prisão; impossibi
lidade de concessão de nova fiança no mesmo processo.


Quando o réu deixar de recolher se à prisão, sendo isso necessário, perderá todo
o valor depositado a título de fiança. O recurso adequado para as decisões sobr
e fiança será o recurso em sentido estrito (art. 581, incs. V e VII), decisão qu
e concede, cassa, julga inidônea, decreta o seu quebramento, nega, arbitra e dec
lara perdido o seu valor. O Ministério Público não precisa ser ouvido para conce
ssão de fiança; deverá, contudo, ser intimado da decisão, para interpor recurso
se achar necessário. Se o réu não for condenado, o valor da fiança lhe será rest
ituído, deduzido eventual montante declarado perdido. Se o réu for condenado, o
valor da fiança será destinado ao pagamento das custas processuais (no Estado de
São Paulo não há custas processuais no processo penal), ao pagamento de multa c
riminal e ainda pode ser revertido no pagamento de indenização civil ex delicto.
Nas infrações penais de competência do Juizado Especial Criminal, não se imporá
prisão em flagrante nem se exigirá fiança, se o autor do fato for imediatamente
encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer (art. 69, p
ar. ún., da Lei n. 9.099/95).
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XVI
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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LO XVI
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. CITAÇÃO
1.1. Conceito A citação é o ato processual por meio do qual é oferecido ao acusa
do conhecimento oficial acerca do teor da acusação, abrindo se oportunidade para
que ele produza sua defesa, triangularizando se, assim, a relação jurídicoproce
ssual. Até o momento anterior à citação, a relação era angular (autor e juiz). É
determinada pelo juiz e cumprida pelo Oficial de Justiça. A falta de citação no
processo penal causa nulidade absoluta do processo (art. 564, III e IV, do CPP)
, pois contraria os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defes
a. Exceção: o art. 570 do Código de Processo Penal dispõe que se o réu comparece
em juízo antes de consumado o ato, ainda que para argüir a ausência de citação,
sana a sua falta ou a nulidade. Nesse caso, o juiz ordenará a suspensão ou o ad
iamento do ato. O Código de Processo Penal tratou da citação em um título própri
o, compreendendo os arts. 351 ao 372. A citação pode ser de duas espécies:

citação pessoal; citação ficta (por edital).

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No processo penal não há citação ficta por hora certa. A citação ficta é somente
a editalícia.
1.2. Diferença entre Citação, Intimação e Notificação Citação é o ato processual
por meio do qual se chama a juízo o réu para comparecer e defender se. Intimaçã
o, segundo o Prof. Mirabete, é a ciência dada à parte, no processo, da prática d
e um ato, despacho ou sentença. Notificação é a convocação para o comparecimento
ou a prática de ato futuro. O Código de Processo Penal não diferencia intimação
e notificação, referindo se a uma quando deveria aludir a outra.
1.3. Quem Deve Ser Citado Somente o acusado pode ser citado, ainda que seja meno
r de 21 anos ou mentalmente enfermo, a citação não poderá ser feita na pessoa do
representante legal. Exceção: se já houver sido instaurado incidente de insanid
ade mental e a perturbação for conhecida do juízo, a citação se fará na pessoa d
o curador do acusado. Se a perturbação mental ainda não for conhecida do juízo,
mas o Oficial de Justiça a constata por ser aparente, deverá certificar a ocorrê
ncia no verso do mandado, a fim de que o juiz possa determinar a instauração do
incidente de insanidade mental.
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As pessoas jurídicas deverão ser citadas na pessoa de seu representante legal.
1.4. Conseqüências do Não atendimento à Citação O réu regularmente citado, pesso
almente ou por edital, mas com defensor constituído que não comparece, permanece
ndo inerte ao chamado, pratica a “contumácia”, ausência injustificada. O efeito
da contumácia é a revelia. O processo prosseguirá sem a presença do acusado que,
citado ou intimado, deixou de comparecer ou, no caso de mudança de endereço, nã
o comunicou o novo endereço ao juízo (art. 367 do CPP). Em virtude do princípio
da verdade real, sobre ele não recairá a presunção de veracidade quanto aos fato
s que lhe forem imputados. O réu poderá retornar ao processo a qualquer momento,
independente da fase em que esteja.
1.5. Efeitos da Citação Válida No processo penal, o único efeito da citação váli
da é o de completar a relação jurídica processual. Com ela se instaura o process
o e passam a vigorar todos os direitos, deveres, ônus e princípios que regem o p
rocesso penal. A citação válida no processo penal não torna prevento o juízo, nã
o interrompe a prescrição e não induz à litispendência.
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1.6. Citação Real ou Pessoal (espécies e comentários)
1.6.1. Citação pessoal A citação pessoal é aquela realizada na própria pessoa do
réu por meio de mandado citatório, carta precatória, carta rogatória, carta de
ordem e requisição. Há a certeza da realização da citação. A citação por mandado
(prevista nos arts. 352 ao 357 do CPP) é cumprida por Oficial de Justiça. Desti
na se à citação do réu em local certo e sabido dentro do território do juiz proc
essante. O mandado de citação indicará o nome do juiz, do qual emanou a ordem; o
nome do réu ou querelante; sua residência, se for conhecida; o fim para que é f
eita a citação; o juízo; o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz. O Oficial de Justiça deverá ler a
o citando o mandado e entregar lhe a contrafé, na qual são mencionados dia e hor
a da citação, ato que o Oficial deverá declarar na certidão, bem como a aceitaçã
o ou recusa do réu. A citação pode ser realizada em qualquer tempo, dia e hora,
inclusive domingos e feriados, durante o dia ou à noite. Não se deve, todavia, p
roceder à citação: de doente, enquanto grave o seu estado; de noivos, nos três p
rimeiros dias de bodas; de quem estiver assistindo ato de culto religioso; de cô
njuge ou outro parente de morto (consangüíneo ou afim, em linha reta ou colatera
l, em segundo grau) no dia do falecimento e nos sete dias seguintes. Entre a cit
ação e o interrogatório deve haver um prazo mínimo de 24 horas.
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1.6.2. Citação por requisição A citação por requisição é destinada à citação do
militar e do preso. É feita mediante ofício requisitório expedido pelo juiz ao c
omandante (chefe de serviço), no caso da citação do militar, ou ao diretor do es
tabelecimento prisional, no caso do preso, requisitando sua apresentação em juíz
o, no dia e hora designados, cabendo a esses e não ao Oficial de Justiça a citaç
ão. A requisição deve conter os mesmos requisitos do mandado de citação. Se o mi
litar ou o preso se encontrar em outra comarca, o juiz processante expedirá cart
a precatória, cabendo ao juiz deprecado a expedição do ofício requisitório. Conf
orme a Súmula n. 351 do Supremo Tribunal Federal, se o réu estiver preso na mesm
a Unidade da Federação do juiz processante, será nula sua citação por edital, se
ndo válida, portanto, a citação por edital do réu preso em outra Unidade da Fede
ração diversa daquela do juiz processante.
1.6.3. Citação por carta precatória A citação por precatória destina se à citaçã
o do réu que está em lugar certo e sabido, porém fora da jurisdição do juiz proc
essante (art. 353 do CPP). A precatória indicará o juiz deprecante e o deprecado
, suas respectivas sedes, o fim da citação e o juízo do lugar, dia e hora em que
o réu deverá comparecer. A principal característica da citação por precatória n
o processo penal é o seu caráter itinerante (art. 355, § 1. , do CPP). Se o juiz
deprecado verificar que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de
um terceiro juiz, a este remeterá os autos para a efetivação da citação, desde
que haja tempo.
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1.6.4. Citação por carta rogatória A citação por carta rogatória destina se à ci
tação do réu que se encontra em lugar certo e sabido, mas no estrangeiro ou em l
egações estrangeiras (embaixadas). Anteriormente, o réu que estava no estrangeir
o era citado por edital. Hoje, com a Lei n. 9.271/96, a citação é pessoal, atrav
és de rogatória. Exceção: se o Estado estrangeiro se recusar a cumprir a rogatór
ia do Brasil, o réu será citado por edital. Nesse caso, considera se que ele est
á em local inacessível (art. 363, I, do CPP). Como o trâmite da rogatória é demo
rado, o Código de Processo Penal autoriza a suspensão do processo e do curso do
prazo prescricional até a efetivação da citação (art. 368 do CPP).
1.6.5. Citação por carta de ordem A citação por carta de ordem tem disciplina id
êntica à da citação por precatória. É expedida por um órgão superior para ser cu
mprida por órgão inferior. Em geral são determinadas pelos tribunais nos process
os de sua competência originária. Ex.: o TJ pede para o juiz de primeira instânc
ia cumprir um mandado citatório de um réu residente em sua comarca e que goze de
prerrogativa de foro.
1.6.6. Citação do funcionário público O funcionário público será citado por mand
ado (atenção: somente são citados por requisição o preso e o militar), mas é nec
essária a expedição de um
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ofício ao chefe da repartição onde o citando trabalha, notificando o do dia, hor
a e lugar em que o funcionário deverá comparecer (art. 359 do CPP). Visa possibi
litar a continuidade do serviço público, providenciando se a substituição do fun
cionário. A falta da expedição desse ofício não invalida a citação. Se o citando
for magistrado, deverá ser comunicado ao Presidente do Tribunal de Justiça; se
for membro do Ministério Público, deverá ser comunicado ao Procurador Geral de J
ustiça.
1.7. Citação por Edital ou Ficta e a Lei n. 9.271/96 A citação por edital é medi
da excepcional, só sendo utilizada quando frustradas as possibilidades de citaçã
o pessoal, por ser impossível localizar o réu (art. 361 do CPP). Será feita a ci
tação por edital nos seguintes casos:

quando réu está em lugar incerto e não sabido (“LINS”), o prazo será de 15 dias;

quando for incerta a pessoa do réu a ser citada, o prazo será de 30 dias (art. 3
63, inc. II, do CPP);

quando o réu estiver se ocultando para não ser citado, o prazo será de 5 dias (a
rt. 362 do CPP);

quando o réu estiver em lugar inacessível, em virtude de epidemia, de guerra ou
por outro motivo de força maior, o prazo será de 15 a 90 dias (art. 363, inc. I,
do CPP).
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O edital será afixado na porta do juízo e será publicado na imprensa, onde houve
r. A Lei n. 9.271/96 trouxe grandes inovações para a citação editalícia. Anterio
rmente, se o réu citado por edital não comparecesse nem constituísse advogado, o
processo tinha prosseguimento normal. Muitas vezes, o réu nem tomava conhecimen
to de que fora processado e condenado à revelia. A lei alterou o art. 366 do Cód
igo de Processo Penal e determinou que se o réu citado por edital não comparecer
nem constituir advogado, o processo ficará suspenso e também será suspenso o pr
azo prescricional (atenção: se o réu foi citado pessoalmente e não comparecer ne
m constituir advogado, será decretada sua revelia). O juiz, mesmo aplicando o ar
t. 366 do Código de Processo Penal, se presente os motivos, poderá decretar a pr
isão preventiva do acusado. Poderá também determinar a produção das provas consi
deradas urgentes. Se o f izer, nomeará um defensor dativo. O processo e o prazo
prescricional ficarão suspensos por prazo indeterminado até que o réu seja encon
trado. Como a Lei n. 9.271/96 não estabeleceu um limite máximo para a suspensão
do prazo prescricional, poderia ser criado no caso concreto um crime imprescrití
vel. Somente a CF pode, no entanto, prever crimes imprescritíveis (que são o rac
ismo e a ação de grupos armados civis ou militares contra o Estado Democrático d
e Direito e a Ordem Constitucional – art. 5. , incs. XLII e XLIV). Para compatib
ilizar a Lei n. 9.271/96 com a Constituição Federal, a doutrina concluiu que o j
uiz deverá, nos processos em que aplicar o art. 366 do Código de Processo Penal,
estabelecer um prazo máximo para a suspensão da prescrição, que deverá correspo
nder ao prazo da prescrição da pretensão punitiva em abstrato, conforme a tabela
do art. 109 do Código Penal. Essa
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posição é a predominante na jurisprudência e tem como um de seus expoentes o Pro
f. Damásio de Jesus. Essa regra do art. 366 do Código de Processo Penal é híbrid
a, isto é, tem dispositivos de direito processual (quando trata da suspensão do
processo) e dispositivos de direito penal (quando trata da suspensão do prazo pr
escricional). Em normas híbridas, a parte que trata de direito material comanda
a retroatividade ou não da norma, pois afeta o direito do Estado de punir. Nesse
caso, como a norma estabelece uma situação pior para o réu, ela não se aplica a
os processos existentes antes de sua publicação, pela proibição da reformatio in
pejus. Da decisão que aplica o art. 366 do Código de Processo Penal cabe recurs
o em sentido estrito por analogia ao art. 581, inc. XVI, do Código de Processo P
enal. Há acórdãos entendendo que interposta a apelação, essa poderá ser recebida
em razão do princípio da fungibilidade.
1.8. Intimação Intimação é o conhecimento dado à parte de um ato já praticado no
processo. Conforme o art. 370 do Código de Processo Penal, nas intimações dos a
cusados, testemunhas e demais pessoas que devam tomar conhecimento de qualquer a
to, serão observadas as regras previstas para as citações. A intimação também po
de ser feita pelo escrivão – o que não é permitido nas citações – por despacho e
m petição que servirá de mandado, por termos nos autos, pela publicação no órgão
oficial e pelo correio.
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As intimações judiciais são duplas, ou seja, é necessária a citação do réu e de
seu defensor dativo ou constituído, permitindo se a intimação dos advogados pela
imprensa oficial. A intimação do defensor nomeado, do réu, das testemunhas e do
Ministério Público será pessoal (art. 370, § 4. , do CPP). As intimações poderã
o ser realizadas no curso das férias forenses, pois os prazos correm da data da
intimação. Conforme a Súmula n. 310 do Supremo Tribunal Federal, quando a intima
ção tiver lugar na sexta feira ou a publicação com efeito de intimação for feita
nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda feira imediata, salvo se não
houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XVII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. SENTENÇA
1.1. Conceito Sentença em sentido estrito é a decisão que julga o mérito da caus
a.
1.2. Classificação das Decisões em Processo Penal As decisões em processo penal
classificam se em: a) Despachos: são os atos judiciais sem carga decisória, inca
pazes de trazer prejuízo às partes e que determinam a marcha do processo. Os des
pachos, em regra, são irrecorríveis; excepcionalmente admite se correição parcia
l ou mesmo habeas corpus.
b) Decisões interlocutórias: simples: resolvem questões incidentes no processo s
em ingressar no mérito da causa, como, por exemplo, concessão de liberdade provi
sória e relaxamento da prisão em flagrante. As decisões interlocutórias simples
são, via de regra, irrecorríveis; porém, se houver previsão no art. 581 do Códig
o de Processo Penal, caberá recurso em sentido estrito.
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mistas: não terminativas: encerram uma fase, uma etapa processual, sem pôr fim a
o processo. Ex.: decisão de pronúncia. terminativas: encerram o processo sem jul
gamento do mérito. Ex.: decisão de impronúncia. As decisões interlocutórias mist
as (assim como as sentenças terminativas de mérito) são recorríveis. É cabível o
recurso em sentido estrito se estiver previsto no rol do art. 581 do Código de
Processo Penal, ou apelação, caso prevista no art. 593 do Código de Processo Pen
al.
c) Sentenças: terminativa de mérito: é a decisão que julga o mérito sem condenar
ou absolver o réu, como, por exemplo, extinção da punibilidade. É recorrível vi
a recurso em sentido estrito, ou apelação; absolutória: própria: julga improcede
nte a pretensão punitiva e não impõe qualquer sanção penal; imprópria: proferida
para o réu inimputável, não acolhe a pretensão punitiva, mas reconhece o cometi
mento da infração penal e impõe medida de segurança (art. 386, par. ún., inc. II
I).
O juiz, ao absolver o réu, deverá mencionar na parte dispositiva a causa, reconh
ecendo (art. 386 do CPP):
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a inexistência do fato; a ausência de prova da existência do fato; o fato não co


nstituir infração penal (ser atípico); não haver prova do réu ter concorrido par
a a infração penal; existir circunstância que exclua o crime ou isente o réu de
pena; não existir prova suficiente para a condenação.
condenatória: julga procedente no todo, ou em parte, a pretensão punitiva. As se
ntenças absolutórias e as condenatórias são apeláveis. Exceção ao recurso cabíve
l contra a absolvição sumária do Tribunal do Júri é o em sentido estrito. Quanto
ao sujeito, as sentenças podem ser:

subjetivamente simples: sentença proferida por órgão monocrático, juiz de primei
ro grau;

subjetivamente plúrima: sentença proferida por órgão colegiado homogêneo, tribun
ais;

subjetivamente complexa: sentença proferida por mais de um órgão, como o Tribuna
l do Júri, que decide o crime e a autoria, e o juiz, que decide a pena a ser apl
icada.
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Chama se sentença suicida aquela cuja fundamentação conflita com o dispositivo.
1.3. Requisitos da Sentença a) Requisitos intrínsecos: relatório: deve conter o
nome e a qualificação das partes, a exposição sucinta da acusação e da defesa e
o resumo dos atos incidentes processuais. É a maneira de se comprovar que o juiz
examinou o processo e tem conhecimento de seu conteúdo. O relatório é imprescin
dível, pois assegura o contraditório. Sua falta acarreta a nulidade absoluta da
sentença. A exceção encontra se na Lei n. 9.099/95, que admite sentença proferid
a sem relatório. fundamentação: é uma obrigação constitucional a fundamentação d
as decisões (art. 93, inc. IX, da CF). A fundamentação da sentença relaciona se
com o princípio da apreciação da prova (livre convencimento motivado, ou a persu
asão racional do juiz). A fundamentação garante a atuação equilibrada e imparcia
l do juiz, controla a legalidade das decisões e garante que os argumentos da par
tes foram examinados. A sentença sem fundamentação é nula, salvo a do Tribunal d
o Júri – o veredicto é absolutamente sigiloso não podendo ser fundamentado.
Fundamentação per relatione ocorre quando o julgador, em sua decisão, adota como
razões de decidir a fundamentação utilizada em manifestação anterior no process
o. Ex.: quando o Tribunal adota a fundamentação do juiz de
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primeiro grau. Alguns doutrinadores criticam essa possibilidade, afirmando que n
esse caso é como se não houvesse fundamentação. O Supremo Tribunal Federal e a j
urisprudência, no entanto, aceitam essa prática. O julgador pode utilizar as raz
ões do Ministério Público se este atuou como custos legis.
dispositivo: contém a substância da sentença, o julgamento da pretensão punitiva
. Extrai se do dispositivo os limites objetivos da coisa julgada.
A pretensão punitiva pode ser julgada procedente no todo ou em parte (condenatór
ia), ou improcedente (absolutória). Mesmo a pretensão punitiva sendo julgada imp
rocedente, muitas vezes verifica se o interesse recursal, como no caso da absolv
ição imprópria em que se impõe medida de segurança ou no caso da absolvição próp
ria para evitar uma ação civil ex delicto (quando não fundamentada nos incs. I,
IV e V do art. 386 do CPP). A sentença sem dispositivo é inexistente. Também é i
nexistente a sentença elaborada por juiz sem jurisdição (em férias, licenciado,
afastado, aposentado).
b) Requisitos extrínsecos: são a publicação e a intimação da sentença. A publica
ção da sentença é uma formalidade de suma importância; enquanto não for publicad
a, a sentença não pode ser considerada como um ato processual. A publicação da s
entença ocorre: com a entrega da sentença ao escrivão do cartório;
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LO XVII
quando proferida em audiência como no Tribunal do Júri, no momento de sua leitur
a.
A sentença penal tem o efeito de interromper a prescrição, o que ocorre na data
da sua publicação. Após a publicação da sentença, segue se a intimação das parte
s. A intimação do Ministério Público e do defensor dativo é pessoal. A intimação
do querelante e do assistente de acusação é feita pessoalmente ou na pessoa do
advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do Juízo, a intimação
acontecerá por edital com prazo de 10 dias (art. 391 do CPP). A intimação da sen
tença deverá ser feita pessoalmente ao réu e seu defensor. Se não forem encontra
dos, serão intimados por edital. A regra trazida no art. 370, §§ 1. e 2. , do C
ódigo de Processo Penal (intimação do defensor constituído pela imprensa) não é
verificada para a sentença, que possui disposição específica no art. 392 do Códi
go de Processo Penal. A fluência do prazo recursal se inicia a partir da última
intimação (do réu ou de seu defensor), ou, se por carta precatória, da juntada d
a carta cumprida aos autos. O prazo do edital será de 90 dias se a pena privativ
a de liberdade imposta for igual ou superior a um ano, e de 60 dias nos demais c
asos. O prazo da apelação correrá após o término do prazo fixado no edital.
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1.4. Princípio da Correlação Exige que, entre a sentença e o pedido, haja uma co
rrelação, não admitindo decisões de modo diverso, além ou aquém (extra, ultra ou
citra petita) do que consta na denúncia ou queixa. Trata se de uma garantia fun
damental da defesa, que oferece resistência àquilo que foi descrito na peça inic
ial. Tal princípio decorre da inércia da jurisdição, que limita o julgador aos t
ermos da provocação. Se desbordar essa restrição, o juiz estará violando a impar
cialidade.
1.5. Emendatio Libelli e Mutatio Libelli A emendatio libelli, prevista no art. 3
83 do Código de Processo Penal, ocorre quando a denúncia ou a queixa descreve pe
rfeitamente o fato concreto de determinado crime, mas dá a ele classificação jur
ídica diversa. Ex.: a denúncia narra um furto mas classifica o delito como roubo
. O juiz, então, na sentença, pode “emendar” a denúncia ou queixa, dando ao fato
definição jurídica diversa da que consta na exordial, mesmo que, em conseqüênci
a, tenha de aplicar pena mais grave. Não ofende a ampla defesa do réu, que se de
fende dos fatos e não da classificação jurídica do delito. A mutatio libelli, ar
t. 384 do Código de Processo Penal, ocorre quando o juiz, na sentença, reconhece
a possibilidade de dar ao fato descrito na inicial nova caracterização – não se
trata de classificação jurídica diversa, mas sim de modificação (mutatio) dos f
atos narrados na acusação, em virtude de: provas produzidas nos autos;
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circunstância elementar não contida explícita ou implicitamente na denúncia ou n
a queixa ( exs.: qualificadoras, causas de aumento e diminuição, agravantes e at
enuantes).
A nova classificação do fato pode ensejar uma pena menor, igual ou maior que a a
nteriormente prevista. Se a pena for menor ou idêntica à anterior deve se observ
ar o disposto no art. 384, caput, do Código de Processo Penal. O juiz deve baixa
r os autos para a manifestação da defesa, que no prazo de 3 dias deverá produzir
provas, podendo arrolar até 8 testemunhas. Se a pena for maior que a anterior,
deve ser observado o art. 384, par. ún., do Código de Processo Penal. O juiz dev
e baixar os autos para o Ministério Público aditar a denúncia no prazo de 3 dias
(usa se por analogia o prazo do art. 46, § 2. , do CPP). Em seguida, abre se o
prazo de 3 dias para a defesa se manifestar, arrolar até 3 testemunhas, e requer
er a produção de provas. No art. 384, caput, do Código de Processo Penal, o praz
o da defesa é maior porque impõe a produção da prova; no parágrafo único, o praz
o é menor porque serve apenas para a parte requerer a produção das provas.
1.5.1. Observações sobre a mutatio libelli Se o promotor perceber que é caso de
aditamento, pode aditar a qualquer momento, não precisando esperar o juiz se man
ifestar na sentença.
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O juiz, ao baixar os autos para o Ministério Público aditar a denúncia e a defes
a se manifestar, deve ser cauteloso para não antecipar o julgamento. Ex.: não po
de afirmar “não foi furto, foi roubo”. O juiz também não pode ser lacônico a pon
to de não indicar às partes a razão pela qual aplica o art. 384, par. ún., do Có
digo de Processo Penal, devendo, por exemplo, dizer: “... baixem se os autos nos
termos do art. 384, par. ún., do CPP, em virtude das declarações prestadas a fl
s...” Se o Ministério Público recusa se a aditar a denúncia, deve ser usado por
analogia o art. 28 do Código de Processo Penal (que determina a remessa dos auto
s ao Procurador Geral).
P.: O art. 384, par. ún., do Código de Processo Penal aplica se também à ação pe
nal privada? R.: O art. 384, caput, do Código de Processo Penal é aplicável à aç
ão penal privada. O parágrafo único do Código de Processo Penal aplica se à quei
xa na ação penal privada subsidiária da pública; quanto à ação penal privada pro
priamente dita, a doutrina diverge: Sim, aplica se por analogia, já que o proces
so penal permite a utilização da analogia (Prof. Tourinho). Não, não se aplica p
orque a lei exclui essa possibilidade. Não foi esquecimento do legislador, foi o
missão proposital. Se fosse possível a aplicação do parágrafo único do art. 384
do Código de Processo Penal à ação penal privada, estar se ia admitindo a possib
ilidade de o juiz obrigar o querelante a aditar a queixa, ampliando a acusação,
o que seria incompatível com o princípio da disponibilidade da ação
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penal privada. O juiz não pode obrigar o ofendido a iniciar a ação, nem a aditar
a queixa. O querelante, por iniciativa própria, pode fazêlo, mas não pela aplic
ação do art. 384, par. ún., do Código de Processo Penal.
Se durante a instrução descobre se que o autor praticou outros crimes, além do d
escrito no processo, ou que mais pessoas concorreram para a prática do delito, n
ão se aplica o art. 384 do Código de Processo Penal; será preciso nova acusação,
que pode ser feita: com o oferecimento de nova denúncia; com o aditamento da de
núncia, realizando se nova citação, interrogatório, defesa prévia, audiência de
instrução, diligências, alegações finais e sentença.
1.5.2. Súmulas

Súmula n. 453 do Supremo Tribunal Federal: proíbe a aplicação do art. 384, caput
, e parágrafo único do Código de Processo Penal, em segunda instância. Visa gara
ntir o duplo grau de jurisdição. Se o Tribunal reconhecesse e condenasse pelo ou
tro delito, estaria suprimindo o primeiro grau de jurisdição.

Súmula n. 160 do Supremo Tribunal Federal: o Tribunal não pode reconhecer de ofí
cio, em prejuízo da defesa, nulidade não argüida no recurso da acusação, mesmo q
ue seja nulidade absoluta. Ex.: processa se por furto e, durante a instrução, ap
ura se que o delito
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LO XVII
cometido foi roubo. O Tribunal percebe que era caso da aplicação do art. 384 do
Código de Processo Penal, mas, como ninguém argüiu: não pode manter a condenação
por furto; não pode condenar por roubo, pois violaria o princípio da correlação
; não pode aplicar o art. 384 do Código de Processo Penal, pois violaria o duplo
grau de jurisdição; não pode anular a sentença porque não pode reconhecer de of
ício nulidade prejudicial à defesa que não foi argüida pela acusação.
O Tribunal, então, deverá absolver o réu, instaurando se novo processo para o cr
ime de roubo, se esse ainda não prescreveu. Se, por exemplo, o réu foi processad
o por dano simples (ação penal privada) e durante a instrução verifica se que o
bem não era particular, e sim público o dano torna se qualificado e a ação penal
pública incondicionada. Pela modificação da natureza da ação penal, o processo
não deveria ter sido instaurado por queixa, mas sim por denúncia. A solução é an
ular a ação penal desde o início pela ilegitimidade ad causae.
1.6. Efeitos da Sentença Os efeitos da sentença variam conforme sua natureza.
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LO XVII
1.6.1. Sentença absolutória (art. 386, par. ún., do CPP) Será o réu posto em lib
erdade, se for o caso. As penas acessórias provisoriamente aplicadas serão cessa
das. Se cabível, será aplicada medida de segurança.
1.6.2. Sentença condenatória (art. 393 do CPP) Ser o réu preso ou conservado na
prisão nas infrações inafiançáveis, ou nas afiançáveis enquanto não prestar fian
ça. Ser o nome do réu lançado no rol dos culpados.
São também efeitos da sentença condenatória os previstos nos arts. 91 e 92 do Có
digo Penal.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XVIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510 010 Tel.: (11) 3346.4600 –
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LO XVIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO
Processo é o conjunto dos atos processuais interligados pelo vínculo da relação
jurídica processual. Procedimento é a uma seqüência de atos processuais, com ord
em lógica, dirigida à prolação da sentença. O CPP divide o processo em:

Comum – constituído de regras gerais aplicáveis sempre que não houver disposição
em contrário, abarca os procedimentos ordinário e sumário.

Especial –aquele que se afasta do procedimento comum, engloba o procedimento nos
crimes funcionais, falimentares, contra honra, contra a propriedade imaterial,
o procedimento do Júri, procedimentos previstos nas leis de abuso de autoridade
(Lei n. 4.898/65), Lei de Economia Popular (Lei n. 1.521/51), Lei de Tóxicos (Le
i n. 6.368/76) e Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67).
Obs.: para parte da doutrina, que diverge da classificação do CPP, o procediment
o do Júri é comum, e o procedimento sumário é especial.
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LO XVIII
1.1. Procedimento Ordinário O procedimento ordinário é cabível para todos os cri
mes punidos com reclusão, ressalvadas as hipóteses de procedimento especial. Vis
ão geral:

Recebimento da denúncia ou queixa. Citação do réu. Interrogatório do réu. Defesa
prévia (prazo de 3 dias). Audiência de oitiva das testemunhas de acusação. Audi
ência de oitiva das testemunhas de defesa. Diligências (art.499 do CPP– prazo de
24 horas). Alegações finais (art. 500 do CPP – prazo de 3 dias). Sentença (praz
o impróprio de 10 dias).








1.1.1. Recebimento da denúncia ou queixa No recebimento da denúncia ou queixa, o
Juiz deve verificar se estão presentes os requisitos (art. 41, do CPP):

exposição do fato criminoso; qualificação do acusado; classificação do crime;
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LO XVIII

rol de testemunhas.
O momento para a acusação arrolar as testemunhas é a denúncia, com o número máxi
mo de oito. As que excederem esse número poderão ser ouvidas como testemunhas do
Juízo, a critério do Juiz. O Juiz não fundamenta o recebimento da denúncia ou d
a queixa, pois não há carga decisória nesse ato. Além disso, se fundamentasse, c
orreria o risco de antecipar o julgamento. Em algumas hipóteses, entretanto, é n
ecessária a fundamentação. Conforme a Súmula n. 564 do STF, o despacho que receb
e a denúncia nos crimes falimentares e nos crimes de competência originária dos
Tribunais exige fundamentação. Nesses procedimentos se estabelece um contraditór
io prévio ao recebimento da exordial, permitindo a lei que a ação penal seja jul
gada improcedente no despacho liminar (na fase do recebimento). O recebimento da
denúncia ou queixa não enseja a interposição de qualquer recurso. Ao contrário,
se o Juiz rejeitar essas peças, cabe a interposição de recurso em sentido estri
to conforme art. 581, inc. I, do CPP. No caso de não existir justa causa para a
ação penal, é cabível o habeas corpus. A Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67), no e
ntanto, prevê que do recebimento da denúncia ou da queixa cabe o recurso em sent
ido estrito. Do despacho que rejeita a denúncia cabe apelação no prazo de 5 dias
. A Lei 9.099/95 prevê que do despacho que rejeita a denúncia cabe apelação no p
razo de 10 dias.
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LO XVIII
A denúncia será rejeitada parcialmente se ao réu for imputado mais de um crime e
o Juiz receber a denúncia apenas com relação a um deles.
1.1.2. Citação A citação do militar e do preso é feita por requisição. O funcion
ário público é citado por mandado com expedição de ofício notificando o chefe da
repartição. O réu que não for encontrado para ser citado pessoalmente será cita
do por edital, suspendendo o processo e o curso da prescrição (art. 366, do CPP)
. (Obs: sobre o tema citação rever o Módulo XVI)
1.1.3. Interrogatório A principal característica do interrogatório é a judiciali
dade– o ato é privativo do Juiz. Admite se a realização do interrogatório por ca
rta precatória, conforme provimento do Conselho Superior da Magistratura de São
Paulo. Tratando se de réu preso, o interrogatório deve realizar se em 8 dias. Se
o réu não comparecer ao ato, será considerado revel. A ele o Juiz nomeará defen
sor dativo, bem como ao réu que comparecer mas não indicar advogado. O efeito da
revelia é a não intimação do réu para os demais atos do processo. Não há contra
ditório nesse ato. Terminado o interrogatório, abre se o tríduo para defesa prév
ia.
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1.1.4. Defesa prévia Na defesa prévia não há o ônus da impugnação específica com
o no Processo Civil. O prazo é de 3 dias. Nesse ato deverão ser arroladas as tes
temunhas de defesa, no máximo 8 para cada fato criminoso e para cada réu, e ser
requeridas as diligências necessárias. O defensor público goza da prerrogativa d
o prazo em dobro. Em razão do princípio da ampla defesa, se a defesa prévia não
for apresentada no prazo, a jurisprudência por complacência, aceita a apresentaç
ão posterior. Início do prazo da defesa prévia:

réu sem advogado: a partir da notificação da nomeação de um advogado dativo;

réu que se apresenta com advogado: a partir do interrogatório, se o advogado del
e participou;

réu com advogado que não participou do interrogatório: a partir da intimação do
defensor para a apresentação da defesa prévia (intimação pela imprensa).
A defesa prévia tem por finalidade:

arrolar testemunhas de defesa; requerer diligências; formular pedidos; juntar do
cumentos (de acordo com o art. 400 do CPP, é possível juntar documentos em qualq
uer fase do processo).
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LO XVIII
A defesa prévia é o último momento para:

arguir exceção de suspeição; arguir exceção de incompetência relativa.

A defesa prévia é peça de apresentação facultativa. Mas, se não for apresentada
por falta de oportunidade, há nulidade absoluta.
1.1.5. Audiência de oitiva de testemunhas A ordem de oitiva das testemunhas é a
seguinte:

testemunhas de acusação; testemunhas de defesa.

A inversão dessa seqüência gera nulidade se ficar demonstrado o prejuízo para a
parte – a nulidade é relativa, depende da demonstração do prejuízo. As testemunh
as que se encontram fora da comarca serão inquiridas por carta precatória. A pre
catória não suspende o processo e é estabelecido prazo para o seu cumprimento. A
Súmula n. 155 do STF determina que causa nulidade relativa a não intimação das
partes acerca da expedição da carta precatória. Basta que o Juiz comunique às pa
rtes a expedição da carta, não precisa comunicar a data marcada para a oitiva da
testemunha; à parte incumbe acompanhar seu trâmite.
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Se a testemunha, em seu depoimento, refere se a uma terceira pessoa, essa pode s
er ouvida como testemunha do Juízo (testemunha referida). Podem ser ouvidas toda
s as testemunhas na mesma audiência, desde que respeitada a ordem de oitiva, pri
meiro acusação, depois defesa. As testemunhas não encontradas podem ser substitu
ídas no prazo de 3 dias.
1.1.6. Diligências O art. 499 do CPP impõe o prazo de 24 horas para que a acusaç
ão e depois a defesa requeiram as diligências. As partes podem nessa fase reiter
ar o pedido de diligência não realizada ou não concedida. O assistente do Minist
ério Público pode manifestar se, nessa fase, após a manifestação do promotor. O
CPP determina que o prazo do art. 499 corre para a defesa em cartório, independe
nte de intimação. A jurisprudência, todavia, não aplica essa regra por considera
r que viola o princípio do contraditório, da ampla defesa e da isonomia entre as
partes.
1.1.7. Alegações finais O prazo para a apresentação das alegações finais é de 3
dias – art. 500 do CPP. (Atenção! Não confundir com as alegações do Júri, cujo p
razo é de 5 dias, art. 406 do CPP)
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A ordem para apresentação das alegações finais é: primeiro a acusação, depois a
defesa. A apresentação das alegações finais é obrigatória para o Ministério Públ
ico, em razão do princípio da indisponibilidade da ação penal pública. Mas o pro
motor não é obrigado a pedir a condenação do réu, porque tem independência funci
onal e age conforme sua convicção. Se o promotor não apresenta as alegações fina
is, o Juiz utiliza o art. 28 do CPP por analogia – remete os autos ao Procurador
Geral para que apresente ou designe outro promotor para apresentar a peça. O qu
erelante não é obrigado a apresentar alegações finais, mas sua não interposição
traz consequências:

se a ação penal é privada, ocorre a perempção; se a ação penal é privada subsidi
ária da pública, o Ministério Público reassume a titularidade da ação.

A apresentação das alegações finais pela defesa é obrigatória, salvo no procedim
ento do Júri. Para não ocorrer nulidade processual é preciso que seja dada a opo
rtunidade de apresentação da peça (princípio do contraditório e da ampla defesa)
. O Juiz deve intimar, ainda que pessoalmente, o defensor e o réu para se manife
starem sobre a ausência das alegações. Se a defesa é omissa, o Juiz nomeia defen
sor dativo para suprir sua falta. Nas alegações finais devem ser argüidas as nul
idades relativas; é o último momento para essa argüição, sob pena de sanar o víc
io, conforme o art. 571 do CPP. (Obs: esse artigo é de alta incidência nos concu
rso do Ministério Público)
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A inversão da ordem de apresentação das alegações finais gera a nulidade absolut
a, por violar o princípio do contraditório.
1.1.8. Sentença É o ato processual pelo qual o Juiz põe fim ao processo, decidin
do ou não o mérito da causa. (Rever o Módulo XVII) O prazo para a sentença é de
10 dias, mas é prazo impróprio. O Juiz pode, antes da sentença, determinar dilig
ências adicionais.
1.1.9. Prazos Como regra, o prazo do procedimento ordinário é de 81 dias, compre
endendo o período que vai do inquérito policial até o encerramento da prova de a
cusação. No caso do réu preso, os prazos não podem ser excedidos sob pena de con
strangimento ilegal, possibilitando a impetração do habeas corpus. Não se consid
era excesso de prazo se houver justo motivo. Ex: pluralidade de réus, exame de i
nsanidade mental, retardamento causado pela própria defesa (Súmula n. 64 do STJ)
.
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2. PROCEDIMENTO SUMÁRIO
O procedimento sumário previsto nos arts. 531 e ss. do CPP aplica se a todos os
crimes apenados com detenção, excluindo se aqueles que possuem procedimento espe
cial e as infrações penais de menor potencial ofensivo. O procedimento sumário é
idêntico ao procedimento ordinário até a audiência de oitiva das testemunhas de
acusação (recebimento da denúncia ou queixa, citação, interrogatório, defesa pr
évia, audiência de oitiva das testemunhas de acusação). Após essa audiência, o J
uiz profere um despacho saneador, em que verifica se há nulidade a ser sanada e
diligência importante a ser realizada, designando em seguida data para audiência
de instrução, debates e julgamento. Esse despacho não tem caráter de decisão in
terlocutória. Na audiência de instrução são ouvidas as testemunhas de defesa, há
debates orais (cada parte tem 20 minutos, prorrogáveis por mais 10) e julgament
o. Os debates podem ser substituídos por memoriais, sendo a sentença prolatada e
m 5 dias (prazo impróprio); havendo debates orais, a sentença será proferida em
audiência. O número de testemunhas para o procedimento sumário é de no máximo ci
nco.
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3. JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (Lei n. 9099/95)
Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais foram instituídos pela Lei n. 9.099/95.
Contrariando os princípios da indisponibilidade e da obrigatoriedade que nortei
am a ação penal pública, essa lei introduziu ao sistema penal o princípio da opo
rtunidade ou da conveniência para o início ou prosseguimento da ação penal, com
propostas de suspensão do processo, composição dos danos e penas alternativas. O
processo perante o Juizado Especial orienta se também pelos critérios da oralid
ade, informalidade, economia processual e celeridade, visando sempre à reparação
dos danos sofridos e à aplicação de pena não privativa de liberdade. Uma import
ante alteração trazida pela lei foi a de que as ações penais, nos crimes de lesã
o corporal leve e culposa, passam a depender de representação no prazo decadenci
al de 6 meses. A Lei n. 9.099/95 traz normas mistas ou híbridas, que possuem ao
mesmo tempo natureza processual e material. Nesses casos deve prevalecer o cunho
penal da norma, retroagindo quando mais favorável ao acusado. São normas mistas
:

renúncia tácita ao direito de queixa ou representação, na hipótese de composição
dos danos civis (quando a ação penal for pública condicionada à representação,
ou privada);

proposta de pena restritiva de direitos ou multa, feita pelo Ministério Público
(transação penal);
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LO XVIII

proposta de suspensão condicional do processo, quando do oferecimento da denúnci
a;

representação nos crimes de lesão corporal leve e culposa.
O art. 90 da Lei dos Juizados Especiais traz a seguinte redação: “As disposições
desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciad
a.” Ocorre, porém, que na lei encontram se algumas disposições penais benéficas,
e o art. 5. , inc. XL, da CF, prevê: “A lei penal não retroagirá, salvo para be
neficiar o réu.” Verifica se que o art. 90, da Lei n. 9099/95, viola o referido
preceito constitucional. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil int
entou Ação Direta de Inconstitucionalidade (n. 1719) e o Supremo Tribunal Federa
l, interpretando o art. 90 da Lei dos Juizados conforme a Constituição, definiu
o alcance da expressão “disposições” contida na norma. As “disposições” da lei q
ue não se aplicam aos processos penais com instrução iniciada são as normas mate
riais que agravam a situação do réu e as normas processuais. Os dispositivos ben
éficos contidos no sistema dos Juizados Especiais devem ser aplicados aos proces
sos cuja instrução já estiver iniciada – por força do art. 5. , inc. XL, da CF.
Ao Juizado Especial Criminal compete processar e julgar os crimes e contravençõe
s cujas penas máximas não excedam 1 ano – são os denominados crimes de menor pot
encial ofensivo –, exceto aqueles que tenham procedimento especial.
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LO XVIII
Para fixar o foro competente, utiliza se a teoria da atividade, é competente o J
uizado do local da execução do ato criminoso (art. 63 da Lei n. 9099/95). Para a
lguns doutrinadores, o foro competente é o do local da consumação. A divergência
não tem relevância tendo em vista tratar se de competência territorial, que, po
r ser relativa, não acarreta nulidade. Afasta se a competência do Juizado Especi
al quando não obtida a citação pessoal do réu (porque a Lei n. 9.099/95 não prev
ê a citação por edital) e quando a complexidade ou as circunstâncias do caso ind
icarem a necessidade de deslocamento da causa à Justiça Comum. Não há inquérito
policial nesse procedimento: a autoridade policial lavra apenas um termo circuns
tanciado e encaminha ao Juizado o autor do fato e a vítima. Se o autor do fato f
or imediatamente encaminhado ao Juizado, ou prestar o compromisso de a ele compa
recer, não será imposta prisão em flagrante, nem se exigirá fiança (art. 69, par
. ún., da Lei n. 9.099/95).
3.1. Procedimento
3.1.1.

Audiência preliminar Se o autor da infração e a vítima foram encaminhados de ime
diato, junto com o termo circunstanciado, ao Juizado: realiza se a audiência pre
liminar; se, por qualquer razão, não for possível a realização da audiência, des
igna se data, da qual saem cientes as partes.
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LO XVIII

Se o autor do delito não for encaminhado junto com o termo circunstanciado à Sec
retaria do Juizado (cartório), ao recebê lo, o Juiz designará data para audiênci
a preliminar e mandará intimar as partes.
O art. 68 da lei diz que na intimação do autor do delito deve constar a necessid
ade de comparecimento com advogado, com a advertência de, na falta desse, ser no
meado dativo. No dia designado, devem estar presentes (art. 72): o representante
do Ministério Público; o autor do fato e a vítima – se menores, acompanhados de
seus responsáveis; o juiz; os advogados das partes.
As fases na audiência preliminar dependem da ação penal prevista para o delito c
ometido.
a) Se o crime for de ação privada (p. ex., dano simples).

Tentativa de composição civil dos danos.
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LO XVIII
 Se vítima e autor do delito chegarem a um acordo, esse é submetido à homologaç
ão do juiz – que pode não homologar se o entender desfavorável à vítima.
Homologado o acordo, automaticamente ocorrerá renúncia ao direito de queixa e ex
tinção da punibilidade – art. 74, par. ún.. Se o autor da infração não honrar su
a parte no acordo, o procedimento criminal não pode ser reaberto (porque houve e
xtinção da punibilidade), restando à vítima execução civil do acordo homologado
(que é título executivo judicial, art. 584, inc. III, do CPC).

Se infrutífera a composição civil, a advogado da vítima oferecerá queixa imediat
amente de forma oral ou, se preferir, poderá apresentála por escrito em momento
posterior – desde que dentro de prazo decadencial.
Pelo texto legal, não cabe transação na ação penal privada, entretanto, a jurisp
rudência vem admitindo essa possibilidade. O art. 104, par. ún., do CP, dispõe q
ue a reparação civil do dano não obsta a ação penal, mas no Juizado é diferente;
havendo acordo, a conseqüência automática é a renúncia ao direito de queixa.
b) Se o crime for de ação pública condicionada à representação.
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LO XVIII

Tentativa de composição civil. Se infrutífera, implica renúncia ao direito de re
presentação e extingue a punibilidade.
É hipótese de renúncia (instituto exclusivo da ação privada) aplicável na ação p
enal pública.


Se infrutífera, a vítima pode oferecer representação oral, reduzida a termo, ou


posteriormente, dentro do prazo decadencial.

Oferecida a representação n audiência, o Ministério Público deve a analisar as p
rovas existentes no termo circunstanciado: se não há indícios suficientes, o pro
motor deve requerer o arquivamento do feito; se o promotor entender que há neces
sidade de novas diligências para complementação da prova (art. 77, § 2. ), reque
rerá o envio dos autos à Justiça comum para requisição de inquérito policial; se
o promotor verificar que existem provas para o oferecimento da denúncia, antes
de fazê lo analisará se é possível a transação penal.

Presentes os requisitos da transação, o Ministério Público deve fazer a proposta
de aplicação de pena de multa ou restritiva de direitos (especificando seu valo
r ou a espécie de restritiva).
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LO XVIII


se o autor da infração aceitar a proposta, será submetida à homologação do juiz.


P.: Pode o juiz alterar o acordo feito entre as partes ? R.: Como regra, não. Ex
ceção: quando em abstrato for prevista apenas multa para aquela infração penal,
o juiz pode reduzir o valor pela metade (art. 76, § 1. ).
Homologado o acordo, será aplicada a pena avençada. Se o juiz não homologar a tr
ansação por entender ser caso de denúncia, a lei é omissa, aplica se por analogi
a o art. 28 do CPP.


Se o autor da infração não aceita a proposta do Ministério Público, é oferecida


denúncia oral, reduzida a termo – não pode ser apresentada por escrito porque a
lei não a prevê como queixa.
P.: Em que hipóteses é oferecida a denúncia ? R.: Quando não estão presentes os
requisitos para transação; quando o autor do delito recusa a proposta de transaç
ão; quando o autor da infração, intimado para audiência preliminar, não comparec
e nem justifica sua ausência. O fato de o autor da infração ter aceitado a trans
ação não implica reconhecimento de culpa, portanto, se a vítima quiser ser inden
izada, precisará ingressar com ação de conhecimento na esfera civil.
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LO XVIII
A transação não retira a primariedade do autor do delito e não constará de certi
dões para serem utilizadas extrajudicialmente. Requisitos para transação (art. 7
6, § 2. ): que o autor da infração não tenha sido condenado pela prática de cri
me à pena privativa de liberdade (portanto, em caso de contravenção, qualquer qu
e seja a pena, cabe transação se preenchidos também os demais requisitos); que o
acusado não tenha sido beneficiado por outra transação penal, no prazo de 5 ano
s; requisitos subjetivos: personalidade do agente, conduta social etc., suficien
tes à adoção da medida.
c) Se o crime for de ação pública incondicionada.

Tentativa de composição civil, mesmo sendo ação pública incondicionada, porque v
ale como título judicial evitando a discussão no cível. Havendo homologação ou n
ão, passa se para fase de transação, porque,
por ser ação pública incondicionada, mesmo havendo acordo, a punibilidade não se
extingue.
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3.1.2. Disposições comuns Se o agente estava presente na audiência, recebe uma c
ópia da denúncia de queixa e com isso estará citado, com ciência de que deve com
parecer à próxima audiência com advogado, sob pena de ser lhe nomeado dativo. P.
: É possível a citação do acusado antes do recebimento da denúncia de queixa? R.
: Sim, no Juizado Especial. Se o acusado não estava presente na audiência prelim
inar, será citado por mandado, na forma da legislação comum. Se não for encontra
do para citação pessoal, os autos serão remetidos para a Justiça Comum para cita
ção por edital, que não é prevista pela Lei dos Juizados.
3.1.3. Audiência de instrução, debates e julgamento Se o autor da infração não c
ompareceu à audiência preliminar e comparece nessa, devem ser observadas as regr
as da audiência preliminar (composição cível, transação), com todas as suas cons
eqüências. Fora dessa hipótese: é dada a palavra ao advogado do réu para, oralme
nte, sustentar a rejeição da denúncia ou queixa; o Juiz recebe ou rejeita a denú
ncia ou queixa; oitiva da vítima;
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oitiva das testemunhas da acusação, arroladas na denúncia; oitiva das testemunha


s da defesa, que o réu levará à audiência independente de intimação ou das quais
apresentará rol em cartório, com 5 dias de antecedência, para serem intimadas.
O número máximo de testemunhas é 3, conforme dispõe a parte civil da lei. Alguns
doutrinadores entendem ser 5, de acordo com o procedimento sumário; outros, 8,
utilizando analogia com o procedimento comum ordinário;

interrogatório do réu; debates orais, 20 minutos, prorrogáveis por mais 10; sent
ença.
3.1.4. Recursos Os recursos são julgados por Turmas Recursais compostas por Juíz
es de 1. grau, a forma estabelecida na legislação estadual. A lei só trata da a
pelação e dos embargos de declaração, mas não é por isso que só cabem esses dois
recursos, os demais também são aplicados (recurso em sentido estrito, recurso e
special, mandado de segurança, habeas corpus etc.) A lei apenas os citou para tr
azer regras específicas para eles. Não cabe recurso especial porque esse é cabív
el de decisão de tribunal (art. 105, III, CF), e o recurso no Juizado é julgado
por Turma Recursal (art. 82, Lei dos Juizados Especiais). Da decisão que rejeita
a denúncia ou queixa e da sentença de mérito cabe apelação. O prazo é de 10 dia
s, e as razões acompanham a interposição.
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Os embargos de declaração possuem prazo de 5 dias, e a interposição suspende o p
razo para interposição de outros recursos.
3.2. Observações Finais Aplicada pena de multa na sentença, se o condenado não p
agar, cabe execução, persistindo a polêmica da competência para execução da mult
a. P.: Aplicada pena de multa na transação penal, se o autor da infração não pag
ar, o que deve ser feito? R.: A questão é divergente: executa se a multa; com o
descumprimento do acordo por parte do acusado, o MP também pode descumpri lo, of
erecendo a denúncia para prosseguimento do processo, porque a homologação da tra
nsação fez apenas coisa julgada formal. Há julgado nos dois sentidos. P.: E, se
na transação for aplicada pena restritiva de direitos, como executá la? R.: Ness
e caso, a única solução é o oferecimento da denúncia. P.: A lesão leve passou a
ser delito de ação penal pública condicionada. Como ficam as vias de fato – cont
ravenção cuja ação penal é pública incondicionada?
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R.: As vias de fato constituem infração menos grave do que a lesão leve, logo, a
ação passou a ser também pública condicionada à representação. Fundamento, anal
ogia in bonam partem. P.: Se o promotor denunciar classificando o fato como tent
ativa de homicídio e o júri desclassificar para lesão corporal leve, como proced
er? R.: Transitando em julgado a desclassificação, designa se audiência prelimin
ar para que sejam cumpridas as fases previstas na Lei dos Juizados Especiais. P.
: E, se tiver ocorrido decadência, decurso do prazo de 6 meses para representaçã
o? R.: Duas posições: a vítima perde o direito de representar; a vítima não pode
ser prejudicada; cabe a representação, e o prazo de 6 meses tem início com a in
timação da vítima da desclassificação do delito.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XIX
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Procedimentos Especiais
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Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510 010 Tel.: (11) 3346.4600 –
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LO XIX
DIREITO PROCESSUAL PENAL Procedimentos Especiais
1. PROCEDIMENTO DOS CRIMES FUNCIONAIS
O procedimento dos crimes funcionais é aplicado a todos os crimes em que a condi
ção de funcionário público funcione como elementar ou circunstância do tipo pena
l. Ex.: o Título XI, Capítulo I, do Código Penal aborda os crimes praticados por
funcionário público contra a Administração Pública, e o Capítulo IV trata dos c
rimes praticados contra as finanças públicas. O procedimento dos crimes funciona
is segue o rito ordinário após o recebimento da denúncia ou queixa subsidiária;
a peculiaridade que o torna especial é a possibilidade de o funcionário apresent
ar defesa preliminar antes do recebimento da peça inicial. Para tanto, o acusado
é notificado com prazo de 15 dias para se defender (art. 514 do CPP). Se não fo
r encontrado, ser lhe á nomeado defensor dativo para exibir a resposta prelimina
r. O próprio acusado pode apresentar a defesa preliminar, mesmo não sendo advoga
do. Descumprida essa formalidade prévia, a nulidade é relativa (anulam se os ato
s seguintes mediante comprovação de prejuízo). Essa é a orientação do Supremo Tr
ibunal Federal. Nada obstante, consigna se a posição minoritária
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do Professor Tourinho a favor da existência de nulidade absoluta pela violação d
o contraditório e da ampla defesa. O objetivo da defesa preliminar é evitar que
ocupantes de cargos públicos sejam alvo de acusação infundada, tendo aplicação a
penas aos crimes funcionais afiançáveis (são inafiançáveis o excesso de exação e
a facilitação do contrabando e descaminho – arts. 316, § 1. , e 318, do CP).
P.: Há algum meio para garantir a apresentação da defesa preliminar? R.: Sim, pe
la correição parcial, caso o juiz não conceda a oportunidade para a sua apresent
ação.
P.: Se o funcionário público, aposentado ou exonerado, for processado por um fat
o que praticou enquanto exercia a função de funcionário público, terá direito a
defesa preliminar? R.: O entendimento atual é no sentido de não ter direito à de
fesa preliminar, em razão da revogação da Súmula n. 394 do Supremo Tribunal Fede
ral. A súmula não se refere a esse procedimento, mas o fundamento de sua revogaç
ão é o mesmo dessa questão. A súmula determinava que: “Cometido o crime durante
o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de funç
ão, ainda que o inquérito policial ou a ação penal sejam iniciados após a cessaç
ão daquele exercício”. Com o cancelamento dessa súmula, os fatos ocorridos duran
te a existência do foro especial são processados após o término dessa prerrogati
va
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na primeira instância e não no foro especial, pois este existe em razão da funçã
o que a pessoa desempenha (do cargo), não se tratando de um privilégio individua
l. Ex.: se um funcionário público pratica um crime durante o exercício de sua fu
nção, mas só vem a ser processado quando já estava aposentado ou exonerado, não
será adotado o procedimento que permite a defesa preliminar, mas sim o procedime
nto comum. Verificado o concurso de agentes no crime, os co autores e partícipes
, que não sejam funcionários públicos, não serão notificados para a apresentação
da defesa preliminar – pois não possuem essa faculdade. Conforme entendimento d
o Supremo Tribunal Federal, o recebimento da denúncia ou da queixa deve ser fund
amentado. Isso porque os crimes funcionais têm o contraditório antecipado na def
esa preliminar. Trata se de exceção, pois, em regra, no despacho que recebe ou r
ejeita a denúncia ou a queixa não há fundamentação. Recebida a denúncia ou a que
ixa, o acusado é citado – seguindo se o procedimento ordinário.
2. CRIMES CONTRA HONRA (ARTS. 519 A 523 DO CPP)
Trata se de procedimento subsidiário previsto para os crimes contra honra, cuja
ação penal é privada. O art. 519 do Código de Processo Penal ratifica ao descrev
er que o rito será observado no processo “para o qual não haja outra forma estab
elecida em lei especial”. Ex.: crimes cometidos pela imprensa, Lei n. 5.250/67;
pessoas que gozam de foro especial pela
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prerrogativa de função, se a competência for do Superior Tribunal de Justiça ou
do Supremo Tribunal Federal, Lei n. 8.038/90. Apesar do Título II, Capítulo III,
do Código de Processo Penal, referir se somente à calunia e à injúria, esse pro
cedimento também é aplicável à difamação pela utilização da analogia (art. 3. d
o CPP). O emprego da analogia pressupõe a omissão involuntária do legislador, po
rque se a omissão foi proposital, não cabe o uso do instituto. A lacuna do art.
519 do Código de Processo Penal não foi espontânea; o Código Penal em vigor na é
poca em que o Código de Processo Penal foi criado era o de 1890, e previa os cri
mes contra honra em dois artigos, encontrando se a difamação descrita no parágra
fo do tipo da calúnia (como sua espécie e não como crime autônomo). Em regra, os
crimes contra a honra são de ação penal privada, iniciando se mediante queixa c
rime. Exceções:

a ação penal será pública incondicionada se da injúria real resultar lesão corpo
ral.

será pública condicionada à representação nos crimes contra a honra de funcionár
io público, em razão de sua função.

será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça nos crimes contra
a honra do Presidente da República ou de Chefe de Governo estrangeiro.
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2.1. Peculiaridades do Procedimento dos Crimes Contra a Honra a) Audiência de re
conciliação (ou conciliação): o objetivo dessa audiência é que autor e réu se re
conciliem (art. 520 do CPP). Deve ocorrer após o oferecimento da denúncia e ante
s do seu recebimento. O juiz ouvirá cada uma das partes isoladamente; percebendo
a possibilidade de conciliação, chamará as partes e seus advogados e tentará o
acordo na audiência, que, se frutífero, será homologado. O querelante assinará t
ermo de desistência da ação com a conseqüente extinção da punibilidade. Não have
ndo acordo, será frustrada a conciliação e o juiz chamará à conclusão os autos p
ara receber ou não a queixa. Recebida a queixa, apesar de o crime ser o de deten
ção, adota se o procedimento ordinário.
P.: Qual a causa extintiva da punibilidade para a hipótese de conciliação? R: Nã
o é a renúncia, porque essa ocorre quando o querelante não exerce seu direito de
oferecer a queixa, e no caso em estudo já houve o oferecimento da exordial. Tam
bém não é a perempção, pois a ação penal ainda não se iniciou. Portanto, a causa
extintiva da punibilidade é a desistência – que não está prevista no rol do art
. 107 do Código Penal, mas esse é exemplificativo e não taxativo (art. 522 do CP
P).
Para grande parte da doutrina, a falta da audiência de reconciliação gera nulida
de absoluta.
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O não comparecimento do querelado à audiência preliminar indica desinteresse na
conciliação. Não acarreta sanção; o juiz passa a analisar se é caso de receber o
u rejeitar a queixa. O não comparecimento do querelante, posição minoritária, ge
ra a perempção, pois deixa de comparecer a um ato fundamental (art. 60 do CPP).
Esse entendimento é falho, pois ainda não houve o recebimento da queixa, e, assi
m, não há que se falar em perempção. Posição majoritária na doutrina, na jurispr
udência e no Superior Tribunal de Justiça, indica desinteresse na conciliação.
b) Exceção da verdade (art. 523 do CPP): é a possibilidade do querelado provar q
ue o alegado é verdadeiro. Admite se nos crimes de calúnia, salvo o expresso no
art. 138, § 3. , do Código Penal:

se, constituindo o fato crime de ação penal privada, o ofendido não foi condenad
o por sentença irrecorrível;

se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no inc. I do art. 141 do C
ódigo Penal (Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro);

se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sente
nça irrecorrível.
Também é cabível nos crimes de difamação, quando a vítima for funcionário públic
o, por fato relativo a suas funções (art. 139, par. ún., do CP).
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O momento da apresentação da exceção da verdade é o mesmo da defesa prévia (art.
395 do CPP – logo após o interrogatório ou no prazo de três dias). O querelante
tem dois dias para contestar, podendo arrolar testemunhas, desde que com esse n
ovo rol não se ultrapasse o número legal. Ex.: na queixa foram arroladas quatro
testemunhas; poderá o querelante na contestação da exceção da verdade oferecer m
ais quatro testemunhas. Todas as testemunhas, inclusive as da exceção da verdade
, serão ouvidas durante a audiência de instrução. O juiz, antes de analisar o mé
rito, na própria sentença decide a exceção da verdade. Obs.: parte da doutrina s
ustenta que o prazo da exceção da verdade não é fatal em nome da ampla defesa. A
inda que apresentada após o lapso previsto no art. 395 do Código de Processo Pen
al, poderá ser aceita e julgada na sentença. Atenção: conforme determina o art.
85 do Código de Processo Penal, se o querelante for pessoa que goze de foro espe
cial, a exceção da verdade será julgada pelo tribunal competente para processar
originariamente o querelante. Ex.: querelante é deputado federal; torna se vítim
a de calúnia e oferece queixa na primeira instância. O querelado apresentará a e
xceção da verdade que será julgada no Supremo Tribunal Federal. Obs.: a exceção
da verdade é processada e instruída na primeira instância e remetida para o trib
unal competente apenas para o julgamento.
c) Pedido de explicações em Juízo (art. 144 do CP): é uma medida preliminar, uti
lizada quando a ofensa é equívoca, dúbia. Ex.: alguém se
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referindo a uma moça diz que ela é muito cara. Essa frase possibilita duplo ente
ndimento: ou a moça é muito especial, com valiosas qualidades, ou é uma meretriz
que cobra caro por seus trabalhos. A situação que conduz ao duplo entendimento,
permite o pedido de explicações em Juízo, que não é obrigatório. Visa esclarece
r as dúvidas para que a queixa fique bem fundamentada. Ajuizado o pedido de expl
icações, o autor da frase é notificado para prestar esclarecimentos. Com ou sem
as respostas, os autos do pedido são entregues ao requerente. O juiz é um interm
ediário, não analisa o mérito. Configura um elemento a mais para o exame da just
a causa para o recebimento da queixa. O prazo de seis meses para oferecer a quei
xa é peremptório e decadencial; não se suspende nem se interrompe com o ajuizame
nto do pedido de explicações. O pedido de explicações torna prevento o Juízo. O
querelado somente será condenado na ação penal privada, nunca no pedido de expli
cações em Juízo.
3. PROCEDIMENTO NOS CRIMES FALIMENTARES
Os crimes falimentares classificam se em:

antefalimentares: a conduta se realiza anteriormente à sentença declaratória de
falência;
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pós falimentares: a conduta se verifica após a sentença declaratória de falência
.
O crime falimentar prescreve em dois anos, a contar do encerramento da falência
(art. 199 da Lei n. 7.661/45). A Súmula n. 147 do Supremo Tribunal Federal deter
mina que: “A prescrição do crime falimentar começa a correr da data em que dever
ia estar encerrada a falência, ou do trânsito em julgado da sentença que a encer
rar ou que julgar cumprindo a concordata”. Mas quando deveria se encerrar a falê
ncia? Conforme a regra do art. 132, §1. , da Lei n. 7.661/45, a falência deve en
cerrar se em dois anos, a contar da data de sua declaração. A prática de crime f
alimentar é apurada no inquérito judicial presidido pelo próprio juiz da falênci
a, baseado na exposição circunstanciada apresentada pelo síndico da falência. A
exposição é instruída com o laudo do perito, encarregado de examinar as escritur
ações do falido. Podem requerer a instauração do inquérito judicial o síndico ou
qualquer credor interessado. O falido terá o prazo de cinco dias para contestar
as alegações do inquérito judicial. Encerrado esse prazo, os autos serão conclu
sos ao juiz que, em 48 horas, deferirá a produção de provas. Realizadas as prova
s, os autos serão remetidos ao Ministério Público que, no prazo de cinco dias, p
oderá oferecer a denúncia ou requerer o apensamento dos autos aos autos da falên
cia, arquivando o inquérito judicial. Se o juiz não concordar com o apensamento,
remeterá as peças ao ProcuradorGeral, para os fins do art. 28 do Código de Proc
esso Penal.
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Quaisquer dos credores ou mesmo o síndico poderá oferecer a queixa subsidiária,
caso o Ministério Público não ofereça nem requeira sem apensamento dentro do pra
zo. Se o Ministério Público oferecer a denúncia, o seu recebimento deve ser fund
amentado sob pena de nulidade (Súmula n. 564 do STF). Os autos, então, serão rem
etidos ao Juízo criminal, onde a ação penal prosseguirá pelo rito ordinário, ind
ependentemente de ser o crime de reclusão ou de detenção. No Estado de São Paulo
, por força da Lei Estadual n. 3.947/83, o Juízo da falência tem competência uni
versal, inclusive para o julgamento dos crimes falimentares. O recebimento da de
núncia impede a concessão da concordata suspensiva. Diverge a doutrina com relaç
ão à natureza jurídica da sentença declaratória
 da falência. O Professor Fernand
o Capez elenca os entendimentos:
 “1. ) é elementar do tipo falimentar, segundo J
osé Frederico Marques; 2. ) Nelson Hungria entende que é condição objetiva de pu
nibilidade (adotada); 3. ) Trata se de condição de procedibilidade, embora em al
guns casos possa constituir elementar do tipo. Como exemplo, os arts. 186, inc.
III, e 189, inc. II, ambos da Lei de Falências. 4. ) Segundo Mirabete, trata se
de ‘condição objetiva de punibilidade quanto aos crimes antefalimentares, e pres
suposto quanto aos crimes pósfalimentares, excluídos os crimes em que é a quebra
elemento do próprio fato típico’.”
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4. PROCEDIMENTO DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL
Os crimes contra a propriedade imaterial são os que ferem os direitos autorais (
arts. 184 e 185 do CP) e os direitos da propriedade industrial (Lei n. 9.279/96)
. São, em regra, crimes de ação penal privada, pois processam se mediante queixa
; porém, também há previsão de ação penal pública, de acordo com o art. 186 do C
ódigo Penal. O procedimento desses crimes varia, conforme o delito deixe ou não
vestígios. Se o crime deixar vestígios, crime não transeunte, a denúncia ou a qu
eixa será recebida se instruída com o exame pericial dos objetos que constituam
o corpo de delito (art. 525 do CPP). O autor deve comprovar seu direito à ação (
art. 526 do CPP). Para tal deve requerer, antes da queixa ou da denúncia, a busc
a e apreensão e perícia, apresentando os quesitos. A diligência será realizada p
or dois peritos do Juízo, que farão a vistoria e apreensão de objetos suficiente
s para a prova da infração. Caso o laudo seja contrário aos interesses do autor,
este poderá impugná lo. Encerradas as diligências, o juiz homologa o laudo peri
cial sem examinar o mérito. Homologado o laudo, o autor será intimado para, em 3
0 dias, oferecer a queixa crime instruída com a perícia, sob pena de sua ineficá
cia.
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Com o recebimento da denúncia, passa se para o rito ordinário. Se o crime não de
ixar vestígios, crime transeunte, o rito será o ordinário, ainda que a pena seja
a de detenção.
5. PROCEDIMENTO NOS CRIMES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS
Algumas pessoas, em razão do cargo que ocupam, se cometerem uma infração penal,
devem ser processadas e julgadas originariamente nos tribunais, na instância sup
erior. Trata se de uma prerrogativa da função. Ex.:

Prefeito é processado e julgado no Tribunal de Justiça; Governadores, Desembarga
dores, membros do Tribunal de Contas dos Estados, entre outros, são julgados no
Superior Tribunal de Justiça;


Presidente da República, Vice Presidente, membros do Congresso Nacional e o Proc
urador Geral da República são julgados pelo Supremo Tribunal Federal.
O rito é previsto na Lei n. 8.038/90: oferecida a denúncia ou a queixa perante o
tribunal competente, o acusado é notificado para apresentar uma resposta prévia
antes do recebimento da petição inicial.
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LO XIX
O relator do tribunal pedirá dia para que o tribunal decida sobre o recebimento
ou não da denúncia ou da queixa, ou ainda sobre a improcedência da acusação (art
. 6. da lei). Recebida a denúncia ou a queixa, passa se para o interrogatório d
o acusado, a defesa prévia (com prazo de cinco dias), a instrução etc., observan
do se o procedimento comum. O julgamento será na forma prevista no regimento int
erno de cada tribunal.
Obs.: para maior aprofundamento sobre esse tema é interessante rever o módulo VI
II, que trata da competência.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XX
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Do Procedimento do Júri
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Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510 010 Tel.: (11) 3346.4600 –
Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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LO XX
DIREITO PROCESSUAL PENAL Do Procedimento do Júri
1. HISTÓRICO
O Procedimento do Júri, apesar de estar disposto no Código de Processo Penal na
parte do procedimento comum, é um rito especial. Tem a sua origem na Magna Carta
, os homens deveriam ser julgados pelos seus pares. No Brasil, surgiu na lei de
18.6.1822, que criava o julgamento pelo Júri para os crimes de imprensa. Depois
, a Constituição Imperial de 1824 passou a prevê lo como um órgão do Poder Judic
iário e ampliou sua competência para julgar causas cíveis e criminais. A Constit
uição de 1891 manteve o Júri como instituição soberana. O “período obscuro do Tr
ibunal do Júri” foi o de 1937; a Constituição Federal de 1937 não se manifestou
a respeito do instituto, o que tornou possível a um decreto (o Dec. n. 167) supr
imir a soberania dos veredictos do Júri. Tal decreto permitiu que os tribunais a
lterassem o julgamento do Júri. Atualmente, se o Júri condena, o Tribunal não po
de, ao rever a decisão, absolver. Esse princípio suprimido foi restabelecido na
Constituição de 1946 e, a partir de então, não mais deixou de ser previsto.
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LO XX
2. O JÚRI NA ATUAL CONSTITUIÇÃO FEDERAL
O Constituição Federal prevê o Júri em seu art. 5. , inc. XXXVIII. É um dos dire
itos e garantias individuais de todas as pessoas. Desse dispositivo, extrai se o
s quatro princípios fundamentais da instituição do Júri, quais sejam : plenitude
de defesa; sigilo nas votações; soberania dos veredictos; competência mínima pa
ra julgamento dos crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados.
a) Plenitude de defesa A plenitude de defesa significa mais que a ampla defesa e
ocasiona os seguintes reflexos:

O advogado tem liberdade para elaborar a defesa do réu, podendo alegar o que mel
hor lhe aprouver, ainda que sem aparo jurídico. Ex.: na tréplica, o advogado ale
ga que o crime foi praticado há 11 anos; depois disso, o réu arrumou um emprego,
teve sete filhos, tornou se líder comunitário etc.

Se o juiz constata que a defesa desenvolvida em plenário é inepta, pode dissolve
r o conselho de sentença declarando o réu indefeso (art. 497, inc. V, do CPP).

O juiz deve quesitar, além das alegações desenvolvidas pela defesa técnica, aque
las alegadas pelo réu em sua autodefesa, mesmo que incompatíveis. Ex.: o réu, no
seu interrogatório em plenário, alega que agiu em legítima defesa. O defensor c
onsidera que é difícil convencer os jurados da legítima defesa e então sustenta
outra tese;
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LO XX
alega que o réu não conhece o instituto da legítima defesa, argumenta que as qua
lificadoras não existiram e que há um privilégio. O juiz irá quesitar as duas de
fesas alegadas: legítima defesa e privilégio. Obs.: esse entendimento não é unân
ime, mas é o dominante.
b) Sigilo nas votações Trata se de princípio informador específico do Júri; a el
e não se aplica o disposto no art. 93, inc. IX, da Constituição Federal (princíp
io da publicidade). O Código de Processo Penal prevê várias maneiras de manter o
sigilo nas votações, cabendo citar, entre outras:

Incomunicabilidade dos jurados: os jurados não podem emitir qualquer opinião sob
re o processo. Podem conversar entre eles, desde que não seja sobre o caso. Os j
urados são impedidos de se comunicar com qualquer terceiro estranho ao processo.
A comunicação dos jurados com o mundo externo ocorre somente através do oficial
de justiça.

O julgamento é feito em sala secreta: isso evita que uma das pessoas que esteja
no plenário perceba qual foi o voto dos jurados e, também, qualquer tipo de cons
trangimento.

O julgamento feito pelos jurados tem por base a íntima convicção: Assim, não há
fundamentação da decisão. É exceção à regra do livre convencimento motivado.
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LO XX
c) Soberania dos veredictos Conceito do Professor. José Frederico Marques: “A so
berania consiste na impossibilidade dos juízes togados se substituírem aos jurad
os na decisão da causa.” O mérito no Júri é decidido exclusivamente pelos jurado
s. Como todo princípio, não é absoluto, ou seja, encontra limitações. O art. 593
, inc. III, “d”, do Código de Processo Penal, permite a apelação das decisões do
Júri quando consideradas manifestamente contrárias às provas dos autos. A apela
ção é julgada pelo tribunal. Se o tribunal der provimento àapelação, determina a
realização de novo julgamento. O tribunal não decide o mérito. A apelação com e
sse fundamento só pode ser interposta uma vez. “Na revisão criminal a mitigação
desse princípio é ainda maior, porque o réu, condenado definitivamente, pode ser
até absolvido pelo tribunal revisor, caso a decisão seja arbitrária. Não há anu
lação nesse caso, mas absolvição, isto é, modificação direta do mérito da decisã
o dos jurados.”1 Observações: 1. A absolvição sumária ocorre quando provado excl
udente de ilicitude ou de culpabilidade. Nesse caso, o réu não vai a Júri, e sim
o juiz togado julga o mérito. 2. A revisão criminal é a ação rescisória de cois
a julgada penal. Sempre em favor do réu, nunca pro societate. No caso de Júri, i
nterposta a revisão criminal, ela será julgada por 10 desembargadores (normalmen
te o recurso é julgado por três) e os juízes togados decidirão o mérito nesse ca
so.
1

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 4/17
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Esses dois casos são as limitações da soberania dos veredictos, já que nenhum pr
incípio é absoluto. Os veredictos do Júri são soberanos apenas e tãosomente enqu
anto garantirem o direito de liberdade do cidadão.
d) Competência mínima para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida tentado
s ou consumados Os crimes dolosos contra a vida são: homicídio (art. 121 do CP);
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP); infanticídio (a
rt. 123 do CP); aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento e aborto
provocado por terceiro (arts. 124 a 126 do CP).
Esses são os crimes de competência do Júri; todavia, este pode vir a ter sua com
petência ampliada por lei ordinária. Já existe uma lei ordinária ampliando: o ar
t. 78, inc. I, do Código de Processo Penal prevê que também é da competência do
Júri o julgamento dos crimes conexos com os crimes do Júri.
Atenção: 1. A competência para julgar o latrocínio é do juiz singular, pois é um
crime contra o patrimônio ( Súmula n. 603 do STF).
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2. A competência para julgar o genocídio (crime contra a humanidade) é do juiz s
ingular da justiça federal. 3. O policial militar, que pratica crime doloso cont
ra a vida, ainda que em serviço, será julgado pelo Júri.
3. ORGANIZAÇÃO DO JÚRI
O Júri é um órgão da justiça comum. Pode ser o Júri estadual ou federal. A compe
tência do Júri federal é para julgamento de:

crimes dolosos contra a vida de funcionários públicos federais, em razão de suas
funções;

crimes dolosos contra a vida praticados a bordo de navio ou aeronave.
3.1. Características do Júri São as seguintes as características do Júri:

Colegiado: o Júri é composto por um juiz togado e 21 jurados leigos.
Atenção: 21 jurados formam o tribunal do Júri; 15 jurados presentes, no mínimo,
instalam a sessão de julgamento; 7 jurados formam o conselho de sentença.
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Heterogêneo: é composto por órgãos de natureza distinta, juiz togado e jurados l
eigos.

Horizontal: não há hierarquia entre os jurados e o juiz presidente do Júri. O qu
e existe são divisões de competência.

Temporário: os jurados são sempre renovados.
Compete ao juiz presidente organizar a lista geral dos jurados, baseado em infor
mações fidedignas ou conhecimento pessoal (art. 439 do CPP). Normalmente, o juiz
requer listas com nomes em repartições públicas, sindicatos de classes, empresa
s. No mês de novembro de cada ano, o juiz publica uma lista provisória com o nom
e dos jurados que irão atuar no próximo ano. A quantidade de nomes varia entre 8
0 a 500, conforme a necessidade de julgamento. Na segunda quinzena de dezembro,
o juiz publica a lista definitiva (art. 439, par. ún., do CPP). Enquanto a lista
não é definitiva, qualquer pessoa pode impugná la. O juiz decide sobre aquele p
edido de exclusão de nome da lista. Se o juiz indefere o pedido e inclui o nome,
aquele que argüiu a exclusão pode interpor recurso em sentido estrito no prazo
de 20 dias (normalmente o recurso em sentido estrito tem prazo de cinco dias), c
onforme o art. 581, inc. XIV, e art. 586, par. ún., ambos do Código de Processo
Penal. Da lista definitiva são sorteados os 21 nomes que formarão o tribunal do
Júri, sendo renovados a cada reunião periódica. O sorteio é realizado em audiênc
ia pública e um menor de 18 anos realiza o sorteio (presume se a pureza do menor
).
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As qualidades da pessoa para ser jurado são as seguintes:

ser brasileiro (nato ou naturalizado); estar no gozo dos direitos políticos; ser
maior de 21 anos; ser residente na comarca onde acontecerão os julgamentos; ter
notória idoneidade moral.




A lei prevê expressamente nos arts. 434 e 436, par. ún., do Código de Processo P
enal aqueles que são isentos do serviço do Júri. Entre eles estão os maiores de
60 anos, os que já exerceram a função de jurado por um ano, ministros de confiss
ão religiosa, parteiras, entre outros. Um cidadão convocado a prestar o serviço
do Júri, não estando no rol dos isentos, não pode recusar se a essa obrigação. P
oderá, todavia, por razões de convicção filosófica, política ou de crença religi
osa, invocar em seu favor a denominada escusa de consciência. O art. 435 do Códi
go de Processo Penal ( determina que aquele que alega escusa de consciência para
não prestar o serviço do Júri perde os direitos políticos) não foi recepcionado
pela Constituição Federal, estando, portanto, revogado. Segundo a Constituição
Federal, aquele que invoca escusa de consciência para se livrar de obrigação a t
odos imposta, deverá prestar um serviço social alternativo. Havendo a recusa da
prestação alternativa, ocorrerá a perda dos direitos políticos (arts. 5. , inc.
VIII, e . 15, inc. IV, da CF/88). Essa obrigação alternativa deve ser prevista e
m lei; porém, ainda não existe lei que regulamente essa obrigação.
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O exercício efetivo da função de jurado, segundo o art. 437 do Código de Process
o Penal, é considerado um serviço público relevante. O jurado terá as seguintes
prerrogativas:

presunção de idoneidade moral; prisão especial em caso de crime comum até o julg
amento definitivo; preferência em igualdade de condições em concorrências públic
as.


Os jurados poderão ser responsabilizados criminalmente por concussão, corrupção
e prevaricação.
4. JUDICIUM ACCUSATIONIS
O procedimento do Júri é bifásico ou escalonado. É o procedimento mais solene do
Código de Processo Penal. A primeira fase do Júri é denominada sumário da culpa
ou judicium accusationis. Inicia se com o recebimento da denúncia ou da queixa
(ação penal privada subsidiária da pública) e termina com o trânsito em julgado
da pronúncia. Essa fase tem por objetivo verificar a admissibilidade da acusação
e verificar se há requisitos mínimos para a acusação. Os atos dessa fase são qu
ase os mesmos do procedimento ordinário, apresentando poucas diferenças. São ele
s:

recebimento da denúncia ou da queixa; citação do réu; Interrogatório;
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LO XX

defesa prévia; oitiva das testemunhas de acusação e de defesa (número máximo de
oito).


alegações finais (art. 406 do CPP).Aqui atenção: o prazo é de cinco dias para ca
da parte.
P.: As partes são obrigadas a apresentar as alegações do Júri? R.: O Ministério
Público é obrigado a apresentar as alegações devido ao princípio da indisponibil
idade da ação penal. A defesa não tem obrigação de apresentar, podendo preferir
falar sobre o mérito apenas em plenário (é técnica de defesa). No rito ordinário
as partes são obrigadas a apresentar as alegações finais por ser a última oport
unidade de manifestação antes da sentença. No Júri, essa não é a última manifest
ação. Obs.: nessa fase fica proibida a juntada de qualquer documento pelas parte
s. Novo documento só será apresentado posteriormente no libelo ou nas contra raz
ões do libelo (art. 406, § 2. , do CPP).

Sentença: nessa fase do processo podem ser proferidos quatro tipos de decisão:

 decisão de pronúncia;  decisão de impronúncia;  desclassificação;


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 absolvição sumária (depende de reexame necessário eficácia).

é condição de
Todas essas decisões podem ser impugnadas através do recurso em sentido estrito
(art. 581, incs. II, IV e VI, do CPP).
4.1. Pronúncia Trata se da decisão que entende existir prova da materialidade e
indícios suficientes de autoria. Julga admissível a acusação, submetendo o réu a
julgamento pelo Tribunal do Júri. “Na fase da pronúncia vigora o princípio in d
úbio pro societate, uma vez que há mero juízo de suspeita, não de certeza. O jui
z verifica apenas se a acusação é viável, deixando o exame mais acurado para os
jurados. Somente não serão admitidas acusações manifestamente infundadas, pois h
á juízo de mera prelibação”.2 Essa decisão, na verdade, não é uma sentença, pois
não julga o mérito. Tem a natureza jurídica de decisão interlocutória mista não
terminativa. O Código de Processo Penal fala em sentença porque a decisão de pr
onúncia deve seguir os mesmos requisitos da sentença (relatório, fundamentação e
dispositivo). O dispositivo da decisão de pronúncia contém o julgamento da admi
ssibilidade da acusação, da pretensão punitiva (ex.: “... julgo admissível a acu
sação e pronuncio o réu.”).
2
CAPEZ, Fernando. Op. cit. 11/17
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A fundamentação não precisa analisar com profundidade o mérito da causa como na
fundamentação da sentença, sob pena de influenciar na decisão dos jurados. Deve
ter uma linguagem comedida e cautelosa para pronunciar, sem referir se a culpado
ou inocente, pois levaria à nulidade da decisão. São efeitos da pronúncia:

Submeter o réu a julgamento pelo Júri. Fixar a classificação jurídica do fato.

Obs.: o art. 416 do Código de Processo Penal permite a mudança da classificação
quando ocorrer circunstância superveniente que altere a mesma. Ex.: o réu é pron
unciado por tentar matar a vítima. A vítima que estava na UTI vem a falecer. O r
éu deverá ser julgado por homicídio consumado. Altera se a pronúncia.

Interromper a prescrição. A Súmula n. 191 do Superior Tribunal de Justiça determ
ina que a pronúncia é causa interruptiva da prescrição ainda que ocorra a descla
ssificação do crime pelo Júri. Essa súmula veio pacificar os entendimentos, pois
alguns defendiam que se os jurados desclassificassem para o procedimento comum
ordinário,onde nada interrompe a prescrição, muitas vezes o crime já estaria pre
scrito.

Decretação da prisão, se for o caso (art. 408, § 2. , do CPP).
Não há mais o lançamento do nome do réu no rol dos culpados. O dispositivo que d
eterminava essa providência não foi recepcionado pela Constituição Federal em ra
zão do princípio da presunção de inocência.
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O juiz, na pronúncia, pode excluir a qualificadora incluída na denúncia se for m
anifestamente improcedente, arbitrária ou se não houver qualquer prova nos autos
sobre ela. P.: Se a denúncia foi oferecida por homicídio simples, e na instruçã
o apura se que há uma qualificadora, o juiz pode incluir essa qualificadora na p
ronúncia? R.: São duas as posições. Para parte da doutrina o juiz pode incluir a
qualificadora na pronúncia aplicando o art. 384 do Código de Processo Penal, mu
tatio libelli sob pena de violar a ampla defesa. Já o Supremo Tribunal Federal e
ntende que o juiz pode incluir qualificadora na pronúncia, independentemente da
aplicação do art. 384 do Código de Processo Penal, por força da regra específica
prevista no art. 408, § 4. , do Código de Processo Penal. Essa regra acima anal
isada também se aplica nas hipóteses de desclassificação de crime doloso menos g
rave contra a vida para outro crime doloso mais grave contra a vida. Ex.: descla
ssificação de infanticídio para homicídio. Ao juiz é vedado manifestar se na pro
núncia sobre:

causas de aumento de pena; causas de diminuição de pena; circunstâncias agravant
es; circunstâncias atenuantes.



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As causas de aumento de pena só serão incluídas no libelo. As circunstâncias agr
avantes vão ser incluídas no libelo ou nos debates durante a sessão de julgament
o. A única agravante que deve constar na pronúncia é a reincidência, pois irá in
terferir na prisão ou na liberdade do réu. Conforme dispõe a Súmula n. 21 do Sup
erior Tribunal de Justiça, pronunciado o réu, fica superada a alegação de excess
o de prazo na instrução criminal. A intimação da decisão de pronúncia varia conf
orme a situação do réu:

Se o réu está preso, será intimado pessoalmente. Se o réu está solto, será intim
ado pessoalmente. Caso não seja encontrado, a intimação será feita por edital, d
ependendo da natureza da infração: Se o crime é afiançável, a intimação será fei
ta por edital. Se o crime é inafiançável, o réu só pode ser intimado pessoalment
e. Ficando o réu em local incerto e não sabido o processo ficará parado até que
aquele seja localizado. Nesse caso, ocorre a chamada crise de instância, isto é,
há o estancamento da marcha processual. Nesse caso, o juiz pode decretar a pris
ão preventiva do réu para assegurar a aplicação da lei penal.

4.2. Impronúncia A decisão de impronúncia julga inadmissível a acusação. Não há
prova da materialidade e nem o menor indício de autoria. A decisão de impronúnci
a
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tem natureza jurídica de decisão interlocutória mista terminativa. Não julga o m
érito. Essa decisão só faz coisa julgada formal. Surgindo novas provas, o proces
so poderá ser reaberto se o crime ainda não prescreveu. Exceção: a decisão de im
pronúncia fará coisa julgada material nos seguintes casos:

atipicidade do fato (o fato narrado não constitui crime); comprovação da inexist
ência material do fato (não houve crime).

No que se refere à competência para o julgamento dos crimes conexos em caso de d
esclassificação, há dois entendimentos na doutrina. Alguns defendem que todos os
delitos passarão para a esfera do juiz togado, pois, se o Júri reconhece que nã
o tem competência para julgar o crime principal, seria um contra senso que decid
isse os demais. Outros afirmam que, mesmo ocorrendo a desclassificação, o Júri c
ontinuaria competente para julgar os crimes conexos ante o disposto no art. 81,
caput, do Código de Processo Penal.
4.3. Despronúncia É a decisão judicial que revoga uma decisão de pronúncia. Pode
ocorrer se houver interposição de recurso e o tribunal revogar a decisão ou se
o próprio juiz da causa, no juízo de retratação, voltar atrás e impronunciar o r
éu.
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4.4. Desclassificação (art. 410 do Código de Processo Penal) A desclassificação
ocorre quando o juiz do Júri se convence de que o réu não cometeu um crime dolos
o contra a vida, e sim cometeu um crime diverso, da competência do juiz singular
. Se o juiz tiver dúvida entre tentativa de homicídio ou lesão corporal, deverá
pronunciar o réu e deixar que o Júri decida se houve ou não o animus necandi, is
to é, intenção de matar. Visa preservar se, assim, a competência constitucional
do Júri. Se o Júri decidir que o réu não teve intenção de matar, o processo será
remetido ao juiz competente. O Júri não se manifesta sobre agravantes ou qualif
icadoras, nem menciona para qual delito o crime foi desclassificado, caso se man
ifeste acerca disso, não estará vinculando o juiz, que será competente. Atenção:
se o juiz do Júri desclassifica o crime e as partes não recorrem (é cabível rec
urso em sentido estrito), a decisão transita em julgado e o processo é remetido
ao juiz singular. Se o juiz singular, ao receber o processo, concluir que o juiz
do Júri se equivocou, e que o réu deveria ter sido pronunciado, qual medida dev
e tomar? O juiz para o qual o processo foi remetido nada poderá fazer. Não pode
suscitar conflito de competência, pois a decisão de desclassificação já transito
u em julgado. Se ele se convencer que era mesmo o crime doloso contra a vida, ai
nda que tentado, deverá absolver o réu. A desclassificação é decisão interlocutó
ria mista não terminativa.
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4.5. Absolvição Sumária É a absolvição do réu pelo juiz em razão de estar compro
vada a existência de causa de exclusão da ilicitude (ex.: legítima defesa) ou da
culpabilidade (ex.: inimputabilidade). É uma sentença, pois nela há o julgament
o do mérito. Faz coisa julgada material. Para ter eficácia deve ter o reexame ne
cessário. A Súmula n. 423 do Supremo Tribunal Federal determina que, enquanto nã
o houver o recurso de ofício, a absolvição não transita em julgado. P.: se o Jui
z tem certeza da excludente de culpabilidade (há laudo que comprova a inimputabi
lidade do réu) e tem dúvida sobre a excludente de ilicitude (há dúvida quanto à
legítima defesa) ele deve absolver ou pronunciar o réu? R.: O Juiz não pode reco
nhecer a legítima defesa e absolver o réu no sumário da culpa, pois esta não res
tou provada. Deverá pronunciar o réu, pois o Júri pode reconhecer a legítima def
esa e absolver o réu. Se o juiz no sumário da culpa reconhecer a excludente de c
ulpabilidade terá de dar a absolvição imprópria, impondo ao réu uma medida de se
gurança. No caso dele se pronunciar, o réu terá uma chance de o Júri reconhecer
a legítima defesa e o absolver; ou, na pior das hipóteses, será condenado e rece
berá uma medida de segurança pela inimputabilidade já comprovada.
A segunda fase do Júri é denominada juízo da causa ou judicium causae. Inicia se
com o oferecimento do libelo e termina com a sessão de julgamento. Essa fase ju
lga o mérito, ou seja, verifica a culpabilidade do acusado. Obs.: o Módulo XXI t
ratará desse tema.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XXI
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Do Procedimento do Júri
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DIREITO PROCESSUAL PENAL Do Procedimento do Júri
1. JUDICIUM CAUSAE
1.1. Desaforamento A segunda fase do procedimento do júri, após a sentença de pr
onúncia, é o juízo da causa ou judicium causae, o qual inicia se com o oferecime
nto do libelo pela acusação. Durante essa fase é possível que ocorra o pedido de
desaforamento (art. 424 do CPP). Desaforamento é o deslocamento da competência
territorial do júri. Somente a sessão de julgamento é que se desafora. Os demais
atos são praticados na Comarca onde corre o processo. É impossível o pedido de
desaforamento durante o sumário da culpa, pois nessa fase ainda não há certeza d
e que haverá julgamento pelo júri. Só a pronúncia transitada em julgado dá a cer
teza do julgamento pelo júri. O desaforamento deve ser sempre para a Comarca mai
s próxima, desde que nela não existam os mesmos motivos que ensejaram o desafora
mento. Assim, por exemplo, um crime que causou revolta em toda uma região, não a
dianta desaforar para uma cidade vizinha. São causas do desaforamento: a) motivo
s de ordem pública;
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b) dúvida a respeito da imparcialidade dos jurados (Atenção: a dúvida não é sobr
e a imparcialidade do juiz – essa impedimento ou suspeição); c) risco à seguranç
a do réu; d) quando, passado um ano do recebimento do libelo, o julgamento não t
iver se realizado. enseja exceção de
Tem legitimidade para pleitear o desaforamento:

qualquer das partes, por requerimento; o juiz, por representação; salvo no últim
o caso (d), em que só as partes podem requerer.

O pedido é formulado no Tribunal de Justiça; a Câmara Criminal com competência p
ara julgar os recursos do júri irá decidir, ouvindo sempre o Procurador Geral de
Justiça. O desaforamento pode ser pedido até um dia antes da sessão do julgamen
to. Por não ter efeito suspensivo, deve ser requerido o quanto antes. P.: Conced
ido o pedido de desaforamento, é possível requerer um segundo desaforamento? R.:
Sim. É possível novo desaforamento desde que, na nova Comarca, surjam novos mot
ivos.
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Reaforamento é a volta do julgamento para ser realizado pelo Júri da Comarca de
origem, sendo necessário que ali tenham desaparecido os motivos que provocaram o
desaforamento e que novos motivos (problemas que não mais existem na de origem)
tenham surgido na Comarca para onde o julgamento fora remetido. Portanto, em te
se, admite se o retorno do julgamento para a Comarca de origem.
1.2. Libelo O libelo é a “peça inaugural do judicium causae, consistente em uma
exposição escrita e articulada do fato criminoso, contendo o nome do réu, as cir
cunstâncias agravantes e todas as demais que influam na fixação da sanção penal.
(...) O libelo é composto de três partes: introdução, articulado e pedido. Na i
ntrodução, consta a menção ao processo crime, a designação do acusador, pelo seu
cargo, e o nome do réu (exemplo: ‘Por libelo crime acusatório, diz a Justiça Pú
blica, por seu Promotor de Justiça infra assinado, nos autos do processo crime 4
28/90, que move contra o réu Ernestino de Souza, o seguinte: (...)’). No articul
ado, o fato criminoso e suas circunstâncias vêm expostos em artigos sintéticos e
objetivos (exemplo: ‘Que provará: 1) que o réu efetuou disparos de arma de fogo
contra a vítima, produzindo lhe os ferimentos descritos no laudo de fls.; 2) qu
e esses ferimentos foram a causa da morte da vítima; 3) que o réu é reincidente’
). No pedido, a acusação deve requerer a procedência da ação, com o recebimento
do libelo e a condenação do acusado pelo júri, como incurso no tipo incriminador
, pelo qual foi pronunciado (exemplo: ‘Isto posto, requeiro seja o presente libe
lo recebido, e o réu levado a julgamento perante o júri, como incurso no art. 12
1, caput, do Código Penal, a fim de ser condenado’)”1.
1

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 5
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O libelo é oferecido pela acusação (Ministério Público) somente contra o réu que
foi intimado da decisão de pronúncia. A pronúncia só transita em julgado após a
intimação do réu. O libelo é totalmente vinculado à pronúncia. Isto é, no libel
o o Ministério Público não pode alterar a classificação jurídica do crime consta
nte na pronúncia. “A pronúncia condiciona o libelo”. Também não pode o Ministéri
o Público incluir, no libelo, qualificadora que não conste da pronúncia. Se a ac
usação não concorda com a pronúncia, deve recorrer, mas não inovar no libelo. O
Ministério Público pode incluir agravantes no libelo.
P.: Se o Ministério Público não incluir no libelo as agravantes, pode fazê lo em
momento posterior? R.: No dia do julgamento, nos debates, a acusação pode alega
r as agravantes, mas não as causas de aumento da pena.
O libelo é uma peça articulada, ou seja, deve ser escrita na forma de artigos. S
e houver mais de um crime na pronúncia, deverá ser elaborada uma série de artigo
s para cada crime. Se houver mais de um réu, deve ser realizado um libelo para c
ada réu. No libelo, a acusação vai requerer a juntada de documentos, as diligênc
ias ainda não realizadas e apresentar o rol de testemunhas, no máximo cinco, que
serão ouvidas em plenário.
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P.: Se o Ministério Público não juntar documentos no libelo, pode requerer a jun
tada posteriormente? R.: Sim. No processo penal é possível a juntada de document
os a qualquer momento, cientificando a parte contrária. O limite temporal no jud
icium causae à juntada de documentos é dado pelo art. 475 do Código de Processo
Penal. Segundo esse dispositivo, os documentos a serem exibidos em plenário deve
m ser juntados e comunicados à parte contrária com antecedência de, pelo menos,
três dias do julgamento.
As testemunhas podem ser arroladas em caráter de imprescindibilidade. A parte qu
e arrolou a testemunha com esse caráter pode se recusar à realização do julgamen
to se essa não comparecer. O julgamento será adiado. Para desistir de testemunha
imprescindível no julgamento, deve haver anuência da parte contrária. O não com
parecimento da testemunha arrolada em caráter de imprescindibilidade não impedir
á a realização do julgamento, nos seguintes casos:

se a testemunha estiver em lugar incerto e não sabido; se a testemunha residir e
m Comarca diversa da jurisdição do Júri.

Prazo para o oferecimento do libelo:

cinco dias (a contar da intimação pessoal para o oferecimento) para o Ministério
Público, na ação penal pública;
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dois dias para o querelante, tanto no caso de queixa subsidiária quanto no de qu
eixa exclusivamente privada.
Se o Ministério Público não oferece o libelo, o juiz não pode mais nomear promot
or ad hoc para apresentá lo, já que essa figura desapareceu com a Constituição F
ederal de 1988. Hoje, o juiz utiliza o art. 28 do Código de Processo Penal, por
analogia. Se o querelante não oferecer o libelo, ocorre o seguinte:

na ação penal exclusivamente privada – a perempção; na ação penal privada subsid
iária da pública – o Ministério Público reassume a ação.

(Observação: pode haver libelo em ação exclusivamente privada, em caso de litisc
onsórcio ativo entre querelante e Ministério Público.)
O fenômeno do lançamento do libelo ocorre quando o querelante, na ação penal pri
vada subsidiária da pública, apresenta o libelo intempestivamente, fora do prazo
legal. O Código de Processo Penal determina que ele seja lançado dos autos (art
. 420 do CPP), quer dizer, seja excluído dos autos. Os autos serão remetidos ao
Ministério Público. Oferecido o libelo, esse será examinado pelo juiz, que poder
á ou não recebê lo. Caso não o receba, o juiz deverá notificar o Ministério Públ
ico para que apresente outro em 48 horas (art. 418 do CPP).
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Recebendo o libelo, o juiz, nesse mesmo despacho, deve determinar a entrega de c
ópia ao réu em três dias e notificar a defesa para apresentar a contrariedade ao
libelo, no prazo de cinco dias. A falta da entrega da cópia do libelo ao réu e
da notificação para a apresentação da contrariedade gera nulidade, evidentemente
relativa (art. 564, inc. III, “f”, do CPP), segundo entendimento do Professor F
ernando Capez2.
1.3. Contra Libelo O contra libelo segue as mesmas regras do libelo. Deve ser ap
resentado no prazo de cinco dias. A defesa deve requerer a juntada de documentos
, a realização de diligências e apresentar o rol de testemunhas, em número máxim
o de cinco, que irão depor em plenário. As testemunhas da defesa também podem se
r arroladas em caráter de imprescindibilidade. Para a defesa é uma peça de apres
entação facultativa, assemelhando se à defesa prévia. Deve ser dada a oportunida
de de apresentação, mas, caso a parte não apresente, não causa nulidade, porque
pode ser uma técnica da defesa só se manifestar em plenário.
1.4. Saneador Apresentados o libelo e o contra libelo, o juiz determina a realiz
ação das diligências necessárias. Após isso, profere um despacho saneador e marc
a a data para a sessão de julgamento.
2
Op. cit. p. 583.
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2. JULGAMENTO EM PLENÁRIO
A sessão de julgamento em plenário é composta pelas seguintes fases:

instalação da sessão; formação do Conselho de Sentença; atos instrutórios; debat
es; julgamento.




2.1. Instalação da Sessão Presente o Ministério Público, no dia e na hora design
ados para a reunião do júri, o juiz presidente da sessão verifica se a urna cont
ém as cédulas com os nomes dos 21 jurados sorteados, e determina que o escrivão
faça a chamada. Declarará instalada a sessão se comparecerem no mínimo 15 jurado
s. Caso contrário, convoca nova sessão para dia útil imediato (art. 442 do CPP).
O juiz anuncia o processo que será submetido a julgamento e ordena ao porteiro
que apregoe as partes e as testemunhas. Observação: Esse é o momento para a argü
ição de nulidade relativa, ocorrida após a pronúncia sob pena de convalidação (a
rt. 571, inc. V, do CPP). Se ocorrer nulidade após esse momento, deverá ser argü
ida imediatamente a sua ocorrência, sob pena de preclusão (art. 571, inc. VIII,
do CPP).
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Apregoado o réu e esse comparecendo, o juiz pergunta lhe o nome, idade e se tem
advogado. Deverá nomear lhe curador – se for menor e não o tiver – e defensor, s
e for maior. Nesse caso, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedid
o.
2.1.1. Ausências
a) Se o réu regularmente intimado não comparece

Ausência justificada: o julgamento é adiado. Ausência injustificada: se a infraç
ão for inafiançável, o julgamento somente se realiza com a presença do réu e, ne
sse caso, o juiz pode decretar a prisão preventiva para assegurar a aplicação da
lei penal; se a infração for afiançável, o julgamento será realizado à revelia
do réu.

b) Se o advogado não comparece

Ausência justificada: o julgamento é adiado. Ausência injustificada: o juiz deve
rá adiar a sessão de julgamento, nomear por cautela um advogado dativo e oficiar
à OAB o ocorrido. Se no dia do novo julgamento o antigo advogado comparecer, é
ele quem participa do julgamento.
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c) Se o Ministério Público (acusação) não comparece

Ausência justificada: o julgamento é adiado. Ausência injustificada: o juiz deve
rá adiar a sessão de julgamento, oficiar ao Procurador Geral da Justiça e comuni
car ao substituto automático do promotor. Não há mais a figura do promotor ad ho
c.

d) Se o querelante não comparece

Ausência justificada: o julgamento é adiado. Ausência injustificada: ocorre a pe
rempção, em caso de ação penal exclusivamente privada, ou o Ministério Público r
eassume a titularidade, em caso de ação penal subsidiária da pública.

e) Se o assistente de acusação não comparece

Sua ausência nunca provoca o adiamento da sessão.
f) Se a testemunha não comparece

Se arrolada em caráter de imprescindibilidade: adia o julgamento, salvo se estiv
er em local incerto e não sabido ou for de fora da terra.

Se arrolada sem caráter de imprescindibilidade: não adia o julgamento, mas pode
sofrer condução coercitiva, multa e processocrime por desobediência.
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g) Se o jurado não comparece

Ausência injustificada: sujeita se ao pagamento de multa.
2.2. Formação do Conselho de Sentença O juiz, após verificar que se encontram na
urna as cédulas relativas aos jurados presentes, realizao sorteio de sete deles
para formarem o conselho de sentença (art. 457 do CPP). Antes do sorteio, o jui
z adverte os jurados dos impedimentos do Júri. No mesmo conselho de sentença, sã
o impedidos de servir marido e mulher, ascendente e descendente, sogro e genro o
u nora, irmãos, cunhados durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrast
a e enteado. Também advertirá sobre as incompatibilidades legais por suspeição –
parentesco com o juiz, promotor, advogado, réu ou com a vítima (art. 458 do CPP
). Caso exista impedimento por parentesco, servirá ao júri aquele que houver sid
o sorteado em primeiro lugar. Conforme a Súmula n. 206 do Supremo Tribunal Feder
al, é nulo o julgamento ulterior por júri do qual participe jurado que tenha tom
ado parte em julgamento anterior do mesmo processo. Na medida em que as cédulas
vão sendo abertas, a defesa, e depois a acusação, podem recusar os jurados sorte
ados. Recusa motivada, isto é, com fundamento em impedimento ou suspeição, as pa
rtes podem fazer quantas recusas forem necessárias. Já a recusa imotivada ou per
emptória, isto é, sem qualquer justificativa ou fundamento, cada parte só tem di
reito a três.
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A recusa de jurado pode provocar a cisão do julgamento. Existindo dois ou mais r
éus, com diferentes defensores, se um defensor aceita um jurado e o outro o recu
sa, havendo aceitação desse jurado pela acusação (Ministério Público), o julgame
nto será cindido. Só haverá o julgamento de um réu; o outro réu terá seu julgame
nto adiado. Se o jurado, aceito por um defensor e recusado por outro, também for
rejeitado pelo Ministério Público, julgamento. Escolhidos os sete jurados, o ju
iz faz a seguinte exortação: “Em nome da lei, concito vos a examinar com imparci
alidade essa causa e a proferir a vossa decisão, conforme a vossa consciência e
os ditames da Justiça.” Os jurados prometem e estarão compromissados. A partir d
esse momento, passa a vigorar a incomunicabilidade dos jurados. A incomunicabili
dade não significa mudez. Os jurados podem conversar entre si, desde que não sej
a sobre o processo. Não podem conversar com terceiros estranhos ao processo; a c
omunicação com o mundo exterior ocorre somente via oficial de justiça. Tal medid
a visa garantir o sigilo das votações. será excluído, e não haverá cisão do
2.3. Atos Instrutórios O juiz presidente inicia os trabalhos com o interrogatóri
o do réu. Nesse interrogatório, além do juiz presidente, os jurados também podem
fazer perguntas ao réu. Em seguida, o juiz elabora um relatório do processo, co
m os fatos, as provas e as conclusões das partes. É um resumo de todo o processo
e destinase aos jurados (art. 466 do CPP). Se requerida pelas partes, ou por ju
rado, o
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escrivão fará a leitura das principais peças do processo (art. 466, § 1. , do CP
P). A leitura deve ser feita sem qualquer entonação. Inicia se a oitiva das test
emunhas. Primeiro, são inquiridas as testemunhas de acusação e a vítima, se o cr
ime foi tentado. O juiz, os jurados, a acusação (parte que arrolou) e a parte co
ntrária fazem as perguntas. Segue se a inquirição das testemunhas de defesa. O j
uiz, os jurados, a defesa (parte que arrolou) e a parte contrária fazem as pergu
ntas. As partes fazem a inquirição da testemunha diretamente. Após ser inquirida
, a testemunha deve permanecer incomunicável até o final do julgamento, salvo se
for dispensada pelas partes. Isso porque o Código de Processo Penal permite a r
einquirição da testemunha a qualquer momento, até na tréplica.
2.4. Debates Terminada a inquirição das testemunhas, o promotor lerá o libelo e
os dispositivos da lei penal em que o réu se acha incurso e produzirá a acusação
. Concluída a acusação, o defensor terá a palavra, para a defesa. O tempo será d
e duas horas para cada parte. Havendo mais de um réu, o tempo será acrescido em
uma hora. Encerrada a fala da defesa, o juiz indagará à acusação se fará uso da
réplica. Em caso positivo, a defesa terá direito a tréplica. O tempo será de 30
minutos para cada um. Havendo mais de um réu, o tempo será acrescido em mais 30
minutos. A defesa não pode inovar sua tese no momento da tréplica devido ao prin
cípio do contraditório. Se inovar, essa tese não será quesitada.
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Se a acusação for composta pelo promotor e pelo assistente de acusação, eles dev
erão combinar entre si a distribuição do tempo. Não havendo acordo, o juiz marca
rá o tempo de cada um, não excedendo o limite previsto em lei. Apartes são as in
tervenções que uma parte faz na fala da outra. Não estão previstos em lei. Segun
do a jurisprudência, são possíveis desde que exista concordância do orador o apa
rte seja de forma cordial e não vise atrapalhar o orador.
2.5. Julgamento Após os debates, o juiz pergunta aos jurados se eles estão habil
itados a julgar ou se precisam de mais esclarecimentos (art. 478 do CPP). Esses
esclarecimentos devem relacionar se somente com matéria de fato. Em seguida, o j
uiz lê os quesitos e explica a significação legal de cada um. Indaga se os jurad
os têm algum requerimento ou alguma reclamação a fazer. O juiz, então, anuncia q
ue vai se proceder ao julgamento, determina que o réu seja retirado e convida os
demais circunstantes a deixarem a sala. O juiz, os jurados, o promotor, o advog
ado, o escrivão e dois oficiais de justiça dirigem se à sala secreta. Os jurados
passam à votação dos quesitos sob a presidência do juiz. O jurado vota sim ou n
ão, sem qualquer discussão ou fundamentação, em razão do sigilo das votações. Se
a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradição com outra já proferid
a, o juiz, explicando aos jurados em que consiste a contradição, submeterá novam
ente à votação os respectivos quesitos. O veredicto apura se por maioria.
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2.6. Quesitação (Atenção: assunto muito perguntado na fase oral!) Quesitação é o
questionário; são as perguntas feitas pelo juiz aos jurados, que deverão respon
der sim ou não. É elaborado com base no libelo, no contra libelo, no interrogató
rio e nos debates. Como no júri vige a defesa plena, todas as teses devem ser qu
esitadas, ainda que incompatíveis. Haverá um questionário para cada réu, e uma s
érie de quesitos para cada crime. Conforme a Súmula n. 156 do Supremo Tribunal F
ederal, é causa de nulidade absoluta do julgamento a falta de quesito obrigatóri
o. Também a Súmula n. 162 do Supremo Tribunal Federal determina que é causa de n
ulidade absoluta do julgamento se os quesitos da defesa não precederem os quesit
os das agravantes (a jurisprudência também inclui as qualificadoras). A ordem do
s quesitos ocorre da seguinte forma:

Os relativos ao fato principal, ao fato imputado ao réu (autoria e materialidade
).

Os relativos à letalidade. (Exemplo: "As lesões efetuadas pelo réu foram letais,
causaram a morte?" ou ânimo homicida do réu (se o crime foi tentado).

Os relativos às teses de defesa (Súmula n. 162 do STF). Todas as teses devem ser
quesitadas, na seguinte ordem: teses que podem levar à desclassificação; teses
relativas às excludentes de ilicitude (nesse caso, deve haver quesito sobre a ex
istência ou não do excesso doloso ou culposo);
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se alegada a legítima defesa, cada requisito deve ser quesitado,. como, por exem
plo, "O réu defendia direito próprio? Defendiase de agressão injusta? Utilizou s
e dos meios necessários?".

teses sobre o privilégio.
Os relativos à existência de qualificadoras. Os relativos à existência de causas
de aumento ou diminuição. Os relativos à existência de agravantes e atenuantes.


Observações:

Ainda que não se alegue a existência de circunstâncias atenuantes, o juiz deverá
elaborar um quesito genérico da atenuante, sob pena de nulidade absoluta. Exemp
lo: "Existe alguma atenuante em favor do réu?".

Se os jurados reconhecerem que o réu agiu em legítima defesa, o juiz deve fazer
os quesitos sobre o excesso. Se os jurados reconhecerem a existência do excesso,
surgem dois caminhos: reconhecem o excesso culposo: homicídio culposo; reconhec
em o excesso doloso: continua o homicídio doloso. O juiz prossegue nos quesitos.
desclassificam o delito para

Se os jurados reconhecerem a existência de privilégio, ficam prejudicados os que
sitos referentes às qualificadoras subjetivas.
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Reconhecido o privilégio, somente podem ser formuladas perguntas sobre as qualif
icadoras objetivas.

No crime de aborto é necessário elaborar um quesito autônomo a respeito da exist
ência da gravidez. No crime de infanticídio é necessário elaborar um quesito aut
ônomo sobre a existência do estado puerperal.

Em se tratando de concurso de agentes no crime de homicídio, o primeiro quesito
será elaborado de forma não individualizada. Exemplo: "Terceira pessoa efetuou o
s disparos?". A participação do réu só será indagada no quesito seguinte, de for
ma detalhada. Exemplo: "O réu é o mandante do crime? O réu é o autor intelectual
do delito? O réu teve contribuição para a consumação do delito?".
2.7. Desclassificação no Júri Se os jurados desclassificam o crime, o julgamento
desse crime competirá ao juiz presidente do júri (arts. 74, § 3. , e 492, §2. ,
do CPP). A desclassificação pode ser:

própria: ocorre quando os jurados desclassificam a infração sem estabelecer a ti
pificação do fato; o juiz presidente tem liberdade para definir a infração e jul
gar o fato;

imprópria: ocorre quando, na desclassificação pelos jurados, fica estabelecido o
enquadramento do fato, cabendo ao juiz presidente apenas a aplicação da pena.
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Exemplos de desclassificação: Quesito: O réu agiu com imprudência? R: Sim. Agiu
com culpa, homicídio culposo. Desclassificação imprópria, ao juiz resta aplicar
a pena.
Quesito: O réu iniciou a sua conduta visando um resultado que não se consumou po
r circunstâncias alheias à sua vontade? R: Não. O réu não tinha o animus necandi
(dolo de matar). Desclassificação própria, o juiz vai tipificar a conduta e apl
icar a pena.
P.: Se o júri absolve o réu de crime doloso contra a vida, a quem compete julgar
os crimes conexos? R.: Na doutrina predomina o entendimento que os crimes conex
os serão julgados pelo júri. Se houve absolvição é porque os jurados conheceram
o mérito. Se foram competentes para julgar o crime doloso, também o são para jul
gar os crimes conexos. Ocorre a perpetuatio jurisdiciones (art. 81 do CPP). Na j
urisprudência, a questão é mais dividida. Há tendência a serem julgados pelo jui
z presidente em razão de aplicação analógica do art. 492, § 2. , do Código de Pr
ocesso Penal.
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a) Desclassificação no júri para a infração de menor potencial ofensivo Exemplo:
tentativa de homicídio, desclassificada para lesão corporal dolosa leve ou lesã
o corporal culposa. Segundo a doutrina, deve se aguardar o trânsito em julgado d
a desclassificação e remeter o processo ao Juizado Especial Criminal (art. 98 da
CF/88). Há precedentes do Supremo Tribunal Federal acolhendo essa posição.
b) Desclassificação de crime militar Exemplo: no júri, o advogado, sem negar a a
utoria, sustenta que não houve dolo eventual, mas sim culpa imprópria. O crime d
e homicídio culposo praticado por militar em serviço é da competência da justiça
militar. A justiça comum é incompetente para julgar esse delito. Deve o juiz ag
uardar o trânsito em julgado da desclassificação e remeter o caso para a justiça
militar, sob pena de violar regra constitucional de competência.
2.8. Sentença “Encerrada a votação e assinado o termo referente às respostas dos
quesitos, o juiz deverá proferir a sentença. No caso de absolvição, o juiz deve
colocar o réu imediatamente em liberdade, salvo se estiver preso por outro moti
vo.”3
3
CAPEZ, Fernando. Op. cit. p. 590
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2.9. Atribuições do Juiz presidente na Sessão de Julgamento (art. 497 do CPP) (O
bservação: é obrigatória a leitura desse artigo antes de uma prova.) As atribuiç
ões do juiz presidente na sessão de julgamento são:

regular os debates. Para isso o Código de Processo Penal lhe concede o poder de
polícia;

interromper a sessão de julgamento, por tempo razoável, para repouso ou refeição
dos jurados;

dissolver o conselho de sentença, caso constate que o réu está indefeso;

resolver todas as questões de direito que não dependam do julgamento dos jurados
(exemplos: preliminares, eventuais nulidades invocadas (quando o réu completa 7
0 anos, o prazo da prescrição cai pela metade);

determinar de ofício, ou a requerimento, a realização de diligências considerada
s imprescindíveis. Essas diligências, de preferência, devem ser realizadas de im
ediato, sem dissolver o conselho de sentença; se não for possível, deve dissolve
r o conselho e marcar novo júri.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XXII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510 010 Tel.: (11) 3346.4600 –
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ULO XXII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. DAS NULIDADES
1.1. Conceito Nulidade é a sanção cominada pelo ordenamento jurídico ao ato prat
icado em desrespeito às formalidades legais. Ao estabelecer as formalidades, o l
egislador quer garantir que o réu tenha ciência da acusação, que seja citado reg
ularmente e que esteja sendo a ele oferecida a oportunidade de defesa. São norma
s de Direito Público. O Código de Processo Penal, em seus artigos 563 a 573, tra
ta das nulidades. (Atenção: é obrigatória a leitura desses artigos antes da real
ização das provas.) O artigo 564 do Código de Processo Penal apresenta o rol das
nulidades; todavia, algumas nulidades relativas constantes desse rol, em razão
da Constituição Federal de 1988, estão desatualizadas – deveriam ser nulidades a
bsolutas. Além disso, as hipóteses de nulidades deveriam ser verificadas, no cas
o concreto, pelo juiz. As nulidades podem ser absolutas ou relativas. Ao lado de
las, existem algumas situações em que o vício é tão grave que gera a inexistênci
a do ato. Em outras situações, o desatendimento da formalidade é incapaz de gera
r qualquer prejuízo ou anular o ato, pois trata se de mera irregularidade.
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1.2. Diferenças entre Nulidades Absolutas e Relativas 1.2.1. Quanto ao fundament
o A nulidade absoluta ocorre quando a regra violada houver sido instituída para
resguardar, predominantemente, o interesse público. A nulidade relativa ocorre q
uando a regra violada houver sido instituída para resguardar, predominantemente,
o interesse das partes. Sempre que ocorrer a violação a um princípio constituci
onal, a nulidade será absoluta. Para alguns autores, se a ofensa for muito grave
, o ato será inexistente.
1.2.2. Quanto ao prejuízo A nulidade relativa exige demonstração do prejuízo. Na
nulidade absoluta, o prejuízo é presumido.
1.2.3. Quanto ao momento de argüição A nulidade relativa deve ser argüida no mom
ento oportuno, sob pena de preclusão. Cada procedimento tem um momento último pa
ra a argüição. Conforme o artigo 571 do Código de Processo Penal, as nulidades d
evem ser argüidas nos seguintes momentos:

Procedimento Ordinário: até as alegações finais (inciso II).
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Procedimento do Júri: as que ocorrerem no sumário da culpa, até as alegações do
Júri (inciso I); as que ocorrerem posteriormente, depois de anunciado o julgamen
to e apregoadas as partes (inciso V); e as do julgamento em plenário, logo depoi
s que ocorrerem (inciso VIII).
A nulidade absoluta pode ser reconhecida a qualquer tempo e em qualquer grau de
jurisdição. Exceção: conforme a Súmula n. 160 do Supremo Tribunal Federal, “é nu
la a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recur
so da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”.
1.2.4. Quanto ao interesse As nulidades relativas dependem de provocação pela pa
rte interessada, no momento oportuno. As nulidades absolutas não precisam de pro
vocação; o próprio juiz pode reconhecer de ofício, salvo a exceção da Súmula n.
160 do Supremo Tribunal Federal.
1.3. Inexistência e Irregularidade Inexistência é a sanção mais grave que pode s
er cominada a um ato processual. Para a doutrina, não se trata de ato processual
inexistente, mas sim de um não ato ou ato processual atípico por não se enquadr
ar no modelo legal.
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Ocorre quando o ato não reúne elementos essenciais para existir. É a violação fr
ontal da regra constitucional que gera a inexistência. Ex.: um processo por crim
e eleitoral que tramitou na Justiça Militar. Para o Professor Tourinho, a violaç
ão de qualquer regra constitucional que trate de competência torna o ato inexist
ente. Já, para a jurisprudência, trata se de nulidade absoluta. Característica p
rópria da inexistência: se o ato for inexistente, não produz efeitos, independen
te de declaração judicial. Na nulidade absoluta o ato produz efeitos até que sej
a declarado nulo. Enquanto isso não ocorrer, produz efeitos.
Exemplos:

sentença sem relatório: nulidade absoluta; sentença sem fundamentação: nulidade
absoluta; sentença sem dispositivo: inexistente; sentença proferida por juiz em
férias ou aposentado: inexistente, por não ter jurisdição;




sentença proferida por juiz suspeito: nulidade absoluta; sentença proferida por
juiz impedido: inexistente.

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Ocorre irregularidade sempre que a formalidade desrespeitada for considerada inó
cua. Tal desrespeito é incapaz de gerar prejuízo, seja para a acusação, seja par
a a defesa. O ato produz seus efeitos normalmente. Exemplos: falta de leitura do
libelo no início da fala da acusação; falta de compromisso pelo perito louvado
ou particular (o perito oficial é funcionário e, ao tomar posse, já assume esse
compromisso); oferecimento de denúncia fora do prazo legal (5 dias para o réu pr
eso e 15 para o solto) acarreta o relaxamento da prisão em flagrante, mas a denú
ncia em si é válida.
2. PRINCÍPIOS DAS NULIDADES
2.1. Prejuízo Não há nulidade se não houver prejuízo (artigo 563 do CPP). Esse p
rincípio aplica se à nulidade relativa, na qual precisa ser demonstrado o prejuí
zo, pois, na nulidade absoluta, esse é presumido. No processo penal, a falta de
defesa acarreta a nulidade absoluta e a defesa deficiente produz nulidade relati
va (ver a Súmula n. 523 do Supremo Tribunal Federal). Exemplo: réu não tem defen
sor constituído e o juiz não nomeia um defensor dativo, ou esse é nomeado e nada
faz no processo; ; o réu fica indefeso, acarretando nulidade absoluta.
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2.2. Interesse Ninguém pode alegar nulidade que só interesse à parte contrária (
artigo 565 do CPP). Esse princípio só se aplica à nulidade relativa, pois a abso
luta pode ser alegada por qualquer pessoa. Ninguém pode argüir nulidade para a q
ual tenha concorrido ou dado causa. Como exceção o Ministério Público pode argüi
r nulidades que interessem somente à defesa.
2.3. Instrumentalidade das Formas Não se declara a nulidade de ato que não influ
iu na apuração da verdade real e na decisão da causa (artigo 566 do CPP) e també
m de ato que, apesar de praticado de forma diversa da prevista, atingiu sua fina
lidade (artigo 572, inciso II, do CPP).
2.4. Causalidade ou Conseqüencialidade Segundo o artigo 573, § 1. , do Código de
Processo Penal: “A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos qu
e dele diretamente dependam ou sejam conseqüência”. Todos os atos visam a senten
ça; os atos processuais são entrelaçados entre si. Assim, se um ato é nulo, os d
emais que dele dependam também o serão. O juiz deve declarar expressamente quais
são os atos contaminados. A Professora Ada Pellegrini Grinover estabelece duas
regras úteis para saber se há contaminação dos atos subseqüentes:
6/12
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ULO XXII

A nulidade dos atos da fase postulatória, como regra, anula todo o processo. Exe
mplo: nulidade na denúncia, citação.

A nulidade de atos da fase instrutória, via de regra, não contamina os demais at
os da mesma fase processual. Exemplo: laudo elaborado por um só perito.
Observação: tribunal reconhecer a nulidade relativa, ela deve ser apresentada na
s alegações finais (artigo 500 do CPP). Apenas será anulada a sentença; a inquir
ição de testemunhas não precisa ser anulada.
2.5. Convalidação Todas as nulidades no processo penal admitem convalidação, até
mesmo as absolutas. Somente as nulidades relativas precluem se não argüidas no
momento oportuno. Entretanto, existem outras formas de convalidação além da prec
lusão. O Código de Processo Penal elenca três formas de convalidação:

Ratificação: prevista no artigo 568 do Código de Processo Penal. É uma maneira d
e se convalidar a nulidade decorrente de ilegitimidade de parte. Se a parte legí
tima comparecer e ratificar os atos anteriormente praticados, a nulidade se conv
alida.
A ilegitimidade pode ser: ad causae ou ad processum.  Ilegitimidade ad causae:
Exemplo: o Ministério Público oferece denúncia em crime de ação penal privada.
7/12
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ULO XXII
 Ilegitimidade ad processum: Exemplo: a queixa na ação penal privada é apresent
ada pela vítima menor de 21 anos ou por um terceiro que não é o representante le
gal da vítima. A ratificação só é possível na ilegitimidade ad processum tratand
o se essa de nulidade relativa.

Suprimento: de acordo com o artigo 569 do Código de Processo Penal “As omissões
da denúncia ou da queixa, ... poderão ser supridas a todo o tempo, antes da sent
ença final.” É a maneira de se convalidar possíveis omissões constantes na denún
cia ou na queixa.

Substituição: segundo o artigo 570 do Código de Processo Penal é a maneira de co
nvalidar nulidades da citação, intimação ou notificação. Exemplo: réu processado
é procurado em um dos seus endereços, mas não é encontrado. Em vez de procurá l
o nos demais endereços, o juiz ordena a citação por edital. No dia do interrogat
ório, o réu comparece para argüir a nulidade da citação. Convalesce o vício e é
aberto novo prazo para apresentação da defesa. A medida deveria ter sido realiza
da de uma forma, mas foi substituída por outra.
3. NULIDADES EM ESPÉCIE
O artigo 564 do Código de Processo Penal apresenta os seguintes casos de nulidad
e: I – Por incompetência, suspeição ou suborno do juiz; Incompetência
8/12
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ULO XXII
Competência é a medida da jurisdição. A competência em razão da jurisdição (comu
m ou especializada), da hierarquia e da matéria, assim como a competência recurs
al, são hipóteses de competência absoluta, imodificáveis pelas partes (questões
de ordem pública). A não observância dessas regras de competência acarreta nulid
ade absoluta do processo; o vício não se convalida, podendo ser reconhecido a qu
alquer tempo, de ofício, independentemente da demonstração do prejuízo. A compet
ência em razão do foro territorial, por ser relativa, depende de argüição da par
te, sob pena de preclusão, com a prorrogação da competência. Nesse caso, o vício
é sanável. Sendo reconhecida a incompetência relativa, serão anulados apenas os
atos em que exista decisão de mérito. Suspeição e suborno do juiz O impedimento
no processo penal é gerador de inexistência e não somente de nulidade dos atos
praticados. A suspeição acarreta a nulidade absoluta do ato. O juiz deve declara
r se suspeito ou impedido quando for o caso; se não o fizer, o vício pode ser ar
güido por qualquer das partes (artigo 112 do CPP). “Não aceitando a argüição, o
juiz mandará autuar em apartado a petição; dará a sua resposta dentro de três di
as, podendo instruí la e oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam
os autos da exceção remetidos, dentro de vinte e quatro horas, ao juiz ou tribun
al a quem competir o julgamento (CPP, artigo 100). Julgada procedente a exceção
de suspeição, ficarão nulos todos os atos praticados (CPP, artigo 101)”1.
1

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 6
24. 9/12
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ULO XXII
O suborno ou peita é a pratica dos crimes de concussão (artigo 316 do CP), corru
pção passiva (artigo 317 do CP) e corrupção ativa (artigo 333 do CP). Também é c
ausa geradora da nulidade absoluta do ato.
II – Por ilegitimidade de parte; A ilegitimidade pode ser:

Ad Causam: o autor não é o titular da ação ajuizada, ou o réu não pode integrar
a relação jurídica processual (por ser inimputável, ou por não ter evidentemente
concorrido para a prática do fato típico e ilícito). O vício jamais se convalid
a nesse caso; trata se de nulidade absoluta e insanável.

Ad Processum: é a falta da capacidade postulatória do querelante (exemplo: o que
relante leigo assina sozinho a queixa crime), ou é sua incapacidade para estar e
m Juízo (exemplo: o ofendido, menor de 18 anos, ajuíza a ação privada sem estar
representado por seu representante legal). Essa nulidade pode ser sanada pela ra
tificação dos atos processuais (artigo 568 do CPP). Configura nulidade relativa.
III – Por falta das fórmulas ou dos termos seguintes; a) Falta do preenchimento
dos requisitos no oferecimento da denúncia ou queixa (artigo 41 do CPP), na repr
esentação do ofendido ou na requisição do Ministro da Justiça. b) Falta de exame
de corpo de delito nos delitos não transeuntes, isto é, aqueles que deixam vest
ígios. “A jurisprudência não tem
10/12
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ULO XXII
pronunciado essa nulidade ante a falta do exame de corpo de delito, direto ou in
direto, optando por absolver o réu, por insuficiência de provas. Entendemos, con
tudo, que, mesmo não tendo sido realizado o exame pericial, caso sua elaboração
ainda seja possível, deve o juiz determiná la, nos termos dos artigos 156, parte
final, e 502 do Código de Processo Penal, ao invés de simplesmente proferir a d
ecisão absolutória, sob pena de ser nula a sentença, nos termos do artigo 564, I
II, “b”. Nesse sentido: STF, RT 672/388”2. c) Falta de nomeação de defensor ao r
éu presente, que não o tiver, ou ao ausente, e de curador ao réu menor de 21 ano
s (artigo 261 do CPP). O entendimento dominante é o de que a falta de nomeação d
e curador causa nulidade relativa; no entanto, o Superior Tribunal de Justiça já
se manifestou em sentido contrário. A falta de nomeação de defensor configura n
ulidade absoluta. d) Falta de intervenção do Ministério Público em todos os term
os da ação penal pública ou subsidiária. e) Falta ou nulidade de citação do réu
para se ver processar. A falta ou nulidade da citação ficará sanada desde que o
interessado compareça antes de o ato consumar se (artigo 570 do CPP). A citação
em hora certa, no processo penal, é causa de nulidade absoluta. f) Falta do inte
rrogatório do acusado. g) Falta de concessão de prazo para a defesa prévia, para
o oferecimento de alegações finais, ou para a realização de qualquer ato da acu
sação ou da defesa. h) Falta de sentença.
2
CAPEZ, Fernando. Op. cit.
p. 632. 11/12
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ULO XXII
São causas de nulidade no procedimento do Júri: a) Falta, omissão ou irregularid
ade na sentença de pronúncia, no libelo ou na entrega de cópia do libelo ao réu.
b) Falta de intimação do réu para julgamento no Júri. c) Falta de intimação de
testemunhas arroladas no libelo ou na contrariedade. d) Presença de pelo menos 1
5 jurados para a constituição do Júri. e) Falta ou irregularidade no sorteio dos
jurados. f) Quebra na incomunicabilidade dos jurados.
IV – Por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato. Formali
dade essencial é aquela circunstâncias. Pelo princípio da instrumentalidade das
formas, não se anula o processo por falta de formalidade irrelevante. sem a qual
o ato não atinge a sua
finalidade. Exemplo: a denúncia que não descreve o fato com todas as suas
Observação: contra a decisão que anula o processo no todo ou em parte, em virtud
e de nulidade relativa ou absoluta, cabe recurso em sentido estrito (artigo 581,
inciso XIII, do CPP).
12/12
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XXIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Recursos
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LO XXI
DIREITO PROCESSUAL PENAL Recursos
1. RECURSOS
1.1. Introdução O Professor Fernando Capez1 ensina que: “recurso é a providência
legal imposta ao juiz ou concedida à parte interessada, consistente em um meio
de se obter nova apreciação da decisão ou situação processual, com o fim de corr
igi la, modificá la ou confirmá la. Trata se do meio pelo qual se obtém o reexam
e de uma decisão”.
1.2. Características O recurso é meio voluntário; é extensão do direito de ação.
O Poder Judiciário só atua se provocado. Ao prolatar a sentença, o órgão jurisd
icional entrega a prestação tornando se inerte. Logo, para que volte a apreciar
a questão, deve ser provocado novamente com a interposição de um recurso. A inér
cia da jurisdição é a garantia da imparcialidade. O princípio da voluntariedade
do recurso é mitigado pelo recurso de ofício (recurso obrigatório, recurso neces
sário), ou seja, o juiz deve interpor recurso da decisão.
1

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 3
84. 1/15
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A natureza jurídica do reexame necessário é uma condição de eficácia da decisão,
não transitando em julgado a sentença em que tiver sido omitido. O artigo 574 d
o Código de Processo Penal estabelece: “Os recursos serão voluntários, excetuand
o se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos de ofício, pelo juiz: I
– da sentença que conceder habeas corpus; II – da que absolver desde logo o réu
com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu
de pena, nos termos do artigo 411."
Há outras hipóteses de cabimento de recurso de ofício, além das mencionadas no a
rtigo 574 do Código de Processo Penal:

sentenças absolutórias referentes aos crimes contra a economia popular ou a saúd
e pública;

despachos que determinarem o arquivamento dos autos do inquérito policial refere
ntes a esses crimes;

indeferimento in limine da revisão pelo relator que dará recurso para as câmaras
reunidas ou para o tribunal (artigo 625, § 3. , do Código de Processo Penal);

decisão que conceder a reabilitação.
2/15
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LO XXI
1.3. Classificação dos Recursos 1.3.1. Quanto ao conteúdo

Total ou pleno: quando se questiona toda a decisão. O órgão ad quem reexaminará
toda a decisão.

Parcial ou restrito: quando se questiona apenas parte da decisão. Será reexamina
da pelo tribunal apenas a parte impugnada.
1.3.2. Quanto às fontes informativas

Constitucionais: previstos pela Constituição Federal com a finalidade de levar a
os tribunais superiores o conhecimento ou a defesa dos direitos fundamentais do
indivíduo.

Legais: previstos no Código de Processo Penal e nas leis processuais especiais.

Regimentais: instituídos nos regimentos dos tribunais.
1.3.3. Quanto à motivação

Ordinário: é o recurso que visa à defesa de um direito subjetivo. Baseia se no m
ero inconformismo.

Extraordinário: é o recurso que possui requisitos próprios, como, por exemplo, p
rotesto por novo júri.
3/15
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LO XXI
1.4. Pressupostos Recursais Pressupostos recursais são os requisitos de admissib
ilidade que o recurso deve possuir.
1.4.1. Pressupostos objetivos
a) Cabimento O recurso deve estar previsto em lei.
b) Adequação Não basta que o recurso esteja previsto em lei; é necessário que ao
sistema recursal. Cada decisão, em regra, só comporta um recurso, em face da ap
licação do princípio da unirrecorribilidade das decisões. Esse princípio, da irr
ecorribilidade das decisões, é mitigado por algumas exceções legais, como, por e
xemplo, protesto por novo júri pelo crime doloso contra a vida e apelação pelo c
rime conexo; interposição simultânea de recurso extraordinário ao Supremo Tribun
al Federal e de recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça. seja
adequado à decisão que se deseja impugnar. Esse pressuposto confere lógica
4/15
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LO XXI
P.: Qual a conseqüência para a parte que interpõe recurso incorreto? R.: O recur
so, ainda que inadequado, pode ser recebido e conhecido pelo princípio da fungib
ilidade. É exceção ao princípio da adequação (artigo 579 do Código de Processo P
enal). Portanto, o recurso, mesmo equivocado, deve ser oferecido dentro do prazo
correto e que não esteja de má fé o recorrente.
c) Regularidade formal O Código de Processo Penal estabelece a forma segundo a q
ual o recurso deve ser interposto. São formalidades legais para o recurso ser re
cebido. Ex.: a apelação pode ser interposta por petição ou por termo nos autos.
d) Tempestividade O recurso deve ser interposto no prazo legal. Os prazos começa
m a correr a partir do primeiro dia útil após a intimação, e, conforme prevê a S
úmula n. 310 do Supremo Tribunal Federal: “quando a intimação tiver lugar na sex
ta feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo j
udicial terá início na segunda feira imediata, salvo se não houver expediente, c
aso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”. No caso de carta precat
ória, o prazo é contado a partir da juntada da carta aos autos do processo.
5/15
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LO XXI
e) Ausência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer Fatos impe
ditivos são aqueles que impedem a interposição do recurso ou seu recebimento, qu
ais sejam:

Renúncia: é ato de disposição, ou seja, abre se mão do direito de recorrer. É di
ferente de deixar escoar o prazo sem interpor recurso. Na renúncia há manifestaç
ão expressa nesse sentido. O Ministério Público não pode renunciar. A renúncia a
ntecipa o trânsito em julgado.
P.: Em sentença condenatória, o defensor e o réu têm de ser intimados da sentenç
a e ambos podem interpor recurso. Se houver divergência de vontades, um deles qu
er renunciar e o outro não, qual prevalece? R.: Na doutrina, prevalece entendime
nto de que a vontade do acusado deve prevalecer sobre a do defensor. Na jurispru
dência, sustenta se que prevalece a vontade técnica do defensor. Há, no entanto,
entendimento que sustenta prevalecer a vontade daquele que quer recorrer, com b
ase na garantia da ampla defesa.

Não recolhimento à prisão nos casos previstos em lei (artigo 594 do Código de Pr
ocesso Penal).
Fatos extintivos são fato supervenientes à interposição do recurso:
6/15
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LO XXI

Desistência: é ato de disposição, porém sempre posterior à
interposição do recurso. O Ministério Público não pode desistir dos recursos int
erpostos (artigo 576 do Código de Processo Penal).

Deserção: ato de abandonar o recurso. Pode ocorrer pelo não
pagamento das custas processuais (artigo 806, § 2. , do Código de Processo Penal
).; ou pela fuga do réu no caso de apelação, sempre quando for negada a possibil
idade de apelar em liberdade.
1.4.2. Pressupostos subjetivos
a) Legitimidade A legitimidade refere se às partes legítimas para interposição d
o recurso (artigo 577 do Código de Processo Penal).
b) Interesse jurídico O interesse deriva da sucumbência. A sucumbência ocorre se
mpre que a parte teve frustrada alguma expectativa legítima. Estabelece o parágr
afo único do artigo 577 do Código de Processo Penal: “não se admitirá, entretant
o, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão
”.
7/15
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2. APELAÇÃO
2.1. Conceito O Professor Fernando Capez2 ensina que apelação é: “recurso interp
osto da sentença definitiva ou com força de definitiva, para a segunda instância
, com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a conseqüente modificaç
ão parcial ou total da decisão”.
2.2. Classificação 2.2.1. Quanto à extensão

Ampla ou plena: devolve o conhecimento pleno de toda a matéria decidida.

Restrita, limitada ou parcial: impugna tópicos da sentença; pede se apenas o ree
xame de parte da decisão.
O que fixa a extensão da apelação é o ato de interposição. Caso isso não ocorra
entende se que a apelação foi total.
2.2.2. Quanto ao procedimento

Ordinária: ocorre nos casos de apelação de crimes punidos com reclusão (artigo 6
13 do Código de Processo Penal).
2
Op. cit. p. 403. 8/15
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LO XXI

Sumária: ocorre nas contravenções e nos crimes punidos com detenção.
2.3. Hipóteses de Cabimento da Apelação 2.3.1. Decisões proferidas por juiz sing
ular São hipóteses em que cabe a apelação:

decisões definitivas de condenação ou absolvição; decisões definitivas, ou com f
orça de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no art
igo 581 do Código de Processo Penal, pois a apelação tem caráter subsidiário;

P.: Todas as decisões condenatórias e absolutórias são apeláveis? R: O fato de s
erem apeláveis não significa que são sinônimos de recorríveis. Todas as decisões
condenatórias e absolutórias são recorríveis, mas nem todas apeláveis. A decisã
o de absolvição sumária no júri é recorrível mediante recurso em sentido estrito
e não apelação (artigo 581, inciso VI, do Código de Processo Penal).
2.3.2. Decisões proferidas pelo júri (artigo 593, inciso III, §§ 1. a 3. , do C
ódigo de Processo Penal) Nas decisões proferidas pelo júri, a apelação é cabível
se prevista em uma das hipóteses do inciso III do artigo 593 do Código de Proce
sso Penal:

Nulidade posterior à pronúncia: a nulidade posterior, se relativa, o momento de
arguição é imediatamente depois de anunciado o
9/15
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LO XXI
julgamento e apregoada as partes. Se o tribunal reconhecer a nulidade anula o at
o e todos os demais dele decorrente (artigo 571, inciso VI, do Código de Process
o Penal). Se a nulidade relativa tiver ocorrido durante o julgamento, o protesto
deve ser feito logo após a sua ocorrência, sob pena de ser convalidada (artigo
571, inciso VIII, do Código de Processo Penal).

Decisão contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos jurados. Quando houve
r erro ou injustiça na aplicação da pena ou medida de segurança.


Decisão dos jurados manifestamente contrária a prova dos autos: decisão arbitrár
ia. Essa apelação só é cabível uma vez.
2.4. Artigo 593, § 4. , do Código de Processo Penal Quando de parte da decisão f
or cabível apelação e de outra parte for cabível recurso em sentido estrito, o ú
nico recurso cabível será a apelação, ainda que se recorra somente de parte da d
ecisão. A apelação absorve o recurso em sentido estrito.
2.5. Apelação na Lei n. 9.099/95 Hipóteses de cabimento:

sentença do procedimento sumaríssimo; sentença homologatória da transação penal;
rejeição da denúncia ou da queixa no procedimento sumaríssimo.
10/15


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LO XXI
O prazo dessa apelação é de 10 dias para a interposição e apresentação das razõe
s de apelação.
2.6. Efeitos da Apelação no Código de Processo Penal Os efeitos da apelação no C
ódigo de Processo Penal são:

Devolutivo (tantum devolutum quantum appellatum): o Judiciário irá reexaminar a
decisão; devolve se o conhecimento da matéria à instância superior.

Suspensivo: efeito que impede que a decisão proferida produza efeitos, que seja
eficaz. Obsta os efeitos da sentença.

Regressivo: efeito que permite ao próprio órgão prolator da decisão reexaminá lo
. Permite o juízo de retratação. A apelação do Código de Processo Penal não tem
efeito regressivo.

Extensivo: todos os recursos nos processos penais têm esse efeito (artigo 580 do
Código de Processo Penal). A decisão proferida no recurso interposto por um co 
réu beneficia os demais que não recorreram, salvo se o recurso for fundado em mo
tivos de ordem pessoal.
2.7. Reformatio in Pejus A reformatio in pejus é a situação na qual o réu tem a
sua situação prejudicada em razão de recurso exclusivo da defesa. A reformatio i
n pejus é
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LO XXI
proibida com base no princípio do “tantum devolutum quantum appellatum”, segundo
o qual só é devolvido ao tribunal o pedido recursal. O tribunal só pode reexami
nar o que foi pedido. Ex.: a defesa recorre pedindo a absolvição. O tribunal neg
a a absolvição e coloca uma agravante. O artigo 617 do Código de Processo Penal
proíbe expressamente a reformatio in pejus.
2.7.1. Reformatio in pejus indireta Segundo ensinamento do Professor Fernando Ca
pez3: “anulada sentença condenatória em recurso exclusivo da defesa, não pode se
r prolatada nova decisão mais gravosa do que a anulada. Por exemplo: réu condena
do a um ano de reclusão apela e obtém a nulidade da sentença; a nova decisão pod
erá impor lhe, no máximo, a pena de um ano, pois do contrário o réu estaria send
o prejudicado indiretamente pelo seu recurso. Este é o entendimento pacífico do
STF (RTJ 88/1018 e 95/1081). (...) Obs.: No caso de a sentença condenatória ter
sido anulada em virtude de recurso da defesa, mas, pelo vício da incompetência a
bsoluta, a jurisprudência não tem aceitado a regra da proibição da reformatio in
pejus indireta (...)”.
3
Op. cit. p. 419. 12/15
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2.7.2. Reformatio in pejus no júri A lei que proíbe a reformatio in pejus (artig
o 617 do Código de Processo Penal) não pode prevalecer sobre o princípio constit
ucional da soberania dos veredictos. Anulado o júri, em novo julgamento, os jura
dos poderão proferir qualquer decisão. Se o réu foi pronunciado e condenado por
homicídio simples, a defesa interpõe apelação. O tribunal dá provimento e anula
o primeiro julgamento. No segundo julgamento o júri condena por homicídio qualif
icado. Houve reformatio in pejus, a pena aumentou só por recurso da defesa, e, n
o caso, reformatio in pejus indireta.
2.8. Reformatio in Mellius A reformatio in mellius ocorre quando o tribunal melh
ora a situação do réu em recurso exclusivo da acusação. Parte da doutrina susten
ta que é possível a reformatio in mellius, com base no próprio artigo 617 do Cód
igo de Processo Penal, que apenas proíbe a reformatio in pejus.
2.9. Processamento da Apelação O prazo para a interposição da apelação, segundo
o Código de Processo Penal, como regra é de cinco dias, salvo para o assistente
de acusação nãohabilitado, pois o Supremo Tribunal Federal manteve posicionament
o no sentido de que o prazo é de cinco dias, a contar da intimação, para assiste
nte
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LO XXI
habilitado, e 15 dias, após o vencimento do prazo para o Ministério Público apel
ar, para o não habilitado. A apelação é interposta por termo ou petição, no juíz
o que proferiu a decisão. Ele fará o exame do preenchimento dos pressupostos rec
ursais. Se o juiz denegar a apelação ou a julgar deserta, caberá recurso em sent
ido estrito (artigo 581, inciso XV, do Código de Processo Penal). Interposta a a
pelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o prazo de oito dias cada um
para oferecer razões (exceto nos processos de contravenção em que o prazo será
de três dias). Após a apresentação das razões ou contra razões do Ministério Púb
lico, se houver assistente, este arrazoará, no prazo de três dias. Se a ação pen
al for movida pelo ofendido, o Ministério Público oferecerá suas razões, em segu
ida, pelo prazo de três dias. Com as razões ou contra razões, podem ser juntados
documentos novos. O artigo 576 do Código de Processo Penal estabelece que: “O M
inistério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto”. Inexiste
juízo de retratação na apelação. É praticamente pacífico que a apresentação tard
ia das razões de apelação não impede o conhecimento do recurso.
2.10. Artigo 600, § 4. , do Código de Processo Penal O § 6. do artigo 600 do Có
digo de Processo Penal estabelece que: “Se o apelante declarar, na petição ou no
termo, ao interpor a apelação, que deseja
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LO XXI
arrazoar na superior instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem onde
será aberta vista às partes, observados os prazos legais, notificadas as partes
pela publicação oficial”. O apelante pode requerer a apresentação das razões no
tribunal.
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO XXIV
DIREITO PROCESSUAL PENAL
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LO XXIV
DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. DOS RECURSOS (II TOMO) 1.1. Recurso em Sentido Estrito (art. 581 e ss. do CPP
) O recurso em sentido estrito é interposto em primeira instância e classifica s
e em:

Recurso em sentido estrito pro et contra: o recurso é cabível em ambas as hipóte
ses de sucumbência. Exemplos: artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal
 da pronúncia ou impronúncia; artigo 581, inciso X, do Código de Processo Pena
l  da decisão que concede ou nega habeas corpus.

Recurso em sentido estrito secundum eventum litis: o recurso só é admitido em um
a das hipóteses de sucumbência. Ex.: artigo 581, inciso I, do Código de Processo
Penal  da decisão que rejeita a denúncia ou a queixa (se houver recebimento, n
ão cabe recurso).
1.1.1. Hipóteses de cabimento O artigo 581 traz o rol de cabimento do recurso em
sentido estrito. Esse rol é taxativo? A doutrina e a jurisprudência tradicionai
s consideram esse rol como taxativo. De uns tempos para cá está ocorrendo uma le
ve flexibilização na interpretação do rol do artigo 581 do Código de Processo Pe
nal. Isso porque
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esse diploma é de 1941, e o rol do recurso em sentido estrito não acompanhou as
mudanças por ele sofridas. Tal fato vem motivando o entendimento de que, ainda q
ue o rol seja taxativo, admite se a interpretação extensiva e a aplicação analóg
ica. Ex.: A jurisprudência majoritária entende ser cabível recurso em sentido es
trito da decisão que suspende o processo nos termos do artigo 366 por analogia a
o inciso XVI do artigo 581, ambos do Código de Processo Penal. Segundo o rol do
artigo 581 do referido diploma, caberá recurso, no sentido estrito, da decisão,
despacho ou sentença: I) Que não receber a denúncia ou a queixa Se o juiz recebe
a denúncia, cabe habeas corpus. Se rejeita, cabe recurso em sentido estrito. Re
jeitada denúncia de crime previsto na Lei n. 9099/95 cabe apelação no prazo de d
ez dias. Tratando se de crime previsto na Lei n. 5.250/67, se o juiz recebe a de
núncia ou a queixa, cabe recurso em sentido estrito; se rejeita, cabe apelação n
o prazo de cinco dias. É necessário intimação do acusado para apresentar contra 
razões, no caso do recurso em sentido estrito, pelo fato do juiz não receber a d
enúncia? O Código de Processo Penal não exige essa providência. Houve quem suste
ntasse a aplicação do Código de Processo Civil subsidiariamente, pois, antes da
reforma do Código de Processo Civil em 1994, o acusado era intimado para contra 
razoar. Hoje, com a reforma do Código de Processo Civil, não se aplica mais essa
regra.
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II) Que concluir pela incompetência do juízo Nesse caso, o juiz reconhece de ofí
cio a incompetência. “Para parte da doutrina, da sentença que desclassifica o cr
ime de competência do Júri, para crime não doloso contra a vida, cabe recurso em
sentido estrito com base nesse fundamento, pois o juiz está, na verdade, conclu
indo pela incompetência do Júri.”1
III) Que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição A decisão a respei
to da exceção de suspeição é irrecorrível. As exceções podem ser de: litispendên
cia, coisa julgada e ilegitimidade de parte. Esse inciso trata de recurso em sen
tido estrito secundum eventum litis. Só são recorríveis as decisões que julgarem
procedentes as exceções.
IV) Que pronunciar ou impronunciar o réu
V) Que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir
requerimento de prisão preventiva ou revogá la, conceder liberdade provisória ou
relaxar a prisão em flagrante A cassação ocorre quando se verifica que a fiança
anteriormente concedida não era cabível.
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CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 3/34
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Fiança inidônea é aquela prestada – por engano – em quantia insuficiente ou cujo
valor se depreciou com o tempo, havendo necessidade de ser reforçada, sob pena
de ficar sem efeito. Atenção: lembre se que em 90% dos casos referentes à fiança
o recurso cabível é o recurso em sentido estrito. E, nos casos de prisão e libe
rdade provisória, lembre se que só cabe o recurso em sentido estrito quando a ac
usação for sucumbente; se a defesa for sucumbente não cabe.
VI) Que absolver o réu sumariamente Trata se da única sentença absolutória que n
ão é apelável.
VII) Que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor A quebra da fiança ocor
re quando (arts. 328 e 341 do CPP):

o réu descumpre as obrigações às quais se submete; pratica outra infração penal
na vigência do benefício.

Artigo 343 do Código de Processo Penal: “O quebramento da fiança importará a per
da de metade do seu valor e a obrigação, por parte do réu, de recolher se à pris
ão, prosseguindo se, entretanto, à sua revelia, no processo e julgamento, enquan
to não for preso”. A perda do valor se dá quando o réu condenado não se recolhe
à prisão (art. 344 do CPP).
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VIII) Que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidad
e
IX) Que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa ext
intiva da punibilidade Exceção: durante a fase de execução, o recurso cabível se
rá o agravo (art. 197 da LEP).
X) Que conceder ou negar a ordem de habeas corpus Atenção: o dispositivo refere 
se somente à decisão do juiz de primeirainstância. Normalmente, o habeas corpus
é julgado no tribunal. Do acórdão denegatório de habeas corpus proferido pelos T
ribunais Regionais Federais e pelos tribunais dos Estados cabe recurso ordinário
para o Superior Tribunal de Justiça. Se a sentença concede o habeas corpus, há
o reexame necessário.
XI) Revogado pela Lei de Execução Penal
XII) Revogado pela Lei de Execução Penal
XIII) Que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte
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XIV) Que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir Atenção: nesse caso, o
prazo para interposição do recurso em sentido estrito é de 20 dias. A legitimid
ade é de qualquer do povo. O órgão competente para o julgamento é o presidente d
o Tribunal de Justiça.
XV) Que denegar a apelação ou julgar deserta
XVI) Que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial
XVII) Revogado pela Lei de Execução Penal
XVIII) Que decidir o incidente de falsidade É a decisão – definitiva – que julga
o incidente de falsidade documental. O recurso em sentido estrito disposto ness
e inciso é pro et contra.
XIX ao XXIII) Revogados pela Lei de Execução Penal
XXIV) Esse inciso já estava revogado pela Lei de Execução Penal. Atualmente, em
virtude da Lei n. 9.268/96, nem o juiz das execuções pode proferir decisão conve
rtendo a multa em prisão.
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1.1.2. Efeito do recurso em sentido estrito a) Devolutivo: todos os recursos têm
esse efeito; a decisão é reapreciada. b) Suspensivo: como regra, o recurso em s
entido estrito não possui efeito suspensivo, salvo o artigo 584 do Código de Pro
cesso Penal. Assim, o recurso em sentido estrito terá efeito suspensivo se inter
posto contra:

decisão que denegue conhecimento à apelação ou a julgue deserta; decisão que dec
lare perdido o valor da fiança; decisão de pronúncia apenas no tocante ao julgam
ento do réu pelo júri;



decisão que determine quebra da fiança somente no tocante a perda da metade de s
eu valor.
c) Regressivo: o recurso em sentido estrito permite ao órgão prolator da decisão
que se retrate. d) Extensivo: o recurso em sentido estrito possui esse efeito (
art. 580).
1.1.3. Processamento do recurso em sentido estrito O prazo para interposição do
recurso em sentido estrito, em regra, é de cinco dias (art. 586 do CPP). Exceçõe
s:

15 dias, no caso de recurso contra pronúncia interposto pelo assistente de acusa
ção não habilitado nos autos;
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20 dias, contra a decisão que inclui ou exclui jurado da lista geral (art. 586,
par. ún., do CPP).
Se o recurso em sentido estrito não for recebido, contra essa decisão é cabível
a carta testemunhal. Se o recurso em sentido estrito for recebido, intima se o r
ecorrente para apresentar as razões e o recorrido para apresentar as contra razõ
es. O juiz vai então reexaminar sua decisão podendo mantê la ou se retratar. Cas
o ele mantenha a sua decisão, o recurso sobe para o tribunal competente; caso el
e se retrate, intima as partes da nova decisão. O prazo para a apresentação das
razões, contra razões e retratação é sempre de dois dias. Em segunda instância o
recurso em sentido estrito segue o rito da apelação sumária. O prejudicado com
a retração pode interpor recurso cabível no prazo de cinco dias e o recurso subi
rá diretamente ao tribunal, independentemente de razões ou contra razões (art. 5
89, par. ún., do CPP). A nova decisão pode não ser impugnada por recurso em sent
ido estrito. Ex.: se o juiz indefere um requerimento de prisão preventiva, oMini
stério Publico interpõe recurso em sentido estrito. O juiz retrata se e defere a
prisão. As partes são intimadas. A defesa só pode impetrar habeas corpus, mas n
ão recurso em sentido estrito.
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O recurso em sentido estrito poderá subir nos próprios autos do processo ou em a
utos apartados. Nesse último caso, faz um instrumento que será examinado pelo tr
ibunal. O recurso em sentido estrito sobe nos próprios autos nos seguintes casos
(art. 583 do CPP):

quando interpostos de ofício; nos casos do artigo 581, incisos I, III, IV, VI, V
III e X; quando o recurso não prejudicar o andamento do processo.


2. PROTESTO POR NOVO JÚRI (ARTS. 607 E 608 DO CPP)
O protesto por novo júri possui as seguintes características:

é um recurso exclusivo das decisões do júri; é um recurso exclusivo da defesa; s
ó pode ser interposto uma vez; é um recurso que dispensa a fundamentação; é inte
rposto perante o juiz presidente julgado por ele mesmo.




Hipótese de cabimento: o protesto por novo júri será cabível sempre que houver c
ondenação a uma pena de reclusão igual ou superior a 20 anos por um só crime, se
gundo entendimento da doutrina e da jurisprudência .
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Obs. : cabe protesto por novo júri quando a pena imposta for em grau de apelação
? Está em vigor o artigo 607, § 1. , do Código de Processo Penal? Pelo artigo 60
7, § 1. , do Código de Processo Penal não cabe o protesto por novo júri quando a
pena imposta for em grau de apelação. Esse artigo faz, todavia, uma remição exp
ressa ao artigo 606 do mesmo diploma, artigo esse revogado desde 1948. Em razão
disso, a posição dominante entende que a revogação expressa do artigo 606 do Cód
igo de Processo Penal produziu a revogação tácita do artigo 607, § 1. . A posiçã
o minoritária (Professor Tourinho) afirma que o artigo 607, § 1. , está em vigor
, pois sua regra é compatível com os demais dispositivos do Código de Processo P
enal: quando da revogação do artigo 606 do Código de Processo Penal a regra nele
contida foi deslocada para o artigo 593 do Código de Processo Penal; logo, onde
está escrito artigo 606, leia se artigo 593 e parágrafos do Código de Processo
Penal. Para tal corrente não se trata de revogação, mas sim de uma remição não a
tualizada.
2.1. Concurso de Crimes Atenção: assunto muito abordado em concursos públicos. C
oncurso material: se a pena igual ou superior a 20anos resultar de concurso mate
rial, não será cabível protesto (as penas devem ser consideradas isoladamente pa
ra o protesto). Crime continuado e concurso formal: se a pena igual ou superior
a 20 anos resultar de concurso formal e crime continuado, admite se o protesto.
Entende se que em tais situações prevalece a unidade da conduta ou a ficção lega
l.
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2.2. Processamento O prazo de interposição é de cinco dias. É interposto perante
o juiz presidente. O juiz presidente pode admitir o protesto ou indeferi lo. Se
o juiz admite o protesto, desde logo marca novo júri. Não há apresentação de ra
zões ou contra razões. No novo julgamento não poderão fazer parte do Conselho de
Sentença os jurados que já tenham tomado parte no julgamento anterior (art. 607
, § 3. , do CPP). A Súmula n. 206 do Supremo Tribunal Federal estende essa regra
a qualquer caso de novo julgamento. Da decisão que indefere o protesto, qual a
medida cabível? São duas as posições:

Carta Testemunhável: esse recurso destina se a promover o reexame do recurso ind
eferido.

Habeas Corpus: corrente defendida pelos Professores Vicente Greco e Frederico Ma
rques. Essa corrente entende não ser cabível a carta testemunhável pelo fato do
seu rito ser o mesmo do recurso indeferido. No protesto, a carta seria interpost
a no próprio juízo e por ele mesmo analisado. Para ser reexaminado pelo órgão su
perior é necessário impetrar habeas corpus.
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2.3. Artigo 607, § 2. , do Código de Processo Penal O pedido de protesto por nov
o júri provocará a revisão da decisão. Dessa forma ele invalida qualquer outro r
ecurso interposto, mesmo que seja recurso da acusação.
2.4. Artigo 608 do Código de Processo Penal O protesto suspende a apelação até q
ue haja o segundo julgamento. Isso acontece se o réu for condenado por outro cri
me que não caiba protesto. Após a decisão do segundo julgamento, julga se a apel
ação. Atenção: nesse caso, a defesa poderia apenas interpor o protesto, aguardar
o novo julgamento e depois apelar de tudo? Não, porque se assim fizer, o crime
em que não cabe o protesto transitará em julgado; por isso a necessidade de se i
nterpor o protesto e a apelação.
3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
O artigo 382 do Código de Processo Penal trata dos embargos de declaração contra
a sentença. São os chamados “embarguinhos”. Os artigos 619 e 620 do Código de P
rocesso Penal tratam dos embargos de declaração contra acórdão. É possível a int
erposição dos “embarguinhos” também contra decisão interlocutória.
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Toda decisão, sentença ou acórdão para ser impugnada por embargos de declaração
tem de ser omissa, contraditória, ambígua ou obscura. O prazo para interposição
dos embargos de declaração é de dois dias. Interposto os embargos de declaração,
aplica se o Código de Processo Civil subsidiariamente, isto é, interrompe se o
prazo dos demais recursos.
P.: É necessário a oitiva da parte contrária nos embargos de declaração? R.: A j
urisprudência dominante estabelece que a oitiva da parte contrária é providência
desnecessária, salvo quando os embargos tiverem caráter infringente, isto é, ef
eito modificativo.
P.: Os embargos de declaração podem ter efeito modificativo? R.: Sim, principalm
ente nos casos em que os embargos de declaração visarem sanar omissão.
P.: Cabe embargos de declaração de embargos de declaração? R.: Sim, desde que o
segundo embargo vise suprir omissão da decisão do primeiro embargo.
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P.: Qual o recurso cabível quando o juiz não acolhe os embargos? R.: Embargos em
primeira instância: a parte deve argüir em preliminar de apelação o equívoco da
sentença. Embargos em segunda instância: contra acórdão, cabe agravo regimental
.
3.1. Embargos de Declaração na Lei n. 9.099/95 Os embargos de declaração serão o
postos nesse caso, no prazo de cinco dias. Opostos por escrito ou oralmente. Nes
se caso, os embargos de declaração suspendem o prazo para os demais recursos.
4. EMBARGOS INFRINGENTES E EMBARGOS DE NULIDADE
Embargos de nulidade é o nome dado aos embargos infringentes quando a divergênci
a for relativa à decretação ou não de nulidade processual. Os embargos só têm ca
bimento contra acórdão não unânime. O voto vencido pode divergir total ou parcia
lmente. Se for parcial, somente quanto ao tópico em que ocorreu a divergência se
rão interpostos os embargos. A divergência se apura quanto à conclusão do voto e
não quanto a sua fundamentação. No processo penal, os embargos infringentes con
figuram recurso exclusivo da defesa. Assim, se dois votos absolvem e um voto con
dena o réu, a acusação foi sucumbente e não cabe embargos infringentes.
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Atenção: é necessário que o acórdão se refira ao julgamento de uma apelação ou r
ecurso em sentido estrito. Não cabe embargos infringentes de decisão não unânime
em habeas corpus. Processamento:

interposição em 10 dias; oitiva do querelante ou do assistente de acusação se ho
uver – também em 10 dias;


parecer do Procurador Geral de Justiça; parecer do relator; parecer do revisor.


O relator e o revisor não podem ter participado do primeiro julgamento. O relato
r e o revisor do primeiro julgamento podem modificar a sua decisão. Isso porque
a turma julgadora é composta de cinco desembargadores: três desembargadores que
proferiram a primeira decisão e o relator e o revisor. Dessa forma, podem manter
ou reformar a primeira decisão. Logo, os embargos infringentes têm efeito regre
ssivo, diante da possibilidade da mudança de voto de quem já votou.
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4.1. Embargos Infringentes nos Tribunais Superiores

No Superior Tribunal de Justiça não cabe embargos infringentes. Nesse tribunal,
só cabem embargos de declaração e divergência.

No Supremo Tribunal Federal há embargos infringentes no âmbito penal no prazo de
15 dias. Cabe em três casos:

acórdão não unânime em ação penal julgada procedente; acórdão que julga improced
ente revisão criminal; acórdão denegatório de recurso criminal ordinário (art. 1
02, inc. II, da CF).


5. CARTA TESTEMUNHÁVEL
A carta testemunhável surgiu na época do Brasil Colônia: testemunhas comprovavam
que o recurso havia sido interposto. As partes são chamadas :

duas
testemunhante: parte que interpõe a carta. testemunhado: juízo que indeferiu o s
eguimento, o processamento do recurso.

É cabível quando for denegado seguimento a recurso, não importando o motivo da d
enegação. Tem caráter residual. Só será cabível se não existir nenhuma outra med
ida expressamente prevista para isso.
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Exemplos:

Decisão denega apelação: interpõe se recurso em sentido estrito; Decisão denega
recurso em sentido estrito: interpõe se a carta testemunhável;


Decisão denega protesto por novo júri: para alguns, cabe a carta testemunhável;
para outros o habeas corpus;

Decisão denega embargos de declaração em primeira instância: preliminar de apela
ção;

Denega embargos de declaração em segunda instância: agravo regimental;

Agravo em Execução: carta testemunhável.
5.1. Processamento O prazo para a interposição da carta testemunhável é de 48 ho
ras. Contase o prazo de minuto a minuto. O termo inicial para a interposição é a
partir da intimação desfavorável. Na prática, é impossível determinar o minuto
inicial. Contam se dois dias. É interposto perante o escrivão. O escrivão é quem
forma o instrumento. Trata se de função burocrática. Se ele se omite, fica suje
ito a uma pena funcional de suspensão por 30 dias. Formando o instrumento, o esc
rivão deve entregar a carta ao testemunhante. Após isso, segue se o rito do recu
rso indeferido. No tribunal, segue se o rito da apelação sumária.
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Chegando ao tribunal, o disposto no Código de Processo Penal permite que o mesmo
, caso dê provimento à carta, admita o recurso indeferido e o julgue no mérito,
desde que a carta esteja devidamente instruída. É economia processual. O próprio
tribunal pode julgar no mérito.
Obs.: fim dos recursos no processo penal. A seguir estão algumas ações impugnati
vas de decisão.
6. REVISÃO CRIMINAL
Os processualistas mais antigos, baseados no Código de Processo Civil, o chamava
m de recurso sui generis. Mas não é um recurso. É uma ação impugnativa autônoma.
Instaura se nova relação jurídica processual com o seu ajuizamento. Não tem pra
zo de interposição. Seu pressuposto é a decisão transitada em julgado. É ação re
scisória de coisa julgada penal, mas difere da ação rescisória civil.

Ação rescisória: prazo – preclusivo – 2 anos; pode ser ajuizada pelo autor, pelo
réu ou por terceiros prejudicados.

Revisão Criminal:
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não há prazo para interposição; só pode ser ajuizada pela defesa; é sempre pró r
éu.
Se houve erro judicial que beneficiou o réu e transitou em julgado, essa decisão
não pode ser rescindida. No pólo ativo figura o próprio réu pessoalmente (não p
recisa de advogado) ou o procurador do réu (alguém em seu nome). Não é necessári
o procuração com poderes especiais. Se o réu já faleceu, podem ingressar o cônju
ge, o ascendente, o descendente ou o irmão do mesmo. Nesse último caso, tutela s
e o status dignitatis, isto é, a honra, a moral do réu. Para assegurar o status
dignatis é possível entrar com revisão criminal:

quando o réu já faleceu; quando o réu já cumpriu a pena.

P.: Se, no curso da revisão criminal, o réu morre quem assume a ação? R.: O Códi
go de Processo Penal estabelece que o presidente do tribunal deve nomear um cura
dor para prosseguir na ação. Esse curador pode ser o cônjuge, ascendente, descen
dente ou irmão.
P.: O Ministério Público pode figurar no pólo ativo?
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R.: Há polêmica na doutrina quanto ao assunto. Para a Professora Ada Pellegrini
Grinover, sim. Mas a posição dominante na doutrina e na jurisprudência é a de qu
e não. O Ministério Público pode impetrar habeas corpus, mas não revisão crimina
l. Ao Ministério Público cabe ocupar o pólo passivo na revisão criminal em defes
a da coisa julgada.
P.: Quais são os fundamentos possíveis da revisão criminal? Qual é a causa de pe
dir? R: Conforme o artigo 621 do Código de Processo Penal são fundamentos: a) Qu
ando a decisão for contrária à letra expressa da lei ou contrária à evidência do
s autos. Nesse caso, a contrariedade precisa ser marcante, facilmente perceptíve
l. Atenção: se no final do julgamento da revisão criminal não se chega a uma cer
teza, tendo se apenas uma probabilidade da inocência, qual a solução? Na revisão
criminal vigora o princípio do in dubio pro societati. Na dúvida, a revisão ser
á julgada improcedente. Não cabe revisão criminal quando houver uma mudança na i
nterpretação dos tribunais. A contrariedade é somente a texto expresso de lei.
b) Quando a decisão se fundar em depoimentos, documentos ou exames falsos. Devem
ser comprovadamente falsos. Exige se a prova pré constituída da falsidade do de
poimento, documento ou exame.
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P.: Como o requerente consegue uma prova pré constituída? R.: É possível que o a
utor dos crimes (do falso testemunho) tenha sido condenado. Junta se a cópia da
decisão, da condenação ou por meio de justificação criminal. Segue o rito do Cód
igo de Processo Civil. É com base nele que no Juízo Penal a justificação é ajuiz
ada.
c) Quando surgirem provas novas de inocência do réu ou causa de diminuição de pe
na. O pedido da revisão criminal é a rescisão da coisa julgada ou a correção da
injustiça. O tribunal possui juízo rescindente e rescisório. Obs.: quando se rec
onhece na revisão criminal alguma nulidade processual o tribunal limita se a res
cindir a coisa julgada. O processo é anulado. O juiz de primeiro grau retomará o
processo. Haverá nova sentença, salvo se ocorreu a prescrição.
P.: E a reformatio in pejus? R.: A nova sentença não pode ser mais gravosa para
o réu do que a sentença rescindida. É a proibição da reformatio in pejus indiret
a.
P.: Sempre é possível o pedido de indenização por erro judiciário?
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R.: Em alguns casos não. O autor da revisão precisa pedir expressamente. Não é u
m efeito da revisão. Não é possível o pedido de indenização nos seguintes casos:

quando o réu de alguma forma colaborou na produção do documento falso;

quando o réu colaborou com a ocultação da prova.
Se o autor da ação limitar se a pedir a diminuição da pena, nada impede que o tr
ibunal, se for o caso, absolva o. Mas cabe ressaltar que no julgamento da revisã
o vigora o princípio in dubio pro societati.
P.: É possível o ajuizamento de segunda revisão criminal? R.: O ajuizamento só s
erá possível se tiver outro fundamento.
Obs.: não cabe revisão criminal de decisão de pronúncia. Não há coisa julgada ma
terial.
6.1. Competência Cada tribunal é competente para o julgamento de seus próprios j
ulgados. Se a decisão condenatória transitou em julgado na primeira instância, a
revisão criminal deve ser ajuizada no tribunal que tem competência recursal par
a aquela matéria.
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6.2. Procedimento A revisão criminal é uma ação. Inicia se com o oferecimento da
petição inicial, acompanhada da certidão do trânsito em julgado e de algum docu
mento que comprove as alegações do autor. A prova é sempre pré constituída, conf
orme o artigo 625, § 1. , do Código de Processo Penal. É encaminhada ao presiden
te do tribunal, o qual pode indeferi la liminarmente. Se não indeferir, ele enca
minha a um relator; este também pode indeferi la liminarmente. O Procurador Gera
l dá um parecer em dez dias. É uma contestação defende a coisa julgada. A revisã
o volta para receber os pareceres do relator e do revisor, no prazo de dez dias
para cada. Segundo o Superior Tribunal de Justiça, o relator e o revisor não pod
em ter proferido nenhuma decisão no processo originário. A revisão é julgada.
6.3. Recursos

Do indeferimento liminar da revisão criminal cabe recurso inominado – em São Pau
lo esse recurso é o agravo regimental.

Do acórdão que julga a revisão criminal cabe recurso especial ou recurso extraor
dinário.
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Obs.: cabe embargos infringentes do acórdão não unânime que julga revisão crimin
al? Segundo o Código de Processo Penal não cabe. Exceção: cabe na revisão crimin
al julgada improcedente pelo Supremo Tribunal Federal.
P.: Cabe revisão criminal para rescindir sentença absolutória? R.: Sim, no caso
de absolvição imprópria.
P.: É requisito para a revisão criminal o prévio recolhimento do réu à prisão? R
.: Não, não é uma condição.
P.: A revisão criminal tem efeito suspensivo, isto é, suspende a execução da pen
a? R.: Não. O ajuizamento da revisão criminal não suspende a execução da pena. M
as, segundo os Professores Magalhães Noronha, Scarance e Ada Pellegrini Grinover
, é possível a aplicação subsidiária do artigo 273 do Código de Processo Civil,
isto é, a antecipação de tutela.
P.: A revisão criminal tem efeito extensivo? Por exemplo: três indivíduos são co
ndenados por homicídio. Um deles prova que o fato não ocorreu. Estende se para o
s demais?
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R.: Sim, aplica se o artigo 580 do Código de Processo Penal na revisão criminal.
7. HABEAS CORPUS (“Traga me o Corpo”)
O habeas corpus teve sua origem na Magna Carta da Inglaterra, em 1215, promulgad
a pelo Rei João Sem Terra. Momentos importantes desse instituto:

Habeas Corpus Act: período de consolidação do habeas corpus em 1679.

No Brasil: o habeas corpus teve sua origem: implícita na Constituição Federal de
1824; expressa em 1832 no Código de Processo Criminal; em textos constitucionai
s, a partir da Constituição de 1891, artigo 72, § 22.
7.1. Teoria Brasileira do Habeas Corpus Rui Barbosa percebeu que o ordenamento j
urídico brasileiro precisava ampliar o âmbito de atuação do habeas corpus, para
garantir ao cidadão a defesa de abusos anormais que impusessem mácula a direitos
individuais de outro que não o de locomoção.
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O Supremo Tribunal Federal reconheceu expressamente, naquela época, a “teoria br
asileira do hábeas corpus” desenvolvida por Rui Barbosa, reconhecendo o como mei
o hábil para a defesa de outros direitos ameaçados por ilegalidade ou abuso de p
oder. Essa teoria que vigorou até 1926, quando uma emenda constitucional passou
a limitar o habeas corpus. Atualmente, o habeas corpus está previsto no artigo 5
. , inciso LXVIII, da Constituição Federal. O artigo 142, § 2. , da Constituição
Federal, restringe a abrangência do habeas corpus para as punições disciplinare
s militares. Sobre essa disposição, que já existia em outras constituições, Pont
es de Miranda sustenta a não possibilidade desse remédio constitucional discutir
o mérito da punição, mas poderá ser impetrado para questionar:

a existência do poder hierárquico daquele que determinou a punição sobre o punid
o;

a existência do poder disciplinar no caso concreto; se o ato censurado é ou não
ligado à função militar; se a pena imposta é suscetível de ser aplicada discipli
narmente.


7.2. Disciplina do Habeas Corpus (Arts. 647 a 667) O habeas corpus não é recurso
; não tem prazo para a sua interposição; não é obrigatório sua existência em um
processo. É ação constitucional de caráter penal e procedimento especial.
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LO XXIV
A Constituição Federal de 1988 institui duas espécies de habeas corpus:

habeas corpus preventivo ou salvo conduto:
não houve dano
consumado, havendo risco futuro de se sofrer uma coação.

habeas corpus repressivo ou liberatório: visa combater o dano à liberdade de loc
omoção, coação ou violência que se encontram consumados.
7.3. Partes As partes no habeas corpus são:

Impetrante: pessoa que pede a ordem. Pode ser qualquer pessoa (física ou jurídic
a, com ou sem capacidade civil plena). Não precisa ser advogado, em razão da imp
ortância do direito a ser tutelado.
P.: E o Ministério Público pode impetrar habeas corpus? R.: Sim, a teor dos arti
gos 127 da Constituição Federal e 654 do Código de Processo Penal. O Juiz de Dir
eito não pode impetrar habeas corpus nos processos de sua competência.

Paciente: pessoa em nome de quem se pede a ordem. Autoridade coatora: pessoa res
ponsável por determinar a ordem ilegal ou abusiva; é o pólo passivo do habeas co
rpus. A autoridade coatora será sempre aquela responsável pela ordem e não a que
se limitou a executar o ato.
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LO XXIV
P.: Admite se habeas corpus contra ato de particular? R.: Posição dominante admi
te a impetração contra ato de particular. Ex.: contra diretor de hospital que se
recusa a liberar o paciente que não tem recursos para pagar a conta.
7.4. Rito do Habeas Corpus A impetração do habeas corpus se faz por meio de peti
ção inicial, que deverá conter os seguintes requisitos mínimos:

nome do paciente; descrição da atual ou futura violência ou coação à liberdade d
e locomoção;


petição escrita em língua portuguesa; assinatura do impetrante ou de alguém a se
u rogo; documentos que comprovem os fatos alegados.


7.5. Hipóteses de Cabimento (Art. 647/648 do CPP) P.: O rol do artigo 648 do Cód
igo de Processo Penal é taxativo ou exemplificativo? R: Discussão sem razão de s
er, pois o rol do artigo 647 do Código de Processo Penal é suficientemente amplo
para abranger várias situações.
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LO XXIV
São hipóteses de cabimento do habeas corpus:

Quando não houver justa causa: haverá justa causa sempre que a persecução penal
possuir fundamentos fáticos e jurídicos.

Sempre que alguém estiver preso por mais tempo que a lei permita: dispositivo qu
e vale para prisão penal e para prisão processual.

Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê lo. Quando houver c
essado o motivo que autorizou a coação. Quando não for alguém admitido a prestar
fiança, nos casos em que a lei a autoriza.



Quando o processo for manifestamente nulo: a nulidade deve ser manifesta.

Quando extinta a punibilidade. Ex.: instaura se inquérito policial para apurar c
rime prescrito.
P.: É possível o impetrante alegar em habeas corpus alguma hipótese e o tribunal
conceder por outra? R.: Sim. O tribunal pode até conceder habeas corpus de ofíc
io, não estando vinculado à alegação.
7.6. Competência 7.6.1. Competência do Supremo Tribunal Federal

Quando a autoridade coatora for Tribunal Superior.
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LO XXIV

Quando forem pacientes as seguintes pessoas: Presidente da República e Vice Pres
idente; Ministros de Estado, dos Tribunais Superiores, do Tribunal de Contas da
União; comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica; deputados federais e sena
dores; Procurador Geral da República e chefes de missão diplomática.
7.6.2. Competência do Superior Tribunal de Justiça

Quando a coação partir de tribunal sujeito à sua jurisdição ou de Ministros de E
stado ou Comandante Geral da Marinha, Exército e Aeronáutica.
Obs.: sempre que o habeas corpus envolver comandante do Exército ou Ministro de
Estado, sendo paciente, a competência será do Supremo Tribunal Federal, mas se f
orem autoridade coatora, a competência será do Superior Tribunal de Justiça.

Quando o coator ou paciente for autoridade sujeita à jurisdição: Governador do E
stado (o vice governador não) ou do Distrito Federal; desembargador; membros do
Tribunal Regional Federal, Tribunal Regional do Trabalho, Tribunal de Contas do
Estado, Tribunal de Contas do Município; membros do Ministério Público da União
que oficie perante tribunais.
7.6.3. Competência do Tribunal Regional Federal

Quando o paciente ou coator for juiz federal, juiz do trabalho ou membro do Mini
stério Público Federal de primeira instância.
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LO XXIV
7.6.4. Competência do Tribunal de Justiça

Quando forem pacientes ou coator: prefeito municipal; vicegovernador; secretário
s de Estado; deputados estaduais; membros do Ministério Público Estadual; Juiz d
e Direito (nos casos de sua competência recursal); Delegado Geral de Polícia; Pr
ocurador  Geral do Estado; Comandante Geral da Polícia Militar; Juiz de Alçada,
Auditor da Justiça Militar.
7.7. Os Recursos no Habeas Corpus

Sentença que concede habeas corpus em primeiro grau: recurso de ofício (art. 574
, inc. I, do CPP) e recurso em sentido estrito (art. 581, inc. X, do CPP).

Habeas Corpus por Tribunal: recurso ordinário, se denegatória a decisão ( arts.
102, inc. II e 105, inc. II, da CF e Lei n. 8.038/90).
8. MANDADO DE SEGURANÇA NA ÁREA CRIMINAL
O mandado de segurança encontra se previsto nos incisos LXIX e LXX do artigo 5.
da Constituição Federal. Desde seu surgimento discutia se a possibilidade de ca
bimento contra ato jurisdicional. Hoje não há dúvida: é cabível contra aquele at
o jurisdicional para o qual não se previu recurso.
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LO XXIV
Ex.: pedido de habilitação do assistente de acusação negado; decisão que determi
na a apreensão de objetos não relacionados ao crime, para garantir as prerrogati
vas do advogado. E se o ato for recorrível? Segundo a Lei do Mandado de Seguranç
a não será cabível. É válida essa restrição? Não. Essa restrição não é aplicada.
Prevalece o entendimento de que o mandado de segurança poderá ser impetrado con
tra ato jurisdicional que admita recurso, sempre que o recurso não possuir efeit
o suspensivo, pois, nesse caso, a interposição do recurso não impede que a decis
ão produza seus efeitos, de tal forma que não obsta a consumação da lesão a dire
ito líquido e certo em virtude de ilegalidade ou abuso de poder. Cabe também o M
andado de Segurança para obter efeito suspensivo em agravo interposto contra dec
isão que em sede de execuções concede livramento condicional ou progressão de re
gime sem o preenchimento dos requisitos legais ou para obter efeito suspensivo c
ontra a concessão de liberdade provisória em crime hediondo.
8.1. Direito Líquido e Certo Após grande discussão doutrinária, chegou se ao con
senso de que a expressão “direito líquido e certo” deve ser tomada no sentido pr
ocessual, para indicar direito apurável sem necessidade de dilação probatória. D
isso decorre a exigência de prova pré constituída do direito para que se cogite
a concessão de mandado de segurança.
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LO XXIV
8.2. Partes São legitimados para impetrar o mandado de segurança a pessoa física
ou jurídica  e, até, ente despersonalizado  titular do direito líquido e cert
o ameaçado ou violado pela ilegalidade ou abuso de poder. Normalmente, no proces
so penal, esse remédio será utilizado pela acusação – pois a defesa pode fazer u
so do habeas corpus. O órgão do Ministério Público pode impetrar mandado de segu
rança perante tribunais. No pólo passivo, segundo a doutrina dominante, encontra
se a pessoa jurídica de direito público a cujo quadro pertence a autoridade coa
tora.
8.3. Competência Como se trata de mandado de segurança em face de ato jurisdicio
nal, a competência será sempre dos tribunais – originariamente.
8.4. Procedimento

Prazo para impetração: 120 dias contados da ciência do ato impugnado.

A petição inicial deve atender aos requisitos dos artigos 282 e 283 do Código de
Processo Civil e estar munida da prova pré constituída do direito do impetrante
.

O tribunal pode ou não conceder a liminar.
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LO XXIV

A autoridade coatora será notificada para prestar informações no prazo de 10 dia
s.

O órgão do Ministério Público deve apresentar parecer em 5 dias – atua como cust
os legis.
8.5. Liminar A lei do mandado de segurança assegura a possibilidade de concessão
de liminar ao impetrante sempre que a ameaça ao direito líquido e certo for atu
al e objetiva (art. 70, inc. II).
Obs.: a notificação da autoridade coatora para apresentação das informações tem
valor de citação.
Atenção: o Supremo Tribunal Federal entende que o mandado de segurança, quando i
mpetrado pelo Ministério Público contra decisão favorável a defesa, deverá també
m requerer e o tribunal determinar a citação do réu como litisconsórcio necessár
io. Sem isso, o Supremo Tribunal Federal anula o mandado de segurança.
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RATA
DIREITO PROCESSUAL PENAL MÓDULO I
No item 1.18. Princípio da Motivação das Decisões Judiciais, onde se lê “Previst
o nos arts. 5. , inc. LX, 93 e 381 do CPP”, leia se “Previsto nos arts. 93 da CF
e 381
do CPP”.
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RATA
DIREITO PROCESSUAL PENAL MÓDULO XIV
No item 1.6.1. Espécies de flagrante, fl. 07, onde lê se: “A ação penal privada
não impede a prisão em flagrante, desde que o ofendido autorize a lavratura do a
uto e o ratifique no prazo da entrega da nota de culpa, ou seja, em 24h.”; leia 
se: “A ação penal privada não impede a prisão em flagrante, desde que o ofendido
autorize a lavratura do auto ou a ratifique no prazo da entrega da nota de culp
a, ou seja, em 24h”.
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RATA
DIREITO PROCESSUAL PENAL MÓDULO XVII
No item 1.5. Emendatio Libelli e Mutatio Libelli, fl. 8, onde lê se: “Se a pena
for menor ou idêntica à anterior deve se observar o disposto no art. 384, caput,
do Código de Processo Penal. O juiz deve baixar os autos para a manifestação da
defesa, que no prazo de 3 dias deverá produzir provas, podendo arrolar até 8 te
stemunhas.”, leia se: “...que no prazo de 8 dias deverá produzir provas, podendo
arrolar até 3 testemunhas.”
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