O livro “O novo século” foi desenvolvido através de uma
entrevista que Eric Hobsbawm concedeu à Antonio Polito. Esse livro procura situar as perspectivas para o século que se inicia, e como historiador Eric Hobsbawm vai se basear nos conhecimentos do passado para poder prever os acontecimentos do futuro. Analisando os problemas mais agudos que já apareciam no final do século XX. No livro ele discorre bastante sobre os conflitos nos Bálcãs e critica às intervenções estatais e da Otan nos conflitos atuais, como o da Bósnia. “Não é fácil citar exemplos históricos de governos que foram à guerra por outros motivos que não seus interesses nacionais”. No seu livro, ele ressalta à criação de exércitos particulares para a resolução de conflitos étnicos e religiosos, com a utilização de recursos nada ortodoxos, como o trafico ilegal, ainda que por motivos justificáveis, são os casos da libertação do Kosovo, da Tchetchênia, ou os da Colômbia, mais claramente. “Alega-se que a globalização teria anunciado o fim do estado nacional. No entanto eis que ele está de volta, ainda mais envolvido em justificativas étnicas e religiosas, cujas as raízes remontam à idade média. Até o século XVII, os estados nacionais costumavam contratar exércitos”. Por outro lado, é positivo o fato de que “se lança a distinção entre combatentes e não-combatentes, distinção que havia desaparecido no século XX, quando as guerras envolveram cada vez mais as populações civis”. A distinção feita por Eric Hobsbawm é que a limpeza étnica, embora seja repugnante, não pode ser igualada ao genocídio, tal como na segunda gurra mundial. Entretanto, a limpeza étnica é um fenômeno que possui gradação e pode ser levado até o limite, o próprio genocídio. Sem contar pelo fato de a infra-estrutura das economias da região balcânica ter sido pesadamente sacrificada. “Estima-se que a economia Sérvia tenha sofrido, em poucas semanas, uma destruição maior que a segunda guerra mundial”. O tema do nacionalismo volta à tona, ou talvez nunca tenha saído de cena. Para isto, vê-se que as políticas externas típicas, mesmo em estados saídos de regimes revolucionários, poderiam ser exceções à regra. ‘ Precisamos sempre lembrar que os Estados Unidos são, em certa medida, uma potência ideológica que se originou, tanto quanto à união soviética, de uma revolução. Por esse motivo, eles sentem a necessidade de impor ao mundo seus princípios, como parte essencial de sua política externa”. O autor destaca também uma tendência “a inversão de um processo secular, a longa onda histórica de construção e fortalecimento gradual dos estados territoriais em estados nacionais, no sentido político do termo”. Entretanto, o poder do estado se transformou, “seu grau de vigilância hoje possível é o maior e mais agressivo de toda a historia”. Finalmente Hobsbawm, diz que não houve um enfraquecimento do estado, mais apenas uma transformação, perdendo este o monopólio dos meios de coerção. “A mudança é que hoje os cidadãos estão menos dispostos do que antes a obedecer às leis do estado”. Hobsbawm surpreende-nos com sua resposta, ao ser provocado pelo jornalista, à questão da globalização, em se tratando de um historiador marxista: “sem duvidas, vivemos em uma economia mais globalizada do que há trinta anos, mas podemos afirmar com a mesma convicção que estaremos mais globalizados em 2050 e muito mais em 2100”. “Ainda que se possa dizer que há uma tendência histórica natural para a globalização nas áreas de tecnologia, comunicações e economia, isto, entretanto não vale para a política”.
Dias, Maria Odila Leite Da Silva. A Interiorização Da Metrópole e Outros Estudos. in - A Interiorização Da Metrópole e Outros Estudos. São Paulo Alameda, 2005. P. 7-37