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HISTÓRIA DA ARTE
Professor Ângelo
JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA
Sou Sócio-Proprietário do Club de Regatas Vasco da Gama, colaborador e pesquisador da
história cruzmaltina, portanto não foi por acaso que escolhi o Estádio São Januário como
tema do trabalho final.
INTRODUÇÃO
O Estádio Vasco da Gama é popularmente conhecido como São Januário. Fundado em
1927, no bairro de São Cristóvão, ganhou o apelido porque o acesso da arquibancada era
pela Rua São Januário, local de passagem do Bonde de número 53, o famoso “Bonde de
São Januário”, da música de Wílson Batista e Ataulfo Alves.
Muito mais do que um estádio de futebol, ele faz parte da identidade do torcedor do Vasco.
Foi um marco na luta contra a segregação, uma bandeira enfrentando o preconceito. Sua
idealização foi motivada por uma imposição dos “clubes da elite”, que exigiram que o
Vasco tivesse um estádio próprio para que pudesse competir nos mesmos campeonatos e
torneios dos “bem nascidos”. A exigência era, na realidade, uma desculpa para o
preconceito. Inconformados com a ascendência de um clube que os colocava para
enfrentar negros, mulatos e pobres, os “primos ricos” (América, Botafogo, Flamengo e
Fluminense) tiveram participação involuntária, mas fundamental na construção daquele
que ainda hoje deve ser reconhecido como um monumento contra as diferenças sociais e
de raça.
São Januário ultrapassou os 80 anos esbanjando saúde e charme. Talvez falte a ele,
apenas, o olhar cuidadoso do poder público, que contribuiria tremendamente ao melhorar
as condições de acesso à histórica praça de esportes, especialmente em ocasiões de
aguardada presença de torcedores. Não é exatamente a sinalização que vem dos últimos
governos, que intensificam ano a ano o processo de abandono da área. Falta de prioridade
que, aliás, acaba remetendo ao início do século XX, à própria construção do estádio, uma
jóia cravada na Zona Norte carioca contra a vontade de muitos. Parece que o tempo
passou e alguns traços de preconceito foram mantidos, sobretudo nas ações daqueles que
detêm os esquadros para agir: a Zona Norte secundária ainda existe, infelizmente.
Aguardemos, já sem muitas esperanças, que a mentalidade mude e contemple São
Januário, oferecendo-lhe as condições básicas sob responsabilidade do poder público,
como acesso, rede de transportes e segurança decentes.
Enquanto as necessidades externas são colocadas à parte, São Januário segue como uma
das fontes do orgulho vascaíno. Talvez a maior. Na verdade, aquele que foi um estádio de
futebol, transformou-se em um centro esportivo qualificado e em constante expansão. No
entanto, jamais deixou de ser um símbolo. Ao passar pelos seus portões, é impossível que
se deixe de respirar História. São Januário é um patrimônio da história e da cultura
brasileira. É impossível que se deixe de respirar igualdade. São Januário é um emblema
contra as desigualdades impostas. Ele existe para abrigar as alegrias memoráveis e
frustrações lamentáveis dos vascaínos. É a casa dos vascaínos, afinal. Mas, acima de
tudo, existe para que jamais esqueçam que, certa vez, quiseram colocar negros, mulatos e
brancos pobres à parte, tentaram segregá-los. Há muito mais do que tijolos, cimento e
areia presentes ali: há dignidade. Ela foi e sempre será a resposta dos vascaínos aos que
atentarem contra a soberania e a independência do Club de Regatas Vasco da Gama.
DESENVOLVIMENTO
ESTILO ARQUITETÔNICO
O estádio São Januário foi fundado em 21 de abril de 1927, apenas 10 meses após o
lançamento da pedra fundamental. O arquiteto português Ricardo Severo assinou o projeto
executado pela firma dinamarquesa Cristiani & Nielsen. Nas áreas externa e interna do
estádio, há painéis de azulejos portugueses feitos por Jorge Colaço, sob encomenda.
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Fachada do Estádio São Januário no ano da inauguração (1927)
Vale destacar também que nem todos os azulejos encontrados em São Januário são obra
de Jorge Colaço. Algumas peças foram autoria de Manuel Igrejas, em época posterior à
inauguração do estádio.
Ricardo Severo da Fonseca Costa nasceu em Lisboa, em 1869, mas cresceu na cidade do
Porto. Formado em Engenharia Civil, expandiu seus horizontes para arqueologia,
antropologia e pesquisas etnográficas.
Em 1908, Ricardo Severo se instalou definitivamente em São Paulo. Difundiu as idéias que
fomentaram um movimento de renascimento arquitetônico, valorizando as raízes da
arquitetura colonial e barroca, posteriormente chamado "movimento neocolonial".
Em Portugal, sua obra está presente em muitos edifícios públicos e estações ferroviárias.
Fora do seu país, Jorge Colaço ainda pode ser apreciado no Palácio de Windsor
(Inglaterra), na Sociedade das Nações em Genebra (Suiça), na Argentina e em Cuba,
entre outros lugares.
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2) Estilos arquitetônicos no Brasil e no mundo na década de 1920
Nos anos que antecederam a construção do estádio São Januário, algumas mudanças no
cenário da arquitetura estavam acontecendo no mundo. Na Alemanha pós I Guerra
Mundial, foi fundada a Bauhaus (1919), a escola de design, artes plásticas e arquitetura de
vanguarda, que se tornou uma das mais conceituadas expressões do Modernismo. A
Europa começava a assistir o Art Nouveau francês, de formas livres e rico em detalhes,
perder espaço para o Art Déco, simétrico e simples.
E foi justamente o Neocolonial que desenhou a fachada do estádio São Januário, em 1927,
por meio de Ricardo Severo, um dos idealizadores do movimento.
1) A história do bairro
Atualmente, o estádio São Januário está situado no bairro Vasco da Gama. Entretanto, em
1927, o local ainda integrava a região de São Cristóvão.
O terreno adquirido para a construção do estádio São Januário fazia parte de um sítio que
pertenceu à Marquesa de Santos, localizado em São Cristóvão. Este bairro da Zona Norte
foi escolhido por vários motivos. De acordo com o geógrafo Fernando Ferreira, o bairro
tinha as características condizentes com a origem do Vasco, bem como de outros fatores
que intervieram na escolha do local:
"(...) a relativa proximidade com o antigo campo da Rua Morais e Silva e com a zona
portuária, parte da cidade onde o clube fora fundado; a existência de uma numerosa
colônia portuguesa em São Cristóvão, composta tanto por moradores quanto por
comerciantes e industriais; a identificação do bairro com Portugal, construída desde a
chegada da Família Real à Quinta da Boa Vista, na primeira década do século XIX”.
A família real portuguesa residiu no Paço de São Cristóvão até o regresso de Dom João VI
a Portugal. Seu filho D.Pedro I, partiu do Largo da Cancela, em frente à Quinta, na viagem
que declarou a Independência do Brasil, em 1822. Seu herdeiro, o futuro imperador Pedro
II, nasceu e cresceu no bairro, e de lá governou o Brasil por quase meio século.
A industrialização mudou o perfil do bairro, já não mais um lugar tranqüilo, próprio para o
passeio de famílias. A queda do Império, em 1889, ocasionou a transformação do Paço em
museu, com a instalação do Museu Nacional no local. A partir daí, iniciou-se a deterioração
das construções mais antigas.
Nos dias de hoje, na antiga região de São Cristóvão encontra-se o estádio São Januário e
outros pontos de interesse, como: a Quinta da Boa Vista, tendo o Museu Nacional e o
Jardim Zoológico no seu interior; o Museu do Primeiro Reinado, instalado no palacete onde
viveu a Marquesa de Santos; o Museu Militar Conde de Linhares; o Museu de Astronomia
e Ciências Afins; o Centro de Tradições Nordestinas Luiz Gonzaga, pólo gastronômico e
cultural; as Igrejas de São Cristóvão e Santa Edwiges, católicas; o Colégio Pedro II; e a
Favela da Mangueira, da famosa escola de samba carioca.
2) A história do estádio
A motivação
Nas primeiras décadas do século XX o futebol ainda era um artigo de luxo no Rio de
Janeiro, com times constituídos por jovens da aristocracia dominante. A história começou a
mudar a partir de 1923, com o Vasco. A equipe cruzmaltina formada por pobres, negros,
imigrantes e descendentes de portugueses subiu da segunda divisão para conquistar o
título da primeira, fato jamais igualado no Campeonato Carioca.
Realmente, o campo da Rua Morais e Silva não tinha a estrutura que o Vasco merecia,
mas não era esse o problema. Isso ficou claro na proposta feita pela AMEA: excluir 12 de
seus jogadores, justamente os negros e pobres. O Vasco recusou a proposta através de
uma carta histórica assinada por José Augusto Prestes, então presidente cruzmaltino, ao
presidente da AMEA, Arnaldo Guinle:
"Estamos certos de que Vossa Excelência será o primeiro a reconhecer que seria um ato
pouco digno de nossa parte sacrificar, ao desejo de filiar-se à AMEA, alguns dos que
lutaram para que tivéssemos, entre outras vitórias, a do Campeonato de Futebol da Cidade
do Rio de Janeiro de 1923", argumentou Prestes. Ele prosseguiu defendendo seus atletas.
"São 12 jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de suas carreiras. Um ato
público que os maculasse nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a
casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles com tanta galhardia cobriram de
glórias". E finalizou, decidindo não entrar na nova entidade: "Nestes termos, sentimos ter
de comunicar a Vossa Excelência que desistimos de fazer parte da AMEA".
Por causa do Vasco, a competição da LMDT despertou mais interesse do que o campeonato dos
grandes da AMEA. Na temporada seguinte, o Vasco foi admitido na AMEA, mandando seus
jogos no campo do Andaraí, onde é hoje o Shopping Iguatemi.
A mobilização
A idéia de possuir um estádio próprio já circulava nos bastidores do Vasco desde 1923.
Porém, foi nos anos de 1925 e 26 que os dirigentes cruzmaltinos colocaram em prática. No
sentido inverso de quem o discriminava, o Vasco iniciou uma campanha histórica de
arrecadação de fundos entre associados e simpatizantes, de todas as classes sociais, para
a construção de uma praça de esportes. Em pouco tempo, as contribuições somavam 685
contos e 895 mil réis. O dinheiro era suficiente para a aquisição de uma enorme área
(65.445 m²) em São Cristóvão.
Com o terreno comprado, o próximo passo seria ainda mais difícil: arrecadar
aproximadamente 2.000 contos de réis para a construção do estádio. Outra vez, a força do
povo falou mais alto. A popularidade vascaína aumentava cada vez mais, a ponto do clube
registrar o ingresso de 7.189 pessoas no quadro social somente no ano de 1926.
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As obras
No dia 6 de junho de 1926 o prefeito do Distrito Federal, Alaor Prata, assinou o termo de
lançamento da Pedra Fundamental, dando início às obras. Para isso, a firma
dinamarquesa Cristiani & Nielsen foi contratada, enquanto Ricardo Severo ficou sendo o
arquiteto responsável.
São Januário se tornaria não apenas um belo estádio, mas um marco na história da
construção civil do país. Em 21 de abril de 1927, dez meses depois do lançamento da
pedra fundamental, o estádio foi inaugurado.
No livro “Memória social dos esportes: São Januário, arquitetura e história”, o autor faz
uma bela introdução para os grandes acontecimentos em São Januários:
A verdade é que a revolução operada pelo Vasco no futebol brasileiro nos anos 20
prenunciou as transformações simbólicas e materiais que viriam a ser deflagradas em
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seguida pela Revolução de 30, entre as quais se destacam o deslocamento das
antigas elites dominantes, a incorporação de setores marginalizados, a ampliação de
direitos políticos e sociais, a busca da integração nacional, e a valorização da
mestiçagem e da mistura étnica como base da nossa sociedade (em oposição ao
racismo explícito que predominara até então). A identidade nacional, contida em
embrião na nova prática e organização do futebol introduzidas pelo Vasco, foi
amplamente potencializada pelo novo regime. Não se tratava, apenas, da valorização
oficial do futebol como expressão da “grandeza da Pátria”. Tratava-se, igualmente, da
utilização dos próprios espaços físicos do esporte de massas para realizar grandes
manifestações cívicas evocativas da integração nacional. Entre os espaços usados
para esse fim, São Januário destacou-se como palco central de representação e
afirmação da nacionalidade”.
A introdução dos cursos de Educação Física e da Ginástica Rítmica e Evolutiva, bem como
o Canto Orfeônico no currículo escolar, como parte do detalhamento dos cursos de
Escolhas Primárias, Secundárias e de Formação de Professores e Técnicos, resultou, por
um lado, na realização dos Jogos Escolares da Primavera e, por outro lado, na
possibilidade de se continuar promovendo as grandes concentrações escolares no Estádio
São Januário, em função do Congresso Anual da Semana da Educação, abrilhantando
com os Espetáculos de Regência de Heitor Villa-Lobos.
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“A multidão em torno vivia uma emoção brasileira e cósmica, estávamos tão unidos
uns aos outros, tão participantes e ao mesmo tempo tão individualizados e ricos de
nós mesmos, na plenitude da nossa capacidade sensorial, era tão belo e esmagador,
que, para muitos, não havia outro jeito senão chorar; chorar de pura alegria. Através
da cortina de lágrimas, desenhava-se a figura nevoenta do maestro, que captara a
essência musical do nosso povo, índios, negros, trabalhadores do eito, caboclos,
seresteiros do arrabalde; que lhe juntara ecos e rumores de rios, encostas, grutas,
lavouras, jogos infantis, assobios e risadas de capetas folclóricos.”
A II Guerra Mundial
O estádio de São Januário manteve, da criação até sua extinção por lei, a instrução militar
preparatória: uma Escola de Instrução Militar, onde se formaram cerca de 10.000 soldados.
A primeira demonstração de defesa antiaérea também aconteceu na Colina Histórica, com
um desfile de forças motorizadas.
Antes de partir para a Itália, unidades da Força Expedicionária Brasileira ficaram alojadas
na casa vascaína e tiveram um jogo de despedida para elevar o moral da tropa: Brasil 6x1
Uruguai. No Tiro de Guerra em São Januário, foi feito um juramento à bandeira do Brasil
que reuniu 10.000 reservistas.
O quadro social do Vasco também se cotizou para comprar e entregar à FAB dois aviões-
ambulância com o símbolo da Cruz Vermelha, muito parecido com o da Cruz-de-Malta,
com o objetivo de resgatar soldados feridos na II Guerra Mundial. Além dessa, várias
outras doações foram feitas, como por exemplo um potente periscópio para melhor
aparelhamento da Marinha do Brasil. O estádio também acolheu numerosas competições
desportivas da nossa Marinha com unidades norte-americana e inglesa durante a guerra,
sem publicidade por medida de precaução contra a espionagem inimiga. Por terra, mais
precisamente na Itália, muitos associados e esportistas do Vasco vestiram o uniforme da
FEB para combater os nazistas.
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Desfiles de Carnaval
Uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil, o desfile das escolas de
samba do Rio de Janeiro, também já ocorreu no estádio do Vasco. Isso aconteceu em
duas oportunidades: em 1943, num desfile beneficente e não-competitivo, e em 1945, no
desfile de competição.
Em 1943 houve dois desfiles das escolas de samba. O primeiro, não-competitivo, foi
realizado em 24 de janeiro de 1943 em São Januário e promovido pela primeira-dama do
país, Darcy Vargas, em benefício da cantina do soldado. Dez agremiações participaram,
entre elas Azul e Branco, Unidos do Salgueiro e Depois eu Digo (três escolas que se
fundiriam em 1953 para dar origem ao Acadêmicos do Salgueiro), Mangueira (na época
mais conhecida como "Estação Primeira"), Unidos da Tijuca, Império da Tijuca e a então
bicampeã Portela. As escolas exibiram em sua maioria enredos que exaltavam o
patriotismo. O segundo desfile daquele ano, dessa vez competitivo, aconteceu na Avenida
Rio Branco, nos dias de Carnaval, e teve como vencedora a Portela, que chegou ao
tricampeonato.
Em 1945 o estádio de São Januário sediou o desfile oficial das escolas de samba, cujo
campeonato foi vencido mais uma vez pela Portela, que apresentou o enredo "Brasil
Glorioso", com samba de autoria de Boaventura dos Santos, o Ventura. Na década de 40,
aliás, a escola azul e branca era um verdadeiro "Expresso da Vitória" do samba: chegou ao
heptacampeonato entre 1941 e 1947.
Quando o Presidente da FIFA, Jules Rimet, veio ao Rio de Janeiro, ainda em 1939,
amadurecer a idéia de realizar uma Copa do Mundo no Brasil, prometeu dar uma
oportunidade ao país, desde que comprovasse sua capacidade empreendedora do evento,
principiando-o através de uma grande e impressionante obra, para receber os países
associados da entidade. Porém, somente o estádio de São Januário foi aprovado pela
autoridade máxima do esporte naquela época, o que não seria suficiente para receber
todos os futebolistas internacionais. Havia a necessidade de muitos outros, iguais.
Ainda no campo da política, a sede de São Januário sempre abrigou a realização das
eleições internas, para o Conselho Deliberativo do Vasco, e até mesmo as eleições
municipais, estaduais, federais e presidenciais. Recentemente, após as eleições de 2006,
que elegeram Governador, Deputados Estaduais e Federais, Senador e Presidente, o juiz
da 2ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro enviou um ofício ao Presidente Eurico Miranda,
agradecendo a disponibilização da sede do Vasco para local de votação.
Por tudo narrado nas linhas acima, não há exagero em afirmar que a arquitetura de São
Januário desenhou muito mais do que um estádio de futebol, desenhou a própria História
do Brasil. Se não bastasse o Vasco ser o clube da união entre Brasil e Portugal, entre
todas as raças e classes sociais, seu estádio também foi o majestoso palco da integração
e desenvolvimento nacional.
A evolução
O Vasco colecionou tantos triunfos nas competições que disputava, que foi obrigado a
inaugurar uma exposição de troféus no salão nobre de São Januário em agosto de 1948,
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durante a comemoração dos 50 anos de fundação do clube. Eram cerca de 700 taças,
bronzes, cartões, plaquetes e outros símbolos de seus feitos esportivos e relações de
intercâmbio com associações do país e do exterior. As flâmulas que testemunharam meio
século de jornadas vascaínas também entraram na galeria. Também faziam parte do
acervo do clube mais de 2.600 medalhas de ouro, prata e bronze.
O espaço tornou-se o majestoso Salão de Troféus do Vasco, que todo torcedor cruzmaltino
se encanta quando visita. Hoje em dia contem mais de 6.000 itens, catalogados, exibidos
num local que encolheu para receber a área administrativa na década de 70, mas que em
breve será expandido novamente, derrubando paredes que impedem a colocação de
outras milhares de peças valiosas.
Na década de 50, o Vasco deu grandes avanços patrimoniais em São Januário. O primeiro
deles foi a inauguração do Parque Aquático em 30/08/1953. O local sediou pela primeira
vez no Brasil uma etapa da Copa do Mundo de Natação, realizada em 1998. Sua estrutura
possui quatro piscinas, plataforma para saltos ornamentais, vestiários, sala de musculação,
arquibancadas cobertas e uma estação de tratamento de água.
Em seguida foi a vez da inauguração da Capela de Nossa Senhora das Vitórias (Padroeira
do Vasco), em 15/08/1955. Localizada atrás do gol à direita da tribuna de honra de São
Januário, a capela ganhou uma ampla reforma em 2005, para alegria do Padre Lino, que
celebrava missas, batizados e casamentos vestindo uma batina com desenhos da cruz-de-
malta.
A diminuição
Localizado próximo das principais vias de acesso da cidade, o Vasco tentou melhorar
ainda mais as condições de trânsito nos arredores do estádio. Na década de 70, em
parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, o clube e o Café Palheta cederam parte de
seus terrenos para abrir um caminho da Rua do Bonfim e Rua São Januário até a Avenida
Brasil, passando pelo canteiro de obras da mesma, onde atualmente é a comunidade
Barreira do Vasco. Foi criada a Rua Francisco Palheta até atingir a Rua Ricardo Machado,
porém a Prefeitura não finalizou a ligação até a Avenida Brasil, conforme combinado.
Além dos muros de São Januário, o Vasco possui uma área na Rua General Almério de
Moura que serve para estacionamento e um campo de futebol para atender às escolinhas
do clube e a comunidade carente do bairro. A preocupação social do clube também se
mostrou evidente quando doou parte deste terreno para a construção de uma escola
pública, entregue ao Governo do Estado do Rio de Janeiro.
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A expansão
Mas se a sede cruzmaltina diminuiu por causas nobres em determinada época, no ano de
2002 aconteceu o inverso. Em tempos de crise mundial, o Vasco investiu maciçamente em
seu patrimônio e adquiriu 46 imóveis do quarteirão de São Januário, totalizando uma área
de aproximadamente 14.000 m².
Tal expansão permitiu iniciar uma série de melhorias no clube. Alguns sobrados foram
aproveitados para a construção do Colégio Vasco da Gama e de um refeitório, que cuidam
da educação e alimentação de vários atletas amadores do Vasco. A vila repleta de casas
virou moradia para jovens remanescentes do projeto olímpico do Vasco. Um prédio de 3
andares foi reformado e transformado num luxuoso hotel, que passou a servir de
concentração para a equipe de Futebol Profissional a partir do dia 05/04/2003, garantindo
uma enorme economia com hospedagens em hotéis de Copacabana e Barra da Tijuca.
A modernização
A belíssima fachada de São Januário foi preservada ao longo dos anos. A extensão de 274
metros, projetada pelo arquiteto Ricardo Severo, foi tombada pelo Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional há algumas décadas. Os azulejos do português Jorge Colaço nas
paredes da sede, desde a inauguração, valorizam ainda mais sua beleza. Uma dessas
peças, localizada na recepção das sociais, ganhou destaque visual após a instalação de
um vitral nas obras realizadas em 2006. O portão principal de São Januário ficou
parecendo com a entrada de um palácio.
Em 2003, a loja oficial (Vasco Boutique), antes situada em frente ao Salão de Troféus, foi
movida para a área em frente ao Bar do Almirante. Além de aumentar o espaço do ponto
de vendas de produtos cruzmaltinos, agora é possível o acesso ao estabelecimento sem
passar por dentro do clube. Ao lado da boutique foi inaugurada uma whiskeria. O bar
também foi reformado, assim como o Restaurante do Almirante, pontos de encontro de
torcedores e funcionários do Vasco.
A platéia
O setor da social de São Januário vem se modernizando nos últimos anos. Antigamente,
suas cadeiras eram de madeira. Há alguns anos foram substituídas por outras de material
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mais resistente. Em 2006, a altura do alambrado diminuiu para 1 metro e meio,
aproximadamente, mas não houve nenhum registro de invasão de campo, sinal que os
vascaínos são ordeiros e civilizados.
Não poderia ficar de fora a modernização da histórica tribuna de São de Januário, palco
dos discursos de Getúlio Vargas. Em 2006 o setor ganhou novos acentos e um anexo, logo
abaixo, onde antigamente os jornalistas assistiam as partidas do Vasco. É na tribuna de
honra que Vice-Presidentes, torcedores ilustres e personalidades vêem os jogos. Da janela
da Sala da Presidência, espaço inaugurado no final da década de 90, o Presidente Eurico
Miranda acompanhava as partidas.
São Januário inovou o conceito de “Calçada da Fama”. Ao invés de criar um espaço para
exibir pegadas de grandes personalidades, o Vasco utilizou o Projeto Sócio-Torcedor para
valorizar os vascaínos anônimos espalhados pelo mundo, fazendo uma associação aos
cruzmaltinos que se cotizaram para construir o Gigante da Colina na década de 20. Até
2007, a homenagem já tinha sido feita a 2.700 pessoas, aproximadamente, com placas de
granito fixadas no piso das sociais do estádio. O objetivo era contemplar mais 3.000
sócios-torcedores, cobrindo toda a área de escape das cadeiras, partindo para o setor das
arquibancadas.
Na década de 20 havia um rio cortando o terreno original de São Januário. O clube utiliza a
água dos poços artesianos localizados abaixo da sede para cuidar do gramado, com um
reservatório específico. Antigamente a irrigação era feita com uma técnica agrícola,
bastante trabalhosa, com tubos de plástico e PVC. Na década de 80 passou a ser por
aspersores automatizados. Em relação ao excelente sistema de drenagem de São
Januário, desde a inauguração do estádio não surgiram técnicas revolucionárias que
pudessem melhorá-lo ainda mais, mantendo-o como referência nacional. As dimensões do
gramado sempre estiveram dentro das medidas oficiais da FIFA. Atualmente, o campo do
Vasco possui 110 metros de comprimento por 75 de largura, assim como o Maracanã.
A infra-estrutura básica do estádio de São Januário está se tornando cada vez mais
avançada. O Vasco ainda possui uma estação de tratamento fundamental para o Parque
Aquático. Em relação à energia, o Vasco deu um passo à frente, adquirindo geradores
próprios, diminuindo custos. A medida foi uma aposta no alerta da Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL), que previa apagões no Brasil em 2010. Vale lembrar que o
Gigante da Colina inaugurou seus refletores em 1928, sendo o primeiro estádio com
iluminação definitiva para sediar jogos noturnos.
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morando nas casas da vila adquirida pelo clube, dentro de São Januário. Em breve o
Futebol Júnior também ganhará uma concentração ao lado do hotel dos profissionais.
A maioria dos Esportes Amadores do Vasco também realiza suas atividades em São
Januário. A sede dispõe de salas, ginásios, quadras de Tênis, Futsal, Basquete e
Handebol, campos de grama sintética, piscinas, plataforma de saltos ornamentais, etc.
Como instituição esportiva, o Club de Regatas Vasco da Gama tenta atrair cada vez mais
atletas, torcedores, familiares e amigos para a paixão cruzmaltina.
O futuro
CONCLUSÃO
Reconhecimento
Em 2002, São Januário foi considerado um dos 7 melhores estádios do mundo para
assistir uma partida de futebol, conforme ranking divulgado pelo Travel Channel, canal de
TV dedicado a turismo e viagens. Os estádios citados foram:
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- San Siro (Internazionale/Milan)
- La Bombonera (Boca Juniors)
- Ibrox Stadium (Glasgow Rangers)
- Stamford Bridge (Chelsea)
- Olympiastadion (Bayern de Munique)
Com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016, São Januário abrigará
partidas de Rúgbi. O estádio deverá receber investimentos para se adaptar às
necessidades do evento. As dimensões do gramado foram consideradas ideais, porém o
placar eletrônico, os bancos de reserva e a estátua do Romário precisarão mudar de lugar.
Pouco praticado no Brasil, há quem diga que o Rúbgi é o segundo esporte coletivo mais
popular no mundo. A edição de 2007 da Copa do Mundo de Rúgbi teria atingido a
audiência de 4,2 bilhões de telespectadores.
Curiosamente, São Januário foi palco de partidas de rúgbi no passado. O fato aconteceu
na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, quando marinheiros brasileiros,
americanos e ingleses alojados no estádio praticaram rúgbi, beisebol, vôlei e futebol, em
jogos não divulgados por medidas de segurança.
Outro acontecimento histórico em São Januário foi o milésimo gol do craque Romário.
Vestia a camisa 11 do Vasco, aos 41 anos de idade, o Gênio da Grande Área,
tetracampeão do mundo pela Seleção Brasileira e eleito o melhor jogador pela FIFA em
1994, ídolo no PSV (Holanda), Barcelona (Espanha) e Valência (Espanha).
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Nos dias seguintes, Romário, a camisa do Vasco e o estádio São Januário deram a volta
ao mundo, aparecendo em TVs, jornais e websites de todos os continentes. Um capítulo
da história do futebol acabava de ser escrito na casa cruzmaltina.
O ídolo de fama internacional, que havia inciado a carreira em São Januário, ganhou uma
estátua de bronze em tamanho real, instalada atrás da baliza onde marcou o gol 1000. Por
um portão lateral que dá passagem ao gramado, é possível caminhar até o atrativo e bater
fotos.
Poucas linhas de ônibus chegam ao quarteirão do estádio, sendo que uma faz integração
com o metrô. Apesar disso, inúmeros ônibus param um pouco mais afastados, na Cancela
ou nos dois sentidos da Avenida Brasil.
A ligação das Ruas do Bonfim e São Januário até a Avenida Brasil, passando pela Rua
Francisco Palheta e atravessando a Rua Ricardo Machado, traria uma sensível melhora no
trânsito. Grandes estacionamentos em fábricas desativadas naquela região também
colaborariam bastante. Ações do PAC cairiam do céu na comunidade Barreira do Vasco,
que se instalou no canteiro de obras da Avenida Brasil, na metade do século passado.
Apesar do Presidente Lula, o Governador Sérgio Cabral Filho, e o Prefeito Eduardo Paes
afirmarem que torcem para o Vasco, e o atual presidente do clube, Roberto Dinamite, ser
Deputado Estadual, nada tem sido feito para melhorar os acessos ao estádio São
Januário.
Potencial turístico
O estádio São Januário tem um excelente potencial turístico, porém sequer consta como
atrativo no Guia Rio Oficial. O clube possui uma legião de fãs espalhados pelo Brasil, 16 a
20 milhões de torcedores, conforme destoantes pesquisas de opinião pública. Além dos
próprios vascaínos, familiares de atletas, torcedores de outros times, turistas nacionais e
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internacionais. Muitas pessoas visitam a sede cruzmaltina, seja para assistir uma partida
de futebol, um treino, conhecer a Sala de Troféus, bater fotos ao lado da estátua do
Romário, fazer compras na Vasco Boutique, almoçar no Restaurante Almirante, saborear o
famoso joelho (salgado) no bar ou o kit torcedor na loja do Habib’s.
O Rio de Janeiro sediará a Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos 2016, atraindo
amantes do esporte oriundos do mundo inteiro, antes, durante e depois dos eventos.
Entretanto, o Vasco ainda não possui um esquema regular de visitas guiadas em São
Januário. Para levar turistas na sede, é preciso agendar com antecedência no
Departamento de Relações Públicas, solicitando a presença de um funcionário para
conduzir o grupo nas dependências do estádio. No período letivo, há uma procura grande
de excursões escolares.
Em clubes do mundo inteiro, tal estrutura existe e oferece as visitas guiadas por um valor
entre R$30 e R$50, por pessoa. Há casos em que uma taxa extra ainda é cobrada para o
visitante conhecer o museu temático.
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BIBLIOGRAFIA
CARVALHO, Candido Fernandes. Club de Regatas Vasco da Gama - Memória do
Cinquentenário 1898-1948. Rio de Janeiro: Club de Regatas Vasco da Gama, 1949.
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