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Dezembro 2009

MICRO E PEQUENAS
Inovação
www.valoronline.com.br EMPRESAS
movimento
uniforme
Governo, universidade
e empresa agindo em
sincronia para correr
atrás do prejuízo e criar
um ambiente de inovação

COMO AGÊNCIAS DE TRANSFERÊNCIA DE


FOMENTO FINANCIAM TECNOLOGIA PARA O
P&D NAS EMPRESAS MERCADO
ValorInovação 1
2 ValorInovação
carta ao leitor |

Sistema
nacional de
inovação
P
or muitos anos, principalmente durante o período de substi-
tuição de importações, a maior parte das empresas brasileiras
operava tecnologias importadas e maduras. A capacitação ne-
cessária para usar essas tecnologias era considerada relativamente fá-
cil. Por isso, não se requeria ou estimulava, de forma efetiva, a geração
de novos conhecimentos.
Esse cenário está mudando. Desde o início do século XXI, o país
colocou na pauta de suas políticas públicas a inovação. O lançamento
do Livro Branco, em 2002, com as estratégias para o sistema nacional
de ciência, tecnologia e inovação foi um marco. Antes disso, no final
dos anos 90, a implantação dos fundos setoriais já foi um demonstra-
tivo de que o país começava a se preocupar com o desenvolvimento de
tecnologias nacionais.
O marco legal veio com a regulamentação da Lei 10.973, em 2004.
Esses mecanismos lançados pelo governo federal buscam criar um
ambiente adequado para que as empresas inovem, principalmente
enfatizando programas cooperativos entre setor produtivo e Institui-
ções de Ciência e Tecnologia (ICT).
O governo não é o único agente na estruturação de um sistema na-
cional de inovação. As universidades e os centros de pesquisa tam-
bém são peças importantes nesse processo, principalmente no Brasil,
onde 80% dos pesquisadores estão nessas instituições. Além das ICT,
incubadoras de empresas e parques tecnológicos, que têm a inovação
Universidade Federal de Santa Catarina como razão de ser, atuam muitas vezes na estruturação de sistemas lo-
Centro de Comunicação e Expressão cais de desenvolvimento econômico e social. No país, existem 377 in-
Departamento de Jornalismo cubadoras e 74 parques, que já incubaram 6 mil projetos inovadores.
Trabalho de Conclusão de Curso
No centro de todo esse processo estão as empresas. De acordo com
a última Pesquisa de Inovação Tecnológica realizada pelo Instituto
Reportagem e diagramação: Cora Dias
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 33,4% das empresas in-
Orientação: Prof. Tattiana Teixeira
dustriais brasileiras fizeram algum tipo de inovação em produtos ou
Fotos: Caroline Mazzonetto, Claudio processos entre 2003 e 2005.
Bezerra, João Luiz Ribeiro, divulgação. O primeiro número do suplemento Valor Inovação traz informa-
Ilustração da capa: João Pedro Agnoletto ções de como o Brasil está estruturando seu sistema nacional de ino-
Cardoso vação e como a sociedade está lidando com os mecanismos lançados
pelo governo para a criação desse ambiente. As estratégias e políticas
Impressão: Copicenter são pensadas em longo prazo, mas existe urgência em tratar sobre o
Florianópolis, dezembro de 2009 tema e entendê-lo cada vez mais. Boa leitura!

ValorInovação 3
Índice|

sistema nacional de
inovação
País quer consolidar política nacional de ciência,
tecnologia e inovação e está em busca da
6
independência tecnológica.

Financiamento
Agências de fomento subsidiam pesquisa e
desenvolvimento nas empresas, para dividir os
riscos inerentes ao processo inovador.
12

universidade
Transferência de tecnologia para o setor produtivo e
garantia de proteção da propriedade intelectual é o
papel desempenhado pelos Núcleos de Inovação.
16

Parques tecnológicos
20
Investimento em formação de recursos humanos
é ferramenta estratégica para a ecnomia do
conhecimento.

inovação aberta
Realizar pesquisa em parceria traz benefícios para
grandes e pequenas empresas como redução de
gastos em P&D e acesso a novos mercados.
24

4 ValorInovação
ValorInovação 5
Sistema nacional de inovação | por cora dias

país sai em busca da ind


Governo lança mecanismos legais para criar ambiente nacional de inovação

A
inovação é um processo de subsidiados. o país passava por um processo
risco. Manuais, bestsellers e “A inovação é um fenômeno de substituição das importações.
guias apresentam receitas, complexo, multidimensional, que Nesse período, a maior parte
fórmulas e casos de sucesso para pressupõe a presença e articula- das tecnologias adquiridas pelo
que empresas aprendam a inovar. ção de número elevado de agentes Brasil era relativamente madu-
Todos querem fazer como Google, e instituições de natureza diversa, ra. Por isso, não se estimulava
Apple, Toyota ou LG, mesmo es- com lógicas e procedimentos dis- a capacitação necessária para
tando no Brasil, no Senegal ou em tintos”. É assim que o Livro Branco gerar novos conhecimentos. As
Cingapura, e sem levar em consi- do Ministério de Ciência e Tecno- pessoas eram treinadas apenas
deração o ambiente e o momen- logia, lançado em 2002, define o para usar e operar as tecnologias
to em que essas empresas inova- fenômeno. Esse livro representa importadas. O apoio à Pesquisa
ram. De acordo com Jean Guinet, a incorporação do processo de e Desenvolvimento (P&D), apesar
economista e diretor de Ciência, inovação na política pública bra- de ser um mecanismo de políti-
Tecnologia e Indústria da Organi- sileira. O marco legal veio com a ca há muito tempo utilizado no
zação para Cooperação e Desen- regulamentação da Lei 10.973, em mundo todo, transformou-se no
volvimento Econômico (OCDE), 2004. Esses mecanismos lançados mais importante instrumento de
estabilidade macroeconômica pelo governo federal buscam criar política industrial dos países da
e competição entre as empresas um ambiente adequado para que OCDE, na década de 90. No Brasil,
são condições essenciais para a as empresas inovem, principal- o incentivo à P&D ganhou fôlego
existência de um ambiente de ino- mente com a ênfase de programas principalmente nos anos 2000.
vação. Além disso, Guintet afirma cooperativos entre setor produti- “Hoje a política de C&T está arti-
Jean Guinet, da que o governo deve cumprir seu vo e Instituições de Ciência e Tec- culada com a política industrial.
OCDE, explica papel de suporte, com políticas nologia (ICT). Temos um amadurecimento dos
que governo deve públicas e infraestrutura, e dividir O parecer do relator da Lei de dois setores, que devem trabalhar
criar ambiente de os riscos inerentes ao processo, Inovação, deputado Ricardo Za- juntos”, explicou Sérgio Rezende,
inovação com incentivos e financiamentos ratinni Filho (PT-SP) cita quais Ministro de C&T, durante o 3º
são esses mecanismos. “A criação Congresso de Inovação na Indús-
do referido ambiente inclui des- tria, em agosto de 2009, em São
de investimentos na formação de Paulo.
Caroline mazzonetto

recursos humanos, de forma ade- Atualmente, o Brasil investe


quada e em volume suficiente, até 1,02% do PIB em P&D, mas a meta
a manutenção de uma política é que esse valor suba para 1,5%,
macroeconômica que estimule o em 2010. Para Luciano Coutinho,
crescimento. Passa, contudo, por presidente do Banco Nacional de
uma outra série de mecanismos e Desenvolvimento Social (BNDES)
instrumentos voltados especifica- e, em 1985, primeiro secretário
mente para promover a capacida- executivo do MCT, a economia
de de inovação dos atores envolvi- brasileira, hoje, admite que o país
dos nas diversas etapas de obten- tenha estratégias de longo prazo
ção do conhecimento científico e nas políticas monetária, fiscal e fi-
tecnológico, tais como as univer- nanceira – o que permite investir
sidades, os institutos de pesquisa mais e melhor no desenvolvimen-
e as empresas de base tecnológica, to nacional. Se o governo aprovar,
e sua aproximação”, detalhou. a Financiadora de Estudos e Pro-
Para se entender melhor a for- jetos (Finep) e Conselho Nacional
mação do sistema brasileiro de de Desenvolvimento Científico e
inovação, é necessário voltar aos Tecnológico (CNPq), do MCT, vão
anos de formação do MCT, em disponibilizar R$ 2,7 bilhões, em
meados da década de 80, quando 2010, ao setor de inovação.

6 ValorInovação
dependência tecnológica
o. Empresas e instituições científicas precisam agir em sincronia

Marco legal
O mapa mostra os estados brasileiros que aprovaram leis complementares à Lei Federal de Inovação,
regulamentada em 2004, que estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e
tecnológica no ambiente produtivo. Os ícones referem-se à quantidade de ICT e parques tecnológicos
que o país possui por região.

CE - Lei nº 14.220, de
16 de outubro de 2008

AM - Lei Estadual nº 3.095, de 17


de novembro de 2006
4
1
16
PE - Lei nº 13.690, de
6 12 de dezembro
MT- Lei Complementar nº 297, de de 2008
7 de janeiro de 2008
2 MG - Lei nº 17.348, de 17
6 17 de janeiro de 2008

SP - Lei Complementar nº 1049, de


19 de junho de 2008
RJ - Lei nº 5.361, de 29 de
50 dezembro de 2008

25
SC - Lei nº 14.348, de 15 de
RS - Lei nº 13.196, de 13 de
janeiro de 2008
julho de 2009
16

Os ícones são referentes às regiões brasileiras:


Entenda os ícones:

Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT)


101 ICT (Instituições Científicas e Tecnológicas)

Parques Tecnológicos em operação ou em implantação


42 Parques Tecnológicos Fontes: MCT e ANprotec
cora dias

ValorInovação 7
Sistema nacional de inovação |

Caroline mazzonetto
duzam do Imposto de Renda e Schumpeter, economista austrí-
da Contribuição sobre o Lucro Lí- aco tido como pai da inovação,
quido, dispêndios efetuados em afirmou que o proprietário indi-
atividades de P&D. Olívio Ávila, vidual do século XIX e as grandes
diretor executivo da Associação empresas do século XX foram os
Nacional de Pesquisa e Desenvol- responsáveis por transformar o
vimento das Empresas Inovado- conhecimento em riqueza (ver
ras (Anpei), explica que, apesar de box). De acordo com a última Pes-
reduzir a burocracia e possibilitar quisa de Inovação Tecnológica
que a dedução seja feita sem apro- realizada pelo Instituto Brasileiro
vação prévia de projeto, a Lei do de Geografia e Estatística (IBGE),
Bem restringiu muito o número 33,4% das empresas industriais
de beneficiadas, pois os incenti- brasileiras fizeram algum tipo de
vos fiscais só são concedidos para inovação em produtos ou proces-
empresas que trabalham com re- sos entre 2003 e 2005. O conceito
gime de lucro real. “Acontece que de ações inovadoras adotado pelo
mais de 90% das empresas brasi- Instituto inclui práticas que são
leiras trabalham com regime de novas apenas para as próprias
lucro presumido, que não possi- empresas e não necessariamente
bilita determinar exatamente o para o mercado. Se reduzirmos o
valor gasto em P,D&I. Com isso, o recorte, apenas 9,7% das empresas
incentivo fiscal está mais voltado nacionais consideradas inovado-
para as grandes, que já trabalham ras lançaram novos produtos ou
normalmente com o regime de processos.
lucro real”, argumenta. Durante o 3° Congresso Bra-
sileiro de Inovação na Indústria,
Sincronia realizado em 19 de agosto, pela
Ministro de A Finep é o órgão responsável O governo não é o único agen- Confederação Nacional das In-
Ciência e por articular alguns dos mecanis- te na estruturação de um sistema dústrias (CNI), os industriais bra-
Tecnologia, mos criados pela Lei de Inovação, nacional de inovação. As univer- sileiros assinaram um manifesto
Sérgio Rezende: como a subvenção econômica a sidades e os centros de pesquisa em que assumem a responsabi-
governo deve empresas privadas. A lei também também são peças importantes lidade de investir em estratégias
usar seu poder prevê a eliminação de entraves nesse processo. Principalmente inovadoras. Uma das metas é du-
de compra burocráticos para estimular a no Brasil, onde a maioria dos pes- plicar, nos próximos quatro anos,
para incentivar aproximação entre as ICT e o se- quisadores está nessas institui- o número de empresas inovadoras
inovação tor produtivo, possibilitando ções: 80%. Eles são responsáveis no país. Além disso, o manifesto
o afastamento do pesquisador por grande parte das novas tec- ressalta a importância de investi-
para constituir empresa de cará- nologias desenvolvidas no país e mento num modelo educacional
ter inovador. Rezende defende, é a partir da transferência desse que estimule o empreendedoris-
ainda, que o Estado deve usar seu conhecimento que as empresas mo, para a criação de novas em-
poder de compra como incentivo conseguem inovar. Por isso, nú- presas inovadoras.
à inovação para dar preferência cleos de inovação estão sendo Os resultados do sistema de
aos produtos desenvolvidos por criados dentro das universidades inovação que está sendo criado
empresas nacionais. O Ministro para otimizar a relação com a no Brasil ainda não se concretiza-
explica que esse é um mecanismo indústria, auxiliando na transfe- ram. De acordo com Jean Guinet,
tradicional, utilizado em muitos rência de tecnologia para o setor da OCDE, o risco é inerente ao
países, e que, no âmbito da Or- produtivo e cuidando da proprie- processo de inovação, mas quan-
ganização Mundial do Comércio dade intelectual dessas institui- do os economistas fazem o que
(OMC), é permitido. Embora a ções. Além disso, incubadoras de chamam de decomposição do
Lei de Inovação aborde o tema, o empresas e parques tecnológicos, crescimento – cálculo que busca
que predomina é a Lei 8.666, que que têm a inovação como razão medir o efeito de diferentes fontes
regulamenta as compras públicas de ser, atuam muitas vezes na es- no avanço econômico – percebe-
dando ênfase determinante ao truturação de sistemas locais. No se, cada vez mais, que a inovação
menor preço. país, existem 377 incubadoras e age sobre o potencial de cresci-
Outro mecanismo criado pelo 74 parques, que já incubaram 6 mento. Tanto de um ponto de vis-
governo foi a Lei do Bem, de 2005. mil projetos inovadores. ta puramente econômico, quanto
Os incentivos fiscais previstos No centro de todo esse pro- social, o crescimento depende da
possibilitam que empresas de- cesso estão as empresas. Joseph inovação.

8 ValorInovação
O profeta da inovação
Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) foi um dos maiores tes, o que certamente contribuiu para a visão única que construiu
economistas do século XX. Ele é mais famoso por sua teoria da sobre o que gera a riqueza das nações. Seus dois maiores insights
“destruição criativa” – que sustenta que o sistema capitalista foram os seguintes:
progride por revolucionar constantemente sua estrutura econô- 1 - A força motriz do progresso econômico é a inovação. Ri-
mica: novas firmas, novas tecnologias e novos produtos substi- queza, prosperidade e desenvolvimento vêm da inovação e só
tuem constantemente os antigos. Como a inovação acontece de dela. Para Schumpeter, inovação tem um significado preciso: é a
repente, a economia capitalista está, de forma natural e saudável, substituição de formas antigas por formas novas de produzir e
sujeita a ciclos de crescimento e implosão. consumir. Produtos novos, processos novos, modelos de negócios
O agente deste processo revolucionário, segundo Schumpeter, novos. Essa substituição é permanente, e ele a chamou de “des-
é o empresário: o proprietário individual do século XIX e as gran- truição criativa”. É esse processo que faz o sistema capitalista ser
des empresas do século XX. A inovação precisa de recompensa, o melhor que existe para gerar riqueza e produzir crescimento
daí a economia dinâmica permitir enormes lucros ao inovador. O econômico.
monopólio temporário é a forma de a natureza permitir que os 2 - Os agentes da inovação são os empreendedores. Empreen-
inovadores ganhem com suas invenções. A desigualdade de curto dedores são indivíduos (são pessoas, não instituições, não gover-
prazo é o preço do progresso no longo prazo. nos, não partidos) movidos “pelo sonho e pela vontade de fundar
De acordo com Clemente Nóbrega, físico e escritor, em artigo um reino particular”. Por causa da “destruição criativa”, homens
publicado em julho de 2007, Schumpeter era baixinho, careca, de negócios prósperos pisam num terreno que está permanen-
gordinho. “Mulherengo, falastrão, adorava contar vantagem. Vai- temente “se esfarelando embaixo de seus pés”. A instabilidade, o
dosíssimo, demorava horas para se vestir para jantar (em casa). não equilíbrio, a desigualdade e a turbulência são inevitáveis – o
Excêntrico, ia às reuniões da Universidade Harvard – onde foi pro- preço a pagar pelo progresso.
fessor – de botas para montar. Era adorado por seus alunos. Dizia A maioria das obras do economista está publicada em inglês
aos amigos que tinha três objetivos na vida: ser o maior amante ou alemão. Além de desenvolver teorias próprias, Schumpeter
da Europa, o maior cavaleiro do mundo e o maior pensador eco- estudou e analisou outros economistas, como John Maynard Key-
nômico de todos os tempos. Antes de morrer declarou que só não nes. Em 2007, foi lançada sua quarta biografia, intitulada Prophet
estava satisfeito com suas performances como cavaleiro”, conta. of Innovation: Joseph Schumpeter and Creative Destruction, de
Schumpeter nasceu na Áustria e viveu em sete países diferen- Thomas k. McCraw.

As ondas de schumpeter
Para Schumpeter, os negócios vivem ondas de inovação, que surgem e desaparecem. Os ciclos eram longos e duravam
de 40 a 60 anos, com o passar do tempo, encurtaram. O gráfico representa a teoria de Schumpeter nos anos atuais.

Energia hidráulica Vapor Eletricidade Petroquímicos Redes virtuais


Têxteis Aço Químicos Eletrônicos Softwares
Aço Estradas de ferro Motores de combustão Aviação Novas mídias
interna

PRIMEIRA SEGUNDA TERCEIRA QUARTA QUINTA


ONDA ONDA ONDA ONDA ONDA

1785 1845 1900 1950 1990 2020


60 ANOS 55 ANOS 50 ANOS 40 ANOS 30 ANOS
Fonte: fOREPLAY - ENGAJAMENTO DIGITAL
cora dias

ValorInovação 9
Sistema nacional de inovação |

A embrapa e o agronegócio das mpe

divulgação
A Cultivis Cogumelos Co- da pela Embrapa Agroindústria
mestíveis produz, beneficia e Tropical foi a micropropagação
comercializa cogumelos do tipo de frutas e flores tropicais. Essa
Lentinula edodes (Shiitake) e técnica permite que os produto-
Pleurotus ostreatus (Shimejii) res cultivem mudas em labora-
in natura. Com pesquisas desen- tório sob condições controladas
volvidas pela Unidade de Recur- e assépticas. Como resultado, a
sos Genéticos e Biotecnologia da Panflora comercializa mudas de
Empresa Brasileira de Pesquisa alta qualidade e padrão unifor-
Agropecuária (Embrapa), a Cul- me, pois há controle de todas as
tivis pôde alavancar seu negócio. etapas de produção.
A tecnologia que a empresa utili- Empresa pública vinculada ao
za atualmente é baseada em uma Ministério de Agricultura, Pecu-
técnica chinesa, chamada Jun ária e Abastecimento, a Embrapa
Cao (substrato de fungo e capim), possui um modelo consolidado
Embrapa
modificada pela Embrapa para de transferência de tecnologia
desenvolve
otimizar o suprimento nutricio- para o mercado que é referên-
técnica chinesa
nal necessário para o melhor de- cia para muitos projetos desse
adaptada ao
senvolvimento do cogumelo em teor no Brasil. Seus 8.440 fun-
clima tropical
clima tropical. cionários estão divididos em 41
Centro Nacional A Cultivis faz parte do Proe- centros de pesquisa no país. A
de Pesquisa ta Incubação de Agronégócios, Embrapa teve, em 2008, receita
de Recursos projeto da Embrapa que auxilia operacional de R$ 1,353 bilhão.
Genéticos e na criação de novas empresas de Em 2003, esse valor era de R$ 790 cimentos mais genéricos e, nos
Biotecnologia base tecnológica agropecuária, milhões. Entre 2005 e 2007, fo- níveis mais profundos, os mais
auxiliou a através de parcerias público-pri- ram registrados, no Instituto Na- específicos. Cada item da Árvore
Panflora a vadas. No caso da Panflora, em- cional da Propriedade Industrial é denominado “nó” e é definido a
produzir mudas presa de Caponga (CE), graduada (Inpi), 40 pedidos de reconheci- partir da subdivisão sucessiva do
em laboratório em 2008, a tecnologia transferi- mento de patentes. Além disso, a conteúdo (“subnós”).
Embrapa registrou 28 marcas e 9 Para incentivar o empreen-
softwares . dedorismo no agronegócio, a
A Agência de Informação da Embrapa promove workshops em
Claudio bezerra

Embrapa também é um impor- todo o país sobre inovação. De


tante mecanismo de transferên- acordo com Lucio Brunale, da
cia de tecnologia. Através de um Assessoria de Inovação Tecnoló-
sistema web, pode-se ter acesso gica, a Embrapa precisa ampliar,
à organização, ao tratamento, ao junto aos diferentes segmentos
armazenamento, à divulgação e da sociedade, o uso dos resulta-
ao acesso à informação tecnoló- dos da pesquisa gerados por ela.
gica e ao conhecimento gerados ”Eventos dessa natureza permi-
pela Embrapa e outras institui- tem a discussão de estratégias
ções de pesquisa. Essas informa- que facilitam a aplicação destes
ções estão organizadas numa es- resultados, que é imprescindível
trutura ramificada, denominada para caracterizar a inovação”,
Árvore do Conhecimento. afirma.
Essas estruturas são desen- Atualmente, a estrutura de
volvidas pelas Unidades Descen- inovação da Embrapa está pas-
tralizadas da Embrapa, sobre sando por alterações operacio-
produtos e temas do negócio nais, mas pretende manter atu-
agrícola. Nos primeiros níveis ante a transferência de tecnolo-
desta hierarquia estão os conhe- gia para o mercado.

10 ValorInovação
A Atuação do SEBRAE
Responsáveis por 99,3% dos soas da terceira idade. Eu inovo
negócios no Brasil, as Micro e O trabalho do Sebrae na sen- Na seção Eu inovo do blog “Faça
Pequenas Empresas (MPEs) tam- sibilização dos empresários Diferente” pequenos empresários
bém podem e devem inovar. Pelo com relação à inovação ocorre trocam experiências de como
menos é o que afirma Magaly Al- também através da promoção inovaram em seus negócios. Ma-
buquerque, gerente adjunta de de workshops. De abril a agosto theus Zeuch, de Lageado, RS, con-
inovação do Serviço Brasileiro deste ano, foram realizados 200 ta que, em 2006, ele e dois sócios
Brasileiro de Apoio às Micro e encontros que envolveram 17 abriram uma produtora de vídeos
Pequenas Empresas (Sebrae). mil participantes. para internet. “A empresa, além
Desde o final de 2008, o Se- Na fase de capacitação, o pe- de oferecer o serviço de produção
brae está promovendo progra- queno empresário tem acesso a de vídeos comerciais na região,
mas de sensibilização, capacita- cursos de gestão da inovação, também inovou ao trabalhar com
ção e consultoria sobre inovação. módulo que passou a ser dispo- a cobertura de festas e eventos em
Para informar as MPEs, o Sebrae nibilizado também à distância. vídeo, publicados na internet gra-
utiliza os conceitos apresenta- “Nem todos podem participar tuitamente. Muitos sites fazem
dos pelo Manual de Oslo. Desen- presencialmente dos cursos, por isso com fotos, na maioria das Campanha
volvido pela Organização para isso buscamos atendê-los tam- grandes cidades do país, mas em informa e
Cooperação e Desenvolvimento bém à distância”, explica Ma- vídeos ainda são poucos, mesmo incentiva micro
Econômico (OCDE) em parceria galy. quase 4 anos depois de começar- e pequenos
com a Eurosat, esse Manual é a Para a fase de consultoria do mos nesse formato”, explica. empresários a
principal fonte internacional programa, o Sistema implemen- Hoje, a empresa de Matheus inovarem em
de diretrizes sobre atividades tou o projeto-piloto ‘Agentes Lo- possui 400 vídeos publicados na diversos setores
inovadoras em empresas. Em cais de Inovação’ que teve início internet e outros programetes pe- da estrutura
sua terceira edição, lançada em em 2008, no Distrito Federal e riódicos. organizacional
2005, traz quatro formas de ino- no Paraná. A proposta é elevar a
vação: de produto, de processo, inovação nas empresas por meio
em marketing e organizacional. de soluções ligadas à gestão e

divulgação
Magaly explica que, dessa for- desenvolvimento de produtos,
ma, o Sebrae consegue mostrar processos produtivos e serviços.
para as empresas que inovação Em dois anos, 1,5 mil empresas
não está apenas ligada à tecno- foram atendidas em cada uma
logia ou ao lançamento de novos dessas unidades da federação.
produtos no mercado. “Passamos O projeto cede profissionais
a mensagem de que inovar é um capacitados para fazer o aten-
fator diferencial para a competi- dimento direto às MPEs. Cabe a
tividade das MPEs e a inovação essas pessoas fazer o papel de
ocorre em diversos setores da agentes locais de inovação (ALI)
organização empresarial”. e estar em contato permanente
Com o mote “Faça diferente”, com os pequenos empresários
cartilhas explicativas, blog na para identificar suas necessida-
internet e programas de rádio, des e apresentar soluções. No
o Sebrae mostra ao pequeno em- Distrito Federal, o atendimento
presário exemplos concretos de do programa ocorre em empre-
inovação. Em um dos textos ex- sas da área de construção civil,
plicativos, João Pedro, um diver- vestuário e confecção, açougue,
tido personagem, conta como mercearias e feiras de verdura.
inovou no seu negócio ao focar No Paraná, o atendimento é na
em um público alvo diferente do área de construção civil, vestuá-
de seus concorrentes. Ele reorga- rio e alimentos. A partir de 2009
nizou sua academia de ginástica mais 16 unidades da federação
para atender especialmente pes- foram atendidas pelo projeto.

ValorInovação 11
financiamento | por cora dias

a matemática da
subvenção econômica
Programas de financiamento incentivam pesquisa, desenvolvimento e
inovação nas empresas brasileiras com recursos não-reembolsáveis

O
governo pretende investir Esse montante é distribuído a te obtiver bons resultados, rece-
R$ 2,7 bilhões no setor de partir de programas de incentivo berá mais R$ 120 mil do Progra-
inovação em 2010, através à Ciência, Tecnologia e Inovação ma Juro Zero, crédito subsidiado
dos programas da Financiadora que buscam disponibilizar apoio que deve ser pago em cem vezes,
de Projetos e Estudos (Finep) e do financeiro a todas as fases da ca- sem juros, pelo empreendedor.
Conselho Nacional de Desenvol- deia produtiva. Desde o custeio A experiência das incubado-
vimento Científico e Tecnológico de despesas de Pesquisa e De- ras de empresas em prospectar
(CNPq). O orçamento do Fundo senvolvimento (P&D), produtos e apoiar empreendimentos ino-
Nacional de Desenvolvimento e processos, o financiamento de vadores fez com que a Finep ele-
Científico (FNDCT), previsto para máquinas e equipamentos uti- gesse 18 incubadoras-âncora em
o próximo ano, foi encaminhado lizados no desenvolvimento das nove estados, para selecionar os
Eduardo Costa, ao Ministério de Ciência e Tecno- inovações, até a criação de novas projetos para a primeira etapa do
diretor de logia (MCT). Para 2009, estavam empresas, por meio da participa- Prime. A Finep descentralizou o
Inovação da previstos R$ 3,09 bilhões, mas a ção da Finep em quotas de fun- Prime com as incubadoras. Além
Finep: capital de crise financeira do final do ano dos de capital empreendedor. da seleção das empresas bene-
risco traz maior passado fez com que o governo Segundo Eduardo Costa, dire- ficiadas, essa parceria também
retorno aprovasse apenas R$ 2,051 bi. tor de Inovação da Finep, existem deverá atuar no processo de ava-
três formas de apoio a micro e liação do resultado dos projetos.
pequenas empresas concedidas No dia 26 de outubro deste ano,
pela agência: crédito subsidiado, 1.400 pessoas, que tiveram seus
João luiz ribeiro

subvenção econômica e capital projetos aprovados na primeira


de risco. Para evitar a aprovação etapa do programa, assinaram
de projetos não coerentes com as o contrato com a Finep. Além
estratégias dos programas pro- de descentralizar a seleção de
postos, a Finep passou a realizar projetos, o Prime foi elaborado
parcerias com instituições de para atender os empreendimen-
C&T nos estados, que proporcio- tos nascentes e dar apoio na área
nam capilaridade na distribui- de gestão para que o empreen-
ção dos recursos financeiros para dedor mantenha seus esforços
diferentes regiões do país. Esse no desenvolvimento de projetos
mecanismo foi utilizado no Pro- inovadores. Este era um dos gar-
grama Primeira Empresa Inova- galos percebidos pela agência de
dora (Prime), lançado no final de fomento nos outros programas
2008 pela Finep. “Esse é de longe de apoio à inovação.
o maior programa da Finep que Diferentemente da subvenção
pretende, em quatro anos, apoiar econômica e do crédito subsidia-
5.400 novos empreendimentos”, do, o instrumento de capital de
explica Costa. O Programa conce- risco é concedido para um núme-
derá R$ 120 mil em recursos não- ro muito restrito de empresas. “É
reembolsáveis para cada projeto uma espécie de dinheiro de buti-
aprovado, na primeira etapa. Um que, ele é muito mais inteligente
ano depois, se a empresa nascen- que as outras formas de financia-

12 ValorInovação
Formas de financiamento para empresas

A Financiadora de Projetos e Estudos (Finep), do Ministério de Ciência e Tecnologia, possui três diferentes formas
de financiamento para que as empresas brasileiras inovem. O dinheiro que a agência repassa para as empresas,
através de editais, é assim dividido:

Crédito subsidiado Forma mais comum de financiamento

60% Todo o dinheiro investido


retorna para a sociedade

Finep 30%
Subvenção Financiamento a fundo perdido, viabilizado
com a aprovação da Lei de Inovação, de2004

O retorno para a
sociedade é através da
geração de empregos
10%
A Finep trabalha com fundos de investimento.
Capital de risco Há R$ 1,7 bi no mercado para essa forma
de financiamento

Investimento com maior


retorno - relação direta
entre retorno e risco

Programas da Finep para MPEs


Programa Pró-Inovação: te equivalente de 30% do faturamento da propostas apresentadas e a serem execu-
Concede financiamento para projetos empresa. O prazo de amortização do cré- tadas por ICTs, públicas ou privadas, vol-
de inovação, no valor mínimo de R$ 1 mi- dito pelas empresas é de 100 meses. tadas ao apoio de inovação tecnológica en-
lhão, para empresas com faturamento volvendo um grupo mínimo de três MPEs.
anual mínimo de R$ 10,5 milhões. O pra- Pappe Subvenção: O apoio financeiro por empresa varia de
zo para repasse dos recursos financeiros Concessão direta de recursos financei- R$ 200 mil a R$ 500 mil, para cobertu-
pode alcançar até 120 meses, com até 36 ros não-reembolsáveis às MPEs, para a co- ra de despesas correntes e de capital. Os
meses de carência, e a execução do projeto bertura de despesas de custeio de projetos recursos são repassados pelas ICTs e não
deve ser feita em até dois anos. de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. podem ser utilizados na cobertura de des-
Com recursos de R$ 245 milhões, esse pesas de produção comercial.
Programa Juro Zero: programa também possui uma pré-seleção
As operações de financiamento são im- descentralizada, com parceiros da Finep Primeira Empresa Inovadora:
plementadas com a participação de par- espalhados pelo país. O valor de subvenção Concessão direta de recursos finan-
ceiros estratégicos da Finep nos estados para cada projeto poderá variar de R$ 50 ceiros não-reembolsáveis a empresas
brasileiros. Para resolver a restrição en- mil a R$ 500 mil. nascentes. São concedidos R$ 120 mil de
frentada pelas MPEs quanto às garantias subvenção no primeiro ano do projeto. Em
normalmente exigidas nas concessões de Projetos de Inovação Tecnológica de seguida, o novo empreendimento recebe
crédito, o Programa prevê três fontes de MPEs em cooperação com ICTs – MCT/ mais R$ 120 mil do programa Juro Zero.
cobertura. O valor de crédito varia de R$ Finep/Sebrae: Em quatro anos, a Finep pretende apoiar
100 mil a R$ 900 mil, e está sujeito a limi- As chamadas públicas visam selecionar 5.400 novos negócios.

ValorInovação 13
financiamento |

divulgação
mento, mas atinge um número de maior retorno”, sugere.
menor de empresas”, explica o A Finep auxilia empresas a
diretor. Com esse tipo de recur- encontrarem potenciais inves-
so, os empresários conseguem tidores de risco, promovendo
financiar os seus negócios sem fóruns e rodadas de negociação.
se endividar. O investidor entra “A gente aloca R$ 200 milhões
como sócio temporário da em- nessa operação. Como os fundos
presa emergente, através de aqui- de investimento são alavancados
sição de ações ou debêntures, pela Finep e o grosso do dinheiro
conversíveis em ações, visando vem de outros investidores, nós
José Mauro rentabilidade acima das alterna- temos, ao todo, R$ 1,7 bi no mer-
de Morais, tivas disponíveis no mercado fi- cado para investir em negócios
economista do nanceiro. Para Costa, a tradução inovadores com o capital de ris-
Ipea, analisa do termo em inglês venture capi- co”, explica.
programas de tal para capital de risco assusta o
financiamento da investidor. “Deveria ser chamado Inovação sem risco
Finep de capital empreendedor, porque Estudo realizado pelo Institu-
essa é a forma de financiamento to de Pesquisa Econômica Aplica-

De onde vem o dinheiro


A inovação é um processo de risco e sas fontes, como as parcelas dos royalties vos a setores específicos e dois transversais
dificilmente capta recursos de emprés- incidentes sobre a produção de petróleo e – o Verde Amarelo e o de Infraestrutura.
timos bancários, que impõem juros altos gás natural, por exemplo, e as contribui- As receitas são oriundas de contribui-
para situações com resultados incertos. ções de empresas sobre os resultados da ções incidentes sobre o resultado da explo-
Uma saída para isso tem sido as políticas exploração de recursos naturais perten- ração de recursos naturais pertencentes à
de financiamento do governo de apoio à centes à União, como mineração e energia União, parcelas do Imposto sobre Produ-
Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I). elétrica. Essas receitas são alocadas no or- tos Industrializados de certos setores e de
Apesar do histórico de baixo investimento çamento do Fundo Nacional de Desenvolvi- Contribuição de Intervenção no Domínio
tanto público quanto privado em Pesquisa mento Científico e Tecnológico (FNDTC) e Econômico (CIDE) incidente sobre os valo-
e Desenvolvimento (P&D) e da importa- aplicadas pela Financiadora de Estudos e res que remuneram o uso ou aquisição de
ção de tecnologia, desde o final dos anos Projetos (Finep) e pelo Conselho Nacional conhecimentos tecnológicos/transferência
1990, o país busca consolidar uma política de Desenvolvimento Científico e Tecnológi- de tecnologia do exterior.
estratégica de inovação e desenvolvimento co (CNPq). O Fundo Verde-Amarelo (FAV) Com exceção do Fundo para o Desenvol-
tecnológico. constitui a principal fonte de recursos para vimento Tecnológico das Telecomunicações
A instituição dos fundos setoriais, entre o apoio à inovação nas micro e pequenas (FUNTTEL), gerido pelo Ministério das Co-
1999 e 2001, representou uma reforma no empresas (MPEs). municações, os recursos dos demais Fundos
sistema de apoio governamental à C,T&I. O marco legal da Lei de Inovação lançou são alocados no FNDCT e administrados
À época em que os primeiros fundos foram novos mecanismos nas áreas de crédito e pela FINEP.
instituídos, o sistema apresentava cres- subvenção – são programas que financiam A princípio, todos os grupos de pesquisas
cente escassez de recursos e operava com projetos a fundo perdido, sem que haja uma em universidades, institutos e centros de
assimetrias, como a baixa participação contrapartida para o governo. “Esse é um pesquisas, individualmente ou associados a
do setor produtivo privado nos recursos avanço da política de C,T&I do governo fe- empresas, e que estiverem de acordo com
para pesquisa no setor público e reduzi- deral. Até então apenas Institutos de Ciên- as exigências estabelecidas por cada Fundo,
dos esforços de pesquisa e inovação nas cia e Tecnologia (ICTs) recebiam esse tipo podem participar das licitações. As institui-
empresas. Os fundos foram criados para de financiamento, as empresas só tinham ções passíveis de utilização de recursos são:
que houvesse uma ampliação de recursos acesso às linhas de crédito”, explica Olívio universidades, públicas ou privadas e cen-
financeiros para P&D, além de impulsionar Ávila, secretário executivo da Associação tros de pesquisa do país. Empresas também
os investimentos privados em pesquisa e Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento podem participar, desde que em parceria
inovação e fomentar parcerias entre as das Empresas Inovadoras (Anpei). com as instituições de pesquisa e ensino.
universidades, as instituições de pesquisa
e o setor produtivo. Fundos Setoriais
As receitas dos fundos provêm de diver- Há 16 Fundos Setoriais, sendo 14 relati-

14 ValorInovação
DIVULGAÇÃO
da (Ipea) analisou as principais
práticas de financiamento das
agências de fomento e mostrou
como é feito o repasse de dinheiro
para as empresas. Há muitos ca-
sos em que conseguem recursos
de diferentes programas e, assim,
minimizam o risco com o investi-
mento em P&D. “Há financiamen-
tos subsidiados para as mesmas
empresas, que dispõem de faci-
lidades de acesso simultâneo aos
instrumentos de apoio das agên-
cias de fomento. Isso é legítimo”,
explica o economista José Mauro
de Morais, responsável pela pes-
quisa do Ipea.
Um exemplo foi o que aconte-
ceu com a Biologicus, incubada
no Centro no Instituto de Tecno-
logia de Pernambuco. A empresa
de biotecnologia, fundada em
2004, conseguiu R$ 1,5 milhão
no edital de Subvenção Econômi-
ca da Finep para o apoio ao de- milhões. Caso semelhante ocorre subvencionar seus projetos. A SK Pesquisadores
senvolvimento de dermocosmé- com a SK Bombas, incubada do Bombas possui propostas aprova- da Biologicus:
ticos e, apenas neste ano, foi con- Centro de Tecnologia do Ceará, das pelo CNPq, para contratação R$ 2,2 milhões
templada em outros editais, que, criada em 2002 para atuar como de pesquisadores, e pelo progra- em recursos de
somados, totalizam R$ 700 mil. desenvolvedora de novos produtos ma Pappe Subvenção, direcionado editais somente
Além disso, a BioLogicus abriu de uma fabricante tradicional de apenas para MPEs. Recentemente, em 2009
negociação com um fundo de bombas centrífugas. a empresa foi contemplada pela
capital-semente com possibilida- Para realizar as pesquisas, a chamada pública do Programa de
de de receber um aporte de R$ 3 nova empresa buscou formas de Subvenção Econômica 2009 da Fi-
nep, na área de Desenvolvimento
Social, e receberá R$ 966.889,00
para o desenvolvimento e aplica-
DIVULGAÇÃO

ção de baixo custo e baixo consu-


mo de energia de tratamento de
água.
Morais alerta que com a possi-
bilidade da subvenção econômica,
a avaliação dos projetos aprovados,
feita pelas agências, deve ser ainda
mais rigorosa. “O instrumento de
subvenção deve ser eminentemen-
te seletivo, indicando para apoio
somente os bens e serviços que re-
presentem descontinuidades nas
cadeias de produção de alta tec-
Bombas
nologia, como os priorizados na
produzidas
nova política de Desenvolvimento
pela SK:
Produtivo e no Plano de Ação Ciên-
financiamento
cia, Tecnologia e Inovação para o
possibilitou
Desenvolvimento Nacional”, con-
pesquisa e
clui. Em 2008, a Finep liberou R$
desenvolvimento
453 milhões para o programa de
de novos
subvenção. O montante foi dividi-
produtos
do entre 209 empresas.

ValorInovação 15
UNIVERSIDADE | por cora dias

agregando valor ao
conhecimento
Transferência de tecnologia para o setor produtivo é imprescindível, mas
instituições de pesquisa precisam garantir propriedade intelectual

A
capacidade de uma nação
de gerar conhecimento e Situação das ICT no Brasil
convertê-lo em riqueza e

Fonte: MCT / cora dias


desenvolvimento social depende Distribuição regional das ICT nos anos de 2006, 2007 e 2008.
da ação de alguns agentes institu- 120
120
cionais: universidades, empresas
100
100
e governo. Este modelo é conhe-
cido por tríplice hélice. No país, 80
80

a quase totalidade das atividades 60


60
2006
2006
de pesquisa e desenvolvimento 40
40
2007
2007
ocorrem em ambientes acadêmi-
20
20 2008
2008
cos, onde estão 80% dos pesqui-
sadores. 00
l
Em artigo publicado no livro Su te te te t al
or
e

es es To
st

o d N
de

Brasil em Desenvolvimento, Carlos o- or


Su

tr N
de Brito Cruz, diretor-científico en
C
da Fundação de Amparo à Pes-
Comparação das ICT com relação à natureza
quisa do Estado de São Paulo (Fa-
pesp), explica que no país existe 120
120
uma tendência de se atribuir à
100
100
universidade a responsabilidade
pela inovação que fará a empresa 80
80
competitiva. “Trata-se de um gra- 2006
2006
ve equívoco, o qual, se levado a 60
60
2007
2007
cabo poderá causar dano profun- 40
40 2008
2008
do ao sistema universitário brasi-
leiro, desviando-o de sua missão 20
20
específica que é educar profissio-
nais e gerar conhecimentos fun- 0
0
Federal
Federal Estadual
Estadual Municipal
Municipal Privada
Privada Total
Total
damentais”. No Brasil, de acordo
com dados do IBGE, CNPq e CA- Proteções requeridas e concedidas Fase de implantação de NIT
PES, existem 397.170 pesquisado- no Brasil e exterior nas ICT
res, dos quais 307.416 estão nas
1200
1200
universidades e apenas 79.350, 20%
nas empresas. Os demais pesqui- 1000
1000

sadores estão no governo ou no 6%


Implementado
800
800
Requeridas Implementando

setor privado sem fins lucrativos. 600 74%


Não implementado
600 Concedidas
Proteções requeridas
Para se ter acesso ao conheci- Proteções concedidas
400
400
mento gerado nos centros de pes-
quisa existem mecanismos, como 200
200 Implementado
a transferência de tecnologia e o Implementando
0
0
Não implementado
licenciamento de patentes, que Brasil
Brasil Exterior
Exterior

16 ValorInovação
possibilitam que o setor produ- rio do MCT fizeram requerimento à diferença de objetivos, culturas
tivo explore a nova tecnologia no de 1.133 proteções, das quais ape- e missões dos dois agentes. “A em-
mercado. Foi para ajudar nesse nas 167 foram concedidas, 146 no presa, focada na competitividade
processo que o governo, com a Brasil e 21 no exterior. O próprio e sustentação financeira, busca
Lei de Inovação, de 2004, estimu- documento do Ministério afirma resultados rápidos de seus inves-
lou as universidades a criarem que isso é reflexo da demora na timentos; já a universidade, foca-
Núcleos de Inovação Tecnológica concessão de proteções por parte da na disseminação e no avanço
(NIT) – mecanismos responsáveis do Instituto Nacional de Proprie- do conhecimento, busca projetos
por otimizar o relacionamento dade Industrial (INPI) – órgão res- interessantes para complementar
com as indústrias, cuidar da pro- ponsável pelo depósito de paten- a formação dos alunos. O desafio
priedade intelectual e facilitar a tes. Em certos casos, pode chegar dos núcleos de inovação é fazer
entrada no mercado da tecnolo- a oito anos a espera entre a requi- esta mediação trazendo para a
gia produzida nas universidades. sição e a concessão de proteções. universidade oportunidades que
Desde então, o MCT pede que as (ver infográfico do processo). fortaleçam o ensino e a pesquisa
Instituições Científicas e Tecno- Das vinte maiores instituições e que também tragam benefícios
lógicas (ICT) do país respondam residentes depositantes no INPI, a para as empresas, como acesso à
a um questionário anual para que Universidade de Campinas (Uni- tecnologia de ponta, identifica-
o desenvolvimento dos NIT seja camp) está em primeiro lugar, ção de talentos e redução dos cus-
avaliado. O relatório referente ao com 537 patentes. O NIT da Uni- tos de P&D”, afirma. Para Lotufo,
ano de 2008 mostra que de 101 camp foi criado em 2003 e, desde ainda há uma baixa demanda por
ICT brasileiras analisadas, 75 já então, busca consolidar a parce- parte do setor empresarial em
possuem NIT implementados. ria entre a universidade e o setor buscar essa parceria com a uni-
Quando se avalia a capacidade produtivo para o licenciamento versidade. Na contramão, estão
de inovação de um país, o núme- das patentes e a transferência empresas como a Click Automo-
ro de patentes depositadas ainda de tecnologia. Até o final do ano tiva, de Campinas, que tem por
é o principal índice. Casos como passado, a InovaUnicamp já havia tradição enviar um colaborador,
o captopril, medicamento con- articulado mais de 240 convênios uma vez por semana, para dentro
tra a hipertensão cujo princípio de transferência de tecnologia e da universidade a fim de encon-
ativo foi descoberto no Brasil e de desenvolvimento colaborativo, trar algum conhecimento que
patenteado no exterior, mostram que renderam à Universidade R$ possa aplicar no mercado.
a importância de se incentivar a 900 mil em royalties. José Luiz Giacomassi, gerente
proteção sobre o conhecimento Roberto Lotufo, diretor execu- executivo da Click, conta que foi
gerado no país (ver box). Apenas tivo da Inova, explica que a grande em um desses dias que sua equipe
em 2008, essas 101 instituições dificuldade na interação empre- descobriu a existência da patente
que responderam ao questioná- sa-universidade está relacionada de um sensor de fibra óptica que

Made in Brazil
Em 1948, procurando explicar como o veneno da jararaca 1965, quando foi para a Inglaterra fazer pós-doutorado, Ferreira
mata ou paralisa suas vítimas, o pesquisador Gastão Rosenfeld levou consigo o resultado das pesquisas, o que permitiu que um
levou para o laboratório do químico e farmacologista Maurício Ro- grupo de cientistas liderado pelo inglês John Vane (ganhador do
cha e Silva, no Instituto Biológico, em São Paulo, uma amostra da Prêmio Nobel de Medicina) chegasse a um protótipo molecular
peçonha da Bothrops jararaca . O objetivo era estudar seus efeitos dos BPPs.
em cães. Após injetarem o veneno num animal, os pesquisadores Certos do potencial da pesquisa, Ferreira e Vane firmaram par-
puderam observar que a reação com o plasma sangüíneo liberava ceria com o laboratório americano Bristol-Myers Squibb, cedendo
uma substância que possuía intensa ação hipotensora, denomina- a descoberta em troca de financiamento para outras pesquisas.
da bradicinina. Foi assim que o laboratório registrou a patente da versão sintética
Sérgio Henrique Ferreria, orientando de Maurício Rocha e Silva da substância isolada pelos brasileiros e criou, em 1977, o Capto-
na Universidade de São Paulo (USP), no início da década de 1960, pril, medicamento utilizado por milhões de hipertensos.
constatou que a hipotensão provocada pela liberação da bradicini- Lançada nos Estados Unidos no início da década de 80, a droga
na no sangue da vítima era potencializada pela ação de toxinas en- se tornou referência mundial para o tratamento da hipertensão e
contradas em grandes quantidades no veneno da jararaca. Essas sua comercialização gera um faturamento de US$ 5 bilhões por
substâncias, denominadas peptídeos potenciadores da bradicinina ano ao laboratório americano. Hoje, uma versão genérica da droga
(BPPs), foram isoladas por Ferreira e outros colaboradores. Em é usada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

ValorInovação 17
UNIVERSIDADE |

João luiz ribeiro


em um prazo de três anos após a
assinatura do contrato. Caso isso
não ocorra, pode haver uma rene-
gociação ou o contrato pode ser
reiscidido para que a Unicamp
negocie a patente com outra orga-
nização. Com a venda do sensor,
a Click repassará à Fundação da
Unicamp um percentual (royaltie)
de tudo o que for faturado com
essa comercialização, num prazo
de três anos, que é quando o con-
trato vence.
O fato de a empresa ter reali-
zado esse tipo de parceria não
substitui a atividade de pesquisa
e desenvolvimento dentro da em-
presa. Atualmente, a Click possui
um departamento próprio de
P&D e está desenvolvendo mais
dois produtos do setor eletroele-
Pesquisador havia sido desenvolvido sob a co- partida de colaboração financeira trônico. “A pesquisa interna tem
Carlos Kenichi ordenação do pesquisador Carlos – a empresa não cita os valores in- grande importância para a em-
Suzuki, da Kenichi Suzuki. A equipe do cien- vestidos. A patente foi licenciada presa. A única maneira de você
Unicamp, tista propôs, então, que esse sen- em 2008 e, de acordo com o con- sobreviver no setor automotivo é
desenvolveu sor fosse utilizado para verificar a trato, a Click tem o direito de uso colocando no mercado novos pro-
sensor para alteração de combustível. Com a do sensor óptico para pelo menos dutos, o retorno é muito maior”,
verificar a confirmação de que o desenvolvi- duas aplicações: sensor de pré- justifica Giacomassi.
alteração de mento do produto era possível, a queima e o sensor de adulteração
combustível empresa do setor automotivo en- de combustível. Quanto vale?
trou em contato com a Inova para Como a empresa é a respon- Mensurar o valor do conheci-
que fosse formalizado um contra- sável por transformar o conhe- mento desenvolvido dentro da
to entre a Click e a Universidade. cimento em riqueza e testá-lo no universidade é uma das tarefas
O trabalho de pesquisa passou a mercado, foi firmado o compro- mais difíceis atribuída às agên-
ser desenvolvido com a contra- misso de comercializar o produto cias de inovação. O sensor óptico

Como depositar patentes no Brasil


O órgão brasileiro responsável pelo depósito de patentes é o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Patente é um título de
propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgados pelo Estado aos inventores, autores, pessoas físicas ou
jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Entenda o processo para depósito de uma patente no INPI:

1. Consultar a LPI (Lei de Propriedade anos e consiste em melhoria incremen- 4. Escrever o pedido de patente
Industrial) para verificar se sua in- tal de produto ou processo. O pedido de patente é composto de
venção pode ser patenteável. 3. Realizar uma busca para certificar- requerimento, relatório descritivo, rei-
Não são consideradas patenteáveis se de que sua invenção tem novidade vindicações, desenhos, resumo e com-
as matérias contrárias à moral, bons Certificar-se de que se trata de provante de pagamento da retribuição
costumes, segurança, ordem e saúde algo novo não somente no Brasil, mas relativa ao depósito. (R$ 200).
pública. também no mundo. Consultar revistas 5. Depositar o pedido de patente
2. Determinar se o pedido é patente especializadas, publicações técnicas e O depósito deve ser feito na sede do
de invenção (PI) ou modelo de utili- bases de patentes disponíveis gratuita- INPI localizada na Praça Mauá, 7 - Rio
dade (MU) mente na internet como o próprio site de Janeiro - RJ, CEP 20083-900 ou
PI: vigora por 20 anos e consiste em do INPI, , escritório europeu e norte por envio postal. Um exame preliminar
novo produto e processo. MU: são 15 americano. é realizado no momento da entrega.
Fonte: INPI / cora dias

18 ValorInovação
desenvolvido por Carlos Kenichi cifica casos em que o pesquisador eficácia. Como não obteve suces-
Suzuki da Unicamp, por exem- possui Dedicação Exclusiva. so, o produto, cujo nome não foi
plo, foi resultado de 30 anos de O Departamento de Inovação revelado, saiu de linha. Calixto,
pesquisa. Rozângela Curi Pedro- da UFSC negociou o primeiro incomodado com os resultados
sa, diretora do Departamento de contrato que garantiu a proprie- negativos, decidiu procurar de-
Inovação da Universidade Federal dade intelectual à Universidade, talhar cada uma das três plantas
de Santa Catarina (UFSC), explica em 2007. O Laboratório de Far- isoladamente e a Passiflora alata
que a transferência de tecnologia macologia Experimental desen- lhe chamou a atenção pelo seu
da universidade para a empresa volveu um creme dermatológico componente antiinflamatório.
deve ser avaliada com rigor, já em parceria com uma empresa de Foi nesse momento que se che-
que os interesses normalmen- cosméticos. Constituído a base gou à ideia de usar a passiflora
te são divergentes. “A gente tem de flavonóides de Passiflora alata como cosmecêutico antienvelhe-
que negociar, porque é um valor (espécie de maracujá existente no cimento.
intangível. O conhecimento que Brasil), o novo produto antiida- O núcleo de inovação da UFSC
existe na universidade é intangí- de pertence à linha Chronos da auxiliou na questão contratual
vel. O interesse maior é proteger Natura. A pesquisa, coordenada e isso possibilitou que a Univer-
o patrimônio intelectual, mas pelo professor João Calixto, du- sidade garantisse participação
a universidade precisa também rou quatro anos. nos ganhos da exploração do
transferir a tecnologia, sociali- O pesquisador explica que a novo produto. Calixto explica
zar a informação. Buscamos uma ideia começou a ganhar corpo que, apesar da parceria ter sido
forma para que todas as partes depois que algumas pesquisas um sucesso, houve entraves na
sejam beneficiadas”. Rozângela iniciais em outra área deram re- negociação do contrato de pro-
explica que é essencial que haja sultado negativo. Em 2003, quan- priedade intelectual, pois o Regi-
um assessor contábil quando se do iniciaram a parceria, a Natura me Jurídico Único (regulamento
fecha esse tipo de contrato. Além estava focada em uma pesquisa do servidor público federal) não
disso, o artigo 13 da Lei de Inova- mais voltada à área de farmacolo- permitia que ele recebesse os
ção prevê que é direito do pesqui- gia. A empresa havia comprado a royalties pela sua descoberta por
sador, responsável pela pesquisa, Flora Medicinal, do Rio de Janei- ser professor de Dedicação Ex-
uma participação mínima de 5% ro, e a parceria inicialmente com clusiva. “Isso exigiu que se bus-
e máxima de 1/3 nos ganhos eco- a UFSC era para reestudar um cassem mecanismos alternativos
nômicos (royalties), auferidos pela produto daquela empresa, que para que eu recebesse os recur-
instituição científica e tecnológi- contava com três plantas na sua sos a que tinha direito”, explica.
ca (ICT), resultantes de contratos composição, sendo uma delas a A Natura está negociando outro
de transferência de tecnologia e Passiflora. A intenção era realizar tipo de parceria com a UFSC para
de licenciamento – a lei não espe- testes para comprovação de sua ser iniciada ainda este ano.

6. Solicitar o pedido de exame 7. Acompanhar o andamento proces- 9. Solicitar a expedição da carta patente
O pedido de patente será mantido sual do pedido e aguardar o exame Pagamento para expedição da carta-
em sigilo durante 18 meses contados técnico patente (R$ 200). Todo o processo pode
da data de depósito. Depois disso, ele O processo pode ser acompanhado durar, de acordo com o INPI, até oito
é publicado, com exceção de quando a pela Revista da Propriedade Industrial, anos.
patente é de interesse da defesa nacio- editada semanalmente, disponível gra- 10. Manter o pagamento das anuidades
nal. A publicação do pedido poderá ser tuitamente na Biblioteca do INPI. em dia
antecipada a requerimento do deposi- Os valores variam de R$ 500 a R$ 660,
tante. 8. Cumprir as eventuais exigências
nos primeiros seis anos e de R$ 1.030 a R$
técnicas feitas pelo examinador
3.380m, nos nove últimos.
No final do exame, o responsável
Para mais informações, consulte o site
elabora um parecer relativo a: paten-
do INPI: www.inpi.gov.br.
teabilidade do pedido (deferimento);
adaptação do pedido à natureza rei-
vindicada; reformulação do pedido,
divisão ou exigências técnicas. Depois
da conclusão do exame, é proferida de-
cisão (R$ 100).

ValorInovação 19
parques tecnológicos | por cora dias

Do pé de café ao polo
tecnológico
Histórias como a de uma cidadezinha do sul de Minas mostram a
importância do investimento em educação para o desenvolvimento

S
anta Rita do Sapucaí é um
pequeno município do sul Parques Tecnológicos no Brasil
de Minas Gerais, com uma
população de 35 mil habitantes. De acordo com levantamento da Associação Nacional de Entidades Promotoras
Atualmente a cidade, que tinha de Empreendimentos Inovadores, de 2008, o país possui 74 Parques Tecnológicos,
sua economia baseada na produ- que estão em diferentes fases de atuação: 25 já operam normalmente, 17 estão em
implantação e 32 ainda estão na fase de projeto.
ção de café e leite, é conhecida
como Vale da Eletrônica, por ter
desenvolvido, a partir dos anos
50, escolas e empresas especiali-
34% Operação
zadas no setor. Com 80% da popu- operação

lação urbana e um PIB de R$ 250 43% Implantação


implantação
projeto
milhões, Santa Rita do Sapucaí Projeto
conta com 130 empresas do setor
de eletroeletrônicos, organizadas 23%
em um Arranjo Produtivo Local e
que empregam dez mil pessoas.
O polo tecnológico da cida- Os Parques Tecnológicos do Brasil empregam 26.233 pessoas.
de mineira começou a ser criado
em 1959 com a fundação da Es-
cola Técnica de Eletrônica (ETE). 18%
A iniciativa foi de Luzia Rennó
Moreira, a Sinhá Moreira, filha Nível
Nível superior
supeior

do banqueiro Francisco Moreira Pós-graduação


Pós-graduação
55% Formação inferior a
da Costa e descendente de uma 27%
Sem formação
ensino superior
família de políticos tradicionais.
Depois de viver alguns anos no Ja-
pão, Sinhá Moreira voltou ao Bra-
sil com a ideia de implantar, com
recursos próprios, a primeira es- Existem 520 empresas em operação nos Parques Tecnológicos do país, que juntas
cola técnica de eletrônica do país, geram uma receita de R$ 1,68 bilhão.
em sua cidade natal. O Presidente (R$) milhão
Juscelino Kubitschek instituiu o 1.800
1.800.000.000,00
1.600
ensino médio profissionalizante 1.600.000.000,00

1.400
1.400.000.000,00
no Brasil, naquele mesmo ano.
1.200
1.200.000.000,00
Dessa forma, a ETE pôde ter suas
1.000
1.000.000.000,00
atividades iniciadas.
800
Fonte: ANPROTEC / cora dias

800.000.000,00
Elias Kallás, professor de so- 600
600.000.000,00
ciologia em Santa Rita, conta que 400
400.000.000,00
na cidade há um folclore em tor- 200
200.000.000,00
no das atividades que fizeram de -
Snhá Moreira o grande símbolo Receitas
Receitas Exportações
Exportações Importações
Importações

20 ValorInovação
DIVULGAÇÃO/SINDVEL
do Vale da Eletrônica. Preocupa- nal passou por um difícil período cidade possui uma Secretaria de APL de
da com o fato de todos os homens devido às crises internacionais do Ciência e Tecnologia. eletroeletrônica
saírem da cidade para estudar e petróleo. Muitos alunos formados Assim como Santa Rita, o país fez de Santa Rita
retornarem já casados, ela buscou pelo Inatel não tinham perspecti- também iniciou um movimento importante polo
estruturar o ensino técnico de va de emprego. Começaram, en- de incentivo à criação de empre- tecnológico
Santa Rita. Com isso, os homens tão, a abrir o próprio negócio em sas de base tecnológica nos anos
poderiam estudar lá, as moças te- Santa Rita do Sapucaí. Esse perí- 80. Hoje são 377 incubadoras e 42
riam oportunidade de se casar e a odo foi marcado pelas primeiras parques tecnológicos no Brasil,
cidade não passaria por um pro- iniciativas de incubação de em- que já incubaram seis mil empre-
cesso de envelhecimento. presas na cidade. Da reunião de endimentos inovadores. Como o
A verdade é que Sinhá Moreira um grupo de alunos, ex-alunos próprio nome já diz, as incuba-
se preocupou com questões so- e professores do Inatel e da ETE, doras possuem a função de fa-
ciais de diferentes formas, inclu- nasceu a Linear, empresa conhe- zer com que projetos tornem-se
sive na área da saúde. Ela faleceu cida atualmente por ter desenvol- empresas, que depois do estágio
em 1963, muito antes de se pensar vido um transmissor brasileiro de incubação podem lançar seus
na formação do atual Vale da Ele- para TV Digital. produtos no mercado. Além de
trônica. O polo tecnológico foi institu- espaço físico para a instalação
Se o incentivo à educação ti- cionalizado em meados da déca- de escritórios e/ou laboratórios,
vesse parado por aí, Santa Rita da de 1980, quando o prefeito da as incubadoras oferecem salas
não teria se tornado o que é hoje. cidade, conhecido por Paulinho de reunião, auditórios, área para
Em 1964, foi criado o Instituto Dentista, passou a incentivar a demonstração dos produtos, se-
Nacional de Telecomunicações criação de micro e pequenas em- cretaria e bibliotecas. Mas são as
(Inatel), idealizado pelo professor presas em Santa Rita. Paulinho consultorias gerenciais e tecno-
José Nogueira Leite, para formar respondia àqueles que lhe pediam lógicas, que configuram os mais
engenheiros eletricistas especia- emprego: “Isso eu não tenho, mas importantes serviços prestados
lizados em eletrônica e telecomu- se você criar uma empresa de ele- pelas incubadoras. Assim, o em-
nicações. Durante os anos 70, o trônica, a prefeitura paga seu alu- preendedor pode se dedicar mais
setor de telecomunicações nacio- guel por dois anos”. Desde 2005, a à pesquisa e ao desenvolvimento

ValorInovação 21
parques tecnológicos |

DIVULGAÇÃO
a um crescimento de 27% em re-
lação ao ano anterior. Em setem-
bro de 2009 a empresa já tinha
dobrado o faturamento de 2008.
“Essa evolução se deve à conclu-
são de projetos que já estavam
em desenvolvimento”, explica
William Carnicelli, sócio do la-
boratório. Os projetos demoram
de três a quatro anos para serem
desenvolvidos.
Lucena explica que o Cietec
foi criado como o embrião do
Parque Tecnológico de São Paulo,
que deve ser inaugurado ainda
em este ano. As oito empresas que
o parque abrigará já foram sele-
cionadas, das quais sete delas gra-
duadas pelo Cietec. Enquanto na
incubadora as empresas possuem
salas de 50 m 2, no parque, serão
200 m 2 por empreendimento.
Hoje, esses espaços de inovação
estão agregando cada vez mais
atividades diferenciadas.
Segundo o vice presidente
da Associação Internacional de
Parques Tecnológicos (IASP, na
sigla em inglês), Maurício Gue-
des, em plenária durante o XIX
Seminário Nacional de Parques
Tecnológicos e Incubadoras de
Empresas, o conceito original
de um parque comum, como
um espaço dedicado somente a
Investimento do produto até que ele tenha via- possam ser graduadas e chegar empresas – onde se chega às oito
em produtos de bilidade de estar no mercado. à fase mercadológica. Em onze horas da manhã e se vai embora
baixa demanda Para receber esse serviço, a anos de incubação, as empresas às seis da tarde – está mudando.
física e alto valor empresa incubada precisa pagar do Cietec faturaram cerca de R$ “Devem ser criados espaços mais
agregado traz uma taxa de condomínio. No caso 175,8 milhões. As exportações abertos, para os quais não serão
bons resultados do Centro Incubador de Empresas renderam às incubadas U$ 290 atraídas somente empresas, mas
para a Alpha BR (Cietec) – espaço de empreende- mil. De acordo com José Carlos também pessoas, os chamados
dorismo e inovação de São Paulo Lucena, do Cietec, 30% das em- trabalhadores do conhecimento.
que está situado na cidade uni- presas incubadas fecham – o Portanto, serão áreas habitadas,
versitária da USP e é a maior incu- mesmo índice das empresas da bairros, onde há residências,
badora do país –, o condomínio incubadora que obtêm sucesso espaços para lazer, colégios e
para empresas residentes é de R$ no mercado nacional. também incubadoras e empre-
1 mil. As 122 empresas do Cietec, Exemplo disso é o caso da em- sas” (ver box). Assim, mais do
desde sua criação em 1998, já re- presa de produtos químicos Al- que um espaço empresarial, es-
ceberam R$ 58,2 milhões em re- pha BR, graduada em 2005, que ses parques representarão redes
cursos de programas como os da desenvolve tecnologia e produz sociais, mantendo o caráter de
Financiadora de Estudos e Proje- matérias-primas (fármacos) de empresas tecnológicas, voltadas
tos (Finep) e da Fundação de Am- alto valor agregado e baixa de- à inovação. Esta filosofia, de al-
paro à Pesquisa do Estado de São manda física para produção de gum modo, já foi implantada na
Paulo (Fapesp). É a partir desses anestésicos e sedativos para me- cidade mineira de Santa Rita do
financiamentos que as empresas dicamentos de uso hospitalar. O Sapucaí, onde o Arranjo Produti-
desenvolvem seus projetos para laboratório faturou R$ 1,15 mi- vo Local Eletroeletrônico faturou
que, num período de três anos, lhão em 2008, o que corresponde mais de R$ 1 bilhão em 2008.

22 ValorInovação
Plantando sequoias
Atrair pessoas com opções de cultura, lazer e educação é um dos

DIVULGAÇÃO
objetivos do Sapiens Parque de Florianópolis que foge dos padrões
tradicionais de parques tecnológicos. O projeto iniciado em 2000,
possui 4,5 milhões de m2 e está localizado no norte da Ilha de Santa
Catarina. A área foi concedida pelo Estado e, por isso, criou-se uma
empresa de Sociedade Anônima em que 93% do capital pertence
ao governo catarinense. Foram necessários dois anos para a conclu-
são do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) desta
área e mais um ano e meio para o licenciamento ambiental junto ao
Ibama. Isso porque o Sapiens Parque está localizado numa área de
mangue de Florianópolis. Dos 25 parques em operação no Brasil,
nove não possuem licença ambiental.
Revitalização
De acordo com José Eduardo Fiates, diretor executivo do Sa-
urbana de
piens, o parque vai desenvolver atividades que já são vocação de
bairro industrial
Florianópolis, como os setores de tecnologia e turismo. “São qua-
catalão: aposta
tro áreas consideradas de base: experiência, ciência, arte e meio
na economia do
ambiente que gerarão conhecimento para as áreas consideradas
conhecimento
estratégicas para a capital catarinense. Queremos consolidar um
grande shopping de inovação”, explica. Projetos como o Instituto do
Petróleo da Petrobras e o Laboratório de Farmacologia pré-clínica
do Ministério da Saúde, ambos em parceria com a Universidade Fe-
deral de Santa Catarina, terão investimentos de R$ 37 milhões e devem ser instalados no parque. Fiates acredita que a implantação
de todos os projetos previstos para o Sapiens se dará ao longo de
vinte anos, com uma área construída de 1 milhão de m2.
Desde a inauguração do marco zero, em abril de 2006, dez
empresas foram aceitas para atuar no parque. A AnimaKing, por
DIVULGAÇÃO

exemplo, foi instalada em 2007 no Studium Sapiens, que abrigará


um cluster de mídia e animação gráfica integrando instituições,
empresas e conhecimento gerado pelas universidades. A empresa
desenvolve animações gráficas para televisão e cinema e os 22
profissionais trabalham no primeiro longa-metragem brasileiro de
animação stop-motion, chamado “Minhocas”. O filme será lançado
em 2010.
Em Barcelona, ideia semelhante norteia a recuperação do anti-
go bairro industrial, o Poblenou, que está sendo revitalizado para
atender atividades intensivas em conhecimento. De acordo com
o plano estratégico da capital catalã, a região de Poblenou, co-
nhecida por 22A, era cercada de vias férreas e o principal motor
econômico da Catalunha. Abrigando indústrias pesadas e de forte
agressão ao meio ambiente, o bairro de Barcelona entrou em de-
cadência e, desde 2000, a região, agora chamada de 22@, vem
passando por uma revitalização urbana, para se tornar um centro
de inovação.
Desde o início do projeto, 1.441 novas empresas se instalaram
em Poblenou, das quais 69% pertencem a algum dos cinco seto-
res de atuação previstos no projeto 22@Barcelona: mídia, tec-
nologias médicas, design, energia e tecnologia da informação e
comunicação. Dos 42 mil novos trabalhadores de Poblenou, mais
da metade possuem graduação. O projeto, que está previsto para
Animaking traz
ser concluído entre 2015 e 2020, terá investimentos imobiliários
novidade para o
e de infraestrutura que somam 174 bilhões de euros.
setor nacional de
São empreendimentos caros e de longo prazo, que buscam ade-
entretenimento
quar os setores produtivos à economia do conhecimento.

ValorInovação 23
inovação aberta | por cora dias

pequenas empresas,
grandes resultados
Parceria ganha-ganha entre pequenas e grandes: acesso a novos
mercados para uma e redução dos custos de P&D para a outra

O
iPod não é uma invenção só da Universidade Federal de Santa de petróleo e derivados. Hoje, já
da Apple. O cultuado apa- Catarina que desenvolvia softwa- possui mais de cem funcionários,
relho existe apenas por- res de simulação para a Petrobras. escritórios no Rio de Janeiro, em
que pequenas empresas do Vale Em 1995, quando foi fundada, São Paulo e em Santiago, no Chi-
do Silício, como a Portal Player, a ESSS era incubada no Centro le. Além disso, passou a atuar em
participaram da sua construção Empresarial para Laboração de outros mercados – desenvolve,
com tecnologia e conhecimento Tecnologias Avançadas de Floria- customiza e comercializa softwa-
de mercado. A criação coletiva nópolis. A empresa ganhou proje- res próprios e de parceiros - diver-
entre pequenas e grandes empre- ção nacional ao desenvolver a bi- sificando sua carteira de clientes.
sas ocorre inclusive no Brasil e blioteca de programação COIlib, Mesmo assim, a gigante petrolí-
traz benefícios para os dois lados. junto com o Laboratório de Simu- fera brasileira ainda é a principal
Conhecido como open innovation lação Numérica em Mecânica dos responsável pelo faturamento da
(inovação aberta), esse modelo Fluidos e Transferência de Calor empresa.
possibilita que companhias pes- da UFSC. A COIlib foi base para No Brasil, de acordo com o Ins-
quisem e desenvolvam novos pro- importantes projetos na área de tituto Brasileiro de Geografia e Es-
Sinmec, dutos externamente através de simulação de reservatórios de pe- tatística, existem 14,8 milhões de
laboratório parcerias com outras empresas ou tróleo, criando um vínculo com o micro e pequenas empresas – 4,5
de simulação instituições privadas e públicas. Centro de Pesquisas da Petrobras, milhões formais e 10,3 milhões
numérica da A ESSS, por exemplo, foi criada para realizar pesquisa e desenvol- informais – que respondem por
UFSC, que deu a partir de um grupo de pesqui- vimento nas áreas de exploração, 28,7 milhões de empregos e por
origem à ESSS sa e desenvolvimento da (P&D) produção, refino e distribuição 99,23% dos negócios do Brasil. Em
2007, o valor exportado por essas
companhias foi de R$ 2,1 bilhões,
com alta de 12,4% em relação a
2006.
DIVULGAÇÃO EMC

As MPEs que desenvolvem ino-


vações possuem características
comuns: estão, na maioria das
vezes, ligadas às universidades e
com uma equipe técnica de alta
qualificação. Na ESSS, 97% de seus
funcionários possuem nível supe-
rior completo, dos quais 11% são
doutores. Dessa forma, há uma
transferência clara do conheci-
mento gerado nas universidades
para o mercado.
Dados da última Pesquisa de
Inovação Tecnológica do IBGE, di-
vulgada em 2007 e referentes aos
anos de 2003 a 2005, mostram
que 32 mil empresas do setor
produtivo e de serviços incorpo-
raram inovações de produtos ou

24 ValorInovação
processos no Brasil. Dentre todas A VANguard, graduada em A operação foi concluída e o
as novas tecnologias, 25 mil saí- 2001 na incubadora CESAR, de negócio, estimado pelo merca-
ram de outras empresas e institu- Recife, é considerada parceira do em US$ 10 milhões, garanti-
tos ou da cooperação entre esses premier, classificação adotada rá à gigante do setor mineração
agentes. pela IBM, está licenciada para re- corpo técnico qualificado para a
Pelo menos na busca de inven- vender suas soluções, bem como busca por reservas de petróleo e
ções, as pequenas levam vanta- implementá-las e dar treinamen- gás. Com a compra da PGT, a Vale
gem. “Os negócios de menor por- tos para quem as compra. Luciana incorporou todo o quadro téc-
te podem responder mais rapida- explica que, a partir da parceria, a nico da empresa, de cerca de 50
mente às demandas do mercado”, IBM aumenta sua rede de serviços, funcionários. Desde 2007, a PGT
diz André Calazans, analista de o que sozinha ela não conseguiria prestava serviço de avaliação na
projetos da Finep. Empreendi- fazer. “Enquanto isso nós temos área de exploração para a Vale e
mentos menores têm um diferen- acesso à tecnologia de ponta de- assessorou a mineradora na com-
cial difícil de bater: o alto grau senvolvida pela gigante do setor pra de nove blocos na 9ª Rodada
de especialização. Mas a mesma de TI”, conta. Embora a VANguard de Licitações da Agência Nacional
estrutura enxuta que barateia as possua outros clientes, a IBM é do Petróleo (ANP), todos em par-
pesquisas também pode atrapa- responsável por cerca de 70% do ceria com empresas de petróleo. A
lhar os pequenos na hora da co- seu faturamento. “Há sempre um Vale decidiu entrar no setor ainda
mercialização. Sem tantos recur- risco, quando uma empresa tem em 2007, em busca principalmen-
sos para investir em marketing e grande parte de seu faturamento te de reserva de gás para garantir
distribuição, fica difícil competir atrelado a somente um fornece- suprimento de energia para suas
em pé de igualdade com os gran- dor ou cliente. Porém, a chance de atividades.
des nomes do mercado. um fornecedor como a IBM mudar Com faturamento estimado
A simbiose entre pequenas e a sua forma de atuação ou mesmo em R$ 10 milhões por ano, a PGT
grandes empresas auxilia tam- apresentar resultados negativos é é especialista em identificar áreas
bém na diversificação de clientes. mínima”, explica Luciana. com potencial para descobertas
Essa alavancagem ocorre quando Um risco que as MPEs inova- de petróleo. Além da Vale, figura-
a gigante recomenda a MPE para doras enfrentam ao se aproximar vam entre seus clientes as brasi-
outras parceiras que necessitem de grandes corporações é o de se- leiras Queiroz Galvão e Starfish, a
de um serviço semelhante presta- rem absorvidas por elas. Foi o que norueguesa Norse Energy e a co-
do para ela. É o que a IBM faz com aconteceu com a PGT, empresa lombiana Ecopetrol. Para Alfredo
a VANguard, empresa de consul- graduada pela incubadora de em- Laufer, da Coppe/UFRJ, se a aqui-
toria no gerenciamento de infra- presas Coppe/UFRJ, da Universi- sição pela Vale fosse prejudicial, a
estrutura e Tecnologia da Infor- dade Federal do Rio de Janeiro. A PGT não teria fechado o negócio.
mação (TI). “A parceria com a IBM empresa de consultoria, análise e “A tecnologia desenvolvida pela
é muito boa porque ela nos traz interpretação de dados de bacias consultoria era essencial para os
serviços e nos indica para outros petrolíferas, que possuía clientes novos negócios da mineradora,
clientes”, conta Luciana Varejão, em outros países, foi comprada por isso houve negociação. Em
sócia da empresa. pela Vale em 2008. nenhum momento vimos isso

Compromisso com a mudança


A inovação entrou de vez na pauta do setor produtivo nacional. De acordo com o documento, 6 mil empresas brasileiras re-
Durante o 3° Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria, reali- alizam pesquisa e desenvolvimento e 30 mil declaram inovar em
zado em 19 de agosto, pela Confederação Nacional das Indústrias produtos e processos. A meta principal do manifesto é duplicar o
(CNI), lideranças políticas e empresariais se reuniram para debater número de empresas brasileiras inovadoras nos próximos quatro
e lançar um manifesto, assinado por representantes de diversos anos. “A inovação, em qualquer país, é fruto de uma forte parceria
segmentos do segundo setor, confirmando a responsabilidade da entre governo e setor privado. Passos importantes foram dados ao
categoria de investir em estratégias inovadoras: “Inovação é uma posicionar a inovação no centro da política industrial”, conclui o pre-
atividade coletiva, em que a empresa é o ator principal, mas que sidente da CNI, o deputado federal Armando Monteiro (PTB/PE).
depende de boa infra-estrutura, sólidas instituições de pesquisa e No dia 23 de outubro, o manifesto foi entregue ao Presidente Luiz
boas universidades”. Inácio Lula da Silva.

ValorInovação 25
inovação aberta |

como algo ruim, mas sim como formação e Comunicação (TIC) é Informação e Comunicação (TIC)
reconhecimento do trabalho da comum que o processo de inter- instaladas em incubadoras e par-
PGT”, explica. nacionalização se dê por meio de ques tecnológicos de todo o país.
A Universidade Federal do Rio parceria entre empresas. A ESSS, A meta do projeto é elevar o
de Janeiro possui tradição no se- por exemplo, chegou ao mercado patamar de exportações, pas-
tor de petróleo e gás e abriga o externo quando passou a atuar sando dos U$ 100 mil obtidos
Cenpes, Centro de Pesquisa e De- como revendedora das soluções em 2008 para U$ 1,9 milhão em
senvolvimento da Petrobras (ver da ANSYS, empresa americana 2009 e U$ 2,3 milhões em 2010.
box abaixo). A maioria das ativi- que também desenvolve ferra- ”As MPEs precisam entender que
dades das empresas da incubado- mentas de simulação virtual. o processo de inovação está dire-
ra da Universidade está voltada Com um escritório no Chile e tamente ligado à internacionali-
para atender ao setor. projetos em Houston, nos EUA, e zação. Para isso investimos tam-
na Argentina, a ESS desde o ano bém na capacitação de gestores
Internacionalização passado alcançou faturamento para que conciliem os dois pro-
O movimento de internaciona- superior a R$ 10 milhões e pode cessos”, explica Alessandro Tei-
lização das cadeias produtivas e o ser considerada empresa de mé- xeira, presidente da Agência. Os
de globalização da economia ti- dio porte, o que mostra que as pe- mercados-alvo iniciais do proje-
veram como agente a grande em- quenas empresas devem e podem to são Estados Unidos, México,
presa. Esse processo também pos- crescer. França, Reino Unido, Alemanha,
sibilita, de forma menos evidente, Alguns programas desenvol- Portugal, Espanha e Colômbia.
a entrada de pequenas empresas vidos pela Agência Brasileira de A internacionalização de pe-
no mercado global. Mediante as- Promoção de Exportações e Inves- quenas empresas é, inclusive,
sociações com empresas locais, timentos (Apex-Brasil) e pelo Ser- uma das quatro metas-país da Po-
como é o caso da VANGuard tra- viço Brasileiro de Apoio às Micro e lítica de Desenvolvimento Produ-
balhando em parceria com a IBM, Pequenas Empresas (SEBRAE) au- tivo do governo federal. O objeti-
ou integrando cadeias produtivas xiliam especificamente as MPEs. vo é aumentar em 10% o número
transnacionais, como aconteceu Um deles oferecerá, em dois anos, de MPEs exportadoras em 2010,
com a PGT. R$ 6 milhões em recursos para frente a 11.792 empresas que ex-
No setor de Tecnologia da In- apoiar empresas de Tecnologia da portavam em 2006.

Parceria

DIVULGAÇÃO
O projeto Redes Temáticas, da Petrobras, assinado em conjunto
com reitores de universidades e diretores de institutos de pesquisa,
teve início em 2006. Nesses três anos, a empresa investiu R$ 1,8
bilhão nas 80 instituições brasileiras de pesquisa e desenvolvimento
com as quais tem parceria. Através do projeto, a Companhia definiu
50 redes temáticas relacionadas às metas tecnológicas da Petro-
bras, definidas a partir de seu plano de negócios.
Em 2004, o valor destinado às instituições nacionais de P&D
foi R$ 89 milhões; já em 2008, estes investimentos totalizaram
R$ 443 milhões. O gerente executivo do Centro de Pesquisas e
Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), Carlos Tadeu da Costa
Fraga, conta que o Brasil passou a ter laboratórios de classe mun-
dial que antes só existiam no Hemisfério Norte, como o Calibrador Sede do Cenpes
Hidrodinâmico, na USP, o Núcleo de Tecnologia de óleo e Gás, no Es- na UFRJ:
pírito Santo e o Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Petrobras
Soldagem na UFRJ. Além da Petrobras e das instituições nacionais possui 50 redes
de P&D, o modelo das redes conta com outros importantes atores, temáticas em
como a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), parceria com
a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e os ministérios da 80 instituições
Ciência e Tecnologia (MCT) e de Minas e Energia (MME). nacionais

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