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Texto publicado na edição da Revista Ser Médico (Edição 50, de jan/fev/mar


de 2010).

“Nossos adolescentes atuais parecem amar o luxo. Têm maus modos e desprezam a
autoridade. São irrespeitosos com os adultos e passam o tempo vagando nas praças,
mexericando entre eles. São inclinados a contradizer seus pais, monopolizam a
conversa quando estão em companhia de outras pessoas mais velhas; comem com
voracidade e tiranizam os seus mestres".

Embora pareça atual, esta observação foi feita por Sócrates há mais de 2.500
anos e ilustra o muito que já se falou sobre o assunto. Além de período de tomadas de
decisões, a adolescência é uma fase de vulnerabilidades e oportunidades. Rondam-na,
ao mesmo tempo, a sorte e o perigo. É, também, a de maior aprendizado da vida,
marcada pela criatividade, expansão dos horizontes, esperança e experimentação. No
aspecto neurológico, há intensa poda e reconexão neuronal. O desenvolvimento de
novas conexões conduz, para o bem e para o mal, à fixação de comportamentos ou
habilidades.O adolescente está propenso aos novos contatos, ao descobrimento do amor
e das habilidades musicais e artísticas, do sexo e, infelizmente, do álcool, tabaco e
outras drogas. A impulsividade, a inexperiência e a receptividade intrépida aos desafios
podem levar a consequências indesejadas, como a gravidez precoce, acidentes
automobilísticos e brigas corporais.

Some-se a isso a pressão de grupos para condutas de riscos e o silêncio dos pais,
muitas vezes descritos como amigões e camaradas – ledo engano. Aos pais não cabe
apenas o papel de bom amigo. A vida gera frustrações, e privar o adolescente de ouvir
"não" é uma forma eficiente de conduzi-lo a tombos maiores no futuro. E os pais devem
saber dar exemplos – mais que com palavras – com o seu próprio comportamento.

Se a adolescência é, por si, uma fase preocupante desde Sócrates, a constatação


atual de muitos estudos sobre o consumo de álcool a transformou em um grave
problema de saúde pública. A idade de início de consumo vem caindo a cada
levantamento. Quanto mais precoce o contato com álcool, maior a possibilidade de o

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relacionamento com a bebida evoluir a um padrão nocivo e o risco de dependência e
desenvolvimento de doença crônica – prevalente em cerca de 10% da população
brasileira, em alguma fase da vida. E mais, aumenta o risco de tabagismo – que leva à
redução média de 10 anos na expectativa de vida – e a chance de consumo de outras
drogas, como maconha e cocaína, entre outras.

Estatísticas do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas


(Cebrid ) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) alertam para o fato de que os
jovens bebem frequentemente e desde muito cedo. Dados do Cebrid apontam que 42%
das crianças entre 10 e 12 anos já experimentaram álcool. Pesquisa recente sobre o
consumode drogas em populações de risco, do Centro de Referência de Álcool, Tabaco
e outras drogas (Cratod), revelou que seu uso começou aos 7, 8 ou 9 anos! Nessa
população, o álcool e o tabaco geralmente apresentaram-se como precursores de drogas
ilícitas como a maconha e o crack. Levantamento nacional da Unidade de Pesquisa em
Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp indica que as meninas já bebem tão frequentemente
quanto os garotos. Nessa fase, o padrão frequente de ingestão é de cinco unidades de
álcool por ocasião ou quatro, para mulheres – que são mais vulneráveis aos seus efeitos
nocivos e à dependência.

Cada unidade equivale a 10 gramas de álcool. O consumo nesse padrão pode


prejudicar a tomada de decisões e o desempenho escolar, além de favorecer o
envolvimento em brigas, a experimentação de outras drogas e a prática de sexo
inseguro, aumentando o risco de DSTs e gravidez indesejada.Segundo o National
Institute of Health, a idade média de primeiro consumo vem caindo – de 17 anos em
1987, para 15 em 1996 e, finalmente, para 13 em 2003! Estamos falando de uma doença
pediátrica e há fortes motivos para pensar que o mesmo ocorra no Brasil. E, talvez, até
de maneira mais dramática, visto que não há fiscalização (apenas leis) sobre a venda de
bebida aos menores.

Um estudo conduzido pela psicóloga Denise Leite Vieira indica que o início do
consumo de álcool ocorre na própria casa. Aos pais que pensam ser melhor às crianças
beberem sob supervisão, o correto é criança não beber. Também cabe à sociedade
exercer controle sobre o consumo de álcool pela exigência de políticas públicas. A
proibição da propaganda, a redução de pontos de venda e o aumento do preço das

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bebidas demonstram certa eficiência nesse controle em alguns países, embora o Brasil,
nada tenha feito nesse sentido. Amparada em altos lucros e poderosas ferramentas de
comunicação, a propaganda de bebidas goza de relativa liberdade no país. Além disso, é
praticamente impossível andar mais de 500 metros, em qualquer cidade brasileira, sem
encontrar um ponto de venda de bebida. Sem contar que um litro de aguardente tem
preço inferior a um litro de álcool combustível. Estudos em duas cidades paulistas de
características diferentes, Diadema e Paulínia, tiveram resultados semelhantes em
relação à probabilidade de um adolescente de 15 anos (aparentando a idade real)
conseguir comprar bebida alcoólica em estabelecimentos comerciais. Cerca de 90% dos
jovens conseguiram fazê-lo e, na maioria das vezes, sem a solicitação de quaisquer
documentos.A proibição de venda de bebidas a menores é largamente descumprida.
Uma lei só será respeitada se bem fiscalizada e a sociedade cobrar seu cumprimento.

É frustrante, nesse sentido, observar que a fiscalização da lei que versa sobre o
beber e dirigir seja mais branda atualmente. A fiscalização intensa no início de sua
vigência poupou muitas vidas, principalmente de adolescentes que misturam a
inabilidade na direção com o binge drinking (uso excessivo de álcool em uma única
situação).O efeito da propaganda sobre o comportamento adolescente é bem
documentado e motivo de preocupação da comunidade médica mundial. Embora a
indústria do álcool e tabaco argumente o contrário, sua publicidade é dirigida às
crianças e jovens, com forte apelo emocional, que envolve elementos associados ao
glamour, alegria, festa, popularidade, maior poder de conquista etc. Frequentemente,
utiliza ícones do esporte, da música e da cultura popular como garotos-propaganda.

Em relação ao álcool, seria um avanço acompanhar a política adotada contra o


tabagismo, que foi reduzido à metade no Brasil em 15 anos. As leis foram mais claras e
coibiram a propaganda de tabaco vinculada aos esportes e eventos culturais. No entanto,
a poderosa indústria do álcool conseguiu que a proibição da propaganda de bebidas se
restringisse àquelas de teor alcoólico superior a 13 GLs. A recente notícia de que uma
marca de cerveja brasileira patrocinará a Copa do Mundo de 2014 é um revés duro para
a saúde pública.Ainda em relação ao tabagismo, a sociedade foi muito ativa no
cumprimento da recente lei antifumo e cada cidadão passou a ser um fiscal, pois a
percepção dos benefícios foi imediata, mesmo entre a maioria dos fumantes. Proteger
adolescentes que começam a fumar em festas e casas noturnas – por pressão do grupo

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ou "apelo" social –, além dos trabalhadores nesses ambientes, constituiu uma dupla
vitória. Mas ainda não podemos comemorar: embora a venda de cigarros seja proibida
para menores, a prevalência de tabagistas entre adolescentes de 17 anos já é quase igual
à da população adulta, indicando que essa lei, assim como a do álcool, também é
largamente descumprida.

Há esperanças? Sim, as estatísticas sugerem que a maioria dos jovens não


evoluirá para padrões problemáticos de consumo de álcool. Mas uma grande parcela
poderia estar melhor protegida se houvesse medidas efetivas de prevenção seletiva
(como a detecção precoce) e universal (bloqueio de propaganda, por exemplo).

É fundamental compreender a adolescência como uma fase em si, e não apenas


uma transição entre outras duas, bem definidas – infância e vida adulta. Compreendê-la
e abordá-la requer atitude positiva, na qual o termo "aborrecente" não apenas se revela
inútil, mas cheio de preconceitos que tendem a aumentar a incompreensão entre
gerações. O adolescente não é uma criança em corpo de gente grande ou um adulto que,
às vezes, age impulsivamente. É um adolescente, com crises, glórias, preocupações e
ambições. Um novo modo de olhar esse jovem, caso queiramos abordá-lo, deveria
começar pelo maior interesse em que se cumpram as leis já existentes para protegê-lo, o
que dificilmente será conseguido com um discurso frio e austero. Sem cercear a
felicidade ou a liberdade do adolescente, essa preocupação deve fundamentar-se na
preservação de seu potencial, na promoção de um estilo de vida saudável e na proteção
da exposição precoce ao uso de substâncias psicoativas.

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