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Questões sobre jornalismo

e ideologia
Adelmo Genro Filho

O conceito já vulgarizado pelos meios de comunicação sociedade, há níveis da realidade cujos processos se
de massa de que o jornalismo “é a História do dia-a-dia” conjugam e alternam sua principalidade definindo con-
encerra uma contradição que pode ser desdobrada de junturas. Isso torna o sistema social qualitativamente
maneira fecunda para a discussão do tema. Sem buscar diferente dos modelos cibernéticos ou sistemas conheci-
qualquer transposição mecânica, a referência à Histó- dos, na medida que se fundem níveis da realidade social
ria implica que a informação jornalística requer uma numa mesma totalidade histórica.
determinada elaboração subjetiva (no sentido que não A incompreensão da especificidade do sistema social
é um reflexo direto da realidade, como quer a concepção e do homem como síntese dos diversos níveis de sua
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acadêmica) e, além disso, implica numa totalização mais exis-tência, isto é, sua natureza biológica, antropológica
ampla de que as meras circunstâncias nas quais o fato e sobretudo histórica (econômica, política, ideológica e
está envolvido. Nessa dimensão histórica do jornalismo, cultural) conduz a graves distorções teóricas. A aplicação
onde também se nutre cada informação, delineia-se, mecânica da Teoria da Informação ao jornalismo é uma
inequivocada-mente, seu caráter ideológico. delas. Há uma frase muito difundida que pode ilustrar
A referência ao cotidiano expressa no conceito vulgar esse fato: “se um cão morde um homem não é notícia,
leva-nos à reflexão que não apenas os grandes aconteci- mas se um homem morde um cão a notícia é excelente”.
mentos (en-tendidos como as transformações qualitativas Realmente, a probabilidade de que um homem avance a
de uma de-terminada dimensão da vida social) formam dentadas contra um cão é bem menor do que a probabi-
a matéria-prima da informação jornalística. Muitos fe- lidade de novas torturas a presos políticos no Chile, por
nômenos aparentemente sem importância, por estarem exemplo. Tecnicamente, portanto, a primeira notícia é
inscritos no seio de conflitos fundamentais da sociedade mais importante do que a última, contém maior quan-
e por possuírem um sentido laten-te, podem ser objeto tidade de informação segundo a visão matemática da
do jornalismo. Teoria da Informação. Entretanto, é fácil perceber que a
Assim como há uma hierarquia de contradições na notícia sobre as torturas do Chile tem mais significado e

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importância. Pelo fato de conter mais univer- Na sociedade, existência da natureza e da sociedade que
salidade e ser um fenômeno ligado ao conflito
nem tudo que se contém reciprocamente e se expressam
fundamental de nossa época. Por isso, embora através dessas categorias. No universal,
representa
seja um evento de maior probabilidade e que estão contidos os diversos fenômenos
em Teoria da Informação significa menos in-
informação singulares e os grupos de fenômenos par-
formação, será uma notícia qualitativamente tecnicamente ticulares que o constituem. No singular,
superior. definida através da identidade, estão con-tidos o
Antes de buscar uma explicação mais sis- (fenômenos particular e o universal, dos quais é parte
tematizada para esse ponto, convém expor de pouca integrante. O particular é exata-mente o
o conceito de jornalismo que representa o probabilidade) ponto intermediário entre ambos, a sín-
axioma dessas reflexões e fazer algumas
revela-se tese das demais determinações.
considerações: o jornalismo é um processo Na sociedade, nem tudo que representa
significativo no
sistemático de transmissão coletiva de infor- informação tecnicamente definida (fenô-
mações crista-lizadas em eventos singulares,
processo global menos de pouca probabilidade) revela-se
historicamente determinado pelo desen- das relações significativo no processo global das rela-
volvimento das relações capitalistas e pela sociais ções sociais. Em se tratando da sociedade,
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decorrente complexificação da sociedade e não importa unicamente o aspecto quan-
diversificação dos papéis sociais. titativo da informação para que ela seja
Para o entendimento correto dessa crista- eficaz. Interessa, fundamentalmente, ao
lização da informação nos eventos singulares homem, como sua ferramenta para a ação
(que são a matéria-prima do jornalismo) é e o pensamento, informações vinculadas
preciso estabelecer as relações desse conceito aos processos básicos da sociedade e suas
de “singularidade” com outros que a ele estão contradições. É a dialética da trans-for-
indissoluvelmente ligados. Existe uma relação mação da qualidade em quantidade e
dialética entre singularidade, particularidade vice-versa, cujas categorias mostram aqui
e universalidade, categorias do pensamento toda a extensão de sua riqueza teórica.
que representam aspectos objetivos da rea- Esse processo global que serve como
lidade. Cada um desses conceitos (singular, critério da qualidade da informação nada
particular e universal) é o reflexo verdadeiro mais é do que a História, dimensão mais
de uma das diferentes dimensões da realida- totalizante da evolução humana. Enfim,
de, que contém em si as demais. São formas de se um homem morde um cão isso não tem
o menor significado no processo histórico, A informação jornalística é um corte verti-
porque é um fato singular que não contém cal na horizontalidade da História (é o tempo
nenhuma universalidade, não indica nenhu- presente) e não tem como função descobrir
ma tendência na evolução ou transformação as leis do desenvolvimento, mas divulgar
da sociedade. Então, se o singular é a maté- os fatos singulares na perspectiva daquelas
ria-prima, a forma pela qual se cristaliza o leis. Qualquer fenômeno singular não existe
jornalismo, o critério de valor da informação isoladamente, sem um conteúdo de particu-
vai depender (contradito-riamente) da uni- la-ridade e universalidade que precisa ser
versalidade que contém. Sin-gular, portanto,
Então, se o exposto, para que possa ser compreendido e
é a forma de jornalismo, não seu conteúdo. singular é a ampliado seu significado aparente.
Nesse sentido, é interessante observar que matéria-prima, Portanto, a caracterização da informação
o jornalismo não só fornece subsídios para a forma pela jor-nalística como um fenômeno essencialmen-
a ciência histórica, como tem função social qual se cristaliza te efêmero é unilateral. Dizer que “não existe
semelhante. Ele fornece dados sobre o pre- o jornalismo, o nada mais velho que o jornal de ontem”, como

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sente (a História o faz principalmente com o
critério de valor querem alguns, é apenas meia verdade. No
passado) para que o homem possa, de certa máximo, essa caracterização corresponde a um
da informação
forma, prever os acontecimentos futuros. tipo de jornalismo muito em voga atualmente,
No entanto, é preciso ver também a diver-
vai depender que ex-pressa unicamente o efêmero e afasta
sidade. A informação jornalística enquanto (contradito- as rela-ções e os significados, tornando-o to-
não incorporada à generalização histórica riamente) da talmente estéril. É a forma singularizada da
age dentro da sociedade numa dimensão universalidade informação tornando-se também seu conteúdo.
temporal mais estreita. A História caminha, que contém. O “jornal de ontem” representa, de fato, uma
no sentido das totalizações mais gerais do Singular, etapa superada, um momento passado que foi
movimento social. Noutras palavras, não
portanto, é assimilado ao novo presente. Mas, ao mesmo
interessa para a História os fatos singulares tempo, deve conter na singularidade uma
a forma de
enquanto não relacionados com as genera- determinada relação causa-efeito envolvendo
lizações e as leis. O jornalismo, tratando
jornalismo, não o passado e o futuro, através de uma genera-
de fenômeno desta mesma vida social, tem seu conteúdo lização limitada no corpo mesmo do singular.
como eixo os eventos singulares. É neles, e Para isso, o jornalismo deve selecionar os fatos
de forma assistemática, que os significados sociais desde uma visão histórica (capaz de
gerais insinuam-se. apreender as contradições e o dinamismo da

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sociedade), para situá-los numa conjuntura determi-
nada sem retirar deles a marca estrutural.
As características da informação jornalística assim
definidas estão determinadas também de um ponto
de vista ético, mas uma ética vinculada à teleologia
histórica da trans-formação e evolução da sociedade.
O próprio surgimento do jornalismo, ao que parece,
não surgiu apenas como necessidade ideológica da
burguesia, como simples interesse de classe no sentido
de propagar suas idéias políticas, éticas ou culturais.
Nem mesmo para homogeneizar comportamentos ou
impulsionar o consumo. Esses fatores foram comple-
mentares nas condições históricas que originaram o
jornalismo. A causa fundamental parece ter sido mui-
to mais a complexificação decorrente do desenvol-vi-
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mento capitalista e a diversificação dos papéis sociais.
A sociedade acelerou sua dinâmica e adquiriu maior
integração e interdependência, tornando o processo
da informação interpessoal insuficiente nesse novo
contexto. Disso, pode-se concluir que o jornalismo
tem uma função social historicamente determinada
que pode extravasar os interesses ideológicos da classe
que o gerou. A esterilização da informação jornalística,
através da singularização do conteúdo dos fatos é a
negação das possibilidades históricas do jornalismo. É
a maneira pela qual o capitalismo busca, atualmente,
adaptá-lo às suas necessidades imobilistas.
A informação jornalística, que na etapa ascen-
sional do sistema capitalista era um fator esta-
bilizador, agora pode vir a representar um perigo
iminente, devido ao próprio aguçamento das con-
tradições sociais.

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