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CORREIO BRAZILIENSE

Brasília, sábado, 22 de abril de 2000

...ONDE AINDA É BRASIL...

Georgetown — Guiana / Foto: Tiago Santana

ANTONIO AUGUSTO FONTES, ELZA LIMA, CELSO OLIVEIRA, TIAGO SANTANA, ED VIGGIANI MOSTRAM OS

LIMITES DA PÁTRIA
UMA VIAGEM FOTOGRÁFICA NAS FRONTEIRAS DO PAÍS
2 Brasília, sábado, 22 de abril de 2000 CORREIO BRAZILIENSE

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■ Trecho da Carta do Brasil no Atlas Miller atribuído a Lopo Homem-Reinéis, 1519, Bibliothèque Nationale de France, Paris

...AMPLO TERRITÓRIO
DEMARCADO PELA PRESENÇA
DOS TUPIS-GUARANIS.
FRONTEIRAS CULTURAIS
DE CARNE E OSSO LOGO
AMEAÇADAS PELO FERRO
E FOGO COLONIZADOR.
MAIS TARDE, O QUE SE DEFINIU
COMO TERRITÓRIO BRASILEIRO,
NASCERIA DE UMA INTEGRADA
CERTIDÃO ÉTNICA VINDA DO ÍNDIO ■ Em 1500 os tupis-guaranis
ocupavam grande extensão
OCUPANTE DA IMENSA ÁREA... territorial do que viria ser Brasil.
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AS VITÓRIAS FRONTEIRAS CONQUISTADAS PELA PACIÊNCIA, ERUDIÇÃO E ARGUMENTOS IMBATÍVEIS CRONOLOGIA


BARÃO DO RIO BRANCO
DO BARÃO 1845 — Nasce José Maria da Silva
Paranhos Júnior, filho de José Maria da

DO RIO Silva Paranhos e de d.Teresa de


Figueiredo Faria Paranhos;
1862 — Entra na Faculdade de Direto

BRANCO de São Paulo;


1864 — Publica os Episódios da Guerra
da Prata, na Revista do Instituto
A Questão das Missões envolvia
Científico, sob o pseudônimo de X;
a zona de Palmas, no oeste do
Paraná e Santa Catarina, em 1866 — Completa o curso de direito
região conquistada pelos no Recife. Ilustra a Guerra do Paraguai
bandeirantes no século XVI. A para L’Illustration;
Argentina desejava a área em 1867 — Ganha 12 contos na loteria e
1878. Foi aí que o barão recebeu

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vai para a Europa;
o apelido ‘‘o gênio das
minúcias’’, tal sua detalhada 1868 — Leciona na cadeira de História
do Brasil no Colégio Pedro II.
argumentação e alinhamento de
dados. A qualidade do discurso 1869 — Eleito deputado por Mato
também influiu na contenda, Grosso.Acompanha o pai a Assunção nas
pois o presidente dos EUA, negociações finais da Guerra do
Grover Cleveland, árbitro do Paraguai;
litígio, acabou decidindo pela 1870 — O pai é feito visconde do Rio
posse brasileira em 1895. Assim Branco;
continuou a vitoriosa campanha
de Rio Branco na Questão do 1871 — Seu pai, presidente do
Conselho de Ministros, consegue
Amapá (1900) com a França; a aprovação da Lei do Ventre Livre;
do Acre (1867), (1903,1909); a do Paranhos é o principal redator do jornal
Pirará com as Guianas abolicionista A Nação;
Britânicas (1904); a da Guiana
Holandesa (1906); a da 1872 — Dissolvida a Câmara, Paranhos
Colômbia (1907); a do Peru é reeleito por Mato Grosso. Começa a
Questão Religiosa;
(1909) e o uso comum das águas
do rio Jaguarão e Lagoa Mirim 1875 — O visconde do Rio Branco
com o Uruguai (1909). renuncia ao governo;
1888 — Abolição da escravatura em 13
de maio; Paranhos feito barão do Rio
Branco em 19 de maio;
1889 — Trabalha no verbete Brésil da
Encyclopédie de Levasseur, no Esquisse sur
l’histoire du Brésil en 1889, e na biografia
de d. Pedro II. Proclamação da República;
1891 — Escreve Efemérides e as Cartas
de França; Morre d. Pedro II em 5 de
dezembro;
1898 — Escolhido representante do
Brasil em Berna na Questão do Amapá e
eleito para a Academia Brasileira de
Letras;
1900 — A Suíça pronuncia-se a favor do
Brasil quanto ao Amapá;
Caricatura de Bluff Storni
em O Filhote, de 1909: 1901 — Aceita o convite de Rodrigues
‘‘Estrangeiros, a gritaria de Alves para ser seu ministro das Relações
vocês não espanta’’ Exteriores;
1902 — Começa a negociar com a
Bolívia sobre o Acre;

Mais de uma vez hei assegurado que aqui no Brasil todos os homens dirigentes e, em geral, todos 1903 — Assina com a Bolívia o Tratado
os brasileiros, mui sinceramente desejam para os países nossos confinantes tudo quanto de de Petrópolis, em 17 de novembro;
favorável desejamos para a nossa própria pátria. A influência dos bons como dos maus 1909 — Resolvida a Questão do Peru, a
exemplos faz-se sentir não raro, mais ou menos, em todas as províncias da Humanidade, e o que favor do Brasil, no Tratado de 8 de
convencidamente queremos, e devemos querer, é que os povos com quem vivemos mais em setembro. Morte de Machado de Assis e
contato sejam felizes e prósperos, porque tal situação traz necessariamente a predominância dos Euclides da Cunha;
sentimentos pacíficos e conservadores e porque o espetáculo dos seus progressos só poderá 1912 — Renuncia, ofendido pelo
estimular o nosso patriotismo e gênio empreendedor.’’ bombardeio da Bahia. Hermes da
Fonseca convence-o a ficar. Morre às
■ Discurso do barão de Rio Branco ao completar 60 anos festejados no Itamaraty em 1909. 9h01 no dia 10 de fevereiro;
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Ciudad del Leste-Foz do Iguaçu / Foto: Antonio Augusto Fontes

A NATUREZA ESTÁ COLADA À CARNE DAS PESSOAS, ESTÁ NA ARQUITETURA


DAS FACES, NA QUALIDADE DA LUZ, NA MISTURA COM A VEGETAÇÃO,

Antonio Cândido falava de li- mação de cultura em meios às tentações do pitoresco e da com grande força, ao contrário nas águas; constantemente o
teratura, mas suas palavras apli- pouco desenvolvidos cultural- ‘‘macumba para turistas‘‘ de do que sempre se afirma; só que olhar do leitor é dirigido para as
cam-se a outras atividades do mente; de modo que a criação que falava Oswald de Andrade. está na filigrana, entrosada com ondas furiosas ou acariciantes.
mundo do espírito:um traço sa- intelectual, em particular a lite- Eles parecem conscientes do a caracterização e condução da A ligação é tão completa que o
liente (do artista) latino ameri- rária, se torna, (numa perspec- axioma de Roger Bastide a pro- trama. Interiorizada, incorpo- ciúme do herói só se precisa
cano é o cunho militante em tiva ’ilustrada’ que vem de lon- pósito de Machado de Assis: a rada à estrutura narrativa. pouco a pouco, depois de se
que ‘‘levado com freqüência a ge) contribuição para construir de que o cunho de autenticida- Bastide escreve sobre Dom desviar, de hesitar entre o mar e
participar da vida política e dos a nação, dando-lhe um timbre de não depende da atenção os- Casmurro: o amigo (...)’’
movimentos sociais, em boa de grandeza. A segunda conse- tensiva aos traços característi- ‘‘(...) O pedaço de praia entre O paisagismo dos cinco fotó-
parte porque as condições do qüência é que o intelectual ten- cos do país. ‘‘ O descritivismo, a a Glória e o Flamengo une com grafos aspira à mesma presença
meio o empurram neste senti- de com freqüência a se politizar presença indiscreta da paisa- a sua areia úmida, sua geografia quase virtual do Brasil: a natu-
do. Isto produz duas conse- no sentido estrito, mais do que gem e dos tipos exóticos podem oceânica e sentimental a casa reza está colada à carne das pes-
qüências. A primeira é que a ati- nos países cuja sociedade e cul- constituir, ao contrário, visão de Casmurro e a de Escobar; to- soas, está na arquitetura das fa-
vidade intelectual se torna em tura estão sedimentados de lon- externa, ponto de vista de es- dos os acontecimentos do dra- ces, na qualidade da luz, na mis-
si mesma, pelo simples fato de ga data. trangeiro, e não compreensão ma se situam em dois planos tura com a vegetação, no perfu-
existir, um ato de participação, Mas não se pense que o traço profunda e autêntica.‘‘ estreitamente misturados, do- me da floresta, nos jardins ador-
por vezes quase de militância, de nossos ‘‘concerned photo- Para Bastide, em Machado de çura da luz na água e nos espíri- mecidos e nas noites tépidas do
na medida em que é uma afir- graphs‘‘ os tornou vulneráveis Assis a paisagem está presente tos, tempestades nos corações e trópico.
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São Jorge do Oiapoque - fronteira com a Guiana Francesa / Foto: Elza Lima

COMO É QUE O BRASIL GANHOU ESTA CARA?


TT Catalão leva o rei Francisco I da França a Plácido de Castro (1873-1908) e política. Mas os fotógrafos o interior, para a visão política e
Da equipe do Correio ironizar: ‘‘Quero ver a cláusula que chefiou 33 seringueiros em deste projeto revelaram uma clara nas imagens desses cinco
do testamento de Adão que me uma invasão da Bolívia em 1902 paisagem além do território e fotógrafos, também significa

O
mapa do Brasil como excluiu da partilha do mundo’’. (tomando Xapuri) e criou uma foram capazes de mostrar, pela descobrir (no sentido de rein-
conhecemos hoje e Os bandeirantes aprofunda- situação de litígio armado, mais presença humana, as contradi- ventar) a alma em permanente
suas fronteiras obede- ram as trilhas de uma exploração tarde resolvida pelo barão no ções do Brasil, que ora é vítima formação das misturas brasilei-
ceram a um longo pro- para o interior e foram as ex- Tratado de Petrópolis em troca da cobiça internacional, ora é ras. Caldos que chegam aos limi-
cesso de consolidação. traordinárias façanhas do Barão de dois milhões de libras e a pro- algoz pela imposição cultural tes, se tocam, às vezes vazam,
O grande volume de ocupação de Rio Branco que conseguiram messa de construção da famige- que altera nossos vizinhos além desconhecendo que Deus fez a
territorial proporcionado pelos anexar ao país cerca de 500 mil rada estrada de ferro Madeira- dos limites. Nem sempre os con- terra, mas foi o homem quem
tupis-guaranis não garantia a km2 de área (quase uma França Mamoré, nunca concluída. ( Veja flitos são conciliáveis ou os con- criou as cercas.
conquista definitiva do que hoje inteira) por meio de memoráveis na página 7 as campanhas vito- frontos esquecidos. E que do alto o planeta é um
temos como Brasil, mas já deli- campanhas diplomáticas onde riosas do Barão ). O que Brasília representou nos mapa só, único, pleno, solidário.
neava um perfil nacional. O habilidade, cultura internacional A idéia de ‘‘ocupação’’, centra- anos 60 como interiorização do Neste ensaio uma foto pode tes-
Tratado de Tordesilhas (1494) sólida e negociação inusitada da na arrogante premissa de país oferece-se até hoje como temunhar essa fraternidade por
conferia a Portugal todas as ter- para os padrões da época defini- que o homem é o ser superior fruto de duas bandas: uma sã, estar viva. O indivíduo vira ma-
ras localizadas a 370 léguas (ou ram o mapa do Brasil sem confli- da criação, reforçada pelo etno- que significa estender e consoli- triz do coletivo. Principalmente
cerca de 2 mil km) a oeste de tos armados de grande escala ou centrismo religioso, fez com que dar terras; outra podre, que veri- quando contam com os olhares
Cabo Verde e assim o país recebe invasões com derramamento de as fronteiras fossem alteradas fica a miséria decorrente dessas de Elza Lima, Celso Oliveira, Ed
sua primeira delimitação. Tal di- sangue. Exceção à campanha do segundo o poder maior ou me- riquezas conquistadas estarem Viggiani, Tiago Santana e
visão do mundo, tão arbitrária, Acre do caudilho gaúcho José nor de manipulação econômica na posse de tão poucos. Ocupar Antonio Augusto Pontes.
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ANTONIO AUGUSTO FONTES


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Ponte em Barra do Quaraí-RS-Uruguai

BRASIL SEM FRONTEIRAS


Cláudio Bojunga parte de povos vizinhos. dos brasileiros pelas costas e co correspondente à aproxima- Fernão Cardim, em 1585, quan-
Constatação paradoxal e pa- praias, que levara frei Vicente ção geoeconômica em curso, do, perplexo, deparou-se com o

E
m outubro de 1996, no tética: diferenças lingüísticas, Salvador a nos comparar a ca- operada em nível abstrato por maciço Atlântico, imensa mura-
Colóquio Latino- afinal, não se aplicam à foto, e as ranguejos e JK a suspeitar que empresários e diplomatas. Foi o lha hostil à penetração no conti-
Americano de rivalidades impostas artificial- nosso povo parecia estar que- que os fotógrafos imaginaram, nente — muito distinta da coro-
Fotografia, na Cidade mente pela história haviam sido rendo ir embora. antes de se lançarem no projeto grafia e a hidrologia dos Estados
do México, cinco fotó- substituídas pela integração Era preciso mergulhar no Fronteiras. Unidos, com os Apalaches a les-
grafos brasileiros — Elsa Lima, econômica e a cooperação polí- âmago mais profundo da nação, Duas efemérides de abril são te e as Rochosas a oeste, distan-
Celso Oliveira, Tiago Santana, tica. Persistir na distância e na descobrir o ‘‘Brasil em ponto de propícias a essa generosa em- tes dos oceanos, tendo a vasta
Ed Viggiani e Antonio Augusto indiferença só podia ser anacro- dentro’’, reforçar a intimidade preitada: o quadragésimo ani- planície do Mississipi no meio.
Fontes — verificaram, com al- nismo alimentado pela tradição cultural e combater a suspicácia versário da fundação de Brasília O Brasil continental foi um os-
guma perplexidade, que a es- e pela inércia. fomentada por interesses taca- e os 500 anos do descobrimento. so duro de roer: os constrangi-
pantosa afinidade do trabalho Era preciso romper com isso: nhos, unir os povos separados Com a inauguração de mentos geográficos explicam por
deles com o dos hispano-ameri- com o culto postiço da excentri- por fronteiras cada vez mais tê- Brasília, a 21 de abril de 1960, que a nação brasileira, durante
canos presentes ao evento era cidade brasileira no continente; nues e virtuais. Do ponto de vis- Juscelino Kubitschek concluiu séculos, permaneceu autêntico
diretamente proporcional ao o jogo xenófobo das diferenças ta do trabalho fotográfico, seria importante etapa de uma longa arquipélago humano: para se ir
desconhecimento mútuo por de fala e raça; o apego obsessivo conveniente um impulso estéti- jornada iniciada pelo jesuíta do sul ao norte da enorme.
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Porto Soares-Bolívia

FOTOGRAFAR, PARA ELES, É ATIVIDADE CRÍTICA REGIDA POR


ALTO RIGOR ÉTICO. É EMPENHO E AVENTURA ESPIRITUAL

Pando na Bolívia, é mundo em rio e conflitivo dos assentamen- tretida por uma distância que mundo é um laboratório, um tão diferente da caatinga de sua
formação e emergência, onde tos dos sem-terra, o mundo dos não existe na selva. Lá o que exis- mundo fusão. infância paraibana. Em vez de
cidades nascem como cogume- exilados brasileiros que traba- te é amálgama e o fotógrafo se ANTONIO AUGUSTO FON- espinho, o matiz das aguadas, a
los. Celso trafegou em Assis lham no Paraguai, chamados pe- empenha em revelar esse rever- TES — Andou pela pampa rio- placidez substituiu a aridez. As
Brasil, Brasiléia, Cruzeiro do Sul, jorativamente de brasiguaios (o so do país. Um Brasil meio co- grandense entre Chuí e Quaraí, vacas raquíticas aqui são pesa-
a cidade dos barões da borracha que eles rejeitam), com cidada- lombiano, meio boliviano. É des- passando por Aceguá, Santana das e os raios do sol não darde-
e de suas segundas famílias. E nia híbrida, contrabando oni- bravamento visual: rios que não do Livramento e São Borja. jam, são oblíquos mesmo quan-
trouxe da mata o espanto. presente, desenraizamento, soja, separam, mas unem — pontos Registrou as cicatrizes das lutas do o relógio marca o meio-dia.
ED VIGGIANI — Escolheu de zonas de comércio e de mortes, de encontro e vias de comunica- históricas que fixaram os limi- O silêncio aterrador e imóvel
início as fronteiras mais tensas e ladrões de gado e tiroteios. ção. Populações que se fundem tes entre os países, descobriu a de Graciliano foi substituído
turbulentas: onde o Paraná en- TIAGO SANTANA — Desco- nos barcos e se confundem na desolação das cidades frontei- pela brisa dos campos agora
contra a Argentina e o Paraguai, briu nas fronteiras mais que re- mistura de moedas. Limites co- riças, o silêncio das estações pacificados (mas encharcados
onde Mato Grosso encosta na motas de Rondônia com a mo indefinições: a pergunta fei- ferroviárias, as pontes fantas- de sangue) de Érico. A vida se-
Bolívia. Santo Antônio do Bolívia e do Amazonas com a ta em castelhano recebe respos- mais, encontrou ecos texanos verina tem o seu reverso no uni-
Sudoeste/Foz/Ciudad del Colômbia, que a diferença mar- ta em português. Rios como es- nos grandes campos da pecuá- verso de Martin Fierro.
Este/Salto de Guaíra /Corumbá/ cante entre o mundo luso e his- tradas fluidas. No isolamento de ria gaúcha, sentiu a vertigem
Puerto Suarez. Mundo provisó- pânico, na América do Sul, é en- Costa Marques/Buena Vista, o da mudez verde da campanha, CONTINUA NA PÁGINA 14
BSF512-2204 12 Brasília, sábado, 22 de abril de 2000 CORREIO BRAZILIENSE

ED VIGIANI
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Foz do Iguaçu-Paraná

Ciudad del Leste-Foz do Iguaçu

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Foz do Iguaçu-Paraná Santo Antonio do Sudoeste-Paraná

Esses fotógrafos estão de parti são passados a cada etapa. essas primeiras etapas. qüentemente em choque com longo caminho de volta ao início
pris com a vida, são anti-retóri- Começa a surgir uma galeria de ELZA LIMA — A historiadora missionários intolerantes. É a de sua carreira: o sentimento de
cos, essenciais, avessos a firulas situações. O chimarrão, por paraense fotografa a Amazônia Amazônia sem sotaque nem exo- aventura e de liberdade.

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laboratoriais, embelezamentos exemplo, está presente na cam- há mais de dez anos e se concen- tismos. Em relação à imensidão Fotografar com deleite e interes-
supérfluos, brasileirismos es- panha gaúcha e na divisa do tra na memória, na identidade, Amazônia, ela poderia se reco- se puro, reflexão da imagem so-
trangeirados. Fotografar, para Paraná com o Mato Grosso, on- no resgate do homem e da mu- nhecer nas palavras de Euclides bre a imagem. A foto como fron-
eles, é atividade crítica regida de o gaúcho participa da frente lher da região. Perambulou nos da Cunha (Ensaios Amazônicos): teira entre a vida e a morte, co-
por alto rigor ético. É empenho e de expansão agrícola. Depois confins da Guiana e na fronteira ‘‘A inteligência humana não su- mo lhe confessou aquele ho-
aventura espiritual. Um tipo começa o domínio guarani, o com a Bolívia. Percebe aguda- porta de improviso o peso da- mem de 90 anos ao lhe mostrar a
muito especial de caça — é visar Chaco/Pantanal, a Amazônia le- mente as modificações que alte- quela realidade portentosa. Terá foto de sua mulher desapareci-
e disparar: em vez de um morto gal e ilegal (do Sivam, dos car- ram o seu universo e tenta reter de crescer com ela, adaptando- da. O Acre atraiu esse cearense
produz-se um imortal. téis e batalhões de fronteira, dos um tempo que se esvai e modifi- se-lhe, para dominá-la . Para vê- adotivo (nascido no Rio) por ter
Da fronteira viva e terrestre castanheiros — o Brasil Chico ca o mundo. Elza tem a tranqüili- la deve renunciar ao propósito sido o palco onde cearenses, que
do Rio Grande do Sul até a que Mendes — o das Farcs colom- dade de quem investigou um de descortiná-la’’. costumam figurar como coloni-
separa o Brasil das Guianas, os bianas, das populações fluviais, bom tempo os barcos e os rios, o CELSO OLIVEIRA — Fala da zados — interpretaram o papel
cinco foram se revezando como dos predadores tailandeses e mundo aquático dos caboclos e disponibilidade propiciada por de colonizadores. Estado recen-
nessas corridas em que bastões dos ianomâmis. Recapitulemos das populações ribeirinhas, fre- seu encontro com o Acre. Foi um te, formado em 1972, vizinho de
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Santana do Livramento-RS

Trilhos entre Quaraí e Barra do Quaraí-RS-Uruguai

Apreensão de sacoleiros - Brasil-Paraguai

Ponte entre São Borja-RS e Argentina

me massa continental bordeja- tos Tietê e Paraíba, que serviram apontar exatamente para a mo- mar-se, ao menos enquanto não O vulto de Raposo Tavares e
da de uma cadeia ao longo da de estradas para o avanço dos bilidade característica das po- a superasse a vitória final dos de Pedro Teixeira estão na ori-
costa, o caminho mais cômodo desbravadores. Já se disse que pulações do planalto paulista — elementos que se tivessem reve- gem de uma linhagem ances-

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era o oceano. A planície costeira os bandeirantes abordaram o em contraste com as que, se- lado mais ativos, mais robustos tral e do sonho de integração
era estreita, descontínua, mui- país como se fosse um segundo guindo a tradição portuguesa se ou melhor equipados. Nessa do Brasil a partir de uma capi-
tas vezes pantanosa. Quando as oceano: suas canoas funcionan- fixaram junto à marinha —, o fa- acepção, a palavra ‘‘fronteira’’ já tal interior. Na colônia, o mar-
montanhas sumiam, como no do como réplicas em miniatura to é que essa mobilidade é con- surge nos textos contemporâ- quês de Pombal imaginou uma
Nordeste, surgiam os arrecifes. das naus lusas, que, na Índia, dicionada entre elas e irá, por neos da primeira fase da coloni- capital do coração do território.
As acolhedoras baías de Todos obedeciam ao ritmo das mon- sua vez, condicionar a situação zação do Brasil e bem poderia Depois, o cartógrafo goiano
os Santos e da Guanabara eram ções. Não por acaso assim fo- implicada na idéia de ‘fronteira’. ser utilizada aqui independen- Francisco Toisi Colombina quis
exceções à regra da difícil aces- ram chamadas as expedições Fronteira, bem entendido, entre temente de quaisquer relações abrir caminho de São Paulo a
sibilidade. dos primeiros tempos da colo- paisagens, populações, hábitos, com o significado que adquiriu Cuiabá, passando por Vila Bela
As primeiras rotas naturais de nização do país, minuciosa- instituições, técnicas, até idio- na moderna historiografia, em de Goiás, antecipando a
penetração foram os grandes mente descritas pelo historia- mas heterogêneos que aqui se particular na historiografia nor- Santos-Brasília — mas a estra-
sistemas fluviais — Amazonas, dor Sérgio Buarque de Holanda: defrontavam, ora a esbater-se te-americana desde os traba- da ficou em sua imaginação.
São Francisco, Rio da Prata —, ‘‘Se o aceno ao caminho, ‘que para deixar lugar à formação de lhos já clássicos de Frederick
sem mencionar os mais modes- convida ao movimento’ quer produtos simbióticos, ora a afir- Jackson Turner’’. CONTINUA NA PÁGINA 6
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ELZA LIMA
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Oiapoque-Amapá - fronteira com Guiana

Os inconfidentes relaciona- Varnhagen e o grande juriscon- tempo uma face humanista, mas coberta do mundo novo. Os pri- Afonso d’Escragnolle Taunay e
ram a utopia de independência sulto liberal Rui Barbosa. mantendo o ímpeto que impul- meiros ocidentais a utilizar os Vianna Moog. Roquette-Pinto
e autonomia ao ideal de uma ci- A Constituição de 1891 autori- sionara os navegantes pelo algarismos arábicos, em parti- descreveu o vasto palco da
vilização integrada e interioriza- zou a primeira demarcação no Atlântico. cular o zero, progresso decisivo Comissão Rondon e fez o elogio
da — expressão da libertação em Planalto Central, anunciando a A tradição dos naturalistas, para o pensamento matemático. das estradas: ‘‘laços que a socia-
moldes americanos. A Missão Cruls, com seus astrôno- antropólogos, sertanistas, assim Foram eles grandes cartógrafos bilidade humana espalha pela
Revolução Republicana em mos, botânicos, geólogos e hi- como a do Correio Aéreo e geógrafos: a nova cartografia superfície da Terra... que, fir-
Pernambuco, de 1817, e os revo- gienistas. Entre o desbravamen- Nacional provém do navegador dos portugueses e italianos, no mando domínio sobre regiões
lucionários da Confederação do to do território do Acre por quinhentista, não do colono li- século XV, tornou possível o do- mal conhecidas, levam aos lu-
Equador incluíram em seus pro- Plácido de Castro, o de Guaporé torâneo. Navegador que, segun- mínio dos espaços: ‘‘a possibili- gares desbravados o que há de
jetos uma cidade central como pelo marechal Rondon e o avan- do o historiador Joaquim dade de reencontrar os lugares indispensável às novas forma-
símbolo de apropriação do gi- ço heróico e trágico de Bernardo Barradas de Carvalho — ao con- onde se esteve e procurá-los no- ções de seu progresso’’.
gantesco território. O mesmo Sayão pela trilha da Belém- trário do renascentista europeu vamente sem erro’’. Pandiá Calógeras afirmou que
ideal foi defendido por Hipólito Brasília, é o mesmo espírito das típico, cujo humanismo era gre- Os caminhos dessa aventura as trilhas bandeirantes haviam se
José da Costa, pelo patriarca José Bandeiras e monções que domi- co-latino e estava voltado para a continental brasileira foram re- transformado em trilhos, do Rio à
Bonifácio de Andrade, o histo- na a história do Brasil, o bandei- antigüidade —, era modernista, traçados por Capistrano de Vila Rica de Ouro Preto e de
riador Francisco Adolfo de rismo clássico ganhando com o científico, orientado para a des- Abreu, Cassiano Ricardo, Taubaté às Gerais dos Cataguás, ser
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Costa Marques-Rondônia San Francisco de Yuruaní-Venezuela

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Tabatinga-Amazonas Guajaramirim-Rondônia

Guajaramirim-Rondônia Guayaramirim-Bolívia

nômico-financeiros por cima Rondônia. O projeto hidroviário lismo, transnacionalismo, sus- Trouxeram uma impressionante Mas isso pressupõe o sutil co-
das linhas imaginárias do passa- Tietê-Paraná permitirá a nave- tentabilidade ambiental. Pelo safra inicial de imagens apaixo- nhecimento da distinção‘‘.
do. Do livre comércio com a gação fluvial de Goiás a Buenos caminho, os cinco fotógrafos nadas, refletidas e espontâneas, É preciso munir-se do sutil
Argentina, evoluiu-se para a Aires e deve se tornar em alguns encontrarão uma galeria de ti- despojadas e refinadas, amoro- conhecimento dessa distinção
união aduaneira, e a união polí- anos a grande via de transporte pos humanos _ caminhoneiros, sas e críticas. O estilo comum na antes de se acercar do trabalho
tica é a próxima etapa. do Mercosul, pelo barateamen- pantaneiros, peões, estanciei- forma de documentar pode ser orquestrado desses cinco artis-
Começa a nascer o que to dos fretes que a via fluvial ros, brasiguaios, sem-terras, entendido com a leitura de ad- tas da luz. Vê-se então que o es-
Afonso Arinos chamou de o no- proporciona. A hidrovia deve barrageiros, traficantes, garim- vertência do fotógrafo america- tilo de seus enunciados plásti-
vo Império Brasileiro, em que mudar a vida de cinco estados e peiros, militares, índios, madei- no Walker Evans: cos intervém diretamente so-
Brasília é simples estação orbi- de cerca de 200 cidades. A ma- reiros, sacoleiros, contrabandis- ‘‘O documental em si é a foto bre as mais diferentes situações
tal. A Embrapa avalia em 340 lha ferroviária de carga foi pri- tas, médicos descalços, regatões policial do lugar do crime. Este, — é atitude vivida, foco de con-
milhões de toneladas anuais o vatizada, há projeto de ponte e agricultores. sim, é um documento de ver- tágio, formação de vontade
potencial da produção de grãos entre a Argentina e o Uruguai, Os cinco fotógrafos já realiza- dade — um documento útil (...) com impacto ético, origem
no eixo geográfico formado pelo de interligação de matrizes ram uma primeira jornada da a arte nunca é um documento, sempre renovada de motiva-
novo oeste do Maranhão, energéticas, de corredores bio- aventura, no segundo semestre embora possa adotar este esti- ções existenciais.
Tocantins, Pará, sudeste do ceânicos. As novas palavras são de 1998 e uma segunda jornada lo. É o que faço. Sou chamado
Amazonas, Mato Grosso e ‘‘building block, supra-naciona- no segundo semestre de 1999. de fotógrafo documentarista. CONTINUA NA PÁGINA 12
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TIAGO SANTANA
C M Y K

C M Y K
Costa Marques-Rondônia

FRONTEIRAS VISTAS COMO TRAÇOS DE SEPARAÇÃO E MOTIVOS DE DESCONFIANÇA

Mas não se refere às viagens Brasil continental, depois reuni- da, de campo armado pela sus- do Rio Grande a Roraima, fala- dos cinco fotógrafos é bem mais
de Colombo. Não podemos in- do em livro pela editora Alfa- peita de rivalidades históricas ram de índios, mineração, soja, construtiva e amistosa do que a
correr no mesmo erro, cinco sé- Ômega. cevadas no ressentimento. A fra- multinacionais, contrabando, de 76. O mundo globalizado e di-

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culos depois. A época diferia muito da atu- se de Nixon sobre a importância pelotões de fronteira, diploma- gitalizado trocou a geopolítica
Mas não negligenciemos o im- al: era o tempo plúmbeo e amar- do peso do Brasil deixou nossos cia, barragens. Entenderam a pa- pela geoeconomia e o culto som-
pulso jornalístico: na volta do go do Brasil militarizado e auto- vizinhos alvoroçados. Os cho- lavra fronteiras no sentido ver- brio das raízes pela mitologia
México, os cinco fotógrafos to- ritário; fronteiras vistas como ques do petróleo e da dívida de- nacular de lugar onde as nacio- aquariana das antenas.
maram conhecimento de repor- traços de separação e motivos de sorganizaram as economias da nalidades e culturas confinam, Redemocratizados e sofridos, os
tagem realizada num espírito se- desconfiança, se não de hostili- região, já transformada em celei- de Brasil extremo e desolado, países da região buscam o con-
melhante, no início de 1976, por dade. Fumaças hegemônicas da ro de ditadores da guerra fria. No mas também na acepção que a graçamento político, a integra-
dois jornalistas do Jornal da geopolítica castrense e intole- Uruguai ouvia-se o barulho dos palavra ganhou na história dos ção econômica, as vantagens
Tarde, vespertino do Estado de S. rância social alimentada pela coturnos. Na Argentina inaugu- Estados Unidos — de linha de comparativas no plano interna-
Paulo, Claudio Bojunga e obsessão com a segurança na- rava-se um regime ainda mais vanguarda na conquista do terri- cional. Foram-se os militares _
Fernando Portela. Extenso traba- cional e com o inimgo interno. feroz que o chileno. tório, de pioneirismo, conquista Videla e Golbery cederam lugar
lho de reportagem pelas frontei- Há 24 anos, a América do Sul era Ainda assim, os dois jornalis- e colonização aventureira. a Jean Monet e a Bolívar. Fazem-
ras do país, mais texto do que fo- sinônimo de economia estagna- tas procuraram garimpar pepitas A atmosfera da virada do mi- se pontes, gasodutos, ligações
tos, sobre os limites extremos do da, de tirania política generaliza- nesse Brasil já distante. Do porto lênio é outra. A América do Sul estratégicas entre conjuntos eco-
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Rio Oiapoque-Amapá Oiapoque-Amapá

Rio Trombetas-Pará

serra da Mantiqueira acima, e de sita a Goiás, em 1940, concla- tência prévia. Sutil raciocínio corda de nós, o compasso —, as fíceis trajetos, por Ormuz, Cairo
Jundiaí a Campinas pela São mou à marcha para o Oeste. que leva Godinho a resgatar o formas de atuação sobre o real, ou Damasco.
Paulo Railway. A Sorocabana Quanto aos 500 anos do des- conceito de ‘‘descobrimento’’ e a mas também uma utensilagem Descobrir é ir ao encontro de

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adentrou primeiro o Oeste, logo cobrimento, creio que deveriam sustentar que descobrir é perce- mental — a trigonometria da to- outros homens, tratar com eles,
seguida pela Estrada de Ferro ser comemorados sob esse títu- ber o espaço e o traçado das ro- leta dei marteloio, o sistema dos Ter diante de si o espelho do ou-
Noroeste do Brasil. O sociólogo lo. No ensaio ‘‘O que significa tas pelas quais penetram os po- referenciais e coordenadas, a tro num jogo recíproco de co-
Fernando de Azevedo mencio- descobrir?’’, sobre as navegações vos e as civilizações que ali se preocupação da medida, a pre- nhecimento. Cabe, pois, aos
nou a atração exercida pelos tri- oceânicas nos séculos XV e XVI, encontram, as formas de encon- cisão descritiva. nossos fotógrafos ter em mente
lhos, os cortes, os aterros, os tú- o historiador português Vitorino tro e intercâmbio, a arte da tra- Descobrir é construir o espa- o legado de toda essa condensa-
neis e as pontes da engenharia Magalhães Godinho observa vessia do desconhecido, para ço em ligação com o tempo — ção histórica na expedição ico-
ferroviária, lançando locomoti- que, em 1628, Harvey descobriu depois regressar ao ponto de as estações propícias às via- nográfica pelo Brasil continental
vas na rota dos bandeirantes. a circulação do sangue, embora partida. gens, as horas das marés, a du- a que se propõem. Como no
Em sua passagem por Goiás, a desde a origem do homem o san- Descobrir, diz ele, não é mera- ração da enchente e da vazan- Ulisses, de Joyce, uma saga lon-
Coluna Prestes prometeu mudar gue nele circulasse. mente encontrar por acaso, mas te, os prazos de pagamento, as ga e ancestral pode estar embu-
a capital do estado e do país para Descobridores não inventam construir o espaço operacional; letras de câmbio ou os contra- tida numa simples jornada.
beneficiar as populações esque- aquilo cuja existência ignoram ter os instrumentos físicos — a tos, a transmissão de notícias
cidas. Getúlio Vargas, em sua vi- — não há descoberta sem exis- bússola, o astrolábio, a sonda, a vindas de muito longe e por di- CONTINUA NA PÁGINA 8
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CELSO OLIVEIRA
C M Y K

Cobija-Bolívia - fronteira com Acre


Cruzeiro do Sul-Acre - fronteira com o Peru

Cucuí-AM - fronteira Brasil/Colômbia/Venezuela

C M Y K
Cobija-Bolívia Cruzeiro do Sul-Acre - fronteira com o Peru

A globalização de hoje guarda marcha pelas descobertas rompe- ma empreitada somente arrogan- mente engajado que es- mutação da terra plana Os cinco fotógrafos estão cientes hoje, inaugura-se uma época na ca livresca e a capacidade de se
afinidade com a globalização re- ram, de uma vez por todas, a falta te e brutal. Esses homens devem tivesse na caravela de em globo, até a invenção de que a dimensão mais profunda história do mundo, e podemos di- maravilhar com o novo nem sem-
nascentista, que por sua vez se via de contato e conhecimento entre ser vistos como personagens do Vasco da Gama, concen- do universal e a revela- da história nem sempore é visível. zer que assistimos à sua origem. pre visível estabelecem o laço en-
como uma retomada da primeira civilizações e culturas. Esse pro- seu tempo, onde o rude universo trado apenas nos sofri- ção espantosa de novas O caso clássico de Fabrízio del Depois desse dia, houve muitíssi- tre a viagem de 1500 e a dos fotó-
grande globalização promovida cesso culmina hoje com a globali- das navegações não deixava muito mentos dos marinhei- faunas e flores, foi uma Dongo, que participou de uma ba- mas jornadas históricas, e uma das grafos, 500 anos depois. Uma
pelo Império Romano (a Escola de zação promovida pela revolução espaço à compaixão e à ternura. ros, na dureza da via- transformação radical talha sem saber que era Waterloo, tarefas dos governos (especial- aventura pelo Brasil no extremo
Sagres copiou o mote ‘‘navegar é das telecomunicações, cuja es- Como mostra o romance A har- gem, na péssima ali- nas formas de ver e de sugere que somos todos um pivu- mente na Itália, na Alemanha e na de suas fronteiras continentais foi
preciso, viver não é preciso’’ dos sência consiste em tornar mais fá- pa e a sombra, de Alejo mentação e no escorbu- medir! Como disse Pedro co como o jovem herói de Rússia) foi forjá-las ou simulá-las, a maneira mais nobre de come-
romanos). ceis e quase permanentes os con- Carpentier, Colombo não não foi to, ficando no miserabi- Nunes: ’Os portugueses Stendhal. Num texto elegante e com profusão de prévia propagan- morar o descobrimento. Suas
Certo, a evolução desencadea- tatos e as comunicações’’. nem o nefando pecador que seu lismo e perdendo a di- ousaram enfrentar o profundo, Jorge Luís Borges fala do da e persistente publicidade. Tais imagens traduzem a tarefa de des-
da pelo decobrimento, como lem- É preciso, portanto, não deixar inimigos desejaram queimar, nem mensão heróica que ali- Grande Mar Oceano. pudor da História: ‘‘No dia 20 de jornadas, nas quais se percebe a velar (e revelar) ‘‘as cousas novas e
brou Rubens Ricúpero em artigo que os escrúpulos do politicamen- o santo que a Igreja desejou cano- mentou os versos de Eles o adentraram sem setembro de 1792, Johann influência de Cecil B. de Mille, têm maravilhosas das terras ignotas’’
recente, percorreu um caminho te correto toldem a dimensão épi- nizar (a mesma Igreja que hoje Camões. Basileia-Acre temor, descobriram no- Wolfgang von Goethe (que acom- menos relação com a história do de um país com antiga existência
semeado de crimes e atrocidades: ca da aventura das caravelas e das pede perdão por arrogâncias pas- Essas viagens foram vas terras, novos mares, panhara o duque de Weimar em que com o jornalismo; eu tenho — e que permanece em grande
‘‘conquista sangrenta e coloniza- globalizações. Assim como o sadas). A História é o que aconte- os primeiros passos do novos povos, mais ainda: um passeio militar a Paris) viu o suspeitado que a história, a verda- parte desconhecido, embora em
ção das Américas, genocídio de Cristo não pode ser responsabili- ceu e não pode ser reescrita em Novo Mundo, tendo alterado a pia de Thomas Morus, nos versos O historiador luso João Rocha um novo céu e novas estrelas’. primeiro exército da Europa ser deira história, é mais pudorosa e plena transformação. Lembre-se
povos e de culturas, tráfico de 12 zado pela Inquisição, Cabral ou função de uma forma distinta de ciência, a geografia, a filosofia, a amorosos de John Donne, no tea- Pinto escreveu: ‘‘da introdução da Jamais o mundo foi tão grande co- inexplicavelmente repelido em que suas datas essenciais podem que o Diário de Luca Landucci,
milhões de africanos, imperialis- Colombo não podem ser relega- considerar suas motivações. agricultura, a lei, a religião e os tro de Shakespeare, nos Ensaios perspectiva na pintura, passando mo no século XVI: entre Sevilha e Valmy por algumas milícias fran- ser, até, durante muito tempo, se- escrito entre 1450 e 1516, refere-se
mo na África e na Ásia. Não obs- dos ao purgatório pela destruição Imagine-se nessa perspectiva dis- governos do Ocidente. Ecos de de Montaigne e nas teorias de pela descoberta de toda a orbe ter- Manilha, a viagem de ida e volta cesas e disse a seus desconcerta- cretas (...)’’.
tante, os processos postos em da natureza e pelo escravismo, nu- torcida um fotógrafo excessiva- seus feitos estão presentes na uto- Rousseau. restre, tendo como conseqüência a durava entre cinco e seis anos’’. dos amigos: Neste lugar e no dia de A ruptura com a geografia míti- CONTINUA NA PÁGINA 10
16 Brasília, sábado, 22 de abril de 2000 CORREIO BRAZILIENSE

Guajaramirim-RO / Foto: Tiago Santana


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...ONTEM - AS FRONTEIRAS EXTERNAS


FORAM VIOLADAS PELO MAR, ENQUANTO
AS INTERNAS REUNIAM UM CONJUNTO
DE NAÇÕES CHAMADAS GENERICAMENTE
ÍNDIOS: DEZ FAMÍLIAS LINGÜÍSTICAS
E 50 LÍNGUAS DIFERENTES.
HOJE - AS NOVAS FRONTEIRAS
ONDE É IMPOSSÍVEL DEFINIR UM
■ Carta do Brasil no Atlas
Miller atribuído a Lopo
PADRÃO ÚNICO DE BRASILEIRO NO
Homem-Reinéis, 1519,
Bibliothèque Nationale
de France, Paris
MEIO DE SOTAQUES E CULTURAS...
EXPEDIENTE: Edição: Cláudio Versiani e TT Catalão, Diagramação: Chica Magalhães. Arte: Anderson Araújo.Texto do projeto Cláudio Bojunga. Realização:Tempo d’Imagem. Fotógrafos: Antonio Augusto Fontes, Celso Oliveira, Ed Viggiani, Elza
Lima e Tiago Santana. Patrocínio do projeto: COELCE - Companhia Energética do Ceará e Itaú Cultural; Site do projeto: www.brasilsemfronteiras.com.br / Projeto aprovado pelo Ministério da Cultura - Lei Rouanet ( Pronac: 98.1543)

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