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BRASIL-ARGENTINA:
A CONSTRUÇÃO JORNALÍSTICA
DO "CASO DE SANTO TOMÉ”
CONFLITO BRASIL-ARGENTINA:
A CONSTRUÇÃO JORNALÍSTICA
DO “CASO DE SANTO TOMÉ”
AGRADECIMENTOS
método científico.
ao meu desenvolvimento
acadêmico e profissional.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................11
1 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA .......................................................................17
2 QUADRO TEÓRICO...................................................................................................19
3 CONTEXTO GERAL ..................................................................................................28
3.1 São Borja (Brasil) e Santo Tomé (Argentina) ............................................................. 28
3.2 O caso de Santo Tomé............................................................................................... 32
4 CONTEXTO JORNALÍSTICO....................................................................................40
4.1 Um jornal político-partidário......................................................................................... 44
4.2 Jornalismo empresarial, moderno e informativo ........................................................ 45
5 LEITURA DAS LEITURAS: O QUE APREENDE-SE DAS COBERTURAS ......47
5.1 Corpus jornalístico ...................................................................................................... 48
5.1.1 “A Federação”: órgão oficial do Partido Republicano ............................................................ 49
5.1.2 “Correio do Povo”: Caldas Júnior e sua visão da imparcialidade............................................. 50
5.2 A cobertura do caso.................................................................................................... 51
5.2.1 O caso em “A Federação”: minimizar ou espetacularizar?.................................................... 52
5.2.2 O caso no “Correio do Povo”: para além do incidente........................................................... 54
5.2.3 Desconstruindo o caso ..................................................................................................... 54
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 4 - Prédio de A Federação (1922), na rua dos Andradas com Caldas Júnior, onde hoje
Figura 23 - Prédio do Correio do Povo (1915), à época na rua dos Andradas, 138/140, mais tarde
Borja, sul do Brasil, vizinha à cidade de Santo Tomé, na Argentina, por motivos inicialmente
obscuros, ocorrem de três mortes, sendo duas das vítimas sobrinhos de Getúlio Vargas e de sua
esposa. Este acontecimento tem uma continuação em 29 de dezembro, em virtude de uma vingança
O período de cobertura está compreendido entre setembro daquele ano – devido a uma das
fontes citar que o ocorrido teria sido naquele mês – e janeiro de 1934, dando um prazo de mês de
cobertura jornalística e coincidindo com a última menção que dá a cobertura por encerrada.
desde o século XVIII, dentro do processo de modernização mundial, torna-se vital para o
12
desenvolvimento deste trabalho. O jornalismo no Brasil sempre esteve muito ligado à política, já
surgindo sob a ressonância do Estado, através de uma imprensa oficial criada em 1808.
inevitavelmente, àquelas que surgiram no resto do país, com um jornalismo político e partidário. O
disseminou quando os encargos das províncias aumentaram, a Constituição do Império não bastava,
significando que as lutas da Independência constituíam apenas o primeiro passo para a conquista da
Fazendo este resgate, com esta pesquisa, pretendo agregar valores que são, em primeiro
lugar, decorrentes de motivações de ordem acadêmica: eles irão contribuir para minha formação
profissional através do estudo da cobertura jornalística como ela era naquele tempo e, portanto, do
realidade.
Embora a motivação acadêmica confunda-se bastante com o pessoal, dada sua importância,
descendo de são-borjenses envolvidos com personagens do presente trabalho. Meu avô materno
pertenceu, embora anos mais tarde, à guarda pessoal de Getúlio Dornelles Vargas, e minha família
paterna descende da família Dornelles, ou seja, existe um parentesco, embora distante. O fato de
que em 2004 completam-se 50 anos da morte de Getúlio Vargas, e 70 anos do fato em si, vem a
poder de análise e crítica, além de criar uma permanente consciência de minha responsabilidade
A importância do resgate histórico das versões disponíveis fará, sempre, com que o exemplo
de seus profissionais através de trabalhos como esta monografia, que teve, como metodologia,
sobre o acontecimento, para posterior investigação e recuperação das informações, como forma de
perguntas iniciais, introduzindo o tema, porém deixando o entrevistado livre para lembrar-se dos
O principal acervo consultado foi o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa (Porto
Alegre), por ter sido o único museu a contemplar os jornais estudados de forma mais abrangente,
ambos de São Borja. No entanto, os principais museus da cidade, a citar, Museu de Estância,
Museu Getúlio Vargas e Museu Municipal e Missioneiro, não dispõem do material necessário.
Também foram consultadas fontes em outras cidades do Rio Grande do Sul, como Rio Grande, por
sua notória biblioteca, que, infelizmente, só dispõe de acervos completos da própria cidade. O
Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul possui edições dos referidos jornais, porém
Brasil encontrarem-se nas mãos de particulares, e das circunstâncias políticas da época dificultarem
pessoas influentes, a recuperação dos jornais da região tornou-se um desafio a ser buscado em uma
A partir de então, foi traçada uma nova estratégia, concentrando os esforços no sentido de
analisar apenas dois dos principais jornais do estado. “A Federação” foi escolhida por ser um dos
novo jornalismo que surgia desde o final do século XIX até o início do século XX, já com o objetivo
região, foram necessárias entrevistas, realizadas com pessoas que viviam na cidade na época ou
natural de São Borja, membro do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul e co-autor
de livros junto àquele que registrou em livro o caso aqui estudado, o já falecido escritor Apparício
Silva Rillo, além de sua esposa, Suzy Rillo, bem como Sérgio Sempé, filho do historiador (já
Toda esta problemática está distribuída neste trabalho em seis capítulos, além desta
problema, Quadro teórico, Contexto Geral, Contexto jornalístico, Leitura das leituras: o que
leitor para o raciocínio voltado para as teorias construtivistas e da ação pessoal em oposição à
teoria do espelho e a idéia do jornalismo como produtor de conhecimento e sua importância como
memória.
autores, seguidos de minhas próprias reflexões. Em Contexto geral apresento as cidades de São
Borja (Brasil) e Santo Tomé (Argentina) para que entenda o trabalho a partir da história e do
contexto destes dois municípios separados pelo Rio Uruguai. Esta contextualização é vital para o
matrizes históricas, o que foi feito no capítulo Contexto jornalístico, onde, além de incluir uma
introdução sobre o jornalismo brasileiro e gaúcho, relato a história e a importância dos jornais “A
Finalmente, no capítulo Leitura das leituras: o que apreende-se das coberturas, explica-
se o procedimento metodológico e realiza-se a análise propriamente dita do “caso” nos dois jornais
que considero os mais importantes da imprensa gaúcha da época, visto que possuíam abrangência
estadual e linhas bastante diferenciadas, possibilitando uma análise mais rica, a partir não apenas da
cobertura isoladamente, mas de todo o contexto histórico e jornalístico no qual estavam inseridos.
Estas análises, realizadas de forma cronológica e por proximidade de data, são finalizadas ainda
com vítimas ocorrido em 16 de outubro de 1933, em São Borja, Brasil, fronteira com a cidade de
Santo Tomé, na Argentina. Dele resultaram três mortes, sendo uma de um sobrinho de Getúlio
Vargas, e outra de um sobrinho de sua esposa, além do condutor da lancha que levara a comitiva de
O problema desta pesquisa, portanto, é o papel dos jornais na cobertura do “caso de Santo
Examinar-se-á até que ponto estas construções deturpam as suas causas, através do estudo
das principais versões sobre o fato, de relatos e conhecimento do contexto e prática jornalística da
época, analisando, assim, a ação jornalística para contar o caso, suas características e mecanismos
1
Incidente como episódio, atrito, fato secundário (incidente diplomático).
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O incidente foi tratado como um caso policial pelo jornal “A Federação”, e com esta
ênfase, dado por encerrado ainda em outubro, retomando o assunto de dezembro para tratar
Já o jornal “Correio do Povo”, embora inicie com esta mesma compreensão, insiste no
caso, buscando uma entrevista com Dario Crespo, a autoridade policial responsável pelo caso, o
que acaba revelando detalhes que permitem compreender que as vítimas não estavam tão
Existe ainda a possibilidade levantada nos depoimentos colhidos por Apparício Silva Rillo, a
qual indica que uma baderna generalizada ocorrida em 29 de dezembro, decorrente de focos
revolucionários argentinos, teria também, pelo menos no caso de Santo Tomé, contado com
pessoas de São Borja, comandados por Bejo Vargas e com a participação do então Tenente
banaliza-o, embora até mesmo seu irmão Lutero o reconheça. No entanto, Lutero nega a intenção
As teorias2 nas quais me apóio são a construtivista e da ação pessoal. Antes de comentá-las,
2
TRAQUINA, Nelson. O que é jornalismo. Lisboa: Quimera, 2002a. p.107
O autor reúne as principais teorias do jornalismo, como teoria do espelho, teoria da ação pessoal, agenda setting, entre outras,
tornando-se uma espécie de antologia do tema em língua portuguesa.
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Estas teorias indicam o jornalismo como uma ciência propriamente humana, e, por isso,
prático nas coberturas jornalísticas da época, que influem, portanto, não apenas no momento de
transmissão da notícia, que ocorre por construção, e não por mera e pura reprodução, mas também
no próprio jornalismo. Trabalho estas teorias como opostas à teoria espelho, que crê em um
Foi Park quem primeiro chamou a atenção para o fato dos jornalistas selecionarem os
idéias de Lippman sobre os efeitos dos meios de comunicação, que indicavam que as notícias
podem indicar a realidade, representar a realidade, mas não são a realidade, nem o seu espelho.
Estas teorias permitirão a análise proposta neste trabalho para indicar como um fato pode
ser construído, mesmo na omissão, ao indicar tendências e classificar eventos conforme o olhar – ou
julgamento, com todas as suas próprias opiniões incluídas, conscientemente ou não, pois, conforme
Mouillaud, os grandes acontecimentos da mídia “são aqueles que permitem não somente ver, mas
não ver”.
fotográfica. No entanto, mesmo uma máquina fotográfica não reproduz, com perfeição, o que está à
sua volta, já é necessário fazer um enquadramento para capturar aquele momento. Desta forma, as
3
STEINBERG, Charles S. (org.). Meios de comunicação de massa. São Paulo: Cultrix, 1970. p. 149-198.
Nesta obra estão reunidos os textos de Walter Lippman (Estereótipos e A natureza da notícia) e Robert Park (A notícia como
forma de conhecimento), aqui utilizados como embasamento teórico para o jornalismo como forma de conhecimento.
4
Dietram A. Scheufele. “Framing as a Theory of Media Effects”. Journal of Communication. Winter 1999. p. 103-122
Esta teoria acrescenta que o público também faz o seu enquadramento, havendo um duplo enquadramento, tanto na emissão,
por parte do jornalista, como na recepção.
22
teorias construtivistas opõem-se a esta perspectiva de espelho, pois ela parte justamente do
princípio da decisão tomada, do enquadramento feito pelo jornalista, ou seja, do momento em que
Um dos pressupostos do jornalismo, segundo Meditsch (2002, p. 11), é de que ele não
revela mal, nem menos, mas diferente. É preciso desenvolver uma hipótese de reprodução do
conhecimento, mais complexa que a simples transmissão, como a de Nilson Lage, para quem o
jornalismo é uma forma de conhecimento em escala industrial. (LAGE, 1992, p. 14-5). Outro
reforço à teoria do enquadramento é o estudo do discurso que diz que todo enunciado que se refere
à realidade, ao refletí-la, de certa maneira também a refrata de certa maneira (BAKTHIN, 1992).
inteira. A sociologia e a antropologia mostram que não só o relato dos sábios, mas também o
quotidiano das pessoas comuns é importante, e que o método científico não é o único modo de
conhecer, nem o mais importante. Há necessidade de uma razão mais refinada que dê conta das
complexidades do mundo.
receber diferentes conotações em função da cultura, meio, e experiências, tanto de quem emite essa
informação quanto de quem a recebe. Quando transmitimos esta informação a terceiros, essa cadeia
vai agregando, a cada pessoa pela qual passa, novos valores, novos significados. Após tantas
interferências, uma nova realidade é construída, intencionalmente ou não. É preciso, para avaliar,
A missão do jornalista é filtrar as diversas informações que recebe para construir uma
matéria, uma notícia. É ele quem irá destacar da realidade uma superfície (MOUILLAUD, 2002,
37). Se aconteceu um crime de assassinato, não bastará dizer que alguém morreu, é seu trabalho
buscar as informações sobre como ocorreu, quando, e, preferencialmente, se possível, quem foi o
causador do homicídio e qual o motivo. Durante este processo, será inevitável fazer escolhas e até
mesmo alguns juízos de valor, baseados em seus próprios valores, para situar o leitor, pois a
exatamente neste ponto, segundo Thomas Patterson5, que reside o poder do jornalismo. É quando o
jornalista faz escolhas, selecionando aspectos de uma realidade perceptível e tornando-os mais
portanto, ‘etapas’ deste complexo trabalho que o sujeito faz movido por e no interior do campo da
5
Thomas Patterson. Serão os media noticiosos actores políticos eficazes? In: Revista de COMUNICAÇÃO e Linguagens
27: 79-96.
O autor, neste artigo, fala da dificuldade em fazer com que a sociedade compreenda os problemas sociais através do jornalismo,
que tem suas limitações.
24
O furo jornalístico é, portanto, um mito, pois mesmo que fosse possível estar no local exato
do acontecimento, ou chegar primeiro, cada um dos presentes poderá dar diferentes opiniões sobre
forma de construir realidades. É possível inserir no discurso unidades de sentido, que podemos
analisar por aproximação semântica, conforme exemplifica Pedrinho Guareschi em sua análise do
discurso anti-MST de Rogério Mendelski em seus programas na Rádio Gaúcha, em Porto Alegre
A expressão da realidade, como explica Christa Berger (1998. 223 p.), era tida como
possível de ser fiel graças à linguagem, e todo obstáculo tido como resultado da censura política.
25
mundo. O jornal não está solto, mas sim envolvido em um dispositivo (MOUILLAUD, 2000, p. 26-
29).
estrutura sobre o tempo, visto que costuma fazer uma “lista de acontecimentos previstos”, que,
conforme Nelson Traquina (2002a), fazem parte do biorritmo da empresa, e que, por vezes, sofre
os efeitos dos lapsos temporais deste biorritmo. Os acontecimentos que possuem valor de notícia
nem sempre irão acontecer onde estão previstos que aconteçam. Apesar disso, é possível “agendar”
um tema, ou seja, fazer com que ele torne-se notícia, mesmo que através de movimentos sutis, como
a inclusão do tema geral na pauta, dia após dia, ao invés de tocar diretamente em um ocorrido. No
entanto, quando houver a intenção de recuperar esta pauta, ela já estará bem situada e digerida pelo
leitor.
O termo “agendamento”, surgido em 1972, embora a idéia principal tenha sido lançada 50
anos antes, significa dizer que os media eram a principal ligação entre os acontecimentos no mundo
e as imagens mentais acerca desses acontecimentos. Segundo seus teóricos, a imprensa faz bem
mais que fornecer, transmitir opinião, pois, mesmo que não consiga definir a opinião de alguém
sobre determinado assunto, ela irá fazer com que, no mínimo, essa pessoa pense sobre esse assunto.
Significa dizer que o jornalismo existe para consumo de uma forma semiótica, cheia de
formas, imagens, sentidos, pensamentos, tudo em torno de um acontecimento que será desenvolvido
através da pauta, o que caracteriza a notícia como signo ou código de linguagem. Considerando
ainda, conforme Henn (2002) e Meditsch (1992), que o jornalismo parte de uma pauta e não de
uma hipótese, e que a pauta permite um corte abstrato, trata-se novamente da idéia de
Este poder também reside no fato de que o jornalista, ao selecionar notícias e dar-lhes
existência pública, confere-lhes importância e relevância social, não apenas presente, mas futura,
Portanto, ao refletir sobre o papel do jornalista, é preciso lembrar que muitas vezes é ele
quem consegue retratar fatos que não ficaram registrados nos livros de história, como o aqui
jornalismo e o conhecimento que ele ajuda a agregar, para que ele seja entendido com todas as suas
É preciso que o público leitor compreenda que a produção da notícia6 é um processo que se
inicia junto com o acontecimento. Porém esse acontecimento só terá sentido com a interferência de
enquadramento utilizado para noticiá-lo. O grande problema, é que, em geral, características como a
6
ALSINA, Miquel Rodrigo. La construcción de la noticia. Paidós Comunicación. 4.ed. ALSINA, Miquel Rodrigo. La
construcción de la noticia. 4. ed. Barcelona: Paidós Comunicación. 1989. p. 81-98.
27
dos enunciados; e a escolha da linguagem a ser utilizada pelo jornalista, são construções lingüísticas
Tanto assim é, que entre 1933 e 2004, passados mais de setenta anos, é possível identificar
diversas construções nos relatos dos jornais estudados, sob os aspectos jornalísticos, acadêmicos e
culturais.
3 CONTEXTO GERAL
O município de São Borja tem hoje uma população de 65.292 habitantes, fica a 594 Km de
Porto Alegre, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, e é o mais antigo do Sete Povos das
A região, por muitos anos, foi alvo de disputa entre espanhóis e portugueses, e São Borja foi
fundada quando o padre Francisco Garcia vinha fundar a redução de Santo Tomé, e acabou
São Borja não chegou a sofrer com as Guerras Guaraníticas, ocorridas de 1754 a 1756
No entanto, a área era propícia para a criação de gado e para charque, o que acabou
acarretando outros conflitos, visando a incorporação da região das Missões ao território português,
o que acabou acontecendo em 1801. Novos conflitos e invasões continuaram ocorrendo em 1816 e
autorização para realizar eleições, que aconteceram em 28 de outubro daquele ano. O primeiro
abril de 1834 e a instalação municipal aconteceu dia 21 do mês seguinte. Mais tarde, em 1835, viu-
se envolvida na Revolução Farroupilha, mas não sofreu tanto quanto nas guerras passadas, quando
teve várias vezes seu progresso interrompido. Durante a guerra do Brasil com o Paraguai, Solano
Lopez travou muitas batalhas em São Borja e nas vizinhas Itaqui e Uruguaiana. A partir da Figura 1
A família Vargas sempre esteve envolvida em brigas na região de São Borja e também em
Santo Tomé, cidade argentina com a qual faz fronteira – conforme pode ser observado pela Figura
Porém, em apenas dois dias, a não apenas mais ilustre família da cidade, mas também a que
possuía como membro principal o chefe do Governo Provisório do Brasil da década de 30, Getúlio
livros, que aqui aparecerão apenas para preencher as lacunas deixadas pelas mãos de quem tinha
O palco do incidente foi a cidade de Santo Tomé, fundada oficialmente em 1863 (27 de
agosto). Sua história se confunde com a de São Borja, como já referido. Os jesuítas foram expulsos
em 1768, iniciando um período de decadência até ser totalmente arrasada, em 1817, com a invasão
31
portuguesa. Desta época até o século XX, no entanto, a Argentina cresceu, e a região de São
Na época do “caso”, nos anos 1930, Santo Tomé era mais desenvolvida comercialmente
que São Borja, fazendo com que muitos habitantes da cidade brasileira fossem consumir naquela
cidade, em acesso que, na época, era feito de balsa. Desde aquele tempo a população já solicitava
uma ponte, que acabou sendo construída 60 anos mais tarde, e concluída em 1998. Santo Tomé é
hoje uma cidade rica em terras para agricultura, mas estagnada em seu desenvolvimento econômico
e cultural, e segundo o censo de 1991, tem uma população de 17.283 habitantes. Sua posição
geográfica pode ser vista abaixo na Figura 3 – Mapa de Santo Tomé, que situa a cidade da
A situação no Rio Grande do Sul era tensa, em função da sua posição em relação à
Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, devido à Guerra do Chaco, que estava sendo mediada pelo
32
Brasil. Além disso, havia focos revolucionários na região em decorrência da política argentina e
brasileira.
torna-se válida a análise das informações que chegavam à imprensa, verificando se houve uma
transposição ao medo do uso do poder sobre quem dissesse a verdade, ou se, por vontade própria
Em uma primeira investigação junto a pessoas da minha família, foi obtida a informação de
terem sido solicitados todos os exemplares de jornal da cidade, desta época, por um dos irmãos de
Getúlio Vargas, Viriato Vargas. Os exemplares haviam sido guardados por mera curiosidade, por
vários anos, por uma habitante de São Borja, que veio a ser minha bisavó paterna. A finalidade da
solicitação, atendida como política de boa vizinhança, foi única e exclusivamente dar fim aos
O’Donnell, de São Borja, soube que este procedimento foi repetido com várias outras famílias são-
O fato nuclear deste trabalho é o chamado “O caso de Santo Tomé”, que recebeu versões
de várias ordens. Uma reportagem de 1991 no jornal “O Estado de São Paulo”, dá conta
realidade, aconteceu em 16 outubro de 1933. A segunda parte seria uma oportuna e oferecida
33
diferença: teria sido uma inocente ida ao cinema, uma execução de prisão, motivos esportivos, ou
recreativos? Há ainda a relação entre este evento e o saque em Santo Tomé, em dezembro de
1933, com participação de habitantes de São Borja, inclusive comandados de Benjamim Vargas,
Argentina. Estes elementos estão presentes na cobertura jornalística da época como um problema
unilateral, puramente argentino, sem relação com a família Vargas nem com qualquer tipo de
vingança que vinculasse a participação de brasileiros no conflito. A versão que detonou este
Já Lutero Vargas, em seu livro "A revolução inacabada" (1988), reconhece a minimização
do fato por parte de sua irmã em seu livro "Getúlio Vargas, meu Pai", mas tenta descaracterizar a
Também cita algumas versões a mais sobre o ocorrido, inclusive que teria sido não uma
invasão, mas um episódio sangrento decorrente de questões de contrabando entre gente de São
Em sua versão, um revoltoso coronel argentino teria apenas entrado em contato com "alguns
1988, p.67-68.). Logo, não haveria relação entre as mortes de seus familiares, mas também não
um primeiro momento, ambos fixam o problema em um erro da marinha argentina, focalizam a morte
dos jovens, porém o jornal “Correio do Povo” trata o assunto mais a fundo, entrevista o
encarregado pela investigação na época, publica seu depoimento e mostra certa desconfiança em
notícia básica e reduzindo a apenas mais uma ocorrência policial. Esta versão trata de minimizar os
fatos, que seriam decorrentes apenas de um julgamento errôneo da marinha argentina, ou seja, um
caso policial quase corriqueiro, dadas as proporções internacionais, que nada teriam a ver com a
Cabe ressaltar que a época não favorável a conflitos diplomáticos: Bolívia e Paraguai
estavam envolvidos na Guerra do Chaco, Argentina e Brasil procuravam instalar a paz, inclusive
incidente inicial, do presidente argentino, General Justo, ao Brasil. A imprensa cobriu diariamente
cada passo do presidente visitante, e durante a cobertura do incidente várias vezes pareceu
minimizar a ocorrência para não dar margem a novos conflitos, agora entre brasileiros e argentinos.
Segundo o Apparício Silva Rillo, a invasão foi idéia de lideranças civis e militares do Partido
Radical da Argentina, que teriam convidado Benjamim Vargas e seus comandados a participar da
Vargas com a morte de seus sobrinhos pela marinha argentina em 16 de outubro do mesmo ano, em
situação nebulosa mesmo após os pronunciamentos oficiais, conforme o próprio Rillo registra:
O mesmo autor também acrescenta que o irmão de Getúlio Vargas teria tentado se conter
na participação da invasão, não enviando todo o 14º Corpo e orientando para que não fossem
fardados e dizendo a seus homens que não se responsabilizaria pelo que ocorresse, mas após seu
envolvimento com o primeiro incidente, estas atitudes não garantiram sua isenção. Além disso, se foi
negado fardamento, não foram negadas as armas e munição oficial aos invasores. Entre eles,
tenentes e sargentos, incluindo o Tenente Gregório Fortunato, já desde esta época fiel à família
Vargas. Silva Rillo também cita os "ônus deixados pela invasão”, no plano material e político,
1987, p. 77).
36
O jornal “O Estado de São Paulo” concorda com a versão de Silva Rillo. Em matéria
especial sobre Getúlio Vargas, publicada em 28 de abril de 1991, cita um "episódio especialmente
grave": um saque na Argentina, decorrente de uma vingança em função das mortes ocorridas em
setembro de 1933 (na verdade, em outubro). Segundo o jornal, "[ . . . ] Bejo contratou um grupo de
capangas e contrabandistas, voltou ao lado argentino e, durante duas horas, saqueou o comércio de
A conseqüência deste incidente diplomático teria sido não apenas "penosas explicações
diplomáticas", mas uma indenização milionária, "não se sabe porque cargas d'água”, pelo
Na mesma entrevista com Fernando O. M. O’Donnell recebi de suas mãos o livro de Sérgio
Venturini sobre outro caudilho da região de Santo Tomé e São Borja, conhecido como Don Lucas,
que também relata os fatos sob o ponto de vista fronteiriço, e coincide com as versões de Rillo e
Cavalcanti. Don Lucas era argentino de ascendência brasileira, e contestava, juntamente com os
radicais argentinos, a eleição do presidente Augustin Justo. Segundo eles, Justo teria chegado ao
poder por meio de fraude nas eleições. Diz Venturini, baseado na documentação fornecida pela
família Torres:
Este relato coincide com a afirmação da autoridade policial da época, Dario Crespo,
relatada no “Correio do Povo” de 26 de outubro de 1933, que está transcrita na íntegra no capítulo
da análise.
Outra curiosidade diz respeito ao relato de Sérgio Sempé, filho do historiador Moarci
Sempé, que relatou que seu pai possuía toda a documentação sobre os acontecimentos de Santo
Tomé, doados pelo sobrinho de Getúlio Vargas, Serafim Vargas. No entanto, após a morte do pai,
em 1997, Sérgio não mais localizou esse material, o que atribui ao fato de Moarci ser maçom.
Segundo Sérgio, Serafim Vargas teria solicitado a seu pai que só revelasse o conteúdo desse
material após ser cumprida uma determinada instrução, talvez uma data ou a morte de alguém, o que
38
ainda não teria ocorrido à época. Para que essa instrução fosse cumprida, Moarci teria doado esse
frontera em armas” indicado por Fernando O’Donnell, de autoria do argentino Miguel Villalba, por
conter mais alguns aspectos da visão argentina do ocorrido, encontrei o trabalho do pesquisador
novembro de 2001 no Campus Juan Gómez Millas de la Universidad de Chile, publicado pelo
Argentina. Seu trabalho, que entre as fontes bibliográficas utilizou-se do livro de Villalba, cita o fato
Assim, este é mais um registro do fato pelo lado argentino, sua repercussão e impressões lá
eternizadas, como invasão, não como incidente, não como ocorrência, não como qualquer outra
coisa, mas como invasão, e cita os depoimentos de Don Lucas no livro de Villalba:
participação do 14º Corpo Auxiliar da Brigada Militar de São Borja, comandado por Benjamim
apresentado o contexto jornalístico, visto que o tempo decorrido também influi na maneira como
faremos a leitura dos jornais hoje, e é o que será feito no próximo capítulo.
4 CONTEXTO JORNALÍSTICO
Passados mais de setenta anos, é preciso contextualizar os dois jornais analisados, para
melhor compreensão das análises que serão desenvolvidas no capítulo a seguir. Sem esta
introdução, um leitor desavisado poderia tomar como ponto de partida o jornal “Correio do Povo”
como o é hoje, e não como efetivamente era na década de 1930, e não terá ciência das suas
preciso apresentá-lo. Assim, o objetivo deste capítulo é, após ter situado o leitor no tempo, situá-lo
(primeiro jornal: 1827 – “O Diário de Porto Alegre”), podendo-se dizer que foi um bastidor
campo político e pela falta de sustentabilidade econômica para gerenciar empresas, o que acarretou
na ocupação do espaço por jornais da capital, que souberam cumprir o papel de regionalizar tanto
Nesta época, iniciava a tendência para matérias noticiosas, e já não mais para artigos políticos.
O grupo de Francisco Antonio Vieira Caldas Junior já existia, desde 1895, e representava o
consolidado, ao lado do jornal “A Federação”, lançada em 1884, que se tornou um órgão dos
republicanos gaúchos (Partido Republicano Liberal), e destacou-se como principal folha político-
partidária da história do Rio Grande do Sul. O primeiro diretor foi Venâncio Aires. No entanto, em
1937 o recém-proclamado Estado Novo extinguiu o jornal através de ato oficial, além de fechar
O jornal era uma importante forma de divulgação das idéias e da hegemonia partidária em
época de comunicações mais difíceis. O “Estado do Rio Grande do Sul”, também fechado na
mesma ocasião, representava o Partido Libertador, que sucedeu ao Partido Federalista, e foi o
último jornal político-partidário a ser lançado (1929). Jandira Silva relata que a imprensa esteve
partidária, em função das mudanças que estavam ocorrendo na sociedade e na economia. No Rio
Grande do Sul houve até mesmo um processo de conciliação entre a classe dominante, o que
Esta primeira fase é a responsável pelo comprometimento das informações, tendo em vista o
jornais faz deste trabalho um esforço no sentido de resgatar a memória histórica e cultural, pelos
A cidade de São Borja não é diferente, ao contrário, é talvez o mais vivo exemplo deste
“quebra-cabeça”, pois tem como característica um desapego por sua história no sentido de
preservar a sua documentação. Um dos maiores exemplos disto é o fato da igreja construída pelos
jesuítas ter sido destruída e levantada outra no mesmo local, sem os mínimos cuidados em preservar
Os acervos históricos da cidade não possuem os exemplares dos jornais locais da época, e
todos os pesquisadores que tem tentado trabalhar com a história de São Borja encontram a mesma
dificuldade. A vizinha cidade de Santo Tomé também partilha do mesmo problema. Segundo a viúva
de Rillo, Suzy Rillo, ambos estiveram na Argentina procurando material sobre o caso, e retornaram
sem sucesso. Fernando O’Donnell relatou que em várias ocasiões em que o assunto foi levantado,
não apenas nada foi encontrado na cidade como ao tentar fontes secundárias, de pessoas que
haviam deixado São Borja, surgiram pessoas colocando barreiras à continuidade da pesquisa. “Até
deixar o assunto de lado”, relatou. Como já foi relatado no item “O caso de Santo Tomé”, há
também o problema da fidelidade maçônica do pesquisador Moacir Sempé, que teria recebido
material diretamente da família Vargas, mas com instruções para não divulgá-las a não ser quando
O jornalismo da época, até o Estado Novo, pode muito ser bem resumido pelo lançamento
propaganda.
A empresa foi constituída mediante subscrição feita pelos membros do partido e a direção
do jornal terminou confiada a Júlio de Castilhos, que, embora fosse considerado por muitos um
orador medíocre, era especialista no manejo da pena, e criou novas concepções jornalísticas,
acontecimentos políticos. Na República Velha, tornou porta-voz oficial do Partido Republicano Rio-
Grandense – PRR:
Na década de 1930, passou a órgão oficial do Partido Republicano Liberal. Cabe lembrar
que tratava-se de uma folha vespertina. Em 1937, o Estado Novo, recém proclamado, extinguiu o
Sua decadência está ligada a vários pressupostos: estrutura econômica, nova divisão social
Guerra Mundial, o material de imprensa, especialmente tinta e papel, encareceram muito. O público
Além de Júlio de Castilhos, entre os grandes nomes que passaram pelo jornal estão
Venâncio Aires – à época da fundação –, Ramiro Barcellos, Ernesto Alves, Álvaro Baptista, Arthur
Pinto da Rocha, Ildefonso Pinto, Lindolfo Collor, Décio Coimbra, Othelo Rosa, João Carlos
Machado, Cyrino Prunes (durante o período estudado), Pedro Vergara, Vieira Pires, Celestino
Povo” conquistou rapidamente a hegemonia no mercado de jornais, que o diferia dos demais por ter
Caldas Júnior descoberto que o caráter político do jornalismo não precisava ser explícito:
Como seu título indica, será uma folha essencialmente popular, pugnando
pelas boas causas e proporcionando aos seus leitores informações
detalhadas sobre tudo quanto há diariamente ocorrendo no
desenvolvimento do nosso meio social e nos domínios da alta
administração pública do Estado e do País. Este jornal vai ser feito para
toda a massa, não para determinados indivíduos de uma única facção.
(Correio do Povo de 1º/10/1895)
O jornal, criado pelo filho de uma das vítimas da revolução de 1893, apenas dois anos
familiar morto pela degola e castrado, foi idealizado e implantado de uma maneira totalmente
inovadora. Era um jornalismo diferente, que iniciava a fase que perdura até hoje: de modernidade,
com o objetivo de ser o mais imparcial possível, e com visão empresarial. Estas novidades
conferiram uma aura de credibilidade ao jornal, que se propunha a servir não a um partido, mas ao
leitor.
46
Sem deixar de ser político, o jornal matutino de Caldas Júnior passou por grave crise interna
quando apoiou a chapa Getúlio Vargas e de João Pessoa, em 1929. Em função das atividades no
campo político, e da falta de sustentação econômica, o novo jornalismo foi contido no interior. O
Novo, Getúlio Vargas proíbe os partidos políticos e seus órgãos de divulgação, fechando diversos
O primeiro deles é o aspecto político, que diferia completamente dos jornais até então
conhecidos pelos gaúchos e que viria a tornar-se a grande tendência e futuro dos jornais. Some-se a
esta característica as decorrentes mudanças culturais, onde já não é a política o tema dominante das
possuía grande preocupação com a publicidade e a ela destinava grande espaço, tanto em anúncios
Tudo isto contribui para uma incrível diferença de visão jornalística, que persiste até os dias
de hoje, mas inimaginável no fim do século XIX e início do século XX, e visto ainda com
COBERTURAS
através das informações, para examinar a existência das diferentes versões diversas do mesmo
acontecimento. A partir desta releitura será traçado um quadro, para efeitos de levantamento, das
versões encontradas em dois jornais da época, ambos do Estado do Rio Grande do Sul, os jornais
A coleta do jornal “O Estado de São Paulo” (28 abr. 1991)7, realizada através de
fotocópia, teve como objetivo embasar em meio jornal as afirmações feitas neste trabalho pela
autora, que nem sempre ficam claras no material, mas que os levantamentos em fontes históricas e
7
Assim como dos livros de Apparício Silva Rillo (1987) e de Lutero Vargas (1988).
48
liberar o material para ser fotocopiado, foram copiadas com máquina digital e transcritas, com a
grafia da época e também do jornal, visto que o português difere nas duas publicações.
Estes dois jornais foram escolhidos por terem coberto o caso, terem sido preservados em
acervos e por sua abrangência, além de características opostas entre um e outro que tornam mais
como referido logo acima, foi baseada em diversos motivos, sendo o primeiro deles o fato de terem
realizado a cobertura do caso. A seguir, foi considerado o seu caráter regional, e a abrangência no
Rio Grande do Sul, principalmente em vista do esvaziamento sofrido nos jornais das cidades
envolvidas, que acabaram recolhidos e tendo seu acesso restrito. No caso da cobertura estudada,
por exemplo, onde não foram encontrados exemplares destes jornais, cujas lacunas foram
Outra razão pelos quais foram escolhidos “A Federação” e “Correio do Povo” foi a grande
diferença existente entre sua política editorial, bastante clara quando analisamos o contexto
jornalístico.
Por fim, cabe esclarecer que embora tudo tenha acontecido em zona fronteiriça, escolhi
basear as indicações de construção a partir do ponto de vista do Brasil e seu contexto, priorizando,
49
portanto, os jornai-s brasileiros, que apenas citam a repercussão no país vizinho, obviamente já
A clara vocação política do jornal e sua ligação com o Partido Republicano são os fatores
que tornam “A Federação” interessante para este estudo, já que marca a existência do jornalismo
Seus fundadores e jornalistas eram não apenas divulgadores das idéias republicanas, mas
políticos atuantes da época, como Júlio de Castilhos, por exemplo. Essa postura teve pontos altos,
como os textos jornalísticos que produziu durante a Revolução de 1893, com abuso de expressões
Sua posição política era evidente já logo abaixo de seu título, aqui transcrito conforme a sua
No dia 1º de janeiro, data de seu aniversário, e em especial naquele ano de 1934, quando
completava 50 anos, trouxe em sua capa Venâncio Aires e Júlio de Castilhos, em ilustração que
deixava visíveis apenas duas das oito colunas de texto normais, subvertendo a agenda social em
É importante lembrar que aqueles que o liam tinham esta consciência, e que haviam outros
jornais que faziam-lhe oposição. No entanto, ao invés de procurar um jornal com idéias políticas
contrárias, foi estudado um jornal com visão totalmente diferente. No lugar do jornalismo emocional,
com interesses claros e objetivos, surge uma nova forma, antagônica, de fazer jornalismo. Um
Propondo-se a ser imparcial, mas sem deixar de ter jogo de cintura político, Caldas Júnior
fundou em 1895 não apenas um novo jornal, mas um novo paradigma, ainda não visto no Rio
Grande do Sul.
nenhuma ligação partidária, mas apenas sua intenção, contida na palavra “povo”, de estar ao lado
Caldas Júnior tinha o intuito de manter o jornal imparcial, informativo, sem os vícios
opinativos dos concorrentes. Além disso, tinha uma visão comercial e empresarial bem definida, com
O que importa para este trabalho é justamente a sua formal desvinculação partidária, que o
torna atraente para a análise proposta, embora o maior opositor de “A Federação” fosse o jornal
“A Reforma”, também partidário e órgão oficial, porém, dos chamados maragatos, por permitir
Cabe lembrar que “caso” é uma terminologia8 bastante recorrente já na imprensa da época,
que utiliza a palavra como referência sempre que vai retornar a um assunto que já foi notícia
anteriormente. Além de “caso”, usa-se “ecos” ou a cidade onde ocorreu o fato, ou outra próxima,
geralmente maior, ou capital, como referência. Ao ganhar destaque e uma demanda de cobertura,
novas informações recebem esta marca. Serve como uma cartola, fazendo, portanto, que o leitor
percebesse que a notícia daquele dia tratava-se de uma continuação, já que as editorias eram
separadas precariamente e a diagramação era confusa, com vários “joelhos”. Muitas vezes a matéria
continuava em outra página e em muitos casos não havia como identificar isto sem ler o jornal todo.
Esta é uma indicação de padrões de imprensa que já nos idos de 1930 se faziam presentes
público leitor. Os jornais tinham correspondentes no interior, fixos, que mandavam as informações
por telegrama. Talvez por isso costumavam publicar na íntegra telegramas e muitas vezes não
comentavam. Também caracteriza um estilo testemunhal, semelhante à linguagem de uma ata, mas
8
No jornalismo, caso é uma forma de tratar o acontecimento com princípio, meio e fim, apropriado à narração. Para Nilson
Lage (2001), caso está para fait-divers, como matéria jornalística que não se situa em campo de conhecimento
preestabelecido. Sem classificação, mas válido por uma relação interior entre seus termos. Seu estudo mostra uma
peculiaridade enquanto informação, dependendo, para sua compreensão, de situação (política, econômica ou artística). Lage
explica que a informação é um acontecimento histórico, parte de uma narrativa, e que eventos políticos, econômicos ou
artísticos se interligam e cada novo evento altera o quadro de situação, fazendo prever desdobramentos, já o fait-divers não
depende de nada exterior. O que o torna interessante são contradições de vários tipos: fato e causa ou instrumento; notações
que se juntam na mesma frase; violação de uma norma social e ignorância da causa ou agente – que, neste caso segundo
ressalva, costuma ter êxito passageiro, salvo se atingem a notabilidade histórica decorrente de uma representação de
tendências que estavam ocultas, se tornando casos. Entretanto, devo dizer também que entendo a definição de caso como o
modo através do qual a produção jornalística singulariza a definição de um acontecimento cuja referência, assim especificada,
serve para identificar como uma determinada informação passa a ser tratada na organização e na temporalidade das edições
de um jornal.
52
receberam o fato. Acabava perdendo a objetividade, sendo prolixos, mas tentavam, com isso,
demonstrar que foram o mais imparciais possíveis, colocando os termos exatos das fontes.
Quanto às fontes, era muito comum recorrer a outras localidades. Ao buscar outras fontes,
às vezes voltavam demais no tempo, pois traziam noticias de capitais, como Rio de Janeiro e Buenos
Aires.
O número de páginas é variável. Em feriados como Natal e Ano Novo, os jornais não
circulavam, exceto a “A Federação”, que fazia aniversário em 1º de janeiro e por isso tinha edição
Durante a cobertura da invasão propriamente dita, não diz quem foi, mas admite que houve
brasileiros envolvidos, que houve investigação, mas foi secreta, reportando somente ao governo
federal, e que São Borja foi investigada. Havia uma grande preocupação em não criar incidente
diplomático. O jornalismo normalmente “toca fogo”, atiça. Em “A Federação”, por ser governo, é
ocorrido, coloca toda a carga de emoção e inconformidade com as mortes, mas já no segundo dia
53
procura minimizar para não provocar desconforto diplomático, por mais que ainda chocasse tudo o
Como explicar, portanto, que algo tão chocante e marcante na sociedade local da época
fosse minimizado, senão por motivos políticos, quando coloca-se, após dizer que “perdura forte a
impressão” que, “entretanto”, nada pode “afetar as relações de amizade” entre os dois países? Além
disso, logo no terceiro dia dá o assunto por encerrado, dizendo que não ficou o “menor equívoco”
quanto ao que aconteceu e que ficou “reduzido” a um caso eminentemente policial, reconhecendo a
redução, portanto. É o que observaremos na cobertura dos acontecimentos realizada pelo jornal, e
também por este motivo, a decomposição dos fatos, que será feita cronologicamente jornal a jornal,
Nos últimos dias do ano de 1933, há mais um agravante: o jornal anuncia que não haverá
circulação nos dias 30 e 31 para preparar a sua edição comemorativa de 50º aniversário,
simplesmente mudando a sua agenda passando a divulgar o que lhe é de interesse e subvertendo a
agenda pública, beneficiando a sua agenda própria, privada, como se este fosse o fato que pudesse
ocorrer de mais interessante, mesmo sendo uma folha vespertina e tendo tido tempo de tomar
ocorrido, embora não tenha sido através dele que o público tomou conhecimento.
54
apurados nem se deixou influenciar pelo sentimentalismo, embora ele fosse latente.
fatos, publicada em detalhes, o que será perceptível na análise cronológica realizada diária e
simultaneamente nos dois jornais, quando somente o “Correio do Povo” terá feito registros em
diversos períodos.
No entanto, ambos os jornais não conseguiram fazer a relação entre os fatos de outubro e
Vale lembrar, mais uma vez, a eficiência do jornal em continuar a apuração também no caso
registrar que o oficial foi “primeiramente em São Borja”, e logo para as demais cidades, embora elas
apareçam mais na cobertura, e depois afirmar que a prestação de contas seria dada “somente ao
governo federal” e que por este motivo o jornal não pôde levar estas informações à sociedade. Esse
Mouillaud no capítulo teórico antes comentado. Assim, abaixo a transcrição dos textos, e
55
reproduzindo a grafia da época e do jornal, pois há diferenças entre os dois, será realizada a análise,
por proximidade de dia, as matérias dos dois jornais, “A Federação” e “Correio do Povo”. Abaixo
de cada dia, segue o comentário analítico, primeiro por jornal, depois global, e ao final do capítulo,
uma nova conclusão com o apanhado geral da cobertura, retomando as análises feitas dia a dia e
O número de dias de cobertura jornalística difere de um jornal para outro, fazendo com que,
A Tabela 1 - Cobertura, logo abaixo, ilustra o número de dias em que o caso foi coberto a
Tabela 1 – Cobertura
Em setembro, como já foi dito, nenhum dos jornais registra os acontecimentos, pois eles tem
início real em 16 de outubro de 1933, quando o primeiro incidente detona a cobertura jornalística.
56
medida que o tempo vai passando e o assunto vai “esfriando” ou é propositalmente minimizado,
como acaba acontecendo em “A Federação”, o que fica claro a partir desta análise.
Para melhor visualizar esta descrição, foi elaborado o seguinte quadro, de acordo com o
mês e a importância das páginas a cada período, lembrando que a última página é um espaço nobre,
já que é também bastante visível e que muitas vezes possui chamada na capa. Na época, costumava
Povo”, por ser de onde provêm as notícias principalmente do interior do Rio Grande do Sul,
destaque.
número da página – ou das páginas, no caso de mais de uma matéria na mesma edição –, seguindo a
lógica da Tabela 1.
57
Tabela 2 – Importância
Esta não era uma regra, pois eventualmente aumentavam, especialmente nos fins de semana,
no caso do “Correio do Povo”, que acrescentava anúncios diversos, principalmente de cinema, que
No entanto, edições especiais podiam fazer com que os jornais passassem a ter mais de 50
páginas.
58
Para realizar a análise dos títulos e textos, a metodologia utilizada é a de transcrever, por
proximidade de dia, as matérias dos dois jornais, “A Federação” e “Correio do Povo”, com um
Como introdução ao dia a ser analisado, proponho um título, que ao final do dia, justifico.
Após todos os dias terem sido analisados, procedo as análises dos conteúdos.
Uma das características que irá se repetir na maioria das matérias é a fonte da agência de
notícias, hoje nem sempre divulgada, entre parênteses, após a cidade de origem da informação,
como aqui, em RIO, 16 (A. B.) e BUENOS AIRES, 16 (A. B.). Em “A Federação”,
pé.
A matéria principal de “A Federação” inicia com um apelo emocional ao afirmar que uma
afirmar que não se sabe a que atribuir tão estranha e violenta atitude . Tudo isto em meio à
visita oficial do presidente argentino ao Brasil, citada em matéria de capa com grande destaque.
No entanto, embora não se saiba a que atribuir, isto por ainda não haver informações
principais, embora não fossem os únicos mortos, o jornal denuncia uma celebrização dos
envolvidos, que são parentes do chefe do governo provisório, Getúlio Vargas. Esta intenção é clara
ao mencionar que pessoas da sua melhor sociedade foram recebidas à bala. O motorista da
comunicam de Santo Tomé, sem dizer quem comunica, dando destaque para o anônimo. Outra
característica que irá se repetir nos jornais da época, tanto em “A Federação” como no “Correio
acontecimento, e todas fossem publicadas, sem a preocupação do jornal em unificar estas versões,
vindas de correspondentes, via telegrama, das cidades próximas ou onde aconteceu efetivamente o
fato noticiado.
Uma destas cidades é exatamente Buenos Aires, por ser a capital do país vizinho, que
preocupação com a repercussão diplomática dos acontecimentos, como nesta primeira matéria, ao
referir que o fato teve profunda repercussão nesta capital e que o governo tomou as
PORMENORES DO FATO
A COMMUNICAÇÃO OFFICIAL
ocorrência trágica e inesperada e dar um motivo para a ida da comitiva a Santo Tomé: assistir
ao cinema.
A celebrização também acontece aqui, pois não são pessoas comuns, ao chamar de jovens
e sobrinhos do chefe do Governo Provisório os mortos, omitindo neste momento que havia mais
uma vítima, o condutor da lancha. Acrescenta, a seguir, a afirmação de que tratavam-se de pessoas
de representação daqui, como se, caso não o fossem, tivessem menos importância.
A forte impressão sob a qual está a cidade, está, portanto, diretamente relacionada a
terem sido mortos os jovens. Em pormenores do fato, o jornal procura explicar o que aconteceu,
permissão para entrar e sair do porto à noite, e que haviam recebido esta permissão. No entanto, o
jornal acrescenta que a comitiva foi recebida com sucessivas descargas de armas de guerra. Ao
encerrar o detalhamento afirmando que os jovens eram filhos de tradicionais famílias daqui e que
seu desaparecimento havia sido trágico, revela a mágoa da população local, e parte para a
Nesta comunicação, assinada pelo prefeito de São Borja àquela época, Cleto Azambuja,
através de fonograma, a qual aparentemente o jornal publica na íntegra, o próprio prefeito também
se refere ao grupo como um grupo de pessoas de destaque social, com prévia licença e que
teriam ido a Santo Tomé para assistirem uma função cinema sonoro. Relata ainda que foram
recebidos com descargas que resultaram nas mortes e acrescenta que nada justifica tão
Federação”: “O facto teve profunda repercussão nesta capital, tendo o governo tomado as
O que difere principalmente nesta primeira edição, é a inclusão, por parte do “Correio do
Povo”, de uma nota da redação do jornal, que reforça o largo círculo de amizades do qual fazia
parte o grupo, e faz novas referências às famílias dos envolvidos e do cargo que ocupavam na
sociedade.
No final da nota, acrescenta, sobre a vítima Odon Motta: Ao tempo da revolução de São
Paulo seguiu com o 14º Corpo Auxiliar, de São Borja, o mesmo regimento suspeito de
Embora seja importante lembrar que “A Federação” tinha menos páginas que o “Correio
do Povo”, um acontecimento com este vulto, envolvendo pessoas tão consideradas pela sociedade,
como ambos os jornais fizeram questão de alardear, inclusive com participação política e militar,
A FEDERAÇÃO, 18/10/1933
acontecimentos de São Borja, contradiz-se ao afirmar que os jornais – sem dizer quais –
acentuam que esses acontecimentos não podem afetar as relações de amizade entre
Argentina e Brasil, diminuindo a importância de um acontecimento que em linhas acima dizia que a
impressão havia sido marcante, mesmo na capital federal, à época, o Rio de Janeiro. Logo abaixo,
uma chamada diz que a Argentina explicará as causas do incidente por meio de seu embaixador.
Nota
O assunto do dia era que o presidente argentino estava se retirando do Brasil, não se sabe
até que ponto motivado por tão constrangedores motivos, mas o fato é que este era um
inconveniente a apartar.
informando que lá ouve grande surpresa e pezar, principalmente nas rodas de gaúchos, do que
cataloga como tristíssima ocorrência, em uma adjetivação clara. Apezar disto, acrescenta que
70
não há, por enquanto, detalhe s esclarecedores para a imprensa, mas que há uma convicção
geral, que não se sabe de quem é, de que tudo foi um lamentável equívoco.
Na segunda matéria, na última página (p. 14), o jornal narra a comoção pública ao afirmar
cemitério mais simples, com numeroso acompanhamento da população dali, o que, para situar o
Após informar que os jovens foram enterrados nos jazigos de suas famílias, que vários
carros conduziram coroas e flores, deve-se lembrar que o fato gerou uma conferência do
embaixador argentino com o chefe do Governo Provisório, onde, deve-se ressaltar, conferenciar,
assim como palestrar, tem um caráter significativo igual ao de conversar, e não de um evento
próprio, como poderia-se pensar hoje, ao ler-se este mesmo termo. No entanto, é um movimento
do embaixador com o presidente, em caráter diplomático. Esse encontro tem nova ênfase quando,
presidente, por ter recebido instruções especiais do presidente argentino para apresentar
rivalidades, e por este motivo, aí, sim, não poderia ser tratado como algo que abalasse as
relações amistosas entre os governos, segundo ele próprio, agora mais íntimos e cordiais
devido à viagem do presidente argentino. Ou seja, há uma oposição entre o que pensam “os círculos
argentinos”, que não são devidamente nominados, e a versão oficial, de simples engano, equívoco,
Diz-se “até então” porque neste momento o jornal informa que as autoridades argentinas
As versões, portanto, indicam que, embora não houvesse esclarecimentos suficientes para
fazer qualquer julgamento, havia uma pressa em acalmar a opinião pública quanto aos motivos pelos
quais um ato violento como aquele ocorrera. Como pode-se afirmar os motivos e minimizar os
inquérito?
Por fim, “Do mínimo ao máximo” salienta estas diferenças na cobertura de “A Federação” e
do “Correio do Povo”, onde o primeiro ressalta a necessidade de não afetar as relações entre
Brasil e Argentina, e o segundo, embora reconheça que não haviam detalhes esclarecedores
suficientes, justamente por considerar uma tragédia que afetou a sociedade, procura mais
informações.
A FEDERAÇÃO, 19/10/1933
Como a própria matéria admite, o episódio, não mais um acontecimento, nem uma
ocorrência, mas algo que parece que terá uma continuação, ficou reduzido, pelo menos de acordo
com “A Federação”, a um caso eminentemente policial. E, embora, quanto aos motivos tenha
sempre sido repetido que não se sabia o motivo, de repente fica esclarecido em termos
satisfatórios, talvez tenha ficado ao governo brasileiro, mas não à sociedade. O jornal faz
questão de afirmar que não fica o menor equívoco que possa suscitar dúvidas e receios e que
que, da mesma forma com que afirma que as autoridades argentinas abririam inquérito policial,
também o governo brasileiro tomou a mesma providência, baseado na agora acentuada gravidade
e repercussão que tiveram os acontecimentos. Fica claro que apesar de todas as tentativas de
acalmar a opinião pública, a morte destas pessoas celebrizadas teve uma repercussão
suficientemente grande para demandar a abertura de um inquérito, embora fosse politicamente mais
interessante deixar o assunto morrer sozinho. Tanto assim é que o jornal afirma que os governos
renovada ao afirmar que o designado foi o chefe de política do estado, que seguiu naquele mesmo
Aires que o ministro do Exterior publicaria naquela data um comunicado oficial sobre o incidente,
e reafirma que foram dadas severas ordens para apurar o acontecimento. Apesar de dar todas
estas satisfações ao leitor, de que estão sendo tomadas providências com seriedade sobre o
ocorrido, relata que uma fonte do governo – uma pessoa da embaixada brasileira – havia
declarado que o incidente não afetaria as boas relações entre os países, acentuada com a visita
do presidente argentino.
Com este encerramento, as duas versões informam que as relações não deverão ser
afetadas, mas o “Correio do Povo” acrescenta a informação do inquérito brasileiro, ao passo que
“A Federação” faz papel de juiz, “Afirmando o inafirmável”, ao dizer que não restava o menor
equívoco.
75
Desta forma, o jornal dá o caso por encerrado, só retomando em seu obituário, quando
noticia a missa de sétimo dia das vítimas, e, talvez inconscientemente, apesar de ter afirmado que
não havia transtorno diplomático, a população não havia esquecido nem diminuído a mágoa.
A FEDERAÇÃO, 23/10/1933
Obituário, no topo
Embora o jornal tenha tentado diminuir a importância dos fatos em sua edição de 19 de
outubro, a grande mágoa que perdura no espírito público denuncia que existia mais sentimentos
Novamente, o redator fala em tragédia e na origem das vítimas, do quanto eram ilustres e
ainda o são suas famílias, refletida também nas presenças à missa de sétimo dia, a citar, o general
Disse que o coronel Benjamim Vargas, como era seu habito e de todos
conhecido, costumava constantemente percorrer a costa brasileira em
lancha, levando um fuzil metralhadora para o serviço de policiamento
que o executava por pedido directo das autoridades de Santo Thomé
que receavam uma reunião de emigrados argentinos nas costas
brasileiras e também por ordem delle chefe de polícia, confórme
telegrama transmittido ao sub-chefe desta região, e em virtude de
oedidos por intermédio das respectivas embaixadas e telegrammas do
Ministário do Exterior. O chefe de polícia disse que esta parte era
muito importante e que elle a ressaltaria em seu relatorio, porque era
de grande significação. Depois de tudo isto, pergunta, o chefe de
polícia, seria um mal-entendido?
continua a cobertura, entrevistando o já citado chefe de polícia do Estado, Dario Crespo. Este faz
revelações que o público de “A Federação”, se não tiver procurado outras fontes, jamais teve
acesso.
Segundo a matéria jornalística, narrada em tom de ata, o que fica claro em observações
repórter, o entrevistado admitia a existência de diversas versões, embora só uma tenha chegado
oficialmente ao grande público, e assim teria permanecido não fosse esta entrevista.
acontecimento de circunstâncias mais graves. O leitor que havia acompanhado até aqui não poderia
ter esta noção sem esta entrevista, pois ele mesmo, autoridade pessoal, fôra a São Borja animado
em vários momentos, como quando afirma estar firmemente convencido de que havia
esclarecido, em todas as suas minúncias, a dolorosa tragédia. O jornal faz a sua indicação de
tentativa de máxima imparcialidade e de busca de credibilidade ao afirmar que abrirá mão se sua
Na narrativa de Dario Crespo, aparecem detalhes que antes não haviam sido noticiados,
como a existência de armas na embarcação das vítimas, e que elas não apareciam na licença
concedida pelas autoridades argentinas. Aparece também a figura de Benjamim Vargas não mais
como mero coadjuvante, mas participante e comandante do Corpo Provisório de São Borja,
juntamente com outras pessoas da cidade. Este, segundo o depoimento, estava fardado, e havia
Um dos jovens foi abordado por um marinheiro que quis revistá-lo, perguntando se
trazia armas, e teve como resposta apenas que tinham licença para vir à cidade, não
respondendo se levavam armas ou não. Toda a confusão teria sido causada porque o marinheiro
insistiu em desarmar os visitantes, o que parece um procedimento normal em uma fronteira. Esta
insistência, no entanto, teria sido motivo para Benjamim Vargas alvejar o marinheiro no rosto.
Somente após estes acontecimentos é que os brasileiros receberam uma descarga das
autoridades argentinas, que culminaram nas mortes tão choradas pelos são-borjenses.
Para aumentar a confusão, o mesmo Benjamim Vargas lembra-se, segundo Dario Crespo,
de um fuzil metralhadora, e faz uso dele. A narrativa é interrompida para o mesmo Crespo,
abrindo um parêntese, dizer que mais adiante explicaria o motivo do mesmo na lancha.
82
Muitas das afirmações de Dario Crespo dizem respeito ao que jornais teriam comentado,
embora estes comentários não tenham aparecido nestes dois jornais antes, suscitando a curiosidade
de quem pesquisa o tema. Ao terminar a cronologia da recuperação do corpo de uma das vítimas,
que também teria suscitado boatos, volta a explicar a razão da existência do fuzil metralhadora.
Segundo ele, era um hábito de todos conhecido Benjamim Vargas percorrer a costa em uma
lancha com a arma para serviço de policiamento e fazê-lo por pedido direto das autoridades de
Santo Tomé, que receavam que argentinos emigrantes reunissem-se na fronteira, e também por
ordem dele, chefe de polícia, que diz que esta parte era muito importante e que ele a
O próprio Dario Crespo questiona e já responde se tudo poderia ter sido um mal
entendido, e acusa, ao dizer que é tudo obra do indivíduo Jovelino Saldanha, aquele mesmo
que Lucas Torres menciona em suas memórias, publicadas por Sérgio Venturini.
A versão do chefe de polícia dá conta de que este era um criminoso, foragido, que
sem mencionar que estas autoridades eram a família Vargas. Segundo Crespo, o indivíduo era um
aventureiro que vinha escrevendo violentos artigos contra as autoridades e que fantasiava um
ataque armado pelas autoridades de São Borja contra o seu jornal. Afinal, que autoridades eram
aquelas, não é dito. O que é dito é que o jornal deste indivíduo não era a expressão da opinião
pública e que quem dizia isto era a imprensa autorizada de Santo Tomé, sem explicar quem era
O encerramento é feito com a constatação de que a sociedade ainda estava sob o efeito da
dolorosa tragédia, que a feriu profundamente, mas mesmo assim não havia o ambiente de
revolta ou animosidade de que se falava. Mas quem falava? Uma repercussão da qual não se
obituário, onde admite a mágoa existente, e o “Correio do Povo” não apenas continua cobrindo o
assunto como consegue uma entrevista com a autoridade policial que cuidava do caso.
É a partir daqui que tem início o “silêncio” de “A Federação”, que já havia decretado o fim
da cobertura em 19 de outubro e apenas referido a missão no dia 23. Este jornal só voltará à cena
com o que chamará de rebelião argentina, em janeiro de 1934, e sem jamais procurar conexão
entre os fatos.
Portanto, até o dia 02 de janeiro, somente foi possível a análise dos textos do “Correio do
Povo”.
01/11/1933
houve uma grande repercussão ao afirmar que foi muito comentada a entrevista do fato no qual
perderam a vida elementos da sociedade , não mais acontecimentos, não mais vítimas, não mais
reconhece com um grave acontecimento, reconhecimento este que não parece ter sido levado em
conta pelo jornal “A Federação”, que nem uma linha sequer dedicou, nem com o estímulo da
A importância nas páginas cai, pois antes aparecia como matéria principal e agora passa a
ser um dos assuntos do interior, na editoria de telegramas, entre outros assuntos diversos.
Mesmo assim, o jornal faz uma retificação no que diz respeito a um polêmico trecho da
entrevista, o que justifica o título “Comentários da entrevista: uma retratação”, passando a afirmar
que na parte em que diz haver Benjamim Vargas alvejado primeiro o marinheiro, o comandante
do Corpo Provisório de São Borja somente atirou depois de ter sido alvejado. No entanto, não
16/11/1933
se ao caso como ainda os acontecimentos de São Tomé . Nesta matéria, relata que o oficial
argentino que procede investigações já está em sua segunda viagem. Segundo o jornal, o
brasileira, teve enorme repercussão naquele país. Mesmo assim, o oficial omitiu os resultados da
imprensa, o que o jornal traduz quando diz que em reunião fechada entre autoridades dos dois
países, ninguém nada transpirou. Esta indicação do dia revela que “Mais oficiais investigam”,
23/12/1933
A partir daqui, outro problema fronteiriço entra em foco, e embora inicialmente não pareça
ter nada a ver com o primeiro, algumas marcas demonstrarão as conexões que as outras versões
conste que os revolucionários estão presos em Uruguaiana. Presos na costa brasileira, os civis
portavam armas e as ordens partiram de superiores, não explicitando quem. O regimento que
efetuou a prisão faz um rigoroso patrulhamento, e estado em prontidão, embora hajam apenas
27/12/1933
87
p. 8, coluna ao centro
Mais uma vez o “Correio do Povo” usa do expediente de entrevistar para esclarecer os
Novamente entra em cena o modelo testemunhal, semelhante a uma ata, com o intuito de conferir
se ao dizer que um dos presos tem palavras elogiosas aos oficiais, no entanto, foi criticada a
autorização dada ao cônsul argentino para interrogá-los e a foto que deveria ter sido tirada não foi
não prisioneiros, que mostram-se satisfeitos e são tratados de maneira cavalheiresca. Os oficiais
O preso mais ilustre, coronel Pomar, no entanto, não esconde sua contrariedade com o
A foto que não foi tirada, foi negada amavelmente pelo militar, que de forma alguma
Toda esta cordialidade faz o leitor pensar nos entrevistados de maneira curiosa, o que
procurei transmitir com o título “Entrevista com detidos: revolucionários ou celebridades?”. Afinal,
28/12/1933
p. 2, chamada
p. 8, 1 coluna ao centro
Ao afirmar noticia-se o jornal não afirma quem noticia, e novamente afirma sem informar a
fonte, deixando-a desconhecida. Afinal, “Quem noticia... noticia alguma coisa”, dizendo quem
noticia.
embora dê este sujeito indeterminado, diz que está plenamente confirmado que a polícia
outro, está plenamente confirmado. De qualquer forma, relata que todas as informações estão sob o
mais rigoroso sigilo e apenas relata que os revolucionários são argentinos, embora as prisões
30/12/1933
p. 14, chamada
p. 7, 3 colunas na base
91
Logo, surge a pergunta: “Onde está ‘A Federação’?” Está preparando sua edição especial
de aniversário.
O “Correio do Povo” fala primeiro somente na Argentina e possui somente a posição oficial
daquele país, que informa, ou melhor, assegura, ter dominado a situação, portanto, reinando a
tranqüilidade.
O governo afirma terem sido tomadas enérgicas providê ncias para contornar os
com informações de Uruguaiana, que também informa que houve um forte tiroteio, havendo
Informa ainda que Santo Tomé está em poder dos revolucionários e, em contradição,
de Buenos Aires as informações são de que a cidade amanheceu agitada pelos boatos de que a
ordem havia sido alterada. Um mesmo jornal e várias versões. No entanto, como todas estas
versões estão na mesma edição e subseqüentes, o leitor tem a chance de avaliar todas as
É aqui que, passadas as comemorações dos seus 50 anos, que “A Federação” retorna,
argentina.
A FEDERAÇÃO, 02/01/1934
Não foi, portanto uma revolução, como tantas que surgiram na parte
extrema do territorio americano, impelidas por um ideal definido e,
altamente, digno e patriotico, mas uma reação criminosa por parte
dos despeitados e ambiciosos de um regimen de ordem, de paz e de
trabalho.
Iniciando com felizmente a sua matéria, “A Federação” parte do princípio de que todos já
estão a par dos acontecimentos na Argentina ao nominá-lo pelo artigo definido, mas não foi através
Passa por serenou o tumulto que, no passado, vinha agitando – embora não diga desde
Mas a descrição vai de tumulto a um fato que vinha expondo em perigo a paz do
continente ame ricano, e que agora são confortadoras, tendo desaparecido o motivo de temor
que existia. Seja lá o que for que existisse, o leitor fiel de “A Federação” desconhecia.
A estas alturas, o governo já estava satisfeito com a forma rápida com que havia
atentados contra o governo, que tudo fez para impedir maiores perdas e conseqüências
graves. Quando “A Federação” relata os fatos, eles já serenaram e, portanto, não há porque
preocupar-se. Quando havia motivo de apreensão, calou. Mesmo assim, fala da gravidade da
ao dizer que não foi uma revolução, e que nada mais existe.
96
Ao final, antes de uma segunda nota oficial que informa que fracassou completamente o
movimento revolucionário, relata que foi comunicado à imprensa que os revolucionários que
Com essa definição do que não havia definido, “A Federação” admite um acontecimento
Até hontem tinham sido presos 16 delles, sendo que dois se encontram
nesta capital. Os demais se acham em viagem para aqui.
p. 8 (telegramas)
1 coluna à dir.
Também relata que, apesar de toda a normalidade, vigora o estado de sítio na Argentina, e que
as armas que estão sendo encontradas estão sendo recolhidas, com uso da lei com o seu máximo
rigor.
O jornal “A Federação”, sem explicações, retoma um assunto que não poderia ser
retomado, já que não havia sido referido anteriormente. Portanto, foi uma “Volta dos que não
A FEDERAÇÃO, 03/01/1934
Primeira página
Em chamada de capa, “A Federação” passa a noticiar o que havia deixado de fora e tenta
recuperar o tempo perdido. Do Rio de Janeiro, informa que o embaixador argentino esteve em
palestra, ou seja, conversando, com um redator do jornal “O Globo”, onde declarou ter sido
extinto o levante – e não a revolução – ocorrido na fronteira da Argentina com o Brasil, o qual,
da mesma forma como o caso de Santo Tomé, nada afetou as relações entre os dois países,
lacônico ao afirmar que há dificuldades para que impedir que os revolucionários se juntem nas
Em matéria na última página, desta vez de Montevidéu, admite que há problemas políticos
Tomé e fugiram para o Brasil, vestindo uniforme militar e que antes praticaram toda sorte
de desordens, desmandos e saques. Depois, afirma que novamente reina a tranqüilidade, embora
os revoltosos tenham se retirado para o noroeste do país, sem explicar de qual país.
considerando-o auto-explicativo.
“Afinal, levante ou revolução?” é a pergunta que paira no ar para o leitor que comparar as
duas versões.
revolução.
101
A FEDERAÇÃO, 13/01/1934
p. 8, 2 colunas esq.
Por outro lado afirma-se que o sr. José Guilherme Berlotto foi
obrigado a se refugiar na cidade uruguaia de Melo.
Mais uma vez notícias não se sabe de quem, a não ser que partem de Buenos Aires,
indicam que há problemas, em forma de trama, ao afirmar que argentinos confabulam na fronteira
com o Brasil, não caracterizando com um problema ainda brasileiro, mas próximo. As informações
particulares que estão sendo comentadas em diversos círculos não dão chance a saber quem
informa e quem comenta, e mantém o tom de mistério ao informar que há palestras reservadas
com pessoas que daqui vão, isto é, do Brasil. Estas mesmas fontes dizem que as autoridades
brasileiras procuram inteirar-se do assunto, mas ainda não possuem esse domínio, portanto.
Tudo isto, embora não tenham vindo informações oficiais, conforme admite o jornal,
que continua omitindo qualquer que seja a sua fonte, ao assumir que afirma-se, embora não diga
quem afirma. A matéria continua com marcas de opinião onde há uma presunção: não obstante
não haver vindo nenhuma nota oficial – e reconhece – segundo afirmamos, talvez por não se
haver dado grande importância ao fato, afirma-se – novamente, quem? – que foram adotadas
persuasão e ênfase ao dizer que repetimos são simples medidas de previsão de algo que inspirou
p. 8
Embora a notícia seja anunciada como um envio retardado pelo enviado, ainda do dia 04
de janeiro e publicado em 07, novamente em marcas como pouco a pouco e vai entrando em sua
vida normal indicam que o clima não foi restabelecido com a rapidez anunciada de início. O mesmo
vale para desaparecendo o ambiente criado com a revolução, que apesar das fontes oficiais
O governo faz-se presente em sabe -se aqui – mais uma vez geral, sem fonte – que o
movimento e que, segundo a opinião geral dos revolucionários, foi uma da causas do fracasso da
ação.
104
Mais uma vez “A Federação” cala e apesar de toda a relevância dos acontecimentos no
país vizinho, que tem registros de repercussão no Brasil, não acompanha o ritmo de informações
quase diárias que o “Correio do Povo” continua a ter, retornando somente em 20 de janeiro.
“Confabulando, mas não muito”, reflete a idéia de que, apesar da conotação de trama
transmitida na matéria, apressam-se em dizer no mesmo texto que são simples medidas, o que
CORREIO DO POVO
09/01/1934
Rio de Janeiro –, o presidente faz saber que irá à Argentina em breve, mas não para participar de
investigações sobre os problemas políticos argentinos, e sim para retribuir a visita do presidente
daquele país, segundo o que outro jornal, A Noite, apurou. O título mais visível, no entanto, não
destaca o motivo, sim a ida a Buenos Aires por parte de Getúlio Vargas. A viagem também não é
programada para tão em breve assim, pois o próprio jornal admite que não se sabe ainda a data
de partida que pode ocorrer, talvez, em julho, seis meses após aquela data, ou seja, “Um anúncio
bastante adiantado”.
10/01/1934
URUGUAYANA, 9
Entre diversos títulos, entra nova notícia sobre “Mais um inquérito” a ser aberto do lado
Desta vez o oficial é o general Toledo Bordini, que segundo o jornal, vem abrir inquérito
São Borja. Quais acontecimentos anteriores foram estes, se há algo relacionado com os fatos de
outubro, ou se refere-se a outros fatos não explorados pelo jornal, não é explicado.
12/01/1934
cita, sem comentários – em telegrama que relata sem fazer nenhuma observação a respeito –, quais
os demais integrantes da comitiva da futura viagem de Getúlio Vargas: os ministros das Relações
Embora o motivo da presença do ministro das Relações Exteriores pareça óbvio, nenhuma
“Ainda a viagem”, porque apesar de não haver uma data definida e da mais provável data ainda
14/01/1934
O jornal cita, a propósito, como fonte, o discurso de “outros jornais”, da capital federal,
que dão recomendações sobre o que deve ou não ser feito, mas não se pronuncia sobre a sua
18/01/1934
“Enfim, o exílio” trata da solicitação de exílio, finalmente alcançada por parte dos argentinos.
Somente com fontes de agência, primeiro de Buenos Aires, e, na segunda matéria, do Rio
de Janeiro, informa o jornal que os exilados, entre eles o ex-presidente argentino, Marcello
carioca ao governo, dizendo que estranha o desrespeito à índole do nosso povo, tomando para
brasileira.
19/01/1934
110
p. 14 (última), 6 colunas
114
Quanto ao sr. Baron Bizza, que tambem tivera em Juiz de Fóra por
“menage", era um jornalista, que os confrades desta cidade acolhiam
com a mais viva cordialidade.
1º, a liberdade; 2º, que se lhe fixe a residencia no Rio de Janeiro; 3º,
que se lhe permita abandonar o paiz ou em ultimo dos casos, ser
entregue ás autoridades argentinas;
116
Devo declarar mais uma vez, comtudo, que prefiro ficar no Brasil,
cuja hospitalidade me é grata, desde que me permitam a residir no Rio
ou em São Paulo a partir para o estrangeiro.
Caso isso, porém, não seja possivel, como parece, desejo abandonar
immediatamente o paiz.
- Infelizmente, não tenho muito o que lhe declarar nesse caso. Não
seria de bom estylo de minha parte offerecer noticias sobre assumpto
que é da alçada do Ministerio das Relações Exteriores.
Mesmo sendo um acontecimento que não deve ser motivo de preocupação, “Mais
ordens da capital federal brasileira. Primeiro há um número de cinco pessoas. Depois, são
diversos, sem definição, e após, são nominados um a um, conferindo com os cinco revolucionários
anunciados no início.
Os presos são procurados com freqüência e interesse por parte da imprensa local, que vai
até a prisão para coletar informações sobre o seu descontentamento, e registra uma greve de
fome realizada em protesto aos procedimentos adotados com relação a eles. São feitas entrevistas
com presos, que fazem críticas ao governo, ao mesmo tempo em que parecem defendê-lo, para
revolucionário – na Argentina.
A FEDERAÇÃO, 20/01/1934
p. 8, 1 nota
Os antes revolucionários agora são membros de um movimento subversivo que tem sua
Da capital federal o jornal informa novamente, através da transcrição de uma nota oficial, o
andamento dos acontecimentos sobre os exilados argentinos. A nota refere-se a uma tentativa
revolucionária a qual o Brasil, pautado não só pelos deveres de boa vizinhança e política de
tradicional amizade, toma medidas na fronteira, e passa a explicar as razões diplomáticas pelas
quais ambos os países estão adotando providências para que a paz continue, e, ao mesmo tempo,
justifica o motivo dos exilados não terem sido baseados na capital federal, critério que vinha sendo
De uma agência recebe e a notícia e informa que o prisioneiro grevista está sendo defendido
e que já teve um pedido de habeas corpus impetrado. O destaque é bastante grande, três colunas
na primeira página. Ou seja, existe o “tímido retorno de um jornal e o maciço interesse de outro”,
em contraposição.
A FEDERAÇÃO, 27/01/1934
p. 3, 1 nota na base
RIO, 27 (A. B.) – Pelo avião da Panair, chegou o sr. Benjamin Vargas.
p. 6
1 coluna ao centro
Na segunda matéria, sem destaque, e entre outras notícias de naturezas diversas, informa
que em carro especial chegou o ilustre militar Bordini, cuja viagem prende-se aos recentes
125
Accentua que num paiz como o nosso, dar por menagem todo o
territorio, exceptuado os Estados fronteiriços, seria cumprir tudo que
os deveres de boa visinhança podiam reclamar. Faz mais alguns
126
Agora a situação dos exilados também já é um caso, visto que continua recorrente. O
Instituto dos Advogados do Rio de Janeiro entra na discussão, e os presos agora são asilados e
tradições de hospitalidade .
Além disso, narra a opinião dos advogados sem comentar seu mérito ao afirmar que o
governo está constrangendo os expatriados que seriam isentos de qualquer pena ou culpa.
127
Prossegue com a repercussão das ações do governo em outros jornais da capital federal,
pela sua importância jornalística, política e geográfica. O Jornal do Brasil, por exemplo, se ocupa
da nota do governo e produz julgamento ao afirmar que só poderia significar, mas não se
posiciona, apenas cita a opinião daquele jornal. O mesmo ocorre com a nota reproduzida do Jornal
capital federal, neste dia nomeado como “Chegadas e partidas; o que diz a capital?”, as notícias do
Rio de Janeiro, como mostra a repercussão dos jornais daquela localidade, ainda eram referentes
aos argentinos.
Subtítulo 2: Declarou que sua missão fora secreta, por isso nenhuma
declaração fazia à imprensa
Novamente o caso dos “exilados continua em destaque”. Na primeira página, inicia com a
página 7, os ecos dos sucessos – aqui e sempre que citado deve ser entendido como
acontecimentos – revolucionários voltam à pauta, com a chegada do general Bordini, que estava
realizando investigação sobre o assunto. Segundo o jornal, o general declarou que a sua viagem
tratava-se de missão secreta, e que, justifica, por isso, nenhuma declaração fazia à imprensa.
E assim continuou não fazendo grandes declarações, pois, após informar por onde passou, sendo
importante ressaltar que visitou primeiramente a cidade de São Borja, depois São Luiz – cidade
que só havia aparecido quando Dario Crespo citou o jornalista Saldanha –, Itaqui, Uruguaiana e
arredores.
O jornal conclui dizendo que o general deu conhecimento de tudo que notara e ouvira
em suas investigações, mas que, abordado pela reportagem do “Correio do Povo”, disse nada
poder dizer a respeito e que somente ao governo federal daria conhecimento do que
apurara. Portanto, o próprio jornal reconhece, com sarcasmo, teve que fazer meia-volta, volver,
24/01/1934
Esgotado o prazo de que o sr. Silveira Martins podia dispôr para fazer
uso da palavra, passou o relator, ministro Carvalho Mourão, a
proferir o seu voto.
Assim ficarei no Rio nesta America do Sul da qual sinto tanto orgulho
em ser filho.
adjetivações dos presos, mas a afirmação de que felicitou os envolvidos pela solução do caso e de
que saíram satisfeitos denuncia um sentimento de felicidade com aquela situação, e de emissão de
julgamento e opinião. No entanto, a “Liberdade aos exilados” não está mais na primeira página, ao
contrário das últimas notícias sobre o assunto, demonstrando o início do fim da cobertura.
25/01/1934
A menção continua sendo a revolucionários argentinos, que agora embarcam para Minas
Gerais, e que manifestam ao jornal pessoalmente suas despedidas e pedidos de que tornasse
134
público seus agradecimentos a este jornal pelas provas de consideração que mereceram, na
detalhada reportagem que o jornal havia feito. Desta vez, são nominados, além dos já citados
apreço.
revolucionários.
26/01/1934
E tanto mais urgente se nos impunha esse dever quanto é certo que
algumas pessoas a quem se tratou de applicar taes medidas, ao
verificarem aquelles successos, já se encontravam em nosso paiz, na
região em que se produziram os factos nos quaes seu governo as
declara implicadas.
Daqui os fez seguir para o Estado de Minas Geraes, onde lhes foram
dadas por menagem as cidades de Bello Horizonte e Juiz de Fóra.
mal entendidos que teriam sido culpa da imprensa, como está explicitado em julga conveniente,
referido.
139
28/01/1934
p. 7, 2 colunas centrais
Estes deverão seguir, amanhã ou depois, para o Rio, via Porto Alegre,
e serão acompanhados do capitão José Thomé Xavier Britto.
O jornal informa que, ao contrário do que poderia ter sido entendido antes, com a notícia de
alguns. Uma “exceção entre as exceções”. Estes, no entanto, estariam recebendo inúmeras visitas,
30/01/1934
de Infantaria.
presos políticos.
No entanto, o jornal não diz de que ordem eram estas preocupações, já que as notícias que
chegavam eram de que estavam sendo bem tratados. Simplesmente transmite a notícia, sem
explicações maiores, e com essa notícia sobre o “tratamento dos presos”, encerra a cobertura.
Ambos os jornais procuram, estrategicamente, fugir de explicitar a sua opinião oficial sobre
o assunto, transferindo-a para as várias versões construídas, seja por seus correspondentes,
agências ou notas oficiais de governo, sem fazer um fechamento que esclareça ao público qual a sua
posição.
opta por assumir um final para a cobertura, que não é retomada mesmo com todas as informações
que o “Correio do Povo” levanta, sem qualquer comentário. Aqui, a omissão cumpre o seu papel.
O que há de mais específico em cada um dos jornais estudados começa justamente pela
escolha em omitir ou não os fatos, dar seguimento à cobertura ou não. Conforme verificado, o jornal
autoridade policial que cuidava do caso, limitou-se a registrar mais uma notícia sobre as mortes
apenas no obituário.
Mas esta não é a única questão. “A Federação”, diário oficial do governo, como o próprio
jornal se denomina, subvertia a ordem da agenda pública em favor da agenda privada, como foi
quando o fato principal não foi noticiado por estar sendo preparada uma edição especial de
aniversário do jornal.
demonstrado o choque causado na sociedade são-borjense, o limite não foi a comoção, nem houve
exemplar anunciava, não restringia o alvo a “determinados indivíduos de uma única facção”, mas
constrangimentos por não ter continuado a dar a notícia, devido a um caráter cívico, já que todos
tinham condições de compreender que, por ser um órgão do governo, teria também a missão de
acalmar a sociedade.
no raciocínio do leitor, para que este vá gradativamente perdendo o interesse pelo assunto apontado
pelo noticiário, tomando para si o poder de escolha do que deve ser do interesse da sociedade e o
ao afirmar que não ficou o “menor equívoco”, “A Federação” propõe-se concluir pelo leitor o que
se apreende do acontecimento.
relacionar os fatos de outubro e dezembro. O que não se sabe é se esta falta de relação foi
proposital ou efeito da eficiência da família Vargas em não deixar que esta relação chegasse aos
jornais. Esse espaço só pôde ser preenchido com a recuperação de versões literárias e
testemunhais.
as coberturas operam. A quantidade de informações sem uma “costura” final, possivelmente deixam
144
o leitor sem saber em qual versão acreditar, pois todas podem ser válidas. Não deixar que uma
CONSIDERAÇÕES FINAIS
apresentavam, espalhadas nas diferentes versões encontradas, nos campos literário, jornalístico e
testemunhal.
Ao evoluir para um trabalho de conclusão, aceitei o desafio de que, para concluir alguma
coisa, precisaria estudar as versões a partir de teorias que ajudassem a sustentar minhas afirmações,
A importância das teorias, aqui, é fundamental. De nada valeria fazer suposições, a esta
altura do curso, sem relacioná-la com a leitura destas teorias e posterior análise do material, para
ajudar a tratar do ponto-chave deste trabalho, a partir do ponto de vista do estudo da comunicação:
As diferentes versões analisadas indicam uma clara diferença por conta da cultura do
visões, e na maioria das vezes sequer são reunidas pelo jornal para fins de dar uma só versão.
que em várias oportunidades podem ser constatadas em ambos os jornais. Os textos são recheados
A testemunhalidade, que passa pelo registro das emoções e características dos profissionais
ao narrar os fatos, é uma constante no jornalismo da época. Os jornalistas descreviam como eram
recebidos, por quem, a que horas, e as impressões, salvo quando retransmitiam telegramas, também
na íntegra. Neste caso, a intenção era não distorcer as informações transmitidas, sob a pena de
literatura. Os textos de Rui Barbosa como jornalista, político e jurista, do início do século, são
exemplos desse estilo de fazer jornalismo. O espaço dedicado às coberturas também era
de “A Federação”, que protagoniza períodos de “silêncio” absoluto com relação aos temas que
estão sendo abordados por outros jornais, diminuindo a importância e tirando do seu leitor a
possibilidade de informar-se sobre o assunto, fazendo crer que estava encerrado e que nada mais
Cabe lembrar que os jornais transmitiam as repercussões de outros jornais, o que também
acontece no “Correio do Povo”. Mesmo assim, sabendo que os demais jornais estavam tratando
do caso, e reconhecendo em seus enunciados que o tema era de domínio público, o jornal optou
por não cobrir os assuntos por algum tempo, sem dar explicações.
acontecimentos da mídia serem inclusive aqueles que não nos permitem ver, são confirmados. No
entanto, esta constatação só é possível quando outra fonte registra o acontecimento, para que a
omissão possa ser constatada, como é o caso. A própria inexistência dos jornais da região em
arquivos atuais são, também, mais uma confirmação das forças da omissão e do silêncio.
É claro que, como Lippman chamou a atenção, não é possível aos repórteres estar em todos
os lugares ao mesmo tempo, mesmo que o fizessem constantemente. Mas fatos já conhecidos – e
admitidamente pelo jornal, como era o caso – não podem ser catalogados como um acontecimento
que não foi passível de cobertura, e sim que não foi selecionado, ou agendado, para ser coberto,
pois já havia ciência do que estava ocorrendo e que continuava a ser noticiado pela concorrência.
Os jornais realizaram uma seleção dos acontecimentos que iriam cobrir e dos que não iriam,
Portanto, esta cobertura comprova que um fato pode, sim, ser construído, mesmo na
uso da linguagem como construtora de realidades, através das adjetivações e de todas as inferências
dos dois jornais estudados. “A Federação” coloca logo abaixo de seu nome a sua condição de
política ou partidária.
Por esses motivos, não é possível continuar considerando ser válida uma teoria como a do
espelho, que não considera as características humanas, políticas, subjetivas, dos jornalistas e dos
envolvidos no processo noticioso, que, afinal, também são seres humanos com suas próprias
suscetibilidades. As teorias construtivista e da ação pessoal, portanto, são as que se provam mais
procedentes, pois consideram que os repórteres não podem ser clarividentes e mesmo que o
fossem, para poder tomar conhecimento de tudo o que acontece, ainda podem, por motivos dos
mais diversos, optar por não dar notícia de tudo a que tiverem acesso.
Há, ainda, as questões práticas, de rotina jornalística, número de páginas, além do contexto
político, econômico e social que influirão sobre as pessoas envolvidas. Os jornalistas passam a fazer,
como diz Lippman, “o papel do árbitro num jogo de basebol sem marcação”, e assim será sempre
que estiverem em jogo notícias sobre estados de espírito, descrições de personalidade, motivos,
Esta consciência é o que fará com que, ao lermos um enunciado e uma matéria, tenhamos a
compreensão do sistema que está nela envolvido, que não pode, porque simplesmente não
O estudo aqui proposto, através da análise do caso de Santo Tomé, defronta-se com todas
estas questões, pois envolve política, opinião, motivos ocultos, autoridades, celebridades da época e
grande destaque.
Se o leitor não puder ter a consciência de que é necessário fazer a separação entre o que o
jornalista pensa, o que ele está tentando reproduzir e uma ainda possível diferença, terá que
acreditar no que lhe informaram, condenado a uma só versão. Daí a importância de consultar mais
de uma fonte.
O leitor que acompanhava somente o jornal “A Federação” ficou desprovido de uma série
de notícias sobre um mesmo assunto ao longo de até um mês, mesmo sendo as notícias,
sabidamente, normalmente continuadas, salvo quando o assunto não é mais do interesse público.
Já o leitor do “Correio do Povo” viu-o posicionar-se em favor de pessoas que ora eram
revolucionários, ora presos, ora hóspedes políticos, quando parabenizou e relatou este ato em suas
páginas.
Ou seja, quando os jornais chegaram às mãos de seus leitores, uma série de seleções ou
sobreposições confusas foram operadas. Os jornais da época tinham duas posturas antagônicas: ora
cobriam um assunto à exaustão, publicando as versões recebidas dos seus repórteres, ora nada
149
publicavam, o que certamente não pode ter acontecido por conta de um desinteresse coletivo e
Mesmo não sendo editoriais, as notícias carregam fortes características opinativas, presentes
em vários dias de cobertura. E é sob a égide destas opiniões que o público leitor busca o
Cabe aqui lembrar a mensagem de Robert Park, quando afirma que a notícia não é história,
e seus fatos não são fatos históricos, pois não os situa nem os relaciona com a realidade.
Não há tempo hábil para isto e, muitas vezes, também não há interesse. O repórter reproduz
o fato isolado, e este isolamento pode ser utilizado de várias formas, inclusive para não fazer
conexões incômodas, como o que ocorre nos dois momentos das coberturas jornalísticas aqui
estudadas.
A notícia, ao contrário da história, portanto, cuida do presente, mas hoje, no futuro daquele
passado de 1933 e 1934, ela ainda está constituindo um conhecimento válido, por: permitir o
registro de um fato, mesmo que não aprofundado, para as gerações futuras; usufruir de toda a gama
de possibilidades jornalísticas, tanto na forma prática quanto lingüística; continuar existindo como
fonte de pesquisa, apesar do ditado de que “não há nada mais velho que um jornal de ontem”.
150
Mesmo que a qualidade do conhecimento agregado seja efêmera, ela não é descartável.
crise, em que todos querem receber notícias para ficar mais tranqüilos.
julgamentos de seus noticiadores, os repórteres. Algumas, apesar do tempo passado, ficam para a
história explicar melhor aquilo que no presente não foi entendido, justamente pela falta de
Repensando as notícias por mim analisadas, constato também que este noticiário dos jornais
país, a Argentina, etc. Constato ainda que no fio da definição de causas que explicariam este caso,
Até que ponto já em 1933 estes tipos de registros nos mostram as primeiras ocorrências
destas disputas entre Brasil e Argentina, que se manifestando em vários aspectos, tem, na
construção das notícias sobre estas relações, referencias fundantes sobre este assunto.
Concluindo, posso dizer que o exercício deste trabalho contribuiu significativamente para
minha formação como jornalista, por comprovar que o jornalismo é uma forma de conhecimento,
embora diferente ao tipo de conhecimento gerado pela história e que é muito importante que a
O jornalista tem um poder muito grande nas mãos, ao editar, enquadrar, construir
realidades.
Finalmente, é possível verificar, após todas estas análises, que as versões dos jornais
remetem não só ao caso específico levantado, mas a diversos casos que são desdobrados e que
dispersam o leitor menos avisado, constituindo, assim, vários casos midiáticos: mortes trágicas; uma
diplomáticas.
pesquisadores em continuar buscando as pistas deixadas por colegas nas entrelinhas de seus
trabalhos, mesmo que tenham sofrido retaliações e tenham tido o seu trabalho queimado e retirado
do arquivo da história, como no caso dos jornais locais de São Borja. Mas a sua força, assim como
no caso da omissão de “A Federação” faz-se presente, pelos olhos de outros jornalistas, e assim,
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155
______. NBR 6024: numeração progressiva das seções de um documento. Rio de Janeiro, 1989.
Figura 4 - Prédio de A Federação (1922), na rua dos Andradas com Caldas Júnior, onde hoje
Figura 23 - Prédio do Correio do Povo (1915), à época na rua dos Andradas, 138/140, mais tarde
Figura 53 - 26/01/1934
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