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O futuro do planeta está nas cidades

JONAS RABINOVITCH

Folha de S. Paulo (01/03/10)

A experiência mostra que as cidades médias que mais crescem no presente


não deveriam repetir os erros do passado

VIVEMOS NUM mundo complicado: desperdiçamos por ano US$ 1,5 trilhão
em corrupção, US$ 1 trilhão em armamentos e US$ 600 bilhões em
subsídios agrícolas, e 2% das pessoas são donas de metade do planeta.

Mas quanto vale o planeta? Economicamente, vale quanto produz. Todos os


PIBs de todos os países somam US$ 60 trilhões por ano. Com 6 bilhões e
800 milhões de pessoas, isso daria uma "renda" de apenas US$ 750 por
mês para cada um, se o "comunismo total" triunfasse. E quanto vale o
potencial do planeta? Um estudo da UNU-Wider mostra que a soma total de
todos os recursos naturais e financeiros do planeta seria da ordem de US$
125 trilhões, incluindo terras, bens imóveis, transações financeiras, bens de
capital etc.

Ou seja, se o capitalismo selvagem triunfasse e o planeta todo fosse


transformado em dinheiro, cada pessoa nunca receberia uma "renda
máxima" de US$ 1.500 por mês.

O que está errado em tudo isso, além da simplicidade dos meus cálculos?
Parece que foi um grande erro passar décadas brigando se o mundo deveria
ser capitalista ou comunista.

Todas as pessoas precisam de educação, saúde, trabalho, transporte e


habitação -independentemente de partido político, religião ou sistema de
produção. O planeta e suas políticas de desenvolvimento não podem ser
definidas só por meio de cálculos econômicos ou propaganda política.

Por exemplo, uma escultura de Rodin pode valer US$ 10 milhões, mas
sempre vai valer muito mais do que se colocarmos um saco com US$ 10
milhões sobre um pedestal.

A globalização é uma realidade, mas gerenciar o planeta por essa


perspectiva ainda não seria realista.

Só quando os custos ambientais forem devidamente embutidos em todos os


cálculos econômicos poderemos realisticamente pintar desenvolvimento por
meio de números.

Enquanto isso não acontece, parece fazer sentido solucionar todos os


desafios de educação, saúde, trabalho, etc. por meio de unidades
gerenciáveis que permitam a participação de cada cidadão, com direitos e
deveres.

A boa notícia é que essas unidades já existem: chamam-se cidades. A má


notícia é que elas continuam sendo vistas -com ou sem razão- como fonte
de problemas, corrupção e mau gerenciamento.

Afinal, há alguma coisa errada em desenhar sistemas políticos que


funcionem para atender às necessidades básicas da população?

As grandes inovações que permitiram o crescimento e a verticalização das


cidades aconteceram há mais de cem anos: eletricidade, automóvel,
sistemas de abastecimento de água, concreto armado etc.

Hoje em dia, não acredito que inovações urbanas sejam necessariamente


tecnologias milagrosas ou fórmulas mágicas que automaticamente
resolverão todos os desafios. Inovações são processos -não eventos
pontuais-, mas precisamos apresentá-las pontualmente para que sejam
entendidas.

Com frequência, apenas fazer com que a administração pública acompanhe


as mudanças já necessita inovações. Além disso, enxergar a cidade de
forma integrada, eliminar fontes de corrupção, engajar a população de
forma participativa, aumentar a transparência e o acesso aos serviços
públicos são elementos comuns a várias cidades inovadoras.

Por exemplo, Curitiba mostrou que é possível controlar e direcionar seu


crescimento. Em Seul, Coreia do Sul, os cidadãos participam de decisões
sobre políticas públicas por meio de seus computadores. Na Índia, Estado
de Gujarat, cidadãos usam o computador para monitorar a qualidade da
água. Em Zâmbia, África, administrações locais usam clínicas ambulantes
em ônibus para levar saúde básica para áreas periféricas.

E mais: em Antígua e Barbuda, os ônibus são salas de aula para estudos de


computação para crianças da periferia. Na Eslovênia foi possível diminuir de
60 para quatro o número de dias necessários para abrir uma empresa
pequena ou média, sem custos para o empresário. No Chile, o site
governamental ChileCompra traz informações sobre todas as concorrências
públicas de forma transparente. A primeira Conferência Internacional sobre
Cidades Inovadoras (Curitiba, 10 a 13 Março) examinará essas soluções e
muitas outras.

A experiência e as informações existentes mostram que as cidades médias


que mais crescem no presente não deveriam repetir os erros do passado.
Em suma, a criatividade, aliada a recursos humanos, tecnológicos e
administrativos, já mostra que é possível desenhar um futuro muito melhor
para todos os cidadãos a partir das cidades do planeta.
JONAS RABINOVITCH, arquiteto e urbanista, é conselheiro sênior da ONU
para assuntos de administração pública e gestão do conhecimento.

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