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Centro de Humanidades
Curso de Filosofia – Diurno - 2009.2
Disciplina: História 2.
Professor : Argileu
Data : 25/02/2010
MONARQUIA ABSOLUTISTA
EM FRANÇA:
ORIGENS E RELAÇÕES DE PODER
Qual é o valor que tem para a Filosofia a História? Todos nós, sem exceção,
responderemos que é imenso, certamente! Pois, dada a natureza vasta, belicosa e
contraditória da Filosofia, seu valor máximo jamais poderia ser calculado de forma
particularizada, fragmentada ou individual. Foi preciso um enorme esforço de
inúmeros historiadores e filósofos para juntar tantos tesouros acumulados, bem
como dar seu testemunho a cerca deles. E somente assim: como um conjunto
histórico, a Filosofia tem seu valor respeitado! Sem este magnífico esforço, o que
teria chegado até nós da Filosofia Clássica? E como um tão alto edifício
permaneceria de pé sem suas bases?
De fato não é difícil responder a esta questão. Todos nós sabemos bem falar
da História perante o tribunal da Razão Filosófica! Mas a verdadeiramente capciosa
pergunta seria: quantos de nós, filósofos, tratamos a História de acordo com este
imenso valor agora mesmo testemunhado? Quantos de nós a levamos e temos
levado verdadeiramente a sério?
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1
Transcrevemos o primeiro aforismo na íntegra: “De tudo quanto se escreve, agrada-me apenas o que alguém escreveu com o
próprio sangue; escreve com sangue, e aprenderás que sangue é espírito” NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra:
um livro para todos e para ninguém, primeiro livro: “Ler e Escrever”, p.58
2
Mas em vez disso, guerreiros que somos!, enfrentemos todo o mal: em vez de
uma simples confissão de culpa, presenteemos aos nossos inquisidores com a
verdade completa. E a verdade só se conquista quando bombardeamos com todas
as questões, mesmo aquelas que querem se esconder no obscuro de nossas
consciências. Não nos pouparemos, mas também não pouparemos a mais ninguém.
Que as questões emergam do campo de batalha tal qual flechas, e que ninguém
seja poupado. No final, que esta imagem retorcida, triste, sangrenta e até comovente
não nos inspire nem nojo nem terror, pois assim é a verdadeira verdade, quando
despojada das cores românticas que nossa herança cultural nos leva sempre a
pintar, mesmo inconscientemente.
Não nos esconderemos debaixo daquela velha mentira que tantos falsos
professores gostam de nos cantarolar aos ouvidos, desde os primeiros semestres da
faculdade de filosofia: trata-se da já cansada afirmação de que “ao terminar nosso
curso, não seremos filósofos, mas sim estudantes de filosofia!!!”. Talvez seja por se
deixar seduzir por este velho convite à irresponsabilidade que os melhores de nós,
estudantes, se apequenam tanto, a ponto de nunca chegarem sequer a serem
estudantes medíocres, nem de filosofia, nem de seja lá o que for. Com efeito, quem
toma para si esta cômoda desculpa de ser um “eterno leigo”, perdoa-se a si próprio
de qualquer fraqueza, e também força seus professores a tratarem-no com a mesma
ridícula indulgência.
Consagra-se desta forma, a festa dos fracos e dos néscio, com ampla
aprovação tanto do lado docente, quanto discente. É por isso que, muitas vezes, as
aulas na nossa faculdade assemelham-se mais a uma palhaçada de circo! Todos
somos cúmplices nesta hipócrita “Festa do Burro”2, e é o professor que faz a
chamada pelo nome, um a um, para que em voz baixa e religiosa, prestemos nossa
deferência e nossa reverência a esse tosco mecanismo de sanção e aprovação da
incultura: de tudo que é fraco, baixo, ridículo, hipócrita e desprovido de originalidade.
Mas certamente um dia aparecerá um estudante desaforado, que responderá à
chamada em voz alta e petulante, para que ninguém nunca mais esqueça do seu
nome, nem dos verdadeiros nomes que deveriam guiar a educação, e que são tão
contrários a estes que veneramos silenciosamente, por trás dos nossos belos
discursos perante o tribunal de nossa mãe, a Filosofia.
Neste tribunal, portanto, não poderíamos poupar nossos mestres. Por vezes
eles são grandiosos e nos tele-transportam, por horas a fio, como num filme, para
outros mundos, distantes no tempo e nos costumes. E, como retornamos
transformados de tais viagens! Como nossas perspectivas de vida se abrem ante tão
belas imagens, que só os mais sábios professores podem nos proporcionar! Como
tão bem se realiza, ali naquela sala de aula, as mais elevadas finalidades da
educação!
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Para melhor compreensão, recomendamos a leitura de: NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos
e para ninguém, quarto livro: “A Festa do Asno”, p.383
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Mas também, é forçoso dizer, é nesta mesma sala de aula, e diante dos
mesmos professores, que assistimos atônitos, ao festim da carne sobre o espírito.
Com que facilidade um aula de História ou Filosofia se transforma numa aula de
tele-dramaturgia! Com que desembaraço nossos mestres, tal qual seus alunos,
esquecem-se da ética! Talvez deixem-se seduzir ainda por aquelas imagens de
selvagens néscios, lendo cópias mal feitas, desavergonhada e indisplicentemente,
sem respeito, nem pelos professores, nem pelos demais alunos. Talvez pensem,
uma vez ou outra, de forma rápida e tristonha: “não passam de bichos, afinal!”, e
algum dia em que estiverem cansados, e tiverem perdido a sua mais alta esperança,
passarão a praticar deliberadamente esta afirmação de forma contínua e indiferente.
De certo, não é justo que os alunos do futuro sejam massacrados por causa
da falta de interesse e de respeito dos alunos do passado, mas tampouco é justo
que estes últimos sejam tratados como bodes expiatórios. Primeiro porque, apesar
de sua incapacidade e sua fraqueza, não merecem o nosso desprezo, nem
tampouco o de seus mestres. Justamente por serem alunos, ou seja: a-lunos,
desprovidos de luz, merecem mais que ninguém serem resgatados dos poços
obscuros da concupiscência mental. E quem é mais digno de realizar tal tarefa que
os mestres que estão no alto, e portanto, podem mais facilmente se abaixar para
nos socorrer?
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Para melhor compreensão, recomendamos a leitura de: NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos
e para ninguém, primeiro livro: “Uma Árvore na Montanha”, p.62
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É claro que nós alunos não poderíamos nos contentar com a simples
imitação, senão, não passaríamos de primatas. A imitação é apenas o passo inicial
rumo à auto-suficiência e à originalidade, que no fundo, temos de confessar, são
apenas imitações melhor elaboradas e de um mais alto nível.
Mas a tarefa mais árdua só poderá ser realizada em conjunto. Para vislumbrá-
la, basta levantarmos uma questão bastante crônica, já que estamos em época
carnavalesca: até quando a festa da carne sobrepujará a festa do espírito? Quando
poderemos eficazmente suplantar um estado cultural nacional tão imediatista e
transloucado por uma cultura mais pacimonioniosa, contemplativa e desinteressada?
Até quando perseguiremos, cega e loucamente, este sonho de felicidade? Quando
finalmente a sabedoria ocupará o primeiro plano em nossa cultura nacional? Talvez,
se fôssemos menos europeus e mais indígenas e africanos... o indígena e o negro
cultivam sim uma felicidade. Mas a felicidade forjada na libertinagem, e no “só não
vai quem já morreu” é fruto dos sonhos de liberdade da parte européia do nosso
sangue que, fugida do velho mundo, veio a nossa terra como quem vai ao último
baile de carnaval, onde tudo é permitido!
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Para finalizar este primeiro prefácio, em forma de desabafo, aviso aos
navegantes que, quem espera neste trabalho encontrar águas rasas e calmas, não
embarque nesta Nau. Se fores destes, cerra imediatamente estas páginas, de
preferência num baú de madeira, ou num garrafão de vinho, e lança-o ao mar de alta
vagas, que é este o lugar a que ele pertence. Não há nada de sucinto, nem de macio
nestes escritos que possa embalar teus sonhos. Mas antes, servirão para
esbugalhar os olhos e despertar a consciência. E se o tempo necessário para sua
exposição não couber em uma aula ou em meia-aula, paciência: não nos
consideramos bastante historiadores para pretender a posteridade, mas temos a
convicção de não sermos suficientemente leigos para aceitar encerrar nossa obra
nos vidros de uma ampulheta. Ela tem, como toda obra sincera, vida própria, e por
isso mesmo, um tempo próprio para ser conhecida. Quem quiser embrenhar-se
nestas matas, deverá ter antes de mais nada, alma de guerreiro, que é este o
verdadeiro espírito desbravador dos historiadores e dos filósofos. E deverá singrar
estes mares sempre de peixeira em punho, deixando na praia, qualquer vestígio de
preguiça, certo de que o trabalho de quem lê não é menor do que o trabalho de
quem escreve, nem a coragem, nem a paciência, nem a força, que são misteres a
quem quer, como disse Arthur Young, por meio de suas obras, fazer o bem: fazer os
homens pensarem! Sim, para fazer o bem, mais que bons pensamentos e fé em
Deus, é preciso atitude. E a primeira delas deve ser uma assassinato: assassinar a
preguiça!
Desde que o alemão, Karl Marx (1818 – 1883) pôs em cena o materialismo
histórico, podemos observar uma característica no discurso do historiador
contemporâneo que nos chama a atenção: a adesão à sedução de prepotência com
que verte suas análises de causas e efeitos históricos, sempre inserindo-as no
contexto dos aspectos políticos ou econômicos. No meio de produção – asseveram!
– está a origem e a base da sociedade, e portanto também, dos movimentos
históricos; e até mesmo os contextos sociais, culturais ou religiosos, que não pode-
se negar: influenciam de alguma forma o movimento das massas, terminam
sagazmente categorizados entre as causas secundárias – já são estas subprodutos
da causa material, e seu papel na história começa apenas neste momento segundo:
o de debaterem-se dialeticamente contra sua tese, contra o ventre que os gerou: a
base político-econômica: os meios de produção material.
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Mas pensamos que, além destas causas mortis, devem ser buscados
“causas-vida” numa História que está sempre em movimento e por isso, é sempre
menos abarcável do que supõe nossa capacidade de conhecer. Devem ser também
levados em consideração, por exemplo, certos efeitos imaginativos – isto é:
pequenas mudanças internas de paradigmas, que certos eventos históricos são
capazes de provocar, e que ganham após seu nascimento, e um certo período de
maturação, o status de “imagens determinantes”, de interpretações de mundo, e
portanto, de comportamentos – e portanto, de eventos históricos igualmente
“materiais”, e que por sua vez, acabam adquirindo um status de movente da marcha
humana, e não apenas uma inerte massa imaginativa dentro das cabeças humanas
sem o menor poder ativo na construção da História. Neste novo momento, de novo
status, perde-se, por conseguinte, através da incompletude, e da indeterminação do
Tempo, o referencial de causa e efeito tão asseverado pela escola marxiana.
Reconhecemos: a sede de poder e de dinheiro, movem sim tanto o homem comum
quanto o rico, mas não podemos também deixar de reconhecer que igualmente, ou
às vezes, até mais, movem o homem o êxtase, o medo, a angústia, e o desprazer,
oriundos desta sede.
Com isso, não deixamos de conceber a História material, mas admitimos que
certos produtos ideais desta materialidade podem chegar a exercer tanto poder
sobre a marcha histórica, que aquele primeiro movente material perde o nexo causal
com o seu próprio efeito, visto que, de tais produtos ideais, geram-se subprodutos,
que são novamente e mais uma vez, um acontecimento material, só que
diferentemente dos seres vivos que herdam o DNA paterno, tais descendentes
históricos materiais, assim intermediados por bases históricas ideais ou
imageticamente determinadas, não trazem consigo, necessariamente, a marca do
evento material histórico original, de forma que perde-se completamente o nexo
causal entre causa material e efeito material, e assim, abre-se espaço para a criação
de um meio produto do homem, tanto quanto este próprio homem é produto de um
meio.
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http://www.mundodosfilosofos.com.br/aristoteles3.htm
5
Os termos micro-entes e macro-entes são livre interpretações nossas. Tais termos não figuram entre os escritos de
Demócrito, Leucipo ou Aristóteles)
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Afirmamos, portanto, que a História não é um produto originariamente
material, como apregoam marxistas e marxianos (e nisto, eles consensuam!), posto
que, pelos problemas levantados no tocante à causalidade histórica, torna-se
extremamente complicada e capciosa a proposta de estabelecer quem é o “fator
originário”, ou mesmo determinar onde está a origem – para tanto é mister um
referencial, e um referencial é um dado extremamente móvel, maleável e
manuseável! De forma que, muitas verdades apresentadas nos didáticos livros
contemporâneos de História não passam de expressões da sedução a nós impostas
pelas “mãos invisíveis”6 da nossa Época. Hoje, na nossa contemporaneidade,
parece que já está suficientemente claro que a História não se dá através de
aspectos exclusivamente ideais. Porém, estranhamente, parece que o nosso tempo
ainda não soube perceber que, igualmente, ela não pode se dar por um materialismo
puro. É claro que, nesta época, o Espírito é levado em consideração – protestarão
nossos vizinhos – afinal, em nossa época não se desenvolveram a psicologia e
tantas e inúmeras formas de culto ao Espírito? Não é nosso século o mais liberal
nas questões religiosas? Já não foram todas as fogueiras apagadas, e até mesmo o
demônio exorcizado??? É verdade, esquecemos de mencionar a principal
característica do nosso tempo, além da sedução político-econômica: a hipocrisia!
Mas não transformaremos este tratado de História num tratado teológico. Diremos
apenas que o verdadeiro espírito é bem mais simples e abundante; é o avesso das
hipocrisias religiosas que serão apontadas neste modesto trabalho – aquelas que
datam desde a dinastia merovíngia dos francos, e ainda persistem, porém de forma
mais universal e velada... muito bem dissimulada, poderíamos mesmo dizer, pois a
dissimulação desceu das altas ordens clericais e multiplicou-se em cada
subconsciência, qual um vírus indolor e alucinógeno.
Mas atenção! Não estamos dizendo que o cientista histórico deva agora, pela
impureza de seu objeto de estudo ou pela incapacidade de precisar sua origem,
aquietar sua alma de perscrutador das origens e das explicações – ao contrário: o
homem precisa sempre se alçar a si mesmo, para galgar alguma altitude, mas que
este salto seja em prol de um construtivismo histórico, em vez de ser pró-
reprodutivismo das seduções de uma Época. Mas o que questionamos é a qualidade
desta busca e dos produtos desta caça: que não sejam só animais putrefatos, mas
também, História viva, em pulsação.
6
Para melhor compreensão, recomendamos a leitura de: NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos
e para ninguém, primeiro livro: “Uma Árvore na Montanha”, p.62
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Forma e conteúdo são respectivamente preparativos e oportunidades; e no
momento em que os dois se encontram, há o sínolo – são os momentos históricos.
Até lá, há uma luta e disputa pela primazia entre idéia e matéria, em busca de uma
conformação entre forma e conteúdo – as parte do ser, da História; e entre estes
momentos, sempre há espaço para o aparentemente absurdo, e insólito.
INTRODUÇÃO
10
É sabido que em 380 d.C. o imperador Teodósio I oficializou o cristianismo
como religião oficial do Império Romano. A partir daí, a religião cristã passou a ser
imposta aos povos conquistados. Uma atitude bem diferente daquela adotada no
século II a.C. quando da conquista dos gregos; ocasião em que houve uma fusão
das duas culturas, com evidente fortalecimento do mundo romano pela riquíssima
cultura grega.
7
http://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Imp%C3%A9rio_Romano
8
Tribo associada a Roma, por tratado (foedus), mas que não tinha foro nem de colônia romana nem de cidadania romana
(civitas) mas que ainda assim, estava obrigada a fornecer um contingente de soldados, caso isso lhe fosse solicitado.
9
http://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Imp%C3%A9rio_Romano.
10
http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/adrienearaujo/historia012.asp
11
Os Francos foram os primeiros povos germânicos a estabelecerem-se de
maneira permanente no território romano, por volta de 355 d.C. Entre suas primeiras
dinastias citamos a Merovíngia. Desta, destacamos o rei Clóvis (466 – 511), que
iniciou seu governo no ano 481; portanto, já após a queda do Império Romano
Ocidental. Ele foi o primeiro rei dos francos a unir totalmente a nação bárbara.
Consolidou os vários reinos francos na Gália e na Renânia, região onde encontra-se
Paris 11.
Tal situação entretanto, fez com que houvesse disputa pelo poder entre o
mais velho e os dois mais novos filhos de Luis, que se aliaram contra aquele. Desta
disputa, o mais velho, Lotário, saiu perdedor, e quando, finalmente, entraram num
acordo, foi celebrado pelo tratado de Verdun, que dividia o império em dois: o
oriental ficou com o filho do meio, Luis, o Germano, e ocidental ficou com o filho
mais novo, Carlos, o Calvo (823 – 877). Do primeiro, originou-se a Alemanha; do
segundo, a França, e Carlos, o Calvo é considerado o primeiro rei da França, em
857. Na França, os carolíngios desapareceriam apenas com a ascensão de Hugo
Capeto ao trono, em 987, iniciando-se então a dinastia Capetíngia (987 – 1328) que
consolidou o absolutismo monárquico entre os séculos XVI e XVIII e governou a
França até a queda da Bastilha, em 1789, e tornaram-na a “monarquia absoluta
mais poderosa, eminente e influente, em uma palavra, a mais clássica”: a maior
representante da velha ordem social 15.
CAPÍTULO I
A GUERRA DOS CEM ANOS E A PESTE
15
Hobsbawm, “A Era das Revoluções”, pg. 18
13
Pode parecer estranho, mas estes sentimentos de nacionalismo e soberania,
teve entre seus fatores originários, um sentimento de inferioridade – e portanto, de
vingança! – que certamente sentiu o Rei da Inglaterra, Henrique II, após casar-se
com a ex-mulher do Rei da França, Luis VII, devido aquele ter se tornado vassalo
deste, nos ducados de Guienne e Gasconha. Imagine você, se seu patrão
começasse a infernizar a sua vida no trabalho, porque você casou-se com a ex-
mulher dele¿ Tinha como não terminar em briga uma história dessas¿
Entre as causas políticas, podemos listar a morte do último dos três filhos de
Felipe IV, O Belo, justamente Carlos IV, também, O Belo, em 1328, deixando
apenas filhas mulheres, que pela tradição sálica não tinham direito à sucessão. Ora,
os territórios de Guienne e Gasconha já eram da Inglaterra, desde que Leonor de
Aquitânia, ex-esposa de Luis VII, havia se casado com o rei da Inglaterra, Henrique
II, em 1152. Acontece que Felipe IV, em seus planos expansionistas, quis resgatar
estes condados que estavam se tornando comercialmente importantes produtores
de tecido da região de Flandres, iniciando, em 1300, um conflito com a Inglaterra,
que lhe rendeu a Gasconha e a Guienne, mas foi obrigado a devolver este último
território e a conceder a mão de sua filha, Isabela, ao príncipe herdeiro Eduardo,
príncipe de Gales, futuro Eduardo II, numa tentativa de selar a paz. O casamento foi
celebrado em 1308. Deste casamento, nasceu Eduardo III (1312-1377), rei da
Inglaterra em 1330, e neto de Felipe IV pelo lado materno, que aproveitando-se da
14
confusão causada pela morte de seu avô e dos seus três filhos homens em pouco
mais de oito anos, declarou-se, herdeiro do trono francês. Mas a lei sálica, em vigor
desde os tempos bárbaros na França, excluía da sucessão os herdeiros
descendentes apenas de mulheres da família real. Desta forma, o trono foi dado a
um primo distante de Carlos IV, Felipe de Valois – Felipe VI. Este fato foi suficiente
para o acirramento das posições das duas nações rivais. E o estopim veio da
mesma região: Felipe VI repetiu o feito de Felipe IV, e atacou Guienne, em 1337.
A partir daí, a guerra foi marcada por inúmeras vitórias inglesas, que só não
foram maiores porque a guerra foi interrompida pela primeira peste, que assolou
toda a Europa em 1348, dizimando um terço da população do continente.
Interessante notar que o poder da igreja era tão absoluto, que o povo, mesmo
tomado em todo fervor de sua superstição, não pensou que a peste poderia ser um
castigo de Deus ao Cisma do Ocidente (1309-1377) ou um aviso para que se
parassem aqueles conflitos recém-iniciados. Preferiram culpar os judeus (ou foram
levados a pensar assim) porque estes eram mais higiênicos.
16
Foi capturada após um ato de traição de nobres franceses aliados à coroa inglesa
15
Porém a França sai do combate com o moral elevado e o exército fortificado.
Além disso o espírito nacionalista incutido por Joana, será a semente da futura
nação. Existe o reconhecimento no país de que a difícil guerra só foi ganha por um
esforço coletivo, que mais tarde se transformaria num precoce conceito de
soberania, que seria já suficiente para o alavancamento do processo de
centralização do poder num Estado Monárquico que mais tarde se tornaria num
Estado Monárquico Absolutista.
CAPÍTULO II
O PODER E A TERRA
Diversos fatores contribuíram para o declínio do império fundado por Carlos Magno.
Entre eles, talvez o principal tenha sido a rudimentar administração em contraste
com a magnitude do império. A tradicional administração itinerante dos reis
merovíngios ainda era a única forma de tentar amenizar este problema, mas na
prática, o poder ainda era descentralizado: “O império encontrava-se dividido em
dezenas de condados (perto de duzentos), cada qual governado por um conde – um
nobre de confiança do imperador”17. Além disso, a precariedade das comunicações e
a imensidão do território fazia com que os condes governassem como se o
imperador não existisse, exceto, claro, quando este os visitava.
Por um lado, este poder conferido à terra remonta ao passado bárbaro e aos
interesses nobres e reais, mas também denota a força da influência do clero, que
herdava muitas terras dos fiéis arrependidos, ou mortos nas cruzadas, bem como já
aponta para um primeiro dispositivo legal de proteção dos negócios burgueses.
CAPÍTULO III
A NOBREZA E A FORMAÇÃO DOS EXÉRCITOS
17
sábio conselheiro, que influenciava, inclusive, na escolha dos nobre sucessores dos
condados, e até mesmo de imperadores, como foi o caso do papa Inocêncio III
(1160-1216).
Porém, como todos que participam de grandes famílias sabem, esta prática
de “aprofundar os laços familiares” sempre vem acompanhada de alguns efeitos
colaterais: hoje são as discussões de velhas tias, brigas de primos, disputa de
orgulho entre irmãos, etc.; mas naquela época haverá um ingrediente a mais: tudo
isso acabava levando à conflitos armados na disputa pelo poder.
Por outro lado, consistia em promover a segurança de forma cada vez mais
profissional, pois disto dependia a sobrevivência do reino e o continuísmo do poder.
O primeiro exército nacional francês data de final do século XII, no governo do rei
Felipe II, o Augusto (1180-1223). Antes disto a segurança era provida
exclusivamente por obrigações militares derivadas das relações de vassalagem
devidas pelos barões ao rei. Dessa forma, quando o rei solicitava, os nobres
deveriam fornecer material bélico e humano para defender tanto os seus territórios,
quanto os da coroa. Durante a fase mais crítica da “Guerra dos Cem Anos”, quando
o rei João II (1319-1364) ficou preso na Inglaterra, teve início uma série de Revoltas
Camponesas, em 1358, refletindo a sensação de insegurança e desespero dos
camponeses devido a Peste e os bandos de mercenários que andavam fazendo
vítimas, e o descrédito do governo após várias derrotas na guerra e o vazio no
poder. Seguiu-se uma série de pilhagens aos castelos nobres pelos camponeses em
busca principalmente de alimentos. Esta situação, depois de contornada (durou
apenas um mês) levou o Rei precedente, Carlos V (1338-1380) a iniciar a contrução
da Bastilha e reorganizar o exército.
Ocorria com certa freqüência, conflitos entre a coroa e seus nobres. Primeiro
por motivos internos: houve um período, por volta do século XII, que “nobres
salteadores assolavam o país, aterrorizando as populações e os domínios
vizinhos”18. Mas os problemas mais graves eram os de motivação externa, como no
caso da região de Flandres que, apesar de ser politicamente ligada a França,
dependia economicamente da Inglaterra. Ou seja, dependendo das inclinações e
interesses dos nobres que a controlassem, esta região aliava-se a um lado ou ao
outro – situação que se alternou diversas vezes, e que foi o estopim da Guerra dos
Cem Anos, em 1337.
18
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_VII_de_Fran%C3%A7a
18
A partir desta contínua desvalorização, a nobreza começará a se dividir
gradualmente, numa nobreza de cavaleiros e numa aristocracia. A reação desta
última, seria uma infiltração na máquina administrativa francesa, que aconteceria
sobretudo, durante todo o século XVIII. Na medida em que a centralização
absolutista evoluía, aumentava a necessidade de funcionários pagos pela coroa. A
aristocracia, valendo-se de seus privilégios “familiares”, exigiu posse destes
empregos como quem desespera por um último bote salva-vidas. Mas para a coroa
absolutista, era muito mais negócio empregar pessoas do povo, pois tinham a
mesma capacidade técnica e satisfaziam-se com salários mais modestos18
(Hobsbawm pg.41). Aqui, mais uma vez, a monarquia constataria o fardo em que
para ela a nobreza se transformara. Isto levaria o absolutismo a admitir cada vez
mais em seus quadros administrativos os burgueses no lugar dos nobres. Por outro
lado, a baixa nobreza entraria num processo de penúria que a levaria a incitar as
massas contra a coroa. Este conjunto de insatisfações contribuirá para as pressões
que culminariam na Revolução Francesa.
CAPÍTULO IV
O CLERO
O fervor religioso de tais reis, pensamos, vinha de uma imagem que ainda
dominaria o aparato imitativo da humanidade por muitos séculos: a imagem do
império romano. O sonho de todos os reis era erigir um império similar. E como a
imagem da igreja romana estava indiscutivelmente associada a esta idéia, e ainda
contava com o peso e a autoridade das tradições e da antiguidade de seu nome, a
monarquia, que também se vale dos pressupostos de um poder baseado na
longevidade e nas tradições, encontrou nesta aliada, tanto um símbolo indiscutível
de poder, quanto um instrumento eficaz de controle ideológicos dos súditos. Tal
poder já se manifestava na confissão auricular, e na contra-reforma, através dos
tribunais da inquisição.
Isto sem falar em Felipe IV, o Belo (1268-1314), que merece um parágrafo a
parte, pois além de confiscar e expulsar os judeus, não poupou nem a igreja de sua
fome por dinheiro para financiar as guerras, iniciando em 1296 um conflito com o
papado por lançar impostos sobre o clero que equivaliam à metade do rendimento
anual da igreja. “Mas em 1300, pela bula Unam Sanctam, o papa Bonifácio VIII,
declarou a superioridade do poder espiritual sobre o poder temporal, e por
ríncipe ia, a superioridade do papa sobre os reis, que responderiam perante o
líder da Igreja. Era de facto uma tentativa de instauração de uma teocracia na
Europa ocidental”20. Felipe reuniu seus nobres e fez oposição dura ao papa,
terminando por pontificar um papa francês e submisso a sua coroa: Clemente V,
numa nova sede papal: em Avingnon, desde 1305. Teve início uma ríncipe de
sete papas franceses. Foi o auge do poder da coroa sobre o papado. Este fato
culminou no chamado “Cisma do Ocidente” – período de 1378 a 1417 quando a
igreja católica teve duas sedes: Avingnon e Roma, sendo normalizada a situação
após o Concílio de Constança. Depois disso, Felipe IV ainda espoliou os cavaleiros
templários franceses, em 1307, com a anuência do papa Clemente V.
CAPÍTULO V
AS GUERRAS CIVIS, RELIGIOSAS E OS TEÓRICOS ABSOLUTISTAS
21
Revista Aventuras na História, Edição 75 de Outubro-2009
22
Maria Izabel Barboza, “O ríncipe Pacífico: Bossuet, Luis XIV e Antônio Vieira” – Brasília, 2009, pg.28
21
bispo de Meaux, e defensor da ortodoxia, num tempo explosivo de contra-reforma, e
como conselheiro de Luis XIV e preceptor de seu filho, Bossuet, assim como Bodin,
defendeu o absolutismo e condenou qualquer levante popular contra o poder divino
do rei. Mas a doutrina política de soberania e centralização do poder de Bossuet
diferenciará da de Bodin. Neste ela é de caráter contratual; naquele é de caráter
divino, baseado principalmente nas leituras que fez de Santo Agostinho e nas
Sagradas Escrituras.
CAPÍTULO VI
DO APOGEU À QUEDA
Com Bossuet e Luis XIV, o absolutismo atinge seu grau máximo, tanto na
teoria quanto na prática. Apesar das inúmeras guerras internas e do combate às
ligas anti-francesas, somados a opulência do estilo de vida real, nunca antes levado
por nenhum rei francês a um nível tão elevado, o Estado não faliu economicamente.
Passou por inúmeras dificuldades, mas o processo de mercantilismo industrial
francês23, encabeçado pela eficiente administração do ministro burguês Jean-
Baptiste Colbert (1619-1683), possibilitaram não só uma rápida recuperação, mas a
conquista do status de nação mais rica da Europa, só acompanhada, e bem de
perto, pela Inglaterra, com seu pioneirismo industrial, político, social e científico já
estabelecido desde o século XVII, e em vertiginosa expansão24.
Outro bom exemplo foi Galileu Galilei (1564-1642), que, apesar de situar-se
na Itália, cumpre o papel de mostrar a inclusão no Estado Absolutista, de pessoas
renomadas não mais apenas pela hereditariedade, mas pelo nome. Também mostra
prestígio que a Ciência e os Estudiosos começavam a ganhar nos círculos nobres
absolutistas e principalmente, esclarecidos. “Galileu dedicou seu livro ‘Sidereus
Nuncius’, de 1610, a Cosino II de Médici, grão-duque da Toscana, e ao batizar os
satélites de Júpiter de ‘estrelas mediceanas’ para homenagear a família nobre,
Galileu conseguiu ser nomeado matemático e filósofo da corte dos Médici” 26.
27
Hobsbawm, “A Era das Revoluções”, pg.18
28
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_XV_de_Fran%C3%A7a
23
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
NIETZSCHE, F.G.W. Assim Falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém;
tradução e notas explicativas da simbólica nietzscheana de Mário Ferreira dos
Santos. 2.ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008. – (Coleção Textos Filosóficos).
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