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Guia de Vigilância
Epidemiológica
Apresentação
A tuberculose continua a merecer especial atenção dos profissionais
de saúde e da sociedade como um todo. Apesar de já existirem recursos
tecnológicos capazes de promover seu controle, ainda não há perspec-
tiva de obter-se, em futuro próximo, sua erradicação, a não ser que
novas vacinas ou tratamentos sejam descobertos. Além disso, a associa-
ção da tuberculose com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids)
representa um novo desafio em escala mundial.
Esse Guia de Vigilância da Tuberculose, que agora publicamos, é
uma contribuição para a melhoria das atividades de prevenção, diag-
nóstico e tratamento dos casos de tuberculose e para a organização dos
serviços de saúde do SUS.
Os profissionais de saúde podem contar com as orientações aqui
reunidas para as ações de vigilância epidemiológica, nos aspectos de
coleta, processamento, análise e interpretação dos dados; na adoção de
medidas de controle apropriadas; e na avaliação da eficácia e efetivida-
de.
Desta forma, seu uso por médicos, enfermeiros, auxiliares, laborato-
ristas, sanitaristas e todos os profissionais envolvidos na rede de assis-
tência e controle da tuberculose, nas três esferas de governo que ge-
renciam o Sistema Único de Saúde (SUS), contribuirá significativamente
para implementar o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica com
o objetivo de ampliar o controle da tuberculose do país, doença de
grande magnitude, transcendência e vulnerabilidade, contribuindo com
a melhoria da saúde de nossa população.
JARBAS BARBOSA DA SILVA JR.
Diretor do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi)/FUNASA
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II Consenso Brasileiro de Tuberculose
Diretrizes Brasileiras para Tuberculose 2004
I. Introdução
O Plano Nacional de Controle da Tuberculose, correm para o agravamento do quadro a epide-
lançado pelo Ministro da Saúde, em 1999, define mia de aids e a multirresistência às drogas.
a tuberculose como prioridade entre as políticas Este cenário faz com que a expressão epide-
governamentais de saúde, estabelece diretrizes para miológica da tuberculose no Brasil, neste final de
as ações e fixa metas para o alcance de seus obje- século com estimativas de prevalência de 50
tivos. milhões de infectados e, anualmente, com o sur-
Recentemente, em 2001, foram revistas as me- gimento de 130.000 novos casos e com o registro
tas e lançado o Plano de Mobilização para Con- de 6.000 óbitos configure, em termos relativos,
trole da Tuberculose e eliminação da Hanseníase. uma situação mais grave do que a apresentada
por outros países latino-americanos como Argen-
Este Plano dá continuidade à política de go-
tina, Chile, Colômbia, Venezuela, Cuba e México.
verno que, a partir dos anos trinta, confiou o com-
Apesar dos alcances do Programa descoberta de
bate à tuberculose a sucessivas entidades públi-
70% dos casos estimados e cura de 75% dos pa-
cas: Serviço Nacional de Tuberculose, Divisão
cientes tratados esta situação se manteve está-
Nacional de Tuberculose, Divisão Nacional de
vel na década de 1990.
Pneumologia Sanitária, até a atual Coordenação
Esta edição do Guia de vigilância, do Ministé-
Nacional de Pneumologia Sanitária.
rio da Saúde, compreende duas seções principais:
O Programa Nacional de Controle da Tubercu- a primeira apresenta a descrição das técnicas e
lose, um conjunto de ações descentralizadas, está estratégias essenciais utilizadas no controle da
sob a responsabilidade de diferentes setores do tuberculose, apresentando, inclusive, um novo
Ministério da Saúde Área Técnica de Pneumolo- capítulo sobre Biossegurança; a segunda trata da
gia Sanitária, coordenações macrorregionais, Fun- estrutura e da operacionalização do Programa, uma
dação Nacional de Saúde, Centro de Referência visão inovadora, inserida nos diferentes níveis da
Prof. Hélio Fraga e das secretarias estaduais e rede de serviços do Sistema Único de Saúde.
municipais de Saúde, com atribuições e funções Em seu trabalho, levou-se em conta não só o
definidas pelo Plano. que estava expresso no 4o Manual de Normas para
O problema da tuberculose no Brasil reflete o o controle OATB, como também importantes con-
estágio de desenvolvimento social do país, onde tribuições do I Consenso Brasileiro de Tuberculo-
os determinantes do estado de pobreza, as fra- se, de 1997, uma ação da Coordenação Nacional
quezas de organização do sistema de saúde e as de Pneumologia Sanitária, em parceria com a So-
deficiências de gestão limitam a ação da tecnolo- ciedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia; do
gia e, por conseqüência, inibem a queda susten- Seminário de Tuberculose do Ministério da Saúde,
tada das doenças marcadas pelo contexto social. de 1998, e da Coordenação Nacional de Doenças
No caso da tuberculose, duas novas causas con- Sexualmente Transmissíveis e Aids.
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II Consenso Brasileiro de Tuberculose
Diretrizes Brasileiras para Tuberculose 2004
sional de saúde, informem ter tosse e expectora- O exame radiológico, em pacientes com baci-
ção há três semanas ou mais; loscopia positiva, tem como função principal a
apresentem alterações radiológicas pulmo- exclusão de doença pulmonar associada, que ne-
nares. cessite de tratamento concomitante, além de per-
Recomenda-se, ainda, o controle de qualidade mitir avaliação da evolução radiológica dos pa-
das baciloscopias. Para este fim, os laboratórios cientes, sobretudo naqueles que não responderem
de âmbito local deverão guardar todas as lâminas à quimioterapia.
examinadas, positivas e negativas, para enviá-las, Os resultados dos exames radiológicos do tó-
se solicitado, ao laboratório supervisor. rax deverão obedecer à seguinte classificação:
Normal os que não apresentam imagens
Cultura para micobactéria
patológicas nos campos pulmonares.
A cultura é indicada para os suspeitos de tu- Seqüela os que apresentam imagens su-
berculose pulmonar persistentemente negativos ao gestivas de lesões cicatriciais.
exame direto e para o diagnóstico de formas ex- Suspeito os que apresentam imagens su-
trapulmonares como meningoencefálica, renal, gestivas de tuberculose.
pleural, óssea ou ganglionar. A cultura também está Outras doenças os que apresentam ima-
indicada nos casos de suspeita de resistência bac- gens sugestivas de pneumopatia não tuberculosa.
teriana às drogas, seguida do teste de sensibilida-
de.
Nos casos de suspeita de infecção por mico- 2.3. Prova tuberculínica
bactérias não tuberculosas, notadamente nos pa-
Indicada como método auxiliar no diagnóstico
cientes HIV positivos ou com aids, deverá ser rea-
da tuberculose, a prova tuberculínica positiva, iso-
lizada a tipificação do bacilo.
ladamente, indica apenas infecção e não é sufi-
ciente para o diagnóstico da tuberculose doença.
2.2. Radiológico
No Brasil, a tuberculina usada é o PPD RT23,
O exame radiológico é auxiliar no diagnóstico aplicada por via intradérmica no terço médio da
da tuberculose, justificando-se sua utilização nos face anterior do antebraço esquerdo, na dose de
casos suspeitos. Nesses pacientes, o exame radio- 0,1ml, equivalente a 2UT (unidades de tuberculi-
lógico permite a seleção de portadores de ima- na), cujo resultado guarda equivalência com 5UT
gens sugestivas de tuberculose ou de outra pato- de PPD-S, utilizada em alguns países. Deve ser
logia, sendo indispensável submetê-los a exame conservada em temperatura entre 4oC e 8 oC, não
bacteriológico para se fazer um diagnóstico cor- devendo ser congelada ou exposta à luz solar di-
reto, já que não é aceitável, exceto em crianças, o reta.
diagnóstico de tuberculose pulmonar sem investi- A técnica de aplicação e o material utilizado
gação do agente causal pela baciloscopia de es- são padronizados pela Organização Mundial de
carro. Saúde (OMS) e têm especificações semelhantes às
Em suspeitos radiológicos de tuberculose pul- usadas para a vacinação BCG.
monar com baciloscopia direta negativa, deve-se A leitura da prova tuberculínica é realizada 72
afastar a possibilidade de outras doenças, reco- a 96 horas após a aplicação, medindo-se, com ré-
mendando-se, ainda, a cultura para micobactéria. gua milimetrada, o maior diâmetro transverso da
O estudo radiológico tem, ainda, importante área de endurecimento palpável. O resultado, re-
papel na diferenciação de formas de tuberculose gistrado em milímetros, classifica-se como:
de apresentação atípica e no diagnóstico de ou- 0mm a 4mm não reator indivíduo não
tras pneumopatias no paciente portador de HIV/ infectado pelo M. tuberculosis ou com hipersen-
aids ou de outras situações de imunossupressão. sibilidade reduzida.
No diagnóstico de probabilidade, deve-se le- 5mm a 9mm reator fraco indivíduo va-
var em conta que o erro causa atraso na identifi- cinado com BCG ou infectado pelo M. tuberculo-
cação da verdadeira doença, acarretando ao doente sis ou por outras micobactérias.
sofrimento físico, psicológico, econômico e so- 10mm ou mais reator forte indivíduo
cial. infectado pelo M. tuberculosis, que pode estar
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doente ou não, e indivíduos vacinados com BCG 2.5. Outros métodos de diagnóstico
nos últimos dois anos.
Além da bacteriologia, da radiologia, da prova
Algumas circunstâncias podem interferir no re-
tuberculínica e da histopatologia, existem, desen-
sultado das provas tuberculínicas, como, por exem-
volvidas ou em desenvolvimento, outras metodo-
plo:
logias diagnósticas. Entretanto, pelo alto custo
Portadores de doenças imunodepressoras: destes métodos, e pela ausência de provas consis-
Sarcoidose. tentes quanto à sensibilidade, especificidade e
Aids. valores preditivos, eles não devem ser usados in-
Neoplasias de cabeça e pescoço. discriminadamente. Esses fatos não permitem sua
Doenças linfoproliferativas. utilização em substituição aos métodos conven-
Outras neoplasias. cionais, devendo-se restringir seu uso, como au-
xílio diagnóstico para a tuberculose, aos serviços
Situações com imunodepressão transitória: de referência, serviços especializados ou institui-
Vacinação com vírus vivos. ções de pesquisa.
Gravidez.
Tratamentos com corticosteróides e drogas Hemocultura
imunodepressoras. Está indicada em pacientes portadores do HIV
Crianças com menos de dois meses de vida. ou com aids e que haja suspeita de doença mico-
Idade acima de 65 anos. bacteriana disseminada.
Todos os indivíduos infectados pelo HIV de-
vem ser submetidos à prova tuberculínica. Nesses Detecção da produção de CO2
casos, considera-se reator aquele que apresenta Método radiométrico: utiliza a produção de gás
endurecimento de 5mm ou mais, e não reator aque- carbônico pelo bacilo em crescimento, para a de-
le com endurecimento entre 0mm e 4mm. Pacien- tecção de sua presença nos meios de cultura em
tes portadores do HIV ou com aids, inicialmente que se inoculou o espécime clínico. Como no meio
não reatores, deverão ter sua prova tuberculínica de cultura se adicionam nutrientes com carbono
repetida, após melhora clínica com o uso de anti- marcado isotopicamente, o CO2 produzido terá
retrovirais. também o carbono radioativo, que poderá ser iden-
Recomenda-se a prova tuberculínica, como tificado por equipamento específico para esse fim.
parte do exame médico, a todos os profissionais O método permite também a realização de teste
dos serviços de saúde, por ocasião de sua admis- de sensibilidade a drogas num tempo mais curto
são. que o habitual, o que constitui sua grande vanta-
Nos indivíduos vacinados com BCG, sobretudo gem sobre os métodos convencionais. Uma varia-
nos imunizados há até dois anos, a prova tuber- ção deste método detecta a produção do gás, por
culínica deve ser interpretada com cautela, pois, um sistema de sensores ópticos, e não por emis-
em geral, apresenta reações de tamanho médio, são de carbono marcado.
embora possa alcançar 10mm ou mais segundo a
vacina utilizada. Detecção de consumo de O 2
Mycobacteria Growth Indicator Tube (MGIT)
Este método utiliza tubos de ensaio com meios
2.4. Histopatológico
líquidos de cultura, onde existe uma base de sili-
É um método empregado principalmente na cone impregnada com rutênio, metal que emite
investigação das formas extrapulmonares. A lesão luminescências na ausência de O2. Se há cresci-
apresenta-se como um granuloma, geralmente mento bacteriano, há também consumo de O2 e o
com necrose de caseificação e infiltrado histioci- rutênio emitirá luminescências possíveis de serem
tário de células multinucleadas. Como esta apre- detectadas com luz ultravioleta. O resultado é ob-
sentação ocorre em outras doenças, o achado de tido num tempo mais curto que a cultura conven-
BAAR na lesão é fundamental para auxiliar o diag- cional e pode-se, também, realizar teste de sensi-
nóstico de tuberculose. bilidade.
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Diretrizes Brasileiras para Tuberculose 2004
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QUADRO
Diagnóstico de tuberculose pulmonar em crianças e adolescentes negativos à baciloscopia
Febre ou sintomas como: Adenomegalia hilar ou Próximo, nos últi- Vacinados há mais Desnutrição
tosse, adinamia, expec- padrão miliar mos 2 anos de 2 anos grave ou peso
toração, emagrecimento, Condensação ou infil- menor de 5mm abaixo do per-
sudorese > 2 semanas trado (com ou sem Adicionar 0 pts centil 10 Sis-
escavação) inalterado 10 pts 5mm a 9mm van**
Adicionar > 2 semanas Adicionar
15 pts Condensação ou infil- 5 pts Adicionar
trado (com ou sem 10mm a 14mm 5 pts
escavação) > 2 sema- Adicionar
nas evoluindo com 10 pts
piora ou sem melhora 15mm ou mais
com antibióticos para Adicionar
germes comuns 15 pts
Adicionar
15 pts
Legenda: pts = pontos; Esta interpretação não se aplica a revacinados em BCG; ** SISVAN Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (MS/
1997).
Fontes: Stegen G., Jones K., Kaplan P. (1969) Pediatr 42:260-3; Tijidai O et al (1986 Tubercle 67:269-81; Crofton J et al (1992), Londres.
Mcmillan p; 29., adaptado por SantAnna C.C.
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caso deve ser redefinido ou concluído. Em pa- multirresistente (TBMR) e encaminhados para uni-
cientes com escarro negativo e evolução clínico- dades de referência capacitadas para o acompanha-
radiológica insatisfatória, o prolongamento do tra- mento deste tipo de pacientes. Nessas unidades,
tamento por mais três meses pode ser uma opção serão indicados regimes especiais, com esquemas
para evitar mudanças precipitadas para esquemas mais adequados de drogas alternativas, segundo
mais prolongados e de menor eficácia. Sempre que orientação dos peritos em quimioterapia da Coor-
possível, deve-se consultar uma unidade de refe- denação Nacional de Pneumologia Sanitária e Cen-
rência antes de se decidir por este prolongamento. tro de Referência Professor Hélio Fraga. Para estes
Recomenda-se a realização de cultura e de teste pacientes será obrigatório o teste de sensibilida-
de sensibilidade às drogas previamente ao início de. Recomenda-se para os casos mais graves ou
de quimioterapia nos casos com critérios de fa- de difícil adesão a internação em hospitais ou
lência. enfermarias especialmente preparadas para esta
O Esquema III deve ser realizado preferencial- situação. As drogas deverão ser fornecidas pelo
mente em unidades mais complexas. Sempre que Ministério da Saúde, sob estrita vigilância, de acor-
possível, deve-se realizar o teste de sensibilidade do com a demanda informada pelas Direções Es-
às drogas no início do tratamento para definir cla- taduais do Programa, responsáveis pela organiza-
ramente a possibilidade de sucesso deste Esque- ção de assistência aos portadores de TBMR.
ma ou sua modificação. Os quadros seguintes mostram os esquemas
Casos de falência do Esquema III devem ser propostos com suas indicações gerais e específi-
considerados como portadores de tuberculose cas, dosagens e observações.
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Esquema II 2RHZ/7RH
Indicado para a forma meningoencefálica da tuberculose
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vigilância epidemiológica, controlado pelo Centro vidual de Notificação de Caso de TBMR, oriunda
de Referência Prof. Hélio Fraga. O controle impli- das secretarias estaduais de saúde, e a confirmação
ca armazenamento dos medicamentos em uso e dos dados pelo critério de Caso de TBMR pelo
sua liberação contra o recebimento da Ficha Indi- teste de sensibilidade. (Ver Fluxograma abaixo).
Centro de Referência
Municipal, Estadual ou Lacen
Federal Cultura / TS
SES/SMS/CR
Notificação VE
Este sistema é independente
da notificação Sinan que
encerra o caso como TBMR CRPHF(*)
3.5. Tratamento da tuberculose associada comuns. Estudos recentes mostram que o risco de
ao HIV adoecimento por tuberculose em indivíduos HIV+
reduziu-se em aproximadamente 10 vezes; e que
A conduta dos casos de tuberculose associada a taxa de ocorrência de casos de tuberculose em
com infecção pelo HIV, em indivíduos adultos e pacientes atendidos pelos serviços especializados
adolescentes, vem sendo estabelecida pela Área em DST/aids no Brasil apresentou uma redução de
Técnica de Pneumologia Sanitária e Coordenação até 75%, quando comparada aos índices encon-
Nacional de DST e Aids. A seguir reproduz-se a trados antes do advento da terapia anti-retroviral
última atualização das recomendações elaboradas combinada.
com a participação do Comitê Assessor para Co- A rifampicina (RMP) é considerada uma das
Infecção HIV-Tuberculose. principais drogas no tratamento da tuberculose.
Com o uso disseminado da terapia anti-retro- Esquemas que incluem a sua utilização apresen-
viral combinada potente, após o advento dos Inibi- tam taxa de sucesso terapêutico da ordem de 95%,
dores da Protease (IP) e Inibidores da Transcriptase quando adequadamente utilizados. Contudo, a
Reversa Não-Nucleosídeos (ITRNN), a morbimor- utilização concomitante da RMP com a maioria
talidade relacionada ao HIV sofreu profundas trans- dos IP e/ou ITRNN promove importante interação
formações, com mudança radical na ocorrência e farmacológica no sistema microssomal hepático e
no prognóstico das complicações oportunistas mais da parede intestinal, podendo provocar redução
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significativa dos níveis séricos desses anti-retrovi- Apesar de ser considerada uma doença opor-
rais e, conseqüentemente, aumentar o risco de tunista, a tuberculose de ocorrência típica, com
desenvolvimento de resistência do HIV ao esque- padrão clínico-radiológico de acometimento api-
ma anti-retroviral em uso. A utilização de esque- cal, não caracteriza necessariamente comprome-
mas alternativos para o tratamento da tuberculose timento significativo da imunidade ou falha da
sem RMP, apesar de eficaz do ponto de vista bac- terapia anti-retroviral porventura instituída. O adoe-
teriológico, tem-se mostrado com efetividade te- cimento por tuberculose, freqüentemente, promove
rapêutica global reduzida pela maior complexida- o fenômeno de transativação heteróloga do HIV,
de do esquema, maior dificuldade de adesão ao com elevação da carga viral em pacientes HIV+ e
uso de medicação injetável (estreptomicina) e tem- diminuição da contagem de células T-CD4+, am-
po mais prolongado de tratamento. Nessas situa- bas transitórias e dependentes da atividade da
ções, pode haver prejuízo para o paciente co-in- doença. Isso dificulta a interpretação desses parâ-
fectado, tanto pela não utilização de IP e/ou ITRNN metros para início e/ou seleção de esquema anti-
no esquema anti-retroviral, como pela não inclu- retroviral, na vigência de tuberculose ativa sem
são da RMP no esquema antituberculose. tratamento específico. Estudos recentes sugerem,
Entretanto, estudos farmacocinéticos sugerem ainda, que o tratamento isolado da tuberculose
que a RMP pode ser utilizada concomitantemente em pacientes co-infectados pelo HIV e que não
com alguns anti-retrovirais em pacientes HIV+ com estão em uso de ARV reduz, por si só, a carga viral
tuberculose, desde que estes pacientes sejam tra- plasmática. Assim, considerando-se que a terapia
tados com esquemas que contenham efavirenz anti-retroviral não é uma emergência médica, su-
(EFZ) ou a associação saquinavir + ritonavir (SQV/ gere-se aguardar a estabilização do quadro clíni-
RTV), sem necessidade de ajuste nas dosagens co. Idealmente, procede-se a uma avaliação da
habituais. Até o presente momento, embora alguns contagem das células T-CD4+ e quantificação da
estudos de menor porte recomendem aumento da carga viral após 30 e 60 dias do início da terapia
dose de EFZ para 800mg/dia, a literatura carece antituberculosa, utilizando-se tais parâmetros para
de análises que avaliem a toxicidade ou a eficácia indicar a terapia anti-retroviral.
clínica do EFZ nesta dosagem, em associação com Para a escolha do esquema anti-retroviral, deve-
outras drogas anti-retrovirais. Portanto, não está se também avaliar o risco de intolerância, toxici-
autorizado o seu uso de rotina nessa posologia. dade e capacidade de adesão do paciente ao tra-
Alguns estudos recentes sugerem, em algumas si- tamento, considerando a possibilidade de utilização
tuações, que o uso do ritonavir em sua posologia de esquemas menos complexos; ou mesmo a pos-
convencional (1.200mg/dia) e como único IP do tergação do seu início, naqueles pacientes com
esquema anti-retroviral pode ser considerado como quadro de imunodeficiência menos grave. Entre-
opção de utilização concomitante com a RMP, tanto, em pacientes com sinais (principalmente
embora investigações farmacocinéticas conclusi- clínicos) de imunodeficiência mais grave, deve-se
vas e avaliação do risco de hepatotoxicidade com considerar o uso mais precoce da terapia anti-re-
essa associação ainda não estejam disponíveis. troviral, devido ao risco elevado de morte. Pacien-
Ademais, recomenda-se que o uso dessas associa- tes com contagem de células T-CD4+ > 350/mm3
ções em pacientes portadores da co-infecção HIV/ não devem iniciar terapia anti-retroviral na vigên-
tuberculose seja feito de forma criteriosa, com a cia de doença tuberculosa. Entretanto, sugere-se,
orientação e/ou supervisão de profissional médi- para melhor definição da conduta, uma reavalia-
co com experiência no tratamento de ambas as ção clínico-imunológica após 30-60 dias do iní-
doenças e com cuidadoso acompanhamento clí- cio do tratamento da tuberculose.
nico-laboratorial. Deve-se ter especial atenção para Pacientes em uso de esquema anti-retroviral
a possibilidade de falha no tratamento da tuber- incompatível com RMP poderão ter esse esquema
culose, falha no tratamento anti-retroviral, reações modificado para possibilitar o tratamento da tu-
paradoxais da tuberculose e efeitos colaterais e/ berculose e da infecção pelo HIV com esquemas
ou tóxicos, específicos ou sinérgicos, causados antituberculose e anti-retroviral potentes, não ca-
pela associação das drogas anti-retrovirais e anti- racterizando esta mudança uma falha terapêutica
tuberculose utilizadas nessa situação. ao esquema ARV anteriormente em uso, e sim uma
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adequação deste último tratamento antitubercu- pacientes HIV+. Sugere-se iniciar a terapia antitu-
loso. Essa substituição do esquema, após o térmi- berculose, aguardar a estabilização clínica do qua-
no do tratamento para tuberculose, não invalida a dro e depois utilizar esses exames na avaliação da
reintrodução ou uso futuro do esquema anti-re- indicação de terapia anti-retroviral. Para a escolha
troviral previamente utilizado. Pacientes portado- da opção de tratamento deve-se também avaliar o
res de tuberculose com indicação de uso do es- risco de toxicidade e a capacidade de adesão do
quema I (R+H+Z por seis meses), mas que não paciente para ambos os tratamentos, consideran-
possam utilizar algum dos esquemas anti-retrovi- do a possibilidade de utilizar esquemas anti-retro-
rais compatíveis com RMP, deverão ser tratados virais menos complexos ou mesmo a postergação
para tuberculose durante 12 meses com esquema do início do tratamento anti-retroviral naqueles
alternativo de tratamento da tuberculose para pa- pacientes com quadros de imunodeficiência me-
cientes com intolerância ou contra-indicação para nos graves.
uso da RMP, recomendado pela Coordenação Na- 3. Nessa situação, alguns autores consideram
cional de Pneumologia Sanitária/Ministério da Saú- a possibilidade de se iniciar tratamento anti-retro-
de, e iniciar ou substituir o tratamento anti-retro- viral, pois há risco de progressão mais rápida da
viral pelo esquema considerado mais adequado do imunodeficiência causada pelo HIV, devendo ser
ponto de vista imunológico e virológico. avaliados os parâmetros clínicos e laboratoriais
O uso concomitante de abacavir (ABC) e ou- específicos (contagem de células T-CD4+ e carga
tros Inibidores da Transcriptase Reversa de Nucleo- viral) com maior freqüência. Quanto mais próxima
sídeos (ITRN) com RMP não está contra-indicado de 200 células/mm3 for a contagem de células T-
do ponto de vista farmacológico, pois não existe CD4+ e/ou maior a carga viral (particularmente se
nenhuma interação entre as drogas desse grupo > 100.000 cópias/ml), mais forte será a indicação
farmacológico com a RMP, não necessitando, por- para início da terapia anti-retroviral. É importante
tanto, de nenhum ajuste posológico. considerar a motivação do paciente e a probabili-
É importante considerar que a adesão adequa- dade de adesão, antes de se iniciar o tratamento.
da a ambos os esquemas, antituberculose e anti- 4. Pacientes com tuberculose e indicação de
retroviral, tomados de forma concomitante, é um uso do esquema I (E-1), mas que não possam uti-
grande desafio para o paciente, devido à elevada lizar algum dos esquemas anti-retrovirais compa-
quantidade de comprimidos/cápsulas a serem in- tíveis com rifampicina, deverão ser tratados para
geridas ao dia e à ocorrência de efeitos colaterais, tuberculose durante 12 meses com esquema para
particularmente nas primeiras semanas de trata- pacientes com intolerância ou contra-indicação
mento. Portanto, deve-se considerar, sempre que para uso de rifampicina recomendado pelo Minis-
possível, o adiamento do início do tratamento anti- tério da Saúde (dois meses iniciais com H+Z+S+E,
retroviral em pacientes com co-infecção HIV/tu- seguidos de 10 meses com H+E [2HEZS/10HE]).
berculose, particularmente naqueles que apresen- 5. A experiência clínica com o uso do abacavir
tam quadros de imunodeficiência menos graves em indivíduos HIV+ com tuberculose é limitada.
do ponto de vista clínico-laboratorial. A indicação Para pacientes sintomáticos ou assintomáticos com
de início de terapia anti-retroviral em pacientes imunodeficiência mais grave (contagem de célu-
com co-infecção HIV/tuberculose deve seguir os las T-CD4+ < 200 células/mm3) e/ou carga viral
mesmos parâmetros clínicos e imunovirológicos elevada (> 100.000 cópias/ml), alguns especialis-
estabelecidos para pacientes HIV+ sem tuberculo- tas recomendam utilizar preferencialmente esque-
se em atividade, recentemente atualizados no do- mas anti-retrovirais mais potentes, contendo ITR-
cumento Recomendações para Terapia Anti-retro- NN ou IP. O uso concomitante de abacavir e outros
viral em Adultos e Adolescentes 2001, do Inibidores da Transcriptase Reversa de Nucleosídeos
Ministério da Saúde (ver quadro I). (ITRN) com RMP não estão contra-indicados, pois
1. Dois meses iniciais com R+H+Z, seguidos de não existe nenhuma interação farmacológica com
quatro meses com R+H (2RHZ/4RH). os medicamentos antituberculose descritos até o
2. O adoecimento por tuberculose, freqüen- momento.
temente, promove a elevação da carga viral e a 6. Nessas situações, não há dados que permi-
diminuição da contagem de células T-CD4+ em tam escolher entre esquemas com ITRNN ou IP.
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Recomendações terapêuticas para pacientes HIV+ com tuberculose
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Efeitos menores
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casos de insuficiência hepática grave, mais seguro a rifampicina. Nestes casos, deve-se iniciar o tra-
será reduzir a dose à metade. tamento com a associação estreptomicina/etam-
A pirazinamida é hidrolisada no fígado e sub- butol/isoniazida.
seqüentemente excretada por infiltração glomeru-
lar renal. Paciente com conhecida doença hepáti- Nefropatas
ca prévia deverá ser submetido a freqüentes testes Nos pacientes nefropatas, é necessário conhe-
da função hepática, além de acompanhamento clí- cer o clearance da creatinina antes de iniciar o
nico rigoroso e, algumas vezes, de redução da dose esquema terapêutico, para que seja realizado o
para 25mg/kg (dose máxima de 2g). ajuste das doses.
Em caso de hepatite crônica ativa, cirrose he-
pática ou insuficiência hepática grave é aconse- Clearance de = (140 idade) x (peso/kg) homens (x 0,85 mulheres)
lhável evitar o uso da pirazinamida associada com creatinina 72 x creatinina sérica mg%
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em dados clínicos e exames complementares (cura paciente compareceu à unidade para a qual foi
clínica não comprovada bacteriologicamente). transferido e o resultado do tratamento, no mo-
Pulmonares inicialmente negativos ou extra- mento da avaliação da coorte. Só serão conside-
pulmonares. A alta por cura será dada quando for rados transferidos aqueles pacientes cujo resulta-
completado o tratamento e com base em critérios do do tratamento é desconhecido.
clínicos, radiológicos e outros exames complemen-
Controle pós-cura
tares.
A maioria dos casos curados não necessita de
Alta por abandono de tratamento controle pós-tratamento, devendo-se orientar o
Será dada ao doente que deixou de compare- paciente a retornar à Unidade apenas se surgirem
cer à Unidade por mais de 30 dias consecutivos, sintomas semelhantes aos do início da doença.
após a data prevista para seu retorno; nos casos Alguns casos especiais justificam um ou mais
de tratamento supervisionado, o prazo de 30 dias controles após o final do tratamento. São eles:
conta a partir da última tomada da droga. pacientes portadores do HIV-aids e outras condi-
ções de imunodeficiências; os que permaneceram
Alta por mudança de diagnóstico
com graves seqüelas anatômicas ou funcionais; os
Será dada quando for constatado erro no diag- que tiveram graves efeitos adversos durante toda
nóstico. a evolução da terapia, sem comprovação bacte-
Alta por óbito riológica da cura.
Será dada por ocasião do conhecimento da
morte do paciente, durante o tratamento e inde- 4. PREVENÇÃO
pendentemente da causa. 4.1. Controle dos contatos
Alta por falência
Todos os contatos dos doentes de tuberculo-
Será dada quando houver persistência da posi- se, prioritariamente dos pacientes pulmonares po-
tividade do escarro ao final do tratamento. Os sitivos, devem comparecer à unidade de saúde para
doentes que no início do tratamento são forte- exame. No quadro a seguir, apresenta-se a condu-
mente positivos (++ ou +++) e mantêm essa situa- ta para exame dos contatos. Quando diagnostica-
ção até o quarto mês, ou com positividade inicial da a tuberculose em crianças, a equipe de sáude
seguida de negativação e nova positividade por deverá examinar os contatos adultos para busca
dois meses consecutivos, a partir do quarto mês do possível caso fonte. Após serem examinados e
de tratamento, são também classificados como caso não sendo constatada tuberculose-doença, deve-
de falência. O aparecimento de poucos bacilos (+) se orientá-los a procurarem a unidade de saúde,
no exame direto do escarro, na altura do quinto em caso de aparecimento de sintomatologia res-
ou sexto mês isoladamente, não significa, neces- piratória.
sariamente, falência de esquema. O paciente de-
verá ser acompanhado com exames bacteriológi- 4.2. Vacinação BCG
cos para melhor definição.
Observação: Quando o caso for encerrado por fa- O BCG exerce notável poder protetor contra as
lência e o paciente iniciar novo tratamento, deve- manifestações graves da primo-infecção, como as
rá ser registrado como caso de retratamento no disseminações hematogênicas e a meningoence-
livro de Registro e Controle de Tratamento dos falite, mas não evita a infecção tuberculosa. A pro-
Casos de Tuberculose. Entretanto, este caso não teção se mantém por 10 a 15 anos. A vacina BCG
deverá ser notificado novamente. não protege os indivíduos já infectados pelo M.
tuberculosis. Por isso, nos países com elevada pre-
Alta por transferência valência de infecção tuberculosa, como o nosso,
Será dada quando o doente for transferido para as crianças devem ser vacinadas o quanto antes
outro serviço de saúde. A transferência deve ser possível, após o nascimento. Nas áreas geográfi-
processada pelo documento que informará sobre cas com alta prevalência de infecção por mico-
o diagnóstico e o tratamento realizado até aquele bactérias não-tuberculosas, a margem de prote-
momento. Deve-se buscar a confirmação de que o ção do BCG contra a tuberculose é reduzida, razão
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Diretrizes Brasileiras para Tuberculose 2004
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Observação: Sempre que houver indicação de va- mais atingida, em face das realidades da epide-
cinação BCG em adultos, recomenda-se o aconse- miologia da tuberculose em nosso país.
lhamento para a realização do teste de detecção
do HIV. 4.4. Recomenda-se revacinar
A idade mais adequada para a revacinação BCG
4.3. Revacinação BCG é variável, devido à inexistência de teste de imu-
nidade aplicável na rotina dos serviços de saúde.
Pesquisas diversas sobre a revacinação apura- Entretanto, a seleção da faixa etária deve conside-
ram resultados controversos. Na maioria desses rar o prolongamento da imunidade pelo menos
estudos, não se tem avaliado devidamente o fato até o início da puberdade. Recomenda-se revaci-
de não ter sido feita a prova tuberculínica, o que nar entre 6 e 14 anos de idade, atendendo às con-
levou a incluir entre os revacinados contingentes dições epidemiológicas e às possibilidades opera-
variáveis de indivíduos infectados com o M. tu- cionais de cada região.
berculosis ou com micobactérias não-tuberculo- Revacinar na idade escolar (6 a 14 anos),
sas. preferencialmente aos dez anos de idade. Por ra-
Os resultados favoráveis de outros estudos in- zões operacionais pode ser aplicado por volta dos
dicam que a não adoção da revacinação excluiria seis anos de idade na admissão escolar.
do benefício dessa profilaxia os adolescentes e Revacinar independentemente de haver ou
jovens adultos, mais suscetíveis de desenvolver não cicatriz vacinal.
tuberculose ativa. Nota: o PNI não recomenda a revacinação na
A recomendação da revacinação BCG tem como população indígena.
base os resultados favoráveis já disponíveis na li-
teratura, reforçados por argumentos como: 4.5. Contra-indicações da vacinação BCG
A epidemia da tuberculose agravou-se, au-
Relativas
mentando a força da doença.
Considerando que a proteção do BCG se es- Recém-nascidos com peso inferior a dois
vai num prazo médio de dez anos, impõe-se reati- quilos.
var o sistema imunológico da população exposta, Afecções dermatológicas no local da vaci-
a exemplo do que ocorre nos modelos experimen- nação ou generalizada.
tais da tuberculose. Uso de imunodepressores.
Criar nova oportunidade de imunização para Observação: Nesses casos, a vacinação será
aqueles que, por problemas técnicos da aplicação adiada até a resolução das situações apontadas.
da vacina em recém-nascidos, ou por falhas de Absolutas
conservação, receberam número insuficiente de
HIV positivos adultos (independentemente
unidades bacilares viáveis.
dos sintomas) e crianças sintomáticas.
Assegurar a persistência do BCG nos vacina-
Imunodeficiência congênita.
dos, condição indispensável para manter a prote-
ção por maior prazo.
Oferecer maior proteção às crianças com mais
4.6. Evolução da lesão vacinal, eventos
de cinco anos de idade, em que as formas primá- adversos e conduta
rias da tuberculose, com destaque para a menin- A vacina BCG não provoca reações gerais, tais
goencefalite, incidem significativamente; 50% dos como febre ou mal-estar. Normalmente, nos me-
casos de meningoencefalite ocorrem acima dos nores de um ano, grupo prioritário, a reação local
cinco anos. Abaixo dessa idade, houve redução da vacina é de evolução lenta e benigna, variando
significativa da incidência, como resultado do pro- de indivíduo para indivíduo. Desde que a injeção
grama de vacinação de recém-nascidos. intradérmica seja corretamente aplicada, a lesão
A epidemia do HIV é outro fator agravante vacinal evolui da seguinte forma:
da epidemia tuberculosa. em torno da segunda semana, palpa-se uma
A revacinação assegura a proteção da po- zona endurecida cujas dimensões variam de 3mm
pulação até a entrada na idade adulta, por ser a a 9mm;
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da quinta à sexta semana, o centro dessa mais raras e, em geral, associadas à deficiência
lesão amolece, formando uma crosta; imunológica.
quando essa crosta cai, deixa em seu local
uma úlcera de cerca de 2mm a 6mm de diâmetro,
que desaparece lentamente, entre a oitava e a dé- 4.7. Quimioprofilaxia da tuberculose
cima-terceira semanas, deixando como resultado Está universalmente comprovado o efeito pro-
uma cicatriz plana, com diâmetro de 3mm a 7mm. tetor da quimioprofilaxia com isoniazida contra a
Em alguns casos, essa cicatrização é mais demo- tuberculose-ativa, por reduzir entre 40% a 80% o
rada, podendo prolongar-se até o quarto mês e, risco de os indivíduos infectados com o M. tuber-
raramente, além do sexto mês. culosis e tuberculino-positivos desenvolverem tu-
Não se deve, no entanto, colocar qualquer berculose-doença. Com essa finalidade, a isonia-
medicamento nem cobrir a úlcera resultante da zida não oferece perigo de desencadear resistência
lesão de evolução normal; apenas mantê-la limpa, do M. tuberculosis, porque o número deste nas
usando água e sabão. lesões residuais é pequeno, havendo pouquíssima
O enfartamento ganglionar axilar, não supura- chance de selecionar germes mutantes naturalmen-
do, pode ocorrer durante a evolução normal da te resistentes a essa droga.
lesão vacinal, desaparecendo espontaneamente, A isoniazida é a droga de eleição para a qui-
sem necessidade de tratamento medicamentoso e/ mioprofilaxia porque, após três horas de sua ad-
ou cirúrgico (drenagem). ministração, a concentração inibitória mínima no
As complicações da vacina BCG, aplicada por sangue, para os bacilos tuberculosos, é de 50 a
via intradérmica, são pouco freqüentes. A maior 90 vezes maior que a necessária para matá-los.
parte resulta de técnica imperfeita, como aplica- Além disso, ela tem forte poder bactericida asso-
ção profunda (subcutânea), inoculação de dose ciado à ação esterilizante. É a droga com menos
excessiva ou contaminação. As complicações mais efeitos colaterais indesejáveis e a de menor custo.
comuns são abscessos no local da aplicação, úl- Entretanto, sua aplicação em massa é inexeqüível
cera de tamanho exagerado e gânglios flutuantes e insuficiente em termos de saúde pública, graças
e fistulados. Em caso de eventos adversos para ao elevado número de infectados pelo M. tuber-
notificação, devem-se observar as orientações con- culosis, que atinge mais de um terço da popula-
tidas nos quadros 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4 do manual de ção mundial, sendo, no Brasil, em torno de 57 mi-
Vigilância Epidemiológica dos Eventos Adversos lhões. Outro motivo alegado para a não
Pós-vacinação, das páginas 13 a 16. universalização da quimioprofilaxia é a hepatoto-
O tratamento dessas complicações é feito com xicidade da isoniazida, que aumenta com a idade.
a administração de isoniazida, na dosagem de Na atualidade, há consenso de que a quimio-
10mg/kg de peso (até, no máximo, 300mg), dia- profilaxia deve ser dirigida aos grupos de alto ris-
riamente, até a regressão da lesão, o que ocorre, co de tuberculose, entre estes, especialmente, os
em geral, em torno de 45 dias. Os abscessos frios co-infectados pelo HIV e pelo M. tuberculosis.
e os gânglios enfartados podem ser puncionados A quimioprofilaxia com outras drogas como a
quando flutuantes, mas não devem ser incisados. rifampicina, inclusive associada a outros quimio-
Na prática de Saúde Pública, têm sido raras as terápicos, não se revela superior à isoniazida em
complicações decorrentes da aplicação de BCG. termos de eficácia. O uso da rifampicina não apre-
Quando se notar, na rotina dos serviços de saúde, senta vantagem comprovada para a adesão ao tra-
um aumento considerável do número de casos, tamento.
convém rever o treinamento dos vacinadores. A quimioprofilaxia deve ser aplicada em pes-
A cicatriz quelóide pode ocorrer em indivíduos soas infectadas pelo M. tuberculosis, com a admi-
com propensão genética, independentemente da nistração da isoniazida na dosagem de 10mg/kg
técnica de aplicação. Seu aparecimento é mais fre- de peso, com total máximo de 300mg diariamen-
qüente em pessoas já infectadas ou naquelas re- te, durante seis meses.
vacinadas.
Outras complicações, como lupus vulgaris e Indicações da quimioprofilaxia
osteomielite são raras, não havendo registro de a) Recém-nascidos coabitantes de foco tuber-
ocorrência no Brasil. Lesões generalizadas são ainda culoso ativo. A isoniazida é administrada por três
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meses e, após esse período, faz-se a prova tuber- g) Co-infectados HIV e M. tuberculosis. Este
culínica. Se a criança for reatora, a quimioprofila- grupo deve ser submetido à prova tuberculínica,
xia deve ser mantida por mais três meses; senão, sendo de 5mm em vez de 10mm o limite da rea-
interrompe-se o uso da isoniazida e vacina-se com ção ao PPD para considerar-se uma pessoa infec-
BCG. tada pelo M. tuberculosis.
b) Crianças menores de 15 anos, sem sinais A quimioprofilaxia será aplicada segundo as
compatíveis com tuberculose ativa, contato de indicações do quadro a seguir:
tuberculosos bacilíferos, não vacinadas com BCG
e reatores à tuberculina de 10 e mais mm; crian-
QUADRO III
ças vacinadas com BCG, mas com resposta à tu- Quimioprofilaxia para
berculina igual ou superior a 15mm. tuberculose em pacientes HIV+
Observação: Na eventualidade de contágio recen-
te, a sensibilidade à tuberculina pode não estar Indicações(1)(2) Indivíduo sem sinais ou sintomas su-
exteriorizada, sendo negativa a resposta à tuber- gestivos de tuberculose:
A. Com radiografia de tórax normal
culina. Deve-se, portanto, nesse caso, repetir a
e: 1) reação ao PPD maior ou igual a
prova tuberculínica entre 40 e 60 dias. Se a res-
5mm(3); 2) contatos intradomiciliares
posta for positiva, indica-se a quimioprofilaxia; se ou institucionais de tuberculose baci-
negativa, vacina-se com BCG. lífera, ou 3) PPD não-reator ou com
c) Indivíduos com viragem tuberculínica re- enduração entre 0-4mm, com registro
cente (até 12 meses), isto é, que tiveram um au- documental de ter sido reator ao tes-
mento na resposta tuberculínica de, no mínimo, te tuberculínico e não submetido a
10mm. tratamento ou quimioprofilaxia na
d) População indígena. Neste grupo, a quimio- ocasião.
B. Com radiografia de tórax anormal:
profilaxia está indicada em todo o contato de tu-
presença de cicatriz radiológica de TB
berculoso bacilífero, reator forte ao PPD, indepen-
sem tratamento anterior (afastada
dentemente da idade e do estado vacinal, após possibilidade de TB ativa através de
avaliação clínica e afastada a possibilidade de tu- exames de escarro e radiografias an-
berculose-doença, por baciloscopia e pelo exame teriores), independentemente do resul-
radiológico. tado do teste tuberculínico (PPD).
e) Imunodeprimidos por uso de drogas ou por Esquema(4) Isoniazida, VO, 5-10mg/kg/dia (dose
doenças imunodepressoras e contatos intradomi- máxima: 300mg/dia) por seis meses
ciliares de tuberculosos, sob criteriosa decisão consecutivos.
médica.
f) Reatores fortes à tuberculina, sem sinais de (1) O teste tuberculínico (PPD) deve ser sem-
tuberculose ativa, mas com condições clínicas as- pre realizado na avaliação inicial do paciente HIV+,
sociadas a alto risco de desenvolvê-la, como: independentemente do seu estado clínico ou la-
Alcoolismo. boratorial (contagem de células CD4+ e carga vi-
Diabetes mellitus insulinodependente. ral), devendo ser repetido anualmente nos indiví-
Silicose. duos não reatores. Nos pacientes não reatores e
Nefropatias graves. em uso de terapia anti-retroviral, recomenda-se
Sarcoidose. fazer o teste a cada seis meses no primeiro ano de
Linfomas. tratamento, devido à possibilidade de restauração
Pacientes com uso prolongado de corticos- da resposta tuberculínica.
teróides em dose de imunodepressão. (2) A quimioprofilaxia com isoniazida (INH)
Pacientes submetidos à quimioterapia anti- reduz o risco de adoecimento a partir da reativa-
neoplásica. ção endógena do bacilo, mas não protege contra
Pacientes submetidos a tratamento com imu- exposição exógena após a sua suspensão. Portan-
nodepressores. to, em situações de possível re-exposição ao ba-
Portadores de imagens radiográficas com- cilo da tuberculose, o paciente deverá ser reava-
patíveis com tuberculose inativa sem história de liado quanto à necessidade de prolongamento da
quimioterapia prévia. quimioprofilaxia (caso esteja em uso de INH) ou
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Diretrizes Brasileiras para Tuberculose 2004
de instauração de nova quimioprofilaxia (caso esta controle da infecção tuberculosa, a fim de auxiliar
já tenha sido suspensa). na implantação das medidas de biossegurança na
(3) Em pacientes com imunodeficiência mo- dependência do grau de complexidade da unida-
derada/grave e reação ao PPD > 10mm, sugere-se de de saúde. Esta comissão deve ser constituída
investigar cuidadosamente a tuberculose ativa (pul- por dois ou mais profissionais de saúde, preferen-
monar ou extrapulmonar) antes de se iniciar a cialmente enfermeiro e médico (pneumologista ou
quimioprofilaxia. infectologista), com experiência em tuberculose,
(4) Indivíduos HIV+ contatos de pacientes na área de saúde pública e saúde do coletivo res-
bacilíferos com tuberculose INH-resistente docu- trito, e em medidas de engenharia.
mentada e que não estão em uso de IP ou ITTRN
Medidas de controle
incompatíveis com uso de RMP, poderão fazer uso
de quimioprofilaxia com esquema alternativo de Quaisquer medidas que visem ao combate da
rifampicina (600mg/dia) + pirazinamida (2g/dia) transmissão da tuberculose devem levar em conta
por dois meses, preferencialmente sob a supervi- toda a unidade de saúde. As medidas de controle
são de um especialista. de transmissão dividem-se em três grupos:
Observações: a) Não se recomenda a utilização da a) Administrativas.
quimioprofilaxia nos HIV positivos e negativos à b) Ambientais (ou de engenharia).
tuberculina, com ou sem evidências de imunode- c) De proteção respiratória.
ficiência avançada. Deve-se repetir a prova tuber- Unidades de saúde do tipo 1 e tipo 2 (baixo e
culínica entre 40 e 60 dias; mantendo-se negati- médio grau de complexidade)
va, repetir a cada seis meses.
Inicialmente, com auxílio da Comissão Esta-
b) Em pacientes com RX normal, devem-se in-
dual/Municipal de Controle da Infecção da Tuber-
vestigar outras patologias ligadas à infecção pelo
culose, deve ser elaborado um plano com a defi-
HIV, antes de se iniciar a quimioprofilaxia, devido
nição de metas a serem atingidas na referida
à concomitância de agentes oportunistas/manifes-
unidade num prazo de 12 meses. Este plano con-
tações atípicas de tuberculose mais freqüentes
siste em:
nessas coortes.
a) Treinar os profissionais de saúde.
c) Nos indivíduos HIV positivos e tuberculino-
b) Proceder à identificação precoce do sinto-
positivos com RX normal, sem sinais e sem sinto-
mático respiratório na triagem.
mas de tuberculose, devem-se destacar os conta-
c) Agilizar o diagnóstico bacteriológico.
tos institucionais (casas de apoio, presídios, abrigos,
d) Educar o paciente e seus familiares, se pos-
asilos, etc.).
sível quanto à necessidade de aderir ao tratamen-
d) Recomenda-se suspender imediatamente a
to medicamentoso.
quimioprofilaxia, no surgimento de qualquer sinal
e) Identificar local específico, arejado e com
de tuberculose ativa, monitorá-la nos casos de
luz solar para os pacientes coletarem o escarro
hepatotoxicidade e administrá-la com cautela nos
(de preferência fora da unidade de saúde) e, quan-
alcoólicos.
do disponível, identificar ambiente apropriado para
a realização de escarro induzido (na unidade de
5. BIOSSEGURANÇA saúde tipo 2 e 3).
5.1. Medidas de controle ocupacional e Para o atendimento ambulatorial de pacientes
com TB pulmonar, confirmada ou sob suspeita,
controle respiratório
sugere-se que:
Atualmente, a OMS propõe que, mesmo em Os profissionais de saúde orientem os sinto-
países em desenvolvimento, medidas de controle máticos respiratórios sobre a necessidade do uso
da transmissão da tuberculose sejam adotadas em de máscaras cirúrgicas (máscaras comuns) ao en-
unidades de saúde, cujo ambiente proporcione trarem na unidade de saúde e durante o tempo
elevado risco de infecção pelo bacilo da tubercu- em que nela permanecerem.
lose de paciente para paciente ou de paciente para Os profissionais de saúde que estejam na
profissionais de saúde. mesma sala de tais pacientes devem usar máscaras
Inicialmente, torna-se prioritário criar, em es- especiais (respiradores N95), desde que não haja
fera estadual e/ou municipal, uma comissão de ventilação adequada no local.
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