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Igor Vitorino1
Resumo
O presente ensaio objetiva pincelar a discussão sobre raça e classe que vem
esquentando o debate contemporâneo do movimento negro, principalmente no
contexto das propostas das políticas cotas dirigidas a população afro-descente. Indica-
se que essa discussão na realidade é sinal de uma questão mais profunda que é a re-
interpretação do lugar do negro na história brasileira e a disputa pelo monopólio do
poder simbólico, ou seja, pelo direito de dizer sobre o mundo.
Abstract
This article is related to the debate about race and class that have been warming the
discussions inside the black movement, especially in the context of the public politics
that reserve places in the universities for afro descendent students. I indicate that this
discussion is really a sign of a deeper question which is the reinterpretation of black
people’s place in Brazilian history and the dispute for the monopoly of symbolic power,
meaning the right to speak about the world.
1
Formando em historia pela UFES. Mestrando em Planejamento Urbano e Regional -IPPUR
\UFRJ.
2
“Manoel Bomfim (1868-1932), intelectual sergipano, autor de A América Latina (1905), Através do
Brasil (1910) — co-escrito por Olavo Bilac (1864-1934) — etc., além de uma trilogia composta por: O
Brasil na América (1929), O Brasil na História (1930) e O Brasil Nação (1931). Livros dedicados à
análise da formação da nacionalidade brasileira. O autor se empenhava em criticar os historiadores e os
políticos do Brasil que, segundo ele, teriam deturpado a história nacional e contribuído para a
"degradação" da nação. Interessado em resgatar as "qualidades características do povo" brasileiro — que
considerava esquecidas pela historiografia —, ele desenvolveu uma reflexão sobre o País e seus
habitantes, em que é possível identificar diálogos com pensadores de seu tempo e de outros tempos”(
Gontijo, 2003)
demonstrando o uso do racismo como forma de dominação. A partir dessa
proposição que destoava da agenda pública no início do século, o nobre
conferencista argumentou para o plenário: não havendo raças, não há sentido
na política de cotas. As cotas estariam produzindo um país bicolor,
impulsionando a fragmentação da unidade da nação – exclamava acidamente
o sociólogo.
Voltando ao seminário, o palestrante afirmava que o Brasil não era um país bi-
racial e que as cotas iram institucionalizar o racismo e o preconceito racial, que
é necessário uma política universal de educação básica. Não discordo.
Entretanto ele não conseguia explicar porque as positividades e qualidades
sociais têm com centro imagens da população branca. Ter um diploma, em
última instância, não revolverá o problema do negro, mas possibilitará que ele
vivencie a positividade de sua condição, possibilitará outra experiência de
mundo e construção de outras perspectivas, inclusive, para outros negros. O
mais importante nas políticas de cotas é dotar de instrumentos intelectuais e
condições sociais a população negra, possibilidade de que o que sempre foi
silenciado se torne grito, no historia. Não sabemos quais serão os problemas
dessa escolha, mas poderemos dizer que tentamos. Nós, indíos e negros,
precisamos reinterpretar o Brasil.
Mesmo assim, fica-nos uma pergunta: a quem interessa a reação pacífica dos
negros à sua condição de inferiorização? O ódio racial cada vez mais
impulsionado também não estaria ligado à inexistência de instituições que
reconheçam o negro como cidadão? Até quando nós negros teremos que dizer,
peremptoriamente, que não somos marginais ou exclamar: "E aí, dona, não
vou roubar a sua bolsa"? Ou perceber que, na rua, uma pessoa adiantou os
passos ao ver um de nós se aproximando dela? A luta do negro no Brasil
carrega a mesma problemática da luta dos trabalhadores, ou seja, torna as
condições objetivas, de negro e trabalhador, em condições subjetivas, tornar-se
sujeito diante de seu outro, os brancos e o Capital. Todavia, no Brasil,
constantemente são bloqueadas essas possibilidades pelos discursos
nacionalistas, da pacificidade do brasileiro, da cordialidade, da democracia
racial. Dizia o revolucionário russo Leon Trotski: "Se o sol não é de todos, por
que ele tem que brilhar para alguns?"