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PARTEDOIS A TRANSFORMACAO _____ POLITICO-ECONOMICA DO CAPITALIMO DO OCS FINAL DO SECULO xx Ti INTRODUGAO Se houve alguma transformagao na economia politica do capitalismo do final do século XX, cabe-nos estabelecer quo profunda e fundamental pode ter sido a mudanca. Sao abundantes os sinais e marcas de modificagdes radicais em processos de trabalho, habitos de consumo, configuragbes geogréficas e geopoliticas, poderes priticas do Estado etc, No Ocidente, ainda vivemos uma sociedade em que a producéo em funcZo de lucros permanece como o principio organizador basico da vida econémica. Portanto, precisamos de alguma maneira representar todos os grandes eventos ocorridos desde a primeira grande recessio do pés-guerra, em 1973, maneira que nao perca de vista o fato de as regras bsicas do modo capita- lista de producto continuarem a operar como forgas plasmadoras invariantes do desenvolvimento hist6rico-geografico. A linguagem (e, portanto, a hiptese) que vou explorar é uma linguagem na qual vemos eventos recentes como uma transigdo no regime de acuraulagio e no modo de regulamentagio social e politica a ele associado. Ao representar as coisas assim, recorro a linguagem de uma escola de pensamento conhecida como a “escola da regulamentagao”. Seu argumento bésico, que teve como pioneiro Aglietta (1979) e como propositores Lipietz (1986), Boyer (1986a; 1986b) e outros, pode ser resumido em poucas palavras. Um regime de acumulagio “descreve a estabilizagao, por um longo perfodo, da alocagao do produto Iiquido entre consumo e acumulacao; ele implica alguma correspondéncia entre a transformacao tanto das condigées de producéo como das condigées de reproducio de assalariados”, Um sistema par cular de acumulacdo pode existir porque “seu esquema de reproducao é coerente”. problema, no entanto, é fazer os comportamentos de todo tipo de individuos — capitalistas, trabalhadores, funcionérios publicos, financistas e todas as outras espécies de agentes politico-econdmicos — assumirem alguma modalidade de configuragao que mantenha o regime de acumulagao funcionando. Tem de haver, portanto, “uma materializagao do regime de acumulagao, que toma a forma de normas, hébitos, leis, redes de regulamentacdo ete. que garantam a unidade do Processo, isto é, a consisténcia apropriada entre comportamentos individuais e 0 esquema de reproducao. Esse corpo de regras e processos sociais interiorizados tem o nome de modo de regulamentagto” (Lipietz, 1986, 19). Esse tipo de linguagem ¢ util, em primeira instancia, como recurso heuristico. Ele concentra a nossa atenco nas complexas inter-relacées, habitos, praticas politicas e formas culturais que permitem que um sistema capitalista altamente dinamico e, em consequéncia, instavel adquira suficiente semelhanca de ordem para funcionar de modo coerente a0 menos por um dado perfodo de tempo. ‘Hé duas amplas éreas de dificuldade num sistema econdmico capitalista que tém de ser negociadas com sucesso para que esse sistema permaneca vidvel. A 118 ‘A TRANSFORMAGAD POLINCO-ECONGMICA DO CARTALIHO primeira advém das qualidades andrquicas dos mercados de fixacio de precos, ea segunda deriva da necessidade de exercer suficiente controle sobre o emprego da forga de trabalho para garantir a adigao de valor na produgao e, portanto, luctos positivos para o maior niimero possivel de capitalistas ‘Os mercados de fixagao de pregos, para tratar do primeiro problema, fornecem tipicamente intimeros sinais com alto grau de descentralizacao que permitem que 05 produtores coordenem as decisdes de producao com as necessicades, vontades € desejos dos consumidores (respeitando, com efeito, as restrigées de orcamentos e custos que afetam as partes envolvidas em toda transagao de mercado). Mas a celebrada “mao invisivel” do mercado, de Adam Smith, nunca bastou por si mes- ‘ma para garantir um crescimento estével ao capitalismo, mesmo quando as ins- tituigdes de apoio (propriedade privada, contratos vélidos, administracao apro- priada do dinheiro) funcionam adequadamente. Algum grau de acao coletiva — de modo geral, a regulamentacao e a intervencdo do Estado — € necessario para compensar as falhas de mercado (tais como os danos inestimaveis ao ambiente natural e social), evitar excessivas concentracdes de poder de mercado ou comba- ter 0 abuso do privilégio do monopélio quando este ndo pode ser evitado (em ‘campos como transportes e-comunicagoes), fornecer bens coletivos (defesa, edu- cagéo, infraestruturas sociais e fisicas) que nao podem ser produzidos e vendidos pelo mercado e impedir falhas descontroladas decorrentes de surtos especulati- Vos, sinais de mercado aberrantes e o intercambio potencialmente negativo entre expectativas dos empreendedores e sinais de mercado (0 problema das profecias, autorrealizadas no desempenho do mercado). Na pritica, as pressdes coletivas exercidas pelo Estado ou por outras instituigdes (religiosas, politicas, sindicais, patronais e culturais), aliadas ao exercicio do poder de dominio do mercado pelas grandes corporagdes e outras instituigSes poderosas, afetam de modo vital a dinamica do capitalismo. Essas pressOes podem ser diretas (como a imposicao de controles de salérios e precos) ou indiretas (como a propa- ganda subliminar que nos persuade a incorporar novos conceitos sobre as nossas necessidades e desejos bésicos na vida), mas o efeito liquido € moldar a trajetéria ea forma do desenvolvimento capitalista de modos cuja compreensao vai além da anélise das transagies de mercado. Além disso, as propensdes sociais e psicolégi- cas, como 0 individualismo e o impulso de realizacao pessoal por meio da auto- ‘expressio, a busca de seguranga e identidade coletiva, a necessidade de adquirir respeito priprio, posicio ou alguma outra marca de identidade individual, tém um papel na plasmacéo de modos de consumo e estilos de vida. Basta considerar todo o complexo de forgas implicadas na proliferagao da producao, da propriedade e do uso em massa do automével para reconhecer a vasta gama de significados sociais, psicolégicos, politicos, bem como mais propriamente econdmicos, que esto associados a um dos principais setores de crescimento do capitalismo do século XX. A virtude do pensamento da “escola da regulamentagio” esté no fato de insistir que levemos em conta o conjunto total de relacées e arranjos que contribuem para a estabilizacao do crescimento do produto e da distribuicao agregada de renda e de consumo num periodo hist6rico e num lugar particulares. ‘A segunda arena de dificuldade geral nas sociedades capitalistas concerne & conversa da capacidade de homens e mulheres de realizarem um trabalho ativo Inernooucko 49 ‘num processo produtivo cujos futos possam ser apropriados pelos capitalistas. Todo tipo de trabalho exige concentracio, autodisciplina, familiarizagao com diferentes instrumentos de producao e o conhecimento das potencialidades de varias matérias- primas em termos de transformagéo em produtos titeis. Contudo, a producéo de ‘mercadorias em condigdes de trabalho assalariado poe boa parte do conhecimento, das decisdes técnicas, bem como do aparelho disciplinar, fora do controle da pessoa que de fato faz. 0 trabalho. A familiarizagao dos assalariados foi um processo hist6- rico bem prolongado (e nao particularmente feliz) que tem de ser renovado com a incorporaco de cada nova geragio de trabalhadores & forca de trabalho. A discipli- nagéo da forga de trabalho para os propésitos de acumulagao do capital — um processo a que vou me referir, de modo geral, como “controle do trabalho” — & uma questo muito complicada. Ela envolve, em primeiro lugar, alguma mistura de repressao, familiarizagao, cooptacao e cooperacao, elementos que tém de ser onga- nizados no somente no local de trabalho como na sociedade como um todo. A socializaglo do trabalhador nas condigdes de proclucio capitalista envolve 0 contro- le social bem amplo das capacidades fisicas € mentais. A educacao, 0 treinamento, a persuasao, a mobilizagao de certos sentimentos sociais (a ética do trabalho, a leal- dade aos companheiros, o orgulho local ou nacional) e propensdes psicolégicas (a busca da identidade através do trabalho, a iniciativa individual ow a solidariedade social) desempenham um papel ¢ esto claramente presentes na formagio de ideo- logias dominantes cultivadas pelos meios de comunicagéo de massa, pelas institui- Ges religiosas e educacionais, pelos varios setores do aparelho do Estado, e afirma- das pela simples articulagao ce sua experiéncia por parte dos que fazem o trabalho. Também aqui o “modo de regulamentacéo” se torna uma maneira iitil de concei- tuar o tratamento dado aos problemas da organizacéo da forca de trabalho para propésitos de acumulacdo do capital em épocas e lugares particulares. ‘Aceito amplamente a visao de que o longo periodo de expansio de pés-guerra, que se estendeu de 1945 a 1973, teve como base um conjunto de préticas de con- trole do trabalho, tecnologias, habitos de consumo e configuragbes de poder po- litico-econdmico, e de que esse conjunto pode com razao ser chamado de fordista- keynesiano. © colapso desse sistema a partir de 1973 iniciou um perfodo de ré- pida mudanca, de fluidez e de incerteza. Nao esté claro se 05 novos sistemas de produgéo e de marketing, caracterizados por processos de trabalho e mercados mais flexiveis, de mobilidade geogréfica e de répidas mudancas praticas de con- sumo garantem ou ndo 0 titulo de um novo regime de acumulagéo nem se re- nascimento do empreendimento e do neoconservadorismo, associado com a virada cultural para 0 pés-modernismo, garante ou nao 0 titulo de um novo modo de regulameniagdo. Hé sempre 0 perigo de confundir as mudancas transit6rias e efémeras com as transformagées de natureza mais fundamental da vida politico- econémica. Mas os contrastes entre as praticas politico-econémicas da atualida- de e a5 do periodo de expanséo do pés-guerra sdo suficientemente significativos para tomar a hipétese de uma passagem do fordismo para o que poderia ser chamado regime de acumulacao “flexivel” uma reveladora maneira de caracterizar a histéria recente, E, embora eu v4 enfatizar, para propdsitos didaticos, os con- trastes, terei ocasiéo de voltar & questao valorativa de quio fundamental sio de fato as mudaneas guisa de conclusdo geral. 8 © FORDISMO A data inicial simbélica do fordismo deve por certo ser 1914, quando Henry Ford introduziu seu dia de oito horas e cinco délares como recompensa para os trabalhadores da linha automética de montagem de carros que ele estabelecera no ano anterior em Dearbon, Michigan. Mas 0 modo de implantacao geral do fordismo i muito mais complicado do que isso. Em muitos aspectos, as inovacdes tecnolégicas e organizacionais de Ford eram mera extensio de tendéncias bem-estabelecidas. A forma corporativa de organiza- so de negécios, por exemplo, tinha sido aperfeigoada pelas estradas de ferro a0 longo do século XIX e ja tinha chegado, em particular depois da onda de fusdes e de formagio de trustes e cartéis no final do século, a muitos setores industriais (um terco dos ativos manufatureiros americanos passaram por fusGes somente ‘entre os anos de 1988 ¢ 1902). Ford também fez pouco mais do que racionalizar velhas tecnologias e uma detalhada divisao do trabalho preexistente, embora, a0 fazer o trabalho chegar ao trabalhador numa posigao fixa, ele tenha conseguido draméticos ganhos de produtividade. Os Principios da Administragto Cientifica, de EW. Taylor — um influente tratado que descrevia como a produtividade do traba- tho podia ser radicalmente aumentada através da decomposicio de cada proceso de trabalho em movimentos componentes e da organizacao de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrdes rigorosos de tempo e estudo do movimento —, ‘tinham sido publicados, afinal, em 1911. E 0 pensamento de Taylor tinha uma lon- ga ancestralidade, remontando, através dos experimentos de Gilbreth, na década de 1890, as obras de escritores da metade do século XIX como Ure e Babbage, que Marx considerara reveladoras. A separagio entre geréncia, concepgio, controle e execugio (¢ tudo 0 que isso significava em termos de relacées sociais hierérquicas € de desabilitagao dentro do proceso de trabalho) também ja estava bem avan- cada em muitas indistrias. O que havia de especial em Ford (e que, em tiltima anilise, distingue 0 fordismo do taylorismo) era a sua viséo, seu reconhecimento explicit de que producao de massa significava consumo de massa, um novo sis- tema de reproducio da forga de trabalho, uma nova politica de controle e geréncia do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democratica, racionalizada, modernista e populista. lider comunista italiano Antonio Gramsci, jogado numa das prisées de Mus- solini umas duas décadas mais tarde, extraiu exatamente essa implicacao. O ame- ricanismo e o fordismo, observou ele em seus Cadernos do Cércere, equivaliam a0 “maior esforgo coletivo até para ctiar, com velocidade sem precedentes, e com uma consciéncia de propdsito sem igual na histéria, um novo tipo de trabalhador € um novo tipo de homem". Os novos métodos de trabalho “sio insepardveis de ‘um modo espectfico de viver e de pensar e sentir a vida”. Questdes de sexualidade, im ‘A TRaNsFORMACRO POLINCO-ECONOMICA DO CARTAUSMO de familia, de formas de coercao moral, de consumismo e de acao do Estado esta- vam vinculadas, ao ver de Gramsci, a0 esforco de forjar um tipo particular de trabalhador “adequado ao novo tipo de trabalho e de processo produtivo”. Con- tudo, duas décadas depois dos movimentos iniciais de Ford, Gramsci julgava que “sua elaboragdo ainda esté apenas em seu estégio inicial, sendo, portanto, (apa- rentemente) idflica”. Por que, entio, levou tanto tempo para que o fordismo se tomasse tum regime de acuimulagao adulto? Ford acreditava que o novo tipo de sociedade poderia ser construido simples- mente com a aplicagao adequada ao poder corporativo, © propésito do dia de oito ‘horas e cinco délares s6 em parte era obrigar o trabalhador a adquirir a disciplina necesséria a operacao do sistema de linha de montagem de alta produtividade. Era também dar aos trabalhadores renda e tempo de lazer suficientes para que constimissem 0s produtos produzidos em massa que as corporacBes estavam por fabricar em quantidades cada vez maiores. Mas isso presumia que os trabalhado- res soubessem como gastar seu dinheiro adequadamente. Por isso, em 1916, Ford enviou um exército de assistentes sociais aos lares dos seus trabalhadores “privi- legiados” (em larga medida imigrantes) para ter certeza de que o “novo homem” da produgo de massa tinha tipo certo de probidade moral, de vida familiar e de capacidade de consumo prudente (isto é, nao alcodlico) e “racional” para cor- responder as necessidades e expectativas da corporacio. A experiéncia néo durou Iuito tempo, mas a stia prépria existencia foi um sinal presciente dos profundos problemas sociais, psicologicos e politicos que o fordismo iria trazer. Era tal a crenca de Ford no poder corporativo de regulamentagéo da economia como um todo que a sua empresa atumentot os saldrios no comeso da Grande De- resséo na expectativa de que isso aumentasse a demanda efetiva, recuperasse 0 mercado e restaurasse a confianca da comunidade de negécios. Mas as leis coer- citivas da competicao se mostraram demasiado fortes mesmo para 0 poderoso Ford, forcando-o a demitir trabalhadores e cortar salarios. Foi necessdrio o New: Deal de Roosevelt para salvar 0 capitalismo — fazendo, através da intervencdo do Estado, o que Ford tentara fazer sozinho. Ford tinha se esforcado por antecipar-se aos acontecimentos, nos anos 30, fazendo seus trabalhadores proverem a maior parte de suas proprias necessidades de subsistincia. Eles deveriam, alegava ele, cultivar legumes nas horas vagas nos préprios jardins (uma pratica seguida com grandes resultados durante a Segunda Guerra Mundial na Inglaterra). Ao ins em que “a autoajuda é a tinica maneira de combater a depressao econémica”, Ford reforgou o tipo de utopia controlada de volta a terra que caracterizou os planos de Frank Lloyd Wright para Broadacre City. Mas, mesmo nesse caso, podemos de- tectar interessantes sinais de futuras configuraces, visto que foi a suburbanizagao e desconcentragao da populacao e da indtistria (e nao a autoajuda), implicitas na concepgio modemista de Wright, que se tornaria o principal elemento de estimulo Ga demanda efetiva pelos produtos de Ford no longo perfodo de expansio do pés-guerra a partir de 1945, © modo como o sistema fordista se estabeleceu constitui, com efeito, uma lon- | ga e complicada historia que se estende por quase meio século. Isso dependeu de uma mirfade de decisées individuais, corporativas, institucionais e estatais, muitas delas escolhas politicas feitas a0 acaso ou respostas improvisadas as tendéncias de © roroswo 123 crise do capitalismo, particularmente em sua manifestacao na Grande Depresséo dos anos 30. A subsequente mobilizagio da época da guerra também implicou planejamento em larga escala, bem como uma completa racionalizacéo do proces so de trabalho, apesar da resistencia do trabalhador a produgio em linha de mon- tagem e dos temores capitalistas do controle centralizado. Era dificil, para capita- listas e trabalhadores, recusar racionalizagdes que melhorassem a eficiéncia numa época de total esforco de guerra. Além disso, as confuses entre préticas ideol6gi- cas ¢ intelectuais complicavam as coisas. A direita e a esquerda desenvolveram sua propria versio de planejamento estatal racionalizado (com todos os seus atavios modernistas) como solugao para os males a que o capitalismo estava tio claramen- te exposto, em particular na situagao dos anos 30. Foi esse tipo de histéria intelec- tual e politica confusa que fez Lénin louvar a tecnologia de producao taylorista e fordista enquanto 0s sindicatos da Europa Ocidental a recusavam; Le Corbusier aparecer como apéstolo da modemidade enquanto se aliava a regimes autoritérios (Mussolini por algum tempo e o regime de Vichy na Franga); Ebenezer Howard forjar planos ut6picos inspirados no anarquismo de Geddes e Kropotkin — apenas para serem apropriados por desenvolvimentistas capitalistas — e Robert Moses comegar 0 século como “progressista” politico (inspirado pelo socialismo utépico apresentado em Looking backwards, de Edward Bellamy) e terminar como 0 “corre- tor do poder” que “levou 0 moedor de came” para o Bronx em nome da automo- bilizagaio da América (ver, por exemplo, Caro, 1974). Houve, ao que parece, dois principais impedimentos a disseminacio do fordis- ‘mo nos anos entre-guerras. Para comecar, 0 estado das relacdes de classe no mun- do capitalista dificilmente era propicio a facil aceitagao de um sistema de produgaio que se apoiava tanto na familiarizagio do trabalhador com longas horas de traba- Iho puramente rotinizado, exigindo pouco das habilidades manuais tradicionais e concedendo um controle quase inexistente ao trabalhador sobre o projeto, o ritmo ea organizacio do processo produtivo, Ford usara quase exclusivamente a mao de obra imigrante no seu sistema de producéo, mas os imigrantes aprenderam e 95 trabalhadores americanos eram hostis. A rotatividade da forca de trabalho de Ford mostrou-se impressionantemente alta. O taylorismo também enfrentou fortes resistncias nos anos 20, e alguns comentadores, como Richard Edwards (1979), insistem que a oposigéo dos trabalhadores infligin uma grande derrota a implan- lagdo dessas técnicas na maioria das indtstrias, apesar do dominio capitalista dos mercados de trabalho, do fluxo continuo de mao de obra imigrante e da capacidade de mobilizar exércitos de reserva da América rural (e, por vezes, negra). No resto do mundo capitalista, a organizacéo do trabalho e as tradic6es artesanais eram sim- plesmente muito fortes, e a imigracao muito fraca, para permitir ao fordismo ou 20 taylorismo qualquer facilidade de producio, muito embora os principios gerais, da administracéo cientifica fossem amplamente aceitos e aplicados. Nesse sen- tido, Administration industrielle et générale, de Henri Fayol (publicado em 1916), ‘mostrou-se um texto muito mais influente na Europa do que o de Taylor. Com sua énfase nas estruturas organizacionais e na ordenagao hierarquica do fluxo de auto- Tidade e de informacio, 0 livro det origem a uma versio bem diferente da admi- nistragio racionalizada, em comparagao com a preocupacio taylorista de simpli- ficar © fluxo horizontal dos processos de producéo. A tecnologia de linha de mon- ia [A TRANSFORMAGAO POLITCO-ECONOMICA DO CAPTALSMO tagem para produgao de massa, implantada em muitos pontos dos Estados Unidos, tinka um desenvolvimento muito fraco na Europa antes da metade dos anos 30. A. indiistria de automéveis europeia, com excegéo da fébrica da Fiat em Turim, per- manecia em sua maior parte uma industria artesanal de alta habilidade (embora organizada corporativamente), produzind:: carros de luxo para consumidores de elite, sendo apenas ligeiramente influenciada pelos procedimentos de linha de mon- tagem na produgao em massa de modelos mais baratos antes da Segunda Guerra ‘Mundial. Foi preciso uma enorme revolugao das relacdes de classe (uma revolucao que comecou nos anos 30, mas 56 deu frutos nos anos 50) para acomodar a disse- minagio do fordismo a Europa. ‘A segunda barreira importante a ser enfrentada estava nos modos e mecanis- mos de intervencao estatal. Foi necessério conceber um novo modo de regulamen- tacdo para atender aos requisitos da producéo fordista; e foi preciso o choque da depressao selvagem e do quase-colapso do capitalismo na década de 30 para que as sociedades capitalistas chegassem a alguma nova concepgao da forma e do uso dos poderes do Estado. A crise manifestou-se fundamentalmente como falta de demanda efetiva por produtos, sendo nesses termos que a busca de solucdes co- ‘megou. Com o beneficio da compreensio a posteriori, é verdade, podemos ver com mais clareza todos os perigos representados pelos movimentos nacional-socialis- tas. Mas, a luz do fracasso evidente dos governos democriticos em fazer qualquer coisa além de parecer condescender com as dificuldades de um imenso colapso econémico, nao é dificil ver o atrativo de uma solugao politica em que os traba- Ihadores fossem disciplinados em sistemas de producao novos e mais eficientes em que a capacidade excedente fosse absorvida em parte por despesas pro- duutivas e infraestruturas muito necessérias para a produgao e 0 consumo (sendo a outra parte alocada para imtiteis gastos militares). Nao poucos politicos e inte- lectuais (cito 0 economista Schumpeter como exemplo) consideravam os tipos de solugées explorados no Japao, na Itdlia e na Alemanha nos anos 30 (despidos do apelo a mitologia, a0 militarismo e ao racismo) corretos, e apoiaram o New Deal de Roosevelt porque o viam precisamente sob essa ética. A estase democréttica dos anos 20 (embora vinculada a classe) tinha de ser superada, muitos concorda- vam, por um pouco de autoritarismo e intervencionismo estatais, para os quais ‘bem poucos precedentes (salvo a industrializacéo do Japao ou as intervencdes bonapartistas da Franga do Segundo Império) podiam ser encontrados. Desiludi- do com a incapacidade dos governos democraticos de assumir 0 que ele conside- rava tarefas essenciais de modernizacéo, Le Corbusier se voltou primeiro para o sindicalismo e, mais tarde, para regimes autoritérios como as tinicas formas poli- ticas capazes de enfrentar a crise. O problema, tal como 0 via um economista como Keynes, era chegar a um conjunto de estratégias administrativas cientificas e po- deres estatais que estabilizassem 0 capitalismo, ao mesmo tempo que se evitavam as evidentes repressdes e irracionalidades, toda a beligerncia e todo o naciona- lismo estreito que as solugdes nacional-socialistas implicavam. E nesse contexto confuso que temos de compreender as tentativas altamente diversificadas em di- ferentes nagées-Estado de chegar a arranjos politicos, institucionais e sociais que pudessem acomodar a crénica incapacidade do capitalismo de regulamentar as condigdes essenciais de sua propria reprodugao. 0 FoRosHo 1s O problema da configuracéo e uso préprios dos poderes do Estado s6 foi re- solvido depois de 1945. Isso levou o fordismo & maturidade como regime de acu- mulagao plenamente acabado e distintivo. Como tal, ele veio a formar a base de um longo periodo de expansio pés-guerra que se manteve mais ou menos intacto até 1973. Ao longo desse periodo, o capitalismo nos paises capitalistas avangados alcangou taxas fortes, mas relativamente estaveis de crescimento econémico (ver figura 2.1 ¢ tabela 2.1). Os padrdes de vida se elevaram (figura 2.2), as tendéncias de crise foram contidas, a democracia de massa, preservada e a ameaca de guerras intercapitalistas, tomada remota. O fordismo se aliou firmemente ao keynesianismo, © 0 capitalismo se dedicou a um surto de expansbes internacionalistas de alcance mundial que atraiu para a sua rede intimeras nagies descolonizadas. A maneira ‘como esse sistema veio a existir 6 uma histéria dramética que merece 20 menos um ligeiro escrutinio caso desejemos compreender melhor as transig&es que ocor- reram a partir de 1973. O perfodo pés-guerra viu a ascensao de uma série de induistrias baseadas em tecnologias amadurecidas no periodo entre-guerras e levadas a novos extremos de racionalizagdo na Segunda Guerra Mundial. Os carros, a construgao de navios e de equipamentos de transporte, 0 ago, 0s produtos petroquimicos, a borracha, os eletrodomésticos ¢ a construcéo se tornaram os propulsores do crescimento eco- n6mico, concentrando-se numa série de regides de grande producio da economia mundial — 0 Meio Oeste dos Estados Unidos, a regido do Ruhr-Reno, as Terras Médias do Oeste da Gri-Bretanha, a regido de producao de Téquio-Yokohama. As forgas de trabalho privilegiadas dessas regides formavam uma coluna de uma de- manda efetiva em répida expansio. A outra coluna estava na reconstrugao patro- cinada pelo Estado de economias devastadas pela guerra, na suburbanizacio (par- ticularmente nos Estados Unidos), na renovagao urbana, na expansao geogrdfica dos sistemas de transporte e comunicacdes e no desenvolvimento infraestrutural dentro e fora do mundo capitalista avancado. Coordenadas por centros financeiros interligados, tendo como épice da hierarquia os Estados Unidos e Nova York, es- sas regides-chave da economia mundial absorviam grandes quantidades de maté- rias-primas do resto do mundo nao comunista e buscavam dominar um mercado mundial de massa crescentemente homogéneo com seus produtos. ‘Mas 0 crescimento fenomenal da expansdo de pés-guerra dependeu de uma ‘série de compromissos e reposicionamentos por parte dos principais atores dos processos de desenvolvimento capitalista. O Estado teve de assumir novos (keyne- sianos) papéis e construir novos poderes institucionais; o capital corporativo teve de ajustar as velas em certos aspectos para seguir com mais suavidade a trilha da lucratividade segura; e o trabalho organizado teve de assumir novos papéis ¢ fungées relativos ao desempenho nos mercados de trabalho e nos processos de produgio. O equilibrio de poder, tenso mas mesmo assim firme, que prevalecia entre 0 trabalho organizado, o grande capital corporativo e a nacao-Estado, e que formou a base de poder da expansio de pés-guerra, nao foi aleancado por acaso — resultou ce anos de luta. A derrota dos movimentos operdrios radicais que ressurgiram no periodo pés- guerra imediato, por exemplo, preparou o terreno politico para os tipos de con- {role do trabalho e de compromisso que possibilitaram o fordismo. Armstrong, Glyn ‘A TRANSFORMAGAO POUITEOHECONOMICA DO CAPTALISHO oa Figura 21 Tavas anuais de crescimento econdmico em pales capitalstas avancados selecionados e da OCDE como um todo segundo periodos de tempo selecionados, 1960-1985, (Fonte: OCDE) e Harrison (1984, capitulo 4) oferecem detalhada anélise de como se preparou ataque as formas tradicionais (orientadas para 0s oficios) e radicais de organiza- sa0 do trabalho tanto nos territérios ocupados do Japao, da Alemanha Ocidental € da Itélia como nos territérios supostamente “livres” da Gra-Bretanha, da Franca, © ronns0 a7 € dos Paises Baixos. Nos Estados Unidos, onde a Lei Wagner de 1933 tinha dado aos sindicatos poder no mercado (com 0 reconhecimento explicito de que os direi- tos de negociagao coletiva eram essenciais para a resolugao do problema da de- manda efetiva) em troca do sacrificio no campo da producdo, os sindicatos viram- ‘se sob um ataque virulento nos anos de pés-guerra por tuma pretensa infiltragao Ganhos médios semanais (em dalares) 2 # H g3 g u & 19501955196) —I96S «9797S 960s ‘Ano Figura 2.2 Saliros reais © renda familar nos Estados Unidos, 1947-1986. (Fontes: Estatisicas Histéias dos Estodos Unidos e Relatdras Econémicos oo Presidente) 128 [A TRANSFORMACAO FOUITCO-ECONOMICA DO CARTAISMO ‘Tabela 2.1 Texas médias de crescimento dos pales capitltas avancados ao longo de viris periodos de tempo a partr de 1820 ‘Taras percennuais anuzis de mudanca Prodito __Produto per copita _ExportarBes 1820-1870 22 19 40 1870-1913 25 la 39 1913-1950 i9 12 10 1950-1973, 49 38 86 1973-1979 26 1s 56 1979-1985 22 13 38 Fontes Maddison, |962 (1820-1973) e OCDE (1973-85) comunista e terminaram por ser submetidos a uma disciplina legal estrita pela Lei Taft-Hartley de 1952 (lei promulgada no auge do perfodo macarthista — cf. Tomlins, 11985). Com seu principal adversério sob controle, os interesses da classe capita- lista puderam resolver o que Gramsci denominara antes problema de “hegemo- ia” e estabelecer uma base aparentemente nova para relacdes de classes condu- centes ao fordismo. HA disputas sobre a profundidade dessas novas relagdes de classe, mas, de todo modo, isso por certo variou muito de pafs para pais e até de regido para regido. Nos Estados Unidos, por exemplo, os sindicatos ganharam considerével poder na esfera da negociacio coletiva nas indiistrias de producio em massa do Meio Oeste e do Nordeste, preservaram algum controle dentro das fabricas sobre as especificagoes de tarefas, sobre a seguranga e as promogdes, e conquistaram im- portante poder politico (embora nunca determinante) sobre questées como benefi- cios da seguridade social, salério minimo e outras facetas da politica social. Mas adguiriram e mantiveram esses direitos em troca da adogZo de uma atitude coope- rativa no tocante as técnicas fordistas de producao e as estratégias corporativas cog natas para aumentar a produtividade. Burawoy, em seu Manufaturing consent, ilustra a profundidade dos sentimentos cooperativos entre a forca de trabalho, embora ‘modificados por toda espécie de “jogos” de resistencia a todas as incursdes excessi- vvas do poder capitalista no interior das fabricas (com relagao, por exemplo, ao ritmo do trabalho). Assim ele confirma amplamente, com dados americanos, 0 perfil da atitude de cooperagio compilado por Goldthorpe na Gra-Bretanha em The affluent worker. Mas ha um registro suficiente de stibitas irrupgdes de descontentamento, mesmo entre trabalhadores afluentes (por exemplo, na fabrica da General Motors ‘em Lordstown, pouco depois de sua abertura, ou entre os operérios afluentes da indtistria automobilistica que Goldthorpe estudou), para sugerir que isso pode ser mais uma adaptacdo superficial do que uma reformulacao total das atitudes dos trabalhadores com respeito & produgio em linha de montagem. © problema per- pétuo de acostumar o trabalhador a sistemas de trabalho rotinizados, inexpressivos (© Foros 129 € degradados nunca pode ser completamente superado, como alega vigorosamen- te Braverman (1974). Nao obstante, as organizagoes sindicais burocratizadas foram sendo cada vez mais acuadas (as vezes através do exercicio do poder estatal re- pressivo) para trocar ganhos reais de saldrio pela cooperagao na disciplinagao dos trabalhadores de acordo com o sistema fordista de producao. 5 papéis das outras partes no contrato social geral, embora com frequéncia técito, que reinava no perfodo de expansio do pés-guerra eram bem definidos. Utilizava-se 0 grande poder corporativo para assegurar 0 crescimento sustentado de investimentos que aumentassem a produtividade, garantissem o crescimento e elevassem o padrao de vida enquanto mantinham uma base estavel para a realizacao de lucros. Isso implicava um compromisso corporativo com processos estéveis, mas vigorosos de mudanca tecnolégica, com um grande investimento de capital fixo, melhoria da capacidade administrativa na producao e no marketing e mobilizagdo de economias de escala mediante a padronizagao do produto. A forte centralizagio do capital, que vinha sendo uma caracteristica tao significativa do ca- pitalismo norte-americano desde 1900, permitiu refrear a competicao intercapitalista ‘numa economia americana todo-poderosa e fazer surgir priticas de planejamento e de pregos monopolistas e oligopolistas. A administragao cientifica de todas as facetas da atividade corporativa (nao somente produgao como também relagdes, pessoais, treinamento no local de trabalho, marketing, criagao de produtos, estra- tégias de pregos, obsolescéncia planejada de equipamentos e produtos) tornou-se ‘0 marco da racionalidade corporativa burocratica. As decisdes das corporacdes se tornaram hegeménicas na definig4o dos caminhos do crescimento do consumo de massa, presumindo-se, com efeito, que os outros dois parceiros da grande coalizao fizessem tudo 0 que fosse necessério para manter a demanda efetiva em niveis capazes de absorver o crescimento sustentado do produto capitalista. O actimulo de trabalhadores em fébricas de larga escala sempre trazia, no entanto, a ameaga de uma organizacio trabalhista mais forte e do aumento do poder da classe trabalhadora — da‘ a importancia do ataque politico a elementos radicais do movimento operério depois de 1945. Mesmo assim, as corporacSes aceitaram a contragosto o poder sindical, particularmente quando os sindicatos procuravam controlar efetiva da maneira originalmente concebida por Ford, Estado, por sua vez, assumia uma variedade de obrigagdes. Na medida em que a producao de massa, que envolvia pesados investimentos em capital fixo, requeria condigdes de demanda relativamente estaveis para ser lucrativa, o Estado se esforcava por controlar ciclos econémicos com uma combinagao apropriada de politicas fiscais e monetédrias no perfodo pés-guerra. Essas politicas eram dirigidas para as éreas de investimento puiblico — em setores como 0 transporte, 0s equipa- ‘mentos piiblicos etc. — vitais para o crescimento da produgao e do consumo de ‘massa e que também garantiam um emprego relativamente pleno, Os governos também buscavam fornecer um forte complemento ao salério social com. gastos de seguridade social, assisténcia médica, educacéo, habitagao etc. Além disso, 0 poder estatal era exercido direta ou indiretamente sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na producto. 130 ‘A TRANSORMAGKO POLINCO-ECONOMICA 00 CAPTALSHO Tabla 22 A orgnizacio da negociagio de salrios em quatro pais, 1950-1975 Franga GriBreamta tia ‘Aeranba cideta Sidealzaeio ba ata, varidvel mmoderada colin and Onganicacio facacom ——agmertadas perdcica etrvtuad faccossrno entre com vnifcada polio indisvias ———_-movimertos o categoras de masse Paoes icios fra riaidae fortes © ete orpeizxdo —seior prado orpnizados tendéncias € coltia setor pico organizardes fsado intervensSes negociagdo.——intervencio pipe! ample cota legstava rmuto fraco regiamertasio ——_voluntiria perédica ‘do trabalho comrormas——_dependente cos salrios fades pelo e ita através de Estado a de cases acorios partr da trparttes ‘meade dos anes 60 Fonte:A partir de Boyer, |986b,tabela | As formas de intervencionismo estatal variavam muito entre os paises capita- listas avangacios. A tabela 2.2 ilustra, por exemplo, a variedade de posturas toma- das por diferentes governos da Europa Ocidental diante das negociagées de contra- tos trabalhistas. Diferencas qualitativas e quantitativas semelhantes podem ser encontradas no padrao dos gastos priblicos, da organizacao dos sistemas de bem- estar social. (no caso do Japao, por exemplo, mantidos principalmente pela prépria corporacaio) ¢ do grau de envolvimento ativo do Estado, em oposicéo ao envolvi- mento tacito, nas decisdes econdmicas. Padres de descontentamento trabalhista, de organizacio de fébrica e de ativismo sindical também variavam consideravel- mente de Estado para Estado (Lash e Urry, 1987). Mas o notével é a maneita pela qual governos nacionais de tendéncias ideolégicas bem distintas — gaullista, na Franca, trabalhista, na Gra-Bretanha, democrata-cristao, na Alemanha Ocidental etc. — criaram tanto um crescimento econémico estavel como um aumento dos padres materiais de vida através de uma combinacéo de estado do bem-estar so- cial, administragao econémica keynesiana e controle de relagGes de salério. E cla~ ro que 0 fordismo dependia da assungao pela nagio-Estado — como Gramsci pre- vira — de um papel muito especial no sistema geral de regulamentacao social, © rorosH0 131 Por conseguinte, o fordismo do pés-guerra tem de ser visto menos como um ‘mero sistema de produgo em massa do que como um modo de vida total. Pro- ‘dugdo em massa significava padronizacao do produto e consumo de massa, 0 que implicava toda uma nova estética e mercadificacdo da cultura que muitos neo- conservadores como Daniel Bell mais tarde considerariam prejudicial & preserva- sfo da ética do trabalho e de outras supostas virtudes capitalistas. © fordismo também se apoiou na, e contribuiu para a, estética do modemnismo — particular- ‘mente na inclinacao desta tiltima para a funcionalidade e a eficiéncia — de ma- neiras muito explicitas, enquanto as formas de intervencionismo estatal (orientadas por principios de racionalidade burocratico-téenica) e a configuragéo do poder politico que davam ao sistema a sua coeréncia se apoiavam em nogées de uma democracia econémica de massa que se mantinha através de um equilibrio de forcas de interesse especial. (0 fordismo do pés-guerra também teve muito de questéo internacional. O longo periodo de expansao do pés-guerra dependia de modo crucial de uma ma- cciga ampliagdo dos fluxos de comércio mundial e de investimento internacional. De desenvolvimento lento fora dos Estados Unidos antes de 1939, 0 fordismo se implantou com mais firmeza na Europa e no Japao depois de 1940 como parte do esforco de guerra. Foi consolidado e expandido no periodo de pés-guerra, seja diretamente, através de politicas impostas na ocupacio (ou, mais paradoxalmente, no caso francés, porque os sindicatos liderados pelos comunistas viam o fordismo como a tinica maneira de garantir a autonomia econémica nacional diante do de- safio americano), ou indiretamente, por meio do Plano Marshall e do investimento direto americano subsequente. Este tiltimo, que comecou aos poucos nos anos ‘entre-guerras, quando as corporagées americanas procuravam mercados externos para superar os limites da demanda efetiva interna, tomou impulso depois de 1945. Essa abertura do investimento estrangeiro (especialmente na Europa) e do comércio permitiu que a capacidade produtiva excedente dos Estados Unidos fosse absorvida alhures, enquanto 0 progresso internacional do fordismo significou a formagio de mercados de massa globais e a absorgao da massa da populacéo mundial fora do ‘mundo comunista na dinamica global de um novo tipo de capitalismo. Além disso, ‘ desenvolvimento desigual na economia mundial significou a experiéncia de ciclos econémicos jé paralisados como oscilagées locais © amplamente compensatorias ‘no interior de um crescimento razoavelmente estével da demanda mundial. Do lado dos insumos, a abertura do comércio internacional representou a globaliza- do da oferta de matérias-primas geralmente baratas (em particular no campo da energia). O novo internacionalismo também trouxe no seu rastro muitas outras, atividades — bancos, seguros, hotéis, aeroportos e, por fim, turismo. Ele trouxe consigo uma nova cultura internacional e se apoiou fortemente em capacidades recém-descobertas de reunir, avaliar e distribuir informagio. ‘Tudo isso se abrigava sob 0 guarda-chuva hegeménico do poder econdmico e financeiro dos Estados Unidos, baseado no domfnio militar: O acordo de Bretton Woods, de 1944, transformou o délar na moeda-reserva mundial e vinculou com firmeza 0 desenvolvimento econdmico do mundo a politica fiscal e monetéria norte- americana. A América agia como banqueiro do mundo em troca de uma abertura dos mercados de capital e de mercadorias ao poder das grandes corporagées. Sob 132 'A.TRANSFORMACAO POUINCO-ECONGMICA DO CARTAUSMO essa protecao, 0 fordismo se disseminou desigualmente, a medida que cada Esta- do procurava seu proprio modo de administragao das relagées de trabalho, da politica monetadria e fiscal, das estratégias de bem-estar e de investimento ptiblico, limitados internamente apenas pela situacao das relagies de classe e, externamen- te, somente pela sua posicao hierarquica na economia mundial e pela taxa de cém- bio fixada com base no délar. Assim, a expansdo internacional do fordismo ocorreu numa conjuntura particular de regulamentagao politico-econémica mundial e uma configuragao geopolitica em que os Estados Unidos dominavam por meio de um sistema bem distinto de aliancas militares e relagies de poder. Nem todos eram atingidos pelos beneficios do fordismo, havendo na verdade sinais abundantes de insatisfacao mesmo no apogeu do sistema. Para comecar, a negociacdo fordista de salérios estava confinada a certos setores da economia € a certas nagées-Estado em que 0 crescimento estével da demanda podia ser acom- panhado por investimentos de larga escala na tecnologia de producio em massa. Outros setores de producéo de alto risco ainda dependiam de baixos salérios de fraca garantia de emprego. E mesmo os setores fordistas podiam recorrer a uma base nao fordista de subcontratagio. Os mercados de trabalho tendiam a se dividir entre 0 que O’Connor (1973) denominou um setor “monopolista” e um setor “competitivo” muito mais diversificado em que o trabalho estava longe de ter privilégios. As desigualdades resultantes produziram sérias tens6es sociais € fortes movimentos sociais por parte dos excluidos — movimentos que giravam em tomo da maneira pela qual a raga, o género e a origem étnica costumavam determinar quem tinha ou nao acesso ao emprego privilegiado. Essas desigualda- des eram particularmente dificeis de manter diante do aumento das expectativas, alimentadas em parte por todos 0s artificios aplicados a criacéo de necessidades © A producéo de um novo tipo de sociedade de consumo. Sem acesso ao trabalho rivilegiado da produgao de massa, amplos segmentos da forca de trabalho também no tinham acesso as téo louvadas alegrias do consumo de massa. Tratava-se de ‘uma férmula segura para produzir insatisfagio. O movimento dos direitos civis nos Estados Unidos se tornou uma raiva revolucionéria que abalou as grandes cidades. ‘© surgimento de mulheres como assalariadas mal-remuneradas foi acompanhado Por um movimento feminista igualmente vigoroso. E 0 choque da descoberta de ‘uma terrivel pobreza em meio a crescente afluéncia (exposta, por exemplo, em The other America de Michael Harrington) gerou fortes contramovimentos de descon- tentamento com os supostos beneficios do fordismo. Embora fosse titi sob certos aspectos, do ponto de vista do controle do traba- Iho, a divisdo entre uma forca de trabalho predominantemente branca, masculina € fortemente sindicalizada e “o resto” também tinha seus problemas. Ela significa- va uma tigidez nos mercados de trabalho que dificultava a realocacio do trabalho de uma linha de produgao para outra. O poder exclusivista dos sindicatos fortalecia sua capacidade de resistir a perda de habilidades, ao autoritarismo, & hierarquia e a perda de controle no local de trabalho. A inclinagao de uso desses poderes de- pendia de tradicées politicas, formas de organizacio (0 movimento dos comercié- ios da Inglaterra era particularmente forte) e disposicao dos trabalhadores em trocar seus direitos na producio por um maior poder no mercado. As lutas traba- Ihistas nao desapareceram, pois os sindicatos muitas vezes eram forgados a respon- © ronpsto 133 der a insatisfagbes das bases. Mas os sindicatos também se viram cada vez mais atacados a partir de fora, pelas minorias excluidas, pelas mulheres e pelos despri- vilegiados. Na medida em que serviam aos interesses estreitos de seus membros e abandonavam preocupacdes socialistas mais radicais, os sindicatos corriam o risco de ser reduzidos, diante da opiniao publica, a grupos de interesse fragmentados que buscavam servir a si mesmos, ¢ néo a objetivos gerais. O Estado aguentava a carga de um crescente descontentamento, que as vezes culminava em desordens civis por parte dos excluidos. No minimo, o Estado tinha de tentar garantir alguma espécie de salétio social adequado para todos ou engajar-se em politicas redistributivas ou agdes legais que remediassem ati- -vamente as desigualdades, combatessem o relative empobrecimento e a excluséo das minorias. A legitimacao do poder do Estado dependia cada vez mais da capacidade de levar os beneficios do fordismo a todos e de encontrar meios de ‘oferecer assisténcia médica, habitagio e servicos educacionais adequados em larga escala, mas de modo humano e atencioso. Os fracassos qualitativos nesse campo eram motivo de intimeras criticas, mas, no final, é provavel que os dilemas mais, sérios fossem provocados pelo fracasso quantitativo. A condicao do fornecimento de bens coletivos dependia da continua aceleracao da produtividade do trabalho no setor corporativo. $6 assim o Estado keynesiano do bem-estar social poderia ser fiscalmente viavel. Na ponta do consumo, havia mais do que uma pequena critica @ pouca qua- lidade de vida num regime de consumo de massa padronizado. A qualidade do oferecimento de servigos através de um sistema nio discriminador de administracso, piiblica (baseado na racionalidade burocrética técnico-cientifica) também recebia pesadas criticas. O gerencialismo estatal fordista e keynesiano passou a ser associa do a uma austera estética funcionalista (alto modernismo) no campo dos projetos racionalizados. Os criticos da aridez suburbana e da monumentalidade monolitica dos centros das cidades (como Jane Jacobs) se tornaram, como vimos, uma minoria vociferante que articulava todo um conjunto de insatisfagées culturais. As criticas e préticas contraculturais dos anos 60 eram, portanto, paralelas aos movimentos das minorias excluidas e & critica da racionalidade burocratica despersonalizada. Todas essas correntes de oposigao comegaram a se fundir, formando um forte mo- vimento politico-cultural, no préprio momento em que 0 fordismo como sistema ‘econdmico parecia estar no apogeu. Devem-se acrescentar a isso todos os insatisfeitos do Terceiro Mundo com um processo de modernizacao que prometia desenvolvimento, emancipagao das neces- sidades e plena integracao ao fordismo, mas que, na prética, promovia a destruicao de culturas locais, muita opress4o e numerosas formas de dominio capitalista em troca de ganhos bastante pifios em termos de padrao de vida e de servigos publi- cos (por exemplo, no campo da satide), a ndo ser para uma elite nacional muito afluente que decidira colaborar ativamente com o capital internacional. Movimentos ‘em prol da libertagio nacional — algumas vezes socialistas, mas com mais frequén- cia burgueses-nacionalistas — mobilizaram muitos desses insatisfeitos sob formas que por vezes pareciam bem ameagadoras para o fordismo global. A hegemonia ‘geopolitica dos Estados Unidos estava ameagada, e 0 pafs, que comegara a era do pos-guerra empregando o anticomunismo e 0 militarismo como veiculos de promo- 134 ‘A TRANSFORMACKO POLINCO-ECONOMICA DO CAPTALSIO ‘40 da estabilizagao geopolitica e econdmica, logo se viu as voltas com o problema da opgdo “armas ou manteiga” em sua propria politica econémica fiscal. Contudo, a despeito de todos 05 descontentamentos ¢ de todas as tensdes ‘manifestas, 0 nticleo essencial do regime fordista manteve-se firme ao menos até 1973, e, no processo, até conseguiu. manter a expansio do periodo pés-guerra — que favorecia o trabalho sindicalizado e, em alguma medida, estendia os “be- neficios” da produgio e do consumo de massa de modo significative — intacta. Os padrdes materiais de vida para a massa da populacéo nos paises capitalistas avangados se elevaram e um ambiente relativamente estavel para 05 Icros cor- Porativos prevalecia. S6 quando a aguda recessio de 1973 abalou esse quadro, lum processo de transicdo rapido, mas ainda nao bem entendido, do regime de acumulagao teve inicio, 9 DO FORDISMO A ACUMULAGAO FLEXIVEL Em retrospecto, parece que havia indicios de problemas sérios no fordismo ja ‘em meados dos anos 60. Na época, a recuperagio da Europa Ocidental e do Japao tinha se completado, seu mercado interno estava saturado e o impulso para criar ‘metcados de exportacio para os seus excedentes tinha de comecar (figura 2.3). E ‘sso ocorreu. no momento em que 0 sucesso da racionalizagio fordista significava © relativo deslocamento de um niimero cada vez maior de trabalhadores da ma- ‘nufatura, O consequente enfraquecimento da demanda efetiva foi compensado nos Estados Unidos pela guerra 8 pobreza e pela guerra do Vietnd. Mas a queda da produtividade e da lucratividade corporativas depois de 1966 (figura 2.4) marcou © comeco de um problema fiscal nos Estados Unidos que s6 seria sanado as custas de uma aceleracao da inflagao, 0 que comecou a solapar o papel do délar como ‘moeda-reserva internacional estavel. A formagio do mercado do eurodslar e a contracio do crédito no periodo 1966-1967 foram, na verdade, sinais prescientes da redugio do poder norte-americano de regulamentacao do sistema financeiro internacional. Foi também perto dessa época que as politicas de substituicao de importagdes em muitos paises do Terceiro Mundo (da América Latina em particu- lar), associadas ao primeiro grande movimento das multinacionais na diresao da ‘manufatura no estrangeiro (no Sudeste Asidtico em especial), geraram uma onda de industrializacio fordista competitiva em ambientes inteiramente novos, nos quais 0 contrato social com o trabalho era fracamente respeitado ou inexistente. Dai por diante, a competigao internacional se intensificou & medida que a Europa Ocidental e 0 Japao, seguidos por toda uma gama de paises recém-industrializados, desafiaram a hegemonia estadunidense no ambito do fordismo a ponto de fazer cair por terra 0 acordo de Bretton Woods e de produzir a desvalorizagao do délar. ‘A partir de entao, taxas de cambio flutuantes e, muitas vezes, sobremodo voléteis substitufram as taxas fixas da expansao do pés-guerra (figura 2.5). De modo mais geral, 0 periodo de 1965 a 1973 tomou cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradigSes ineren- tes ao capitalismo. Na superficie, essas dificuldades podem ser melhor apreendidas por uma palavra: rigidez. Havia problemas com a rigidez dos investimentos de capital fixo de larga escala e de longo prazo em sistemas de produgao em massa que impediam muita flexibilidade de planejamento e presumiam crescimento es- tavel em mercados de consumo invariantes. Havia problemas de rigidez nos mer- cados, na alocagéo € nos contratos de trabalho (especialmente no chamado setor “monopolista”). E toda tentativa de superar esses problemas de rigidez encontrava a forga aparentemente invencfvel do poder profundamente entrincheirado da clas~ se trabalhadora — 0 que explica as ondas de greve e 0s problemas trabalhistas do periodo 1968-1972. A rigidez dos compromissos do Estado foi se intensificando & 136 [A TRANSFORMACKO POLTICO-ECONDMICA. DO CARTALSNO. 1948 195019551860 KS ISOS 19801985 987 Fgura 2.3 Parcela dos EUA no comércio ¢ nas importagées de produtos ‘manufaturados da OCDE como porcentagem do PNB dos EUA, 1948-1987, (Fontes: OCDE, Estatiticas Hitricas dos Estados Unidos « Relatrios Econdmicos 20 Presidente) medida que programas de assisténcia (seguridade social, direitos de pensdo etc.) aumentavam sob presséo para manter a legitimidade num momento em que a ri- gidez na producao restringia expansbes da base fiscal para gastos puiblicos. © tini- co instrument de resposta flexivel estava na politica monetatia, na capacidade de imprimir moeda em qualquer montante que parecesse necessétio para manter a economia estével. E, assim, comecou a onda inflacionéria que acabaria por afundar a expansio do pos-guerra, Por tras de toda a rigidez especifica de cada érea estava uma configuracio indomével e aparentemente fixa de poder politico e relagies re- ‘siprocas que unia 0 grande trabalho, o grande capital e o grande governo no que arecia cada vez mais uma defesa disfuncional de interesses escusos definidos de ‘maneira to estreita que solapavam, em vez de garantir, a acumulacio do capital. © impeto da expanséo de pos-guerra se manteve no perfodo 1969-1973 por ‘uma politica monetéria extraordinariamente frouxa por parte dos Estados Unidos eda Inglaterra. © mundo capitalista estava sencio afogado pelo excesso de fundos; ¢, com as poucas areas produtivas reduzidas para investimento, esse excesso signi- ficava uma forte inflacéo. A tentativa de frear a inflacao ascendente em 1973 expos muita capacidade excedente nas economias ocidentais, disparando antes de tudo ‘uma crise mundial nos mercados imobiliérios (ver figura 2.6) e severas dificuldades nas instituigdes financeiras. Somaram-se a isso os efeitos da decisio da OPEP de aumentar 0s pregos do petréleo e da decisao arabe de embargar as e de petréleo para o Ocidente durante a guerra arabe-israelense de 1973. Isso (1) mudou o custo relativo dos insumos de energia de maneira dramética, levando todos os segmentos da economia a buscarem modos de economizar energia atrav da mudanca tecnol6gica e organizacional, e (2) levou ao problema da recicla, dos petrodélares excedentes, problema que exacerbou a ja forte instabilidade dos Do FoReIsMo A ACLMULACKO REXEL 137 wa de acumulagio (1) Toa de hero (8) @ © %SSbEES88 Fgura 24 Taras de acumulagio e de iuero nos pases captabstas avancados, 1950-1982 (a partir de Armetrong, Gi Harrison) © taxas de luero como {@) porcentagem do custo de substtuicdo do estoque de cept € (b) porcentagem da renda nacional nos EUA, 1948-1984, (Fonte: Palin, 1986) mercados financeiros mundiais. A forte deflagao de 1973-1975 indicou que as fi- nangas do Estado estavam muito além dos recursos, criando uma profunda crise fiscal e de legitimagao. A faléncia técnica da cidade de Nova York em 1975 — ci- dade com um dos maiores orcamentos ptiblicos do mundo — ilustrou a seriedade do problema. Ao mesmo tempo, as corporacdes viram-se com muita capacidade ‘excedente inutilizavel (principalmente fabricas e equipamentos ociosos) em con- digdes de intensificagao da competicio (figura 2.7). Isso as obrigou a entrar num. periodo de racionalizacao, reestruturacdo e intensificacéo do controle do trabalho (caso pudessem superar ou cooptar o poder sindical). A mudanga tecnolégica, a automacio, a busca de novas linhas de produto e nichos de mercado, a dispersio ‘geogréfica para zonas de controle do trabalho mais facil, as fuses e medidas para 138 ‘A-TRANSFORMAGKO FOLINCO-ECONOMICA DO CARTALSHO Desvios percennusis com relacio a0 délar de outubro de 1967 (médias mensais de nimeros didioe*) 1s € deers (81187) 2 Fran tet denaorano (10869) 3, Fac (00949) erenlerezcio 2608) do marco sends 4 Pinar co dar anadose (1470) 5, Fata go avo aldo do fxn toa: reser oo feo ak0 9571) 4, Comerbicae co ar en ove sapere (/S871 nao Ge fo as pres moesae 7. Reefer sioner: oa lomahneve dear: ¥ marco aerdo e cues mont realrzas (18271) 8 Runa ce £ 03473) 2 aio do Fare algo @3..75; ste norco, uaa do e de (13273) (0. Pica Seas (2373; moat do mace alana, ‘cord capt (19373) |i, Rewewata do mica aendo 873) 12 Rewerzaie do foe heats (7.73) 13 Frac farts cea a cdo corn (194) I Frc farts tad Rest expe (10775) 15 Face farts dea a foot comets (15378) 6 Realrznao do marco sero (reac de oatro 1576) 17, Relrzao do mare a (see ate 978) bs seoves esis de Asis 20 Da (178) Inmet do SE [Seva Monetin Exropes] (recon ce rao oe 1979) Frenro ralrarerto SME rerio 9 mar {ru (hs de stereo de 1973) Resumes do SME cerloraio dia tra de 961) Sesntamets do SHE reergin do rare sd © 40 ‘orm hinds eesaoraao 6 Fane nc en (cites se 16!) Fasanerts do SME: rman do miro so © do orm tains dennoranco do Fano tance © a (emo ae 1982) esohanerto do SME: marco alr form hod © ‘reo bea rerio Fac fards 2 in rane Gesorces se mas se 985) esiohimerts do SME ra denna (nos de to 1985) lamest do SME marco se foes ho « fares ap rior Frcs farce cenaond fico ee a 1586) Feinareets ao SME marco ser xn hares freebies (rico 6 rao oe 1967 eeeersesssegzgseaas Do roroso A ACUMULAGAO Rite ‘Twa anual de varagdo na divide hipotecéria nos Estados Unidos (Departamento de Comércio) i ae 955 Be 1875 Precos de thus: Investimento Imebilério Fundos (Furdos Hipotecirios) — Estados Unidos 100 e 1970 17 Indice de Prego de Thlos de Propredade — Ingaters 1a 1986 1970 1974 Figura 26 Aiguns indices da expansio ¢ da queda do mercado imobiliric na Inglaterra e nos Fstados Unidos, 1955-1975. Ako: Taxa anual de vaiagdo na dvida hipotecdria nos Estados Unidos (dados do Departamento de (Comércic). Mei: Precos dos ttulos dos fundos de investmento imobilrio nos Estados Unidos. (Fonte: Revista Faure). Baixo: Ince de press ce +iules de propriedade na Inglaterra (Fonte investors Chenice) 139 140 ‘A-TRANSFORMACEO POLINCO-ECONGMICA D0: CAATTALSO 1970 19721974 197619781900 9821988198698 Figura 2.7 Capacidade de wilzagdo nos Estados Unidos 1970-1988, (Fonte: Dretona da Reserva Feder) acelerar 0 tempo de giro do capital passaram ao primeiro plano das estratégias corporativas de sobrevivéncia em condigdes gerais de deflacao. A profunda recessao de 1973, exacerbada pelo choque do petwleo, eviden- temente retirou o mundo capitalista do sufocante torpor da “estagflagao” (estag- nacao da producio de bens e alta inflagao de precos) pos em movimento um conjunto de processos que solaparam 0 compromisso fordista. Em consequéncia, as décadas de 70 e 80 foram um conturbado perfodo de reestruturacao econémica e de reajustamento social e politico (figura 2.8). No espaco social criado por todas ‘essas oscilagies e incertezas, uma série de novas experiéncias nos dominios da organizacio industrial e da vida social e politica comegou a tomar forma. Essas ‘experiéncias podem representar os primeiros impetos da passagem para um regime de acumulagao inteiramente novo, associado com um sistema de regulamentacso politica e social bem distinta. A acumulagio flextvel, como vou chamé-la, € marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidace dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padres de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produco inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de servigos financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamen- te intensificadas de inovacio comercial, tecnol6gica e organizacional. A acumula sao flexivel envolve rapidas mudangas dos padroes do desenvolvimento desi tanto entre setores como entre regides geogréficas, criando, por exemplo, um v: to movimento no emprego no chamado “setor de servicos’, bem como conjunt industriais completamente novos em regides até ent3o subdesenvolvidas (tais co a “Terceira Itélia”, Flandres, os vérios vales e gargantas do silfcio, para nao fal da vasta profusdo de atividades dos paises recém-industrializados). Ela tamb envolve um novo movimento que chamarei de “compresso do espaco-tempo”” (ver Parte Ill) no mundo capitalista — os horizontes temporais da tomada decisées privada e publica se estreitaram, enquanto a comunicagao via satélite € queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusto imedia dessas decises num espago cada vez mais amplo e variegado. Esses poderes aumentados de flexibilidade e mobilidade permitem que os em- pregadores exergam pressdes mais fortes de controle do trabalho sobre uma Do FoRnsHo A ACUMLLACAO REX 141 g Z en I ‘ Se a 2 ma ° is 2 a . g gs g6 UA #. 2 ° a a a Figura 28 Tiras de desemprego e de inflsio ra Europa © nos EU, 1961-1987. (Fonte: OCDE) de trabalho de qualquer maneira enfraquecida por dois surtos selvagens de defla- ‘0, forca que viu o desemprego aumentar nos pafses capitalistas avancados (salvo, ‘talvez, no Japao) para niveis sem precedentes no pés-guerra. O trabalho organiza- do foi solapado pela reconstrucao de focos de acumulacao fiexivel em regides que careciam de tradigées industriais anteriores e pela reimportagéo para 03 centros mais antigos das normas e préticas regressivas estabelecidas nessas novas éreas. A acumulagio flexivel parece implicar niveis relativamente altos de desemprego “es- trutural” (em oposigao a “friccional”), rapida destruicao e reconstrucao de habili- dades, ganhos modestos (quando ha) de salérios reais (ver figuras 2.2 e 29) e 0 retrocesso do poder sindical — uma das colunas politicas do regime fordista. ‘A TRANSFORHAGAO FOUNCO-ECONGMICA DO CAPTALSHO is © ap Renda (rihares de ses zrercanos) CS SS SS SS SS eae 1974 197619781980 198291986 Figura 29 (3) indice de ganhos por hora em trabalhos no agricolas, (b) porcentager ‘de deserpregados.(€) porcentagen de desempregados que recebem benefcios de esemprego, e (f) renda familar mediana nos EUA, 1974-1987. (Fontes: Agénoa de Estatisticas do Trabaho ¢ Relates Ezorémicns oo Presidente) « Do FORDISHO A ACUMLAAGAO Rede 143 © mercado de trabalho, por exemplo, passou por uma radical reestruturacao. Diante da forte volatilidade do mercado, do aumento da competi¢ao e do estreita- ‘mento das margens de lucro, os patrdes tiraram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mao de obra excedente (desempregados ou subempregados) para impor regimes e contratos de trabalho mais flexiveis, E dificil esbocar um quadro geral claro, visto que o propésito dessa flexibilidade é satisfazer as necessidades com frequéncia muito especificas de cada empresa. Mesmo para 03 -empregados regulares, sistemas como “nove dias corridos” ou jornadas de trabalho que tem em média quarenta horas semanais ao longo do ano, mas obrigam 0 empregado a trabalhar bem mais em perfodos de pico de demanda, compensando com menos “horas em periodos de reducao da demanda, vém se tornando muito mais comuns. ‘Mais importante do que isso € a aparente reducéo do emprego regular em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, tempordrio ou subcontratado. (O resultado € uma estrutura de mercado de trabalho do tipo detalhado na figura 2.10, retirada, como as citagdes seguintes, de Flexible Patterns of Work (1986), Figura 210 Esirutras do mercado de trabatho em condigSes de acumulagio flexivel (Fonte: Fenible Patterns of Work, edtado por C. Curson Inst of Personnel Management) 144 A. TRANSFORHIAGRO FOLIICO-ECONOMCA DO CAPTALSMO do Institute of Personnel Management. O centro — grupo que diminui cada vez ‘mais, segundo noticias de ambos os lados do Atlantico — se compée de empre- gados “em tempo integral, condig4o permanente e posi¢do essencial para 0 futuro de longo prazo da organizagéo”. Gozando de maior seguranca no emprego, boas perspectivas de promogio e de reciclagem, e de uma pensio, um seguro e outras vantagens indiretas relativamente generosas, esse grupo deve atender a expecta- tiva de ser adaptavel, flexivel e, se necessdrio, geograficamente mével. Os custos potenciais da dispensa temporaria de empregados do grupo central em época de dificuldade podem, no entanto, levar a empresa a subcontratar mesmo para fun- ges de alto nivel (que vao dos projetos @ propaganda e & administracao finan- ceira), mantendo 0 grupo central de gerentes relativamente pequeno. A perferia abrange dois subgrupos bem distintos. O primeiro consiste em “empregados em tempo integral com habilidades facilmente dispontveis no mercado de trabalho, como pessoal do setor financeiro, secretiirias, pessoal das dreas de trabalho roti- neiro e de trabalho manual menos especializado”. Com menos acesso a oportu- nidades de carreira, esse grupo tende a se caracterizar por uma alta taxa de rota- fividade, “o que toma as redugdes da forca de trabalho relativamente féceis por desgaste natural”. O segundo grupo periférico “oferece uma flexibilidade numé- rica ainda maior e inclui empregados em tempo parcial, empregados casuais, pessoal com contrato por tempo determinado, temporérios, subcontrataclo e trei- nandos com subsidio puiblico, tendo ainda menos segurangas de emprego do que © primeiro grupo periférico”. Todas as evidéncias apontam para um crescimento bastante significativo desta categoria de empregados nos tiltimos anos. Esses arranjos de emprego flexiveis nao criam por si mesmos uma insatisfagio trabalhista forte, visto que a flexibilidade pode as vezes ser mutuamente benéfica. Mas os efeitos agregados, quando se consideram a cobertura de seguro, os direitos de pensio, os niveis salariais e a seguranca no emprego, de modo algum parecem Positivos do ponto de vista da populacdo trabalhadora como um todo. A mudana mais radical tem seguido a direcio do aumento da subcontratacdo (70 por cento das firmas britanicas pesquisadas pelo National Economic Development Council [Conselho Nacional de Desenvolvimento Econémico] relataram um aumento da subcontratacdo entre 1982 e 1985) ou do trabalho tempordrio — em vez do trabalho ‘em tempo parcial. Isso segue um padrao hé muito estabelecido no Japao, onde, mesmo no fordismo, a subcontratacéo de pequenas empresas agia como protetor das grandes corporagies do custo das flutuacoes do mercado. A atual tendéncia dos mertados de trabalho € reduzir o ntimero de trabalhadores “centrais” e empregar cada vez mais uma forca de trabalho que entra facilmente e 6 demitida sem custos quando as coisas ficam ruins. Na Inglaterra, os “trabalhadores flexiveis” aumen- taram em 16 por cento, alcangando 8,1 milhdes entre 1981 ¢ 1985, enquanto os empregos permanentes cairam em 6 por cento, ficando em 15,6 milhdes (Financial Times, 27 de fevereiro de 1987). Mais ou menos no mesmo periodo, cerca de um tergo dos dez milhées de novos empregos criados nos EUA estavam na categoria “temporario” (New York Times, 17 de margo de 1988). Evidentemente, isso ndéo mudou de maneira radical os problemas, surgidos ros anos 60, dos mercados de trabalho “duais” ou segmentados, mas 0 reformulou segundo uma l6gica bem diferente. Embora seja verdade que a queda da impor- Do Forno A AGUMLLAGAO REXEL 145 tincia do poder sindical reduziu o singular poder dos trabalhadores brancos do sexo masculino nos mercados do setor monopolista, nao € verdade que os excluidos desses mercados de trabalho — negros, mulheres, minorias étnicas de todo tipo — tenham adquirido uma stibita paridade (exceto no sentido de que muitos operérios homens e brancos tradicionalmente privilegiados foram marginalizados, unindo-se aos excluidos). Mesmo que algumas mulheres e algumas minorias tenham tido acesso a posicdes mais privilegiadas, as novas condigdes do mercado de trabalho de maneira geral reacentuaram a vulnerabilidade dos grupos desprivilegiados (como logo veremos no caso das mulheres). ‘A transformacao da estrutura do mercado de trabalho teve como paralelo mudangas de igual importancia na organizacao industrial. Por exemplo, a subcon- tratacdo organizada abre oportunidades para a formac3o de pequenos negécios e, em alguns casos, permite que sistemas mais antigos de trabalho doméstico, arte- sanal, familiar (patriarcal) e paternalista ("padrinhos”, “patronos” ¢ até estruturas semelhantes & da méfia) revivam e florescam, mas agora como pecas centrais, € nao apéndices do sistema produtivo. O retorno de formas de produgéo que en- volvem exploragéo em cidades como Nova York, Los Angeles e Londres se tornou ‘objeto de comentérios na metade dos anos 70 e proliferou, em vez de diminuir, na década de 80. O rapido crescimento de economias “negras”, “informais” ou “subterrineas” também tem sido documentado em todo 0 mundo capitalista avancado, levando alguns a detectar uma crescente convergéncia entre sistemas de trabalho “terceiromundistas” e capitalistas avangados. Contudo, a ascensio de novas formas de organizacio industrial e 0 retorno de formas mais antigas (com frequéncia dominadas por novos grupos de imigrantes em grandes cidades, como filipinos, sul-coreanos, vietnamitas e naturais de Taiwan em Los Angeles, ou india- nos e nativos de Bangladesh no leste de Londres) representam coisas bem dife- rentes em diferentes lugares. As vezes, indicam o surgimento de novas estratégias de sobrevivéncia para os desempregados ou pessoas totalmente discriminadas (como 0s haitianos em Miami ou Nova York), enquanto em outros casos existem apenas grupos imigrantes tentando entrar num sistema capitalista, formas orga- nizadas de sonegacao de impostos ou 0 atrativo de altos lucros no comércio ilegal ‘em sua base. Em todos esses casos, 0 efeito € uma transformacao do modo de controle do trabalho e de emprego. ‘As formas de organizacao da classe trabalhadora (como os sindicatos), por exemplo, dependiam bastante do actimulo de trabalhadores na fabrica para serem vvidveis, sendo peculiarmente dificil ter acesso aos sistemas de trabalho familiares e domésticos. Os sistemas paternalistas so territérios perigosos para o organizagio dos trabalhadores, porque é mais provavel que corrompam 0 poder sindical (se ele estiver presente) do que tenham seus empregados liberados por este do dominio e da politica paternalista de bem-estar do “padrinho”, Com efeito, uma das grandes vantagens do uso dessas formas antigas de processo de trabalho e de produgdo pequeno-capitalista € 0 solapamento da organizacéo da classe trabalhadora e a transformacao da base objetiva da luta de classes. Nelas, a consciéncia de classe jd nao deriva da clara relacao de classe entre capital e trabalho, passando para um terreno muito mais confuso dos conflitos interfamiliares e das lutas pelo poder num sistema de parentescos ou semelhantes a um cla que contenha relagoes sociais 146 ‘A TRANSFORMAGRO FOUTICO-ECONOMICA DO CARTALSHO hierarquicamente ordenadas. A luta contra a exploragéo capitalista na fabrica € bem diferente da luta contra um pai ou tio que organiza o trabalho familiar num esquema de exploracio altamente disciplinado e competitivo que atende as enco- mendas do capital multinacional (tabela 2.3). Os efeitos sio duplamente Sbvios quando consideramos a transformagio do papel das mulheres na producao e nos mercados de trabalho. Nao apenas as novas estruturas do mercado de trabalho facilitam muito a exploragao da forca de trabalho das mulheres em ocupagées de tempo parcial, substituindo assim trabalhadores homens centrais melhor remunerados e menos facilmente demitiveis pelo trabalho feminino mal pago, como o retorno dos sistemas de trabalho doméstico ¢ familiar e da subcontratagdo permite o ressurgimento de préticas e trabalhos de cunho patriarcal feitos em casa, Esse retorno segue paralelo ao aumento da capacidade do capital multinacional de levar para o exterior sistemas fordistas de producao em massa, e ali explorar a forga de trabalho feminino extremamente vulnerével em. condicdes de remuneracao extremamente baixa e seguranga do emprego negligen- iavel (ver Nash e Fernandez-Kelly, 1983). O programa Maquiladora, que permite que administradores e a propriedade do capital norte-americano permanegam ao norte da fronteira mexicana, enquanto se instalam as fabricas, que empregam principalmente mulheres jovens, ao sul da fronteira, é um exemplo particularmente dramatico de uma pritica que se tornou generalizada em muitos dos paises menos desenvolvidos e recém-industrializados (as Filipinas, a Coreia do Sul, o Brasil etc.) A transigio para a acumulagio flexivel foi marcada, na verdade, por uma revolugao (de modo algum progressista) no papel das mulheres nos mercados € processos de trabalho num periodo em que 0 movimento de mulheres Iutava tanto por uma maior consciéncia como por uma methoria das condicdes de um segmento que hoje representa mais de 40 por cento da forca de trabalho em muitos paises capitalistas avancados. Novas técnicas e novas formas organizacionais de producao puseram em risco os negécios de organizagio tradicional, espalhando uma onda de bancarrotas, fe- chamento de fébrica, desindustrializacdo e reestruturagdes que ameacou até as corporacdes mais poderosas. A forma organizacional e a técnica gerencial apropria- das 8 producdo em massa padronizada em grandes volumes nem sempre eram convertidas com facilidade para o sistema de producao flexivel — com sua énfase na solucdo de problemas, nas respostas répidas e, com frequéncia, altamente espe- cializadas, e na adaptabilidade de habilidades para propésitos especiais. Onde a producéo podia ser padronizada, mostrou-se dificil parar o seu movimento de aproveitar-se da forca de trabalho mal remunerada do Terceiro Mundo, criando ali © que Lipietz (1986) chama de “fordismo periférico”. A faléncia do Penn Central em 1976 e os problemas da Chrysler em 1981 indicaram a seriedade do problema nos Estados Unidos. Além de a lista das 500 maiores corporagdes do pais, feita pela Fortune, ter passado por uma considerével modificacao, o papel dessas corporagées na economia também mudou — sua taxa global de emprego permaneceu estacio- néria depois de 1970 (com uma perda liquida nos Estados Unidos), em comparacéo com a duplicasao da oferta de empregos ocorrida em suas fabricas entre 1954 1970, Por outro lado, a formacao de novos negécios nos Estados Unidos dispai dramaticamente, dobrando no perfodo entre 1975 e 1981 (um ano de forte Do Foros A ACUMLLACKO Red 147 “Tabela 2.3 Diferentes formas de processo de trabalho e de organizagdo da producto Tipo de Forma ‘Base de Politica de producio exporarzo produto ‘tno Consutores, ‘roca de bens indiana tess © © servos e veges peo seton fra erate, antenonopéto ou regdamertagio oy Cooperatva coletvos © cores negociardo cooperavas ireeres, iterimbo eae Patviarcal pequenas ‘parentesco paroquial ferns fem ares bateado em (exploradores) idade © sexo Paeralsme srndes fis comunicade spartnca comuniténo doméstas bazeada em satus (eabaho duro) roma, en comumes ena fora Paternalismo sistemas. vracionalidade, possibiidade burocrtico corportvoe Tesdade © Ge acensto ede genes anigudide funcional © saa caleulades competeto dentro cat orga Patrierial impéios relagdes de barges. heraeamente poder € voca gahos mituos conganizados na de favores € lutas dinasticas: Producto, (prviggo no comério ‘vadiion) ov nat fangs Proietina empress compa competiio apialita vend no mere, e sistema de forga de acto coletiva, e foras trabaho & epoca conrae sobre eta de © proceso cases se tran © 05 meos de produto Fone: a partir de Dey. 1987 148 ‘A TRANSFORMAGRO POLITICO-

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