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Parecer do

Mais Vida Mais Família


acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo

Lisboa, 3 de Fevereiro de 2010


Índice

1. Uma intenção acertada, mas desfasada da realidade.......................................................................... 3

2. Esta proposta de lei não ajuda as pessoas com orientação homossexual mas, tentando fazê-lo,
prejudica toda a sociedade ......................................................................................................................... 4

3. O casamento é para quem funda uma família, não para os relacionamentos homossexuais ...... 5

4. O Direito democrático e o respeito pela privacidade........................................................................ 5

5. As relações com relevância pública e as relações meramente privadas .......................................... 6

6. A confusão entre «discriminações» e «requisitos».............................................................................. 7

7. A distorção do conceito constitucional de igualdade ........................................................................ 8

8. A inconstitucionalidade do projecto de lei actualmente em estudo na Assembleia da República


....................................................................................................................................................................... 8

9. Os requisitos peculiares do casamento não podem ser alterados sem se deformar


completamente essa figura jurídica (e isso é inconstitucional) ............................................................. 9

10. O conteúdo jurídico do casamento.................................................................................................. 10

11. A importância social do casamento ................................................................................................. 11

12. A irrelevância social do casamento de pessoas do mesmo sexo.................................................. 12

13. A «conjugalidade» e a «parentalidade» ............................................................................................. 13

14. O que fica do casamento, depois desta reconfiguração completa?............................................. 14

15. A adopção por parte de pares homossexuais ................................................................................. 14

16. A legitimidade do Parlamento é limitada, derivada e provisória ................................................. 16

17. As questões morais também se referendam?.................................................................................. 17

18. Defender a família é defender a liberdade ...................................................................................... 17

19. Conclusões........................................................................................................................................... 19

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1. Uma intenção acertada, mas desfasada da realidade

Pelo valor que atribuímos aos direitos da pessoa humana estamos em natural sintonia com
algumas das intenções expressas por vários Deputados a propósito da orientação homossexual.
No entanto, as propostas legislativas actualmente em estudo não correspondem a essas preocu-
pações generosas nem enfrentam os verdadeiros problemas do País em matéria de direitos
humanos. São soluções improvisadas e pouco acertadas.

Procurar que todos tratem educadamente as pessoas com orientação sexual é um bom propósito.
Nem toda a população portuguesa é incorrecta para com eles, nem os homossexuais são as
únicas vítimas da falta de cortesia, mas tudo o que contribua para melhorar a qualidade das
relações humanas tem o nosso apoio incondicional.

Quem discrimina sistematicamente os homossexuais?

O Mais Vida Mais Família acompanha com particular atenção tudo o que diz respeito à
dignidade da vida humana. Ora, ao longo de todos os seus anos de actividade, não nos constou a
existência de ofensivas organizadas ou sistemáticas contra pessoas de orientação homossexual.
Nem temos conhecimento de nenhum grupo apostado em as prejudicar. Em ambientes
marginais, registou-se algum caso de polícia, imediatamente resolvido pelos agentes de auto-
ridade e correctamente tratado nos Tribunais. Na Comunicação Social não parece haver
agressividade, nem sequer um tom jocoso, contra os homossexuais. Pelo contrário, há um
comedimento generalizado, que contrasta com a frontalidade e irreverência com que são tratados
todos os outros sectores da sociedade, as personalidades públicas e, de uma forma particularmente
agressiva, a condição feminina, por vezes ao nível de uma mercadoria.

É sintomático que o próprio nome da mais conhecida organização de activismo homossexual


(Opus Gay) seja uma provocação gratuita (a uma instituição da Igreja Católica, o Opus Dei), ao
passo que jamais uma entidade religiosa, algum grupo político, artístico ou social tenha sido
incorrecto, no nome ou nas tomadas de posição, para com aqueles que têm tendência
homossexual.

As caricaturas a zombar com padres, bispos e freiras são imagem de marca de todas as
manifestações gay, mas não há memória de uma procissão ou de uma manifestação pública que
tenha tratado os gays no mesmo tom.

Em contrapartida, temos conhecimento de um número crescente de homossexuais perseguidos


por procurarem ajuda. Há cada vez mais pessoas prejudicadas na vida profissional e no respeito
que merecem, injustamente discriminadas por dirigentes de organizações gay, como se fossem
traidores da causa. Não nos referimos à expressão legítima de opiniões, estamos a falar de abusos
de poder e de ataques pessoais. Tais faltas de civismo também já atingem aqueles que, de uma
forma ou de outra, prestam ajuda aos homossexuais.

Seja ou não por controlo ideológico intencional, há nos principais Meios de Comunicação um
sufoco apertado à liberdade de expressão a ponto de que, neste momento, é muito difícil
discordar dos actos homossexuais, quase não há espaço para apresentar argumentos e quem o
tenta sofre consequências. Muitos destemperos são conhecidos, de modo que não é razoável que
o Parlamento continue indiferente ao que se passa.

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Com o intuito louvável de promover uma convivência social respeitosa, o Legislador parece
desfasado da realidade. Nem repara nas ofensivas que se verificam, nem aborda os problemas
efectivos da sociedade.

2. Esta proposta de lei não ajuda as pessoas com orientação homossexual


mas, tentando fazê-lo, prejudica toda a sociedade

A proposta de lei que visa instituir o casamento entre pessoas do mesmo sexo é desacertada
porque não vem conferir às pessoas com orientação homossexual o direito (que já tinham) de
conviverem, não resolve os seus problemas e destrói o casamento, elemento-chave de toda a
construção social.

Todos os tipos de convivência privada são permitidos por lei, sem necessidade de autorização prévia
e as práticas homossexuais devem entrar dentro desse âmbito de liberdade privada, em relação ao
qual o Estado não se pronuncia, nem para aprovar nem para desaprovar: o que não é proibido é
permitido. E não é por a nova lei confundir as relações homossexuais com uma realidade dife-
rente que os protagonistas de uma relação homossexual ficam mais autorizados do que já estavam.

Tão pouco o casamento serve para proteger os actos sexuais da censura moral que sobre eles recai.
Em primeiro lugar, não é essa a função do casamento e, sobretudo, um regime democrático, que
respeita as opiniões e a liberdade de expressão, não se pode permitir o atropelo de impor
legalmente uma determinada ideologia moral.

Se o casamento das pessoas do mesmo sexo não tem um resultado objectivo e apenas visa impor
por força da lei o reconhecimento moral de um comportamento que muitos cidadãos ―
porventura a maioria ― consideram errado, então é preciso dizer que a pretensão de legalizar
esses casamentos é anti-democrática e ofende as convicções legítimas de grande parte da
população.

Talvez não seja coincidência que os promotores do casamento homossexual tenham tanto medo
dos referendos democráticos.

Mesmo que apenas uma minoria considerasse as relações homossexuais prejudiciais para os
próprios e para a sociedade, essa minoria teria direito a viver num país livre, em que a lei não
contradiga as suas convicções. As leis destinam-se a assegurar efeitos práticos legítimos, não a
definir o que é politicamente correcto.

Um dos erros de partida, que inspirou as actuais propostas de alteração do instituto do


casamento, é pensar que o Direito se ocupa dos afectos, ou das opiniões. Esse seria o caso de um
Direito ditatorial, mas numa sociedade democrática as relações de amizade e as convicções
pertencem à esfera privada, donde nunca devem sair.

Em Portugal, no âmbito da família, ao mesmo tempo que as intervenções recentes do Legislador


se têm vindo a interessar cada vez mais pelos afectos, desprotegem os direitos objectivos dos
indivíduos e os direitos objectivos da sociedade. Na verdade, como não se pode legislar acerca
dos afectos, o que a legislação tem feito é regular o pensamento único e, em nome da volubilidade
do sentimento, esvaziar de conteúdo efectivo os compromissos importantíssimos do casamento, que
são alicerce de toda a construção social.

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3. O casamento é para quem funda uma família, não para os relacionamentos
homossexuais

O instituto jurídico do casamento apareceu em todas as sociedades organizadas (a sua existência


consta desde a Antiguidade) para proteger aquele relacionamento que constitui a célula
fundamental da sociedade, na medida em que ele tem relevância social e é fonte de específicos
direitos e responsabilidades.

Portanto, o casamento interessa aos casais heterossexuais que querem assumir a responsabilidade
de gerar e acolher a vida. E o Estado toma formalmente conhecimento desse compromisso
porque ele tem consequências que afectam toda a sociedade.

Para além destes dois interesses legítimos, não tem sentido o Direito imiscuir-se na vida privada
das pessoas.

Tal limitação não resulta de um juízo negativo acerca da intimidade: é simplesmente um princípio
geral do Direito, relativo aos fins próprios do ordenamento jurídico. Por causa disso é que as
dimensões afectivas de uma relação conjugal heterossexual também não cabem na lei, assim
como os aspectos de realização pessoal, ou o prazer e toda a imensa riqueza humana e moral da
vida familiar.

Não apenas, como se dirá adiante, as amizades homossexuais não podem integrar o instituto do
casamento, porque são realidades antropológicas totalmente diferentes, com fins diferentes e
efeitos jurídicos diferentes, como nenhum tipo de sentimento deve, como tal, ser regulado por
qualquer lei.

Parafraseando um conhecido slogan do movimento gay a respeito da homossexualidade: «é lá


com eles». Isto é, interpretando correctamente a frase, o conjunto da sociedade não tem nada a
ver com as amizades privadas. O instituto do casamento destina-se aos casais heterossexuais e aos
seus filhos e não a regular juridicamente afectos privados — nem mediante o casamento nem de
qualquer outra forma.

4. O Direito democrático e o respeito pela privacidade

O respeito do Direito pela privacidade dos cidadãos implica que os afectos não sejam objecto de
regulação pública.

O Direito tem como missão regular a justiça entre as partes sem se imiscuir na vida íntima dos
cidadãos. Estes devem ser livres de se exprimirem e associarem, com absoluta exclusão de um
registo público das suas opções de vida 1. Até agora, a lei cumpria estes dois requisitos da

1 A união de facto, marcada pelo radicalismo da sua génese, deveria corresponder a uma função completamente
diferente, alheia a conotações sexuais ou ideológicas: aplicar-se a familiares que partilhem a mesma casa, a viúvos que se
associem, etc., regulando apenas bens jurídicos objectivos, sem tomar conhecimento de factos de carácter privado.

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privacidade:
• respeitar a liberdade dos cidadãos, consentindo-lhes plena autonomia na sua esfera privada,
• e não guardar arquivo sobre os seus costumes ou opiniões.

Assim deveria continuar a ser, porque, do ponto de vista jurídico, as manifestações de afecto,
qualquer que seja a sua durabilidade e vinculação, apenas dizem respeito aos próprios,
independentemente da opinião que tivermos sobre esses gestos. Nomeadamente, o
comportamento sexual é, em princípio, privado e as opiniões acerca dele devem continuar a ser
livres, dentro dos limites actuais de respeito pela pessoa dos outros. Uma das exigências desse
respeito é que os comportamentos sexuais se mantenham na esfera privada, sem se
transformarem em exibições que incomodem os outros.

Compreende-se que a exigência de um estatuto jurídico diferenciado, com base em situações de


natureza íntima, não é uma reivindicação de liberdade — é a tentativa de impor uma ideologia, de
transformar o Direito em limitação da liberdade.

5. As relações com relevância pública e as relações meramente privadas

Não são os afectos que conferem interesse público ao casamento. Se fosse isso, o casamento
também seria uma opção meramente privada. Independentemente de valorações éticas
eventualmente diferentes, se o casamento se esgotasse nos afectos, seria tão privado como um
intercâmbio homossexual.

O que torna o casamento mais relevante para o Direito é que o homem e a mulher que casam entre
si contraem responsabilidades relativamente a terceiros, no momento em que se decidem a
constituir família. Essa assumpção de responsabilidades é imensamente relevante para a
sociedade, porque o futuro dos filhos e da própria sociedade depende da forma como os pais
desempenham a sua missão.

A Constituição da República Portuguesa acolhe este princípio base do Direito no seu artigo 68º
(Maternidade e Paternidade) quando declara solenemente a relevância social da família
constituída por um pai e por uma mãe. A nossa Constituição é bem explícita ao declarar que a
maternidade e paternidade constituem valores sociais eminentes — o que é diferente de dizer
que qualquer actividade sexual, sem maternidade nem paternidade, constitui um valor social.

Como o âmbito do Direito se refere à dimensão objectivamente social, é lógico que a


Constituição mencione expressamente o interesse da sociedade e do Estado na vida familiar
constituída por um pai e por uma mãe. Diz a Constituição que
«os pais e mães têm direito à protecção da sociedade e do Estado na realização da sua
insubstituível acção em relação aos filhos, nomeadamente quanto à sua educação, com
garantia de realização profissional e de participação na vida cívica do país».

Repare-se bem que a maternidade e paternidade são qualificadas com valores sociais de suprema
importância (eminentes) e que a protecção da sociedade e do Estado tem em vista a insubstituível
acção do casal em relação aos filhos. A própria Constituição reconhece o carácter insubstituível da
acção paterna e materna.

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São estes os argumentos — e apenas estes — que justificam a específica intervenção do Estado no
casamento. Os outros aspectos de interesse jurídico que se dão no casamento não são específicos
dele, mas comuns a outras formas de convivência e de interacção.

Não compete ao Estado ocupar-se de afectos meramente privados, sem nenhum carácter social,
sejam homossexuais ou heterossexuais.

• Se um homem e uma mulher têm algum tipo de relação sexual sem assumirem nenhum
compromisso familiar, não preenchem a condição básica para se casarem à face do
Direito. Independentemente do que cada um pensar sobre o comportamento deles, a sua
vida reveste um exclusivo carácter privado (supondo que não houve violência, nem
aproveitamento, nem exibicionismo, ou outras circunstâncias de carácter público).

• Isto ainda é mais claro na relação homossexual: por mais que os parceiros se esforcem,
desses gestos nunca vai resultar nenhum filho, nem qualquer outra dimensão de
significativo interesse social que não seja comum a outros relacionamentos sem sexo.

Sublinhamos: a afectividade não constitui objecto do Direito.

Se um conjunto de homens ou de mulheres pretende alugar uma casa em conjunto, ou comprar


um automóvel, ou pagar conjuntamente as despesas domésticas, esses contratos têm relevância
pública e por isso são regulados pelo Direito. Mas não é esse o caso das motivações, enquanto
tais, que levam as partes a estabelecer tais contratos (estas só têm eventualmente interesse
indirecto, para esclarecer o conteúdo contratual objectivo).

A sociedade e o Estado não devem fazer nenhuma distinção conforme o intuito das partes seja de
natureza sexual ou qualquer outro.

A legislação actual permite que as pessoas estabeleçam todo o tipo de contratos, sem
discriminação sexual ou ideológica. A novidade que se pretende instituir consiste em uma condição
privada — como a orientação sexual — passar a figurar, ainda que seja nominalmente, num acto
jurídico.

6. A confusão entre «discriminações» e «requisitos»

Na polémica acerca do casamento de pessoas do mesmo sexo, os requisitos dos actos jurídicos
foram muitas vezes confundidos com discriminações.

A realidade é que os requisitos próprios de um determinado acto jurídico têm relação directa com a
índole desse acto e não podem ser eliminados sem o desvirtuar completamente. Isto aplica-se a
qualquer acto jurídico e, naturalmente, também se aplica ao casamento. Por isso, ao alterar os
requisitos próprios do casamento o que efectivamente se faz é acabar com o casamento ― ou
deturpar o seu conteúdo, o que vem a dar no mesmo.

Qualquer acto jurídico tem requisitos. Por exemplo, a existência de transacção é requisito
indispensável para uma operação de compra ou venda. A partir do momento em que se pudesse
«comprar» um bem absolutamente fictício, deixaria de haver uma lei específica para as
transacções comerciais porque, à custa de abranger tudo, a respectiva figura jurídica teria ficado

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um conceito vazio. Se uma pessoa quiser adquirir um bem gratuitamente, deve usar o tipo
contratual da doação, não fazendo sentido dizer que está a ser discriminado por não poder usar o
tipo da compra e venda (que, por definição, é oneroso).

Desde há milénios, desde muito antes de Cristo, o casamento é algo real, concreto, e portanto
tem requisitos indispensáveis.

7. A distorção do conceito constitucional de igualdade

Alguns pretendem que, para não discriminar indevidamente os cidadãos, é preciso tratar tudo
por igual, como um tractor a fazer terraplanagens. Se essa interpretação fosse aplicada, todos
deveriam passar os mesmos anos na prisão, todos deveriam receber as mesmas medalhas
olímpicas, ser sujeitos às mesmas intervenções cirúrgicas... além de todos poderem casar,
independentemente de os correspondentes requisitos não se verificarem.

Dizer que os cidadãos são iguais perante a lei significa que situações iguais devem ser tratadas da
mesma forma — o que é bem diferente de afirmar que tudo é igual.

Um emprego que exclua o trabalho infantil faz uma discriminação ilegítima em razão da idade?
Uma vaga de médico destinada a pessoas com o curso de Medicina faz uma discriminação em
razão da formação escolar? A Federação de Futebol tem de admitir também a inscrição de
equipas de andebol?

A igualdade dos cidadãos perante a lei, que está consagrada na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e na Constituição portuguesa, constitui um valor jurídico indiscutível para todas as
pessoas com preocupação ética. O princípio é totalmente justo, o problema está em alguns o
invocarem de forma artificiosa.

O Tribunal Constitucional compreendeu correctamente esta questão, como se refere no


preâmbulo do projecto lei, e a generalidade dos constitucionalistas, mesmo os que têm simpatia
pelo casamento homossexual, reconhece que o art. 13º da Constituição da República Portuguesa
não implica que o casamento se aplique a homossexuais.

8. A inconstitucionalidade do projecto de lei actualmente em estudo na


Assembleia da República

Pelo contrário, a proposta de consentir o casamento de pessoas do mesmo sexo fere a


Constituição da República Portuguesa em numerosos preceitos, nomeadamente porque
contradiz textualmente o art. 13º da Constituição.

Se este projecto de lei entrasse em vigor, em igualdade de todas as outras circunstâncias, dois
indivíduos passariam a ser tratados pelo Estado de forma diferente, com base apenas no seu
comportamento sexual, o que é contrário ao espírito e à letra do art. 13º.

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Por que é que, em igualdade de todas as outras circunstâncias, Abel-1 e Abel-2 podem ter um
estado civil diferente de Bernardo-1 e Bernardo-2, só por fazerem gestos homossexuais um ao
outro? Em igualdade de todas as outras circunstâncias, temos o que o art. 13º proíbe
expressamente: que uma opção sexual seja critério de discriminação.

A lei actualmente em preparação é flagrantemente inconstitucional por muitos motivos, entre


eles a violação explícita do princípio da não discriminação. Aliás, já o projecto das uniões civis
registadas preconizado do PSD era inconstitucional, porque qualquer estatuto jurídico que
dependa de comportamentos sexuais íntimos viola o princípio da não discriminação. Para as uniões
civis registadas não serem inconstitucionais teriam de ignorar por completo os comportamentos
sexuais privados e estar abertas, em pé de igualdade, a todos os cidadãos. Isto significaria que os
requisitos muito peculiares do casamento não se poderiam aplicar a essas uniões civis registadas.
Por exemplo, seria discriminatório proibir a união entre parentes próximos, proibir uniões de
mais do que duas pessoas, proibir uniões sem relação sexual, etc.

Do ponto de vista académico, é curioso registar que os defensores do casamento homossexual


consideram que o requisito da heterossexualidade é discriminatório, mas esqueceram-se de
outros requisitos que a lei mantém.

9. Os requisitos peculiares do casamento não podem ser alterados sem se


deformar completamente essa figura jurídica (e isso é inconstitucional)

Qualquer figura jurídica que não seja absolutamente vazia de conteúdo tem requisitos próprios.
A natureza de um determinado acto jurídico dita os seus requisitos e é indissociável deles. O
casamento não é excepção.

Em primeiro lugar, convém notar que todos os requisitos peculiares do casamento derivam do seu
carácter de vinculação ligada à paternidade e maternidade. Só se justificam nessa óptica e, noutro
contexto, não fazem sentido. Podem dar-se alguns exemplos.

A lei não admite o casamento entre consanguíneos porque os filhos nascem com problemas de saúde e
taras psicológicas — mas não tem sentido impor esta limitação a uniões sem qualquer projecto
de paternidade e maternidade e, menos ainda, àquelas relações que são por natureza estéreis.

Analogamente, a geração envolve um pai e uma mãe, pelo que o requisito da monogamia é
perfeitamente lógico — mas não tem sentido aplicar o número «1+1» aos outros
relacionamentos. É bom que a amizade se estenda a numerosos amigos e, mesmo na família, o
requisito «1+1» só se aplica ao pai e à mãe: por exemplo, o número de filhos não tem de ser dois.

Do mesmo modo, o conceito de casamento pressupõe a disponibilidade para a relação sexual, porque
sem este requisito não haveria maternidade e paternidade em comum — mas é discriminatório
aplicar este requisito a qualquer relação humana no seio da qual a paternidade e maternidade são
impossíveis.

Por idêntica razão se exige a idade núbil para o casamento — referência que seria simplesmente
discriminatória, noutro contexto.

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O mesmo se pode observar da generalidade das cláusulas peculiares do casamento. Todas elas
tornam patente que o matrimónio ratifica um tipo de amor muito especial, entre pessoas que
partilham a sua fecundidade e se dispõem a assumir a responsabilidade dos seus actos.

As alterações legais que estão em estudo modificam radicalmente o conteúdo do casamento,


justamente no seu aspecto mais importante e característico, que é esta sua abertura à vida.

A precipitação de querer mudar o que se encontra expresso — desde há vários milénios — em


todos os ordenamentos jurídicos não denota apenas uma certa leviandade, falta de sensibilidade
cultural e uma pretensão ideológica gigantesca: é algo positivamente ilegal.

Uma disposição da Assembleia da República não tem poder para revogar a Carta Universal dos
Direitos Humanos, a Constituição da República Portuguesa e o Código Civil. Mesmo que o
art. 16º da nossa Constituição não obrigasse a respeitar a Declaração Universal dos Direitos
Humanos e fosse possível alterar arbitrariamente qualquer artigo da Constituição, ainda assim
uma alteração constitucional requereria maiorias qualificadas e só pode efectuar-se quando a
Assembleia está mandatada para tal, ou em sede de revisão extraordinária.

Quando o texto da Constituição se refere ao direito ao casamento atende ao conceito social e


real do casamento entre duas pessoas de sexo diferente, como sempre foi durante milénios, e o
Código Civil explicitamente consagra. Portanto, uma alteração da lei ordinária não pode mudar
este conceito, a não ser que previamente a Constituição o tenha feito. Mudar o sentido de uma
palavra empregue pela Constituição é uma forma ilegal de alterar a Constituição. Em suma, não
pode haver redefinição do conceito de casamento sem prévia revisão constitucional, que necessita
de outras maiorias, e para a qual a Assembleia da República não está neste momento mandatada.

10. O conteúdo jurídico do casamento

O casamento pode ser visto de muitos pontos de vista (o amor em que se baseia, a entrega aos
filhos, a realização pessoal...) mas convém cingir-nos agora aos aspectos jurídicos, para não
confundir, como alguns, o Facebook com uma Conservatória do Registo Civil. No Facebook, cada
um expressa livremente as suas opiniões e enumera, como quer, os seus amigos. Num acto
jurídico contraem-se responsabilidades.

Enquanto acto jurídico, o casamento é pois uma assunção de compromissos. Não é um gesto
romântico, nem é primariamente uma expressão de amizade: é o compromisso concreto de
partilhar com outra pessoa a fecundidade, com todas as responsabilidades próprias de um amor
aberto à vida.

Todos os artigos de qualquer lei do casamento existem em função da paternidade e maternidade


que derivam da família livre e responsavelmente constituída.

Como é óbvio, dois homossexuais não constroem em conjunto nenhuma maternidade e


paternidade.

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11. A importância social do casamento

Como diz a Declaração Universal dos Direitos do Homem, no seu artigo 16º, «a Família é o
elemento natural e fundamental da sociedade e como tal tem direito à protecção da sociedade e do
Estado». Sublinhe-se a expressão «como tal», porque é o cerne da questão jurídica.

Não é só a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Constituição da República


Portuguesa que reconhecem o carácter específico do casamento, na medida em que ele está
aberto à vida. O Código Civil Português sempre foi claro e, durante séculos, todas as leis que
vigoraram no nosso País. Foi preciso esperar pela actual composição da Assembleia da República
para um órgão de soberania começar a ter dúvidas acerca de um princípio tão básico da
civilização: o de que a paternidade e a maternidade, assumidas responsavelmente, são elementos
de importância máxima para a construção social, de que dependem o futuro do País e do mundo.

Em geral, todas as civilizações reconheceram que a família é o elemento natural e fundante da


sociedade, de modo que, desde há milénios, o casamento reveste um carácter público especial.

A Assembleia da República está agora a discutir se é correcto dar o mesmo estatuto jurídico aos
pares homossexuais. Será que eles são estruturantes, para a sociedade?

É como se alguns tivessem esquecido que a família é fonte responsável de maternidade e


paternidade e que os actos homossexuais são estéreis.

Os actos homossexuais não são apenas estéreis no sentido óbvio de que não dão origem a filhos,
são também socialmente estéreis. São absolutamente irrelevantes para a construção da sociedade.

Será inteligente e justo pretender que a sociedade se funda em comportamentos homossexuais?!

Nota: Não é esta a oportunidade para analisar o caso muito particular dos casais heterossexuais sem
filhos, mas torna-se necessário referi-lo brevemente, porque alguns confundiram a situação desses casais
com a esterilidade intrínseca da relação homossexual, embora as duas situações não sejam comparáveis,
nem do ponto de vista ético nem jurídico. Sob o aspecto ético, de que não vamos tratar, seria preciso
distinguir, por exemplo, entre as características intrínsecas da relação (em si mesma) e o número de filhos
que um casal acaba por ter: enquanto o casamento é, desde o primeiro momento, ainda antes do primeiro
filho ser concebido, um amor aberto à vida; a relação homossexual permanece intrinsecamente fechada
sobre si mesma.
Do ponto de vista jurídico, apesar de a relevância social do casamento se fundamentar muito na
expectativa da geração, seria errado acrescentar à lei um requisito baseado em prognósticos inseguros, ou
com limites difíceis de precisar, ou dependente de inspecções médicas. Além disso, o compromisso do
casal em relação aos filhos pode ter um valor social evidente, mesmo quando não há esperança de
descendentes. Pense-se, por exemplo, num homem e numa mulher conviveram, tiveram filhos e, com o
tempo, foram amadurecendo a sua responsabilidade em relação aos filhos e de um em relação ao outro: o
compromisso formal que assumem ao casarem-se, já com idade avançada, tem um valor manifesto, para a
família e para toda a sociedade. Não vamos justificar agora, em cada circunstância particular, o valor social
do casamento de um casal heterossexual que não espera filhos, basta sublinhar que, em todas essas
circunstâncias, a abertura à vida e o compromisso de acolher os filhos continuam a ser cláusulas
indisponíveis do casamento, e constituintes essenciais do amor dos cônjuges.

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12. A irrelevância social do casamento de pessoas do mesmo sexo

Perante a hipótese de o casamento perder o seu sentido, abrangendo pares do mesmo sexo,
alguns assustam-se com a perspectiva de uma criança vir a ter «pai e pai» ou «mãe e mãe». Mas o
cenário é muito mais horrível. Um acto homossexual é completamente estéril, pelo que os
protagonistas nunca se tornam «pai e pai». Por mais que as ideologias se esforcem por alterar a
realidade por decreto, da esterilidade de um acto homossexual só pode resultar um « não-pai » e
outro « não-pai ».

Uma vez que a relação homossexual não é susceptível de fazer com que alguém seja pai ou mãe,
não gera nenhum tipo de convivência especificamente familiar. Poderá incluir sentido de
solidariedade, poderá originar relações económicas ou gratuitas... mas nada que não se possa
encontrar noutras relações humanas, com sexo ou sem sexo.

Por outras palavras, a eventualidade de determinados parceiros terem (ou não terem) intimidades
sexuais não altera em nada a dimensão jurídica da sua relação.

Se dois homossexuais deixarem de ter contacto físico um com o outro, a sua relação jurídica não
se altera. E se retomarem aos anteriores hábitos homossexuais, a sua relação jurídica também não
se altera.

Se quiserem constituir-se mutuamente herdeiros, ou partilhar despesas, ou combinar qualquer


negócio, são livres de o fazer, em pé de igualdade com todos os outros cidadãos.

Se, entretanto, tiverem (ou não tiverem) gestos íntimos um com o outro, «é lá com eles». Num
Estado justo, não perdem direitos, nem ganham direitos por causa disso.

Um Estado justo respeita a intimidade das pessoas. Nem espreita pelo buraco da fechadura, nem
obriga toda a sociedade a concordar com as opções de cada qual.

A pretensão gay viola claramente a letra da Constituição Portuguesa, que proíbe expressamente
que os cidadãos tenham um estatuto diferente em função do seu comportamento sexual. Para
justificar esse atentado à Constituição e à Justiça, os defensores do casamento homossexual
argumentam que os casais que constituem família também têm um estatuto diferente.

É verdade. Mas esquecem-se daquele aspecto que está explicado no artigo 68º da Constituição,
onde se diz que «a maternidade e paternidade constituem valores sociais eminentes», isto é, de
máxima relevância social. É a importância social da maternidade e paternidade que justifica que
as pessoas casadas tenham um estado civil diferente das pessoas solteiras. E é este pormenor que
escapa a quem defende a nova lei: os actos homossexuais não são fonte de paternidade nem de
maternidade. São comportamentos estéreis, que interessam apenas aos próprios.

A sociedade e a lei não dizem às famílias «é lá convosco», mas: a vossa relação também nos diz
respeito, pela importância da vossa função de pais. A vossa paternidade e maternidade são «um
valor social eminente», supremo, como diz a Constituição.

Em relação aos actos homossexuais é que se pode dizer com propriedade que «é lá com eles» e
apenas com eles. É por isso que não deve haver nenhum registo oficial das relações
homossexuais, nem as relações homossexuais devem alterar o estatuto jurídico dos cidadãos. «É

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lá com eles» significa isso mesmo: a lei não tem de proibir nem tem de autorizar as intimidades
dos homossexuais uns com os outros.

«Casar» pessoas do mesmo sexo equivale a dizer-lhes ironicamente: o País tem grande
expectativa em relação ao fruto da vossa relação estéril, esperamos de que daí nasçam novos
cidadãos.

13. A «conjugalidade» e a «parentalidade»

A discussão na Assembleia da República sobre se os pares homossexuais hão-de ter direito a


adoptar crianças girou em torno da distinção entre conjugalidade e parentalidade. O Governo
quer legalizar a conjugalidade homossexual sem admitir a parentalidade homossexual. Isto faz
sentido?

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a conjugalidade homossexual não existe. Pura e
simplesmente.

A conjugalidade é a relação que surge entre duas pessoas que assumem em comum a paternidade
e a maternidade. Os actos homossexuais não são fonte de paternidade ou de maternidade,
portanto não geram qualquer relação conjugal.

Porque a conjugalidade não é a simples amizade ou coabitação: é a relação que surge de uma
paternidade e maternidade assumidas em comum pelos dois cônjuges.

Numa família, os vários irmãos não são cônjuges entre si, por muito amigos que sejam e apesar
de viverem na mesma casa. Os camaradas de um batalhão militar não são cônjuges, apesar de
viverem na mesma caserna. Uma prostituta não é cônjuge dos seus clientes, apesar das
intimidades que tem com eles.

Pelo casamento, um homem e uma mulher assumem perante a sociedade a responsabilidade


própria da sua paternidade e maternidade ― e é nessa medida que se tornam cônjuges um do
outro.

As relações sexuais inconsequentes ou irresponsáveis situam-se no pólo oposto do casamento.


Nas relações homossexuais o peso da responsabilidade paternal nem se põe. E as relações fora
do casamento podem ter consequências, mas não assentam em responsabilidades previamente
assumidas; ao passo que quem se casa contrai responsabilidades muito concretas.

Por isso é que tem sentido distinguir o casamento ― pelas suas consequências e
responsabilidades livremente assumidas ― das relações sexuais irresponsáveis e sobretudo das
relações sexuais inconsequentes. Quando as pessoas confundem o casamento com qualquer
relação sexual, baralham também a palavra cônjuge e chamam cônjuges a quaisquer pessoas que
vivem mais ou menos em conjunto.

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14. O que fica do casamento, depois desta reconfiguração completa?

A arbitrariedade com que se quer reconfigurar o casamento leva-nos a perguntar seriamente o


que vai ficar dele, depois das alterações que se prevêem.

Depois de um primeiro erro é fácil resvalar para muitos outros.

Aparentemente, se tudo é arbitrário e o casamento não tem a ver com a comum maternidade e
paternidade dos esposos, por que razão o casamento há-de incluir sexo? Se o casamento dissesse
respeito a um projecto aberto à vida, compreendia-se que a dimensão sexual fosse um requisito
indispensável, mas se o casamento passa a incluir aquelas relações humanas que são o hino mais
acabado à esterilidade, põe-se a pergunta: por quê, impor o sexo?

E por que se há-de restringir o casamento aos «pares»? Há uma superstição relativamente ao
número 2? É difícil de entender por que razão as uniões homossexuais três a três são mais
erradas que as uniões dos mesmos homossexuais, dois a dois.

A monogamia prende-se com a dignidade dos cônjuges, mas esse respeito de exclusividade é
devido ao cônjuge pela índole muito própria do projecto familiar. Fora desse contexto, não se
percebe por que razão seja melhor ter só um amigo, em vez de muitos.

Se o casamento é para quem pedir, independentemente de constituir uma família potencialmente


com filhos, é justo que qualquer número de pessoas (ou de coisas) se possa casar. Se a união
homossexual for legalizada, não só é arbitrário fixar o número de cônjuges desses casamentos
como não se percebe por que se hão-de excluir as coisas, os animais e as plantas. Com que
argumento se impede o casamento, se as pessoas se quiserem casar com um bicho ou com um
objecto qualquer? Se não é a família potencialmente com filhos que está em causa, por que é que
uns se podem casar a seu capricho e os outros não?

Uma vez admitido o casamento homossexual, as outras referências ao casamento verdadeiro


passam a ser discriminações arbitrárias, com cheiro a moralismo decadente, próprio de quem
perdeu o sentido das coisas e só conserva rotinas vazias.

A forma como a Assembleia da República tem tratado a família leva-nos a temer o pior.

15. A adopção por parte de pares homossexuais

Como tivemos oportunidade de salientar, há várias discriminações inconstitucionais nesta lei.


Mas não a de os homossexuais ainda não poderem adoptar. O que é inconstitucional
(nomeadamente contra o artigo 13º) é eles poderem casar.

Chocar-nos-ia que a previsão do projecto de lei em estudo de proibir a adopção por parte dos
pares homossexuais fosse uma manobra para evitar a contestação social e que, uma vez
introduzida a lei, a adopção fosse acrescentada, com o argumento de que o contrário seria
discriminatório. Não é por uma injustiça ser declarada legítima que todos os atropelos ganham
igualmente foros de legitimidade.

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Se alguém se convencer de que casar pessoas do mesmo sexo implica confiar-lhes crianças em
regime de adopção, a conclusão que se impõe é que não faz sentido casar pessoas do mesmo sexo.

Além disso, embora a lógica envenenada que preside ao casamento das pessoas do mesmo sexo
possa induzir facilmente a cometer outros erros graves, não se pode dizer que proibir a adopção
de crianças por pares homossexuais seja discriminatória.

De facto, a Constituição prevê, em favor das crianças, o instituto da adopção, distinto das figuras
de acolhimento. A adopção refere-se a figuras parentais equivalentes às biológicas e compreende-
se porquê: é nesses casais que se encontra aquela relação de comum maternidade e paternidade,
em que a filiação naturalmente se insere. Portanto, mesmo no pior e horrível cenário de a
legislação redefinir erradamente o casamento, continua a fazer todo o sentido vedar a adopção a
esses casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Chamamos a atenção para o perigo de se confundir a adopção com outras formas de


acolhimento por parte de terceiras pessoas idóneas, como se tem vindo a fazer.

1) Confiança de pessoas a «terceiras pessoas»:

Por um lado, a lei portuguesa (tal como outras leis europeias) prevê a confiança ou o
acolhimento de crianças por familiares ou outras terceiras pessoas idóneas. Estas confianças de
crianças a terceiras pessoas podem ocorrer em caso de acordo dos pais ou em casos de limitação
do exercício do poder paternal (em qualquer das situações de perigo previstas no art. 1918º do
Código Civil). Nestes casos, para além dos demais requisitos de intervenção, o Tribunal deve
aferir a idoneidade e a capacidade da terceira pessoa para cuidar da criança e a adequação deste
acolhimento para aquela criança.

Seria absurdo que a orientação homossexual, que não possui qualquer relação com a paternidade
ou a maternidade, qualificasse alguém como terceira pessoa para acolher uma criança. Se existisse
uma avaliação judicial concreta favorável à confiança, em face das necessidades concretas de
determinada criança, nunca seria em virtude da orientação da homossexual da pessoa terceira.

2) Estabelecimento do vínculo de adopção:

Por outro lado, na lei portuguesa e noutras legislações, sobretudo dos países ocidentais (a maior
parte dos países orientais não aceita a adopção), está previsto o instituto da adopção, que
estabelece um autêntico vínculo de filiação entre os adoptantes e adoptados.

Apesar da adopção ser também uma via legal de protecção de crianças desprotegidas, tal como as
simples figuras de acolhimento, não se destina apenas a exercer estas funções de cuidado e de
acolhimento. O que é próprio e específico da adopção, no nosso sistema e em qualquer sistema
que regula o instituto, é a vinculação da criança com um pai e com uma mãe (ou com um deles no
caso da adopção singular), de forma equivalente à filiação biológica.

Portanto, o instituto de adopção é estrutural e abstractamente incompatível com a adopção


conjunta por um par de pessoas do mesmo sexo. Por esta razão, pode e deve ser defendida sempre
a total incompatibilidade de pessoas do mesmo sexo adoptarem crianças, quer estejam casadas ao
abrigo de uma lei qualquer que o venha admitir, quer estejam unidas de direito, quer estejam
unidas de facto entre si.

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Defender que esse tipo de adopção se pode instituir é acabar com o instituto da adopção ou
subvertê-lo inteiramente e deixar de estabelecer quaisquer diferenças entre as figuras cuidadoras e
as figuras parentais.

Em certo sentido, acabar com o instituto da adopção está na mesma linha do erro de propor o
casamento de pessoas do mesmo sexo, mas um primeiro erro não justifica o segundo.

16. A legitimidade do Parlamento é limitada, derivada e provisória

Muitíssimos portugueses ficaram chocados com a notícia de que o Governo propôs à


Assembleia da República alterar radicalmente o casamento, para dar estatuto jurídico ao
comportamento homossexual. Em poucos dias, cerca de 100 mil portugueses subscreveram um
pedido à Assembleia para que a lei não fosse alterada sem se consultar o Povo através de um
Referendo. Porque não se muda de um dia para o outro, de forma radical, uma lei que assenta na
natureza humana, e por isso se manteve substancialmente inalterada milhares de anos, em todas
as culturas, de todos os continentes do mundo.

O Direito de fazer as leis por que se quer reger pertence a toda a comunidade nacional e, só na
impossibilidade de ela exercer directamente esse Direito nativo, é que se confia ao Parlamento,
de forma derivada, limitada e provisória, a missão de legislar. Em virtude dessa missão, a
Assembleia da República tem alguma legitimidade, mas nunca pode pôr em causa a soberania
popular, princípio base da Democracia, anterior a qualquer codificação.

Neste caso, era patente que o Povo português se queria pronunciar especificamente e por isso é
muito grave que o Parlamento se tenha interposto, violando tal Direito.

Muitíssimos portugueses consideram que as eleições para a Assembleia da República se destinam


fundamentalmente a escolher o Governo e, portanto, não servem para exprimir a posição dos
eleitores relativamente à lei do casamento. Se bastasse uma só votação para exprimir a voz do
eleitorado relativamente a várias questões, bastaria um único tipo de eleição para tudo. Mas, de
facto, ao eleger o Presidente da República não se fica a saber quem é que o Povo prefere para
formar Governo; nem da composição da Assembleia da República se deduz quem há-de
governar as Regiões Autónomas ou as autarquias... Por causa disso, ainda recentemente o
Governo insistiu para que as eleições para a Assembleia da República não coincidissem com as
eleições autárquicas.

Não é preciso grande sensibilidade democrática para perceber que

• o Povo tem direito a pronunciar-se sobre as leis,


• que esse direito não é uma concessão magnânima da Assembleia,
• que grande parte dos portugueses quer exprimir a sua opinião em Referendo.

Como diz a Constituição no art. 109º: a participação directa e activa de homens e mulheres na
vida política constitui condição e instrumento fundamental de consolidação do sistema democrático.

O que faltou, para se perceber que é importante convocar o Referendo?

Quem não percebeu que a democracia é o governo exercido pelo Povo?

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17. As questões morais também se referendam?

Alguns dizem que «as questões morais não se referendam». Para esclarecer o assunto, convém
perceber duas coisas:
Em primeiro lugar, fazer boas leis é moralmente bom.
Em segundo lugar, a natureza não se altera por decreto.

Fazer boas leis em questões morais não tem mal, pelo contrário! Por exemplo, é bom que
existam leis a proibir o roubo, o homicídio. É bom que exista a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e que a legislação nacional reconheça a dignidade inalienável da pessoa
humana.

Por outro lado, numa sociedade que respeita os seus próprios cidadãos, as leis não se podem
estabelecer de forma ditatorial, mas pelo acordo e a participação dos cidadãos. Conforme a
importância do tema, a participação popular pode fazer-se por Referendo, ou por delegação
democrática. Em qualquer caso, as leis não devem ser impostas ditatorialmente.

Ou seja, as leis relativas a direitos humanos fundamentais podem ser objecto de referendo. E, se
são assuntos de grande importância que envolvem alguma polémica, devem referendar-se.

Em segundo lugar, convém lembrar que a natureza não se altera por decreto. Isto quer dizer que
os procedimentos legislativos, sejam eles o referendo ou qualquer votação numa assembleia, não
devem perder de vista o que é justo e verdadeiro.

Se uma autoridade decide que é justo cometer uma injustiça, a realidade não se altera por causa
disso: o que é justo continua a ser justo; e a injustiça continua a ser injusta. Basta recordar certas
leis da Alemanha nazi.

Aplicando estas considerações ao Referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo
podemos concluir que
primeiro: é legítimo consultar o Povo acerca do assunto, tanto mais que é esse o desejo de
grande parte dos cidadãos;
segundo: o facto de o Parlamento decretar que os homossexuais constituem família não
torna as uniões homossexuais mais fecundas.

18. Defender a família é defender a liberdade

O casamento homossexual pretende ser uma bandeira de civilização a favor da justiça e dos
direitos fundamentais, mas situa-se no pólo oposto, na linha do aborto, do infanticídio, do divórcio,
da eutanásia, da prostituição, da pedofilia, da «educação» sexual das crianças, da progressiva
degradação das relações humanas.

O interesse pelo casamento homossexual não traduz o arrependimento daqueles que, depois de
terem combatido por todos os meios o casamento, agora lhe descobriram méritos insuspeitados
que queiram estender a casados e solteiros. A realidade por trás da bandeira da campanha
homossexual é bem triste: aqueles que combateram por todos os meios o casamento continuam

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simplesmente a combatê-lo. A homossexualidade é apenas mais um instrumento.

O grande problema da família é ter tanto a ver com o amor, com a exigência radical do
amor . É isso que não lhe perdoam e atrai sobre ela tantos ataques. Se a família evocasse apenas
uma satisfação isolada, deixá-la-iam em paz. O problema é que traz compromissos e ligações
inquebráveis.

A nossa civilização aprendeu que todas as relações humanas devem ser de amor. No amor se
fundamenta a relação entre irmãos, a relação entre professor e aluno, entre comprador e
vendedor, até a ponto de sermos convidados a amar os próprios inimigos. O elemento comum a
todas as situações é o amor; a diferença que as distingue é como que o tema do amor de cada uma
delas. No caso da família, marido e mulher amam-se não só como duas pessoas, amam-se como
marido e mulher, como pai e mãe de uma família; o tema do seu amor, que o torna tão especial, é
a família que constituem.

O tema de cada relação de amor determina as exigências da relação. Por isso os vínculos que se
originam entre companheiros de escola não são idênticos aos que unem os condóminos de um
prédio, ou marido e mulher. Só um amor incondicional, indissolúvel e exclusivo, está à altura da
responsabilidade de receber os filhos. Um amor que fique aquém desse ideal não tem a dignidade
plena de um amor conjugal ― pode ser uma bela amizade, um bom companheirismo
profissional, mas não é tão radical como o amor entre marido e mulher.

Esta radicalidade do amor familiar impressiona! Numa verdadeira família nunca ninguém desiste
de ninguém. Por mais horrores que os filhos façam, os pais nunca os abandonam, nunca
desistem de os ajudar; por mais erradas que sejam as atitudes do cônjuge, o outro nunca desiste
de o ajudar.

O que faz a grandeza excepcional do casamento é o acto de se dispor da vida inteira numa só
entrega. O escândalo é esse. Para muitos, é impossível amar tanto e, como entendem o amor
como oposto à liberdade, propõem-se proibir o amor em nome da liberdade. Nem reparam na
incongruência.

Esta ideologia aceita afectos ocasionais, nunca qualquer compromisso que prenda as pessoas
para além do instante presente.

No entanto, contra a precariedade desejada por esta construção ideológica, ergue-se o «obstáculo
dos filhos», porque um amor fugaz não é idóneo para alicerçar uma família. Arranca daí toda
uma maquinação totalitária a que se tem assistido, com vista a desligar o binómio sexo e filhos.
Este objectivo fundamental articulou-se em sucessivos projectos de engenharia social,
organizados em dois tópicos: «Sexo não implica filhos» e «filhos não implicam sexo». A ênfase que se
está a dar a todos os meios anticonceptivos transmite a primeira mensagem, «sexo não implica
filhos». O entusiasmo pela inseminação artificial e pela adopção de crianças por parte de
homossexuais veicula a outra mensagem: «os filhos não são fruto da relação sexual».

Se estas mensagens passarem, então o amor conjugal não tem mais alcance que a camaradagem
que une dois jogadores numa partida de ténis.

É paradoxal que um discurso tão centrado na liberdade, proíba o amor.

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19. Conclusões

A maternidade e a paternidade são valores de suprema importância, diz a Constituição (art. 68º) e
pensam os portugueses.

A família constituída livremente por um homem e uma mulher é o elemento natural e


fundamental da sociedade, diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 16º) e assim
defende a maioria dos cidadãos do mundo.

Desde há milénios – muito antes do cristianismo –, as civilizações atribuíram o maior valor a este
vínculo especial pelo qual um homem com uma mulher se comprometem a partilhar
responsavelmente a sua fecundidade.

Mesmo as sociedades mais rudimentares compreenderam a enorme importância social do


casamento. E compreenderam que a família, assim entendida, exige protecção da sociedade e do
Estado (Declaração Universal dos Direitos Humanos, art. 16º).

De facto, a família merece que lhe seja reconhecido o seu estatuto peculiar, porque é diferente de
qualquer outro tipo de amizade. Com sexo ou sem sexo, as relações entre amigos têm um
carácter completamente diferente da relação que nasce de uma maternidade e paternidade
complementares.

Que não haja confusões. Há uma grande diferença entre um pai e uma mãe e dois não-pais.

A amizade pode ter uma especial riqueza cultural, uma grande elevação moral, envolver as
pessoas em vários graus e unir um maior ou menor número de indivíduos. Algumas relações
humanas são dramáticas, outras românticas, outras pragmáticas, algumas incluem sexo, em
formas mais correntes ou mais desviantes. Por mais opções que caibam no espaço da liberdade
individual, o amor entre marido e mulher é outra coisa. É um amor maior do que ambos.
Projecta-se, fecundo, para além dos dois, com uma grandeza única que constrói a Sociedade. É
por isso que o casamento não é como os outros contratos. Nasce de um amor incomparável, que
gera vínculos jurídicos, sociais e morais totalmente diferentes.

Os filhos merecem nascer do amor do seu pai e da sua mãe. As crianças não podem ser
simplesmente cozinhadas com um espermatozóide daqui e um óvulo dali. Os filhos não se
produzem com uma fotocópia clonada de qualquer material genético.

É próprio de um filme de terror autorizar que seres humanos sejam produzidos labora-
torialmente. E mais tenebroso ainda confiá-los nas mãos de quaisquer adultos.

Não podemos aceitar que o Estado entregue crianças a pares homossexuais.

Nos tempos mais recentes, alguns decidiram pôr tudo isto em causa e querem impô-lo como lei,
contra o sentir generalizado do Povo. Para eles o Povo é ignorante e precisa de ser doutrinado.

Permitimo-nos discordar:

O casamento sempre foi, e vai sempre ser, o compromisso jurídico que une um homem e uma
mulher na sua complementaridade de pai e mãe.

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«Casados» sempre foram, e vão continuar a ser, aqueles que assumem conjuntamente a
responsabilidade da sua maternidade e paternidade.

Alguns, nos últimos tempos, sentiram-se inspirados por uma luz superior a lançarem-se a mudar
à força os princípios básicos da Cultura e do Direito. Convidamo-los a porem a hipótese de o
mundo não ter estado enganado desde sempre. A admitirem a probabilidade, talvez remota, de a
maioria do Povo não ser assim tão ignorante.

Lamentamos que a Comissão de Direitos Liberdades e Garantias tenha decidido não ouvir o
Mais Vida Mais Família e outras entidades, que se propuseram contribuir com a sua experiência e
os seus pontos de vista para a elaboração de uma lei mais justa. Apesar disso, mantemos a
vontade construtiva de colaborar com os Deputados e com a Assembleia da República e ficamos à
disposição para qualquer contacto, no âmbito da Comissão de Direitos Liberdades e Garantias, ou
de outras reuniões.

Oxalá este documento cumpra a intenção com que foi escrito, de promover relações sociais mais
justas, uma sociedade mais solidária e mais fraterna, um Portugal com mais futuro.

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