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Sinopse da Obra
E estava de férias e caminhava da praia para casa com dois sobrinhos: Pedro, de
oito anos e Vitório, de seis. Não sei por que motivo (acho que ele sabia que eu era
professor), Pedro perguntou: “Tio, o que são retas paralelas?” Pego de surpresa com a
pergunta, respondi meio sem refletir: “Olha, Pedro, você está vendo a grade daquela
casa ali, como os ferros ficam um do lado do outro, sem se encostar... são retas
paralelas”. Os meninos observavam, enquanto continuávamos andando. “E... hum...
aquela outra grade com as linhas deitadas... e os fios bem esticados naquele poste...
estão vendo? Ficam um do lado do outro, não se encontram... são paralelos... entendem?
Os meninos acenaram com a cabeça e, durante alguns quarteirões, brincamos de
reconhecer “retas paralelas”: nas casas, nos carros, nos desenhos das calçadas e até nos
desenhos em nossas roupas. Durante esse período, eu expliquei que as “verdadeiras”
retas paralelas nunca terminam, são “infinitas”, sempre mantêm a mesma distância entre
si e nunca se encontram (ok, eu poderia ter falado de geometrias não-euclidianas, mas
não falei).
Pedro gostou da brincadeira, e então disse: “Tio, dá mais uma “atividade” pra
gente!” Rindo desse vocabulário “escolar”, me veio uma idéia diabólica: “Hum...
meninos... estão vendo aquela árvore sem folhas, cheia de raminhos... cada ramo se
divide em ramos menores, que têm mais raminhos... estão vendo? É um... fractal!”
Todas as explicações eram sempre acompanhadas de muitos gestos, enquanto
continuávamos andando, e os meninos estavam interessados, perguntavam e
gesticulavam também.
“E aquele arbusto, no terreno baldio... estão vendo? Ramos que se dividem em
raminhos, sempre. É um fractal. Mas essa palmeira não é um fractal, nem as coisas
muito retas, feitas pelo homem...” Encontrei uma pena de passarinho, examinamos de
perto sua estrutura ramificada. “A linha do horizonte (montanhoso)... estão vendo? Cada
montanha tem montanhinhas etc. E aquela nuvem, cheia de gominhos, cada gomo tem
mais gomos em cima, que também tem gominhos... também é um fractal... entendem?”
Os meninos acenavam, riam, tentavam encontrar “fractais” na rua... Começamos a
brincar de “reconhecer fractais”, como havíamos feito com as retas paralelas. A maioria
dos exemplos que eles encontrava eram de árvores e, é claro, Pedro encontrava mais
exemplos que Vitório, que queria a todo custo acompanhar o primo mais velho. Até que
Vitório me surpreendeu... “Tio... e isso aqui?” Me mostrava um pedaço de carvão que
havia encontrado perto de um terreno baldio. “As rachaduras... têm rachadurinhas... que
têm rachadurinhas... um monte! Não é um fractal?”
As trincas e fraturas no carvão formavam um belo exemplo de padrão fractal.
Me surpreendi, porque eu não havia dado exemplos de fractais em pedras ou na forma
de trincas. Vitório, com apenas seis anos, não estava apenas repetindo os exemplos que
eu dava. Ele havia aprendido a reconhecer padrões “fractais” (objetos geométricos que
eu só havia estudado na pós-graduacão em Física) em novos contextos, havia
generalizado. Para ele, aprender a reconhecer fractais era igualmente fácil (ou
igualmente difícil) que aprender o que eram retas paralelas. E ele ainda nem sabia ler ou
somar! Foi nesse dia que decidi escrever este livro.
***0***
Já conhecemos bem um objeto fractal com dimensão D tal que 1 < D < 2: a
curva de Koch. Ela foi obtida a partir de uma linha, que é um objeto unidimensional,
adicionando-se segmentos em um processo de iteração infinito para produzir um objeto
com dimensão maior que um. Note que o segredo para criar um objeto fractal não é
simplesmente adicionar ou retirar pedaços, mas sim fazer isso infinitas vezes!
Dá para suspeitar que também poderíamos obter um fractal com dimensão entre
um e dois retirando-se pedaços de um objeto bidimensional. Por exemplo, podemos
começar com um quadrado, dividindo-o em nove quadradinhos e retirando-se o
quadradinho central (ver Figura 3.6). Fazendo-se isso infinitas vezes, acabamos obtendo
o tapete de Sierpinsky. É um objeto fractal de dimensão D = 1,8928...
Em vez de um quadrado, poderíamos ter começado com um triângulo, dividindo
o triângulo em quatro e retirando o triângulo central (Fig.3.7). Neste caso, temos a
intuição de que ele é mais cheio de buracos que o tapete quadrado, e que ele deveria ter
uma dimensão menor. Com efeito, sua dimensão fractal é D = 1,5849... Guarde bem a
imagem desse tapete triangular, pois você o reconhecerá mais tarde em lugares
inesperados tais como... na superfície de uma concha marinha (capítulo 6).
Como em cada iteração a área é diminuída (por um fator 8/9 no caso do tapete
quadrado, e por um fator 3/4 no caso do triangular), a área total desses tapetes, após
infinitas iterações, é zero. Ou seja, de novo precisamos compreender que esses tapetes
de Sierpinsky não são feitos de pedacinhos que possuem área, mas sim de pedaços que
são eles próprios pequenos tapetes de Sierpinsky que não têm área.
Outra coisa curiosa é que se você somar o perímetro de todos os buracos, ele é
infinito! Assim, ao contrário do floco de neve de Koch, os tapetes de Sierpinsky
possuem fronteiras infinitas que envolvem uma área igual a zero...
Você já deve estar pegando o jeito da coisa. Para obter um fractal com dimensão
maior que dois poderíamos pensar em adicionar pedaços a um objeto bidimensional (por
exemplo, um quadrado) ou retirar pedaços de um objeto tridimensional (por exemplo
um cubo). Se partirmos de uma figura plana, teremos um relevo fractal com área infinita
(Fig. 3.8), uma idéia que será usada quando estudarmos o relevo terrestre, os pulmões e
intestinos.
Se partirmos de um sólido geométrico, por exemplo um cubo, e retirarmos
pedaços, obteremos algo como a esponja de Menger (Figura 3.9), que tem uma área
superficial infinita envolvendo um volume nulo.
Todos esses fractais são interessantes, mas são muito regulares, simétricos e
infinitamente detalhados. Na Natureza, com mais freqüência, encontraremos formas
parecidas com fractais irregulares e que possuem um limite para o nível de detalhes que
pode ser descrito por fractais. Neste capítulo estudamos fractais regulares porque para
estes é mais fácil determinar sua dimensão fractal.
Como encontrar a dimensão fractal de um objeto
A = Nd 2.
É claro que isso vai dar uma área maior que a área verdadeira, porque alguns
pedaços dos quadradinhos ficaram para fora. Mas se você usar quadradinhos cada vez
menores, essa medida vai dar um valor cada vez mais exato.
Isso fornece uma idéia para se determinar a dimensão D de um objeto fractal.
Basta recobri-lo com pequenos “quadradinhos” de lado d (usamos aspas porque na
verdade, não são quadradinhos mas “fractaizinhos”). O tamanho total do objeto fractal
será dado pela medida MD = N dD (o número de “quadradinhos” necessário para recobrir
o fractal vezes o “área” de cada “quadradinho”). A dimensão fractal D é um valor
especial tal que a medida MD não é nem zero nem infinita.
Vamos ilustrar esse método calculando a dimensão “fractal” de um quadrado.
Imagine que nós não soubéssemos que o quadrado é uma figura bidimensional (ou seja,
D = 2). Começamos com um quadrado de lado L (acompanhe na Fig. 3.10). Vamos
fazer com que os nossos quadradinhos, a cada iteração, tenham seu lado dividido por
dois. Chamaremos de n o número da iteração. Assim, na primeira iteração (n = 1)
precisamos de 4 quadrados. Na segunda iteração (n = 2), cada quadrado anterior é
recoberto por 4 quadradinhos menores, ou seja, agora precisamos de 16 quadradinhos. É
fácil ver que se chamarmos de N(n) o número de quadrados necessários na iteração n,
teremos que esse número cresce com n na seguinte forma:
N (n) = 4 n .
D
L
A(n ) = n .
2
Logo, a área total do quadrado será dada pelo número de quadradinhos N(n)
vezes área de cada quadradinho A(n), ou seja,
D
L
Atotal = N ( n ) A( n ) = 4 n .
n
2
Podemos escrever essa fórmula no seguinte modo, colocando-se tudo o que está
elevado à potência n dentro de um parêntesis,
n
4
Atotal = D LD .
2
Agora vem o ponto essencial: queremos que essa medida de área faça sentido
quando usarmos um número n de iterações muito grande (tendendo ao infinito). Não
sabemos quanto vale D, mas se o número 4/2D for maior que um, a área total aumentaria
sempre conforme aumentamos n. E se 4/2D for menor que um, a área total diminuiria
quando aumentamos n. Logo, a única possibilidade para que a área total seja uma
grandeza bem definida, nem zero nem infinita, é que 4/2D = 1, pois sabemos que 1n vale
sempre 1, não importa o valor de n.
Mas a solução da equação 4/2D = 1 é claramente D = 2. Assim, concluímos que
o quadrado precisa ser recoberto por quadradinhos com dimensão D = 2, e sua área total
é
Atotal = L2 .
D n
L 3
MD = 3 n = D LD .
n
2 2
Como antes, essa medida só será diferente de zero ou infinito caso a fração seja
igual a 1, ou seja, o numerador e o denominador forem iguais,
2 D = 3.
D = 1,584962 K
Confirme isso usando sua calculadora. (Idéia: já que agora você sabe para que
eles servem, que tal aprender logaritmos? Veja o Box 3). Ora, essa é a mesma dimensão
D do tapete de Sierpinsky triangular que vimos antes. Sim, claro! Naquele caso
dividimos um triângulo em quatro partes iguais e eliminamos uma parte em cada passo,
um processo muito parecido com o que fizemos agora com o quadrado. Mesmo
visualmente, esses dois fractais são parecidos, não?
Para finalizar: esse método de determinar a dimensão fractal D é chamado de
“método do recobrimento” e pode ser usado para todos os outros fractais, mesmo para
os fractais irregulares (com pequenas adaptações). E a dimensão fractal determinada
deste modo é chamada de Dimensão de Hausdorff, em homenagem ao matemático Felix
Haussdorff (1858-1942) que primeiro introduziu essa idéia.
Box 3.3: Calculando a dimensão fractal exatamente
Nos nossos exemplos, quando você calcula a dimensão fractal pelo método do recobrimento,
você sempre chega a uma equação do tipo:
A D = C. (*)
Para obter o valor de D você precisa isolá-lo. Para isso, usamos a propriedade de que o logaritmo
de um produto de números é igual à soma de seus logaritmos:
Mas AD = A.A...A com o fator A se repetindo D vezes, se D for um número inteiro. Assim,
Mas esta propriedade (“a queda do expoente”) na verdade vale também quando D é um número
real. Usando isso na equação (*), ou seja, tirando o logaritmo dos dois lados, temos
D Log ( A) = Log (C ).
Note que estamos usando a notação em que Log é o logaritmo na base 10, apenas para que você
possa usar sua calculadora. Mas todas essas propriedades valem para logaritmos em qualquer base.
No exemplo do tapete de Sierpinsky, temos A = 2 e C = 3. Portanto, isolando D, temos:
( A fazer)