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O documento discute a evolução do ensino de História no Brasil desde sua introdução pelos jesuítas até os dias atuais. Analisa como o ensino foi usado para diferentes fins ao longo do tempo, como exaltação do Estado ou formação do cidadão. Também aborda os debates em torno dos conteúdos ensinados e como refletiam os valores e interesses de cada época.
O documento discute a evolução do ensino de História no Brasil desde sua introdução pelos jesuítas até os dias atuais. Analisa como o ensino foi usado para diferentes fins ao longo do tempo, como exaltação do Estado ou formação do cidadão. Também aborda os debates em torno dos conteúdos ensinados e como refletiam os valores e interesses de cada época.
O documento discute a evolução do ensino de História no Brasil desde sua introdução pelos jesuítas até os dias atuais. Analisa como o ensino foi usado para diferentes fins ao longo do tempo, como exaltação do Estado ou formação do cidadão. Também aborda os debates em torno dos conteúdos ensinados e como refletiam os valores e interesses de cada época.
No livro Histria e ensino de Histria, especialmente no captulo III:
Exaltar a ptria ou formar o cidado, a autora Thais Nvia de Lima e Fonseca, analisa o ensino de Histria no Brasil e as diversas formas de apropriao do conhecimento histrico dentro e fora da escola. Este captulo est dividido em dois subitens: a Histria como disciplina escolar no Brasil e Poltica, cultura e o ensino de Histria. Para a autora, o surgimento do ensino de Histria no Brasil, aconteceu atravs da Companhia de Jesus, introduzido em 1549 pelo padre Manuel da Nbrega. Antes do sculo XIX, no se pode indicar com preciso os traos do ensino de Histria no Brasil. O ensino jesuta at ento como o nico, estabeleceram diretrizes educacionais e organizaram o ensino. A princpio o objetivo era evangelizar os ndios, com o tempo se espalharam e fundaram os principais centros educacionais, oferecendo aos alunos uma forte formao religiosa e humanstica. A coroa por sua vez com o intuito de dominar a formao intelectual e assim manter o controle sobre as elites impediu a criao de Universidades no Brasil, ou seja, tendia a impor uma concepo da colonizao como uma obra voltada para a religio. A educao tinha na verdade uma funo instrumental, um objeto de exaltao do Estado no sculo XIX. Durante o governo do Marqus de Pombal, a Companhia de Jesus foi expulsa de Portugal, pois, de acordo com a autora, a poltica implantada pelo Marqus, procurava silenciar o ensino jesuta atravs da reforma educacional influenciado pelo Iluminismo, o qual buscava uma educao na ideia de progresso e de uma civilizao crente nas leis e na justia. O Estado ento deveria assumir o controle e definir diretrizes para que esse ideal de educao pudesse assumir o lugar central. Esse controle foi estabelecido pela implantao de uma burocracia estatal. O governo pombalino buscou retirar o predomnio da Inquisio sobre a vida intelectual, atravs da padronizao de livros e manuais escolares. De acordo com a autora, a educao nessa poca ainda era restrita s elites, mas no houve um avano no Brasil, pois faltavam recursos de professores e de material. Da o surgimento das instituies privadas, pois as famlias mais ricas passaram a contratar professores particulares. Para Fonseca, a constituio da Histria como disciplina escolar no Brasil, ocorreu aps a Independncia, pois at ento toda a discusso em torno do que deveria ser ensinado nas escolas, envolvia os enfrentamentos sociais e polticos
entre o Estado e a Igreja. Esta ainda estabelece relao entre o movimento
intelectual do sculo XIX e a escravido, pois o pensamento liberal definia o papel da educao, no sentido da formao de um cidado til ptria e obediente s leis, excluindo a extensa populao escrava, a populao branca e pobre e os imigrantes europeus, e tinha como objetivo a formao das elites que por sua vez mostrava- se preocupada com a possibilidade de revolta dessa populao e com suas influncias culturais que eram consideradas degeneradoras e brbaras. A educao escolar era uma possibilidade para se obter o controle sobre essa populao. Da a necessidade da construo de uma identidade nacional como forma de elaborar a Histria do Brasil e difundi-la por meio da educao, ou seja, a elite viu na mestiagem uma forma de embranquecer e construir a nao, e passar essa construo diretamente para a sala de aula atravs dos programas curriculares e dos manuais didticos. Segundo a autora, a constituio da Histria como disciplina escolar no Brasil, estava enquadrada numa concepo de Histria nacionalista e exaltava a colonizao portuguesa, a Igreja e a monarquia, conciliando os interesses do Estado e da Igreja na rea da educao e atribuindo ao Estado o controle sobre ela. Para ela, a consolidao dos contedos de estudo s aconteceu no momento em que o colgio Pedro II, criado em 1837, introduziu em seus programas curriculares, a partir de 1838, o ensino de Histria ao longo de suas oito sries, sendo ento considerado modelo para as demais escolas do Imprio. Embora j tivesse um programa de estudo, o ensino de Histria ainda necessitava de uma metodologia em que pudesse se orientar. Motivado por esse fator, Joaquim Manuel de Macedo, professor de Histria, escreveu um livro, onde definia mtodos e procedimentos a serem seguidos. A autora destaca que a partir da, houve uma maior preocupao com os mtodos empregado, podendo ser verificados nos livros didticos, onde se encontrava vrios textos de orientao para se obter um melhor resultado no ensino de Histria. Depois da reforma do sistema de ensino nas dcadas de 30 e 40, do sculo passado, houve muitas outras, todas elas buscando colocar o ensino de Histria como instrumento central da educao poltica, tendo a Histria voltada para exaltao da ptria, formando na populao o esprito de patriotismo. Em 1964, o currculo e a legislao que interessavam ao regime militar impunham uma viso de sociedade cvica, harmoniosa, visando dessa forma se adequar aos interesses do Estado, deixando o indivduo sem espao para anlises crticas, muito menos para questionamentos dessa ordem, cultuando e glorificando os grandes vultos como os nicos sujeitos histricos. Segundo a autora, com a crise do regime militar nos anos 70, o ensino de
Histria sofreu uma nova mudana, visando novas possibilidades de se pensar a
realidade brasileira, voltando o ensino para a anlise crtica da sociedade, identificando seus conflitos e os menos favorecidos como sujeitos histricos. Thais Nvia aborda que o programa curricular de Minas Gerais foi o preferido pelas editoras e foi adotado por ser considerado como uma sntese da expectativa de um ensino democrtico e participativo e que refletia o momento poltico daquela poca. O novo programa apresentado exigiria novas posturas por parte dos professores em relao concepo de Histria e educao. A Histria passou a ser vista como uma cincia, com seus mtodos prprios de estudo. Atravs dessa perspectiva de Histria, houve a necessidade do domnio de alguns conceitos pelos alunos, conceitos estes considerados fundamentais para que o ensino de Histria se tornasse diferenciado em relao ao programa tradicional. Os conceitos adotados foram: relaes sociais, modos de produo, transio, classe dominante e dominada, apropriao do excedente, entre outros. Esse programa pretendia uma mudana de viso do processo histrico por parte de professores e alunos, deixando de enfatizar os grandes fatos polticos e os grandes personagens da Histria, partiria assim para uma explicao da Histria atravs das lutas de classes e das transformaes infraestruturais, fundamentadas no marxismo. Nos meados da dcada de 90, como a autora aborda, tronou-se desejvel que os programas curriculares e os livros didticos incorporassem as tendncias da historiografia contempornea, como a histria das mentalidades e a histria do cotidiano, relacionando a qualidade do ensino de Histria com a capacidade desta de levar para o ensino fundamental e mdio, as discusses historiogrficas mais recentes no Brasil. Essas tendncias tronaram-se sinnimos de inovao no ensino e sinal de mudanas de paradigmas no ensino de Histria. Na segunda parte do texto, a autora aborda que a constituio da disciplina escolar e a organizao do ensino de Histria desde o sculo XIX, esteve envolvida em discusses polticas em destaque em diversos momentos. E que o ensino desta, ocupou um importante papel na formao moral, cvica e poltica de crianas e jovens. No entanto, o ensino de Histria no se resume somente num instrumento de legitimao de poder e exaltao do Estado, e na ao dos grandes homens como constituidora da identidade nacional, mas no se pode deixar de lado a sintonia existente entre esses valores e o universo cultural, pois o ensino de Histria trabalhava com noes e valores que tinham um alto valor formao cultural brasileira como uma forte herana crist. A identificao da populao escolar com esses valores facilitava a assimilao do ideal de formao moral e poltica que se queria transmitir at meados do sculo XX. A autora tambm destaca que a chamada ''Era Vargas'' privilegiada nas aes
do Estado no sentido de orientar o ensino de Histria para a formao moral e
poltica, pois o governo de Vargas no limitou suas estratgias apenas para o ensino escolar, mas tambm procurou atingir as polticas de preservao do patrimnio histrico e por meio de festas cvicas buscava ativar a memria da nao. A Inconfidncia Mineira e seu personagem Tiradentes, citado pela autora, como um dos episdios da Histria do Brasil que foi realado pela historiografia brasileira como representante de uma poca e regio tidos como origem da nacionalidade e cultura brasileira. Sendo assim, os livros didticos e as comemoraes cvicas atuam como intermedirios entre concepes e prticas polticas e culturais, sendo o primeiro, o principal responsvel pela permanncia dos discursos formadores da nacionalidade. Antes de 1889, a Repblica no aparecia nos manuais escolares, que a ignoravam ou minimizavam sua importncia como parte do processo de emancipao do Estado. Desse ponto de vista os republicanos no alteraram as diretrizes da historiografia ou dos manuais didticos, mas realizaram uma mudana significativa na abordagem da Inconfidncia elevada condio de smbolo da luta republicana e entronizou Tiradentes como seu heri e mrtir, numa construo fundamentada na religio. As comemoraes de 21 de abril expandiram-se e diversificou-se seguindo princpios de cunho ideolgico e poltico. Tinha como funo formar a conscincia cvica do cidado, transformando-o em uma barreira eficaz contra as ameaas ao regime. Tiradentes era usado tambm como exemplo de sacrifcio alguns jovens teriam que se submeter com o advento da guerra em 1942, para defender a ptria. Para a autora, a representao em torno de Tiradentes no universo escolar mostra como a educao em poderoso instrumento de legitimao poltica e que foi muito bem aproveitado pelos grupos que assumiram o poder em 1930. Ao final a autora destaca que h uma multiplicidade de interesses presentes na constituio do ensino de Histria no Brasil e que as relaes com o imaginrio, s representaes polticas e com a cultura escolar so multifacetadas. FONSECA, Thais Nivia de Lima e-Histria e ensino de Histria-Belo Horizonte: ed. Autentica, 2003.