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2ª Edição Corrigida
RECIFE, 1921
I
Sr. Redator
Em resposta a estas perguntas (v. 3) dos discípulos, Nosso Senhor respondeu por um
discurso muito prolongado; uma parte do discurso se acha no Evangelho de S. Lucas, e outra
parte do mesmo em Mateus. O discurso foi falado duma vez na presença dos quatro
discípulos, mas não foi escrito pelos Evangelistas senão anos depois. Depois da morte do
Senhor, o Espírito santo escolheu quatro homens para escreverem a vida de Jesus. Fazendo a
comparação destas quatro biografias de Nosso Senhor, é manifesto que dos fatos, – os
milagres, as parábolas, e os discursos do Senhor, – cada um escolheu aquilo que servia melhor
para o fim que tinha em vista.
S. Mateus escreveu especialmente para os judeus, querendo mostrar que Jesus era o
Messias e o rei dos judeus. É esta a razão porque temos nele a genealogia legal provando que
Jesus é o herdeiro legal do trono de Davi.
S. Marcos dá-nos a vida de Jesus sob o ponto de vista de ministro ou servo de Deus.
Isso explica porque não há genealogia alguma; um servo, como servo, não tem genealogia.
Explica também porque é em Marcos que se diz que o Filho do Homem não sabia o dia da sua
vinda: o servo, como servo, não sabe os tempos, o seu trabalho é obedecer sem fazer
perguntas.
Lucas escreve a vida de Jesus como homem-membro da raça humana, portanto temos
nesse Evangelho, a genealogia até Adão. É também a genealogia de Maria que é da casa de
Davi, mostrando que Jesus não é somente herdeiro do trono por ser herdeiro legal de José,
mas também é verdadeiro filho de Davi.
S. João, anos depois dos outros, escreveu a vida de Jesus como filho de Deus. Não
temos também neste Evangelho genealogia, porque como Deus Ele é eterno como o Pai.
Reconhecer, pois, que cada um dos escritores tem um certo fim, é achar a explicação
das diferenças, das omissões e do arranjo diferente do material.
Jesus no seu discurso falou tanto da destruição de Jerusalém como dos eventos do fim
do mundo. S. Lucas sob sob a direção do Espírito Santo, escolheu uma parte para dar resposta
à primeira pergunta e mostrar os eventos em relação aos cristãos. S. Mateus, ao contrário, sob
a mesma direção divina, escolheu outra parte para outro fim, a saber: responder em detalhes
às outras perguntas.
Compreender isso é evitar a confusão em que os comentadores têm caído em querer
reconciliar duas coisas impossíveis de reconciliação.
A primeira pergunta dos discípulos é: Quando sucederão estas coisas?
A resposta se acha plenamente em S. Lucas cap. XXI. Temos aí instruções para guiar
os cristãos até a destruição de Jerusalém; para salvá-los durante o sítio pelos exércitos de Tito
(os quais de fato se salvaram retirando-se para a vila de Pela antes da destruição da cidade); e
instruções para mostrar o futuro de Jerusalém pisada pelos Gentios durante os séculos até a
vinda do Senhor, com os sinais que acompanharão aquele evento. Tudo isso está
desenvolvido em Lucas; e os comentadores não têm dificuldade alguma em harmonizá-lo.
S. Mateus, pelo contrário, não falou da destruição de Jerusalém, mas escolheu na sua
própria ordem os eventos mencionados que dão resposta às outras perguntas dos discípulos.
Os comentadores de S. Mateus não repararam este fato, caíram em grande confusão
querendo fazer duas passagens dizer a mesma coisa quando falam de eventos separados um
do outro por mais de 18 séculos!!
Tudo será simples, porém, se reconhecermos que Lucas fala de uma coisa, e Mateus
de outra, enquanto Jesus falou de todas duas no mesmo discurso; tudo será simples se
reconhecermos que S. Mateus não responde a esta primeira pergunta a qual tem referência à
destruição do templo e da cidade no ano 70 A.D., mas passa a responder às duas outras. Eis a
solução do problema tão difícil par os intérpretes! A prova será perfeitamente evidente mais
adiante.
“Mas”, pergunta o leitor espantado com esta conclusão, “se S. Mateus não fala da
destruição de Jerusalém e dos cristãos, de que e de quem é que fala? Quais são estes crentes
perseguidos, se não cristãos? Qual será este Evangelho pregado para testemunho entre as
nações, se não o nosso? Quais serão estas guerras, fomes, etc., se não aquelas de que fala a
história geral do mundo até o presente?”
Paciência, meu irmão! A explicação não será difícil se já lestes os sete axiomas dos
premilenistas.
O artigo 4º do seu credo reza assim e derramará luz sobre vossas perguntas: “Cremos:
que entre o arrebatamento da Igreja e a vinda do Senhor em poder e glória, haverá um período
de sete anos, em que a última das setenta semanas proféticas de Daniel será cumprida. Este é
o tempo em que Deus há de continuar de novo a cumprir com as profecias do V. Testamento;
o cumprimento das quais foi interrompido pela morte do Messias, e a entrada deste parêntese,
chamado a dispensação da Igreja Cristã, que principiou com o Pentecostes e se findará com o
arrebatamento. Este é também o tempo, sendo tirado o testemunho da Igreja, em que Deus
entrará de novo em relações com Israel; e por meio do testemunho de um número fiel entre
eles, e também por tribulações sem iguais, preparará o povo para receber o seu Messias”. Este
povo, pois de que fala o capítulo, são os fiéis entre os judeus depois do arrebatamento da
Igreja – um povo que principiará de novo o testemunho dos discípulos de Jesus sobre o Rei e
o reino, que foi interrompido pela morte de Jesus na Cruz.
Quando os judeus crucificaram seu Messias, Deus fez entrar um novo plano ou
dispensação – a dispensação cristã. Os discípulos deixaram as esperanças de judeus para
serem cristãos.
Depois do arrebatamento da Igreja os judeus continuarão o testemunho dos 70 e dos
12 (Mt 10; Lc 10) não somente na Palestina mas no mundo inteiro.
Nosso capítulo descreve em ordem os eventos daquele tempo.
Vamos considerá-los em detalhe. A pergunta dos discípulos é: “Que sinal haverá da
tua vinda e da consumação do século?”
Notemos, em primeiro lugar, que o século cuja consumação os discípulos têm em vista
não é a consumação de nosso século ou dispensação cristã, e sim a consumação da
dispensação da lei. A esperança do V. Testamento (e eles ainda estavam no terreno do V.
Testamento) é a vinda do Messias para concluir a dispensação da lei e inaugurar o reinado
glorioso do messias. Com o Novo testamento em nossas mãos, e vivendo na dispensação atual
é difícil para nós imaginarmos outra consumação, se não a consumação da idade cristã.
Mas a idade ou dispensação da Igreja é um parêntese que tinha de entrar, correr, e
concluir-se antes do fim da dispensação judaica. Há uma semana de anos cheia de
acontecimentos que depois do fim da dispensação atual, começará a correr.
O cumprimento das profecias do V. Testamento foi interrompido quando a nação
judaica rejeitou o seu messias.
O relógio profético parou e ficou parado até que Deus complete os seus planos sobre a
Igreja. Quando, porém, a Igreja, que tem esperança e posição celestiais, estiver completa,
Deus começará de novo a trabalhar – a marcar o tempo. Há mais uma semana profética para
correr antes do tempo de benção para os judeus e para a terra.
Este capítulo descreve em ordem os acontecimentos dessa semana. A prova de que os
discípulos contemplaram, na sua pergunta, a dispensação judaica, se acha no fato de que não
sabiam nada de outra. A doutrina da Igreja Cristã ainda não estava desenvolvida. Temos
apenas uma profecia no cap. XVI em que Jesus disse no futuro: “Edificarei a minha Igreja”.
Temos no V. Testamento tipos que dão sugestões da posição e caráter da Igreja, como:
Moisés rejeitado pelos seus irmãos, quando se ofereceu pela primeira vez como libertador; o
seu retiro e casamento com uma noiva gentia; e depois foi aceito pelo seu povo. Outro tipo se
acha no casamento de José com noiva gentia enquanto está rejeitado pelos irmãos. Depois
estes irmãos arrependidos curvam-se diante de José, a família está abençoada, e todo o mundo
reconhece José como Salvador.
Mas estes são somente tipos precisando da luz no Novo Testamento para sua
interpretação. A doutrina de que a Igreja é o corpo e noiva de Cristo e tem esperanças e
posição espirituais e celestiais, está explicada claramente só nas epístolas de S. Paulo.
Ainda depois da morte de Jesus os discípulos perguntaram: “Senhor, dar-se-á caso que
restituas neste tempo o reino de Israel?” Ele não disse que suas esperanças eram sem base;
mas somente que não era o tempo para isso. Negar que os discípulos tinham base para suas
esperanças era negar o V. Testamento.
Ele não explicou, como muitos comentadores estão fazendo hoje em dia, que as
promessas feitas à nação judaica têm seu cumprimento num sentido espiritual na Igreja.
Não, todas serão literalmente cumpridas depois do correr desta idade cristã quando
voltar o Senhor.
O moderador do primeiro Presbitério explicou o plano de Deus e a ordem dos eventos.
Atos XV.
Havia dois partidos no Presbitério. Um com as Escrituras nas mãos. Eles contenderam
que embora as suas Escrituras prometessem a benção da salvação aos gentios, era sob a
condição de guardarem a lei mosaica.
O outro não tinha escritura para apresentar, mas testificava que Deus estava
convertendo alguns dos gentios sem eles guardarem a lei. Por isso temos o que Deus disse na
sua palavra contradizendo o que está fazendo agora pelo seu Espírito, que abençoa a pregação
de Paulo e dos mais e salva os gentios sem a lei mosaica.
O moderador disse: não há contradição, mas uns e outros têm razão. As Escrituras
declaram que o tempo da bênção para o mundo gentílico é depois da restauração dos judeus
para sua própria terra debaixo do seu Messias, que os gentios têm posição e privilégios
inferiores aos judeus.
A explicação é: “Que Simão tem contado como Deus primeiro visitou aos gentios,
para tomar deles – (não todos, mas uma parte deles somente) – um povo para o seu nome”.
É a Igreja – uma eleição – uma Eclésia chamada para fora da massa; é a esposa do
Cordeiro (vede as noivas de Moisés e José durante a rejeição pelo seu povo) que Deus está
tirando agora.
“Depois disto” – depois de completar a Igreja – “eu voltarei e edificarei de novo o
tabernáculo de Davi”. Depois do parêntese, o Senhor voltará em poder e glória e restaurará a
Israel o reino e então “todas as gentes” buscarão a Deus.
Este parêntese tem continuado por mais de dezoito séculos e há de continuar até o
arrebatamento da Igreja.
Depois do arrebatamento, teremos outro povo para representar a Deus neste mundo: os
fiéis entre os judeus. Outro Evangelho pregado entre as nações; o Evangelho do Reino; outra
tribulação pior do que a destruição de Jerusalém: a tribulação que é chamada nas Escrituras –
“a tribulação, a grande”.
Este capítulo XXIV de S. Mateus descreve as perseguições deste povo, dá instruções
para guiá-lo durante “a grande tribulação” e mostra seu final livramento pela vinda de seu
Messias.
III
Agora chegamos aos sinais que visam instruir o povo de Deus naqueles dias perigosos.
Deus em misericórdia que prevenir os escolhidos contra os sinais falsos.
Nos vs. 23-25 lemos: “Então, se alguém vos disser: Olhai, aqui está o Cristo, ou, Ei-lo
acolá: não lhe deis crédito. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão
grandes prodígios, e maravilhas tais que (se fora possível), até os escolhidos se enganariam”.
Estas palavras não se podem aplicar aos crentes no fim do século cristão. Porque o crente, – o
cristão verdadeiro – é um cristão pelo fato de crer que o Cristo já veio, e este Cristo é Jesus
(1Jo 4.2-3, 14-16).
A esperança da nação judaica, porém, é a vinda do seu Cristo ou Messias. Não se pode
enganar o crente, por mais ignorante que seja, com um falso cristo. Mas um povo crente em
Jeová esperando o Messias segundo as promessas do V. Testamento pode ser enganado por
falsos cristos e falsos profetas, – especialmente quando esses falsos, pela virtude de Satanás,
obrarão milagres r grandes prodígios. Os fiéis, porém, são prevenidos aqui pelos sinais certos,
para saberem a vinda do Messias verdadeiro: 1º, versículo 26, não será necessário possuir
muito juízo e tino para decidir porque não será num lugar retirado que Ele virá, mas 2º, (v. 27)
abertamente como o relâmpago – bem visível a todos; e 3º, (v. 28) o ponto de sua chagada
neste mundo será o lugar onde estiverem se ajuntando as águias (aves de rapina, Jó 39.27-30)
para comerem o corpo morto (que será os exércitos da Besta, Ez 39.17.19; Ap 19.17-18) o
qual matará pela glória de sua presença. Ele vem para julgar os inimigos deles, e podem saber
que onde estes estiverem virá primeiramente Jesus. Cientes dos sinais verdadeiros estão
prevenidos contra qualquer sinal falso. O que será mais difícil, o que será mais importante
para eles no seu aperto, não é o conhecimento de sinais e sim agüentarem tudo até ao fim –
até a chegada do seu Libertador.
No v. 29 temos os sinais do mundo físico que acompanharão a sua vinda: Sinais no
sol, na lua e nas estrelas, como se toda a natureza estivesse para cair em ruínas. Comparando
estas palavras com passagens semelhantes nas profecias do V. Testamento, achamos que
podem ser figurativas tanto como literais. Muitas vezes estes corpos que governam o dia e a
noite são figuras de homens ou sistemas salientes no mundo religioso ou político. Tudo estará
em anarquia e confusão naqueles dias. Trevas prevalecerão piores do que a escuridão que
precedeu a aurora da Reforma. Anarquia mais terrível do que nos dias da Revolução Francesa.
Como disse o profeta (Is 60.2): “Eis que as trevas cobrirão a terra e a escuridão os povos,
porém sobre ti (Jerusalém) o Senhor virá nascendo e a sua glória se verá sobre ti”.
No v. 30, “E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e então todos os
povos chorarão”. O sinal do Filho do homem é o Filho do homem mesmo, que virá sobre as
nuvens do céu. Não haverá outro e isto é o bastante. Quando os “os povos da terra” – deve
ser tribos da terra (da Palestina) – virem que o Filho do homem, que vem em seu socorro, é
Jesus, o mesmo que eles crucificaram, chorarão. O profeta Zacarias (12.10-14) falou deste
mesmo tempo: “Olharão para mim, a quem traspassaram: e farão pranto sobre ele, como o
pranto sobre o unigênito”. Será o antítipo daquela reunião no Egito quando os irmãos de José,
arrependidos do pecado, foram reconciliados com José e salvos por ele.
No v. 31, “E enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os
seus escolhidos”. Depois de ter destruído os exércitos que ameaçavam o seu povo (v. 28, e
também Ap 19) enviará anjos para ajuntarem os seus escolhidos segundo Isaías 27.12-13:
“Um a um desde as correntes do rio (Eufrates) até ao rio do Egito. E será naquele dia que se
tocará uma grande trombeta, e os que andavam perdidos pela terra da Assíria e os que foram
desterrados para a terra do Egito tornarão a vir”. Assim como José mandou ajuntar debaixo de
sua proteção toda a sua família.
Nos vs. 32-34, temos outros sinais. Estes para mostrarem a rapidez com que tudo será
consumado. A “figueira” é um símbolo de Israel. “Quando os seus ramos estão já tenros e as
folhas têm brotado, sabeis que está perto o estio”. O estio na Palestina é o tempo de colher os
frutos. Quando a figueira tem folhas, tem também ou deve ter o seu fruto maduro. Pois o
sentido é que logo depois do princípio destes acontecimentos (“quando vós virdes tudo isso”:
a abominação de desolação no lugar santo etc.) chegará o tempo frutífero para Israel. São
sinais da chegada do verão do mundo que tem passado por tantos séculos de inverno, – frio,
chuvas, misérias. O tempo quando Israel encherá a terra de frutos para a glória de Deus.
No v. 34, “Na verdade vos digo que não passará esta geração sem que se cumpram
todas estas coisas”. A geração que vê o princípio destas coisas verá também o fim e a
consumação feliz. Achamos esta interpretação melhor visto que Jesus queria mostrar a
rapidez de tudo. Mas a palavra traduzida geração tem também o sentido de raça ou nação.
Vede Sl 112.2 (Almeida); Pv 30.11-14; Dt 32.5, 20; Mt 12.30, 41, 42, 45. Então a
interpretação será: que a nação judaica não passará sem que se cumpram todas estas coisas.
Deus tem milagrosamente preservado a vida da nação judaica durante todos estes séculos; e
nestes últimos anos mais judeus têm voltado para a Palestina do que no tempo de Esdras e
Neemias. Mais do que isto, há presentemente um movimento entre todos os judeus do mundo
para comprarem a Palestina, com o fim de possuir outra vez sua própria pátria.
O que é de admiração é que neste movimento os mais salientes são os judeus
reformados, – que são materialistas, já tendo renunciado às esperanças do Messias, e que
querem pelo dinheiro e alianças com os poderes da Europa arranjar o negócio. A significação
disso é que uma parte da nação voltará na incredulidade, involuntariamente cumprindo com as
profecias sobre o anticristo, enquanto a maioria – judeus ortodoxos que guardam a lei mosaica
até hoje tão fielmente como no tempo de Jesus, – serão restaurados pelo poder de Deus depois
da vinda do Messias.
No v. 35, “Passará o céu e a terra, mas não passarão as minhas palavras”. Toda a
palavra de Deus há de ser cumprida literalmente sobre este povo que Ele escolheu, e guardou
separado das nações por três mil anos. Não será mais difícil e admirável cumprir aquilo do
que ter cumprido isto! Ambos são milagres. O fato de ter Ele milagrosamente preservado esta
nação por tantos séculos, dá-nos certeza de que cumprirá literalmente as promessas a respeito
da sua restauração.
Frederico da Prússia pediu que um ministro do Evangelho lhe desse, em uma palavra,
a prova da veracidade e inspiração das escrituras. O ministro respondeu: o judeu.
Não há outro meio de explicar a sua existência e separação de todos os povos durante
tantos séculos senão o desígnio e propósito de Deus a respeito dele, e as promessa
concernentes a ele que se acham nas Escrituras. A história admirável do judeu estabelece a
veracidade da Bíblia onde estão as profecias sobre ele; e a Bíblia mostra o futuro deste povo
milagroso. Crer, pois, na sua restauração literal e no cumprimento literal das suas promessas
não é mais difícil do que crer nas Escrituras cumpridas.
A Igreja Cristã admite que todas as profecias de maldições sobre a nação judaica
pertencem literal e propriamente ao judeu, mas ela quer furtar e aplicar a si todas as
promessas de benção terrestre: a paz, as riquezas, a prosperidade, o mundo governado e
dominado pelos crentes, etc. o resultado deste roubo e aplicação à Igreja Cristã das promessas
de Israel tem sido medonho. Destruiu a espiritualidade da Igreja e substituiu a esperança do
Filho do céu por esperanças terrestre: como a conversão do mundo e reformas políticas e
sociais. Ensinou aos crentes que a perseguição é uma coisa estranha e que não era para isso
que fomos chamados (1Pe 2.21; 4.12). Mudou a Igreja dos Apóstolos em igreja romana, as
igrejas da reforma em instituições e servas do Estado, as igrejas evangélicas em edificadoras
de templos, seminários e hospitais como o trabalho próprio da Igreja. Querendo enfeitar as
cidades que, apesar da presença destes edifícios cristãos, tornam-se, a cada ano, cada vez mais
corruptas e mais cheias de iniqüidade. Esperam por meio destes enfeites, levedar e converter
para o Cristo, o cristianismo que todos os anos mais se aproxima da moralidade do
paganismo.
Não se pode confundir as dispensações. O que era próprio para o povo de Deus
antigamente, não é necessariamente a regra para nós hoje. O que era a sinagoga de Deus
debaixo da lei é hoje a sinagoga de Satanás.
Os vs. 36-41 mostram que o fim chegará sem o mundo aperceber e quando o não
esperar. Será como no tempo de Noé. “Porque assim como nos dias antes do dilúvio estavam
comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na
arca, e não o entenderam enquanto não veio o dilúvio, e os levou a todos; assim será também
a vinda do Filho do homem”. Estas palavras podem ter aplicação à Igreja e ao estado das
coisas antes e na ocasião do arrebatamento, mas a interpretação própria – o paralelo perfeito é
a vinda do Filho do homem com os santos. O arrebatamento de Enoque é o tipo do
arrebatamento da Igreja. Noé, porém, representa o povo judaico que fica aqui durante o tempo
do juízo e protegido pelo poder de Deus. Como na arca, passará pela tribulação para continuar
a viver numa terra purificada pelo juízo.
Nos vs. 40-41 o juízo vem repentinamente, mas haverá discriminação entre as pessoas.
Somente os maus serão destruídos, ao passo que os bons ficarão para benção. O homem e a
mulher tomados serão aqueles apanhados pelo juízo assim como o mundo incrédulo levado
pelo dilúvio. O homem e a mulher, deixados, serão deixados para o reino milenário, assim
como Noé e sua família foram deixados para entrarem num mundo purificado e abençoado .
Vs. 42-44, tanto o tempo da vinda do Filho do homem como a vinda do Nosso Senhor
para receber a sua Igreja não está revelado, por isso convém que todos estejam prontos.
Para o mundo a sua vinda será como ladrão entrando numa casa e quando ninguém o
espera. Convém que todos vigiem.
*
* *
Mas antes de botar um ponto final permita que digamos mais uma palavra. Temos
trabalhado a fim de fazer mais claras algumas passagens confessamente difíceis.
O capítulo XXIV de S. Mateus, na sua relação com o resto do Evangelho, é para
intérpretes e estudantes da Palavra o mesmo que as serras entre o Rio e S. Paulo eram para os
engenheiros que fizeram a linha de exploração da estrada de ferro.
Ouvimos dizer que o governo procurava por muito tempo engenheiros que pudessem
garantir uma linha praticável – linha que pudesse ser construída com um dispêndio razoável
– entre as duas cidades. A dificuldade estava nas serras. Uma parte do caminho era fácil. Era
fácil saindo do Rio, chegar ao pé das serras. Era igualmente fácil deixando as serras chegar à
cidade de S. Paulo, mas achar uma linha contínua que passando pelas serras, se estendesse do
Rio até S. Paulo, era o que custava.
O mesmo se dá com este Evangelho. É fácil compreender tudo até o capítulo XXIV. É
fácil ir daí até ao fim; mas achar uma interpretação coerente e em harmonia com o resto da
Bíblia, – achar uma linha contínua através da serra deste capítulo, é difícil.
Temos achado esta interpretação, embora rude e imperfeita,...
Temos apenas mostrado o lugar para a passagem da linha.
Mas não tomamos para nós crédito algum. Tudo é devido ao excelente instrumento
que usamos na exploração – uma bússola que não é invenção nossa, cuja agulha sempre
aponta para a vinda do Senhor.
Reconhecer a relação própria desta vinda para com os outros acontecimentos é a
bússola para guiar o engenheiro bíblico.
Agora pedimos a um irmão que escreva melhor a sua língua, e conheça mais
profundamente a Bíblia, que, servindo-se desta rude exploração, construa uma estrada real
sobre as serras deste capítulo – uma estrada pela qual nosso povo possa passar comodamente.