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Este documento apresenta uma entrevista com Helena Silvestre, militante do Movimento Luta Popular. Na entrevista, ela discute o trabalho do movimento, incluindo suas principais lutas por moradia, transporte e serviços públicos de qualidade para as comunidades periféricas de São Paulo. Ela também aborda os desafios de construir uma prática militante unificada e os esforços dos movimentos sociais para denunciar a criminalização e violência contra ativistas.
Descrizione originale:
Entrevista com Helena Silvestre (nome de militância) tem 26 anos. Nasceu em Mauá, uma cidade bem pobre do ABC Paulista, região metropolitana de São Paulo. Começou a militar aos 13 anos na Juventude Operária Católica (JOC), onde aconteceram meus primeiros contatos com a esquerda. Depois, participou – junto com a JOC e um colegiado de organizações da cidade – da construção do Espaço Che Guevara de Lutas e Culturas Populares. No ano de 2003, iniciou sua militância no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que conheceu durante o processo de preparação da ocupação Santo Dias, ocorrida em 2003, em São Bernardo do Campo. No MTST, atuou no setor de formação política, articulação e comunicação. No final do ano de 2010, por ter acumulado diferenças importantes no que diz respeito à estrutura de organização e funcionamento interno, deixou o MTST e hoje se dedica a construir com um coletivo de outros companheiros e companheiras, ainda restritos ao estado de São Paulo – o movimento LUTA POPULAR
Este documento apresenta uma entrevista com Helena Silvestre, militante do Movimento Luta Popular. Na entrevista, ela discute o trabalho do movimento, incluindo suas principais lutas por moradia, transporte e serviços públicos de qualidade para as comunidades periféricas de São Paulo. Ela também aborda os desafios de construir uma prática militante unificada e os esforços dos movimentos sociais para denunciar a criminalização e violência contra ativistas.
Este documento apresenta uma entrevista com Helena Silvestre, militante do Movimento Luta Popular. Na entrevista, ela discute o trabalho do movimento, incluindo suas principais lutas por moradia, transporte e serviços públicos de qualidade para as comunidades periféricas de São Paulo. Ela também aborda os desafios de construir uma prática militante unificada e os esforços dos movimentos sociais para denunciar a criminalização e violência contra ativistas.
MOVIMENTO LUTA POPULAR Interview with Helen Silvestre Militant of the Peoples Struggle Movement
Maria Beatriz C. Abramides 2,3
Maria Lcia Duriguetto 4 1
Helena Silvestre (nome de militncia) tem 26 anos. Nasceu em Mau, uma
cidade bem pobre do ABC Paulista, regio metropolitana de So Paulo. Comeou a militar aos 13 anos na Juventude Operria Catlica (JOC), onde aconteceram meus primeiros contatos com a esquerda. Depois, participou junto com a JOC e um colegiado de organizaes da cidade da construo do Espao Che Guevara de Lutas e Culturas Populares. No ano de 2003, iniciou sua militncia no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que conheceu durante o processo de preparao da ocupao Santo Dias, ocorrida em 2003, em So Bernardo do Campo. No MTST, atuou no setor de formao poltica, articulao e comunicao. No final do ano de 2010, por ter acumulado diferenas importantes no que diz respeito estrutura de organizao e funcionamento interno, deixou o MTST e hoje se dedica a construir com um coletivo de outros companheiros e companheiras, ainda restritos ao estado de So Paulo o movimento LUTA POPULAR. 2 Maria Beatriz C. Abramides e Maria Lcia Duriguetto so Coordenadoras do GT Servio Social e Movimentos Sociais. 3 Professora do Curso de Servio Social da Faculdade de Cincias Sociais da PUCSP, Presidente da Apropuc-SP. E-mail: <biabramides@gmail.com>. 4 Professora Adjunta da Faculdade de Servio Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). E-mail: <maluduriguetto@gmail.com>. Temporalis, Brasilia (DF), ano 11, n.21, p.271-280, jan./jun. 2011.
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Helena, fale um pouco da organizao que hoje voc milita,
destacando suas lutas e principais desafios. Eu, hoje, ajudo a construir um movimento chamado Luta Popular. tudo ainda muito incipiente porque o movimento est bem no comecinho. Atuamos nas regies perifricas de So Paulo fortalecendo, unindo e estimulando lutas por uma srie de bandeiras que, em poucas palavras, expressam todas as carncias que tm o povo mais pobre do nosso pas. Na Luta Popular, no h uma nica bandeira ou uma reivindicao principal; em cada comunidade partimos da realidade e de problemas especficos para nos organizar. Nisso tudo, o que mais nos interessa construir formas coletivas de discusso, deciso e ao nos bairros. Estamos quase que construindo clulas (risos!), tentativas de repor a capacidade perdida de imaginar um mundo e um dia a dia diferentes e isso constitudo de uma maneira que nos permita discutir o poder popular, que a capacidade de os trabalhadores se organizarem de forma autnoma, em busca de uma vida mais digna e mais justa para todos e todas, valendo-se apenas da fora que temos nas prprias pernas. S estes j so desafios absurdamente grandes porque vivemos um momento em que as lutas mais importantes da nossa histria so uma memria preservada apenas na memria de alguns punhadinhos de gente. Alm disso, temos o imenso desafio de tentar avanar em uma prtica militante diferente, que comporte as diferenas de ideias, as divergncias frente aos debates, os distintos nveis de entrega que cada qual pode dar sem perder uma
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plataforma que tenha na perspectiva revolucionria o seu
horizonte e que seja capaz de com tudo isso garantir unidade de ao. Quais as principais lutas hoje dos Movimentos Sociais no pas? at difcil enumerar. Embora o momento seja difcil, creio que as lutas dos movimentos urbanos por habitao, transporte coletivo de qualidade e acessvel a todos e todas, sade e educao de qualidade, acesso cultura, enfim, por um outro modelo de cidade e de sociabilidade urbana so muito importantes. Da mesma forma que so to importantes quanto elas a luta no campo, seja dos trabalhadores rurais sem terra, seja dos assalariados rurais. E h ainda as lutas dos movimentos de mulheres, GLBTT, movimento negro e indgena. Enfim, como as ferramentas de unidade das organizaes de base tem tido dificuldades severas de florescer no cenrio poltico atual, as muitas lutas e bandeiras quase sempre representam muitos movimentos e organizaes. Todas estas lutas so centrais no pensamento que deseja uma nova sociedade. Agora, conjunturalmente, acho que os movimentos urbanos vivem um momento que lhes empurra s ruas por conta das grandes obras (PAC, Olimpadas, Copa etc.) que, por sua vez, iro impactar de uma maneira tal que ainda nem temos a dimenso na estrutura de nossas cidades e, consequentemente, na vida das pessoas. Acho tambm que temos tido importantes lutas defendendo o direito de fazermos luta. A coisa est brava!
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Qual a importncia dos Movimentos Sociais classistas na luta por
suas reivindicaes imediatas e histricas para a construo do socialismo, includas a a perspectiva internacionalista? So de importncia central. A classe toma conscincia de si durante os processos de luta e auto-organizao, portanto as lutas acontecem antes que a classe tenha conscincia de classe. Como assim? Exatamente nos movimentos que os vrios setores dos trabalhadores fazem buscando reivindicaes que so, na maioria das vezes, bastante limitadas. Nenhum trabalhador sai s ruas (embora eu sonhe com isso) hoje, pra fazer revoluo. Mas sai por moradia, por salrio, por creche, enfim. Os movimentos e as reivindicaes imediatas so um dos momentos da constituio da classe enquanto classe e da descoberta da identidade coletiva que antecede a classista que aquela ideia mais elementar que se mostra aos trabalhadores quando eles percebem que vivem os mesmos problemas. Mas h sempre a tenso histrica de partir destas lutas imediatas para ultrapass-las; a tenso de conseguir conectar a falta de comida ou de casa com a forma que o mundo est organizado no capitalismo. E isso coloca o rompimento com um certo umbiguismo dos movimentos lado a lado com a necessidade do internacionalismo. Mas as revolues so feitas por homens e mulheres que, em geral, iniciam as rebelies pedindo apenas o mnimo por no suportarem mais a explorao brutal. Este o papel dos movimentos numa perspectiva classista e revolucionria: trabalhar para pr em movimento uma classe que no est para que ela possa no interior do processo
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reconhecendo-se como classe assaltar o cu e tudo ganhar
para todos. A criminalizao aos movimentos sociais tem aumentado a cada dia, bem como os assassinatos de trabalhadores do campo e da cidade. Quais tm sido as principais aes dos movimentos sociais para denunciar e barrar esses ataques? Bem, acho que h algumas iniciativas que so (embora ainda muito insuficientes) interessantes, em que pese os problemas e dificuldades de toda a tentativa. H articulaes como O Tribunal Popular, A rede contra a violncia vrias redes de defesa dos direitos humanos. Acontece que a recorrncia dos assassinatos e a truculncia cada vez maior, deixam claro que no estamos em condies de travar um embate com o estado neste e em outros temas. Nossos meios de comunicao no so populares (do ponto de vista de chegar aos trabalhadores no organizados), nossa diviso nos enfraquece e a democracia nos acostumou a tomar bem poucos cuidados com nossa segurana. Somamos a isso uma conjuntura retrgrada em que de to conservadora que est nossa sociedade somos obrigados a ver o debate sobre a descriminalizao do aborto ser realizado nos termos da Ku Klux Klan pelos candidatos a presidncia. Ento, acho que os movimentos tm tentado fazer, tm tentado experimentar formas de defesa e instrumentos de denncia, mas tudo isso muito pequeno frente mo de ferro do estado burgus. Temporalis, Brasilia (DF), ano 11, n.21, p.271-280, jan./jun. 2011.
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Percebemos que os movimentos sociais vm desenvolvendo
aes caracterizadas pela fragmentao e pelo espontanesmo de suas lutas e demandas. Que caminhos voc aponta para a superao dessas aes e para a criao de agendas de lutas unitrias e com direcionamento poltico classista? Acho que de to grande que este problema acabei falando um pouco sobre isso antes. Mas pensando a superao desta situao, creio que os movimentos devem ter em sua agenda o trabalho e a construo de base como um ponto fundamental para isso. Falo dessa forma porque as pessoas no so fragmentadas, o companheiro gay sofre com a falta de nibus, no tem moradia, superexplorado no trabalho e nunca vai conseguir entrar em uma universidade pblica. Muitas das respostas viro com nosso retorno s bases, problemas novos surgiro, porm, como ainda acredito que a cabea pensa conforme o cho que os ps pisam, so eles que permitiro no s aos trabalhadores, mas tambm s organizaes perceber que o que nos unifica maior que o que nos divide. Acho que as agendas de luta devem ser fruto da integrao real das organizaes em sua construo diria, em seu trabalho mais simples. Se as agendas de luta vierem artificialmente para fazer uma mdia com o discurso da unidade, estaremos sempre a brigar nas reunies preparatrias dos atos para ver quem fala ou no no carro de som. Como voc avalia a relao entre os movimentos sociais hoje? [A relao] no est s mil maravilhas, mas existem germens importantes. O debate de unidade entre
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movimento sindical e popular tem adquirido alguma fora.
Isso muito importante porque, como j disse antes, esta uma diviso artificial, os trabalhadores so os trabalhadores, ora. Outro importante debate o de como a ideia de um campesinato est desconexa do que vem representando o agronegcio, o que significa televisores em 99% dos lares e o que assalariamento rural. Ou seja, o campo tem ficado cada vez mais parecido com a cidade de maneira que precisamos e podemos nos unir cada vez mais. O problema que estes debates vm quando estamos j muito fraquinhos, quando j batemos muita cabea pensando o contrrio. A, todos os melindres, disputas e vcios acompanham as discusses e tentativas que fazemos nessas relaes de aproximao entre movimentos. Vrias direes de movimentos sindicais e populares foram cooptadas, tornando-se governistas, estadistas, notadamente a partir do Governo Lula. Como voc analisa a possibilidade de retomada da autonomia e independncia classista, to caras ao movimento social combativo? Vejo que isso ainda demora um pouco na medida em que este governo conseguiu construir um consenso social de que tudo est melhorando. claro que as lideranas se deixaram cooptar e abandonaram em muitos casos tudo aquilo em que acreditaram por dcadas, mas s se mantm ainda como lideranas porque o povo engoliu essa ideia de avano, de todos somos ou podemos ser classe mdia. Temporalis, Brasilia (DF), ano 11, n.21, p.271-280, jan./jun. 2011.
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Se a esquerda retomar o contato com o trabalho de base,
buscar novamente desenvolver formas de fazer com que nosso projeto de mundo dialogue com o povo, daremos um grande passo que ser potencializado quando as crises chegarem (e elas chegam) e o povo, gritando po enquanto suas lideranas comem brioches. Neste momento, firmamse com mais clareza os princpios de autonomia e de luta. No falo de uma crise final do capitalismo; falo de uma crise como as muitas que ocorrem e ocorrero pela prpria natureza do sistema e que deixar um pouco mais pesado o chicote que pesa nas costas dos pobres. Que avaliao voc faz da proliferao das igrejas em seus impactos nos processos de mobilizao e organizao popular? Primeiramente, vejo a proliferao das igrejas como um complemento (reao sistmica) da profunda individualizao, perda de valores e referenciais morais e ticos. Isso est bem relacionado com a precarizao da vida material, com a indstria cultural, com o apelo de consumo e com o ideal de progresso a que nossa sociedade est submetida. Mas e agora vem a polmica no acho que podemos nos dar ao luxo de ignorar a f e a religiosidade ao pensarmos na organizao popular. uma coisa que est l; em toda favela que no tenha nada, tem um boteco e uma igreja e ns no temos como competir com isso. Tambm no d para discursar nos carros de som por a que deus est morto. Este um tema que precisamos refletir de forma crtica e no sectria. Pensar porque as pessoas buscam a religio, o
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que elas encontram l que no encontram na luta, por
exemplo. claro que isso no implica a gente virar pastor ou padre, mas, por exemplo, para que a gente perceba que na militncia tem de haver espao para afetividade, para acolhimento, o direito ao erro, enfim. Este um papo que merece um dia todo. Como voc v a relao e a aliana entre os Movimentos Sociais e Servio Social? Vejo como estratgicas porque o servio social no lida s com as pessoas em situao de rua (como aparece no esteretipo da profisso), o servio social, hoje, lida com milhares de trabalhadores que precisam se organizar. O projeto tico-poltico da profisso esbarra, no entanto, nos limites do estado burgus com uma poltica neoliberal. Neste sentido, s unido os usurios do sistema de garantia de direitos (que so a base dos movimentos populares) aos assistentes sociais que se pode avanar em polticas que sejam construdas com base nas necessidades apontadas em luta pelos trabalhadores. Qual tem sido sua experincia concreta na relao entre movimento social e assistentes sociais? Que aprendizados podemos tirar dessa relao para a luta dos trabalhadores? Tenho tido milhares de experincias: algumas lindas; outras horrorosas. Mas vou citar uma, em particular, porque ela atual. Fizemos uma discusso da luta popular com um companheiro que assistente social e que est comeando Temporalis, Brasilia (DF), ano 11, n.21, p.271-280, jan./jun. 2011.
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a militar conosco. Nosso desafio foi pensar em como,
enquanto assistente social, ele poderia construir a luta. Chegamos a vrias possibilidades: Discutir e informar s comunidades que organizamos sobre o sistema de garantia de direitos ao mesmo tempo em que criticamos duramente o estado e suas polticas. Falar dos programas sociais e, ao mesmo tempo, dizer que neles no cabem todos por conta de nossa sociedade ser como . Cham-los luta com a legitimidade de quem conhece o sistema por dentro e sabe que ele no vai resolver o problema. Tambm, a partir do lugar em que ele trabalha, vamos construir uma rede clandestina de contatos com outras assistentes de luta para atuarmos em suas regies. Quando uma assistente souber de um despejo, ela nos avisa e ns chegamos antes da polcia para organizar a resistncia. Coisas assim.
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