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Deixar a luz do quarto acesa

Martim Avillez Figueiredo

i, 07 de Janeiro de 2010

http://www.ionline.pt/conteudo/40716-deixar-luz-do-quarto-acesa

E pronto: ao segundo dia todos aqueles que zombavam uns dos outros nas cadeiras
do parlamento deram as mãos para atacar o que apontam como o grande problema
do Estado: a despesa. A brincadeira em que está a cair a política nacional
ultrapassa todos os limites. Mas assuma-se, em benefício dos políticos nacionais,
que o problema é de facto novo e que não poderia ter sido atacado antes. Ou seja,
dê-se o almoço grátis a estes parlamentares e leve-se a sério a pretensão de que
agora, recorrendo a cartas escritas num tom formal e rigoroso, estão de facto
sintonizados no ataque ao despesismo e, por consequência, no ataque ao défice
externo - dois dos graves problemas de Portugal.

Para começar, claro, é preciso recordar o essencial: um Orçamento do Estado é


uma proposta sobre a forma como se pretende usar o dinheiro dos contribuintes.
Não é assunto definitivo, é tema para fazer, sobretudo, uma pergunta - onde se
poderia gastar o mesmo dinheiro? Ou seja, um orçamento não é um imperativo - é
um desejo político que pode, e deve, ser discutido. Isto dito, sugira-se um caminho
para a discussão.

Um: O problema de Portugal é que gasta mais do que aquilo que ganha. Não é
único - acontece o mesmo noutros países. Mas isso gera défice. Esse défice pode
ser bom ou mau. Isto é, se os gastos que provocam défice forem de investimento
(ou seja, apontados a gerar retorno) isso pode ser bom. Só é preciso discutir se
esse investimento é certeiro. Se os gastos, pelo contrário, forem no célebre
consumo intermédio - o nome pomposo para essa despesa estúpida (água, clipes,
papel, luz...) - então o défice é mau. Aplique-se a lógica das famílias: se os gastos
forem maiores do que o salário para financiar jantares fora ou para manter as luzes
da casa todo o dia ligadas, é despesa estúpida. Se o salário não chegar para enviar
os filhos estudar no estrangeiro (e se recorrer ao crédito), é despesa virtuosa.

Dois: O pacto proposto pelo PSD consiste em apontar quatro grandes prioridades:
cortar nessa despesa estúpida do Estado, reduzir o recurso a endividamento,
potenciar a poupança das famílias e, finalmente, diminuir o endividamento externo.
Se a primeira é evidente, as três últimas obrigam a explicar este fantasma do
endividamento externo - na verdade, ele significa simplesmente que Portugal
precisa de ir buscar dinheiro lá fora para cobrir as suas necessidades. Como se uma
empresa precisasse de pedir dinheiro a um país qualquer para pagar os seus
salários (o que na verdade está a acontecer). Isto sucede porque não existe
dinheiro disponível no país para cobrir os gastos. Não existe mesmo. Em números,
a quantidade de dinheiro que vem de fora - e que circula nas mãos nacionais - é já
equivalente a mais de metade de todo o dinheiro movimentado. Isso: mais de
metade das notas que tem na carteira vieram de fora. E vindas de fora, custam,
elas próprias, dinheiro (em juros)!

Três: Resolver esta equação obriga, por isso, a cortar agressivamente nos gastos
estúpidos e em forçar a poupança privada. Isto é, assegurar que do dinheiro que
circula em Portugal a grande parte vem da poupança dos portugueses. Depois,
obriga a descobrir que dinheiro se vai aplicar em investimento - na expectativa de
que gere retorno positivo.

Quatro: Numa família, estas decisões obrigam quase sempre a demoradas (e


muitas vezes estimulantes) conversas. Gasta-se ali, poupa-se aqui. Num Estado,
essa regra deveria ser elevada à décima potência. O dinheiro não lhes pertence.
Aqui no i dedicaremos boa parte das próximas edições a discutir isso mesmo: onde
se deve gastar, onde se deve poupar. Queremos contribuir para apagar as luzes
dos quartos vazios.

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