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Igreja Presbiteriana do Brasil

Aláuli da Silva Oliveira

Aracaju
2005
Aláuli da Silva Oliveira

Batismo Infantil: Pais e filhos no pacto da graça

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Escola de Superior
de Teologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie como
requisito parcial à obtenção do grau
de Bacharel em Teologia.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Edson Lopes

São Paulo
2007
Agradecimentos

A minha esposa, Rachel Oliveira, por causa do amor que a cada dia me tem

dedicado, por seu companheirismo e por seu auxílio idôneo. A Chel é, em minha

vida, um instrumento de Deus para o meu crescimento como homem cristão e como

o cabeça da minha casa. Ela, ainda que sem saber, me motivou a fazer este

trabalho. Minha esposa fez-me notar a importância de saber o porquê de batizar as

crianças, sobretudo nossos filhos, e o que isso acarretaria para elas próprias e para

seus pais. De certa forma a Chel, minha esposa amada, é co-autora desde trabalho.

A meus pais Ricardo e Cineide Coelho por estarem sempre presentes. Por

colocarem-se como instrumentos da providência divina para o nosso bem estar

nesses quatro anos de estudos. Por estarem sempre a nossa retaguarda nos dando

segurança para alçar vôos mais altos e ousados. Pela ajuda financeira, fruto de seus

corações generosos e desprendidos. Principalmente pelo amor de pai e mãe que

sempre nos dispensaram.

A minha família: Roberto, Alcebíades e Wladilza, Fernando e Áurea, Silas e

Liliádia, e minhas sobrinhas. Pelo apoio em todas as áreas, pelas orações, por

serem de fato meus irmãos. Porque cada um deles, em um determinado período da

minha vida, além de irmãos, foram pais e mães. Pela educação que me deram,

pelos valores que me transmitiram. Por me amarem.

Ao Pr. Franklin D‟ávila. Instrumento de Deus para minha formação como

cristão e uma referência para o ministério que almejo.

Aos nossos amigos André e Elaine. Companheiros de luta. Pelos bons

momentos que gozamos juntos. Pelas maratonas gastronômicas, pelo compartilhar


das alegrias e das tristezas. Pela amizade tão singela e sincera que o Senhor nos

concedeu ter.

Sobretudo a Deus, a quem dedico tudo o que tenho e o que sou. Pois, por

causa dele, todas as pessoas a quem dedico este trabalho existem e foram

colocadas na minha vida. Também dele vieram os meus dons, capacidades e as

Escrituras Sagradas, que são a base deste trabalho. Porque ele é o Senhor da

minha casa. Porque ele prometeu ser o meu Deus e o Deus de meus filhos e porque

nele nós podemos esperar.


Sumário

INTRODUÇÃO 5

1 FUNDAMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA 7

CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER (CFW) 7

2 O BATISMO NAS SAGRADAS ESCRITURAS 10

2.1 A ANTIGA DISPENSAÇÃO , O PACTO DA PROMESSA 11


2.1.1 CONCEITO DE ALIANÇA DIVINA 11
2.1.2 O PACTO DA PROMESSA 13
2.2 A ATUAL DISPENSAÇÃO , O PACTO DA GRAÇA 20
2.2.1 O BATISMO CRISTÃO 29
2.2.2 BATISMO DE PROSÉLITOS 30
2.2.3 O BATISMO DE JOÃO 32
2.2.4 O BATISMO DE JESUS 34
2.2.5 A TEOLOGIA DO BATISMO 35
2.3 EVIDÊNCIAS BÍBLICAS 41
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 44

3 BATISMO INFANTIL: PAIS E FILHOS NO PACTO DA GRAÇA 46

3.1 FÉ, REGENERAÇÃO E SALVAÇÃO DE CRIANÇAS 46


3.2 A IMPORTÂNCIA DA PALAVRA DE DEUS 50
3.3 TERCEIRIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO 51
3.3.1 NA EDUCAÇÃO SECULAR 53
3.3.2 NA EDUCAÇÃO CRISTÃ 54
3.4 O PRINCIPIO BÍBLICO DA EDUCAÇÃO 56
3.4.1 TREINA A CRIANÇA 58
3.4.2 COMO TREINAR A CRIANÇA? 61

CONCLUSÃO 68

O BATISMO DE CRIANÇAS É BÍBLICO 68


OS PAIS SÃO RESPONSÁVEIS POR SEUS FILHOS 69

BIBLIOGRAFIA 71

FONTES PRIMÁRIAS 71
FONTES SECUNDÁRIAS 72
Pais e filhos no pacto da graça 5

Introdução

Este trabalho limita-se tratar da doutrina bíblica do batismo somente no

aspecto em os pequeninos são envolvidos, ou seja, o pedobatismo. Não serão

abordadas nesta monografia questões como: forma de batismo, re-batismo ou outras

que não estejam diretamente ligadas ao batismo específico de crianças. A

veracidade bíblica da doutrina, seu valor teológico e pactual, sua importância e suas

implicações para os pais e filhos envolvem o conteúdo deste trabalho.

Pela força que a matéria e pela necessidade que os dias atuais nos impõem,

pretende-se também fazer uma reflexão sobre o papel dos pais na educação de

seus filhos. Esta reflexão será feita sob a luz do que as Escrituras Sagradas nos

ensinam sobre o batismo como pacto da graça.

São dois os objetivos desta pesquisa. Primeiro, afirmar biblicamente a

doutrina do batismo de crianças. Embora seja um trabalho apologético, o mesmo

não se interessa pela polêmica. Por isso, não serão confrontadas posições

divergentes como uma forma de se chegar à verdade. A proposta do autor é que se

faça uma leitura bíblico-teológica do assunto e ao final se sustente a verdade

escriturística como esta se apresenta.

O segundo objetivo é trazer à tona as implicações do batismo de crianças

para os pais que se utilizam deste. Tem-se observado que, tanto na sociedade em

geral quanto na igreja, a família vive uma séria crise e começa a entrar em colapso.

Um dos principais motivos desta crise, apontam os especialistas, é a negligencia dos

pais para com a educação dos filhos: permissividade, omissão, ausência etc. Por

isso, sob a luz do pacto que o batismo representa e do compromisso que os pais
Batismo Infantil 6

cristãos assumem quando batizam seus filhos pequenos, pretende-se demonstrar

que é dos pais, principalmente, o compromisso de educar seus filhos.

Uma vez que se deseja, neste trabalho, mais que uma busca de textos provas

que evidenciem a prática do batismo infantil nos tempos apostólicos, a metodologia

aplicada nele será a da teologia bíblica. Obviamente, também será apoiado pela

teologia sistemática, sobretudo a de Calvino, sem a qual o resultado final ficaria

prejudicado. Contudo, o interesse maior é buscar nas Escrituras Sagradas a teologia

que está por trás do batismo e, assim, afirmar que o mesmo é, não só conveniente

às crianças, mas também lhes é necessário.


Pais e filhos no pacto da graça 7

1 Fundamentação Doutrinária
Confissão de fé de Westminster (CFW)

“Não só aqueles que realmente professam fé em Cristo e obediência a ele,

mas também as crianças, filhas de um ou de ambos os pais crentes, devem ser

batizadas” (CFW, XXVIII, IV).

Este trabalho baseia-se no capítulo XXVIII da Confissão de fé de

Westminster, especificamente na seção IV transcrita acima. Esta afirma que crianças

cujos pais, ou pelo menos um deles, sejam crentes devem ser batizadas. Porém,

antes de tratarmos do batismo infantil propriamente dito, veremos como esta

confissão define o batismo em geral.

Segundo os teólogos de Westminster, o batismo é um sacramento do Novo

Testamento (NT), instituído por Jesus Cristo, não só para admissão solene do

batizando na igreja visível, mas também para servi-lhe de sinal e selo do pacto da

graça, do seu enxerto em Cristo, da sua regeneração, ou remissão de pecados e de

sua total entrega a Deus através de Jesus Cristo, para andar em novidade de vida

(XXVIII, I). Desta forma, o batismo é, primeiramente, um sacramento, ou seja: 1) é

um santo sinal e selo do pacto da graça, é instituído por Deus para representar

Cristo e seus benefícios, para confirmar o interesse do crente em Cristo, para fazer

diferença visível entre os que pertencem à igreja e o restante do mundo, para

solenemente comprometer os crentes no serviço de Deus em Cristo (XXVII, I). 2) O

batismo possui duas partes: o sinal externo e sensível e a graça interior e espiritual

representada por este sinal. O que percebemos, quanto ao sacramento e

conseqüentemente quanto ao batismo, é que dentre outras coisas este serve para

admissão do batizando na igreja visível e como sinal e selo do pacto da graça. São
Batismo Infantil 8

justamente estes dois aspectos do batismo que o tornam próprio aos infantes filhos

de pais1 crentes.

A CFW, sendo bíblica, baseia suas afirmações em vários textos das

Escrituras Sagradas. No caso da seção em questão, várias são as passagens, pelo

menos treze2, que servem de apoio para o que confessamos a respeito do batismo

de crianças. Porém, tais passagens não fazem, de forma alguma, alusão direta ao

pedobatismo. Daí a polêmica a respeito da administração deste sacramento aos

pequeninos. Contudo, o fato de não estar explicita, nos textos prova ou em outra

parte da Bíblia, uma ordenança ou algo que justifique que crianças sejam batizadas,

não torna o batismo infantil uma doutrina extra-bíblica, ou uma heresia, ou, como

diziam os anabatistas no passado e os opositores do presente, uma mera invenção

humana.

No livro “batismo em diferentes visões”, Cullmann (BARTH; CULLMANN,

2004) defende que é mais correto se estudar o batismo infantil por uma definição

teológica neotestamentária, ao invés de fazê-lo buscando no NT a prática deste ato.

A tese de Cullmann é que não se deve querer ver o batismo infantil do ponto de vista

testemunhal, mas saber se ele é compatível com a concepção neo-testamentária de

batismo. Creio ser essa justamente a questão: qual o papel teológico do batismo? A

carência de uma definição teológica a cerca do batismo nos dá uma visão

empobrecida desde sacramento. A discussão fica, na maior parte das vezes, na

periferia do assunto – se há ou não evidencias bíblicas de que crianças foram

batizadas. O que gera as mais variadas “exegeses” moldadas segundo a tendência

1
Neste trabalho, a expressão “pais crentes” não exclui aquelas crianças das quais apenas um dos
pais é cristão.
2
Mc 16.15,16; At 8.37,38; Gn 17.7,9; Gl 3.9,14; Cl 2.11,12; At 2.38,39; Rm 4.11,12; 1Co 7.14; Mt
28.19; Mc 10.13-19; Lc 18.15; 7.13; Ex 4.24-26.
Pais e filhos no pacto da graça 9

doutrinária do exegeta. Por isso que, para uns, “todo sua casa3” significa que as

crianças também foram batizadas e, para outros, a mesma expressão significa que

se tratava de uma casa onde só havia adultos. Esse tipo de polêmica carece de

profundidade. Quando, porém, buscarmos nas Escrituras, não apenas no NT como

sugere Cullmann, uma definição teológica para o batismo e para o que este

representa, uma vez que é símbolo e sinal de uma realidade espiritual,

alcançaremos, ou ao menos estaremos mais próximos de alcançar, o seu centro, o

seu significado real. Desta forma, não nos interessará apenas a quem este

sacramento deve ser administrado, mas também quais suas causas e

conseqüências para o que o recebe.

A CFW, embora consciente do significado teológico do batismo, por causa de

sua forma resumida, não o expõe muito bem. Esta é a razão da falta de clareza

quanto ao batismo de crianças. Propõe-se que vamos a fonte da qual beberam os

teólogos de Westminster: as Sagradas Escrituras. Desta forma poderemos

apreender qual a definição teológica ou sentido escriturístico do batismo e o porquê

deste ser adequado e até mesmo necessário às crianças cujos pais são cristãos.

3
Alusão a Atos 16.15 e outros onde se diz que alguém e todo sua casa foram batizados.
Batismo Infantil 10

2 O batismo nas Sagradas Escrituras

De uma maneira geral os teólogos defendem que Jesus instituiu o Batismo:

como vemos, por exemplo, em Mt 28.19: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as

nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Mas, na

verdade, os quatro evangelhos falam de batismo antes de Jesus tê-lo ordenado aos

discípulos. Sabemos que João Batista, o precursor do Messias, já batiza e que o

próprio Senhor Jesus foi por ele batizado4. Este dado é especialmente revelador

para que entendamos o sentido que as Escrituras e o Senhor Jesus dão ao batismo.

Por que João batizava? Com base em que ele batizava? Por que, uma vez que o

batismo foi instituído por Jesus e, por isso mesmo, uma novidade, ele deu tão

poucas explicações aos seus discípulos sobre este sacramento? Diante destas

perguntas percebemos que há muito mais do que simplesmente saber a quem deve

ser ministrado o batismo: se aos adultos ou também às crianças. Olhando para o

Antigo Testamento (AT) onde a circuncisão é instituída por Deus como selo da sua

aliança com Abraão – o “Pacto da Graça”, como o denomina Calvino (1999) – e

atentando para a íntima ligação entre este selo e o batismo, podemos aferir quão

preciosa, solene, profunda e, principalmente, verdadeiramente bíblica é a doutrina

do batismo infantil.

4
Jo 1.24-34; Mt 3.13-17; Mc 1.4,5; 9-11; Lc 3.1-14; 21,22.
Pais e filhos no pacto da graça 11

2.1 A antiga dispensação, o pacto da promessa

2.1.1 CONCEITO DE ALIANÇA DIVINA

Para uma analise do Pacto da Graça5, precisamos antes entender qual o

conceito bíblico de aliança ou pacto. Para tanto, recorreremos à exposição que

Robertson (1997) faz sobre o assunto.

Tendo em vista a abrangência do termo aliança e a dificuldade de defini-lo por

causa da freqüência em que aparece, nos mais variados contextos, nas Escrituras

Sagradas, Robertson (1997, p. 8), apoiado na integridade da história bíblica que é

determinada pelas alianças divinas, afirma que aliança, em sua natureza, é “um

pacto de sangue soberanamente administrado”. Desta maneira, todo pacto de Deus

com o homem é, em primeiro lugar de sangue, quer dizer que implica vida e morte e,

em segundo lugar, é administrado soberanamente por Deus, ou seja, a iniciativa e

as condições são divinas.

O sentido do termo hebraico (tyrIB.)6 para aliança não é consenso entre os

estudiosos do AT. Mesmo assim, por causa do seu uso no contexto bíblico, pode-se

considerar razoavelmente consistente o conceito de pacto ou relacionamento.

Robertson (1997, p. 9, grifo nosso), citando D. J. McCarthy, diz: “Embora as alianças

divinas invariavelmente envolvam obrigações, seu propósito último vai além da

quitação compreendida por um dever. Ao contrário, é a inter-relação pessoal de

Deus com seu povo que está no coração da aliança”. De fato, com raras exceções,

as alianças são feitas sempre entre pessoas. Assim afirmamos que quando Deus se

5
Termo usado por Calvino para se referir ao pacto que Deus faz Abraão. Maiores explicações serão
encontram-se na página 20 deste trabalho.
6
tyrIB. (ber-eeth'): Aliança, pacto.
Batismo Infantil 12

põe em aliança com alguém, ele de fato está construindo um relacionamento com

esta pessoa.

Nesta afirmação de que aliança é, em sua essência, um pacto, devemos

considerar o seu “elemento formalizador” (ROBERTSON, 1997, p. 9). É a declaração

verbal que formaliza a aliança. Deus fala graciosamente às suas criaturas

comprometendo-se com elas e lhes expondo as bases deste compromisso. Daí a

importância do juramento. Este pode ser verbalizado ou expresso por meio de

sinais7. O juramente faz com que pessoas se comprometam com pessoas.

Com relação à presença de sinais nas alianças bíblicas diz Robertson (1997

p. 11):

A presença de sinais em muitas das alianças bíblicas também enfatiza que as


alianças divinas unem pessoas. O sinal do arco-íris, o selo da circuncisão, o
sinal do Sábado – estes sinais da aliança reforçam, o caráter de ligação da
aliança. Um compromisso interpessoal que pode ser garantido entra em vigor
por meio de um pacto com caráter de aliança. [...] os sinais da aliança divina
simbolizam a permanência do pacto entre Deus e o seu povo.

Este pacto é qualificado como sendo de sangue. É o que nos expõe a Bíblia

em Gn 158, quando Deus estabelece sua aliança com Abrão. Os animais cortados

ao meio – o derramamento de sangue – representam a pena que cairá sobre o que

violar a aliança. Deus não faz concertos informais com os seus, mas suas alianças

são sérias e acarretam a morte da parte infiel. Este conceito, além de estar presente

em todo AT, é reafirmado no NT onde o escritor aos hebreus assevera que: “Com

efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem

7
Cf. Gen 15.10,18; 21.23-31; 26.28-30; Dt 7.8,12; Ex 24.8.
8
Gn 15:9-10; 17-18: Respondeu-lhe: Toma-me uma novilha, uma cabra e um cordeiro, cada qual de
três anos, uma rola e um pombinho. Ele, tomando todos estes animais, partiu-os pelo meio e lhes pôs
em ordem as metades, umas defronte das outras; e não partiu as aves.
E sucedeu que, posto o sol, houve densas trevas; e eis um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo
que passou entre aqueles pedaços. Naquele mesmo dia, fez o SENHOR aliança com Abrão.
Pais e filhos no pacto da graça 13

derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22). Por isso dizer-se que aliança

divina é um pacto de sangue.

Por fim, diferentemente dos acordos e contratos humanos, as alianças divinas

são soberanamente administradas. Elas são unilaterais. Como dito anteriormente, a

iniciativa é do Senhor e as condições e promessas também são estabelecidas por

ele. “Nada de barganha, troca ou contrato caracteriza as alianças divinas da

Escritura. O soberano Senhor do céu e da terra dita os termos da sua aliança”

(ROBERTSON, 1997, 18).

Este entendimento do que é uma aliança divina permiti-nos uma

compreensão melhor do significado do Pacto da promessa e conseqüentemente do

batismo, sobretudo de infantes.

2.1.2 O PACTO DA PROMESSA9

A Bíblia narra o pacto da promessa no livro de Gênesis nos capítulos quinze e

dezessete. Naquele está o firmamento de uma aliança a respeito das promessas

que Senhor fizera a Abrão quando do seu chamamento em Gn 12. O que acontece

no capítulo dezessete é a seladura do pacto feito dois capítulos antes. Tanto em

Gêneses quinze quanto em dezessete temos como pano de fundo as promessas

feitas por Deus ao patriarca: 1) posteridade numerosa e 2) uma terra por herança.

Contudo, as promessas não aparecem primeiramente no contexto da aliança,

na verdade, aquelas precedem a esta. Deus primeiro fez as promessas. A primeira

envolve uma numerosa posteridade. Como está escrito: “de ti farei uma grande

nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. [...] em ti serão benditas todas

as famílias da terra” (Gn 12. 2-3). E a segunda envolve a posse da terra de Canaã, a

9
Expressão usada por Robertson (1997) em referência a aliança que Deus faz com Abraão descrita
em Gn 15 e 17.
Batismo Infantil 14

cerca da qual disse o Senhor: “Darei à tua descendência esta terra” (Gn 12.7).

Quando Abrão e Ló se separam, Deus reafirma a promessa feita no passado 10.

Novamente uma descendência, tão numerosa quando o pó da terra ou as estrelas

do céu e a posse da terra. Contudo, o tempo vai passando. Abrão está

envelhecendo e Sarai, sua esposa, é estéril. As possibilidades de que tais

promessas se cumpram se tornam cada vez mais remotas. Porém, mas uma vez

Deus fala a Abrão, desta feita, por meio de uma visão. Suas palavras são: “Não

tenha medo, Abrão!” (Gn 15.1). O patriarca responde com um tom desanimado e

queixoso. Eis sua resposta: “SENHOR Deus, que me haverás de dar, se continuo

sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer? [...] A mim não me

concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro”

(Gn 15.2,3). Podemos notar o desânimo nas palavras de Abrão. Afinal, quase dez

anos se passaram desde de que Deus lhe falou pela primeira vez. Agora, Abrão tem

oitenta e cinco anos, sua mulher é estéril e sua única esperança de posteridade é

um servo damasceno chamado Eliézer. Mas, Deus o anima. Ele o faz reiterando

suas promessas e as formalizando por meio de uma aliança.

Estudando o capítulo quinze de Gênesis, notamos que de fato a aliança que

Deus faz com Abrão é um “pacto de sangue soberanamente administrado”

(ROBERTSON, 1997). Depois da reiteração das promessas, Abrão pergunta: “Ó,

Soberano Senhor, como posso saber que tomarei posse dela?” (Gn 15.8). Como

resposta a esta pergunta, o Senhor formaliza uma aliança. Agora as promessas não

são apenas palavras, ainda que ditas por Deus, mas fazem parte de um pacto entre

Deus e Abrão. Deus, como disse o patriarca, o Soberano Senhor, foi quem tomou a

iniciativa tanto de prometer como de comprometer-se, por meio de uma aliança, a

10
Gn 13.14-18
Pais e filhos no pacto da graça 15

cumprir o que havia prometido. Abrão é passivo. Ele é apenas comunicado a

respeito do que Deus irá fazer nele, a favor dele e através dele. Mais do que isso, a

aliança não é mera formalidade. Ela envolve a vida das partes que se

comprometeram. Os animais partidos ao meio e o derramamento de sangue são

símbolos do que deve acontecer àquele que quebrar a aliança. O não cumprimento

do pacto acarretará a morte da parte infiel. Assim é o pacto da promessa. Neste, o

Senhor, promete a Abrão uma descendência numerosa e conceder a ele e à esta

descendência a terra de Canaã.

O capitulo dezessete é a seladura do concerto – o pacto da promessa. Nestes

versículos o Senhor esclarece os termos do pacto e aquilo que o simboliza – a

circuncisão. Nas outras vezes em que falara a Abrão, Deus simplesmente pronuncia

suas promessas. Assim foi nos dois capítulos já vistos. Desta vez, o Senhor se

apresenta como “El-Shaddai11” – o Deus todo poderoso e dá a Abrão o imperativo:

“anda na minha presença e sê perfeito” (17.1).

No verso dois, Deus diz que estabelecerá sua aliança12. Após isto, Deus põe

os termos deste pacto. “Quanto a mim”13 (15. 4). A partir desta declaração o Senhor

impõe a si mesmo deveres numa aliança criada e administrada soberanamente por

ele mesmo. O compromisso de El-Shaddai com, a partir de agora, Abraão é que

aquele fará este prolífero e que deste será a terra de Canaã. Há ainda um elemento

novo. O Senhor diz no versículo sete “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e

a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu

Deus e da tua descendência”. Este pacto da promessa é uma aliança perpétua entre

11
yD:êv; laeä-ynIa]
12
tyrIB.: embora a etimologia seja incerta, a raiz é usada no AT como um verbo. Sua ação descreve
aliança, acordo. Sua tradução mais precisa é “cortar uma aliança”. Este “cortar uma aliança” se dá por
meio de sacrifício cruento como parte do ritual da aliança (BIBLEWORKS, 2001).
13
ynI¨a]
Batismo Infantil 16

Deus, Abraão e seus descendentes. Deus, assim, se compromete não apenas com

o patriarca, mas também, com todas as gerações que descenderem dele. É uma

aliança permanente.

Em contrapartida, a Abraão é declarada sua parte no pacto. “E tu14” (15.9).

Isto significa que Abraão tem sua parte para cumprir. Diz o “Todo poderoso” ao

patriarca: “guarda a minha aliança. Tu e teus descendentes”. São estes os termos da

aliança. É a isto que as partes comprometidas por ela se obrigam. Da parte do

Senhor: fazer Abraão prolífero, conceder-lhe a terra de Canaã e ser o seu Deus e o

Deus de seus descendentes. Quanto a Abraão, espera-se que ele simplesmente

guarde a aliança. O símbolo e selo desta aliança é a circuncisão.

A circuncisão não é a parte que Abraão deve cumprir. Ela é símbolo do pacto

firmado naquele momento. Assim como os anéis que os noivos trocam no

casamento simbolizam a união destes. “Guardar a aliança”, na verdade é observar o

que está dito no verso um: “anda na minha presença e sê perfeito”. É o que Deus

pede a Abraão. Este é o compromisso que “o Todo Poderoso” quer dele. É disto que

a circuncisão faz lembrar: que há um pacto e que neste compete ao homem andar

na presença de Deus e ser perfeito. Desta forma, Abrão, seus contemporâneos e

todos os seus descentes trariam, no próprio corpo, o selo do pacto feito com Deus.

Este é o sentido da circuncisão: a Deus aprouve se relacionar com Abraão e seus

descendentes e fez isso por meio de um pacto no qual promete ser o Deus dele e de

seus filhos. Em contrapartida, Abraão lhe seria obediente. A circuncisão é o selo do

pacto da promessa. Por isso, o seu caráter obrigatório. Negligenciá-la é mesmo que

negligenciar a própria aliança e o relacionamento com Deus proposto nela. A

circuncisão unia Abraão e seus descendentes ao Todo Poderoso Deus.

14
hT'Þa;w>
Pais e filhos no pacto da graça 17

Na medida em que esses anúncios escriturístico introduzem o selo


da velha aliança, deve-se notar a solenidade da diretriz de Deus.
Deus declarou que este sinal será ministrado entre o seu povo.
Tratar levianamente o sinal, ou ignorar as estipulações associadas
com ele, é expor-se aos julgamentos do Deus da aliança
(ROBERTSON, 1997, p. 135).

É sabido, por meio dos historiadores, que a prática da circuncisão era comum

entre os grupos étnicos no Oriente Próximo, portanto não era uma peculiaridade de

Israel. Não obstante a isso, o significado na circuncisão para judeu era único e

teológico. Robertson (1997) esclarece o significado teológico do selo nos seguintes

termos: 1) ela simbolizava a inclusão na comunidade da aliança estabelecida pela

graça de Deus. Assim a pessoa era introduzida num relacionamento com o Deus da

aliança e com o povo da aliança. 2) A extirpação do prepúcio é um ato higiênico de

purificação física. Desta maneira, a circuncisão representa a impureza do homem e

sua necessidade de purificação, não somente o individuo, mas toda a raça humana.

“A circuncisão deveria ter humilhado o povo de Israel porque mostrava seu demérito

inato para ser o povo de Deus” (ROBERTSON, 1997, p. 136). 3) A circuncisão ainda

simboliza o processo real de purificação: ela tem o poder de limpar parcialmente,

mas também simboliza e sela realmente a purificação necessária à participação da

aliança. Há ainda uma peculiaridade digna de nota. Diferentemente dos outros

povos do Oriente Próximo, em Israel a circuncisão era feita aos oito dias de vida.

Desta forma, ela não é um rito de passagem para maior idade – como o era nas

outras etnias – mas servia para enfatizar o “princípio de solidariedade entre pais e

filhos num relacionamento de aliança” (ROBERTSON, 1997, p. 135).

Desde o princípio, na criação, Deus deixa claro que deseja se relacionar, não

apenas com indivíduos, mas também com suas famílias. O Senhor põe um casal no

Éden. No dilúvio, Deus poupa Noé e sua família (Gn 7.1). Da mesma maneira

acontece com Abraão. A aliança que o Senhor faz com ele envolve também sua
Batismo Infantil 18

família. Este é o princípio da solidariedade familiar estabelecido nas Escrituras. Este

mesmo princípio está presente no ensino apostólico do NT: “serás salvo tu e tua

casa15”. Robertson (1997) relaciona circuncisão à questão da propagação da raça.

Para ele um dos fatores que determina esta relação é que a circuncisão era para

Abraão e seus descentes, antes mesmo que estes tivessem nascido. Assim, todos

os descendes do patriarca, do menor ao maior, estavam obrigados com a aliança.

Esta solidariedade familiar do pacto da promessa traz duas implicações para povo

de Israel. A primeira delas é que, pelo fato da circuncisão simbolizar a necessidade

de purificação e sendo ela mesma uma purificação parcial, a raça toda é pecadora,

portanto precisa ser purificada. Nem mesmo os pequeninos fogem a esta regra. Eles

devem, já nos seus primeiros dias, receber o selo que os fará lembrar de sua

impureza e da necessidade de purificação. “O pecado não é apenas assunto do

indivíduo, mas também da raça. [...] a circuncisão implica culpa da raça”

(ROBERTSON, 1997, p. 137). A outra implicação é que Deus quer tratar com

famílias. Como já exposto anteriormente, o Senhor tem como alvo de sua redenção

o indivíduo e sua família.

Por outro lado, existe a argumentação de que a circuncisão não passa de

mero símbolo de nacionalidade, a marca étnica de Israel. De fato, não se pode

olvidar o caráter nacional desde símbolo. De certa forma, a circuncisão simbolizava

a membresia na nação judaica. Mas, limitar a apenas este significado é um

reducionismo. Não se pode reduzir a aliança selada e simbolizada pela circuncisão a

mero emblema nacional. Mesmo porque, como já exposto, este rito não era uma

exclusividade dos hebreus. Ainda que de maneira diversa da de Israel, outros povos

também utilizavam a circuncisão. A um outro aspecto para este selo e que o faz

15
oi=ko,j (oikós): intimidade da casa, pessoas que formam a família. Diferente de oivki,a (oikia) que se
refere mais diretamente ao edifício e/ou a todos que habitam na casa (BIBLEWORKS, 2001).
Pais e filhos no pacto da graça 19

peculiar entre os judeus: ele também pretendia representar o relacionamento do

homem com Deus por meio da aliança. “A circuncisão indicava o status de um

homem em relação a Deus tanto quanto seu status em relação à nação de Israel”

(ROBERTSON, 1997, p. 138). Este é o significado teológico da circuncisão no AT:

Deus se põe num relacionamento com o homem por meio de um pacto de sangue

soberanamente administrado. Isto fica ainda mais claro porque o símbolo escolhido

como selo deste pacto é a extração do prepúcio. Este procedimento que visava a

higienização física serve para mostrar a necessidade de purificação daquele que se

coloca em uma relação pactual com o Todo Poderoso.

Por trás da circuncisão há uma verdade inexorável: todo homem é impuro e

necessita de purificação. O pacto divino com Abraão não foi feito mediante uma

pureza pré-existente no patriarca. Ao contrário, colocava Abraão e seus

descendentes, mesmo os de mais tenra idade, diante da realidade da natureza

humana decaída e impura. Até uma criança de oito dias necessita de purificação e,

por isso, recebia em sua carne o símbolo desta carência. Este significado teológico é

amplamente exposto no AT. O homem, que na infância recebera a purificação

parcial e física, deve buscar durante toda sua vida torná-la completa circuncidando

não apenas o pênis, mas o coração. Esta é a exortação que Moisés e os profetas

fazem à nação da aliança16. A circuncisão do coração está na essência da aliança

quando o Senhor declara a Abrão “anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17.1).

Portanto, a circuncisão é o selo e o símbolo da aliança divina soberanamente

administrada entre Deus e seu povo. Nesta, o Todo poderoso promete ser o Deus de

Abrão e de todos os seus descendentes estabelecendo assim um princípio de

solidariedade familiar. Esta mesma aliança por meio de seu selo mostra a Abraão e

16
Dt 10.16; Jr 4.4.
Batismo Infantil 20

a sua descendência que eles são impuros, mesmo os menores, e necessitam

purificar-se extraindo a impureza dos corações assim como extraíram a impureza

física quando extirparam seus prepúcios. A circuncisão servia para lembrá-los disto.

Por fim, a aliança selada e simbolizada pela circuncisão é um pacto de

sangue que acarreta a morte da parte infiel. Aquele que negligenciasse o selo da

aliança, ou por não se circuncidar ou por não observar suas implicações, quebrava a

aliança e era eliminado da comunidade do pacto.

2.2 A atual dispensação, o pacto da graça

Calvino (1999) refere-se ao pacto feito com Abraão como o pacto da graça.

Contudo, a CFW, posteriormente ao teólogo, denomina pacto da graça aquele

realizado na eternidade entre o Deus Pai e o Deus Filho com respeito à redenção

dos eleitos17. “Não há, pois, dois pactos da graça de substância diferenciada, mais

um só e o mesmo sob várias dispensações” (CFW, VII, VI). Nesta nomenclatura

dada por Calvino, possivelmente, reside uma confusão quanto à natureza teológica

da circuncisão e, por conseguinte, do batismo. É importante salientar que esta

confusão não é do próprio Calvino, mas daqueles que posteriormente o

interpretaram. No que se refere ao batismo de infantes, o teólogo de Genebra

chama de pacto da graça a aliança entre Deus e Abrão ou, como referido aqui, pacto

da promessa.

Entretanto, Calvino não erra em usar o termo pacto da graça com relação ao

da promessa. Sabemos que todo movimento de Deus em direção ao homem é

mediado pela graça, pois não somos merecedores da sua propiciação senão por

causa da sua livre graça. Da mesma forma, as alianças divinas são pactos

17
Catecismo Maior de Westminster, pergunta trinta e um.
Pais e filhos no pacto da graça 21

soberanamente administrados cuja iniciativa é do Senhor e cujas condições são por

ele estabelecidas. Sendo assim, o pacto da promessa pode ser chamado de pacto

da graça sem prejuízo do entendimento teológico do mesmo. Para o reformador, a

promessa que o Senhor faz a Abraão – de ser o Deus dele e de seus filhos – mostra

a intenção do Criador em separar para si um povo por meio de uma linhagem santa.

Com este povo e por iniciativa própria, o Todo Poderoso entra em aliança da qual o

selo é a circuncisão. As Escrituras nos mostram que Abraão não era diferente dos

outros homens. Sabemos que Abraão foi tirado de uma família idólatra que morava

numa terra igualmente idólatra18. O fato de Deus entrar em aliança com o patriarca

não se baseia em méritos humanos, porém na graça divina. Por isso, é muito próprio

que Calvino chame a aliança de Deus com Abraão de pacto da graça.

Uma vez que esclarecemos o que Calvino quer dizer com pacto da graça no

tocante a este assunto, podemos nos desvencilhar de alguns equívocos

relacionados à circuncisão e ao batismo. No que se refere a este, pacto da graça é

aquele que foi feito entre Deus e Abraão em favor de Israel. O pacto a que o

reformador francês refere-se como “da graça” não é aquele feito na eternidade entre

o Deus Pai e o Deus Filho em favor dos eleitos, também chamado de pacto da

redenção. Contudo, temos que ter em mente que o pacto com Abraão tipifica aquele

feito com Cristo. Sendo tipo, é a expressão material e imperfeita do que mais tarde

se revelará como espiritual e perfeito. Então, o pacto da graça a que Calvino se

refere é o tipo e não a realidade espiritual.

Deste equívoco decorre outro: pensar que os bens eternos garantidos no

pacto arquétipo são conferidos aos que fazem parte apenas do pacto tipo. Ou seja, a

excisão da acropóstia ligava o circuncidado ao Deus e ao povo da aliança e o

18
Js 24.1-4.
Batismo Infantil 22

separava dos outros povos. Por isso, Israel ser chamado de “linhagem santa19”.

Entretanto, aquele que fazia parte do povo do pacto e que gozava dos privilégios

que Deus, por sua graça, havia concedido a este de forma alguma teria a redenção

de sua alma garantida com base em um rito. A circuncisão apontava para a

impureza inerente a raça humana – que atinge desgraçadamente o ser humano já

na sua concepção, como declara o salmista20 – e para a necessidade de purificação.

Por isso, a verdadeira circuncisão deve ser a do coração. Desta maneira, o que se

esperava daquele que foi circuncidado é que ele cumpra o [m;v'21. O que se torna
possível por causa da operação graciosa do Senhor nos corações do seu povo 22.

Uma vez que esta expectativa não fosse alcançada o pacto estava descumprido e a

parte infiel deveria morrer. Estes eram os termos. Daí, vermos no AT, a separação

do reino de Israel, os cercos à nação judaica e os cativeiros e, no NT, como exposto

pelo apóstolo Paulo, que o próprio Israel foi parcialmente rejeitado e aguarda sua

restauração23.

Uma vez estabelecidos os limites do que Calvino chama de pacto da graça,

podemos observar como o teólogo o relaciona com o batismo infantil.

Assevera-se que o pacto feito com Abraão é tão pertinente aos cristãos hoje

quanto o foi no passado aos judeus. De fato, muitas são as evidências bíblicas de

que circuncisão e batismo são as duas formas de um mesmo pacto: aquela na

antiga dispensação e este na atual. Não é difícil de notar os pontos de contato entre

os dois sacramentos. Os filhos dos judeus foram chamados de “linhagem santa” e

19
Ez 9.2.
20
Sl 51.
21
[m;v': (shãma‟) trad.: Ouvir. Confissão de fé judaica baseada em Dt 6.4ss. É uma exortação a que
>
se tenha em mente que WnyheÞl{a/ hw"ïhy é o único Deus. Por isso deve ser amado com totalidade do ser
e seus mandamentos e estatutos devem ser obedecidos.
22
Dt 30.6.
23
Rm 11.1-11.
Pais e filhos no pacto da graça 23

distintos dos filhos dos outros povos por que eram herdeiros do pacto. Da mesma

forma, os filhos dos cristãos são chamados santos, mesmo que só um dos pais seja

cristão24.

O batismo deriva da circuncisão. De fato, podemos encará-lo como uma

atualização que Cristo fez daquilo que já era prática no AT, a circuncisão.

Observando Gn 17.7-10, onde Deus estabelece sua aliança com Abraão e a sela por

meio da circuncisão, Calvino (1999) afirma que tanto para o batismo quanto para

circuncisão as promessas, as figuras e os fundamentos são os mesmos.

Há uma promessa de vida eterna em ambos que está presente na aliança que

Deus fez com Abraão. Prova-se isto na declaração de Jesus em Lc 20.38: “Ele não é

Deus de mortos, mas de vivos, pois para ele todos vivem”. Paulo diz que os gentios

incircuncisos, que antes estavam sem Cristo, estavam também fora da comunidade

de Israel, logo, alheios às promessas feitas a Abraão25. “O primeiro passo para nos

aproximarmos de Deus e termos a vida eterna é passar pela remissão do pecado.

Tal promessa segue-se também ao batismo que é o símbolo de nossa purificação e

lavagem” (CALVINO, 1999, p. 1045, tradução nossa). Para Calvino, o batismo é a

marca de nosso cristianismo e o sinal pelo qual somos recebidos na sociedade da

igreja. Da mesma forma, a circuncisão colocava o individuo em relação com o Deus

e com o povo da aliança. O batismo simboliza a remissão dos pecados operada em

e por Cristo na sua morte e ressurreição26. O selo da antiga aliança também indicava

a necessidade de purificação e o desejo de Deus de remir um povo para ser-lhe

santo. Convêm ainda salientar que como na dispensação passada o pacto era

cruento porque exigiu derramamento sangue, na de agora se dá da mesma forma. A

24
Ed 9.2 e 1Co 7.14.
25
Ef 2.12
26
Rm 6.
Batismo Infantil 24

nova aliança é estabelecida na morte Cristo – seu sacrifício substitutivo – o sangue

de Cristo derramado na cruz é o da nova aliança27.

Da mesma forma, batismo e circuncisão representam e, até mesmo, exigem a

mortificação da carne ou santidade. O Senhor diz a Abrão que este ande em sua

presença em integridade de coração. Da mesma forma, Moisés exorta ao povo que

circuncide seus corações28. Não ficam dúvidas que a circuncisão tem a ver com a

mortificação da carne. A circuncisão da carne é apenas símbolo do que deve

acontecer no interior29. Em outras palavras, o ato externo deve seguir-se de uma

atitude de santidade, pureza e devoção que são o cumprimento da aliança

estabelecida por Deus e outrora selada pela circuncisão. Moisés ensina que tal

circuncisão é obra da graça de Deus (Dt 30.6)30.

Percebemos, então, que a circuncisão precede ao testemunho. Como símbolo

da aliança de Deus com seu povo, a circuncisão significa o ato de Deus separar para

si uma nação31. Por isso não só os pequeninos, mas também, todos os homens que

fossem inseridos na nação judaica (Gn 17.12, 13) – estrangeiros e escravos –

deveriam ser circuncidados. Isto não fazia destes homens pessoas redimidas de

seus pecados, mas os identificava como participantes do povo de Israel. O mesmo

se aplica aos meninos nativos. Conforme assevera Robertson (1997, p. 135), “a

circuncisão simbolizava a inclusão na comunidade da aliança estabelecida pela

graça de Deus. Era sinal da aliança. Como tal, introduzia o povo em relacionamento

27
Gn 15; Mt 26.28; Mc 14.24; Lc 22.20; 1Co 11.25; Hb 9.15; 12.24.
28
Dt 10.16.
29
“A circuncisão indica a necessidade de purificação. O ato higiênico da remoção do prepúcio
simboliza a purificação necessária para o estabelecimento de uma relação de aliança entre um Deus
santo e um povo profano” (ROBERTSON, 1997, p. 136).
30
“O SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares
o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas”.
31
Quando tratamos Israel como povo de Deus ou nação separada, queremos deixar bem claro o fato
de que, no AT, Israel era o reino visível de Deus, como hoje o é a igreja, e não a totalidade do Reino
de Deus em todas as sua instâncias.
Pais e filhos no pacto da graça 25

com o Deus da aliança, e em solidariedade com o povo da aliança”. Este é o reino

visível de Deus, Israel. Contudo, o que tinha a marca da circuncisão deveria ser

instruído a viver em amor e temor a Deus e obediência aos seus mandamentos.

Assim a circuncisão sairia da esfera simbólica e se juntaria à verdade espiritual que

representa. Desta maneira, a circuncisão não era apenas para os que tinham

condição de testemunhar, mas também, para aqueles que, mesmo sem

entendimento do símbolo, ingressavam no povo da aliança.

O menino circuncidado aos oito dias de vida não estava livre do seu pecado

ou isento de qualquer juízo divino caso se desviasse quando adulto. Na verdade, a

circuncisão permitia-lhe o ingresso no povo de Deus, naquele que era o reino visível

do Senhor aqui na terra, Israel. Todos que quisessem participar deste privilégio

deveriam circuncidar-se e também seus filhos. Contudo, privilégios trazem consigo

responsabilidades. O circunciso deveria extrapolar o ato externo e circuncidar o

próprio coração (Dt 10.16). O menino que teve seu prepúcio extraído deveria mais

tarde viver de maneira coerente com o sinal exterior que lhe foi dado. Isto é a

circuncisão do coração da qual Moisés fala. Voltando a Gn 17, o que Deus pede a

Abraão é que este ande em sua presença e seja integro de coração (v. 1). E não

somente Abraão, mas também, os seus futuros descendentes (v. 9).

O apóstolo Paulo faz essa relação entre circuncisão e batismo. De maneira

especial, em Romanos, o escritor faz sua análise entre batismo e circuncisão. Em

primeiro lugar, no capítulo dois, ele diz que a circuncisão não tem valor algum se

acompanhada de desobediência. Paulo diz: “a circuncisão tem valor se você

obedece à Lei; mas, se você desobedece à Lei, a sua circuncisão já se tornou

incircuncisão”. Sendo assim, circunciso é aquele que obedece aos mandamentos do

Senhor. No mesmo capítulo é dito: “Não é judeu quem o é apenas exteriormente,


Batismo Infantil 26

nem é circuncisão a que é meramente exterior e física. Não! Judeu é quem o é

interiormente, e circuncisão é a operada no coração, pelo Espírito, e não pela Lei

escrita”. Isto confirma, o que já foi exposto por Moisés em Deuteronômio: a

circuncisão deve ser seguida de uma vida santa.

Não obstante às advertências quanto à circuncisão meramente física e

exterior, Paulo, no capítulo seguinte, respondendo a pergunta retórica sobre qual a

vantagem de ser judeu e sobre a utilidade da circuncisão, afirma: “Muita, sob todos

os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de

Deus”. Também no capítulo nove, ainda que com tristeza ele afirma: “pertence-lhes

a adoção e a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os

patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne” (Rm 9.4, 5).

Vemos, então, que não é coisa de somenos pertencer à comunidade de Israel. Este

era um povo especial para Deus, chamado de nação santa32. Era um privilégio fazer

parte deste povo e ser cidadão do reino visível de Deus. Foi aos judeus que

primeiramente o Senhor se revelou e lhes confiou sua vontade, promessas e

também juízos. Israel era o povo da aliança, a comunidade da graça. A circuncisão

era o símbolo de pertencimento a este povo e permitia o acesso do circunciso aos

privilégios do relacionamento entre Deus a comunidade judaica. O mesmo acontece

com a igreja na atual dispensação.

Há os que objetam à afirmação de que Israel tipificava a igreja. Afirmam que

são dispensações diferentes com nada em comum entre si. Entretanto, negar a

relação tipológica entre Israel e a Igreja é o mesmo que negar a relação entre Antigo

e Novo Testamentos. Parafraseando Loyd-Jones, afirmamos que a igreja é latente

em Israel e Israel e patente na igreja. Assim nos afirmam as Escrituras em várias

32
Ex 19.5, 6.
Pais e filhos no pacto da graça 27

partes. Encontramos, por exemplo, na carta aos Efésios a expressão de tal verdade

clara e indubitavelmente. Paulo, nesta carta, aponta para a consumação do plano

eterno de Deus cujo propósito era fazer convergir todas as coisas em Cristo. O

apóstolo continua sua exposição sobre o propósito divino falando do poder de Deus

que ressuscitou Jesus dentre os mortos e o exaltou fazendo-o sentar a sua direita

em lugares celestiais. Esta exaltação evolve também a sujeição de todas as coisas

ao senhorio de Jesus e para isso o deu à igreja33.

A partir da igreja Jesus domina sobre tudo e todos. O Senhor Jesus não é

apenas o cabeça da igreja, mas é o Senhor de tudo começando pela igreja. Em

outras palavras, a igreja é o reino visível de Cristo assim como fora Israel no

passado. Ainda vemos o apóstolo Pedro que se refere a igreja da mesma forma que

Deus se referia a Israel: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,

povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele

que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Contudo, a

expressão maior da unidade entre Israel e a igreja se encontra em Ef 2.19, 20:

“Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois

da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo

ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”. Em Cristo o velho e o novo testamentos

se encontram. Jesus é a pedra angular que liga os dois fundamento do povo de

Deus: profetas e apóstolos. Em Cristo, a igreja é Israel e vice-versa. Desta forma,

dizemos que a igreja é uma comunidade privilegiada. Ela é de fato a comunidade da

graça. É onde Deus se revela de forma especial, uma vez que a esta foi confiado o

evangelho. Pois e por ela que Deus torna conhecida sua “multiforme sabedoria” (Ef

3.10). A igreja tem os mesmos privilégios e responsabilidades que tinha Israel. Nós,

33
Ef 1.22ss.
Batismo Infantil 28

os da atual dispensação, fomos feitos co-participantes das promessas por meio de

Jesus Cristo34. A igreja sem dúvida é o novo Israel.

No que se refere ao batismo e à circuncisão, como já exposto, a única

mudança se dá na forma de administrá-los. No mais são iguais: têm o mesmo

significado, representam as mesmas coisas, são estabelecidos em Cristo trazem

consigo as mesmas promessas e juízos.

O apostolo Paulo, já no capítulo seis, fala a respeito do batismo com base na

morte de Cristo e cujo fim é que o batizado viva uma nova vida longe do pecado –

que vem a ser a mesma exigência da circuncisão. O batismo fundamenta-se na

morte de Cristo. A água é figura do sangue35 – que é o sangue da nova aliança –

derramado no Calvário. Este é o batismo real, realizado em favor dos eleitos, do qual

a cerimônia batismal é mero símbolo. O batizado deve unir-se a Cristo em sua morte

e, também, unir-se a ele em sua ressurreição para uma vida nova. É o que o escritor

aos romanos afirma:

[...] Nós, os mortos para o pecado, como podemos continuar vivendo


nele? Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em
Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos
sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que,
assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do
Pai, também nós vivamos uma vida nova (Rm 6.2-4).

Conclui-se que as promessas espirituais dadas na circuncisão são as

mesmas concedidas a nós no batismo e o propósito de ambos é que vivamos em

justiça. Segundo Calvino (1999), a terceira característica comum à circuncisão e ao

batismo é o fato de que o fundamento de ambos está em Cristo. Cristo é o

fundamento tanto do batismo como da circuncisão porque ele foi prometido a Abraão

para benção de todas as gentes (Gn 12.3). O selo de tal promessa foi a circuncisão.

34
Ef 3.6.
35
Cf. 1Pe; Lc 22.20; Hb 9.11-28.
Pais e filhos no pacto da graça 29

Em Atos 2.2536, vemos que em Cristo, descendente de Abraão, Deus abençoou

todas as famílias da terra. Reportando-nos ao capítulo seis de Romanos, afirmamos

que o fundamento do batismo cristão está na morte e ressurreição do Senhor Jesus

Cristo37.

Por isso, afirmarmos que o batismo e a circuncisão são diferentes símbolos

das mesmas promessas, fica claro que da mesma forma como a circuncisão era

ministradas aos infantes também o deve ser o batismo.

Tanto a circuncisão quanto o batismo têm uma aliança correspondente: uma

em Abrão e outra em Cristo respectivamente. Estas, na verdade, não são duas, mas

apenas uma, o Pacto da Graça. Portanto, circuncisão e batismo, em suas

respectivas épocas, servem de símbolo e selo da aliança que Deus faz com seu

povo. Falando acerca da cessação do rito formal da circuncisão por causa da sua

realização em Cristo e sua evidência da ação purificadora do Espírito Santo na vida

do crente da nova aliança, diz Robertson: “Entretanto, a realidade simbolizada no

rito formal da circuncisão tem certamente significação para o crente da nova aliança.

A purificação da impureza e a incorporação na comunidade da aliança mantém vital

significado para o cristão” (1997, p. 144).

2.2.1 O BATISMO CRISTÃO

Com base no que já foi exposto podemos agora, com maior clareza tratar a

instituição do batismo cristão, seu significado teológico e suas implicações para o

povo de Deus hoje.

36
“Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a
Abraão: Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra”.
37
Ver também Cl 2. 9-12.
Batismo Infantil 30

2.2.2 BATISMO DE PROSÉLITOS

A prática do batismo aparece no NT, pela primeira vez, nos Evangelhos.

Nestes, é sempre João Batista que está batizando as pessoas 38. A exceção é o

quarto evangelho onde os discípulos de Jesus também batizam 39. Percebemos

também que, nas narrativas relacionadas ao batismo de João, tal batismo goza de

grande popularidade inclusive entre os judeus40. Contudo, a Bíblia não nos dá

nenhuma indicação a respeito do porquê de João batizar, pelas Escrituras não

temos nenhuma pista de como surgiu a prática do batismo. A profecia que fala de

João Batista – a voz do clama no deserto – o trata como um anunciador do reino de

Cristo, um pregador do arrependimento como preparação para este reino, porém de

maneira nenhuma o liga à prática do batismo. É importante salientar que no AT não

há menção de batismo. Então, por que João batizava? De onde vem a idéia de

batismo?

Conforme os escritos rabínicos o rito de recepção de prosélitos41 possuía três

partes: circuncisão, batismo e um sacrifício oferecido no templo. Testemunhos

antigos indicam que a circuncisão e o batismo faziam parte do rito de admissão na

membresia da religião judaica. A cerimônia tinha algumas características essenciais:

tinha que ser feita na presença de três testemunhas – “pais de batismo” – que

deveriam instruir o prosélito na Torah e deveria ser realizada de dia, o que lhe dá um

caráter público. Após sua admissão o prosélito era considerado como um recém-

38
Mt 3.1-17 e seus correspondentes nos sinópticos e Jo 1.
39
Jo 3.22, 26; 4.1, 2.
40
Mt 3.5-7; Mc 4.5; Lc 3.7.
41
Gentil convertido ao judaísmo.
Pais e filhos no pacto da graça 31

nascido, ou seja, sua vida antes da conversão era esquecida e o que importa agora

é a sua nova vida como judeu. Este é o conceito judaico do novo nascimento42.

“O batismo de prosélitos desenvolvido nos tempos pré-cristianismo foi um rito

para receber „aqueles não nascidos em santidade‟” (LOGOS, 1999). Por isso, ele era

aplicado às crianças já nascidas bem como aos seus pais. Há, no entanto, uma

curiosidade. Filhos nascidos após o batismo de seus pais não precisariam ser

batizados, pois já nasciam em santidade. Por exemplo, se uma mulher fosse

batizada estando grávida, o feto como parte do seu corpo não necessitaria ser

batizado depois de nascer. Ele era participante do batismo da mãe. Estes filhos de

novos convertidos ao judaísmo, batizados na infância, eram chamados de “prosélitos

convertidos abaixo de três anos e um dia”. Lê-se no Talmude que crianças muito

pequenas – menores que três anos e um dia – deveriam ser batizadas com seus

pais se este fosse convertido ou, segundo o julgamento da corte, sozinhas se não

tivessem pais.

No caso das criancinhas, a questão da decisão pessoal era tratada nos

seguintes termos “uma vantagem pode ser concedida a um homem sem seu

conhecimento43” (LOGOS, 1999, tradução nossa), palavras do rabino Huna (?-297).

A decisão segue-se posteriormente. Outro rabino, chamado José (?-333), disse:

“uma vez que [as crianças] tenham idade podem levantar uma objeção e voltar ao

paganismo44” (LOGOS, 1999, tradução nossa). Contudo, esta objeção só seria

valida quando a maior idade fosse atingida. Assim, o judaísmo como uma religião

missionária praticava o pedobatismo.

42
Por isso Jesus estranhar que Nicodemos, mestre da lei, não entendesse o significado de “nascer
de novo” (Jo 3.1-4, 10).
43
“an advantage may be conferred on a man without his knowledge”.
44
“Once of age, they can raise an objection (and return to paganism without being punished or treated
as apostate Jews, Rashi)”.
Batismo Infantil 32

O batismo de João e também o cristão têm sua origem no batismo de

prosélitos praticado pelos judeus. Por meio deste, eles faziam discípulos e recebiam

os novos convertidos; neste o novo convertido deveria mostrar-se arrependido e

então seriam circuncidados e batizados ele e seus filhos. “O fato é que [os judeus]

recebiam êsses (sic!) prosélitos juntamente com seus filhos, circuncidando-os,

batizando-os e recebendo deles uma oferta pacífica” (LANDES, 1979, p. 53). Ainda

segundo Landes, os judeus não batizavam seus próprios filhos porque entendiam

que toda nação judaica já havia passado pelo batismo por Moisés como se lê em Ex

19.10: “Disse também o SENHOR a Moisés: Vai ao povo e purifica-o hoje e amanhã.

Lavem eles as suas vestes”. Vemos, então, que segundo o texto, o batismo para os

judeus tinha a mesma conotação que a circuncisão, a saber, purificação e admissão

na comunidade da aliança.

2.2.3 O BATISMO DE JOÃO

Oscar Cullmann (2004, p. 60) também relaciona o batismo de João com o de

prosélitos. Diz ele: “o judaísmo não ignorava a prática do batismo, já que submetia

os pagãos a ele. João Batista, pondo os judeus no mesmo nível dos prosélitos,

chamava-os ao batismo de arrependimento”. Cullmann ainda assevera que no NT

não há nenhuma indicação de que adultos cujos pais fossem cristãos tenham sido

batizados. Tal prática já seria possível por volta do ano 50 d.C., portanto, antes que

a maior parte dos livros neotestamentários fossem escritos. A única coisa dita sobre

filhos de crentes está em 1Co 7.14: “Porque o marido incrédulo é santificado no

convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente.

Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos”. Paulo

confirma o que era a prática no batismo de prosélitos. Cullmann (BARTH;

CULLMANN, 2004, p. 110) citando Grossmann diz: “o Novo Testamento deveria


Pais e filhos no pacto da graça 33

conter uma proibição explícita ao batismo de crianças, se a igreja cristã não o

houvesse praticado, pois que esta maneira de atuar era corrente na comunidade

judaica”.

João tomou apenas a segunda parte do batismo de prosélitos (judaico): o

banho de purificação. O diferencial é que João encerrou judeus e pagãos no mesmo

lugar, pois ambos precisavam ser purificados como preparação para o reino de Deus

e a ira vindoura. Uma vez que o batismo de João era, principalmente, dirigido aos

judeus – que se arrogavam santos por serem descendência de Abraão, simbolizada

pela circuncisão – tal batismo tomava o sentido da circuncisão de ser símbolo de

agregação ao Reino de Deus (BARTH; CULLMANN, 2004).

Portanto, o batismo de arrependimento praticado por João, embora tivesse

características novas, tinhas suas bases no batismo judaico para admissão de

prosélitos. Ambos marcavam o abandono do passado pecaminoso para uma nova

vida. Os dois serviam como cerimônia de admissão – o de João, no reino

messiânico; o judaico, na comunidade da aliança. Tanto um como outro exigiam

arrependimento e um novo viver ético e ambos tinham implicações escatológicas.

Podemos dizer, então, que João ampliou o significado e as implicações do batismo

judaico ao mesmo tempo que preparava as pessoas para uma novo batismo do qual

o seu era mera representação. Ele mesmo dizia: “Eu vos batizo com água, para

arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu,

cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com

fogo” (Mt 3.11).


Batismo Infantil 34

2.2.4 O BATISMO DE JESUS

Chegamos então ao batismo cristão propriamente dito. Este foi instituído por

Jesus quando aparece ressurrecto os seus discípulos e lhes dá a seguinte ordem:

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e

do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho

ordenado” (Mt 28.19, 20).

Como João, o Senhor Jesus utiliza algo já estabelecido para comunicar novas

realidades. O batismo de Jesus é a realização plena do que anunciava o batismo de

arrependimento realizado por João. Contudo, em sua forma cerimonial ele

continuava o mesmo. Jesus não deu nenhuma instrução a respeito de como os

discípulos deveriam batizar. Há uma única instrução quanto à fórmula batismal que

deveria ser “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Porém, além disso, nada

foi acrescido ou subtraído.

Como já vimos, o batismo não era uma novidade. Tão pouco foi uma

invenção de João ou do Senhor Jesus. A prática vem de tempos anteriores à era

cristã e era a forma como os judeus recebiam os novos convertidos na comunidade

de Israel. Significa que a cerimônia batismal era conhecida dos discípulos, pois era

uma prática comum no tempo deles. A prática não só era familiar aos onze, mas

também a todos que habitavam na Palestina por aqueles dias. É importante e

revelador o fato de Jesus não ter dado nenhuma orientação aos onze, senão aquela

quanto à fórmula batismal. Por exemplo, uma vez que os judeus batizavam os filhos

pequenos dos prosélitos, deveria haver por parte do Mestre uma proibição explicita

quanto a esta prática se, de fato, o batismo cristão não fosse conveniente aos

pequeninos. Ou seja, Jesus não estabelece nenhuma restrição ao batismo dos

pequeninos. Desta forma, a prática continuva a mesma. O batismo seria ministrado


Pais e filhos no pacto da graça 35

pelos discípulos da forma como era comum fazer em seus dias. Esta é uma das

evidências mais importantes de que o batismo era ministrado aos infantes filhos de

pais cristãos já nos tempos da igreja primitiva.

2.2.5 A TEOLOGIA DO BATISMO

É fundamental, para o correto entendimento do batismo e a sua conveniência

às crianças, que observemos o seu valor teológico e não apenas cerimonial. Até

aqui vimos que, assim como a circuncisão, o batismo tem dois significados

principais: a) a admissão na comunidade pactual – antes, Israel; agora, a Igreja – e

b) a necessidade de purificação. O que nos interessa agora é sabermos qual o

significado teológico que o NT, sobretudo nos ensinos do Mestre e do apóstolo

Paulo, confere a este sacramento.

Jesus refere-se ao seu batismo como representação de sua própria morte. Os

evangelhos sinópticos relatam este fato claramente. Em Lucas, o Senhor fala da

angústia com que aguarda o batismo no qual será batizado (Lc 12.50). Quando

colocamos estas palavras de Cristo em paralelo ao que ele fala em Mateus e

Marcos45 fica claro que o Mestre considera a sua morte na cruz o batismo pelo qual

deveria passar. Jesus estabelece assim o alicerce do batismo cristão, qual seja: a

sua própria morte, o sacrifício cruento de si mesmo. A exemplo do que aconteceu

com Abraão, Jesus tornou-se o cabeça pactual da nova aliança. Esta se estabelece

por meio do sangue de Cristo – sua morte vicária – que ele mesmo considera como

um batismo. Pode-se concluir, então, que o batismo cristão é símbolo e selo da

morte do Senhor Jesus e de suas implicações para Igreja.

45
Mc 10.38 (cf. Mt 20.22): os versículos encontram-se no contexto em que Jesus e os doze estão de
retorno a Jerusalém onde Jesus seria preso e condenado à morte na cruz. Este fato é predito pelo
próprio Cristo.
Batismo Infantil 36

O apóstolo Paulo na carta aos Romanos esclarece o que anteriormente o

Senhor Jesus afirmara sobre o batismo. O capítulo seis desta carta é onde Paulo

expõe o valor teológico deste sacramento. No capítulo cinco de Romanos, o

apóstolo trata da justiça proveniente da fé em Cristo – por causa da morte de Jesus

todo que crê é justificado. O escritor sagrado, fazendo o contraste entre Adão e

Jesus, mostra como a justiça que é pela graça chegou até os crentes. Tal justiça não

é alcançada pelas obras da Lei, mas o é segunda a graça. A lei, segundo o apóstolo,

serviu para avultar a ofensa (5.20), portanto, ninguém pode ser justificado por ela.

Logo a lei condena todos os homens à morte. Mas, na segunda parte do v. 20, Paulo

em uma única frase restabelece a esperança de redenção. Diz ele: “mas onde

abundou o pecado, superabundou a graça” (5.20b). Não há justiça ou justificação

que se possa alcançar por obras humanas. Como afirma o profeta Isaías: “todos nós

somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia” (Is

64.6a). Desta forma, a Lei nos mostra quem somos de fato: impuros, injustos. A

circuncisão exercia este papel. Como visto anteriormente, a extirpação do prepúcio

era uma medida higiênica que simboliza a necessidade que todo homem tem de se

purificar, mesmo os de mais tenra idade. O próprio Paulo em capítulos anteriores ao

quinto afirma que a circuncisão verdadeira é a interior e não a meramente exterior.

Diferentemente da Lei, a graça elimina a culpa e cobre as transgressões. Quanto

maior a culpa ainda maior é a graça. Esta graça reina pela justiça que é imputada ao

homem mediante a obra redentora do Jesus Cristo (5.21). Assim, somos livres da

culpa do pecado pela justiça que nos é imputada pela graça mediante a fé em Jesus

Cristo, nosso Senhor.

O capítulo seis trata de um outro aspecto da morte de Cristo: a santificação.

Paulo, antecipando-se a um possível mau entendimento do que foi exposto no


Pais e filhos no pacto da graça 37

capítulo anterior, inicia este capítulo com a pergunta retórica: “Que diremos, pois?

Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?” (v.1). Sua

resposta é categórica e inquestionável: “De modo nenhum! Como viveremos ainda

no pecado, nós os que para ele morremos?” (v.2). A graça de Deus revelada em

Cristo não é de forma alguma uma permissão para pecar e muito menos um

incentivo a isto. Significa que uma vez em Cristo, o homem morre para o pecado e

deve viver em santidade.

Para deixar bem claro o seu ensino sobre a morte para o pecado, Paulo faz

lembrar aos romanos o significa e as implicações do batismo que receberam.

Primeiro, o verdadeiro batismo acontece na morte de Cristo (v.3). O ato

batismal real do qual o sacramento do batismo é símbolo é a morte de Jesus. Paulo

afirma que todos os que foram batizados em Cristo o foram em sua morte. A o

sacrifício de Jesus – sua morte cruenta na cruz – é o batismo real. Significa dizer

que uma vez batizados em Cristo nos unimos a ele em sua morte.

“Se o batismo expressa a união com Cristo, deve apontar para a


união com Ele em tudo quanto Ele é em todas as fases de sua obra
como Mediador. Cristo Jesus não pode ser contemplado à parte de
sua obra, nem sua obra à parte dEle mesmo. Tampouco uma fase de
sua realização redentora pode ser divorciada de outra fase qualquer.
Por conseguinte, a união com Cristo, significada pelo batismo,
expressa união com Ele em sua morte” (MURRAY, 2003, p. 240).

Segundo, como expresso por Murrey (2003) não se pode apartar Cristo e sua

obra um do outro. Menos ainda, podem-se contemplar parcialmente as fases da obra

redentora de Jesus. Por exemplo, não se pode olhar para a justificação e ao mesmo

tempo negligenciar a santificação. Desta forma, a união com Cristo em sua morte

deve ser uma união com todas as implicações oriundas dela. Por isso, unidos a

Cristo pelo batismo em sua morte o crente na nova aliança está livre da culpa do

pecado pela justificação e também a corrupção deste pela santificação.


Batismo Infantil 38

Paulo para mostrar quão completa é a união do crente com Cristo assevera:

“Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi

ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em

novidade de vida” (v.4). Champlin (1986) divide as conseqüências da união com

Cristo em positivas e negativas. O lado negativo refere-se à morte para o pecado e o

sepultamento como evidência dessa morte. Ambos, morte e sepultamento, estão

ligados ao batismo. O lado positivo trata da ressurreição. Uma vez que Cristo

ressuscitou o crente também ressuscitará. Conforme o próprio apóstolo afirma, esta

ressurreição não é para uma mera existência, mas para a “novidade de vida” livre do

pecado.

“Ora, isso exige e garante a vitória sobre o pecado, até mesmo nesta
vida presente, porquanto essa vida agora consiste do andar de Cristo
no crente, conforme também aprendemos naquela declaração
paulina que diz: „... para mim o viver é Cristo...‟” (CHAMPLIN, 1986,
p. 668).

Assim, conforme a exposição de Paulo da união do crente com Cristo pelo

batismo, entendemos que o significado teológico do sacramento do batismo para

igreja cristã é a união espiritual entre Cristo e seu povo – a igreja – e suas

conseqüências: morte para o pecado e nova vida em santidade 46. Percebemos

também que esta era a mesma proposta da circuncisão: separar um povo para

Deus, pois em última instância a circuncisão exigia santidade o mesmo que é exigido

no batismo. Champlin (1986, p. 669) relaciona os dois desta maneira:

A lei mosaica consistia apenas em um documento escrito, que ensina


excelentes princípios morais; mas não representava uma força viva.
O Espírito de Deus no crente, que produz a união com Cristo, em sua
morte e ressurreição, é uma força viva, e isso garante a vida de
santidade. Porém, se não existe vida santa para o crente, temos o

46
“sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja
destruído, e não sirvamos o pecado como escravos” (Rm 6.6).
“sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem
domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas,
quanto a viver, vive para Deus” (Rm 6.9,10).
Pais e filhos no pacto da graça 39

direito de duvidar da existência de qualquer força viva atuante no


crente, pelo menos no que se aplica à pessoa que permanece no
pecado.

Este pensamento concorda com aquilo que está foi dito por Paulo em Cl 2.11,

12:

Nele [Cristo], também fostes circuncidados, não por intermédio de


mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão
de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no
qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de
Deus que o ressuscitou dentre os mortos”.

A circuncisão de Cristo não é uma mera excisão prepucial, mas é o despojar-

se da carne – a natureza carnal. Isto só é possível por causa do batismo de Cristo –

sua morte sacrificial. E o crente se mostra participante desta por meio do

sacramento do batismo.

Assim como a circuncisão era mero sinal da necessidade de purificação e não

a purificação em si. Da mesma forma o sacramento batismal é representação da

graça revelada na obra redentora de Cristo e não a graça em si. Segundo o que

crêem as igrejas reformadas:

A graça que é comunicada nos sacramentos, ou por meio deles,


devidamente usados, não é conferida por qualquer poder neles
existente; nem a eficácia de um sacramento depende da piedade e
intenção daquele que o administra, mas da operação do Espírito
Santo e da palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito
que autoriza o uso dele, contém uma promessa de benefício aos que
dignamente o recebem (CFW, XXVII, III, grifo nosso).

Por isso, é condenável o pensamento sacramentalista que confere aos

sacramentos um poder mágico. Poder este inerente ao próprio sacramento e que, no

caso do batismo, poderia causar a regeneração e a redenção daquele que o recebe.

“Calvino e a teologia Reformada partiam da pressuposição de que o batismo foi

instituído para os crentes, e não produz, mas fortalece a nova vida” (BERKHOF,

1990, p. 579).
Batismo Infantil 40

Por isso, o apóstolo Paulo exorta aos irmãos de Roma a não mais andarem

segundo o velho homem, mas em novidade de vida47. Uma vez que o batismo indica

essa necessidade de purificação, é necessário que o batizado busque santificar-se.

O mesmo se dá com a circuncisão quando Moisés ordena que o povo circuncide o

coração. O que torna o sacramento eficaz não é o que acontece antes, mas

principalmente o que acontece depois de o crente o receber. Da mesma forma, a

CFW fala da eficiência dos sacramentos somente no caso de serem recebidos

dignamente. Desta maneira ela concorda com que o apóstolo Paulo na carta aos

romanos.

Conclui-se que o valor teológico do batismo está no fato de que ele

representa a morte de Cristo – cabeça pactual do novo Israel que é a Igreja.

Portanto, segundo o modelo do AT, onde os que eram circuncidados repetiam o

compromisso de Abraão – o cabeça pactual do antigo Israel – de andar na presença

de Deus em perfeição. Da mesma forma os que hoje são batizados repetem o

compromisso de Cristo de morrer para o mundo e viver para Deus. Ainda, como a

circuncisão apontava para a impureza inerente a todo homem desde o seu

nascimento, também o batismo aponta para a necessidade de santificação, uma vez

que todos os homens, inclusive as crianças, sofrem com a corrupção do pecado.

Uma vez que batismo e circuncisão têm o mesmo valor teológico, apontam

para mesma necessidade de santificação, que são baseados nas mesmas

promessas e que têm como alicerce o próprio Senhor Jesus, sendo ambos símbolos

de admissão na comunidade pactual, afirmamos que batismo e circuncisão são um

só sacramento que se diferenciam apenas na forma em que são administrados em

suas respectivas épocas. Sendo assim, o batismo cristão em sua forma cerimonial é

47
Rm 6.11-13; 19-23.
Pais e filhos no pacto da graça 41

administrado por meio do lavar com água e não da extirpação do prepúcio; é feito

em nome do Pai, do Filho e Espírito Santo e é conveniente a todos que fazem parte

da comunidade pactual – a igreja visível – sejam adultos ou crianças.

2.3 Evidências Bíblicas

Não é a proposta deste trabalho afirmar a biblicidade do batismo infantil

através de fatos históricos narrados nas Escrituras Sagradas que provem que

crianças foram batizadas, uma vez que não existem narrativas bíblicas que mostrem

explicitamente que isto aconteceu. Deve-se considerar que nas condições da igreja

primitiva – missionária, em fase de constituição – o batismos de infantes não se dava

na mesma proporção que numa igreja já formada (BARTH; CULLMANN, 2004). Há

no texto santo, entretanto, narrativas de pessoas que foram batizadas e junto com

elas todos de sua casa, porém estas narrativas não são – na opinião de alguns –

conclusivas para questão do pedobatismo. Contudo, servem para mostrar o caráter

pactual do sacramento.

O batismo judaico já contemplava as mulheres (BARTH; CULLMANN, 2004).

A igreja primitiva também incluía as mulheres no batismo: “Quando, porém, deram

crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de

Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres” (At 8.12).

Notamos que nenhuma orientação foi dada por Cristo quanto ao batismo de

mulheres, mas os da igreja primitiva agiram conforme o modelo de batismo que

conheciam – a batismo de prosélitos praticado pelos judeus. Como sabemos, na

sociedade judaica as mulheres eram consideradas inferiores aos homens, muitas

vezes consideradas como mera propriedade masculina. A participação delas na

comunidade do pacto se dava através ou do pai ou do marido, uma vez que eles é
Batismo Infantil 42

que recebiam a circuncisão. O fato de a igreja primitiva batizar mulheres seria, para

aquele momento histórico, uma subversão que necessitaria de orientações mais

claras por parte de quem instituiu o batismo cristão, o Senhor Jesus. Contudo, esta

orientação seria desnecessária se já houvesse um modelo de batismo em que as

mulheres fossem incluídas. Este é o caso do batismo judaico.

Uma dessas mulheres batizadas era Lídia48. Diz-se desta mulher que ela era

temente a Deus e que este “lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo

dizia” (At 16.14). Contam-nos também as Escrituras que Lídia foi batizada e

juntamente com ela todo sua casa49 (oi=koj). No mesmo capítulo dezesseis, está

contada a história do carcereiro da prisão em que Paulo e Silas estavam detidos50. O

guarda do cárcere faz a seguinte pergunta: “Senhores, que devo fazer para que seja

salvo?” A resposta de Paulo e Silas é: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua

casa [oi=koj]” (At 16.30, 31). O texto segue nos dizendo que tanto o carcereiro,

quanto todos os seus foram batizados51. Há ainda outros casos narrados na Bíblia

de pessoas que foram batizadas juntamente com toda sua casa (oi=koj). Embora

nenhuma delas mostre claramente que havia crianças naquelas famílias 52, podemos

extrair delas um princípio e um padrão a respeito do batismo cristão praticado pela

igreja primitiva.

48
At 16.11-15.
49
“w`j de. evbapti,sqh
kai. o` oi=koj auvth/j ( pareka,lesen le,gousa( Eiv kekri,kate, me pisth.n tw/|
kuri,w| ei=nai( eivselqo,ntej eivj to.n oi=ko,n mou me,nete\ kai. parebia,sato h`ma/j” (GNT, At 16.15,
grifo nosso).
50
At 16.25-34.
51
“kai. paralabw.n auvtou.j evn evkei,nh| th/| w[ra| th/j nukto.j e;lousen avpo. tw/n plhgw/n( kai.
evbapti,sqh auvto.j kai. oi` auvtou/ pa,ntej paracrh/ma ” (GNT, At 16.33, grifo nosso).
52
Em Jo 4.46-53 que termina com declaração que tanto o oficial do rei quanto toda sua casa creram,
faz-se necessário notar que o filho(v. 49) do oficial era uma criança pequena como descrito pela
substantivo grego paidi,on. Esta é uma evidência de que crianças eram contadas entre os da casa de
alguém.
Pais e filhos no pacto da graça 43

O princípio é o da solidariedade familiar. Uma vez que um dos chefes da

família – seja homem ou mulher – cresse, não só esta pessoa, mas também toda

sua família (oi=koj) eram batizadas, como aconteceu com Lídia e com carcereiro. É

importante notarmos que a palavra usada para casa nestes textos, e também em

todos outros que tratam de batismo ou crença de famílias inteiras53, é oi=koj. Há, no

grego, duas palavras para casa: oi=koj e oivki,a. O termo oi=koj, na tradição helênica

e principalmente no NT, é mais usado para se referir à família e não às propriedades

de alguém. Relaciona-se, portanto, à esposa e filhos e eventualmente a parentes

que habitassem juntos na mesma casa. Segundo Kittel, a expressão “casa de”,

usada no NT, tem sua origem no AT. É de lá que os escritores neotestamentários

freqüentemente extraem o valor semântico de oi=koj54. Expressões do tipo: “casa de

Israel”, “casa de Davi”, “casa de Jacó” e “casa de Judá” e outras fazem-nos lembrar

da idéia básica do NT: “A nação, geração ou família tem um ancestral ou líder de

quem todo grupo recebe seu nome. Originalmente o nome próprio está no genitivo e

é colocado depois de oi=koj tornando-se assim o nome do grupo55” (Kittel in LOGOS,

1999). Exemplo disto são: oi=kon Dauid (casa de Davi) ou Stefana/ oi=kon (casa de

Estéfanas). O que se pretende demonstrar aqui é que, a exemplo do que acontecia

com a circuncisão, quando o líder de uma família se convertia ao cristianismo e era

batizado toda sua família indistintamente era batizada com ele. Isto não os tornava

salvos – pois o batismo é símbolo da graça da redenção e não a graça em si – mas

os admitia da comunidade do pacto – a igreja visível. Assim como na circuncisão

observa-se também no batismo o mesmo princípio da solidariedade familiar.

53
Ver também: Cornélio (At 10.23-48); Crispo (At 18.8); Estéfanas (1Co 1.16).
54
tradução da LXX para o substantivo hebraico tyIB; (casa).
55
“The natio, gens, or familia has an ancestor or leader from whom the whole group receives its name
and after whom it calls itself. Originally the proper name is a gen. behind oi=koj, but it then becomes
the name of the group as such” (LOGOS, 1999).
Batismo Infantil 44

Inferimos, das narrativas sobre famílias inteiras sendo batizadas, o padrão

deixado pelos apóstolos: eles batizavam os lideres que se tornavam crentes e todos

que estivessem debaixo de sua tutela. Supondo-se que não houvesse crianças em

todas as famílias batizadas e cujas histórias estão registradas nas Escrituras

Sagradas, ainda assim não podemos negar que era uma prática na igreja primitiva

batizar famílias inteiras desde que pelo menos um de seus líderes se tornasse

crente. Este padrão é nos deixado por herança através do registro bíblico.

2.4 Considerações finais

Até aqui observamos como circuncisão e batismo são símbolos diferentes,

mas com o mesmo significado teológico-pactual: necessidade de purificação e

admissão no reino visível de Deus – outrora Israel e hoje a Igreja. Assim o batismo é

conveniente aos pequeninos porque não apenas os admite na mesma comunidade

pactual de seus pais, mas também porque indica que mesmo o menor dos seres

humanos está sujeito à corrupção do pecado e, por isso mesmo, necessita de

purificação por meio do sangue de Cristo.

Demonstramos ainda que, em sua forma ritual, o batismo cristão deriva do

batismo judaico de prosélitos. Padrão repetido por João e pelo próprio Senhor Jesus

quando instituiu o batismo cristão sem qualquer ressalva, senão que fosse realizado

em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Desta maneira, assim como os judeus

batizavam os prosélitos e os filhos destes para admiti-los no judaísmo e como

símbolo de uma nova vida – novo nascimento – os cristãos devem batizar seus filhos

pequenos, uma vez que não há nenhuma restrição bíblica a este respeito.
Pais e filhos no pacto da graça 45

Por fim, vimos que o batismo traz consigo o mesmo princípio de solidariedade

familiar que havia na circuncisão. Por isso os apóstolos batizavam o chefe da família

e toda sua casa. Este é um padrão indubitável das Escrituras Sagradas.

Partiremos agora para as implicações práticas do batismo infantil para os pais

e seus filhos.
Batismo Infantil 46

3 Batismo Infantil: pais e filhos no pacto da graça

Diante do significado pactual do batismo – semelhante ao da circuncisão –

percebemos como este sacramento não só é próprio para as crianças, mas também

necessário a elas por causa de suas implicações. Tais implicações são o alvo deste

capítulo.

Contudo, antes de adentrarmos na questão proposta é necessário que

esclareçamos algumas questões sobre o batismo de infantes. Estas questões

precisam ser elucidadas para que não pairem dúvidas em nossas mentes quanto ao

verdadeiro significado do batismo para os filhos dos crentes.

3.1 Fé, regeneração e salvação de crianças

Uma das maiores objeções ao batismo de crianças é questão da fé. Os

batistas56 negam aos pequenos este sacramento porque alegam que bebês não

podem confessar a sua fé. Usam como base para esse posicionamento casos como

o do Eunuco57. Neste, Filipe coloca como condição para o batismo a existência de

uma fé verdadeira. O texto segue nos dizendo que após confessar sua fé em Cristo

o eunuco desce às águas com Filipe e é batizado por este (v. 37, 38). A primeira

vista, podemos mesmo afirmar que a condição essencial para o batismo é que o

batizando, antes, tenha confessado sua fé em Cristo. Doutra sorte, podemos deduzir

do texto, ele não pode nem deve ser batizado. A questão é: seria isto é verdade

também para os bebês?

56
Não é uma referência específica à denominação, mas “batistas” serve para identificar o grupo
antagônico aos pedobatistas.
57
At 8.36-38.
Pais e filhos no pacto da graça 47

E quanto às palavras do Senhor Jesus quando da grande comissão (Mc

16.15, 16)? Argumentam os batistas que na ordem de Jesus aos seus discípulos a fé

ativa é a condição fundamental para o batismo. Este e muitos outros textos do NT

apresentam a fé como uma condição para o batismo de adultos. “Mas, embora a

Bíblia indique claramente que somente os adultos que criam eram batizados, em

parte nenhuma firma a regra de que uma fé ativa é absolutamente essencial para

receber-se o batismo” (BERKHOF, 1990, p. 588). É importante salientarmos que no

caso de adultos que queiram ser batizados, espera-se que estes façam a confissão

e a demonstração de uma fé verdadeira. É o caso da grande comissão. Temos que

ter em mente que, naquela ocasião, Cristo tem em vista a obra missionária da igreja.

Implica que o alvo são os adultos. Eles é que seriam evangelizados. É fé é de fato

um pré-requisito para que adultos sejam batizados, mas o mesmo não se aplica às

crianças. Em momento algum, este pode ser um argumento contra o batismo infantil.

Outro argumento usado pelos batistas, ainda sobre a questão da fé nos

infantes, tem base em Rm 10.17 (NVI): “[...] a fé vem por se ouvir a mensagem, e a

mensagem é ouvida mediante da palavra de Cristo”. Uma vez que as crianças,

supostamente, não podem compreender a pregação, também não podem chegar à

fé e, por isso, não podem ser batizadas. Novamente afirmamos que não há duvidas

de que o texto assevera justamente que a fé só possível por meio do ouvir a

pregação do evangelho. A mensagem de boas novas foi o meio ordinário

providenciado por Deus para que pessoas pudessem crer em seu Filho. Então, fica a

pergunta: isto se aplica também às crianças?

Se respondermos positivamente a pergunta acima, entraremos numa questão

muito mais profunda do que a conveniência de se batizar ou não bebês. O “sim” a

esta pergunta nos levará a realidade inexorável de que aqueles que morrem na
Batismo Infantil 48

infância estão condenados ao inferno, pois sua condição infantil não permite que

exerçam fé. Seria este o caso, então? Podemos afirmar que todas as crianças que

morrem vão para o inferno? Cremos que não! Como é temerário afirmar que todas

as crianças ao morrerem são salvas, é também leviano dizer que todas serão

condenadas caso morram na infância. Berkhof (1990, p. 589) expõe da seguinte

maneira a questão: “o batista que for coerente ver-se-á sob o peso do seguinte

silogismo: A fé é a conditio sine qua non (condição indispensável) da salvação. As

crianças ainda não podem exercer fé. Logo, as crianças não podem ser salvas”. A

afirmação que todas as crianças que morrem estão condenadas não é verdadeira

inclusive para os batistas. Landes (1979, p. 29) expõe assim a questão:

[...] tanto batistas como os pedobatistas admitem que as crianças


que morrem na infância são salvas sem fé. E para serem salvas
precisam ser regeneradas pelo Espírito Santo, porque ninguém entra
no Reino dos Céus sem ter nascido de novo. E se a criança pode ser
regenerada, também pode receber o sinal visível da sua
regeneração. As crianças são salvas por Jesus, que pelo Espírito lhe
aplica as bênçãos da redenção. Desde que nasceram no pecado,
necessitam da purificação pelo sangue de Cristo para entrarem no
seu reino.

A condição espiritual dos infantes é misteriosa pelo fato de que as crianças

não podem expressar de maneira inteligível, para os adultos, esta condição.

Contudo, as Escrituras afirmam coisas sobre o gênero humano que servem tanto

para adultos como para as crianças: todos nascem pecadores; todos precisam ser

regenerados para se livrarem da culpa e corrupção do pecado; a regeneração se dá

pala graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo. Por isso, mesmo a menor das

crianças, para ser regenerada, precisa crer em Jesus. A Palavra de Deus não diz em

nenhum lugar que isto não é possível a elas. Da mesma forma que os adultos,

somente as crianças eleitas são salvas e nelas Espírito Santo operará eficazmente

produzindo fé e regeneração. Ao referir-se a Rm 10.17, Calvino (1999) afirma que


Pais e filhos no pacto da graça 49

Paulo está falando da maneira ordinária pela qual o Senhor infunde a fé nos seus

eleitos58. Mas, Deus pode fazer de outra maneira, como de fato tem feito com muitos

que jamais ouviram a Palavra para chamá-los ao seu conhecimento. Assim

aconteceu com João Batista que, segundo Lc 1.15, era “cheio do Espírito Santo, já

do ventre materno”. Calvino argumenta ainda que se os infantes não tem acesso a

fé, todos os que morrem na infância estão perdidos. Claro que esta afirmação não

está correta, daí inferir que de alguma forma especial Deus se dá conhecer

completamente às crianças eleitas.

Por isso crermos na relação pactual do batismo da mesma forma que

acontecia na circuncisão. Quando batizamos as crianças cremos que elas participam

da mesma aliança que Deus fez com seus pais: “Pois para vós outros é a promessa,

para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o

Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.39). É coerente com a Palavra de Deus o ensino

de que as promessas graciosas de Deus atingem o crente e sua descendência. Este

princípio está presente em todo AT e também no NT e se torna ainda mais claro nas

palavras do apóstolo Paulo em 1Co 7.14: “Porque o marido incrédulo é santificado

no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido

crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos”.

Assim, quando batizamos nossos filhos, os inserimos no número daqueles que são

contados como o povo de Deus aqui na terra, a igreja. Também, com fidelidade,

aguardamos a promessa de que Deus será também o Deus de nossos filhos, assim

como é o nosso.

58
O contexto em que o texto aparece, semelhantemente ao de Mc 16.15, 16, expressa uma
motivação missionária para a pregação de Cristo.
Batismo Infantil 50

Cremos por isso que uma das maneiras de Deus chamar eficazmente as

crianças eleitas é fazendo-as nascer em lares cristãos. Dando-lhes pais tementes e

que lhe ensinem o temor.

3.2 A importância da Palavra de Deus

O batismo não é a salvação e nem uma garantia da mesma. Diferentemente

do Catolicismo Romano, a igreja reformada não atribui ao batismo nenhum poder

salvífico ou regenerador inerente a ele mesmo. Calvino (1999) afirma, e desta

maneira cremos, que o batismo não gera fé, mas serve para fortalecê-la.

Os sacramentos – batismo e ceia do Senhor – e a Palavra de Deus são meios

de graça. Berkhof define os meios de graça como “instrumentos, não da graça

comum, mas da graça especial, da graça que remove o pecado e renova o pecador,

em conformidade com a imagem de Deus” (1990, p. 557). E explica que “os meios

de graça sempre estão relacionados com a operação inicial e com a operação

progressiva da graça especial de Deus, que é a graça redentora, nos corações dos

pecadores” (1990, p. 558). Ambos os meios de graça são espiritualmente eficazes

se e somente se operados pelo Espírito Santo.

Desta maneira negamos atribuir-se ao batismo qualquer poder místico que

possa fazer com que ele sozinho gere fé ou opere a regeneração. O batismo e os

outros meios de graça são dependentes da livre graça de Deus que age

soberanamente como lhe apraz. A graça especial, esta sim, pode agir sozinha sem a

intervenção dos sacramentos e da Palavra de Deus. Contudo, atentemos para o que

diz o pensamento reformado:

Deus, e somente Deus, é a causa eficiente da salvação. E, na


distribuição e comunicação de Sua graça, Ele não está atado
absolutamente aos meios divinamente ordenados pelos quais Ele
age ordinariamente, mas os utiliza para atenderem aos propósitos da
Pais e filhos no pacto da graça 51

sua graça, de acordo com Seu livre arbítrio. [Entretanto] Deus os


designou para serem os meios ordinários por meio dos quais Ele
aciona a Sua graça nos corações dos pecadores, e negligenciá-los
voluntariamente pode redundar em prejuízo espiritual (BERKHOF,
1990, p. 560).

Assim, afirmamos que o Soberano Deus de forma alguma é depende dos

meios de graça para salvar quem quer que seja. Contudo, a Deus “aprouve obrigar-

se, exceto no caso das crianças, ao uso destes meios” (BERKHOF, 1990, p. 560).

Por isso, às crianças eleitas, ainda que – conforme a percepção humana – não

possam compreender a pregação e, desta maneira, se tornarem crentes, Deus as

chama por meios extraordinário, aplicando-lhes fé salvadora e a regeneração.

Ainda em relação aos meios de graça, afirmamos que a Palavra de Deus é o

único deles que pode gerar fé salvadora. Pois, como afirmam as Escrituras

Sagradas, “a fé vem pelo ouvir”. Os sacramentos não podem afastar-se jamais da

Palavra de Deus, porque neles está uma representação visível da verdade que nos

é transmitida pela Bíblia (BERKHOF, 1990). A Palavra gera fé e os sacramentos a

fortalecem. Por isso, dizer-se que os meios de graça têm uma operação contínua na

vida do crente.

3.3 Terceirização da educação

No Diretório de Culto de Westminster, na parte que trata sobre a

administração do batismo, o ministrante é instruído a exortar os pais a que batizam

suas crianças nos seguintes termos:

Ele exortará o Pai:


A considerar a grande misericórdia de Deus para com ele e sua
criança; A criar a criança no conhecimento das bases da Religião
Cristã e na sustentação e admoestação do Senhor; e a tomar
conhecimento do perigo da ira de Deus para si e a criança, se ele for
negligente. Exigir sua promessa solene quanto ao desempenho do
seu dever (O DIRETÓRIO DE CULTO, 2000, p. 45, grifo nosso).
Batismo Infantil 52

Semelhantemente os princípios de liturgia da Igreja Presbiteriana do Brasil

(IPB) trazem a seguinte instrução sobre o batismo:

Os membros da Igreja Presbiteriana do Brasil devem apresentar


seus filhos para o batismo, não devendo negligenciar essa
ordenança. § 1º - No ato do batismo os pais assumirão a
responsabilidade de dar aos filhos a instrução que puderem e zelar
pela sua boa formação espiritual, bem como fazê-los conhecer a
Bíblia e a doutrina presbiteriana como está expressa nos Símbolos
de Fé (PRINCÍPIOS DE LITURGIA, cap. V, art. 11, grifo nosso).

Percebemos, então, que a igreja reformada de todos os tempos esteve

sempre preocupada com a educação dos pequeninos. Esta preocupação não é uma

invenção dos reformadores, teólogos de Westminster ou das igrejas cristãs. Este

zelo pela formação das crianças é, sobretudo, devido ao real interesse de se

observar aquilo que as Escrituras Sagradas nos ensinam e exortam a fazer.

Então, qual é o compromisso dos pais para com os filhos? Ou melhor que

compromisso os pais assumem perante Deus quando trazem seus filhos às águas

batismais? Não é outro, senão, educá-los integralmente, mas principalmente no

temor do Senhor. Esta é a intransferível responsabilidade dos pais: cuidar para que

seus filhos desde a infância aprendam as sagradas letras que podem torná-los

sábios para a salvação59.

Como descrito nos princípios de liturgia da IPB, os pais devem se

comprometer a dar a instrução que puderem a seus filhos e a zelar pela boa

formação espiritual dos mesmos. Além do esforço para dar aos seus descendentes a

melhor educação secular possível para fazer deles bons cidadãos, honestos,

honráveis e respeitáveis. Os pais são, acima de tudo, responsáveis por promover o

desenvolvimento espiritual das crianças que nascem em seus lares.

59
2Tm 3.15ss. Nos versículos seguintes o apóstolo Paulo assevera a importância da Bíblia dizendo:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para
a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra”.
Pais e filhos no pacto da graça 53

3.3.1 NA EDUCAÇÃO SECULAR

Infelizmente não são poucos os pais que negligenciam tal tarefa. Uma

expressão muito comum em nossos dias e largamente usada pelos educadores para

descrever a negligência dos pais na educação dos filhos é “terceirização da

educação”. Significa que a família transferiu para outra entidade – a escola – a

responsabilidade de educar suas crianças. E não se trata aqui da educação formal

ou curricular, mas da transmissão de valores éticos e de comportamento. Se essa

situação não é satisfatória com relação à educação secular, o que podemos dizer

quando observamos o mesmo com relação aos valores espirituais? Se, quanto à

educação secular, os pais a têm transferido para as entidades de ensino, quanto à

educação ou formação espiritual, os pais a têm transferido para a igreja.

Esta atitude tem gerado frutos nocivos para a sociedade e para igreja. Porém,

os principais prejudicados são as próprias crianças que sofreram na pele – social e

espiritualmente – por causa da falta de zelo educacional por parte de suas famílias.

Um destes frutos nocivos é a indisciplina que traz consigo a “subversão do senso de

hierarquia” (BARELLA, 2005, p. 63) ou o não reconhecimento da autoridade.

Crianças, adolescentes e jovens, de uma maneira geral, perderam, se é que de

alguma forma lhes foi dado, o respeito por aqueles que estão em posição de

autoridade superior a deles. Uma matéria da Revista Veja sobre indisciplina nas

escolas mostra-nos essa realidade. Dentre outras coisas a reportagem fala a

respeito de uma novo distúrbio psicológico desenvolvido por professores da rede

privada de ensino: a fobia escolar.

„Os professores estão sofrendo de fobia escolar, antes um distúrbio


psicológico exclusivo das crianças‟, diz o psicanalista Raymond de
Lima, professor do departamento de fundamentos da educação da
Universidade Estadual de Maringá, no Paraná [...] Até a década de
90, esse tipo de distúrbio psicológico era quase monopólio daqueles
Batismo Infantil 54

professores que trabalham em escolas públicas. Hoje, afeta igual


quantidade de educadores de colégios particulares (BARELLA, 2005,
p. 63).

A fobia escolar, nos docentes, é causada pela indisciplina dos alunos. E pela

falta de autoridade que impede os educares de controlarem suas classes. A mesma

matéria aponto os principais culpados por tudo isso:

Os pais têm larga parcela de culpa no que diz respeito à indisciplina


dentro da classe. É uma situação cada vez mais comum: eles
trabalham muito e têm menos tempo para dedicar à educação das
crianças. Sentindo-se culpados pela omissão, evitam dizer não aos
filhos e esperam que a escola assuma a função que deveria ser
deles: a de passar para as crianças os valores éticos e de
comportamento básicos (BARELLA, 2005, p. 64, grifo nosso).

O irônico, para não dizer trágico, é que os pais trabalham muito justamente

para terem condição de dar uma educação melhor para seus filhos. Recentemente,

uma matéria jornalística, veiculada pela Rede Globo em um dos seus programas,

alerta a sociedade sobre o ingresso de adolescentes e jovens da classe média na

criminalidade. Um dos entrevistados foi um pai que acabara de perder seu filho –

jovem da classe média que tornou-se traficante e que tinha sido morto em um tiroteio

com a polícia. Esse pai acreditava que uma das causas, a principal delas, do

ingresso de seu filho na marginalidade foi a ausência daquele na família e

conseqüente negligência na educação de seu filho. Situações como esta servem

para mostrar quão verdadeira é a Palavra de Deus quando diz: “E vós, pais, não

provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do

Senhor” (Ef 6.4).

3.3.2 NA EDUCAÇÃO CRISTÃ

Infelizmente, observamos situação semelhante nos meios cristãos. Muitos

pais crentes entraram na onda da terceirização. Delegaram à escola a educação de

seus filhos. E, como já afirmado, não se trata da alfabetização e do ensino matérias


Pais e filhos no pacto da graça 55

do currículo escolar apenas, mas também, da transmissão de valores éticos,

comportamentais e, quiçá, espirituais. Como os não-cristãos, os pais cristãos

também trabalham muito. Também estão inseridos numa sociedade consumista. O

resultado de tudo isso é mais tempo gasto na busca do dinheiro – ou trabalho – e

menos tempo com os filhos. Como compensar as crianças pela falta de tempo e pela

ausência? Dando tudo que elas querem e nada do que elas precisam. Embora, não

haja pesquisas que possam mensurar os estragos da terceirização nas famílias de

crentes, uma breve observação em nossas igrejas nos colocará a par desta triste

realidade. Podemos ver nas crianças, adolescentes e jovens que freqüentam nossas

igrejas que, de fato, muitas famílias cristãs são negligentes para com a educação de

seus filhos. Quantos pastores, presbíteros, diáconos, professores de escolas

dominical, anciãos têm suas autoridades desrespeitadas e desafiadas pelos filhos

dos crentes? Quantas são as igrejas que adéquam suas programações e liturgias

para satisfazerem os mais moços? E isto por medo de que eles se revoltem e saiam

da igreja. Sem contarmos ainda com as concessões que fazemos quanto ao modo

de: vestirem-se, comportarem-se, falar. Parece que vivemos numa “tirania dos

filhos”. Tudo isso é resultado direto a terceirização da educação.

Há uma prática nas igrejas atuais que nos diz muito sobre a essa questão a

terceirização da educação: o “culto infantil” ou recesso das crianças. Não sabemos

quando e onde surgiu o culto infantil nem o seu propósito original. Contudo,

sabemos o porquê de ele existir hoje. Muitos pais reclamam que não conseguem

controlar seus filhos durante o culto, particularmente no momento da pregação da

Palavra de Deus. Alegam que as crianças ficam impacientes e não compreendem

nada do que está sendo dito. O culto infantil é uma solução para estes problemas

porque oferece a “palavra de Deus” numa linguagem “apropriada” às crianças –


Batismo Infantil 56

dizem os pais. A verdade é que culto infantil impede os pais de envolverem-se na

formação espiritual de seus filhos. Muitos pais não se querem dar ao trabalho de

ficar junto de seus filhos nem na hora da celebração do culto a Deus. Em muitos

casos isso se dá pelo fato de não conseguirem exercer autoridade sobre suas

crianças. É a falta de autoridade que deixa as crianças incontroláveis no culto. Mais

uma vez terceirizamos uma tarefa que é dos pais: o simples controle das crianças

quando da celebração é agora responsabilidade dos que dirigem o “culto” infantil.

O resultado é desastroso. No caso do “culto” infantil, por exemplo, o produto

já pode ser notado nesta geração. As crianças, que não participaram do culto junto

dos pais, são, hoje, adolescentes e jovens que também não querem participar do

culto ou que só aceitam participar se o culto tiver uma linguagem própria para eles –

o que quase sempre tem a ver com entretenimento.

A terceirização da educação é um problema que há muito tem assolado a

sociedade em geral e que tem nos dias atuais atingindo as famílias cristãs e a igreja.

Os pais não podem esquecer-se de que é confiada a eles e somente a eles a tarefa

de educar seus filhos nos caminhos do Senhor. A escola, na educação formal e a

igreja, na educação cristã são auxiliares, mas à família cabe o papel principal.

3.4 O principio bíblico da educação

Muitas são as posições dos psicólogos e educadores no que se refere à

maneira correta de educar as crianças. No decorrer das décadas passamos por

vários entendimentos sobre a forma correta de se transmitir valores e conhecimento

às crianças e como discipliná-las. Na década de 1960, entrou em voga um conceito

educacional de que “punir e reprimir os alunos é ruim para o desenvolvimento da


Pais e filhos no pacto da graça 57

criatividade e do espírito crítico” (BARELLI, 2005, p. 66). Na década de 1980, a

psicologia definiu que dizer “não” à criança traria prejuízo ao seu desenvolvimento.

Tiba (2002) chama a atual geração de jovens e adolescentes de “parafusos

de geléia” que quando apertados espanam. Os pais desta geração não servem de

referência, porque são ausentes e omissos; e, por outro lado são hipersolícitos, ou

seja, dizem sim a todos os desejos dos filhos. Logo, como estes não sabem lidar

com o não, também não aceitam ser contrariados em suas vontades e não lidam

bem com autoridade. Uma seqüência proposta para explicar o surgimento da

geração parafuso de geléia é “avós autoritários, pais permissivos (=

antiautiritarismo), netos sem limites (parafusos de geléia)” (TIBA, 2002, p. 52). Desta

forma, em três gerações saímos de um extremo para o outro: do autoritarismo para a

permissividade total. Se o autoritarismo produziu uma geração frustrada pelos limites

rígidos – alguns injustificáveis – que seus pais impunham, a permissividade tem

produzido uma geração mimada, egoísta, hedonista, imoral e igualmente frustrada,

porque embora em casa só recebam “sim”, fora dela têm que lidar com o “não”. Os

filhos da permissividade se assemelham àqueles a quem Deus entregou aos seus

próprios corações. Como nos revela o apóstolo Paulo em Rm 1.29-31:

cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de


inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores,
caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos,
presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais,
insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia.

A sociedade, os psicólogos e os educadores, ainda que tardiamente, já

perceberam que a educação com base na permissividade gerou muitos prejuízos

irreparáveis. Pelo menos uma geração inteira foi comprometida e a outra que virá, se

educada da mesma forma, corre grande risco de ser ainda pior que a atual. O que

fazer? Voltar ao autoritarismo? Cremos não ser esta a melhor opção. A única
Batismo Infantil 58

solução real e eficaz, sobretudo para os pais crentes, é voltarem aos princípios

bíblicos para educação dos filhos. Porque Deus, em sua infinita graça, misericórdia e

profundo amor, interessado pelo bem estar e preservação da família, providenciou

na sua Palavra Bendita os princípios que devem reger as relações entre marido e

mulher e entre pais e filhos.

3.4.1 TREINA A CRIANÇA

No passado, irmãos nossos aplicaram os principias bíblicos para gerirem suas

casas e tiveram como resultado, não apenas famílias consagradas e fies a Deus,

mas também, a transformação da sociedade em estavam inseridos. É caso daqueles

que, por causa da fidelidade a Palavra de Deus, foram chamados de Puritanos e que

influenciaram a sociedade inglesa do séc. XVII. Quanto à educação de filhos, o

pensamento puritano é descrito como abaixo:

A ética Puritana de criação de filhos era treinar as crianças no


caminho em que deveriam seguir, cuidar dos seus corpos e almas
juntos, e educá-los para a vida adulta sóbria, santa e socialmente útil.
[...] Também era em casa, em primeira instância, que o leigo puritano
praticava o evangelismo e ministério. „Ele esforçou-se para tornar
sua família uma igreja‟ [...] „... lutando para que os que nascessem
nela, pudessem nascer novamente em Deus‟” (PACKER, 1996, p.
22, grifo nosso).

Muitos rejeitam os princípios vividos e pregados pelos puritanos. Mas olvidam

que são princípios coerentes com a Palavra de Deus.

O primeiro princípio que vamos ver aqui é o do treinamento. Procuraremos

expor como as Escrituras Sagradas nos admoestam a transmitirmos às nossas

crianças os valores do Reino de Deus.


Pais e filhos no pacto da graça 59

æ ])60 a criança no
O imperativo bíblico é claro e indubitável: “Ensina (%nOx

caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv

22.6). Uma tradução mais adequada para o verbo hebraico %n:x' seria treinar

(BIBLEWORKS, 2001). Tem a ver também com adestrar. As crianças, portanto

devem ser treinadas para aquilo que os pais objetivam para elas. À primeira vista,

parece uma tirania ou tolhimento de qualquer individualidade, criatividade e da

própria personalidade do infante. Mas, não é isso que a Bíblia propõe.

Muitos há que e advogam que as crianças devem aprender sozinhas a

desenvolverem valores e padrões próprios: é o que pregam os construtivistas. Neste

sentido, os pais seriam meros “facilitadores” deste processo. Não são poucas as

igrejas que adoram nas suas classes de escola bíblica dominical (EBD) a filosofia de

Piaget. Contudo, é justamente o contrário que aprendemos com as Escrituras. O

Livro Santo, sempre e invariavelmente, nos exorta a treinarmos nossas crianças

para o futuro: tanto social quanto espiritualmente.

Costumamos pensar nas crianças, sobretudo as menores, como pessoas

isentas do pecado, inocentes e cheias de sentimentos nobres. Chegamos a dizer,

por exemplo, que criança não mente. Porém, isso não é verdade. Não é isto que a

Bíblia nos revela. O infante, como todos os seres humanos, é culpado de pecado e

por natureza é um pecador61. “O fato da mortalidade infantil, em um mundo no qual

Deus declarou: „O salário do pecado é a morte‟, consubstancia essa doutrina da

culpabilidade moral dos infantes diante de Deus” (ADAMS, 1994, p. 135).

60
%n:x' (khaw-nak'): treinar crianças; no caso de animais, adestrar. A forma que aparece no texto é qal
imperativo masculino singular (BIBLEWORKS, 2001).
61
Ef 2.3; Sl 51.5; Sl 58.3.
Batismo Infantil 60

É a consciência de que nossos filhos nascem pecadores uma das razões

porque os batizamos. Como a circuncisão, o batismo aponta para a impureza de

todo ser humano – inclusive das crianças – e para a necessidade de purificação.

Significa que entendemos que nossos filhos precisam ser regenerados, pois doutra

sorte perecerão, continuarão mortos em seus delitos e pecados. Adams (1994, p.

135) nos leva ao cerne do problema: “Na qualidade de pecadores não-remidos, as

crianças deixam de corresponder como deveriam fazê-lo”. É por causa desta

incapacidade de corresponder convenientemente aos padrões divinos que elas

precisam ser diligentemente treinadas, ainda na infância, por seus pais. Se é que

estes desejam que, no futuro, seus filhos sirvam a Deus.

Pv 22.6 nos ensina que as pessoas são fruto do treinamento que seus pais

lhes deram na infância. Muitos interpretam este provérbio como sendo uma

promessa. Mas não se trata de uma promessa e sim de uma constatação da

realidade, ou seja: o que se ensina aos filhos determinará o tipo de pessoas que

estes serão no futuro. Bons ensinamentos, provenientes de educação diligente,

produzirão pessoas virtuosas. Em contrapartida, maus ensinamentos, provenientes

de educação negligente, produzirão pessoas desvirtuadas. O próprio livro de

Provérbios deixa esta constatação mais clara: “a criança entregue a si mesma vem a

envergonhar a sua mãe” (29.15).

As crianças precisam ser educadas, treinadas para poderem corresponder

aos padrões de Deus e para se livrarem desta corrupção inerente a todos os seres

humanos. Um outro provérbio adverte: “estultícia está ligada ao coração da criança,

mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pv 29.15). E, ainda outro diz: “Não retires

da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás

com a vara e livrarás a sua alma do inferno” (Pv 23.13, 14). Quando as Escrituras
Pais e filhos no pacto da graça 61

tratam de educação de filhos, ela vai além da simples formação do caráter ou

personalidade. A preocupação de Deus é primordialmente com a alma da criança e

com seu destino eterno. Os pais crentes são responsáveis por transmitirem aos seus

filhos os ensinos das Escrituras, os valores do Reino de Deus e o temor do Senhor.

Negligenciar o imperativo de Pv 22.6 é não zelar pelo destino espiritual das crianças.

3.4.2 COMO TREINAR A CRIANÇA?

Uma vez que a Palavra de Deus nos admoesta a treinemos as nossas

crianças, esta mesma Palavra também mostra como fazer. A técnica bíblica para

transmissão de ensino é simples, mas requer disciplina e zelo. É, particularmente, no

livro de Deuteronômio que ela está descrita.

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as


inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e
andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as
atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E
as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas (Dt 6.6-9).

O livro de Deuteronômio, cujo nome significa “repetição da lei” ou “cópia da

lei” (BERKER, 2003), é o relato das últimas palavras de Moisés ao povo de Israel

quanto este estava para atravessar o rio Jordão para tomar posse da terra

prometida. O propósito, como o próprio nome sugere, é trazer à lembrança do povo

os mandamentos e juízos ordenados pelo Senhor quando do início da jornada para

Canaã. Por que Moisés faz isso? Em Dt 4.1 encontramos a resposta: “Agora, pois, ó

Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino, para os cumprirdes, para

que vivais, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos

dá”. O propósito, então, é a preservação do povo62. O bem estar da nação

dependeria da obediência daquele povo. Não por um capricho de Deus, mas porque

aquela era a maneira correta de viver. É bom lembrarmos que os povos que
62
Dt 4.40; 7.12-15
Batismo Infantil 62

habitavam Canaã antes de Israel seriam destruídos justamente por causa da

idolatria e imoralidade em que viviam e, por isso, atraíram a ira do Todo Poderoso

sobre si63.

É neste contexto que encontramos o [m;v'64 (shamá). A confissão de fé

Judaica: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4). A

partir desta declaração vêm todos os compromissos que cada pessoa como membro

do povo de Israel deve assumir. Moisés a todo instante faz lembrar que tudo o que

Deus está fazendo por eles é o cumprimento da promessa que fizera aos patriarcas:

Abrão, Isaque e Jacó65. Não podemos esquecer em tempo algum que Israel é o

povo do pacto. A aliança que Deus fez com Abraão ainda estava em voga e jamais

caducaria. A iminente posse da terra era a prova de que Deus é fiel em seu

compromisso. A aliança alcança o que a recebe e a sua descendência. É por isso

que, mesmo depois de várias gerações, o povo contempla a realização da

promessa: a terra e a descendência numerosa. A parte do povo nesta aliança é

andar na presença de Deus em integridade, circuncidar não apenas o prepúcio, mas

principalmente o coração. A Lei dada pelo próprio Deus a Moisés no Sinai era a

forma de o povo cumprir sua parte. A obediência aos mandamentos era a principal

prova de amor a Deus que Israel poderia dar66.

Além amar a Deus por meio da obediência o povo foi instruído a transmitir

“estas palavras”67 também a seus filhos.

tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa,


e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as
atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E
as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas (Dt 6.7-9).

63
Dt 4.25-27; 9.4-6
64
Primeira palavra de Dt 6.4.
65
Dt 7.7-9.
66
Dt 6.5,6.
67
Dt 6.6.
Pais e filhos no pacto da graça 63

Na perícope acima vemos a técnica didático-pedagógica adotada por Deus

para ensinar as crianças. Uma técnica simples, mas que exige zelo. Ela nos ensina

quem deve educar e como fazê-lo.

Primeiro, a tarefa da educação é dada aos pais. “Tu as inculcarás a teus

filhos” esta é ordem que determina de quem é a responsabilidade: dos pais. Aos

pais é confiada de maneira intransferível a educação de suas crianças. A

terceirização fere este princípio bíblico. É, na verdade, uma invenção humana ou

uma estratégia diabólica que coloca a família em segundo plano e negligencia os

filhos.

Cremos que o batismo, assim como a circuncisão, tem um caráter pactual: os

filhos participam com os pais, enquanto responsáveis por eles, do mesmo pacto.

Semelhantemente, o batismo serve de sinal de ingresso na comunidade da aliança –

a igreja visível. Ao batizarem seus filhos, os pais se comprometem a: ler a Bíblia com

eles, orar com e por eles, servirem-lhes de testemunho e exemplo de temor e

obediência Deus. Assim como Israel por causa da circuncisão, os crentes, por causa

do batismo, são os responsáveis pelos seus filhos até que estes possam ser

responsáveis si mesmos. Os pais são o meio providenciado por Deus para instruir os

pequenos no seu caminho. Por isso, a responsabilidade é dos pais. Ainda que se

terceirize esta responsabilidade, ela continuará recaindo sobre eles. E a respeito

disto o Senhor lhes pedirá conta.

Muitos pais e mães se acham incapacitados para ensinarem seus filhos. E,

por isso, entregam esta tarefa a outro. Pais e mães cristão depositam na igreja toda

confiança de que nela seus filhos aprenderão a serem cristãos. Mas, a incapacidade

não isenta os pais da responsabilidade sobre o ensino dos infantes e, em alguns

casos, pode torná-los ainda mais culpados.


Batismo Infantil 64

Se o seu alcance da verdade espiritual é tal que você teme ser


incapaz de ensinar seus próprios filhos, isso pode significar que você
não tem cumprido algumas de suas responsabilidades básicas como
cristão – a menos que você seja um novo convertido. Mas, seja você
um neófito em Cristo ou alguém que tem demonstrado indiferença, é
seu dever agora começar a estudar para mostrar-se aprovado por
Deus, a fim de que possa obedecer tanto como pai e mãe quanto
como cristão. Isso requer muita diligência (MACARTHUR, 2001, p.
59).

A razão de muitos pais serem negligentes com a educação espiritual dos seus

filhos é o fato de que são negligentes com a sua própria. A falta de tempo por causa

do trabalho, a cultura do entretenimento e consumo e a ausência do lar não só têm

prejudicado as crianças, mas também os próprios pais que relegam a segundo plano

sua própria espiritualidade. E, mais uma vez, nos deparamos com a terceirização.

Os homens e mulheres crentes entregaram à igreja e aos pastores a

responsabilidade pelo próprio crescimento espiritual deles. O que a Bíblia ensina,

porém, é “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração”. Antes de

ensinar o pai e mãe têm que aprender e ser exemplo.

Nas promessas feitas no batismo, os pais como cabeças pactuais se

comprometem a serem os educadores de seus filhos e a fazerem isso com

diligência. O batismo não é mero ritual, mas é símbolo e selo da aliança que Deus,

por meio de Cristo, faz com o homem e sua descendência. Significa que aquele que

quebra esta aliança peca contra Deus e se comporta como louco e atrai sobre si e

sobre os seus conseqüências desastrosas68.

Melhor é que não votes do que votes e não cumpras. Não consintas
que a tua boca te faça culpado, nem digas diante do mensageiro de
Deus que foi inadvertência; por que razão se iraria Deus por causa
da tua palavra, a ponto de destruir as obras das tuas mãos? (Ec
5.5,6).

Segundo, a outra questão é: como se deve ensinar? Dt 6.7-9 mostra como:


Pais e filhos no pacto da graça 65

Inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e


andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as
atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E
as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.

O verbo !n:v' (shanan) traduzido por inculcar na versão ARA da Bíblia, também
pode significar ensinar diligentemente ou incisivamente. Qualquer tradução revela a

forma como os pais devem educar suas crianças. O resto da perícope confirma o

significado do verbo !n:v', assevera que a todo instante e em qualquer oportunidade


os mandamentos do Senhor devem ser ensinados aos infantes.

A frase “tu as inculcarás” vem de uma palavra hebraica que


geralmente se referia a afiar uma ferramenta ou amolar uma faca. O
que a pedra de amolar é para a lâmina da faca, assim o é o
treinamento para a criança. A educação preparava os filhos para
tornar-se (sic!) membros úteis da sociedade (TENNEY; PACKER;
WHITE, 2004, p. 82)

A tarefa de educar crianças é de tempo integral: “Ao deitar, e ao levantar”.

Durante todo o dia “estas palavras” devem martelar na cabeça das crianças. Os pais

têm que conversar com seus filhos sobre os mandamentos do Senhor, têm que fazê-

los presentes em momentos singelos como uma caminhada. Por isso, a tarefa não

pode ser dada a terceiros. Ninguém deveria passar mais tempo com os filhos do que

seus próprios pais. Educar os filhos no caminho de Deus exige tempo e zelo.

A técnica divina de ensino exige vivência e convivência.

Provavelmente não havia escolas formais nos tempos do Antigo


Testamento. A maior parte do aprendizado ocorria em meio à vida
cotidiana. À medida que surgiam as oportunidades no decorrer do
dia, os pais instruíam os filhos (TENNEY, PACKER, WHITE, 2004, p.
81).

A formação espiritual dos filhos era responsabilidade dos pais. Mesmo os pais

que se julgassem ocupados demais para ensinar seus filhos não eram excluídos

dessa obrigação. Em Israel, o pai era o responsável final pela educação dos filhos e

a mãe o auxiliava nesta tarefa: “as mães [...] desempenhavam um papel decisivo,
Batismo Infantil 66

especialmente até a criança atingir cinco anos de idade. Durantes esses anos

formativos, esperava-se que ela moldasse o futuro dos seus filhos e filhas”

(TENNEY, PACKER, WHITE, 2004, p. 80). Contudo, no mundo moderno as

mulheres estão fora de casa e, o quanto antes, mandam seus filhos pequenos para

as creches e escolas. Se os principais interessados no futuro dos filhos não dispõem

tempo para educá-los como esperar que outros o façam.

MacArthur (2001, p. 59) dá o seguinte conselho:

[...] a educação não é algo tão complexo como muitas pessoas


imaginam. Mas também não é algo fácil. As exigências sobre os pais
são constantes. Não há tempo para sentar e cruzar os braços. A
tarefa de ensino requerida é uma ocupação de tempo integral, sem
intervalos. Há muito que ensinar, e uma oferta infinita de
oportunidades. Esteja certo de aproveitar da melhor maneira possível
essa oportunidade.

A tarefa é de tempo integral porque as crianças, sobretudo as menores,

aprendem pela imitação. Elas precisam de modelos, de pessoas que as cerquem e

sirvam como referência de comportamento, caráter e, principalmente de temor do

Senhor. Os pais são responsáveis por serem esta referencia para seus filhos. O

aprendizado na infância sempre começa com o relacionamento humano: crianças

precisam sentir-se seguras e amadas. A medida que os relacionamentos pessoais

se desenvolvem, o aprendizado se dá pela imitação de outros e pelo reforço e

punição causados pelo seu próprio comportamento (DOWNS, 2001). As crianças

aprendem sobre a realidade de Deus quando vêm seus pais vivendo na realidade

diante da Deus: oração, humildade, comportamentos que o honram etc.

As atitudes dos pais em relação a Deus despertam na a criança a curiosidade

e interesse por ele69. Por isso, as festas no NT: as crianças, ainda que não tivessem

a experiência real dos pais, poderiam vivenciá-la nas festas e celebrações. Downs

69
Dt 6.20-25.
Pais e filhos no pacto da graça 67

(2001, p. 179) diz: “As atitudes e práticas de nossas reuniões de adoração também

formam a maneira de uma criança pensar sobre Deus. A teologia é exercida nas

práticas da igreja, tanto nas reuniões formais de adoração quanto informalmente na

vida em família”.

Pais cristão que desejam que seus filhos sejam também cristão verdadeiros

devem ensiná-los incisiva e diligentemente em todo tempo e oportunidade as coisas

de Deus e, sobretudo, oferecerem-se como exemplos vivos de cristão verdadeiros.


Batismo Infantil 68

Considerações Finais

O batismo de crianças é bíblico

Sob a perspectiva da aliança da graça, tipificada no AT pelo pacto que Deus

fez com Israel, na pessoa de Abraão, concluímos que batizar crianças está de

acordo com o que ensinam as Escrituras Sagradas.

O batismo é a nova forma do antigo pacto veterotestamentário. No AT, a

circuncisão era símbolo e selo do relacionamento entre Deus e a comunidade do

pacto, Israel. A extirpação do prepúcio apontava, em primeiro lugar, para a

necessidade de purificação, pois, toda raça – do menor ao maior – é impura diante

Deus e, por isso, cada homem precisa ser purificado. A excisão prepucial fazia

lembrar da impureza espiritual que seria sanada se houvesse também uma

circuncisão de coração.

Num segundo aspecto, a circuncisão era um símbolo de ingresso na

comunidade pactual. O circuncidado, adulto ou criança, entrava em relacionamento

pactual tanto com Deus – o Senhor da aliança – como com Israel que era o povo da

aliança e também o reino visível de Deus na terra.

Da mesma forma, por ser o novo símbolo e selo deste mesmo pacto, o

batismo instituído por Jesus e praticado pelos apóstolos tem o mesmo significado

teológico da circuncisão. Assim, o batismo indica que todas as pessoas, inclusive as

crianças, são pecadoras: estão sujeitas à culpa e corrupção do pecado. Por isso,

precisam ser regeneradas. O lavar exterior das águas batismais – símbolo do

sangue de Cristo – indicam que o mesmo lavar deve acontecer no coração do que é

batizado. Também, da mesma forma que a circuncisão, o batismo serve como sinal
Pais e filhos no pacto da graça 69

de ingresso na comunidade do pacto. Desta maneira, o que é batizado, adulto ou

criança, é posto em relacionamento com Deus e com a igreja visível, o reino de

Deus na terra.

Firmados no ensino escriturístico de que circuncisão e batismo são símbolos

diferentes de um mesmo pacto, conclui-se que pelas mesmas razões que os judeus

circuncidavam suas crianças, ainda em tenra idade, os pais cristãos devem também

batizar os seus filhos pequenos.

Os pais são responsáveis por seus filhos

Aos pais judeus no AT, por força do pacto a que se submetiam, era atribuída

a responsabilidade de educarem seus filhos para estes serem membros “úteis e

produtivos da sociedade” (TENNEY; PACKER; WHITE, 2004, p. 82) e,

principalmente, tementes a Deus. A negligencia para com esta tarefa traria

conseqüências trágicas tanto para indivíduo como para toda nação judaica. O pacto

que Deus fez o Israel trazia consigo privilégios e responsabilidades; bênçãos e

juízos. Uns e outros deveriam ser transmitidos aos pequenos para que aprendessem

amar e temer a Deus.

Os pais cristãos, por causa do pacto em que estão inseridos, da mesma

forma que os judeus, têm a intransferível responsabilidade de educarem seus filhos

para que sejam bons cidadãos neste mundo e, sobretudo, para que amem e temam

a Deus. Quando uma criança, pela providência divina, nasce em um lar cristão

entendemos que Deus se mostra propício àquele pequeno ser. A este, desde a mais

tenra idade, foram providenciados os meios para que possa ouvir a Palavra de Cristo

e crer nele. Contudo, é responsabilidade dos pais fazer com que esta criança

efetivamente seja educada nas Sagradas Letras. Nascer em um lar cristão e fazer
Batismo Infantil 70

parte da comunidade do pacto traz consigo privilégios e responsabilidades, bênçãos

e juízos. É dever dos pais transmiti-los aos seus filhos.

Conforme nos ensina Pv 22.6 o futuro de uma criança é resultado da forma

como ela treinada no presente. Todos os pais cristãos, independentemente de suas

posições em relação ao pedobatismo, são pactualmente responsáveis por seus

filhos. Mas, os pais cristão que batizam suas crianças afirmam compreender o valor

teológico do batismo e se comprometem diante de Deus a da comunidade pactual –

a igreja – a criarem seus filhos no temor do Senhor. Estes pais devem, ainda mais

que os outros, zelar por não serem negligentes para com a educação de seus filhos,

pois para aqueles a responsabilidade é ainda maior.


Pais e filhos no pacto da graça 71

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