Religião vs.

Ciência
A origem do Universo
Visão cristã vs. teoria científica
Pág. 10

Pensamento Científico e Religião

Pág. 3

O Criacionismo e o Evolucionismo
Pág. 6 e 8

Os milagres e a sua justificação científica

Pág. 4
 Religião Vs.
Ciência
Bem vindo à “Religião Vs. Ciência”, a re-
vista que irá mudar radicalmente a sua for-
ma de ver estas duas realidades tão díspares
mas tão presentes no nosso quotidiano.
Nas páginas que se seguem oferecemos-
-lhe informação diversificada sobre os
vários níveis a se dá este confronto, para
que consiga, no fim da sua leitura, re- A Origem do Universo
forçar, manter ou, quiçá, reformular a
sua opinião sobre tão polémico assunto. pág. 10
Esta informação encontra-se dividida ao
longo de cinco artigos distintos para que
melhor possa obter toda a informação
Pensamento científico e religião pág. 3
necessária para compreender tudo o que
está em jogo quando se fala deste confronto.
Os Milagres e a sua justificação Científica pág. 4
Contamos também com uma entrevista
ao Prof. José Feijó, professor de Biolo-
gia Celular, que se encontra a preparar O criacionismo pág. 6
uma exposição sobre a evolução. Nesta
entrevista partilha connosco a sua visão
sobre vários assuntos polémicos que en- Evolucionismo pág. 8
volvem tanto a religião como a ciência.
Como o “povo é quem mais ordena”, en-
contrará na secção “A voz do povo” dados
Entrevista ao Prof. Feijó, investigador do IGC pág. 12
estatísticos obtidos através de inquéritos
já realizados por este grupo de trabalho.
Deste modo, contextualizamos este con- A voz do povo pág. 15
flito no panorama português, ao mesmo
tempo que percebemos quão informa-
da está a população acerca deste tema.
Em nome de todo o grupo desejo-lhe uma
boa leitura. Não deixe de visitar o nosso site:
Sérgio Paiágua

Chefe de redacção: Sérgio Paiágua

www.religiaovsciencia.tk
Redacção: André Geraldes [andre_frg@
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[daniel_4_andrade@hotmail.com], Ricar-
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com], Tiago Barros [ogait_21@hotmail.
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Colaboradores: Padre Fernando Cima
Produção gráfica: Sérgio Paiágua
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Religião Vs Ciência 2

Pensamento científico
e religião
A noção mais generalizada que existe
acerca de um cientista é a de alguém que
parte em busca do conhecimento, deixan-
do todas as ideias pré-concebidas para trás,
confrontando sempre todas as descobertas
com que se depara com o seu cepticismo
natural. Para este, o único método capaz
de desvendar os “mistérios do mundo” é o
científico, colocando assim a re-
ligião completamente de parte.
Embora parcialmente correcta,
esta ideia não o está completa-
mente uma vez que quase todos os
grandes cientistas da história, Co-
pérnico, Kepler, Newton, Mendel,
eram confessos seguidores da re-
ligião. Estes cientistas conseguiram
conciliar as suas descobertas com a
crença na intervenção e existência
divina e ainda hoje existem cien-
Cartoon humorístico sobre o método científico e a religião.
tistas respeitáveis que o fazem. No
entanto, estes existem em cada vez
menor número (um estudo publicado na re-
vista Nature indica-nos que, em 1998, 72%
dos cientistas mais proeminentes a nível
mundial, se declaram ateus ou, pelo menos,
agnósticos face à crença num ser superior) o
que nos leva a pensar que a Fé não é com-
patível com o cepticismo, ferramenta indis-
pensável para qualquer cientista. Na verdade,
perante a pergunta de um estudante da City
College de Nova Iorque, “Pode ser-se um
bom cientista e acreditar em Deus?”, o Pré-
mio Nobel da Química Herbert A. Haupt-
man respondeu com um sonoro “Não!”.
Percebe-se portanto que, para os cientistas
que se consideram ateus, um cientista que
concilia a sua investigação com a crença num
ser superior, nunca será um bom cientista.
Em resposta a esta grave afirmação, Joseph
E. Murray, vencedor do Prémio Nobel da
Medicina, explica como consegue conciliar
os dois mundos e ser obviamente um bom
cientista, “A fé é algo em que se crê com o
coração”. Para ele, e para muitos outros que
partilham a sua opinião, a fé e a ciência são
como duas ferramentas com fins diferentes.
No caso de o objecto em estudo ser a gené-
tica, por exemplo, é correcto usar a ciência,
mas, se quisermos falar do amor talvez seja
mais apropriado servirmo-nos da fé. Como
disse o Director da Faculdade de Teologia da
Universidade Católica, Peter Stilwell, numa
entrevista concedida ao nosso grupo de tra-
balho, “Para compreender o amor e os senti-
mentos que lhe estão associados é preferível
ler um poema de Fernando Pessoa, do que
saber que uma série de agentes bioquímicos
estão a actuar e a provocar essa sensação.”.
Importa realçar que, quando falamos de ci-
entistas que conjugam a sua fé com o seu
trabalho científico, não significa que eles in-
terpretem a religião de uma maneira funda-
mentalista, atribuindo tudo a uma entidade
Divina. Na verdade, a maior parte destes
são apologistas de algo que é conhecido por
Desenho Inteligente, que não é mais do que
a ideia de que certas etapas da evolução do
Universo só podem ser explicadas pela ex-
istência de um criador inteligente. Um dos
argumentos utilizados por aqueles que acr-
editam nesta ideia é a de que certas etapas da
evolução são complexas demais para terem
ocorrido naturalmente. “Há 4000 milhões de
anos, as condições neste planeta eram com-
pletamente inóspitas para a vida tal como a
conhecemos; 250 milhões de anos mais tarde,
havia vida por todo o lado”, diz Fancis Col-
lins, Director do Instituto Nacional norte-
americano de Investigação sobre o Genoma
Humano, “Em somente 150 milhões de
anos, as macromoléculas uniram-se de ma-
neira a serem capazes de se auto-replicarem?
Creio que nem a mais ousada e optimista das
propostas se aproxima da explicação do ocor-
rido”. No entanto, a comunidade científica
é unânime quando afirma que esta ideia não
é mais do que um Criacionismo disfarçado
e que não deve, em circunstância alguma,
ser considerada evolucionismo. Ken Miller,
professor de biologia na Universidade de
Brown afirma que o Desenho Inteligente “é
uma tentativa de trazer o sobrenatural para a
ciência. E este tipo de aproximação acabaria
por destruir tanto a ciência como a religião”.
O confronto entre estes dois tipos de pen-
samento, o científico e o religioso, acontece
a muitos níveis, mas toma maiores propor-
ções quando o assunto em análise é o próprio
Homem. Para a religião, o Homem é o ser
para o qual foi criado o Mundo. É a espécie
destinada a multiplicar-se e a dominar a Ter-
ra. Dito isto, é fácil compreender que, para
a religião e para muitas pessoas,
aceitar que o Homem, a “obra-
prima da criação”, tem a mesma
origem que um macaco, ou mesmo
algo mais primitivo, é muito com-
plicado, pois põe em causa muitos
dos príncipios nos quais se baseia
a religião. No entanto, há cerca
de 150 anos atrás foi apresentada
uma teoria que revolucionou para
sempre a nossa maneira de olhar
para a evolução. A origem das es-
pécies através da selecção natural
apresentou factos tão irrefutáveis
e apaixonantes que esteve na origem
de uma radical mudança na forma de pensar
de uma sociedade que se apresentava como
altamente conservadora. Se a teoria de Dar-
win alcançou tamanho feito, em tão adversas
condições, tudo nos leva a crer que dificil-
mente o atrito entre estes dois eternos rivais
se atravessará no caminho do imparável pro-
gresso científico. Sérgio Paiágua
Religião Vs Ciência 3
 ainda nos nossos dias, um sinal de fé e, para
muitos crentes, quem neles não acredita é
agnóstico ou ateu ou, simplesmente, infiel.
Contudo, existiram sempre alguns crentes
em Deus, na religião católica em particular,
que demonstraram profundas restrições so-
bre a possibilidade da ocorrência de milagres.
Para os que crêem num Deus criador, o mi-
lagre é tão possível como qualquer outro
acontecimento; para os ateus, o milagre é
um acontecimento completamente duvi-
doso, ou mesmo impossível, pois acreditam
que a natureza se guia por leis sólidas e bem
estabelecidas e não poderá alterá-las a seu

Os Milagres e a sua Justificação gosto ou perante a influência ou a ambição

de alguém, por mais valorizado que seja.

Científica
Para estes, um feito que não tenha uma ex-
plicação racional é apenas a demonstração
do limitado conhecimento que temos da Na-
Em todas as religiões, os milagres têm constituído o alimento que tureza. Embora seja maioritariamente uma
atitude entre homens sem fé, esta opinião
sacia a fé de muitos crentes. A partir do século XVIII, o âmbito e a na- tem sido analogamente defendida por ho-
tureza destes foram diminuindo, à medida que a ciência moderna foi mens religiosos. Pedro Amorim Viana está
entre estes últimos. Em consideração com
encontrando para eles uma explicação racional. a sua fé, declarava que a religião cristã é a
Não surpreende que as hierarquias religiosas Congregação para a Causa dos Santos, um mais “augusta e pura” de todas as religiões
santas mais ou menos inspiradas dor Deus.
tenham criado alguns milagres ou adoptado milagre “é uma espécie de selo que Deus põe
e com o qual garante a santidade de determi- E, de todas as suas seitas, o catolicismo é a
aqueles que a população crente foi fabrican-
nada pessoa; mas é sempre Deus quem faz o que nos “oferece mais garantias de duração”.
do, por mais absurdos que pudessem parecer.
Os mais vulgares são as curas milagrosas, que milagre”. Podemos encontrar n’A Defesa do Racional-
ocorrem com grande frequência e continuam ismo ou Análise da Fé, polémico livro publi-
a ser apregoadas com relevo na comunicação • Falta de apoio... cado em 1866 por Amorim Viana, algumas
social. É o caso da mulher paralítica que passagens interessantes sobre a questão dos
começou a andar depois de ter evocado Ja- Com os movimentos racionalistas do século milagres:
cinta e Francisco Marto, o qual proporcion- XVIII, a verdade dos milagres, mesmo que
oficialmente reconhecidos pela Igreja, foi “A sabedoria e a coherencia da intelli-
ou aos pastorinhos de Fátima a beatificação. gencia suprema revelar-se-hão portanto
gravemente discutida e muitos se mani-
Muitos excessos foram possivelmente prati- festaram contra a possibilidade da sua ex- na inalterabilidade das leis naturaes, que
cados por todas as hierarquias religiosas com istência. Porém, acreditar em milagres é, nunca poderão ser violadas. Ora o milagre
o intento de fortalecer a fé dos seus crentes, é sempre uma violação d’essas leis. […]
mas, actualmente, a Igreja católica só recon-
hece um milagre quando a ciência se diz in-
capaz de o explicar. Perante a incapacidade
científica para encontrar uma justificação para
um acontecimento devidamente enquadrado
na esfera religiosa, a Igreja declara-o como
milagre. Como a ausência de uma explicação
lógica não valida forçosamente o milagre, é
bom esclarecer que a decisão da Igreja conti-
nua a basear-se em razões estranhas à ciência.
Um milagre é definido como um aconteci-
mento que foge às normas que regulamen-
tam o funcionamento da Natureza. Só uma
entidade superior a ela (o próprio Deus, se-
gundo os crentes) poderá alterar essas leis.
Desta forma, um Santo ao fazer um milagre
limita-se a intervir como intermediário en-
tre o suplicante e o Todo-poderoso. Como Santuário de Fátima: Ainda hoje os milagres são a forma mais eficaz de alimentar a fé
diz o cardeal Saraiva Martins, presidente da dos crentes. As peregrinações anuais a Fátima são disso um óptimo exemplo.

Religião Vs Ciência 4
De ser o milagre transgressão das leis
naturaes que se não podem trans-
gredir, fica rigorosamente demonstra-
da a impossibilidade dos milagres. […]
O milagre existe como existe o mal, como
existe o erro, a ignorância e a superstição;
não é obra de Deus, é producto espontâneo
da imaginação humana.”
• Milagres justificados...
Podemo-nos deparar com algumas jus-
tificações para muitos dos milagres que
fazem parte da Bíblia. Os milagres prati-
cados por Moisés, por exemplo, pare-
cem ter sido alvo de muitas pesquisas.
Diz a religião: Moisés, após libertar o
povo hebreu, tem à sua frente o Mar Ver-
melho, que, após o abrir em duas mu-
ralhas, passa por entre elas a pé enxuto.
Posto isto, a ciência responde: A primeira
dificuldade está na tradução. A palavra
hebraica “Yam suph” é traduzida ora por
“mar Vermelho”, ora por “mar dos Juncos”.
Às margens do mar Vermelho não crescem
juncos. O mar dos juncos propriamente dito
ficava mais a norte. Nos tempos de Ramsés
II, existia, a sul, uma ligação do golfo de
Suez com os lagos amargos. Provavelmente
chegava mesmo até mais adiante, até o
lago Timsah, o lago dos Crocodilos. Nessa
região existia outrora um mar de juncos.
O braço de água que se comunicava com
os lagos amargos era possível de percor-
rer em diversos lugares. A verdade é que
foram encontrados alguns vestígios de
passagens. A fuga do Egipto pelo mar dos
Juncos é, pois, perfeitamente verosímil.
Há uma outra justificação para este feito. De
facto, no tempo de Moisés, o Grande Lago
Amargo estava ligado ao Mar Vermelho e,
portanto, era sujeito às marés que neste se
verificavam. Moisés conhecia este fenóme-
no, que fazia com que a superfície do lago se
alterasse ao longo do dia. Assim, conduziu
os seus homens de modo a chegar ao lago
no momento da maré cheia. Fez as suas pre-
ces e as águas começaram, naturalmente, a
afastar-se. Entretanto, tinha escolhido um
trajecto no qual, após seis horas se atingisse
a parte mais funda do lago. Continuando,
a maré foi enchendo até ao momento em
que Moisés atingiu o outro lado do lago.
Religião: Sem água para saciar a sua sede,
novamente, o povo hebreu reclama a Moisés
que, inspirado por Deus, toca num roche-
do, fazendo jorrar água pura. Nessa aflição
Nuweiba, Egip
to
Moisés teve de tomar da sua vara e ferir um
rochedo para fazer sair água (Êxodo 17.6).
Ciência: Um dos seus golpes atingiu a
rocha. A superfície lista e dura que se for-
ma sempre sobre a pedra calcária exposta
ao tempo rompeu-se e caiu. Com isso
ficou exposta a rocha mole em baixo, e dos
seus poros fluiu um grande jorro de água.
Mas nem todos os milagres têm justificação
científica, como é o exemplo de qualquer
um dos milagres de Jesus, que, durante o seu
ministério, operou vários milagres, most-
rando assim o seu poder sobre a doença, a
natureza e até mesmo sobre a morte.
“O milagre (...) não é obra de Deus, é
producto espontâneo da imaginação
humana.”
• Irresolução...
Milagre significa suspensão dos fenómenos
naturais para a realização de algo sobrenatural.
Antigamente, aquando da colonização dos
índios, o homem branco oferecia-lhes bu-
gigangas, entre elas, espelhos. Como o ín-
dio nunca tinha visto tal objecto, ficava
encantado em poder ver-se num pedaço de
vidro. Deveria pensar que isso era um mi-
lagre. Pensando desta forma, diremos que
não: os milagres não existem. O que ex-
iste é a nossa ignorância a respeito das leis
que regem certos fenómenos. Leis divinas
que nunca vimos serem der-
rogadas por motivo algum. Na sua opinião, os milagres descritos na bíblia são:
Mas, o facto de estes milagres
terem justificações plausíveis,
não significa que tenha sido
assim que aconteceram de ver-
Nº de Pessoas
dade. Certos milagres chegam
a ter várias justificações, como
podemos constatar com o mi-
lagre de Moisés, na travessia do
Mar Vermelho. E estas justifi-
cações deixam, mesmo, de lado
algumas questões fundamentais.
Relativamente às rochas espon-
Segundo afirmam alguns cientis-
tas, terá sido por esta “ponte sub-
aquática” que Moisés e os seus
seguidores atravessaram o Mar
Vermelho, aproveitando o in-
tervalo de tempo em que a maré
começou a descer até que voltou
ao seu estado normal, arrastando
consigo o exército do faraó.
josas, por exemplo, falta explicar como é que
a quantidade de água extraída serviu para sa-
ciar a sede de mais de 1 milhão de pessoas,
juntamente com a dos seus animais, durante
40 anos.
Podendo justificar mas não desmentir os
milagres bíblicos, nunca os saberemos ver-
dadeiros, de ordem natural ou apenas factos
simbólicos interpretados à letra.
• Um pouco de estatística
Para melhor compreendermos a visão da
população geral sobre os milagres, incluímos
nos inquéritos que realizámos no âmbito do
nosso trabalho a seguinte questão: “Na sua
opinião, os milagres descritos na Bíblia são:”
sendo possíveis as seguintes respostas: “Ver-
dadeiros”, “Apenas Metáforas”, “Interpreta-
ções erradas desta” e “Puramente ficcionais”.
Uma vez que a faixa etária de maior ex-
pressão nos referidos inquéritos foi a de
jovens com menos de 18 anos (33 em 100
inquiridos), não surpreende que a resposta
“Puramente ficcionais” tenha sido a mais es-
colhida, uma vez que esta idade se caracter-
iza pela contestação de tudo o que a rodeia.
Segue-se a resposta “Apenas metáforas”,
o que nos leva a acreditar que muitas pes-
soas vêm a Bíblia como um modelo de vida
e não como uma “acta de uma reunião”.
As restantes respostas poderão ser consulta-
das no gráfico abaixo. Ricardo Vaz
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Verdadeiros Apenas Interpretações Puramente
Metáforas erradas desta Ficcionais
Religião Vs Ciência 5
O Criacionismo sobre os fenómenos da origem do Universo,
da vida e da evolução das espécies. Esta teo-
ria, apesar da evolução dos tempos, é ainda
Desde os tempos mais remotos, a criação do Homem e de todos os alvo de uma considerável aceitação, apre-
sentando, no entanto, algumas variantes.
outros seres vivos sempre fascinou e despertou o interesse de muitos Existem, assim, dois tipos centrais de cria-
pensadores. Diversas teorias foram formuladas ao longo dos anos na cionistas: os que acreditam literalmente em
todos os escritos bíblicos, especialmente os
tentativa de explicar tão misterioso fenómeno, sendo possível distin- presentes no Génesis e os que aceitam algu-
guir dois tipos de teorias: pré e pós Darwin. A teoria Criacionista é o mas teorias evolucionistas, sem, no entanto,
pôr em causa a existência de uma entidade
melhor exemplo do primeiro grupo. superior, um Deus, responsável pela criação.
Os relatos sobre a criação do Universo e verso e da Vida produto de entidades superi- Dentro da mesma crença, como é o caso da
dos seres vivos aparecem em textos e figu- ores. Para estas crenças, o fenómeno da criação religião cristã, encontram-se vários tipos de
ras pertencentes a muitas das mais antigas é visto como um acontecimento milagroso. teses criacionistas. As duas grandes divisões
civilizações que habitaram o nosso planeta. No Cristianismo, o criacionismo afirma criacionistas, são também elas divididas em
Estes relatos, na sua grande maioria, apon- que Deus criou o mundo e todo o seu con- várias outras teses. Entre as mais fortes teses
tam uma ou várias entidades como as re- teúdo a partir do nada. O criacionismo encontram-se o fundamentalismo bíblico,
sponsáveis pela criação de tudo o que nos católico considera as explicações dadas no que se divide nos criacionistas da Terra Jo-
rodeia e principalmente da origem da vida. livro do Génesis, o primeiro do Velho Tes- vem e da Terra Antiga e nos defensores do
A história da teoria criacionista con- tamento, como a verdadeira explicação neocriacionismo ou projecto inteligente.
funde-se, assim, com a história das “Estes [criacionistas da terra jovem] acreditam • Criacionismo da Terra Jovem
religiões. As concepções criacionis-
que o planeta Terra tem cerca de 6000 anos Os criacionistas da Terra Jovem são ex-
tas, na sua grande maioria, defendem
que a entidade divina não é apenas e que a idade do Universo é inferior ao valor tremamente conservadores e defensores
responsável pela criação do Universo apontado pela ciência.” do texto bíblico. Estes acreditam que o
e da Vida, mas também pelo destino planeta Terra tem cerca de 6000 anos e
dos seus povos, e ainda por actos excepcio- sobre a origem de tudo. Com efeito, na que a idade do Universo é inferior ao
nais só ao alcance de uma entidade superior. primeira passagem do Génesis podemos ler: valor apontado pela ciência. Rejeitam ainda
teorias como a do Big Bang e a da Relativi-
A vertente religiosa e, portanto, as posições “No princípio, quando Deus criou os dade Geral. Em facções mais conservadoras,
criacionistas abordadas no nosso tra- céus e a terra, a terra era informe e vazia, podemos encontrar defensores do geocentris-
balho centrar-se-ão na religião cristã e no as trevas cobriam o abismo, e o espírito de mo e mesmo da Terra Plana. A grande maio-
seu Deus, uma vez que é esta a que apre- Deus movia-se sobre a superfície das águas. ria dos criacionistas da Terra Jovem defen-
senta uma maior expressão no nosso país. Deus disse: faça–se a luz. E a luz foi feita.” dem o Fixismo, existindo no entanto visões
Criacionismo é um termo que incorpora todas A teoria criacionista caracteriza-se essencial- mais modernas que admitem que após a cria-
as crenças que consideram a origem do Uni- mente pela oposição às teorias científicas ção, as espécies possam ter evoluído, embora

Religião Vs Ciência 6
limitadamente. São apoiantes do catastrofis-
mo e negam a existência de eras geológicas.
• Criacionismo da Terra Antiga
Os criacionistas da Terra Antiga, por seu
lado, aceitam a idade estimada pela ciên-
cia para o planeta Terra, aproximadamente
4600 milhões de anos. Estes, na sua grande
maioria, aceitam também o Heliocentrismo,
a Relatividade e a teoria do Big Bang. O facto
de aceitarem a idade média da Terra faz com
que acreditem também na existência de eras
geológicas. No entanto, rejeitam a sobre-
vivência de descendentes biológicos, defen-
dendo que a cada era geológica corresponde
uma extinção em massa de todos os seres vi-
vos, seguida de uma nova criação, muito se-
melhante aos seres extintos. Uma das teorias
mais defendidas por estes criacionistas para
Cartoon humorístico sobre o carácter criacionista do “Desenho Inteligente”.
a formação do planeta Terra defende que os
seis dias de criação, referidos no Génesis,
não correspondem a dias literais, mas sim
eras de vários milhões de anos. Esta teoria é
portanto conhecida por teoria do “dia-era”.
• Um novo criacionismo...
O Projecto Inteligente é a mais recente teo-
ria criacionista. Apesar desta teoria se basear
em observações experimentais, suporta-se na
existência de uma entidade superior, sendo
por isso considerada uma teoria criacionista.
Esta teoria defende que certas propriedades
do Universo e dos seres vivos, dada a sua
complexidade e perfeição, são apenas ex-
plicáveis por meio de uma causa inteligente
e não por leis físicas e processos naturais. Os
defensores do Projecto Inteligente afirmam
que certas características adaptativas dos
seres vivos não evoluíram por selecção natu-
ral ou por outro processo ainda por desco-
brir, mas que teriam sido projectadas por um
ser inteligente e superior, sem, no entanto,
especificarem se por um Deus, na acepção
tradicional da palavra, ou por outro ser, que
possa habitar o Universo. Aceitam, no en-
tanto, a existência de um ancestral comum
a todas as espécies, bem como a idade mé-
dia da Terra. Os principais argumentos que
suportam esta teoria são a Complexidade
Irredutível e a Complexidade Especificada.
A Complexidade Irredutível é facilmente
explicável pela analogia do relógio de Paley.
Esta diz que, ao encontrarmos um relógio na
praia demasiado complexo para ser produzi-
do por fenómenos naturais, devemos assumir
que foi criado por um relojoeiro. Assim, de-
vemos assumir que os fenómenos complexos
do Universo e da Vida foram projectados
por alguém, um ser superior. A Complexi-
dade Especificada consiste no argumento
de que a complexidade presente nos seres
vivos é demasiado específica para ter sur-
gido pelos mecanismos naturais conhecidos.
Criacionismos definem-se como posições
que tentam sustentar visões fundamentalis-
tas de várias narrativas religiosas. Todas as
teses que não baseiam o seu conteúdo em
factos empiricamente comprováveis não
devem ser consideradas teorias científicas.
Assim, teorias como o Projecto Inteligente,
criacionismo da Terra Jovem e criacion-
ismo da Terra Antiga, que têm por base a
existência de uma entidade superior, são
automaticamente catalogadas como teorias
criacionistas. Os argumentos apontados pe-
los criacionistas, referidos anteriormente,
não são mais do que tentativas de refutar as
evidências evolucionistas. No entanto, até
ao momento, nenhum destes argumentos
conseguiu sequer pôr em causa a teoria da
evolução, uma teoria com 150 anos de ex-
istência. Tiago Barros
JULGAMENTO DE DOVER
Em Outubro de 2004, o conselho direc-
tivo do distrito escolar de Dover, Pensil-
vânia, aprovou uma resolução que obriga
os professores do distrito a ler a seguinte
declaração nas aulas de ciências:
“(...) Porque a Teoria de Darwin é uma
teoria, ela continua em teste (...). Uma teo-
ria não é um facto. Existem brechas nesta
teoria para os quais não há qualquer expli-
cação. Teoria é definida como uma explica-
ção, bem testada, que unifica uma gama de
observações. O Desenho Inteligente é uma
explicação da origem da Vida que difere da
visão de Darwin.(...)”
Tal decisão levou um grupo de pais de
alunos a processar o conselho escolar de
Dover, numa batalha judicial que envolveu
acesas discussões entre cientistas, religiosos
e professores de ciência que se alastraram
ao resto do mundo.
O julgamento deste caso terminou em Se-
tembro de 2005, quando o juiz John Jones
III decidiu remover qualquer referência ao
Desenho Inteligente da disciplina de Ciên-
cias Naturais em todo o distrito de Dover.
Numa sentença de 139 páginas, o juiz
Jones III, estabelece que o “Desenho In-
teligente não é ciência” e, por conseguinte,
“não tem lugar nas aulas de ciência.” No
final desta sentença pode ler-se: “O objec-
tivo do movimento Desenho Inteligente
não é encorajar o pensamento crítico, mas
fomentar uma revolução que visa suplantar
a teoria evolutiva com o Desenho Inteli-
gente. “
Religião Vs Ciência 7
 adquiridos, todas as características de uma
determinada espécie são adquiridas ou perdi-
das por imposição da natureza, através da in-
fluência do ambiente em que a espécie vive, e
por isso através da influência do uso predom-
inante ou desuso permanente de qualquer
órgão. Todas as características adquiridas
são preservadas pela reprodução e transferi-
das para os novos indivíduos, desde que as
modificações adquiridas sejam comuns a am-
bos os sexos, ou pelo menos tenham ocor-
rido no indivíduo que produz descendência.
Hoje, é para todos nós bastante evidente que
qualquer característica adquirida em vida,
através de exercício físico, por exemplo, não
será transmitida à descendência. Imagine-
mos o caso de alguém que pratique cultur-
ismo: apesar da constituição física que essa
pessoa apresente, os seus descendentes serão
perfeitamente “normais”. Enquanto que no

Evolucionismo
século XXI esta é uma ideia intuitiva, não
o era no século XIX, e foi por isso que, em
1880, August Weismann, realizou uma ex-
periência durante a qual cortou as caudas a
um grupo de ratos brancos. Seria então de
Há 150 anos atrás, um só homem, de nome Charles Darwin, conseguiu esperar, segundo a teoria de Lamarck, que os
revolucionar, através de uma teoria, tudo aquilo que se conhecia so- seus descendentes apresentassem um menor
comprimento de cauda, mas, durante as
bre espécies e a sua evolução até então. Apesar de ter sido o primeiro 22 gerações observadas, todas as crias pos-
a ter sucesso neste campo, já outros se tinham aventurado no, então, suíam caudas normais o que veio a refutar
completamente a “lei da herança dos carac-
assustador caminho da evolução. E quanto ao aparecimento da vida teres adquiridos”. Assim, a fragilidade dos
na Terra? Estaremos perto de uma resposta? argumentos utilizados por Lamarck e a força
do Criacionismo mantiveram as ideias evo-
Quando comparada com o criacionismo, a atingido, o uso frequente e contínuo de um lucionistas afastadas durante vários anos.
teoria evolucionista é quase uma teoria “re- órgão fortalece, desenvolve e aumenta grad-
cém-nascida”. Durante séculos a única visão ualmente esse órgão. No entanto, se o órgão • A verdadeira ameaça
existente, ou admitida, era a de que todas as em questão não for usado com frequência, O modelo criacionista foi posto seriamente
espécies tinham sido criadas por um Cria- enfraquecerá, deteriorar-se-á e a sua ca- em causa pela primeira vez em 1859, com
dor, por um Arquitecto Universal, por Deus. pacidade de funcionar diminuirá consider- a publicação de On the Origin of Species
Esta visão de óbvio cariz religioso, conseguiu avelmente, até que finalmente desapareça. by Means of Natural Selection por Charles
perdurar durante tanto tempo devido à força Segundo a lei da herança dos caracteres Robert Darwin (1809-1882). As ideias de
que a religião exercia sobre toda a sociedade
“pensante” e “não pensante”. No entanto,
esta força opressora e castradora não foi su-
ficiente para impedir que surgissem vozes
discordantes a gritarem “evolucionismo”!
• A primeira...
A primeira teoria explicativa fundamen-
tada acerca dos mecanismos de evolução
dos seres vivos surgiu em 1809, com Jean
Baptiste, cavaleiro de Lamarck (1744-
1829), e ficou conhecida como Lamarck-
ismo. Esta teoria resume-se em duas leis
fundamentais: lei do uso e do desuso e
lei da herança dos caracteres adquiridos.
Girafas de Lamarck - Segundo o Lamarckismo, as girafas actuais teriam origem num ancestral que apresentava
Segundo a lei do uso e do desuso, nos animais um pescoço curto e, devido à necessidade de se alimentarem de árvores cada vez mais altas, foram esticando o seu
cujo limite de desenvolvimento ainda não foi pescoço de modo a satisfazer essa necessidade.

Religião Vs Ciência 8
Darwin basearam-se num conjunto de da-
dos e informações proveninentes de vários
ramos da ciência, recolhidas ao longo de
cerca de 20 anos. Destes dados destacam-
-se os dados obtidos durante uma viagem
à volta do Mundo num barco da armada
inglesa chamado Beagle e, mais concreta-
mente, as observações realizadas nas Ilhas
Galápagos, que tiveram como principais
protagonistas os tentilhões, mais tarde
baptizados de “Tentilhões de Darwin” (ver
caixa), e as tartarugas que povoavam essas
mesmas ilhas. Foi assim criada uma nova
teoria sobre a evolução das espécies, bem
mais sólida que a anterior (Lamarckismo),
e que se estabelece no seguinte raciocínio:
- Os seres vivos, mesmo os da mesma es-
pécie, apresentam variações entre si.
- As populações têm tendência para crescer
em progressão geométrica.
- O número de indivíduos de uma espécie
geralmente não se altera muito de geração
em geração.
- Em cada geração, uma boa parte dos in-
díduos é naturalmente eliminada porque se
estabelece entre eles uma ‘luta pela sobre-
vivência’, devido à competição pelo alimen-
to e pelo espaço e à capacidade de fuga aos
predadores.
- Só os indivíduos que estiverem mais bem
adaptados, sobrevivem, isto é, os que pos-
suírem as características que lhes conferem
qualquer vantagem em relação aos restant-
es, num dado meio. Os menos aptos serão
eliminados progressivamente. Existe, pois,
uma seleção natural, processo que ocorre na
Natureza e pelo qual só os indivíduos mais
bem dotados relativamente a determinadas
condições do ambiente sobrevivem, “sobre-
vivência do mais apto”.
- Os indivíduos mais bem adaptados vivem
durante mais tempo e reproduzem-se mais,
transmitindo as suas características à de-
scendência, ou seja, verifica-se uma re-
produção diferencial. A acumulação das
Tentilhões de Darwin
Folhas Larvas
Os “Tentilhões de Darwin”, originários das várias ilhas que constituem as Galápagos,
apresentam diferentes bicos consoante a alimentação que existe em maior abundân-
cia na sua ilha de origem. Este facto levou Darwin a pensar que existiria algum tipo
de selecção subjacente a este fenómeno.
pequenas variações determina a longo prazo
a transformação e o aparecimento de novas
espécies.
• A derradeira prova
Aquando da criação da teoria da evolução
das espécies através da selecção natural,
Charles Darwin não possuía qualquer con-
hecimento sobre genética. Sabia que existiam
variações dentro da mesma espécie e que
estas variações se transmitiam à descendên-
cia. No entanto, desconhecia o “como” e o
“porquê”. Só no decorrer do século XX, com
a explosão de conhecimentos
sobre genética foi possível
responder a tais questões
e assim provar que a teo-
ria de Darwin, embora in-
completa, estava correcta.
Surgiu assim a teoria evo-
lutiva moderna, (também
chamada síntese moderna,
síntese evolutiva, síntese neodar- Tartaruga das Galápagos
winiana ou neodarwinismo) que
surgiu da combinação da teoria inicialmente
introduzida por Charles Darwin, e dos no-
vos conhecimentos sobre genética que intro-
duziram o conceito de “variabilidade gené-
tica” e explicaram como se dá a transmissão
de genes na reprodução. Assim, esta nova
teoria engloba duas ideias fundamentais:
variabilidade genética e selecção natural.
• Origem da Vida
Menos consensual do que a teoria da
evolução é a teoria do aparecimento da vida
na Terra. Actualmente, pensa-se que há mais
ou menos 4,6 biliões de anos, suposta época
da formação do planeta Terra, como conse-
quência da fusão de partículas oriundas de
uma grande explosão que deu origem ao
Universo (Big Bang), a Terra encontrava-se
sob fortes condições de pressão e tempera-
tura. Devido à inexistência de atmosfera, o
planeta era afectado pelas radiações ultra-
violeta e ainda por asteróides que povoa-
vam o espaço. Erupções vulcânicas emitiam
Frutos Sementes
grande quantidade de metano, amoníaco,
hidrogénio e água que acabaram por for-
mar a atmosfera primitiva. Devido a fortes
descargas eléctricas, estes gases sofreram um
arranjo inorgânico. Esta mistura de gases, su-
jeita à acção dos raios ultravioleta, do calor
da crusta em fase de arrefecimento, da radio-
actividade natural dos compostos recém-for-
mados e da actividade vulcânica, teria dado
origem a compostos orgânicos simples em
solução, a sopa primitiva. Com o abranda-
mento da situação caótica do planeta, estes
compostos começaram a estabelecer tro-
cas com o meio externo. Cada vez
mais complexas, estas moléculas
foram-se aperfeiçoando ao
ponto de incluirem lípidos,
prótidos e até aminoáci-
dos na sua constituição.
A partir de mutações, re-
combinações genéticas
e selecção natural estas
moléculas foram evoluindo
ao longo dos tempos, originando
assim todas as espécies que conhecemos
actualmente. O que fica por explicar são
os processos que levaram a uma tão rápida
evolução na complexidade das primeiras
moléculas que, num reduzido espaço de
tempo passaram de simples macromoléculas,
a organismos capazes de se auto-replicarem.
• O que se segue?
Percebemos assim que a evolução é uma
teoria consolidada, bem fundamentada, e
com provas dadas a vários níveis. Muito
dificilmente surgirá algo ou alguém que a
consiga refutar através de provas concretas.
Como vimos, apesar da teoria da Evolução
apresentar algumas lacunas por preencher,
não se comparam com a irracionalidade
que caracterizam as teorias Criacionistas.
Quanto ao aparecimento da vida no plan-
eta Terra, a teoria preconizada pela Ciência
está longe de apresentar a solidez constante
da teoria da evolução, no entanto, não nos
devemos esquecer que se trata de um assunto
bem mais complexo e díficil de investigar e
que, consequentemente, necessitará de mais
tempo dispendido por parte da comunidade
científica. Assim, os investigadores consider-
am que os mistérios que ainda envolvem este
tema devem ser entendidos como um desafio
e não como algo inexplicável que deve, por-
tanto, ser atribuído a alguém superior, como
afirmam as entidades religiosas.
André Geraldes
Religião Vs Ciência 9
A ORIGEM DO UNIVERSO
a luz solar, a luz cósmica que está presente
em todo o espaço sideral. “Deus chamou dia
à luz, e às trevas, noite”. (Gn 1,1-5). Assim,
entendemos que antes da intervenção divina,
“Como começou tudo isto?”. Desde a antiguidade, muitos foram o Universo era constituído por uma mistura
aqueles que dedicaram as suas vidas à procura de uma resposta para indistinta de “Trevas” e “Luz” e que só depois
desta passou a existir o “Dia” e a “Noite”.
tão simples pergunta. Todo este esforço colectivo permitiu-nos estar Estes “primeiros passos do Universo” estão
hoje, mais perto do que nunca, de compreender como teve lugar tão presentes naquele que, segundo a Bíblia,
é o primeiro dia da “Criação do mundo”.
espantoso fenómeno. Por outro lado, a resposta da igreja a esta mes-
ma questão, remete-nos para um livro com cerca de 3000 anos em No segundo dia, “Deus fez o firmamento e
que é, alegadamente, descrito o processo de toda a criação. Estará a separou as águas que estavam sob o firma-
mento das que estavam por cima do firma-
ciência a procurar no sítio errado? mento. Deus chamou céus ao firmamento.”
(Gn 1,7-9). Esta “separação de águas” é en-
O confronto entre a religião e a ciência pode Sagrada, está bastante explícita no Gé- tendida como a separação dos diferentes esta-
assumir diversas formas, visto que são dois nesis (o primeiro livro do “Velho Testa- dos da água que assim originaram os “céus”.
campos muito amplos. No caso específico da mento” e termo grego que significa “ori-
“Origem do universo”, a comunidade cientí- gem”, “nascimento”, isto é, Livro das No terceiro dia é citada a criação da terra e do
fica apoia-se na abordagem objectiva do que Origens). Neste livro podemos encontrar mar, “ ‘reúnam-se as águas que estão debaixo
é natural, físico e material, que, de resto, é descrita a criação do mundo em sete dias dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a
o que caracteriza o método científico; en- por Deus, que se apresenta de seguida: terra seca.’ E assim aconteceu. Deus chamou
quanto que a Igreja Católica se baseia no seu terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das
livro sagrado, escrito ao longo de um período No primeiro versículo do Livro da Criação águas” (Gn 1,11-13). Neste dia, criou ainda
de 1600 anos por cerca de 40 homens, mais pode-se ler, “ No princípio, Deus criou os toda a vegetação que viria a existir na Terra.
especificamente na explicação dada para essa céus e a terra, …” (Gn.1:1). Ou seja, segun-
“História das origens” presente no Génesis. do algumas interpretações do evangelho, o No quarto dia, Deus cria os astros, de modo
Universo foi criado a partir do planeta Terra. a permitir ao Homem notar a passagem do
• O que nos diz o Génesis... Ainda no primeiro versículo podemos en- tempo: “Deus disse:’haja luzeiros no firma-
contrar, “Deus disse: ‘Faça-se luz’. E a luz mento dos céus, para separar o dia da noite e
foi feita.”. Deus criou assim a luz, mas não servirem de sinais determinando as estações,
A Origem do Universo, segundo a Bíblia

Religião Vs Ciência 10
os dias e os anos; serviram também de luzeiros
para iluminarem a Terra’. E assim aconteceu.
Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para
presidir ao dia, e o menor para presidir à
noite; fez também as estrelas.” (Gn 1,14-17).
Ao quinto dia, Deus mandou que as águas
fossem povoadas de “inúmeros seres vi-
vos, e que por cima da terra voem aves,
sob o firmamento dos céus”. Deus cri-
ou-os e abençoou-os dizendo: “Crescei e
multiplicai-vos e enchei as águas do mar
e multipliquem-se as aves sobre a terra”.
No sexto dia, Deus criou os animais ter-
restres e o Homem. “Deus criou o ser hu-
mano à sua imagem, criou-o à imagem de
Deus”. Criou o homem e a mulher e aben-
çoou-os, dizendo: “Crescei e multiplicai-vos,
enchei e dominai a terra. Dominai sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre
todos os animais que se movem na terra”.
“Concluída, no sétimo dia, toda a obra que
havia feito, Deus repousou, no sétimo dia, de
todo o trabalho por Ele realizado”. “Esta é a
criação dos céus e da Terra” segundo a Bíblia
Sagrada, na qual podemos concluir que o
Universo foi criado de modo organizado, e
de maneira a permitir o domínio de uma
só espécie. Na verdade, pode considerar-se
que todas as etapas da criação que estiveram
na origem do Universo, serviram apenas
para tornar possível a existência da derra-
deira “obra-prima da criação”, o Homem.
Apesar de reconhecer o livro do Géne-
sis como uma das suas bases, a religião
Católica não o interpreta literalmente, ap-
enas alguns fundamentalistas criacionistas
o fazem. Na verdade, a visão Católica da
origem do Universo é ligeiramente difer-
ente. Para esta, Deus foi o responsável pela
origem do Universo e pelo seu desenvolvi-
mento, até atingir o seu estado actual, aceit-
ando, no entanto, a evolução das espécies.
• O que nos diz a Ciência...
Por parte da ciência, a teoria mais aceite
actualmente para a origem do Universo é a
chamada Teoria do Big Bang. As bases desta
teoria remontam à década de 1920 na qual
o padre e cosmólogo belga, Geordes Lemaî-
tre, derivou independentemente as equações
de Friedmann (são um conjunto de equa-
ções em Cosmologia Física que governam
a expansão métrica do espaço em modelos
homogéneos e isotrópicos do Universo den-
tro do contexto da Teoria Geral da Rela-
tividade) a partir das equações de Einstein
e propôs que os desvios espectrais observa-
dos em nebulosas se deviam à expansão do
Universo, que, por sua vez, seria o resultado
da explosão de um átomo ‘primeval’. Em
1929, Edwin Hubble forneceu bases obser-
vacionais para a teoria de Lemaître ao medir
um desvio para o vermelho no espectro de
galáxias distantes e verificar que este era
proporcional às suas distâncias, o que ficou
conhecido como Lei de Hubble-Humason.
Segundo esta teoria, o Universo surgiu há,
pelo menos, 13,7 biliões de anos, a partir
de um estado inicial de temperatura e den-
sidade altamente elevada. Embora as bases
desta teoria remontem à década de 1920, a
versão aceite actualmente teve origem na dé-
cada de 1940, devido à investigação levada
a cabo pelo grupo de cientistas de George
Gamov, que descobriu que o Universo teria
surgido após uma grande explosão resultante
da compressão da energia. Basicamente,
esta teoria diz que, “no início de tudo”, não
havia nada, além de uma espécie de bola
super-massiva e quente, muito densa e sob
altíssima pressão, que após chegar ao lim-
ite de resistência máximo, explodiu, espal-
hando toda a sua matéria, criando assim o
Universo e todos os corpos celestes (galáxias,
planetas, estrelas, etc.). Segundo esta teoria,
o Universo encontra-se em expansão desde
que essa explosão ocorreu. Em 1965, Arno
Penzias e Robert Woodrow Wilson, confir-
maram a existência da radiação cósmica de
fundo, já prevista por George Gamov, que
constitui, para a maior parte dos cosmolo-
gistas, a maior prova de que o Big Bang
esteve realmente na origem do Universo.
• Uma viagem sem fim...
Apesar dos notáveis avanços que se
registaram nesta área, principalmente ao
longo do último século, ainda muito per-
manece por desvendar e esclarecer. Muitos
enigmas ainda intrigam os cientistas, como
é o caso da “Matéria Negra”. Esta matéria,
que se pensa ser responsável pela expansão
do cosmos, corresponde a 23% de toda a
matéria existente no Universo, o que não
deixa de ser notável, já que a matéria a que
habitualmente chamamos “convencional”
é responsável por uns inexpressivos 4%.
Como este, existem muitos outros mistérios
à espera de serem encontrados pela natural
curiosidade que sempre caracterizou a ciên-
cia e que, de resto, nos garante que nunca
baixará os braços enquanto não vir respon-
didas todas as suas inocentes perguntas.
Assim percebemos que a discórdia entre a
ciência e a religião, no que concerne a Ori-
gem do Universo, não podia ser maior. En-
quanto a comunidade científica se baseia em
teorias em constante reformulação, de forma
a integrar novos dados que vão lentamente
surgindo, fruto da persistência de vários ci-
entistas, a religião recusa-se a pesquisar e des-
vendar o desconhecido, defendendo apenas
que aquilo que não está explicado, é obra de
Deus e portanto, não deve ser alvo de inves-
tigação científica. Daniel Andrade

Nova Descoberta Radiação proveniente Desenvolvimento das Expansão da matéria

Ao medir padrões na polarização da radiação proveniente do Big do Big Bang galáxias, planetas, etc. negra
Bang (imagem à esquerda), os astrónomos puderam aumentar
os seus conhecimentos sobre o Universo inicial. Estes encontram
fortes provas de que o Universo sofreu um violentíssimo cresci-
mento durante o seu primeiro trilião de segundo de existência.
Padrões de polarização
Direcção da vibração da luz.
Cronologia do Big Bang
Com esta nova descoberta, os astrónomos Primeiras estrelas
podem agora calcular com maior exactidão
quando ocorreram os momentos-chave na 13,7 biliões de anos
formação do Universo.

Religião Vs Ciência 11
 Entrevista:
Prof. José Feijó
O confronto entre a Religião e a Ciência na
óptica de um investigador e professor de
Biologia celular.
“ O Papa João Paulo II claramente disse que a
Evolução é muito mais do que uma teoria. É um
facto científico! ”

Para melhor compreendermos o lado hu-
mano associado ao conflito que temos vindo
a descrever nas últimas páginas, nada mel-
hor do que o conhecermos através da óptica
de um professor e investigador de Biologia
Molecular. O Prof. José Feijó, que amavel-
mente nos concedeu a entrevista que se segue
nas instalações do Instituto Gulbenkian da
Ciência, está, neste momento, a preparar
uma exposição em honra do homem que
revolucionou a forma de vermos as espécies,
Charles Darwin. É, portanto, a pessoa indi-
cada para nos guiar pelos últimos desenvol-
vimentos desta “guerra”.
Gostávamos de perguntar primeiro se
acredita num ser superior, deus ? Não!
É ateu portanto? Como dizia um amigo
meu, é preciso muita fé para se ser ateu, por-
tanto, pondo a coisa de outra maneira não
há nada que me preocupe suficientemente,
a criação ou os mistérios da vida, que me
obrigue a pensar que há um ser superior, mas
também não vejo isto como uma questão tão
importante que eu tenha de pensar ao ponto
de o negar.
Sim, acho que sou ateu, mas não militante.
Obviamente fui criado e fui educado como
católico, portanto culturalmente sou católico.
Foi a sua vida como cientista que o levou
a assumir essa atitude perante a religião?
Não, durante a adolescência comecei a pôr
em causa muitos dos valores da igreja e da
religião. Foi um processo gradual. Por volta
dos meus catorze, quinze anos fui-me lenta-
mente separando daquilo que eram os va-
lores religiosos.
O que eu acho é que são mundos que não são
misciveis, portanto, são visões diferentes de
ver o mundo. Eu, pessoalmente, concebo-me
muito mais perto da visão científica, porque
acho que é uma visão exclusivamente radica-
da na visão e na observação dos factos. Não
precisamos de inventar nem acreditar em
qualquer coisa por mais inverosímil e mais
fantástica que ela seja. Por outro, reconheço
que há pessoas que tiram da religião aspectos
de satisfação pessoal e de equilíbrio pessoal
que eu não tenho o direito de pôr em causa.
Considera a religião um entrave à ciên-
cia? Não, não considero. Como sabes, em
Portugal ainda não é uma questão séria, mas
por exemplo o criacionismo é um problema
gravíssimo nos Estados Unidos, onde há
verdadeiras guerras campais e lutas em tri-
bunais sobre o ensino do criacionismo nas
escolas.
A evolução existe, é uma teoria cientifica sól-
ida! Normalmente as religiões quando falam
em teoria, falam como se fosse algo que não
é certo. Não é bem assim, uma teoria em
ciência é exactamente o contrario. Em ciên-
cia, chamamos teoria a algo, quando temos
a certeza dela. Nesta nunca há certezas ab-
solutas, mas quando um conjunto de factos
não são de facto explicáveis de outra forma,
estamos perante uma teoria. Temos a teo-
ria atómica, mas nunca ninguém viu um
átomo; temos a teoria relativista; temos a
teoria da mecânica quântica; temos a teo-
ria gravítica. Todas essas coisas são absolu-
tamente certas, ninguém as põem em causa,
não há outra explicação. A teoria evolutiva
inclui-se neste grupo. A evolução acontece,
temos provas de sete ou oito ramos da ciên-
cia diferentes. Temos uma explicação cabal.
Somos capazes de observar a evolução num
laboratório em certas formas de seres vivos.
Há um livro, que foi escrito por um je-
suíta, uma pessoa católica, que tem ob-
viamente fé, mas que tem o discernimento
suficiente para perceber que a Bíblia não é
propriamente uma acta de uma reunião. É
uma alegoria lindíssima em alguns aspec-
tos. Noutros é de uma crueldade atroz. De
facto, é a humanidade que ali está, no seu
melhor e no seu pior. Agora, o facto de dizer
lá que Noé meteu casais de todos os animais
dentro de uma arca não tem de ser neces-
sariamente verdade, até porque naquela al-
tura as pessoas não tinham percebido que
existem mais de cinco milhões de espécies.
Acha que a fé pode afectar o cepticismo
natural de um cientista? Acho que não,
acho que algumas pessoas e alguns pensa-
dores contemporâneos diriam que sim. Ten-
ho na minha equipa pessoas que são profun-
damente religiosas e nunca nos demos mal,
nem nunca tivemos qualquer tipo de prob-
lemas. Pela simples razão de que, quando
estamos a discutir problemas científicos e,
quando estamos a trabalhar, percebem que
não é aceitável que se dê uma explicação de
origem divina, para um fenómeno qualquer
natural. No livro de Francisco Caelli, há um
capítulo óptimo em que ele defende esta
divisão de valores. Eu não estou completa-
mente de acordo com ele, mas acho que é

Religião Vs Ciência 12
uma visão racional ou razoável do mundo em Richard Dawkins afirmou que o Desenho religioso, vejo um conflito regional. Estava
que vivemos. Segundo ele, a ciência dedica- Inteligente está a ameaçar a evolução e ali um país e estava um povo e, de repente,
se a explicar a natureza, o mundo natural, que num futuro próximo isso vai ter re- “olha, afastem-se aí que vai cair aqui um país
e a resolver os problemas que nos ocorrem percursões. Partilha desta opinião? Acho novo”, agora aquilo é acerca da religião mas
na interpretação desse mundo natural. A re- que o Richard Dawkins tem uma visão um não começou por ser. As pessoas andam em
ligião dedica-se a outras coisas: à relação do pouco literal daquilo que é a religião e penso guerra pelo território e não pela religião. É
ser humano com as coisas que não entende, que não podemos agarrar só nuns quantos ai que discordo com o Dawkins, acho que
com as imperfeições da vida, com os aspec- bombistas radicais e pastores envangélicos e não podemos ver esses conflitos e essa ten-
tos que estão para além daquilo que são as dizer que isto é a religião, penso que há mais são como resultado da religião. Claro que a
explicações racionais e cientificas dos factos. que isso. No que o Dawkins tem razão é que religião dá uma causa para os unir, mas não
O que Richard Dawkins nos diz é que, even- se assiste a um movimento muito grande de é isso que está na base. Porque, lado a lado
tualmente, tudo será explicado pela ciência. crescimento destas seitas. Todos estes movi- com esse, há pessoas que fazem uma inter-
Temos que lhe dar tempo. Portanto, eu acho mentos ensinam uma visão literal da Bíblia, pretação da religião absolutamente inversa.
que a ciência e a religião não são mundos an- mesmo que não sejam politicamente muito Uma interpretação de tolerância, de com-
tagónicos, mas sim imiscíveis. O “Temos um enorme mistério: a origem da vida. Tal preensão de bons valores, que
que é uma coisa totalmente difer- ate são positivos.
ente. Não há necessariamente uma como a origem do Homem era um mistério há dois
incompatibilidade. Parte das re- séculos. Tal como, há dois séculos, não se sabia como é
ligiões já absorveram isso. O Papa que o sistema circulatório funcionava” Como acha que esta guerra,
João Paulo II claramente disse que por assim dizer, se vai desen-
a Evolução é muito mais do que uma teoria. organizados. O movimento que tem mais volver? Repare que, quando o Darwin pub-
É um facto científico! visibilidade é o movimento das assembleias licou a origem das espécies, toda a gente
de deus, que é um movimento evangélico era criacionista. Temos que ter uma visão
com grande força nos estados unidos e que histórica minimamente distanciada. Se
Agora muita gente apoia a ideia do Desen- por coicidiência (risos), tem o maior com- numa altura vitoriana, de valores rígidos,
ho Inteligente, qual é a sua opinião acerca plexo editorial do mundo a imprimir bíblias. em que coisas como a escravatura ou a pena
dela? É um logro intelectual, portanto, acho de morte eram aceites como coisas normais,
que temos que ser claros: Desenho Inteli- entre aspectos muito mais bárbaros, foi pos-
gente é Criacionismo. Apesar de alguns dos
PERFIL sível um homem escrever um livro com uma
argumentos utilizados pelos apoiantes desta ideia, e mudar a visão do ocidente. Temos
ideia serem bastante sofisticados e com- José Feijó é doutorado em Biologia celular, ten- de acreditar que se essa ideia estiver certa, se
plexos, não há nenhum deles que, ao fim do ainda um mestrado em Secreção e Recursos os factos a continuarem a corroborar, terão
do dia, não meta Deus na equação. Por- Naturais Renováveis e uma Licenciatura em Bio- de existir pessoas com lucidez suficiente para
tanto, a partir do momento em que se faz logia. É professor catedrático na Faculdade de continuar a defendê-la da alternativa, que
isso, deixa de ser ciência! E, mesmo que se Ciências da Universidade de Lisboa e investiga- é acreditar numa coisa que não vemos, que
dor no Departamento de Biologia Vegetal do In-
acredite nela, deixa de se chamar uma teoria não somos capaz de explicar, que não somos
stituto Gulbenkian de Ciência. Neste momento
científica, e não será ensinada numa cadeira é também comissário da exposição que assinala
capazes de comprovar e que nuns dia é boa
de Biologia, mas sim de Religião e Moral... os 200 anos do nascimento de Charles Darwin ‘ e noutros é má.
Ora, duma perspectiva científica isto não é A evolução de Darwin ‘, dedicada ao autor de A Evolução e Darwin: porque é que são espe-
aceitável, pois, nem o criacionismo, nem o origem das espécies. A exposição decorrerá entre ciais? Porque afectam aquilo que é fulcral
Desenho Inteligente, se radicam nos factos os dia 12 de Fevereiro e 24 de Maio de 2009,
nas religiões, que é o Homem como criação
e na análise crítica desses mesmos factos. entretanto pode visitar o blog da exposição em
directa de Deus. A Bíblia diz: tu és especial
Ambos partem sempre de um pressuposto: http://a-evolucao-de-darwin.weblog.com.pt na criação, tanto que Deus teve um dia in-
há uma entidade Divina, e essa entidade teiro só para te criar a ti e criou os outros
Divina começou qualquer coisa. Admitindo animais todos noutro dia. O Génesis, como
isto, não se pode construir mais nenhum O instituto Discovery nos EUA (não con- está escrito na Bíblia, diz que o centro do
edifício. O que se está a fazer é misturar re- fundir com o canal homónimo) abriu um mundo é o Homem. O Homem foi criado
ligião com ciência e aí, a ciência deixa de ter museu criacionista que foi desenhado pelo especialmente e repara que, se ler o Génesis,
sentido, pois esta, para funcionar, tem que autor dos efeitos especiais do Jurassic Park. os animais foram criados não para fazerem
se basear sempre na objectividade dos factos. Trata-se de um investimento de 7 milhões parte da natureza, mas para o Homem se ali-
Se há um único facto lá no meio que em de euros! O que o Richard Dawkins alerta mentar. Agora, quando o Darwin diz: “Não,
que se diz “Não, eu aqui vou deixar de ser é que, neste mundo os ódios religiosos es- tudo isto existe porque a natureza é assim
objectivo. Eu acredito que existe uma enti- tão a servir de ponto aglutinação de todos mesmo. Por acaso evoluímos para “esta coi-
dade Divina, portanto, agora vou dizer que os ódios territoriais ou raciais que existam. sa”, mas poderíamos ter evoluído para “outra
isto foi criado por Deus”. Acabou! O edifí- Quase todas as guerras ou conflitos têm al- coisa qualquer”. Ao pôr em causa o homem
cio ruiu! Não se pode misturar as coisas. Em guma base religiosa. Dawkins tenta explicar como unidade central da Bíblia e da criação
suma, O Desenho Inteligente é uma forma pela base religiosa, eu não vejo isso bem as- divina, esta teoria passa a ter um valor espe-
de Criacionismo. Pode não ser o Criacion- sim. Vejo é que a religião é usada como força cial como inimigo da fé. Podias dizer que o
ismo de Adão e Eva e dos seis dias da bíblia, aglutinadora, quando por exemplo no con- Hawking é tão perigoso como o Darwin na
mas não deixa de o ser. flito Israel – Palestina não vejo um conflito medida em que fundamentou a teoria do Big

Religião Vs Ciência 13
Bang, mas o Papa apressou-se logo a dizer,
“Não, o Big Bang é a criação”. Mas como isto
são coisas muito mais elaboradas e não põem
em causa o homem como criação divina,
não conheço nenhuma igreja que se chateie
com o Hawking ou com o Big Bang. Agora,
o homem tem um valor especial, aparece
no centro da criação e é também o centro
da acção dessas igrejas. E, se alguém põe em
causa que o ser humano é uma obra de Deus,
então é o próprio conceito de muitas dessas
fés e religiões que passam a estar em causa.
No fundo, sempre que a ciência tocar num
assunto que tenha a ver com o Homem, com
a sua evolução, a religião vai estar sempre ali
a martelar. Tem sido sempre assim. Algu-
mas religiões adaptam-se, a religião católica
nesse aspecto tem tido uma postura mais
moderada. Aceita muitos princípios, aceita
a evolução, de uma maneira geral, pois a
politica oficial é essa. Portanto, como é que
esta guerra vai acabar? Eu não sei como vai
acabar. Agora, se, durante 150 anos, uma
ideia que um homem escreveu num livro
não só sobreviveu como se expandiu a todo o
mundo culto, é porque tem força, e é porque
todos os factos e evidências até agora a cor-
roboraram.
O geneticista Francis Collin, um ateu que
começou a acreditar fervorosamente em
Deus, aceita a evolução mas acha difícil
explicar como, num espaço de tempo tão
pequeno, as macromoléculas se juntaram,
se passaram a replicar… é aí que ele acha
que há espaço para Deus. Acha que, se
os cientistas tiverem mente aberta, con-
seguem continuar a sua pesquisa, recon-
hecendo que, em certos sítios, talvez tenha
havido um toque de Deus? Francis Collin e
também o bioquímico Michael Behe acham
que a estrutura de uma proteína nunca pode-
ria ter surgido por acaso. Temos um enorme
mistério: a origem da vida. Tal como a ori-
gem do Homem era um mistério há dois
séculos. Tal como, há dois séculos, não se
sabia como é que o sistema circulatório fun-
cionava, nem se sabia como o sistema diges-
tivo funcionava. Isto há 200 anos apenas.
Portanto, há teorias para a origem da vida, e
há pessoas a trabalhar nelas como hipóteses
racionais. Não temos um modelo, há buracos
tremendos mas, por exemplo, quando Dar-
win previu que devia haver uma sequência
evolutiva havia enormes buracos no registo
fóssil. Mas quase todos eles estão tapados. O
último surgiu a semana passada no Brasil: a
origem dos répteis aquáticos, o elo que fal-
tava. Mais do que isso, já houve pelo menos
dois exemplos na História da ciência recente
em que pessoas, juntando dados geológicos
com dados geográficos e dados de evolução,
previram que neste espaço deve ter existido
a tal forma de transição e começaram a
esquadrinhá-lo, especificamente, acabando
por encontrá-lo. Há 200 anos não havia
nenhum destes elos. Tínhamos os macacos
e os humanos. Agora temos 4 ou 5 formas
de transição: troglopitecos, pitecantropos,
neandertais, etc. Há formas de transição e
vão sendo descobertas mais à medida que as
pessoas estão alertadas para isto. Portanto, “a
origem da vida”: não sabemos. Mas o facto
de não sabermos não implica que paremos
de investigar e que paremos de testar hipó-
teses racionais que possam ser comprovadas.
Podemos dizer “a evolução é irrelevante”.
Não é bem assim. Os estudos que nós faze-
mos hoje sobre epidemiologia, utilização
de antibióticos, melhoramento animal, são
baseados em modelos quantitativos que as-
sumem a evolução como um facto. Ou seja,
se nós não tivéssemos descoberto a evolução
e se a biologia como um todo não tivesse
começado a pensar desta forma, não tín-
hamos a maior parte das coisas que nós hoje
gerimos e que são a base do nosso bem-estar
e da nossa sobrevivência.
Portanto, será que nos podemos dar ao luxo
de dizer: “Olha, a origem da vida é demasia-
Experiência de Miller
do complicada. Não vou investigar. Deus
criou.”?
Nós temos a teoria da sopa primitiva: uma
espécie de sopa com amoníaco, com uma
série de compostos químicos que se assume
que deviam existir nessa atmosfera primitiva
e começaram a reagir uns com os outros. E
houve um senhor chamado Miller que fez a
experiência mais estúpida deste mundo, que
foi juntar estes quatro gases inertes dentro de
um balão, pôr umas faíscas e a borbulhar e
ver o que acontecia. O que aconteceu foi que
se geraram moléculas orgânicas, coisas que
vemos nos seres vivos. Neste momento há
outras pessoas, químicos orgânicos, a tentar
entender como é que essas unidades básicas
se poderiam ter juntado para dar moléculas
mais importantes. E, no processo de o faz-
erem, já estão a descobrir formas de síntese
completamente novas e que provavelmente,
vão ter um enorme impacto na industria
química. Se nós disséssemos: “Foi Deus que
fez isto”, isso já não ia surgir e os benefícios
também já não iam surgir. Ou seja, não po-
demos, como cientistas, abdicar de nenhum
ramo de conhecimento, nem abdicar da
capacidade que temos de pôr em causa ou
gerar hipóteses no que quer que seja, desde
que sejam comprovadas por teorias racio-
nais e por factos comprovados sob pena de
o edifício cientifico deixar de fazer sentido.
E aí, eu acho que elas não precisam de estar
em oposição porque são imiscíveis. Há pes-
soas, às vezes, a tentar “agarrar” na ciência
para explicar factos religiosos. Eu acho isso
patético. Não vejo que a religião, como
fenómeno genuinamente subjectivo e emo-
cional, tenha espaço para grande explicação
científica. Explicar a religião em si, as bases
teológicas, de uma forma científica, acho que
é um exercício absolutamente fútil. Não faz
sentido, porque é, e há-de ser sempre, uma
questão de ter ou não ter fé, e eu não vejo
que possamos ter uma explicação racional
para isso. Acho que pertence àquele tipo de
coisas que nós devemos dar aquela margem
de termos coisas na nossa vida e na nossa
maneira de ser que não explicamos nem es-
tamos interessados em explicar porque fazem
parte da beleza e da imprevisão da vida.
No fundo, a capacidade que nós temos de
acordar todos os dias e ter um bom ou um
mau dia, que é isso que nos faz estar vivos.
Religião Vs Ciência 14
 35
30
25
Nº de Pessoas (%)
20
15
10
5
0 0
<18 18-25 25-30
Idade
A voz do povo
Para melhor compreendermos a visão e
o nível de conhecimento da população
geral sobre os temas abordados pelos nos-
sos sub–temas decidimos realizar um in-
quérito a 100 pessoas onde encontraram
questões relacionadas com cada um deles.
A análise das opiniões desta amostra da
população permitiu-nos tirar várias con-
clusões que, de seguida, se apresentam.
De todos os inquiridos, a grande maioria
é constituída por jovens com menos de 18
anos e com instrução secundária. Este facto
deve-se ao local de aplicação dos inquéri-
tos: uma estação ferroviária colocada nas
imediações de uma escola. A faixa etária
menos representada é a dos idosos com
mais de 60 anos e com instrução primária.
Acredita numa entidade superior que
comande a vida/destino?
26%
45
40
35
30
Nº de Pessoas (%)
25
20
15
10
5
30-45 45-60 >60
Quando questionadas sobre se acreditavam
ou não na existência de uma entidade su-
perior, 74% das pessoas responderam afir-
mativamente, o que mostra que, apesar da
evolução dos tempos e da ciência, a grande
maioria das pessoas continua ainda a crer
num ser sobre-humano. Mas, apesar de uma
grande parte da população ser crente, apenas
68% dos inquiridos afirmam acreditar numa
religião. Isto pode ser atribuído ao facto de
nem todas as pessoas concordarem com os
ideais pregados pela maioria das religiões.
Relativamente à origem do Universo, coube
aos inquiridos escolher se a melhor ex-
plicação apontada para este fenómeno é a
apresentada pela ciência ou, pelo contrário,
pela religião. Foi-nos possível verificar que
Sim
Não
74%
Primária Básico Secundário Ensino Superior
Escolaridade
cerca de 73% da população considera a ex-
plicação da ciência a mais credível e, por
conseguinte, a que melhor explica a origem
do Universo. Este resultado é passível de ser
justificado através do grau académico da
maioria dos inquiridos, já que 76% destes
têm pelo menos o ensino secundário. O
facto de, ainda assim, existir uma fatia de
27% que considera a explicação da religião
como a mais plausível, pode ser atribuida
ao facto de 24% do total de inquiridos pos-
suírem apenas o ensino básico ou primário.
Com o intuito de conhecer a opinião e testar
o conhecimento da população geral sobre as
teorias que explicam o aparecimento de Vida
no planeta Terra, começámos por tentar per-
ceber o nível de conhecimento dos inquiridos
Acredita em alguma religião?
32% Sim
Não
68%
Religião Vs Ciência 15
 Na sua prespectiva, a melhor explicação Conhece alguma das seguintes teorias?
para a origem do universo é dada pela: 70

60

50
27%

Nº de Pessoas (%)
40
Ciência

30
Religião

20
73%

10

0
Criacionismo Evolucionismo Ambas Nenhuma

sobre o assunto. Cerca de 64% dos inquiri-
dos afirmaram conhecer ambas as teorias, en-
quanto que, apenas 25 %, afirma conhecer a
teoria evolucionista e 9% apenas a teoria cri-
acionista. Houve ainda 2% que revelou total
desconhecimento relativo a ambas as teorias.
Consoante a resposta à questão anterior,
indagámos sobre qual das teorias melhor
explicava a origem da vida. Apesar de 58
% das respostas apontarem a teoria Evolu-
cionista como a mais correcta, houve um
grande número de pessoas (42%) que aceita
a teoria Criacionista como a que melhor
explica o início da Vida. Estes dados reve-
lam que, apesar da evolução dos tempos
e da força da teoria evolucionista, existe
ainda um grande número de pessoas que
defende a existência de um deus criador.
Para melhor compreendermos a visão da
população geral sobre os milagres, incluímos
nos inquéritos que realizámos no âmbito do
nosso trabalho a seguinte questão: “Na sua
opinião, os milagres descritos na bíblia são:”
sendo possíveis as seguintes respostas: “Ver-
dadeiros”, “Apenas Metáforas”, “Interpreta-
ções erradas desta” e “Puramente ficcionais”.
Uma vez que a faixa etária de maior ex-
pressão nos referidos inquéritos foi a de
jovens com menos de 18 anos (33%),
não surpreende que a resposta “Pura-
mente ficcionais” tenha sido a mais escol-
hida, uma vez que esta idade se caracteriza
pela contestação de tudo o que a rodeia.
Segue-se a resposta “Apenas metáforas”
(33%), o que nos leva a acreditar que muitas
pessoas vêm a Bíblia como um modelo de
vida e não como uma “acta de uma reunião”.
A relação entre a Ciência e a Religião tem
sido conflituosa desde que teve início e, por
diversas vezes, cientistas foram “silenciados”
em nome de um Deus e dos seus ideais. No
entanto, a evolução dos tempos tem tornado
esta coexistência mais pacífica. Como tal, de-
cidimos averiguar o que pensa a população
geral sobre esta delicada relação. Os resul-
tados, mostraram que a grande maioria das
pessoas sente que esta sofreu uma evolução,
visto que, cerca de 59%, das pessoas consid-
eram a relação entre a Religião e a Ciência
“boa”. Ainda assim, é possível verificar que
41 % dos inquiridos consideram que se trata
de uma “má” relação. Relativamente ao fu-
turo da referida relação, foi possível perceber
que, a maioria dos entrevistados (52%), acr-
editam que esta sofrerá um melhoramento,
enquanto que 48% consideram que a relação
entre estes dois mundos só pode piorar.
Por fim, quisemos perceber se a população
considerava que a religião se poderia revelar
um entrave ao avanço científico. Os resulta-
dos falaram por si, já que, a maioria dos in-

Qual das teorias explica melhor o Na sua opinião, os milagres descritos na

aparecimento dos seres vivos na terra? bíblia são:
45

40

35

30
Nº de Pessoas (%)

Criacionismo 25
42%
20
Evolucionismo
58% 15

10

0
Verdadeiros Apenas Interpretações Puramente
Metáforas erradas desta Ficcionais

Religião Vs Ciência 16
 Prevê uma mudança da relação entre a O que pensa da coexistência da religião
ciência e a religião para: e ciência?
70

60

50

Nº de Pessoas
40
Pior
48% 30
52% Melhor
20

10

0
Boa Má

quiridos (79%) discordam desta ideia. Este Acredita que a religião pode impedir o
número prova que, apesar de, no passado,
muitos cientistas terem sido reprimidos pela progresso da ciência?
religião, o trauma está ultrapassado. Além
disso, o facto de se tratarem de dois mundos
imiscíveis e, actualmente, serem reduzidos os 21%
seus pontos de intersecção, tornam o avanço
científico e a crença religiosa duas linhas de
ideais diferentes e independentes.
Sim

Não

79%

A Religião e a Ciência
“A primeira luta entre o conhecimento humano e o
de Deus aconteceu, assim nos conta a Bíblia no Éden,
quando o homem desobedeceu a Deus e comeu do fruto
da árvore do ‘conhecimento do bem e do mal’ (Gen 2,9).
Este acto irreverente do homem significou o seu desejo
de independência, no querer e no agir, perante o seu
Criador. Só muitos séculos depois é que se encontrou
o significado mais profundo desta rebeldia e que ficou
conhecido como o debate entre a ciência e a fé, quando
Galileu descobriu que a linguagem bíblica não apontava
para verdades científicas mas apenas religiosas. Foi o
caso mais mediático, como dizemos hoje, mas, já antes,
S. Tomás de Aquino (+1274) tinha debatido e, de algum
modo, esclarecido o papel da teologia (fé) e da filoso-
fia (ciência) atribuindo a esta a sua autonomia e assim
a responsabilidade própria da razão em ter os seus
próprios caminhos para melhor conhecer o homem e o
universo. No interior da Igreja as questões começaram a
ser debatidas de modo bastante acentuado no séc. XIX,
mesmo naquilo que dizia respeito à fé, com a evolução
das ciências históricas e humanas. Estes vieram a apro-
fundar o problema: há mais o que separa do que une a
ciência e a religião. Poderíamos trazer muitos testemu-
nhos, mas todos chegaram a um acordo: é que a fé pre-
tende responder à pergunta sobre quem criou e conduz
a criação, e a ciência sobre como foi criada e para onde,
desta maneira, se encaminha a criação, aceitando a re-
sponsabilidade de a aperfeiçoar a cada dia que passa.
Cito agora o Concílio Vat. II: ‘a investigação metódica em
todos os campos do saber, quando levada a cabo de um
modo verdadeiramente científico e segundo as normas
morais, nunca será realmente oposta à fé, já que as
realidades profanas e as da fé têm origem no mesmo
Deus’ (GS 36). Debata-se hoje o modo como o mundo foi
criado, sobretudo o homem: criacionismo, como diz a
Bíblia, ou evolucionismo; mal aceite no princípio, foi-se
aperfeiçoando, e hoje é aceite por quase todos os cien-
tistas, embora precise de estudos que melhor o definam.
Chegarão a uma conclusão? A ciência é para continuar
a desbravar os caminhos. E o criacionismo? Só nos diz
quem criou e não como Deus criou o homem e o mundo,
é um discurso religioso.
Ao contrário, a religião diz-nos que o ser humano, a
partir do seu nascimento ou concepção, é um ser para a
eternidade. Como pode a ciência provar isso? Não pode,
mas também não é capaz de a negar, nem vai contra
qualquer princípio científico a afirmação religiosa. Mas
também não se contradizem.
No fundo, quer a filosofia quer a teologia não são mais
do que ‘um peculiar par de gémeos no qual nenhuma
delas pode ser destacada totalmente da outra e, toda-
via, cada uma deve conservar o seu objectivo próprio e a
própria identidade’ (Bento XVI)”
Padre Fernando Cima

Religião Vs Ciência 17
Escola Secundária Miguel Torga
2007/ 2008