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Santa Maria
2009
CLAUDIA REGINA LAWISCH
Santa Maria
2009
Claudia Regina Lawisch
_____________________________________
Profª. Drª Luciana Mielniczuk
(Presidente/Orientador)
_____________________________________
Profª. Drª Márcia Franz Amaral
(UFSM)
_____________________________________
Leonardo Foletto
Mestre em Jornalismo - UFSC
Este trabalho tem como tema o jornalismo sistema aplicado em meio digital,
analisado sob o viés do jornalismo cultural. O objetivo é identificar se a edição online
da revista Bravo! apresenta elementos do jornalismo sistema. Para isso, é feito um
estudo de uma matéria da revista, baseado nas características do jornalismo digital e
do jornalismo sistema. Para chegar à resposta, em um primeiro momento se faz a
descrição do objeto e identifica-se sua posição no atual contexto do jornalismo
cultural brasileiro. Em seguida, se apresenta as seis características do jornalismo
digital segundo Mielniczuk (2003). A partir do conceito de jornalismo sistema de
Fontcuberta (2006) e da pontuação se suas características, é feita uma relação dele
com o digital, mostrando a maneira como podem ser desenvolvidos de forma
conjunta com o intuito de apresentar um conteúdo contextualizado. Verifica-se, após
o estudo da matéria, que as duas esferas são complementares, e que a revista
Bravo! online apresenta elementos do jornalismo sistema.
This paper talks about the system journalism used in digital media, analyzed by a
cultural journalism point of view. The purpose is to identify if the online edition of
Bravo! magazine presents elements of system journalism. For this the research
studied the magazine text, based on digital journalism and system journalism
features. First it makes a description of the object and identifies its position in the
current context of Brazilian cultural journalism. Then, it presents the six features of
digital journalism based on Mielniczuk (2003). From the concept of system journalism
of Fontcuberta (2006) and the presents of your features, the research makes a link
with digital, showing how system journalism and digital journalism can be developed
jointly with the intention of presenting a content contextualized. After this study, check
that these two spheres are complementary, and that the Bravo! online magazine
presents elements of system journalism.
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 9
CONCLUSÃO..............................................................................................................59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................61
ANEXOS......................................................................................................................64
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO
‘Assunto do dia’ da edição online da revista e tem como título “Os artistas ainda
precisam de gravadoras para fazer sucesso?”, que trata das mudanças pelas quais
os artistas, principalmente do meio musical, estão passando com os avanços da
internet.
Ao final da análise é possível dizer se a revista, por meio da aproximação das
matrizes definidas na metodologia, apresenta aspectos do que configuramos como o
jornalismo sistema.
12
1.1 A REVISTA
1
Publicação que circulou pela primeira vez em 31 de outubro de 1996. Sua intenção, conforme
indicava em suas páginas era inserir a política, em sua concepção mais ampla, no cotidiano dos
leitores, sem a imagem de assunto aborrecedor que o tema normalmente desperta. Foi o primeiro
13
A ideia da Bravo! foi motivada pela revista República, primeiro produto editorial
da D’Ávila, revista que se propunha discutir os temas políticos com qualidade
reflexiva e que trazia como subtítulo “o prazer da política e as políticas do prazer”. A
capa exibida a seguir mostra um pouco deste caráter não usual da revista. Apresenta
pessoas de renome político por meio de depoimentos incomuns.
título da Editora D’Ávila Comunicações, dirigida pelo empresário Luiz Felipe D’Ávila. Mais tarde foi
vendida para Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e mudou de nome para Primeira
Leitura. Tornou-se partidária e sua última edição circulou em junho de 2006.
2
Sabor - Pão de Açúcar: revista do Grupo Pão de Açúcar, que tratava de gastronomia com matérias
também sobre saúde, decoração e viagem. Parou de ser circular em 2003.
3
Disponível em <http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=83> Acesso em 26 de
novembro de 2009.
14
meramente expositiva, informativa – não era agenda, era ensaio cultural”, conforme
diz Carelli. Surgiu com o espírito “ensaístico-crítico” (CARELLI, 2004).
Carelli conta que a ideia de Felipe D’Ávila fazer uma revista cultural no Brasil
surgiu quando ele retornava de um período de qualificação profissional na Europa.
Queria fazer uma revista semelhante às que ele lia no exterior. Com poucos
colaboradores e recursos escassos, a revista começou a ser projetada em setembro
de 1997. Felipe D’Ávila conseguiu levantar o patrocínio que garantiria um ano de vida
da revista sem levar nenhum projeto aos potenciais patrocinadores. Não havia
condições para elaborar um projeto, pois a verba era escassa e os participantes eram
poucos. Segundo Carelli, ele mostrava a República para os empresários e dizia
"agora quero lançar uma revista cultural, e vai sair em outubro". Todo o ramo
empresarial o conhecia e o tinha em boa conta, o que acabava por convencê-los de
que ele faria mesmo a revista, e que seria boa.
O nome da revista era ideia de Luís Carta4, que chegou a registrá-lo, porém
não sabia para qual publicação serviria. Carelli pediu para Andrea, filho de Luís,
autorização para usá-lo no projeto deles. “Eu achava que esse era o único nome
possível para a revista que viríamos a fazer”, diz Carelli. E Andrea5 autorizou que o
usassem. A revista toda foi feita, desde o projeto editorial e gráfico às matérias, todo
o fechamento e os fotolitos, em 23 dias. Conta ainda que, achando que não haveria
assunto suficiente no país para fazer a primeira pauta, pautaram Nova York, Paris,
Tóquio. Depois tiveram que abandonar tudo, porque a quantidade de eventos
culturais de importância mundial entre São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Salvador, Recife, Porto Alegre era enorme. O formato pensado – e aplicado para a
revista nesta época era de 30cm x 23cm.
Eu sempre disse que se eu levasse pra Abril naquela época o projeto de uma
revista cultural como o da revista que acabamos fazendo – 64 páginas em
couché 90g, capa em couché 270g, quatro cores, abertura com uma seção
altamente intelectualizada escrita pelos mais sofisticados pensadores
culturais do país, sem falar de música popular, sem falar de televisão – os
caras chamariam a segurança pra prender aquele batedor de carteiras
(CARELLI, 2004).
4
O italiano Luís Carta (1936-1994) era jornalista e fundou, em 1972, junto com os empresários
Fabrizio Fasano e Domingo Alzugaray, a Editota Três. Por influência de Carta, um amante do glamour
e do luxo, em 1975 a editora passou a publicar a Vogue no Brasil. Em outubro de 1976, Carta deixou
a Três para fundar sua própria editora, a Carta Editorial. Luís era pai dos também jornalistas Andrea e
Patrícia Carta, e irmão de Mino Carta.
5
Andrea Carta (1959-2003) era o filho mais velho de Luís Carta. Trabalhou por muitos anos como
editor-chefe da revista Vogue Brasil e à frente da Carta Editorial.
15
Jamais senti tanta satisfação por ser um jornalista, tanto orgulho por minha
profissão, tanta admiração pela capacidade dos meus companheiros, tanto
16
carinho deles para com o trabalho que escolheram fazer em suas vidas, e
tanta solidariedade entre eles (CARELLI, 2004).
O fato da revista ter agradado a todo tipo de público corresponde à ideia que
Luiz Felipe D’Ávila buscava quando escreveu a carta apresentada abaixo, publicada
na primeira edição, quando ressaltou que cultura não era patrimônio de elites
intelectuais.
Em 2001 a revista passou por uma reforma gráfica, mudando o tamanho, que
passou para os atuais 27,5cm x 22,5 cm e também o layout. Porém, conforme Carelli,
a Bravo! não podia ser ‘apenas um rostinho bonito’. Foi seu conteúdo
brilhante, seus textos longos e abundantes em total contrapartida à tendência
geral da imprensa, toda presa ao dogma falacioso segundo o qual "ninguém
lê nada", que fez da revista um sucesso – editorial e comercial (2004).
É uma ironia que a revista tenha acabado lá. Que seja um sucesso – mas do
jeito que nasceu para ser, tratando cultura como se deve. Isso significa tratá-
la, a cultura, não como ‘entretenimento’, mas como sentido da vida, o que
Aristóteles propunha como única possibilidade de satisfação do espírito
humano. Pode parecer grandiloqüente, mas esse foi o projeto da Bravo! e a
razão de seu sucesso. A seção mais lida e comentada era justamente a mais
‘difícil’, a seção ‘Ensaio’, que reunia sem concessões, sem panelas, a
inteligência mais aguda do país (CARELLI, 2004).
6
Disponível em < http://www.comunique-se.com.br/> Acesso em 26 de novembro de 2009.
18
Data de algum tempo uma coisa que eu considero perversa com os cadernos
culturais. Houve um enxugamento de texto dos jornais, por questões
econômicas, e acho que se aplicou uma lógica aos cadernos culturais, que
não existia antes, que é a lógica do furo. Uma lógica que foi transplantada
dos cadernos econômicos e políticos para os cadernos culturais. (...) Um
excelente artigo que o Sérgio Augusto escreveu para a gente. (...) Foi um
ensaio de grande repercussão, em que ele apontava esse círculo vicioso em
que a imprensa se meteu, querer dar o furo, o furo, o furo, o furo, e, num
certo momento, perder de vista até o próprio leitor (FREITAS, 2003).
19
Freitas diz, porém, não acreditar que um ensaio, uma entrevista, ou uma
reportagem por si só sejam a receita do jornalismo de qualidade. Todas devem ser
realizadas de modo combinado para que se tenha um produto diferenciado. É preciso
estimular o debate cultural. E apesar do público consumidor da revista ser das
classes A e B, ele diz que não a fazem para este ou aquele público. É para quem se
interessa pelo assunto. Afirma que uma linguagem rebuscada, de nicho, não é o
objetivo. “No jornalismo a gente quer falar com as pessoas. Quer falar com qualidade,
sim, quer explicitar análises técnicas, boas, mas sem ser cifrado” (FREITAS, 2003).
Ainda sobre a despreocupação com o furo, Freitas (2003) diz: “Nós queremos
ser diferentes porque é preciso ser diferente do que existe por aí. Não estamos
satisfeitos, o leitor não está satisfeito”. Afirma que eles apostam na relevância
jornalística dos fatos em primeiro lugar. A equipe entende que a análise crítica não
dispensa o serviço e a melhor matéria é aquela que conjuga as duas coisas. E
garante que não há nenhuma interferência externa na escolha do material que
receberá destaque, ela é guiada pelos princípios editorias da revista. Como toda
empresa de comunicação, ela busca o maior número de leitores possível, que se
enquadre nos seus objetivos editorias, mesmo que não faça maiores concessões
para ampliar seu mercado.
Em 2006 a revista passou definitivamente para a estrutura da Abril. Época em
que Sérgio Augusto, jornalista que trabalhou durante oito anos na revista, desde o
seu primeiro número, saiu. E sua saída foi marcada pelo fim de uma fase da
publicação. Para ele, a diminuição dos ensaios e dos colaboradores fixos ocasionou
sua decisão. Sérgio afirmou em entrevista a Julio Daio Borges para o site Digestivo
Cultural7 em fevereiro de 2007 que mantém uma posição contrária quanto aos
objetivos da publicação. Para ele, a editora Abril só comprou a Bravo! com uma
finalidade: transformá-la num produto mais comercial, mais vendável. E que, como
consequência, transferiu a seção de ensaios, que era uma espécie de abre-alas da
revista, para as últimas páginas. Para Sérgio, a Bravo! original só foi possível por ter-
se beneficiado, em seu primeiro ano de vida, de facilidades criadas pela Lei
Rouanet8, e que uma editora como a Abril, acostumada a operar em outra escala,
7
Disponível em <http://www.digestivocultural.com/entrevistas/entrevista.asp?codigo=10> Acesso em
26 de novembro de 2009.
8
Na década de 90 a promulgação da lei nº 8313/91, que caracterizou uma nova fase do
desenvolvimento de atividades culturais, permitia que projetos aprovados por uma Comissão Nacional
20
jamais teria se interessado em editar uma revista nos moldes da Bravo!, como a
pequena editora D’Ávila bancou, em 1997, amparada nos benefícios da renúncia
fiscal.
A Bravo! hoje é formada por seis editorias, distribuídas em 100 páginas. Cada
uma apresenta no mínimo dois artigos, uma crítica e a programação cultural do mês,
que são também disponibilizados no site da revista. Há um esquema de
colaboradores que participam especialmente da publicação com matérias e artigos,
além de uma equipe fixa, concentrada, sobretudo, nas funções de edição e outros
cargos dirigentes. O critério para a escolha dos colaboradores depende da pauta de
cada mês, afirma Freitas. A equipe fixa serve como uma espécie de baliza para a
linha editorial.
As matérias da revista não apresentam um padrão de linguagem pré-
determinado, isso porque cada colaborador tem um estilo diferente, procurando,
dessa forma, preservar a sua diversidade. Contudo, isso não significa que a liberdade
seja total: as matérias e reportagens são direcionadas para um veículo de custo alto –
o preço de banca é 14 reais – e, como tal, tem a obrigação de falar para os leitores
que investem este dinheiro nela (embora Freitas tenha dito anteriormente que o
público-alvo não é a principal preocupação). Esse fato acaba tornando o texto um
pouco mais conservador. Mesmo assim, a revista não se utiliza de recursos de
linguagem cifrada, apoiada em jargões de grupos isolados (como o teatral, ou das
artes plásticas). Braga (2006) tem a seguinte visão a respeito do conteúdo da revista:
de Incentivo à Cultura (CNIC) recebessem doações e patrocínios de pessoas físicas, ganhando ainda
a isenção do Imposto de Renda.
21
selecionado. E que “além das informações de base (dia, hora), há itens (como ‘por
que ver’ e ‘preste atenção’) que oferecem uma perspectiva competente de valoração”
(BRAGA, 2006, p.266). A Bravo! acaba, portanto, por manter um caráter sóbrio,
caminhando para um padrão que reúne, ao mesmo tempo, informação, crítica e
análise.
Abaixo um exemplo atual da revista, que mostra a qualidade estética apontada
por Braga ao exibir como capa uma obra do pintor Marc Chagall. Apresenta, além,
disso uma manchete que aborda os filmes “...E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”,
que não deixa a revista fugir de assuntos conhecidas por todos.
Piza (2004, p.31) “as convertem também em ‘atrações’ com ibope menor, mas
seguro”. Werneck (2007) vê isso como uma traição aos leitores, à profissão e “ao
pobre livro que se não estourar em livraria a ponto de entrar numa lista,
provavelmente jamais será resenhado”. (2007, p.67). O autor trata como negativa
também a questão da agenda, chamando-a de “camisa-de-força”, da qual o veículo
precisa se desvencilhar para que o leitor ganhe em informação: “O jornalista vai fazer
uma matéria sobre a exposição só porque a exposição está acontecendo, e se não
acontecer jamais se vai escrever sobre aquele artista que, no entanto, é um assunto
interessante o tempo todo”. (WERNECK, 2007, p. 70)
É importante ressaltar que não é dito que há problema em o jornalismo cultural
tratar da lógica do entretenimento/ibope, afinal, a cultura traduz-se em expressões
integradas por múltiplas maneiras, das quais faz parte também o entretenimento. O
problema reside, sim, na centralidade do culto ao entretenimento, apagando outras
dimensões de uma determinada manifestação cultural.
Porém, há veículos que tentam resistir a essa realidade e assumem uma
postura diferente frente à lógica do entretenimento, tratando de outra maneira as
informações. Trazem aquilo que é menos conhecido, mas não menos interessante. E
conforme Werneck (2007), esse fato não se trata de dar “uma força para o artista”,
mas, sim, de dar uma força para o leitor, pois ele tem o direito de conhecer os fatos
que estejam acontecendo por aí, e que a imprensa tantas vezes por opção esconde.
Esses veículos estão dentro de um grupo que optou por olhar para os menores
nichos do mercado. Assumiram uma abordagem de assuntos bem específicos.
Grupos estes que Piza (2004) chama de ‘guetos’ ou tribos.
A questão do entretenimento apontada como atual no jornalismo cultural, pode
ter sido reforçada pelo surgimento da internet como ferramenta, uma vez que há a
busca pela atualização contínua, a corrida pelo “furo”, conforme conta Ferrari (2003):
9
As características do jornalismo digital, segundo Palacios (1999) são: multimidialidade,
interatividade, hipertextualidade, personalização e memória. Mielniczuk (2003) acrescenta a estas e
atualização contínua. Abordaremos elas adiante.
10
Ressaltamos que o significado do termo utilizado não se refere à prática jornalística alternativa
empregada na época do regime militar brasileiro.
29
11
Modelo que funciona por emissão de mensagens, no qual há um emissor e um receptor distintos
(ex. mídia tradicional). Optamos pelo símbolo da bi-direcionalidade (⇔) para ambos os modelos, pois,
ainda que com função diferente do emissor, o receptor não será necessariamente passivo.
12
Modelo que funciona por disponibilização e acesso, no qual não há obrigatoriamente emissor e
receptor separados (ex. internet). O conteúdo pode ser produzido e disponibilizado tanto por um
quanto por outro. O que, esclarecemos aqui, não é uma regra.
31
textos que complementem o de onde partiu, bem como levá-lo à imagens, fotos,
sons, vídeos. É empregada também como barra de navegação.
- Personalização - Também denominada individualização, é a opção oferecida
ao usuário de configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses
individuais, como exemplo, os sites que oferecem uma pré-seleção dos assuntos e
da maneira como será apresentado (diagramação). Assim, quando o site é
acessado, a página de abertura é carregada de acordo com as preferências do
usuário. Além disso, da mesma forma que o percurso hipertextual pode ser uma
situação interativa, pois o leitor que escolhe qual o seu caminho de leitura, essa
pode ser tida também como uma situação personalizada, já que cada usuário define
o percurso de acordo com os seus interesses.
- Memória - Trata-se por memória a opção de acúmulo e acesso à
informações na internet por tempo indeterminado. Os conteúdos publicados nos sites
noticiosos podem ser acessados durante muito tempo. Segundo Palacios (1999) esta
acumulação de informações é bem viável técnica e economicamente na web. Assim,
o volume de informação produzida e diretamente disponível ao usuário e ao produtor
da notícia cresce exponencialmente no jornalismo online.
- Instantaneidade/atualização contínua – Se configura na rapidez do acesso
às informações. Tudo devido à facilidade de disponibilização proporcionada pela
digitalização.
Todas as características refletem as possibilidades oferecidas pela internet.
Cada uma com suas particularidades, estão aí para facilitar, para aprimorar a
exposição das informações junto ao público. Todas elas podem ser empregadas de
várias maneiras, algumas de forma mais promissora, outras menos, já que, conforme
afirma Palacios:
leitores, no tema do chat, nos vídeos e nos áudios. É necessário reunir o maior
número de assuntos possíveis para se relacionar com a reportagem.
13
“Abraham Moles denomina ‘a cultura mosaico’ para referir-se a conteúdos oferecidos pelos meios
de comunicação que define como fragmentados, atomizados e expostos sem nenhuma
hierarquização. Moles denomina esses conteúdos de ‘átomos de cultura’ e considera que são um
obstáculo para compreender a realidade.”
35
vezes as informações acabam por ser disponibilizadas sem que haja uma
organização, um preparo.
Em contrapartida à cultura mosaico vem a cultura “sistema”, que tem por
definição o oposto da mosaico
14
“O sistema é uma totalidade complexa composta por partes diferentes que estão inter-relacionadas
e que inter-atuam em uma organização. Essa interação faz com que o sistema seja muito mais que
uma soma, uma justaposição das partes. (...) Apostar em um jornalismo sistema é desenvolver um
jornalismo que não desuna os acontecimentos; que os contemple e os articule em um contexto
determinado e que estabeleça uma gama de interações com os receptores que possa contribuir com
a construção do sentido e a compreensão da realidade.”
36
- É um sistema fechado.
15
O Live 8 foi uma série de shows de caráter beneficente ocorridos entre os dias 2 e 6 de julho de
2005 com o objetivo de chamar a atenção para a miséria do continente africano e para o perdão da
dívida externa das nações mais pobres do mundo. Aconteceu nos países que faziam parte do G8 e na
África do Sul.
16
<www.elpais.com>
38
17
Lexia é o nome dado às informações armazenadas na internet. É tudo aquilo que podemos acessar
por meio de um link. Pode ser um texto, uma imagem, um arquivo de áudio, uma infografia, etc.
39
3.1 METODOLOGIA
são matérias que não estão presentes na edição impressa. Tais fatores nos
permitem a análise das características levantadas no estudo.
As demais seções da revista não foram escolhidas como alvo de análise por
estarem também disponíveis na edição impressa da revista, ou seja, se ausentaria a
exclusividade do meio digital. Porém, esse fato não significa que as matérias que
estão na edição impressa não sejam complementadas por recursos multimídia
quando aparecem na edição online, nem que não se façam presentes todas as
categorias de análise ou que não haja o jornalismo sistema.
Para chegar à seção de análise, é necessário acessar o site da revista
(www.bravonline.com.br) e clicar sobre a capa da edição impressa, que encontra-se
no canto superior direito da página, conforme demarcado na figura:
18
Isso no dia 10 de novembro de 2009. Mais tarde possivelmente será maior o número de matérias e
consequentemente maior o número de páginas que as reúne.
44
A reportagem tem como título: “Os artistas ainda precisam de gravadoras para
fazer sucesso?”. Traz logo no cabeçalho uma fotografia do músico Lucas Santtana,
que disponibiliza em seu site Diginois (www.diginois.com.br) as suas composições
para download gratuito. A matéria trata desta alternativa que os artistas da música
encontram hoje para divulgar seus trabalhos na internet.
No olho faz um apanhado sobre o que vai tratar, entre a história do músico
Lucas Santtana, a necessidade de uma boa estratégia de marketing para que os
músicos independentes façam sucesso e o fato de as gravadores estarem usando
essa exposição na internet como uma forma de “laboratório virtual” onde buscam
45
novas apostas. Logo abaixo do olho, três links nos guiam para outras matérias. São
eles19:
• Leia a matéria Revolucionária aos 16 anos, sobre a ascensão de Mallu
Magalhães;
• Veja o flash que recria a trajetória da cantora;
• Acesse o site Diginois, do músico Lucas Santtana.
O desenvolvimento da nossa matéria de estudo se dá logo após a listagem
dos três links, como podemos visualizar na figura a seguir:
19
O conteúdo dos links será retomado no decorrer do estudo.
46
20
O MySpace, segundo a Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/MySpace) é um serviço de rede
social, criado em 2003, que utiliza a internet para comunicação online através de fotos, blogs e perfis
de usuário. Inclui um sistema interno de e-mail, fóruns e grupos. A crescente popularidade do site e
sua habilidade de hospedar MP3s fez com que muitas bandas e músicos se registrassem, algumas
vezes fazendo de suas páginas de perfil seu site oficial.
47
não tão conhecido, mas que percorre um caminho artístico pela internet nos mesmos
moldes que percorreu a cantora. Além disso, houve contextualização quando tratou
da questão do marketing aliado à verdadeira função das gravadoras hoje.
21
Software utilizado para a criação de animações interativas que funcionam anexas a um navegador
de web.
53
Tanto os links para outras matérias da própria revista, quanto os para site
externo são uma opção que a revista online utiliza para enriquecer o conteúdo,
mostrar os fatos sob diversos aspectos.
22
Remix é uma música modificada por seu próprio produtor ou por outra pessoa. É, na maioria das
vezes, feita por um DJ que coloca efeitos adicionais tornando a música dançante.
57
que não encontramos em um sistema fechado. Porém optamos por pontuar apenas
a que predomina, que é a hipertextualidade. Ela possibilita a expansão da
interpretação por parte do leitor. O conhecimento não é limitado e há recurso para ir
além do que é mostrado no texto.
online. Porém, seguindo o assunto cultura - a que se propõe tratar, podemos dizer
que há a instantaneidade.
Após a análise por meio da relação entre as características que definem o
jornalismo digital e as que fazem o mesmo com o jornalismo sistema, pudemos
perceber que o jornalismo digital pode realmente ser potencializador para o exercício
do jornalismo sistema. Praticamente todas as características de um vão ao encontro
das do outro, coexistindo.
59
CONCLUSÃO
A hipertextualidade é a que esteve mais presente e pode ser tida como a que
mais veio a contribuir com o desenvolvimento do jornalismo sistema, pois possibilita
um novo formato de narrativa. Ela permite a conexão entre as informações. Permite
que uma matéria seja complementada, linkando as informações com as de outras
matérias mais antigas – conforme foi feito com os links para as outras matérias – e
com outros sites – como no caso do Diginois, MySpace e Universal Musica Brasil.
Essas ações permitem a expansão do conhecimento do leitor. Ao final, pudemos
perceber que há, sim, a presença de elementos do jornalismo sistema na revista
Bravo! e que essa presença é viabilizada pelas características oferecidas pelo
jornalismo digital.
61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Suzana. Jornalismo online: dos sites noticiosos aos portais locais.
Trabalho apresentado no XXIV Intercom. Campo Grande, 2001. Disponível em:
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/barbosa-suzana-jornalismo-online.html> Acesso em 02
dez 2009.
BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica
midiática. São Paulo: Paulus, 2006.
DÓRIA, Pedro. Dilemas on-line. In: LINDOSO, Felipe. (Org.). Rumos [do]
Jornalismo Cultural. 1ª ed. São Paulo-SP: Summus: Itaú Cultural, 2007, p. 98-103.
LINDOSO, Felipe (org). Vários Autores. Rumos [do] Jornalismo Cultural. 1ª ed.
São Paulo: Summus: Itaú Cultural, 2007.
MEDINA, Cremilda Celeste de Araújo . Leitura Crítica. In: LINDOSO, Felipe. (Org.).
Rumos [do] Jornalismo Cultural. 1ª ed. São Paulo-SP: Summus: Itaú Cultural,
2007, p. 32-35
MEIMES, Lívia. Bravo!: luxo e lixo no jornalismo cultural. Porto Alegre: Plus,
2008. Disponível em: <http://editoraplus.org/wp-
content/uploads/bravo_luxo_e_lixo_no_jornalismo_cultural_1a_edicao.pdf> Acesso
em 02 dez 2009.
63
MOTA, Célia. Jornalismo cultural como exercício crítico. 2008. Disponível em:
<http://www.culturaemercado.com.br/post/cultura-e-pensamento-3-jornalismo-
cultural-como-exercicio-critico/> Acesso em: 02 dez 2009.
ANEXOS
No Controle
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Gerenciar uma carreira musical é tarefa árdua. É o que faz o músico Lucas Santtana
em sua carreira solo. Ele integrou as bandas de Gilberto Gil e Marisa Monte em
trabalhos realizados em grandes gravadoras, e hoje, fora delas, mantém o site
Diginois. Na página, Lucas disponibiliza seus álbuns para download gratuito, atualiza
diariamente um blog e informa sobre a agenda de shows.
"Fiz o Diginois, que é também um selo digital, por querer mais independência para
trabalhar minha música. As experiências que tive com gravadoras não me deixaram
satisfeito", diz Lucas. "Só que para ter um trabalho independente, à margem da
grande indústria fonográfica, é preciso organizar uma boa logística, pensar em tudo:
na gravação, na distribuição, em como divulgar. É muita coisa. Mas tem valido a
pena. Se o disco está divulgado na internet, até mesmo as cópias físicas vendem
mais", esclarece.
Vinculados ou não a grandes gravadoras, muitos artistas têm uma página na internet
para divulgar músicas e datas de shows, ou simplesmente, para fortalecer o nome na
rede - estar habilmente conectado é um requisito fundamental para atingir o público.
Daí a importância de redes sociais como o MySpace, que não só facilitam a criação
dos perfis músicos, como viabilizam a interação com o público.
Uma página com alta audiência pode ser o passaporte para quem está interessado
em um contrato com as grandes gravadoras. "A internet é como uma bússola para
as gravadoras. A recepção do público ao artista costuma dar um norte para os
investimentos da companhia", afirma o diretor do MySpace Brasil, Emerson
Calegaretti.
ANEXO E – Seção Multimídia, onde estão reunids vários imagens, vídeos e arquivos
de áudio de diversas edições da revista.