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O documento discute as diferenças entre pensamento complexo e sistêmico. Afirma que a complexidade não é pensamento sistêmico e que "modelos mentais" não são modos de pensar. Explica que o pensamento sistêmico busca o controle através de modelos, enquanto o complexo reconhece a incerteza.
O documento discute as diferenças entre pensamento complexo e sistêmico. Afirma que a complexidade não é pensamento sistêmico e que "modelos mentais" não são modos de pensar. Explica que o pensamento sistêmico busca o controle através de modelos, enquanto o complexo reconhece a incerteza.
O documento discute as diferenças entre pensamento complexo e sistêmico. Afirma que a complexidade não é pensamento sistêmico e que "modelos mentais" não são modos de pensar. Explica que o pensamento sistêmico busca o controle através de modelos, enquanto o complexo reconhece a incerteza.
RESUMO Este trabalho chama a ateno para dois equvocos frequentes na literatura sobre pensamento complexo. Primeiro, complexidade no pensamento sistmico; segundo, modelos mentais no so modos de pensar, como muitas vezes se pensa e se escreve com certa frequncia. As diferenas mais importantes so apontadas e analisadas. Palavras-chave: complexidade, pensamento sistmico, modelos mentais. ABSTRACT This paper draws attention to two common misconceptions in the literature on complex thinking. First, complexity is not systems thinking; and second, mental models are not ways of thinking, as some people think and write with a certain frequency. The most important differences are identified and analyzed. Keywords: complexity, systems thinking, mental models. Duas noes devem ser retidas por todos os que estudam a complexidade: 1. Complexidade no pensamento sistmico. 2. Modos de pensar no so modelos mentais. Em seu livro 50 key thinkers (50 pensadores chave), John Lechte (1994) faz uma observao importante: os tericos de sistemas esto convencidos de que os seres humanos fazem parte de um sistema homogneo e estvel, que pode ser conhecido por meio de teorias. Portanto, formam um conjunto previsvel que pode ser controlado pelo conhecimento. E, mesmo que o conhecimento perfeito ainda no exista continua Lechte , para esses tericos a equao quanto maior o conhecimento maior o poder sobre o sistema incontestvel. Nesta ltima frase a relao entre o pensamento sistmico e a necessidade de controle evidente. Escolhi-a para destacar uma das principais diferenas entre os pensamentos sistmico e complexo. No primeiro buscase o controle, mesmo ao custo de tentar (em vo) fazer de contas que a incerteza no existe. No segundo, reconhece-se a incerteza e procura-se conviver com ela. Outros dois pontos importantes e sobre os quais vale a pena insistir que, dada a sua pretenso de controle, no pensamento sistmico o observador/gestor imagina (tambm em vo) que possvel permanecer fora do sistema para melhor control-lo. No pensamento complexo o observador se v como parte integrante do sistema. A importncia do reconhecimento da incerteza tem se tornado cada vez mais clara nos ltimos tempos. Ralph Stacey, por exemplo, chama as cincias da complexidade tambm de cincias da incerteza (Stacey, 2012). E com isso d um passo fundamental, que conduz a insights importantes para o esclarecimento de quem ainda confunde complexidade com pensamento sistmico. No so poucos, e esse rol inclui pessoas que escrevem e do cursos sobre a complexidade nos meios acadmicos. Os insights de Stacey tm ajudado a entender o que no fundo significam as propostas das teoria da complexidade, o que pode ser resumido em dois
pontos principais: 1. A aceitao da incerteza como parte irremovvel da
condio e das atividades humanas o que, claro, inclui todos os seres vivos. 2. A necessidade de desenvolver novos modos de pensar. Aceitar a incerteza antes de mais nada uma atitude realista. Tentar reduzir nossas interaes com o mundo e as percepes da resultantes a modelos mentais uma forma de reducionismo. A expresso modelos mentais e o reducionismo que ela implica hoje esto superados e nada tm a ver com a teoria da complexidade e o pensamento complexo. Ao aceitar a incerteza, a teoria da complexidade prope formas de pensamento no modeladoras, no padronizadoras, coerentes com a noo de que no possvel construir modelos representativos do todo de uma realidade mltipla, diversificada e em constante mudana. Ainda assim preciso dizer que a modelagem sistmica um recurso til, mas deve se restringir ao entendimento de processos mecnicos, sequenciais e restritos nada alm disso. Tentar aplic-la psicologia humana, por exemplo, uma atitude manipuladora e danosa. Com ou sem o auxlio de softwares e dos chamados arqutipos do pensamento sistmico, a modelagem sistmica tenta negar a incerteza e artificializa o mundo real. Por isso, como dito h pouco, ela deve se restringir a representaes mecanicistas e temporrias da realidade. Nessa mesma linha, a expresso modelos mentais tambm inadequada quando aplicada aos sistemas complexos adaptativos aos seres humanos e suas organizaes, por exemplo. Adot-la implica a pretenso de padronizar e cercear a liberdade, a diversidade e a produo de diferenas. O pensamento sistmico at chegou a reconhecer a ambiguidade inerente aos sistemas/processos humanos, mas isso no o livrou de permanecer atrelado iluso de controle. Por essas razes, a expresso modelo mental no deve mais ser usada no contexto da teoria da complexidade e suas aplicaes. Desde o meu livro mais recente eu prprio j havia adotado essa posio, que agora reforo (Mariotti, 2010). H estudos sobre a cognio humana nos quais a expresso modelo (no sentido de mapa ou maquete), oriunda da cincia cognitiva, prope a metfora do crebro como um computador. Tal noo se baseia no representacionismo e pode ser assim resumida: o crebro um computador, cujo software processa as percepes que a ele chegam por meio dos rgos dos sentidos. O resultado desse processamento a formao de representaes mentais do mundo percebido. Essa proposta pode ser identificada no pensamento sistmico, e tem gerado a suposio de que os mapas (os modelos e arqutipos) so uma representao fiel do territrio (o mundo real). uma conjetura reducionista, o que alis explica a aceitao pronta e disseminada dos modelos sistmicos, em especial os computacionais. Em no poucos casos o objetivo da modelagem sistmica tentar excluir/negar a incerteza vem ao encontro dos anseios de muitas pessoas por certezas, mesmo quando sabem que estas no existem no mundo real. por isso que elas tendem a atribuir aos modelos muito mais do que eles podem proporcionar. Essa foi uma das crticas feitas, j na dcada de 1960, ao antroplogo Claude Lvi-Strauss, um dos nomes ilustres do estruturalismo: pretender apresentar os modelos matemticos como mais reais do que a prpria realidade. Os modelos no so o mundo real ou, para
repetir uma expresso que j se tornou lugar comum, o mapa no o
territrio: apenas uma representao deste, sem dvida til mas nem por isso menos limitada. Na condio de representao, os mapas/modelos so estticos e restritos, por maior que seja o nosso desejo de consider-los exatos ou perfeitos. O mundo no exato nem inexato, no perfeito nem imperfeito: essas so atribuies que lhe so dadas pelos humanos. O mundo um sistema mltiplo, diversificado e em incessante mudana. Dado que os seres humanos tambm so sistemas mutantes, a mente pode ser definida como o crebro em funcionamento, para usar a feliz expresso de Francisco Varela. Ela no contm mapas nem registros estticos: um fluxo experiencial, por meio do qual interagimos com a realidade. Os sistemas complexos incluem as seguintes dimenses: 1. Autoorganizao: emergncia de comportamentos adaptativos no sistema/processo, em resposta a mudanas do ambiente. 2. Identidade: caractersticas que os identificam e se mantm, mesmo quando eles evoluem e se modificam. 3. Homeostase: a maneira como mantm sua relativa estabilidade interna. 4. Permeabilidade: como interagem com o seu ambiente. Essas dimenses no so estticas: esto longe do equilbrio e por isso no podem ser capturadas por modelos ou arqutipos, por mais sofisticados ou computadorizados que sejam. Nessa linha de raciocnio (e sempre no contexto da teoria da complexidade), a palavra sistema deve ser substituda por processo, como propem Stacey e colaboradores. (Stacey et al 2006). Nesse caso, a expresso sistemas complexos adaptativos deveria ser substituda por processos complexos responsivos. Concordo em princpio. No entanto, dada a ampla disseminao da palavra sistema, sugiro que a designao proposta por Stacey seja incorporada aos poucos, para evitar confuses e mal entendidos. A questo das ferramentas que do resultados concretos outra evidncia de nossa dificuldade de lidar com o intangvel. Da a confiana nas modelagens sistmicas. Quando se tornam super-simplificaes, elas criam problemas at maiores do que aqueles que se prope a solucionar. o que acontece com a insistncia em continuar a aplicar os modos linear e sistmico de pensar a problemas complexos. Chamo esse fenmeno de super-simplificao. Ele deu origem a muitas outras atitudes equivocadas, entre as quais a persistncia em continuar a explorar os recursos naturais da Terra com base em modelos e procedimentos que tm se revelado destrutivos. Insistir na modelagem obscurece a viso perifrica, o que um obstculo ao pensamento estratgico. Apesar de ser mais abrangente do que o uso de sequncias lineares, a modelagem sistmica no deixa de ser mecanicista, pois a incerteza do mundo real no pode ser capturada nem congelada em seus arqutipos. A viso e a compreenso da periferia o big picture requer mtodos adequados a realidades mais amplas. Os sistemas complexos no podem ser controlados, mas podem ser influenciados, e exercer essa influncia um dos papis do pensamento complexo.
Vrios autores tm repetido que a descrio e explicao dos sistemas
complexos no suficiente para compreend-los. Tentar desconstru-los implica a sua destruio, pois em tais sistemas o todo maior do que a soma das partes. Qualquer tentativa de desconstruo/fragmentao de um sistema redutora/simplificadora, implica a supresso da incerteza a ele inerente e, portanto, a eliminao de sua complexidade. o que acontece com os j mencionados arqutipos do pensamento sistmico, que reduzem a ontologia (a dimenso existncia) dos sistemas/processos ao seu conhecimento. O conhecimento que se supe ser objetivo assim adquirido impe representaes que na verdade so o que observador imagina, no o resultado de sua interao real com os sistemas/processos. Nesse caso tal interao seria impossvel, pois para a construo de um modelo o observador precisa imaginar-se fora do sistema e, assim, capaz de control-lo. Essa postura prpria da iluso de controle, e leva a suposies que insistem em afirmar-se prticas, realistas e pragmticas, quando na verdade so o oposto de tudo isso. dessa forma que o universo da gesto tem pensado o mundo ao menos desde a dcada de 1950: tentar reduzi-lo aos modelos do pensamento sistmico. A recusa a pensar de outras maneiras tem resultado em sucessivos fracassos de planos e estratgias o contrrio do que espera a ortodoxia das cincias da gesto. Com efeito, o nmero de escolas de negcio que ainda ensinam pensamento sistmico (muitas delas na suposio de que por esse meio capacitam os alunos a lidar com a complexidade) muito grande. Isso acontece nos EUA e, por extenso, em pases que lhes so ligados, o que inclui o Brasil. A adoo do pensamento sistmico veio do empirismo ingls dos sculos 17 e 18, depois estendido aos EUA, onde contribuiu para a gerao de antiintelectualismo que ainda hoje perdura. Essa postura deu origem a diversas manifestaes de desvalorizao da filosofia. Mas a recusa a pensar sempre tem um preo. Nos dias atuais estamos a pag-lo em muitas reas e de muitos modos, o que inclui a dificuldade de perceber que situaes como o aquecimento global no podem ser entendidas nem trabalhadas de modo adequado por meio de modelos sistmicos. o que tem acontecido, ano aps ano mas ainda no o bastante para convencer a maioria de que a insistncia em no mudar de modo de pensar tem levado e levar a resultados indesejveis, queiramos ou no. Enquanto isso no acontece, os planos e projetos teimam em no dar certo. Sabemos que necessrio e razovel elabor-los, mas ao mesmo tempo insistimos em nos auto-enganar com a ideia de que se forem bem feitos tudo correr bem, no haver erros e as expectativas sero cumpridas. Ou seja, os planos se cumpriro porque esse o nosso desejo. No momento em que se deixa de incluir a dimenso humana em um determinado contexto e se pe em seu lugar um excesso de nmeros, modelos matemticos ou coisas semelhantes, afastamo-nos da complexidade do mundo. J em sua poca, Kant, Hegel e Fichte advertiam sobre o quo equivocados estavam os que supunham que as cincias naturais eram uma expresso fiel do mundo real. Referncias LECHTE, John (1994). 50 key thinkers. Nova York: Routledge.
STACEY Ralph (2012). __________.Tools and techniques of leadership and
management: meeting the challenge of complexity. Londres & Nova York: Routledge. MARIOTTI, Humberto (2010). Pensando diferente: para lidar com a complexidade, a incerteza e a iluso. So Paulo: Atlas. *Este texto faz parte do livro Complexidade e sustentabilidade: o que se pode e o que no se pode fazer, do Autor, que estar nas livrarias em meados de 2013, pela Editora Atlas (SP). *HUMBERTO MARIOTTI. Co-fundador do Centro de Estudos para o Estudo da Gesto da Complexidade, na BSP Business School So Paulo. Professor da disciplina Gesto da Complexidade na BSP. E-mail: humberto.mariotti@bsp.edu.br