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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
CICLO DE DESENVOLVIMENTO:
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
ACTIVIDADES
FORMATIVAS
Re s p o s t a s à s A c t iv i d a d e s Fo rm at iva s
A INFÂNCIA
1. Piaget, um dos autores mais marcantes dos estudos sobre a infância, perspectivou
o desenvolvimento cognitivo numa sequência de estádios. Descreva as principais
características dos estádios sensório-motor, pré-operatório e operações concretas.
Jean Piaget vai romper com a ideia de que a inteligência seria determinada
geneticamente e de que as diferenças intelectuais seriam diferenças quantitativas. Na sua
perspectiva, o desenvolvimento cognitivo não é determinado antes do nascimento e as
diferenças entre as pessoas não são quantitativas, mas qualitativas.
Piaget vai adoptar uma perspectiva construtivista. Ele parte do pressuposto de
que o conhecimento é construído pela própria pessoa, nas interacções com o meio, embora
reconheça que, na sua origem, estão factores de ordem biológica. Esta construção resulta
TEXTOS
das acções, físicas ou mentais, desenvolvidas pela criança sobre o meio, físico ou social. É
MANUAL DE
PSICOLOGIA DO na acção que se encontra o motor do desenvolvimento. Por isso, argumenta que a pessoa é
DESENVOLVIMENTO
a construtora activa do seu conhecimento e não o recipiente passivo da experiência ou de
esquemas inatos. O processo de desenvolvimento não consiste em encher um recipiente
vazio. A interacção da pessoa com o meio cria conflitos e desequilíbrios nas estruturas
cognitivas, na forma de ver o mundo, que são os promotores do desenvolvimento.
Para Piaget, o que se desenvolve, ao longo da vida, são as estruturas cognitivas,
as quais não são comportamentos, mas organizadores do comportamento. Ou seja, deter-
minada estrutura cognitiva origina capacidades que podem, ou não, ser expressas em
comportamentos. Pela análise de um comportamento podemos perceber qual a estrutura
que está por detrás dele. Assim, coloca-se numa perspectiva estruturalista do
desenvolvimento cognitivo procurando, nos seus trabalhos, as estruturas do conhecimento
comuns a todos os indivíduos. O desenvolvimento cognitivo é, pela complexificação e
integração das estruturas cognitivas, um produto da acção da pessoa, que se manifesta
numa sequência de estádios, cada um qualitativamente diferente do anterior, cada um
permitindo uma nova forma de relação cognitiva com o mundo.
Piaget estudou os padrões de pensamento que as crianças usam, desde o
nascimento até ao final da adolescência, encontrado padrões consistentes dentro de certos
grupos etários. Em termos gerais, a passagem de um estádio a outro representa trans-
formações fundamentais na organização cognitiva. Cada estádio é um sistema de pensa-
mento qualitativamente diferente do precedente.
É de salientar que o que acontece ao longo do desenvolvimento é a integração e a
expansão do conhecimento e do modo de pensar dos níveis anteriores. O conhecimento
anterior mantém-se, aperfeiçoando-se a sua qualidade. Por isso, estes estádios nunca
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existem de «forma pura», estando sempre presentes algumas características do estádio
precedente e do seguinte. O desenvolvimento não é um processo contínuo e linear que se
«passeia» por períodos estáticos, que são «deitados fora» quando surge o seguinte. O
desenvolvimento é um processo descontínuo de avanços e recuos, de saltos e de bloqueios,
que avança numa direcção, é certo, mas que para isso, às vezes, muda de «comboio» ou de
estrada, engana-se no mapa, volta atrás ou apanha um «avião».
Deste modo, Piaget considera que no estádio sensório-motor [do nascimento
até aos 18 24 meses] as actividades sensorial e motora são essenciais para o
desenvolvimento da percepção e do movimento. O bebé vai organizando o mundo, dando-
lhe progressivamente sentido. As grandes aquisições deste período de vida são a
permanência de objecto [a criança cria esquemas mentais dos objectos podendo estes
continuarem a ter existência fora do seu campo visual] e a representação simbólica
[representação mental de objectos, de experiências, de pessoas através do uso de
símbolos].
O estádio pré-operatório [que significa «antes da capacidade de poder operar
com lógica» e que se situa entre os 2 e os 7 anos] é caracterizado pelo egocentrismo
intelectual [interpretação das situações, acontecimentos e comportamentos dos outros de
um ponto de vista muito pessoal, auto-centrado], pelo pensamento mágico [centração na
fantasia, incapacidade de distinguir, por exemplo, a parte do todo ou o geral do particular]
e pelo pensamento intuitivo [incapacidade para utilizar a reversibilidade lógica]
O estádio das operações concretas [dos 6/7 aos 12 anos] é caracterizado pela
capacidade de conservação [permanência e constância dos objectos independentemente
das transformações da forma] e de inferência lógica [obtenção de conclusões a partir de
premissas abstractas]. A criança tem agora capacidade para compreender relações entre a
parte e o todo, noções de espaço, tempo, velocidade, classificar e seriar objectos bem como
conservar o conceito de número.
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capacidade de aprendizagem e dada a complexidade dos processos biológicos de
crescimento e de maturação, o seu desenvolvimento torna-se muito rápido.
No primeiro ano, o desenvolvimento vai ter uma velocidade ímpar face a qualquer
outro período de vida. O sistema sensorial do bebé já funciona ainda na vida intra-uterina,
especialmente a visão e a audição, mas vai passar por um processo de maturação que lhe
permite novas capacidades. A nível motor, o bebé vai, progressivamente, ser capaz de se
sentar, gatinhar, andar, mastigar e vocalizar.
Para melhor se compreender esta fase convém distinguirmos aqui três processos
diferentes que muitas vezes são confundidos, o de crescimento, o de maturação e o de
desenvolvimento. O crescimento refere-se ao aumento de uma qualquer estrutura, por
exemplo altura, em função da idade. Trata-se de um processo quantitativo uma vez que
não há alteração na natureza dessa estrutura. A maturação refere-se à revelação e acção
de estruturas inatas por acção de mecanismos internos e externos. É um processo
qualitativo uma vez que existem mudanças na natureza e função das estruturas em causa.
Por exemplo, o sistema nervoso central vai sofrendo processos de maturação à medida que
várias estruturas se vão integrando e trabalhando em conjunto. O desenvolvimento é um
processo qualitativo resultante da interacção de factores genéticos de crescimento e de
maturação e de factores ambientais como, por exemplo, a alimentação, os cuidados e a
tenção que são prestados ao bebé.
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significado. A partir deste momento, o vocabulário aumenta exponencialmente. É por
volta dos 18 a 24 meses que começa a expressar ideias com mais do que uma palavra.
No entanto, é importante referir que o desenvolvimento da linguagem é um dos
aspectos do desenvolvimento com mais latitude. Quer isto dizer que algumas crianças
começam a falar em idade muito precoces e outras em idades mais tardias sem que isso
esteja associado a qualquer deficiência ou «supercapacidade». O discurso linguístico não
pode estar rigidamente associado à idade cronológica.
4. «Ao longo dos dois primeiros anos de vida, a criança passa por mudanças
significativas na esfera psicossocial». Explique esta ideia, referindo as perspectivas
de Freud e Erikson.
Nos dois primeiros anos de vida as crianças passam por mudanças significativas
na esfera psicossocial uma vez que a grande conquista deste período é a compreensão da
existência de um «dentro» e de um «fora». Quer isto dizer que a criança percebe que
existe um meio externo, diferenciado do seu próprio corpo, que tem aspectos positivos e
negativos, onde existem outros que com ela interagem e que lhe dão atenção, cuidados,
incentivam, reprovam, e até a surpreendem. Aos dois anos, a criança tem já um sentimento
de identidade [ou de personalidade] que lhe permite responder ao meio que a rodeia de
um modo diferenciado e único. Vários autores têm perspectivas diferentes da forma como
a criança se desenvolve em termos psicossociais. Freud e Erikson são dois estudiosos
«clássicos» desta vertente do desenvolvimento.
Antes dos trabalhos de Freud serem publicados, pensava-se que as crianças, até
aos 6, 7 anos eram desprovidas de mente. Não se reconhecia a existência de uma vida
psíquica durante a primeira infância pois considerava-se que nada de significativo acon-
tecia neste período, sendo apenas importante atender às necessidades físicas das crianças.
Freud era médico em Viena, e quando começou a tratar doentes do foro psiquiá-
trico, que sofriam de distúrbios de ansiedade, deparou-se com o facto de muitos dos
sintomas apresentados pelos doentes não poderem ser atribuídos a causas físicas, mas
psicológicas. Freud constatou que, sistematicamente, os acontecimentos críticos que
davam origem aos sintomas dos seus pacientes se situavam nos primeiros anos de
vida. Começou então a tentar compreender a personalidade adulta a partir das relações
pessoais e das experiências infantis, abrindo assim, uma perspectiva revolucionária da
infância. Mais ainda, concluiu que todos os indivíduos passavam por uma sequência
semelhante de vivências significativas durante a infância, as quais envolviam pulsões se-
xuais. Esta descoberta levou-o à construção de uma teoria do desenvolvimento
psicossexual, organizada por estádios, cada um apoiado no anterior, o que, neste aspecto, é
semelhante à teoria do desenvolvimento cognitivo, de Piaget.
Para Freud, desde que nascemos, estamos orientados para a busca de prazer, que
obtemos pela estimulação de certas do corpo (boca, ânus e órgãos genitais), a que chamou
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zonas erógenas, pois considerava que o prazer obtido era sempre de carácter sexual. À
medida que o desenvolvimento se processa, a importância relativa de cada zona erógena
altera-se.
Durante o estádio oral [do nascimento ao fim do primeiro ano de vida] a boca é
o órgão privilegiado de relação com os objectos e com o próprio corpo. A criança satisfaz a
sua fome, primeiro prazer experimentado. Posteriormente começa a conhecer o mundo
através da boca: nela introduz objectos ou os dedos, conseguindo, desta forma, obter
também prazer. A necessidade de alimento vai progressivamente desenvolver outras
necessidades.
Durante o estádio anal [nome derivado da exigência do controle do esfíncter
anal, 1 aos 2/3 anos] há um outro tipo de prazer que tem a ver com a defecação. Quando a
criança retém as fezes ou as expele sente prazer. Nesta altura surgem repressões sociais
ligadas à exigência da regulação de necessidades fisiológicas. A independência e o controlo
caracterizam esta fase do desenvolvimento.
Para Erikson, o desenvolvimento é resultado da resolução de conflitos que,
em cada período do desenvolvimento, a pessoa tem de enfrentar e de superar. Esses
conflitos surgem da confrontação entre o Eu e as pressões pessoais e do meio social. Todos
os conflitos estão presentes à nascença mas tornam-se predominantes em pontos
específicos do ciclo de vida. Inicialmente, Erikson apresentava uma solução positiva e
outra negativa para cada um dos conflitos. Por exemplo, dos 0 aos 2 anos, a criança via-se
a braços com o conflito entre confiança e desconfiança, as soluções positivas resultariam em
saúde mental e as negativas em desajustamento. Mas, nos anos 80 do século passado,
sugeriu que cada um dos opostos pode ser combinado, ou seja, os opostos são resolvidos
numa nova condição. Retomando o exemplo apresentado, aquele conflito pode ser
resolvido em termos de esperança. Erikson diz ainda que a solução de qualquer dos
conflitos depende, em parte, da resolução, com sucesso, dos dilemas anteriores.
Confiança versus Desconfiança → Esperança [dos 0 aos 18 meses]. Durante
este período a relação com a mãe é a mais importante e também determinante na formação
da personalidade. A partir da qualidade desta relação, a criança constrói a sua visão da
vida. Se a relação for positiva, desenvolve sentimentos de confiança mas se, pelo contrário,
a mãe não atende às suas necessidades, desenvolve medos e suspeitas, sentimentos de
desconfiança, podendo não progredir para o estádio seguinte. Desde que seja
proporcionado um ambiente de apoio consistente, a criança poderá resolver o conflito
entre confiança e desconfiança em termos de esperança pessoal.
Autonomia versus Dúvida/Vergonha → Vontade [dos 2 aos 3 anos]. Neste
estádio, a criança já não é tão dependente em relação à pessoa que dela cuida, começando a
explorar mais activamente o meio envolvente. Se for encorajada a desenvolver as suas
capacidades, adquire controle sobre si própria e autonomia. Se for excessivamente
protegida, excessivamente castigada ou se se exigir demasiado dela, pode criar um
sentimento de vergonha pessoal. Atingir a vontade significa encontrar a individualidade, o
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que constitui o início do caminho em direcção à identidade. As crianças que não
resolveram adequadamente a polaridade dependência-independência alternam entre uma
vontade própria e uma condescendência excessiva.
Em qualquer destas perspectivas, a figura maternal, objecto do amor da criança,
que, não esqueçamos, pode não ser a mãe biológica, e a relação que estabelece com ela tem
um papel fundamental no desenvolvimento físico e social posterior.
Tal como Piaget, Vigostky considera que as crianças aprendem de modo activo, e
não passivo, ou seja, são construtoras activas e empenhadas do seu conhecimento. Mas
este autor vai para além da perspectiva piagetiana afirmando que para além daquilo que se
passa «dentro» da criança é preciso considerar as interacções sociais que são estabelecidas
com ela. A acção da criança desenvolve-se em determinado contexto social e a sua forma
de estar e de pensar é orientada e mediada por aqueles com quem interage.
Vigostky tem assim uma perspectiva sociocultural do desenvolvimento, uma vez
que defende a ideia de que este se processa pela apropriação, por parte da criança, do
conhecimento que as gerações anteriores construíram. Deste modo, as relações
estabelecidas com os adultos que constituem a sua esfera social, familiares, amigos,
professores são fundamentais no modo como a criança evolui. Autores posteriores a
Vigostky falam do processo de desenvolvimento como uma «participação guiada». A
aprendizagem começa por um processo de modelação do comportamento dos outros até à
sua regulação pela própria criança. Quer dizer que de espectador passa a responsável pelas
tarefas que executa. Por isso, os adultos têm uma grande importância no desenvolvimento
infantil já que são uma espécie de «assistentes» que servem de modelo, consciente ou
inconscientemente, orientam, ajudam a compreender situações novas, a dar significado às
experiências e dão suporte na assumpção de responsabilidades.
6. O desenvolvimento psicossocial no período que vai dos dois aos seis anos de
idade é fundamental e complexo para a socialização da criança. Explique as
perspectivas de Freud e de Erikson sobre o desenvolvimento neste período.
Dos dois aos seis anos de idade, a criança alargou o seu mundo interno e externo.
Adquiriu uma maior compreensão de si própria, do seu lugar em diferentes contextos, do
que se espera dela. Quer isto dizer que começou a apreender aspectos do mundo social e
cultural como significados, regras e normas. A criança está a prender a lidar com emoções
e sentimentos e desenvolveu a sua autonomia.
Na perspectiva de Freud, o estádio fálico [dos 3 aos 6/7 anos], a identidade
sexual é o aspecto mais importante. A criança, que até aqui sentia a relação com a mãe
como exclusiva, descobre que o pai é também importante para a mãe. É neste estádio que
se surge o Complexo de Édipo, o qual se caracteriza pela atracção sexual em relação ao
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progenitor do sexo oposto. O rapaz deseja a mãe e repele o pai, a rapariga deseja o pai e
repele a mãe. Nesta altura, o órgão sexual torna-se a zona de obtenção de prazer, sendo
comum a sua manipulação. Para Freud, a resolução deste complexo tem uma importância
fundamental no processo de construção da personalidade adulta. No final deste período de
desenvolvimento a criança terá estruturado o seu superego, uma estrutura da
personalidade que surge da interiorização das regras e interdições sociais.
Segue-se depois um período de latência [dos 7 aos 12 anos], no qual parece
desaparecer ou diminuir a actividade sexual, o que não significa que isso aconteça a nível
inconsciente. Neste estádio, as dimensões oral, anal e fálica integram-se, não aparecendo
quaisquer outros elementos.
Na perspectiva de Erikson, este período inicia-se com o estádio Iniciativa versus
Culpa → Finalidade [2/3 - 6 anos]. No estádio anterior, a criança descobre que pode ser
uma pessoa com uma direcção própria. A tarefa, agora, consiste em descobrir que espécie
de pessoa é, especialmente por relação à masculinidade ou feminilidade. Neste estádio, as
crianças já têm modelos com quem se identificam, imitando aspectos do comportamento
do adulto. A este nível, é importante que as crianças tenham muitas oportunidades de
brincar. Elas vão, particularmente, brincar «aos grandes» que é uma forma de apreender o
ser adulto.
Numa família que deixe as crianças expressarem-se sem censura, os rapazes tor-
nam-se inesperadamente interessados pelas mães. A mesma atitude se verifica nas rapari-
gas que, ao descobrirem a sua feminilidade, se ligam muito ao pai. Se os pais procurarem
compreender, responder a perguntas e aceitarem o jogo activo, as crianças aprenderão a
abordar o que desejam, e o senso de iniciativa é reforçado. Quando os pais são impacientes
e punitivos, considerando as perguntas, brincadeiras e actividades como coisas tolas ou
erradas, as crianças sentem-se culpadas e incertas, tornando-se relutantes em agir de acor-
do com os seus próprios desejos.
O estádio seguinte é designado por Erikson de Mestria versus Inferioridade →
Competência [6 - 12 anos]. No início deste período, a criança entra num novo mundo, a
escola, com as suas próprias metas, limites, fracassos e realizações. Embora a família
continue a ser um cenário de desenvolvimento importante, os outros adquirem um
significado especial. Se as crianças se sentem menos capazes que os seus pares nas coisas
que fazem podem desenvolver um sentimento de inferioridade. As crianças com sucesso
adquirem prazer no trabalho em vez de sentirem frustração.
A identidade de género pode ser definida como a capacidade que a criança tem de
se identificar e incluir no grupo dos rapazes ou das raparigas, de perceber as
características destes grupos e de incluir as outras pessoas neles.
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A identidade de género e o seu processo de desenvolvimento têm sido alvo de discussões
acesas. Algumas perspectivas defendem que aquando do nascimento ela já está definida
geneticamente e outras defendem exactamente o contrário, considerando que ela é
construída por influência de factores externos. Tal como outros aspectos do
desenvolvimento humano, a identidade e, concretamente, a identidade de género, não pode
ser considerada um atributo imutável da pessoa nem resultado de um só grupo de factores.
É no processo de socialização que construímos a nossa identidade em todas as
suas vertentes. Este processo actualiza-se permanentemente ao longo da vida, numa
construção progressiva que se inicia ainda antes do nascimento. Esta ideia, que pode
parecer um pouco estranha, tem sentido, uma vez que antes de nascer o bebé já existe no
imaginário dos pais que lhe escolhem um nome, que fazem projectos sobre o seu futuro e
que têm ideias sobre o que é um rapaz e uma rapariga, e o que desejam para o seu futuro
bebé.
Quando nasce, a criança não tem consciência da sua identidade, nem do seu
género e é o seu corpo que vai ser a base desta construção através das interacções que vai
estabelecer com o seu ambiente que lhe fornecem modelos de identificação. À medida que
cresce e exerce diferentes papéis, adapta o seu comportamento a esses diferentes papéis, de
rapaz/rapariga, filho, aluno, amigo, etc., assumindo também diferentes facetas da sua
identidade.
8. Explique a importância do grupo de pares no período que vai dos 6 aos 12 anos.
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peculiar e a imagem que tem de si e o suporte social que recebe de outros que são
significativos têm aqui um pape importante.
TEXTOS
MANUAL DE 9. Discuta a ideia: «As idades indicadas em cada fase são referenciadas como marcos
PSICOLOGIA DO do desenvolvimento, pelo que deverão ser entendidas como indicadores etários
DESENVOLVIMENTO aproximados».
10. Faça uma reflexão sobre o que estudou sobre este período de desenvolvimento à
luz da sua própria infância, da dos seus filhos, alunos, crianças com quem trabalha
ou lhe estão próximas.
Resposta individualizada.
Resposta individualizada.
A ADOLESCÊNCIA
1. Descreva as características do desenvolvimento físico na puberdade.
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2. Distinga as principais características da forma de pensar na infância e na
adolescência.
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Na perspectiva deste autor, a adolescência caracteriza-se por um pensamento formal e
abstracto. Neste estádio, designado por operações formais, o adolescente consegue
utilizar o raciocínio hipotético-dedutivo, criando hipóteses e antecipando resultados,
através da sua própria reflexão e/ou da capacidade de considerar o ponto de vista de
outros. Adquire então, face ao pensamento infantil, uma maior complexidade, abstracção e
flexibilidade de pensamento. O quadro da página 71 sistematiza as grandes diferenças na
forma de pensar na infância e na adolescência.
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A diversidade de sentimentos, de atitudes e de comportamentos experimentados durante a
adolescência permitem ao jovem perceber aquilo que deseja/consegue integrar em si e
culmina na adopção de uma identidade e na assumpção de papéis e responsabilidades
sociais característicos do jovem adulto.
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c) Mestria. Tipicamente, os adolescentes envolvem-se em tarefas muito variadas. É
importante saber usar a «energia» pessoal duma forma eficaz. Para isso há que ser realista
e definir prioridades. Concentrar-se numa tarefa até que esteja pronta pode produzir
ansiedades que podem ser bloqueadoras da actividade.
d) Identidade negativa. Alguns adolescentes escolhem uma identidade mais pela negação
ou rejeição de um conjunto de valores do que por uma escolha positiva. O resultado é que
continuam dependentes daqueles a quem rejeitam os valores. Precisam deles e da sua
oposição para ser, uma vez que não têm uma identidade definida.
Para Erikson, a adolescência é vista como uma moratória psicossocial. Como se
estivéssemos em stand-by, a experimentar uma série de alternativas, sem sofrermos as
consequências das escolhas que fazemos. Esta exploração é uma espécie de jogo ou
brincadeira. Brincamos aos papéis e às identificações sociais.
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situarmo-nos no desempenho de papéis e na assumpção de valores orientando o nosso
comportamento nas relações interpessoais.
Situamo-nos sexualmente numa cultura pelo processo de socialização. É através
deste processo que construímos uma identidade de género, adquirimos os valores e
comportamentos necessários para o desempenho de papéis sexuais e que desenvolvemos
preferências por determinado objecto sexual. A preferência por um objecto sexual, também
chamada orientação sexual, implica o interesse por indivíduos do mesmo sexo ou de sexo
oposto. Esta orientação depende da interacção de factores biológicos, psicológicos e
sociais.
A construção da identidade de género ocorre desde o nascimento a partir de uma
origem biológica que será influenciada por factores educacionais e sociais. O bebé não se
concebe a si próprio, sozinho, como rapaz ou como rapariga. À medida que crescemos, a
identidade de género, que é da esfera do privado, vai sendo modelada pelos papéis sexuais
que desempenhamos, a face pública da identidade de género. Os papéis sexuais têm uma
forte marca cultural e histórica. Estes papéis desenvolvem-se por processos de observação,
identificação e imitação.
Resposta pessoal.
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10. Faça uma reflexão sobre o que estudou sobre este período de desenvolvimento
à luz da sua própria adolescência, da dos seus filhos, alunos, jovens com quem
trabalha ou lhe estão próximos.
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
A VINCULAÇÃO
Ainda antes do nascimento, mãe e bebé iniciam uma relação. O que a mãe pensa é
TEXTOS
como que o início do pensamento do bebé. Todas as mães, durante a gravidez «pensam» o
seu bebé. Ele tem que ser adivinhado, sonhado, pensado, pela mãe. Este «trabalho», que é
feito durante o período de gestação, tem uma função de ajustamento e é fundamental para
o posterior desenvolvimento da relação. A mãe, ao transformar emoções em pensamentos,
é uma espécie de «continente» que oferece um espaço psicológico ao seu bebé, uma vez que
o representa. O primeiro pensamento do bebé é a constatação de uma ausência. A ausência
da mãe.
È também por estas razões que os serviços de adopção, mesmo havendo crianças
em condições de serem imediatamente colocadas na família que a vai adoptar, dão aos pais,
um período de «gestação» do futuro filho que é mais ou menos de 6 meses. Este período
serve para preparar a vinda da criança, imaginando-a e representando-a, quer dizer,
ajustando-se a ela.
1. Explique por que razão o conceito de vinculação chamou a atenção dos teóricos e
tem vindo a adquirir cada vez mais importância.
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2. Descreva os conceitos fundamentais da teoria da vinculação: conceito de
ambiente de adaptabilidade evolucionista e conceito de proximidade.
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para activar o comportamento maternal, actuando como desencadeadores sociais de
respostas das mães.
Bowlby frisa que um dos pontos principais da sua tese é que cada uma das cinco
respostas que sustentam a ligação à mãe está presente devido ao seu valor de sobre-
vivência. Afirma ele que a não ser que haja poderosas respostas inatas que assegurem que
a criança desperta a atenção maternal e permanece numa proximidade íntima da mãe, du-
rante os anos da infância, a criança morrerá. Desta forma, no decurso da nossa evolução, o
processo de selecção natural levou a que o choro e o sorriso, o chupar, o agarrar e o seguir
se tornassem respostas específicas da espécie humana.
Bowlby afirma que todas as respostas instintivas parecem atingir um máximo e
depois decrescem. «Conforme os anos passam, primeiro a sucção, depois o choro e depois o
agarrar e o seguir, todas diminuem. Até o sorridente bebé de dois anos se transforma na
criança de escola mais solene. São um quinteto que compreende um repertório bem
adaptado à infância, mas que, tendo cumprido a sua função, é relegado para um lugar
secundário. Não obstante, nenhuma delas desaparece. Todas permanecem em diferentes
graus de actividade ou latência e são utilizadas em novas combinações quando o repertório
adulto amadurece. Além disso, algumas, em particular chorar e agarrar, voltam a um
estado anterior de actividade, em situações de perigo, doença ou incapacidade. Nestes
papéis, desempenham uma função natural e saudável que não é necessariamente re-
gressiva.
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a criança sente segurança é porque pode confiar na disponibilidade de «socorro» da figura
de vinculação e, portanto, pode aventurar-se em direcção ao desconhecido e à aventura. A
exploração do mundo só se efectua quando este sentimento de segurança é adequado.
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A questão fundamental que ressalta de todo o debate é que as crianças necessitam
de estabelecer ligações seguras a adultos do seu meio ambiente. Se «os pais estão
satisfeitos consigo mesmos e com as suas decisões, e se o bebé tem uma ama ou auxiliar da
creche que se liga a ele e lhe incute um sentimento de insegurança, então a criança pode de
facto desenvolver uma vinculação segura com a ama ou a auxiliar, construindo assim
vínculos sólidos com os pais (…). Em todo o caso é preciso não confiar em pontos de vista
baseados em generalizações abusivas, que não têm qualquer validade científica, ou posições
puramente ideológicas e “politicamente correctas”» [Karen, 1994, cit. por Guegeney e Guedeney,
2002: 82-83]
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SOBRE O VÍDEO
Todos estamos de acordo que, durante o primeiro ano de vida, a criança des-
envolve uma forte relação com a figura maternal. O interessante é perceber por que razão
é que isto se passa assim.
Inicialmente a criança era considerada como um ser que passava dum estado pu-
ramente biológico ao estado de ser social por aprendizagem. Segundo alguns
investigadores, os bebés só encontrariam prazer na companhia do adulto em virtude de
associarem o adulto à satisfação de necessidades fisiológicas. A criança teria necessidades
fisiológicas que deveriam ser satisfeitas como, por exemplo, a fome, a sede, o alívio da dor
e o calor, mas não eram referidas necessidades sociais. A criança, ao longo do tempo,
aprenderia que a mãe é fonte de gratificação, e esta serviria de reforço à manutenção da
relação. As necessidades fisiológicas seriam primárias. O afecto seria secundário. Nesta
perspectiva, a dependência social derivaria da dependência física e seriam as necessidades
fisiológicas que produziriam a necessidade emocional do outro.
Também os teóricos da psicanálise eram unânimes em reconhecer as primeiras
relações objectais da criança como pedra fundamental do seu desenvolvimento. No
entanto, não há concordância quanto à natureza e dinâmica destas relações. Uma das
ideias mais generalizadas era a de que os bebés têm necessidades inatas de se relacionarem
com o seio humano, de o chupar e de o “possuir” oralmente. A seu tempo, o bebé
aprenderia que ligada ao peito há uma mãe, e desta forma relacionar-se-ia também com
ela. Da mesma forma que para os autores anteriores, os autores desta perspectiva olham
para a relação com a mãe como um benefício secundário da satisfação das necessidades de
alimento.
Investigações realizadas na área da Etologia vêm contrariar esta ideia. Estes
estudos partiram da hipótese de que nas espécies não-humanas há muitas respostas inatas
que são independentes de necessidades fisiológicas e cuja função é promover a interacção
social entre os membros dessa espécie. Esta interacção social tem por função assegurar a
cooperação entre os congéneres.
Por exemplo, algumas aves, como os patos, os perus e os gansos, cujas ninhadas
não são alimentadas pelos pais, começam a debicar um dia depois de nascerem. E curio-
samente seguem qualquer coisa que se mova no seu ambiente. É conhecida a imagem de
Lorenz, etólogo austríaco que foi prémio Nobel, com uma ninhada de patinhos atrás. Este
comportamento a que Lorenz chamou imprinting [impregnação ou cunhagem], não
deriva da satisfação das necessidades fisiológicas mas da necessidade inata de um vínculo
social.
Lorenz criou alguns ovos de ganso numa incubadora deixando outros ao cuidado
da mãe. Os gansos, cujos ovos tinham sido incubados artificialmente, não demonstravam
qualquer medo de serem pegados e seguiam qualquer pessoa que passasse por eles, piando
dolorosamente quando eram deixados para trás. Quando, posteriormente, colocou esses
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gansos junto da ninhada criada com a mãe natural, verificou que esta os incluía, sem
qualquer problema, na prole, defendendo-os logo que via a mão do homem aproximar-se.
Pelo contrário, os gansos bebés do primeiro grupo, não apresentavam predisposição para
seguir os adultos da sua espécie, piavam, fugiam e seguiam o primeiro ser humano que por
acaso passasse. Os filhotes criados na incubadora por Lorenz iam atrás de dele, procu-
rando-o quando assustados. Os outros filhotes seguiam a mãe e formavam um vínculo com
ela.
Outros trabalhos realizados em laboratório, como os de Harlow, mostraram ine-
quivocamente que muitos dos comportamentos dos animais bebés não dependiam da
prestação de alimento.
Harlow constatou a existência duma grande ligação a almofadas em macacos que
eram criados desde o nascimento sem as suas mães. Tinha também observado, casu-
almente, que os bebés macacos criados numa jaula com o chão em rede de arame sobre-
viviam com dificuldade durante os primeiros cinco dias de vida. Decidiu então estudar o
desenvolvimento de respostas afectivas de macacos recém-nascido a uma mãe artificial,
testando a importância das variáveis de conforto-de-contacto e de conforto-de-alimenta-
ção.
Neste estudo foram fabricadas duas mães macacas substitutas. Uma delas era uma
forma cilíndrica de arame soldado, na outra, o arame foi almofadado com uma capa de
tecido felpudo atrás da qual estava uma lâmpada que irradiava calor. Ambos os modelos ti-
nham um biberão cujo bico se projectava do «seio» da mãe. O corpo das duas mães era em
tudo semelhante excepto na qualidade de conforto-de-contacto que podiam fornecer.
Colocou oito macacos recém-nascidos, em gaiolas individuais, cada uma com igual acesso à
mãe de arame e à de pêlo. Quatro dos bebés recebiam o leite da mãe de arame e os outros
da de pêlo.
As duas mães, bem depressa provaram ser fisiologicamente equivalentes. No en-
tanto, as duas mães provaram que psicologicamente eram bem diferentes. Os registos do
comportamento mostraram que ambos os grupos de bebés passavam muito mais tempo
subindo, descendo e agarrando-se às mães de pêlo. Estas descobertas sugeriram que o
contacto corporal é mais importante do que a alimentação na formação do vínculo do bebé
à sua mãe. Conforme o tempo ia passando, havendo possibilidade de aprendizagem, os
macacos que se alimentavam da mãe de arame mostraram uma relação cada vez menor
com esta enquanto aumentava uma reacção favorável à mãe de pêlo. Esta descoberta con-
traria qualquer interpretação de que a relação afectiva deriva da satisfação das necessida-
des fisiológicas.
Para Harlow, a função da mãe, humana ou não, é providenciar um clima de segu-
rança à criança, nos momentos de perigo e de medo. Quando se introduziu nas gaiolas
estímulos indutores de medo, por exemplo, brinquedos móveis, os macacos aninhavam-se
contra a mãe de pêlo, independentemente de serem ou não alimentadas por estas. Esta
selectividade aumentou com a idade e com a experiência. Quando o macaco só tinha acesso
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à mãe de arame, não as procuravam quando se sentiam ameaçados, ainda que fossem
alimentados por ele.
Harlow realizou ainda experiências em que os macacos recém-nascidos eram pri-
vados da relação precoce com a mãe, entre três a seis meses, não havendo quase nenhuma
estimulação social. Embora parecendo saudáveis e normais, quando adolescentes e adultos
manifestavam comportamentos desajustados, tanto social como sexualmente. Estas
experiências realçam as consequências patológicas da privação maternas precoces.
Depois destes estudos, a ligação da criança à mãe foi vista noutra perspectiva. Os
bebés têm uma necessidade inata de estar em contacto e de se agarrar a um ser humano.
Neste sentido há a necessidade de um objecto independentemente do alimento. Esta
necessidade social é tão necessária como a necessidade de alimento e de calor. Trata-se de
uma necessidade inata e não aprendida.
Harlow constatou também que os bebés macacos não se desencorajavam pelos
maus-tratos da mãe, encavalitando-se nas suas costas, tentando estabelecer contacto com o
ventre e o peito da mãe, lutando dia após dia por esta relação. Esta constatação veio
sublinhar a natureza primária do amor, a força irreprimível da necessidade de vinculação,
sendo a vinculação condição primeira do que será mais tarde o equilíbrio e a adaptação
social.
É necessário não confundir o processo de socialização com o mecanismo da vin-
culação. Os comportamentos de vinculação apenas preparam os comportamentos sociais
de vida em grupo.
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