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Ortega y Gasset: nada nos autoriza a designar com o mesmo nome objetos to
diversos como os sonetos de Quevedo, as fbulas de La Fontaine e o Cntico
espiritual.
primeira vista, essa diversidade se oferece, como filha da histria. Cada
lngua e cada nao engendram a poesia que o momento e o sou gnio
particular lhes ditam. O critrio histrico, porm, no resolve, antes multiplica
os problemas. No seio de cada perodo e de cada sociedade reina a mesma
diversidade: Nerval e Hugo so contemporneos, como o so Volzquez e
Rubens, Valry e Apollinaire. Se s por um abuso de linguagem aplicamos o
mesmo nome aos poemas vdicos e ao haiku japons, no ser tambm um
abuso utilizarmos o mesmo substantivo para designar experincias to
diferentes como as de San Juan de la Cruz e seu indireto modelo profano,
Garcilaso? A perspectiva histrica consequncia de nosso fatal
distanciamento nos leva a uniformizar paisagens ricas em antagonismos e
contrastes. A distncia nos faz esquecer as diferenas que separam Sfocles
de Eurpedes, Tirso de Lope. E essas diferenas no so fruto das variaes
histricas, mas de algo muito mais sutil e impalpvel: a pessoa humana. Assim,
no tanto a cincia histrica mas a biografia que poderia fornecer a chave da
compreenso do poema. Aqui intervm novo obstculo: dentro da produo de
cada poeta, cada obra tambm nica, isolada e irredutvel. A Galateia ou A
viagem de Parnaso no explicam o Dom Quixote; Ifignia substancialmente
distinta de Fausto; Fuenteovejuna, da Doroteia. Cada obra tem vida prpria e
as clogas no so a Eneida. s vezes uma obra nega a outra: o Prefcio
das poesias nunca publicadas de Lautramont jorra uma luz equvoca sobre Os
cantos de Maldoror; Uma temporada no inferno proclama loucura a alquimia do
verbo de As iluminaes. A histria e a biografia podem dar a tonalidade de um
perodo ou de uma vida, esboar as fronteiras de uma obra e descrever, do
exterior, a configurao de um estilo; tambm so capazes de esclarecer o
sentido geral de uma tendncia e at desentranhar o porqu e o como de um
poema. No podem, contudo, dizer e o que um poema.
A nica caracterstica comum a todos os poemas consiste em serem obras,