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também destruiu as condições para Uma identidade pela positiva ou

um equilíbrio entre o Estado e a so- uma identidade contra: “contra


ciedade que permitisse a moderniza- Castela”, “contra os reinos
ção, no contexto de uma sociedade mouros”?
tradicional que vai evoluindo sem Todas as identidades são construídas
destruir. contra: somos alguma coisa porque
1832-34 é o nosso 1789, a nossa não somos outra coisa que existe ao
“revolução francesa”? lado. Quando falamos, a propósito de
Oliveira Martins foi o primeiro a dizê- história, sobre o que é a nossa identi-
lo. O Portugal Velho acabou de uma dade, não é a identidade negativa –
maneira abrupta, violenta, com uma somos portugueses porque não so-
guerra civil, tornando inviáveis todos mos espanhóis – que perturba: o que
os arranjos que estavam implícitos na perturba é interrogarmo-nos sobre o
Carta Constitucional. A possibilidade nosso destino. Houve muitas tentati-
de uma evolução à inglesa, em que vas de criar uma identidade providen-
houvesse sempre os pólos de poder cialista, sebastianista, houve um dis-
alternativos e concorrentes ao Estado curso sobre os portugueses estarem
de que falava Tocqueville, desapare- destinados a criar o Quinto Império.
ceu também nessa altura. Outro as- Com o salazarismo, éramos o povo
pecto que sublinhamos, e que muitas capaz de criar sociedades luso-tropi-
vezes foi desvalorizado, é a importân- calistas, na Expo-98 fomos os pionei-
cia da questão religiosa, que não teve ros da globalização… É por não en-
a ver com poderes ou determinismos contrarmos hoje uma “missão” que
económicos mas derivou de haver também surge, muitas vezes, o dis-
muita gente que estava disposta a ma- curso da decadência. Ora o que esta
tar ou a morrer em defesa da Igreja, “História de Portugal” nos mostra é
tal como outros estavam dispostos a que os portugueses foram portugue-
matar ou a morrer em defesa do anti- ses de várias maneiras. Temos uma
clericalismo. longa história comum e expressamo-
O Estado, além de criar a nação, nos na mesma língua, o que é muito
também a homogeneizou. importante pois uma língua é tam-
muçulmanos lêem o Corão e não é por ultramarina. Quando se perde o Brasil, Isso passou pela integração bém uma visão do mundo.
isso que se tornam mais letrados. Há passamos a ter um Estado que descon- de um Sul que era sobretudo O que quer dizer que…
é uma outra explicação, que nunca é fia da sociedade, que acha que ela não muçulmano e tinha uma forte Portugal nunca teve um problema de
referida: nenhum desses países que se sabe governar. Encontramos essa presença judaica. Ora se os identidade como outros. Nunca hou-
conseguiram uma alfabetização de mentalidade nos liberais, nos republi- judeus são bem acolhidos em ve alternativas diferentes da que foi
massas durante o século XIX o fez con- canos e nos salazaristas. Todos enten- Portugal na Idade Média, depois sendo gerada pelo poder político.
tra a Igreja; foi sempre em articulação dem que têm a missão histórica de acabam por ter de fugir ou de Nunca existiram, por exemplo, iden-
com ela. Ora em Portugal, primeiro arrastar a sociedade para o que enten- se converter. Nesse momento a tidades regionais fortes e houve uma
com os liberais, a partir de 1820, e de- dem por bem comum. Lutam os libe- homogeneização não funcionou homogeneização religiosa – os muçul-
pois com os republicanos, o Estado rais e os republicanos contra uma so- contra uma das possibilidades manos desapareceram, os judeus fo-
não só tentou alfabetizar a população ciedade que vêem como tradicionalis- que o país tinha de ser menos ram obrigados a converter-se –, sendo
contra a Igreja, como entendia que a ta e reaccionária, lutam os salazaristas pobre? que a religião nunca foi um factor de
alfabetização era um veículo para contra uma sociedade que vêem como A revolução Uma coisa é a violência da expulsão, separação face aos nossos vizinhos.
substituir a educação religiosa por individualista e anárquica. de 1820, que a violência da Inquisição contra os Mesmo hoje não temos grandes co-
uma educação cívica formatada em Todo esse discurso aponta para opôs os cristãos-novos, outra coisa é preten- munidades de outras religiões ou de
Lisboa. As ordens religiosas, que em um momento de corte, como se liberais de D. dermos encontrar factos que, só por outras etnias para que possamos, ver-
muitos países foram fundamentais pa- houvesse um Portugal do Antigo Pedro aos si, expliquem a nossa história toda, dadeiramente, testar aquele lugar-
ra criar uma rede de escolas, em Por- Regime e um Portugal pós- absolutistas e todas as nossas dores, desde D. comum de que os portugueses não
tugal não podiam sequer ensinar a ler Revolução Liberal. É isso? de D. Miguel, Afonso Henriques até José Sócrates. são racistas.
durante a Monarquia constitucional. Sim, e esta é porventura uma das no- foi “a grande Sem dúvida que o país perde na altu- O que é que alguém que queira
Ou seja, tínhamos na Igreja uma insti- vidades desta “História de Portugal” revolução dos ra parte da sua elite, mas a Inglaterra pensar Portugal hoje pode
tuição que podia ter sido fundamental para alguns leitores: a grande revolu- últimos 200 também a tinha perdido quando dois retirar desta História?
para a alfabetização da população e ção em Portugal nos últimos 200 anos anos” séculos antes expulsara os judeus e Pode perceber que Portugal não co-
preferimos chamar tudo para a alçada foi a Revolução Liberal, foi aquela que nunca ouvi nenhum historiador in- meçou ontem, que existem condicio-
do Estado, que não tinha recursos e, mudou realmente o mundo político glês queixar-se disso. Penso que para nantes que vêm do passado, pode até
portanto, falhou. e cortou todas as pontes com o pas- analisarmos certas situações contem- verificar que algumas soluções já fo-
Foi por um excesso de Iluminismo sado. porâneas é melhor não nos socorrer- ram tentadas no passado, como os
que se produziu o obscurantismo. Mais importante do que o 5 de mos de factores demasiado ances- programas desenvolvimentistas de
Portugal foi um país que nunca Outubro? trais. No nosso passado há de tudo, obras públicas, e que não deram re-
estimulou os homens livres. Pelo A implantação da República é um de- quer esses momentos de intolerân- sultado. Mas a história também é im-
contrário, sempre houve uma talhe quando a comparamos com o cia, quer uma época mais pluralista. portante para percebermos a nossa
tendência para ricos e pobres se que significou a Revolução Liberal. E mesmo a tolerante Inglaterra co- inerradicável pluralidade. Não per-
encostarem ao Estado. Porquê? Há um país antes de 1820, ou mais nheceu períodos de uma intolerância mite um discurso uniformizador so-
Uma explicação para isso tem a ver exactamente antes de 1832-34, e outro gigantesca no século XVI, com terrí- bre “o português”…
com a dimensão ultramarina de Por- depois. Na República não mudam os veis perseguições religiosas. Então livros como “O Medo de
tugal, que permitiu que o Estado se paradigmas, com o triunfo da Revo- Ou seja, não temos de ir buscar à Existir”, de José Gil, não fazem
soltasse da sociedade. O Estado não
necessitava de cobrar impostos nem
lução Liberal mudou tudo na relação
dos portugueses com o Estado. Como
“A dimensão História ou à Economia razões para
defender a tolerância religiosa e o plu-
sentido…
Tenho sempre uma enorme dificul-
de estimular o desenvolvimento, pois disse Almeida Garret, foi nessa altura ultramarina criou ralismo – devemos defendê-la porque dade em compreender as obras que
os proventos não lhe vinham da me- que um Portugal Velho acabou e co- é a atitude correcta. A história não passam por uma antropomorfização
trópole mas da pimenta das Índias ou meçou um Portugal Novo. Todas as um poder político deve ser um arsenal ideológico para de Portugal, como se Portugal estives-
do ouro do Brasil. Isso criou um poder instituições, algumas delas seculares, justiçar esta ou aquela opção actual. se ali ao lado sentado a tomar café.
político centrado em Lisboa, transfor- desapareceram. Até acabou a velha centrado em Lisboa, E esta é uma “História de Portugal” Há dez milhões de portugueses, logo
mada quase em cidade-estado onde relação das pessoas com a terra, que feita por historiadores que procuram há dez milhões de maneiras diferentes
tudo se passava, à margem de um in- não correspondia à ideia de proprie-
onde tudo se passava explicações limitadas ao contexto das de se ser português. A alternativa a
terior rural e pobre com que ninguém
se preocupava. E quem queria perten-
dade individual e absoluta dos dias
de hoje. O mapa dos concelhos é todo
à margem de um diferentes épocas e integrando a pers-
pectiva dos contemporâneos.
esse discurso é uma História de Por-
tugal que não procura uma explicação
cer à elite tinha de vir para a Corte. A alterado, na prática destruiu-se um interior rural e pobre. Lemos esta “História de filosófica geral. Temos muitas coisas
nossa aristocracia, ao contrário da aris- poder municipal que vinha desde o Portugal” e, no fim, podemos comuns, mas o fado é de Lisboa e o
tocracia inglesa ou da aristocracia nascimento do país. É também então Houve sempre um ficar com uma ideia do que é a vinho verde tinto é do Norte Litoral.
prussiana, não era terratenente, vivia que começa realmente a separação identidade nacional? Há uma Não tentemos esconder a pluralidade
de rendimentos públicos. Houve sem- de poderes. Mas a “maior revolução Estado maior do que identidade nacional? nem substituí-la por uma qualquer
pre um Estado maior do que o país e social da história portuguesa”, como Há uma identidade portuguesa a que leitura secular do velho providencia-
do que a sociedade devido à realidade se lhe referiu Alexandre Herculano,
o país” os portugueses são sensíveis. lismo divino.

Ípsilon • Sexta-feira 22 Janeiro 2010 • 25

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