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Introdução
Generalidades
1
A intervenção é voluntária quando o terceiro ingressa espontaneamente no processo; provocada ou coata,
quando é inserido no processo por ato de quem já é parte.
2
Correspondia-lhe a figura do “chamamento à demanda”, suprimida do CPC português como modalidade
autônoma de intervenção de terceiros no final de 1995 (Decreto-Lei 329-A/95).
3
Cf. DINAMARCO, Cândido Rangel. Coisa julgada e intervenção de terceiros. Disponível em
<http://www.tj.ro.gov.br/emeron/revistas/revista1/04.htm>. Acesso em: 26 jun. 2004, 16:35.
4
DINAMARCO, Cândido Rangel. Intervenção de terceiros. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 160.
5
Idem.
passo que, naquele, afirma-se um nexo obrigacional que une o credor ao chamado 6. Vale
dizer: enquanto lá tratava-se de garantia própria (formal) ou imprópria (relativa à
responsabilidade civil), trata-se aqui de garantia simples (ligada à idéia de co-obrigação),
uma vez que o garantidor está diretamente vinculado ao credor da relação dita “principal”7.
Finalidade
Tem-se dito que, em razão dos vínculos de direito material, o efeito útil a
justificar o chamamento do terceiro ao processo é, para o réu (chamante), a obtenção de
título para promover, sem a necessidade de se instaurar novo processo de conhecimento, a
6
Na primeira metade do século passado, já observava o professor Alberto dos Reis, ao discorrer sobre a
diferença entre os regimes do chamamento à demanda e do chamamento à autoria - cujos traços hoje
remeteriam à denunciação da lide do processo civil brasileiro - que “a posição do chamado perante a relação
jurídica substancial, objecto da lide movida pelo autor,é completamente diferente. No caso do chamamento à
demanda, o chamado tem a posição de co-obrigado, isto é, de sujeito passivo da obrigação cujo cumprimento
o autor exige; no caso de chamamento á autoria fundado em direito de regressa, o chamado não está vinculado
directamente para com o autor, não tem, perante ele, a posição de co-obrigado, não é sujeito passivo da
relação jurídica controvertida: é sujeito duma relação jurídica conexa com ela”. Daí arrematar o mestre de
Coimbra que “cada um dos incidentes tem, pois, o seu campo de aplicação próprio. Não é lícito ao réu servir-
se arbitrariàmente de um ou de outro”. REIS. Alberto dos. Intervenção de terceiros. Coimbra: Coimbra
Editora, 1948. pp. 78-79.
7
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 1 vol. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1998.
p. 196.
8
Neste sentido, CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de terceiros. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p.
114.
9
DINAMARCO, Cândido Rangel. ob. cit. p. 163.
execução forçada perante o chamado (terceiro), caso aquele venha a sucumbir perante o
autor e a cumprir a prestação objeto da condenação10.
Tal afirmação deve passar por uma análise crítica. Afinal, o modelo abstrato
do chamamento ao processo prevê a possibilidade de qualquer um dos co-devedores ser
ressarcido pelo pagamento realizado, deduzida, obviamente, a sua cota-parte11. E mais:
nada garante – nem a lei o prevê – que a prestação venha a ser espontaneamente cumprida
pelo chamante. Na verdade, poderá sê-lo por qualquer um dos co-responsáveis e, tratando-
se de obrigação solidária, na hipótese de nenhum dos co-devedores tomar tal iniciativa,
poderá o credor direcionar a execução forçada a qualquer um deles.
10
Idem, p. 32. Para Luiz Fux, a “sentença do art. 80 [...] é a causa finalis dessa espécie de intervenção”. Cf.
FUX, Luiz. Intervenção de terceiros: aspectos do instituto. São Paulo: Saraiva, 1990. p. 45.
11
Excetua-se obviamente o devedor principal, que, pagando a prestação, nada terá a cobrar do fiador.
12
JORGE, Flávio Cheim. Chamamento ao processo. 2. ed. São Paulo: RT, 1999. p. 37.
13
CARNEIRO, Athos Gusmão. ob. cit. p. 121.
14
Condenação para o futuro é aquela que enseja execução subordinada ao implemento de condição ou à
ocorrência de termo (CPC, art. 572). Sobre o tema, consulte-se MOREIRA, José Carlos Barbosa. Execução
sujeita a condição ou a termo no processo civil brasileiro. In: _____ Temas de direito processual. 7. série. São
Paulo: Saraiva, 2001. pp. 111-118.
Partindo-se da premissa de que o interesse é a principal mola propulsora do
processo15 e considerando-se que, de um lado, ao demandante não é dada a iniciativa do
chamamento e, de outro, a condenação para o futuro não se revela, por si só, interessante
para o réu originário, deve-se prosseguir na busca de um fundamento que legitime a
provocação da intervenção do terceiro.
Como observa Luiz Fux, “na solidariedade passiva há uma relação interna
entre os devedores que lhes impõe um rateio da cota de cada um na dívida comum” 16. Isto
quer dizer que, a despeito de a obrigação solidária afigurar-se una perante o credor
(perspectiva externa), vista do ponto de vista dos devedores fragmenta-se em cotas
autônomas e nem sempre iguais17 (perspectiva interna)18. Assim, se A e B assumem dívida
solidária de 100 unidades perante C, faculta-se a este cobrar de qualquer um daqueles, no
todo ou em parte, o montante global a que obrigados. Porém, nada impede que, entre A e B,
estipule-se que, ao primeiro, cabe uma cota de, por exemplo, 80, e ao último, 20.
15
DINAMARCO, Cândido Range. Fundamentos do processo civil moderno. 3. ed. II vol. São Paulo:
Malheiros, 2000. p. 851.
16
FUX, Luiz. ob. cit. p. 43.
17
A presunção de que trata a parte final do art. 283 do Código Civil é intuitivamente relativa.
18
Na lição de Sílvio Rodrigues, “se encararmos a solidariedade através do lado externo, o conjunto de
devedores se apresenta como se fosse um devedor único, pois dele pode o credor exigir a totalidade do
crédito. Todavia, encarado o problema através de seu ângulo interno, encontram-se vários devedores cujas
relações são relevantes; uns responsáveis para com os outros, por fração menor ou maior do débito, ou mesmo
pela sua totalidade, todos, entretanto, ligados pelo vínculo da solidariedade que os prende ao credor e os
sujeita aos seus caprichos e conveniências. As obrigações de cada devedor são individuais e autônomas, mas
se encontram enfeixadas numa relação unitária, em virtude da solidariedade”. RODRIGUES, Sílvio. Direito
civil: teoria geral das obrigações. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 77.
19
Sobre o tema, consulte-se BUENO, Cássio Scarpinella. Partes e terceiros no processo civil brasileiro. São
Paulo: Saraiva, 2003. p. 282.
Código Civil (art. 913 CC/16) e 80 do Código de Processo Civil: poderá o devedor que
satisfizer a dívida por inteiro, sub-rogando-se na posição do credor, exigir de cada um dos
co-devedores a sua cota, sem necessidade de instaurar-se novo processo. E o efeito útil
hipotético, visto por este ângulo, está em que, satisfazendo ele próprio a dívida, já saberá o
chamante, desde logo, o quantitativo a ser exigido de cada um de seus pares na relação
interna; não a satisfazendo, somente lhe poderá ser exigida de quem cumpriu a prestação a
cota que, consoante o capítulo declaratório da sentença, lhe caiba.
Obter sentença declaratória que defina a situação interna do débito: eis onde
primariamente se ancora o interesse processual do chamante20. À luz exclusivamente do
interesse primário do chamante, soa correta a afirmação de que “a finalidade do
chamamento é a liquidação da responsabilidade recíproca dos devedores”.21
Ora, é certo que a execução das cotas que cabem aos demais atores da
relação interna é eventual e auferida em concreto, na medida em que sua admissibilidade se
subordina à satisfação da prestação objeto da condenação. É lícito, pois, encontrar-se aí
hipótese de sub-rogação legal do devedor, que pagou a dívida, na posição do credor (art.
567, III, do CPC)23, e, nela, outra faceta da finalidade do chamamento ao processo.
20
Daí carecer de interesse aquele que pretende chamar ao processo quem, posto seja devedor solidário, não
tem qualquer responsabilidade na relação interna, tal como apresentada na causa de pedir ou na documentação
que acompanha o requerimento do chamamento.
21
GRECO FILHO, Vicente, MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Da intervenção de terceiros. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 1986. p. 98.
22
Tenha-se em mente que o chamamento ao processo vai de encontro ao princípio de direito processual
segundo o qual cabe ao autor escolher em face de quem a demanda será proposta, assim como ao princípio de
direito material segundo o qual o credor poderá escolher o devedor solidário contra quem dirigirá sua
pretensão.
23
Cf. FERNANDES, Sérgio Ricardo de Arruda. ob. cit. p. 353.
declaratório da situação interna do débito24, evidenciando que a intenção do legislador foi a
de resolver, desde logo, mais de um litígio, utilizando-se da mesma base procedimental 25 e
dos mesmos autos26. E aqui revela-se o interesse supra-individual, da própria jurisdição,
consubstanciado na celeridade processual: considerada a igualdade formal dos atores das
relações cíveis27, impõe-se um pouco mais de espera ao credor para que, aproveitando-se do
mesmo esforço da máquina judiciária, se possam solucionar crises de certeza e de
adimplemento, reconduzindo-os, todos, à paz social.
24
Afinal, o art. 80 do CPC é expresso no tocante à execução da cota que cabe a cada qual dos co-devedores, e
a sub-rogação ocorre em relação a todo o quantitativo do crédito, excetuada a cota que caberia ao próprio sub-
rogado. Assim, o capítulo declaratório da sentença já apresentaria as cotas liquidadas (i.e., certas quanto à
existência e determinadas quanto ao objeto – art. 1533, CC/16), restando, quando muito, a conversão em
valores monetários do crédito do sub-rogado perante cada um dos demais condenados.
25
Marcelo Abelha, para quem o chamamento tem natureza de “ação condenatória”, sustenta que não há
inserção do chamado na relação jurídica processual pré-existente. Destarte, afirma que, “no chamamento ao
processo, há dois processos (relação jurídica processual), uma base procedimental, duas ações e duas
pretensões”. RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de direito processual civil. 2. vol. 2. ed. São Paulo:
RT, 2003. pp. 303-306.
26
Isto evidencia, também, que a declaração de que trata o art. 78 do CPC não é meramente incidental; se o
fosse, não se revestiria da coisa julgada (CPC, art. 469), impossibilitando a execução nos moldes do art. 80
27
Sobre a orientação individualista, tecnicista, elitizada e conservadora do direito processual civil pátrio até a
década de 1980, com o predomínio da igualdade formal sobre a material, “mesmo com o notável avanço
científico e apuro técnico do Código de Processo Civil de 1973”, confira-se CARNEIRO, Paulo Cezar
Pinheiro. Acesso à justiça: juizados especiais e ação civil pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.41.
28
Também para Alexandre Câmara, “a sentença condenatória eventualmente proferida atingirá diretamente a
todos eles [chamante e chamados], tendo assim o credor a formação de título executivo em face de todos os
co-devedores”. Cf. ob. cit. p. 198.
implicaria, também, a definitiva separação dos direitos material e processual 29, deixando a
descoberto o autor que deduziu pretensão fundada, a quem, em última análise, a ordem
jurídica promete tutelar.30
Natureza jurídica:
29
Recorde-se a admoestação de Barbosa Moreira: “o legislador processual está retirando com a mão esquerda
aquilo que o legislador material deu ao credor com a direita, suprimindo, na prática, o benefício que a lei civil
lhe concede”. Estudos sobre o novo código de processo civil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1974. p. 89.
30
Trabalha-se aqui com a idéia de que a pretensão do demandante originário revelou-se fundada. Do
contrário, a sentença declaratória da improcedência do pedido favorecerá chamante e chamado(s), sendo-lhes,
assim, outorgada a tutela jurisdicional. Esse é o espírito do processo civil de resultados. Sobre o tema,
confira-se DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno, II vol. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 2000. especificamente, pp. 828-831.
31
Eis aí o princípio da economia, subjacente a qualquer modalidade de intervenção de terceiros.
32
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação
processual civil extravagante em vigor. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 361. RODRIGUES,
Marcelo Abelha. Elementos de direito processual civil. 2 vol. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p.
303.
33
Por todos: CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de terceiros. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 115.
34
Cássio Scarpinella Bueno, apesar de asseverar inicialmente que tal intervenção, “embora não seja exercida
por ação, amplia o objeto litigioso deduzido em juízo”, logo em seguida afirma que aquele que pagar a dívida
por inteiro “pode voltar-se, em verdadeira ação de regresso, contra os coobrigados que não pagarem sua cota-
parte”. Cf. BUENO, Cássio Scarpinella. Partes e terceiros no processo civil brasileiro. São Paulo: Saraiva,
2003. pp. 277 e 279.
aquele que se afirma credor, decorre de ato do réu. E esse ato, que tende a desaguar no
provimento jurisdicional declaratório, por certo, expressa o exercício da ação. É, pois,
demanda.35
Com efeito, o art. 80 do CPC não exclui a execução forçada das hipóteses de
satisfação da pretensão do credor. Portanto, muito embora o pedido de condenação tenha
sido formulado, primitivamente, apenas em face do chamante, o provimento condenatório
poderá recair sobre o patrimônio deste ou do(s) chamado(s): assim, de um lado, abre-se
margem para a reconciliação, ainda que tardia, dos direitos material e processual; de outro,
amplia-se o potencial de efetividade do processo e, portanto, da própria tutela jurisdicional.
35
Ato por que “alguém pede ao Estado a prestação da atividade jurisdicional” e por meio do qual “começa a
exercer-se o direito de ação”. MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. 22. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2002. p. 9.
36
Tendo procedido ao chamamento, faculta-se ao fiador invocar o benefício de ordem (CC, art. 827). Cf.
CÂMARA, Alexandre Freitas. ob. cit. p. 218).
37
Para Alexandre Câmara (ob. cit. p. 197), o litisconsórcio é unitário. Estamos, contudo, com Flávio Cheim
Jorge, em que trata-se de litisconsórcio comum (por ele grafado “simples”), já que a situação jurídica dos co-
réus é passível de cisão e, portanto, de disciplina heterogênea (ob. cit. pp. 45-47). A respeito da submissão do
litisconsórcio formado entre supostos devedores solidários ao regime comum, confiram-se as magistrais obras
de José Carlos Barbosa Moreira (Litisconsórcio unitário. Rio de Janeiro: Forense, 1972. p. 225) e Cândido
Rangel Dinamarco (Litisconsórcio. 6 ed. SP: Malheiros, 2001). De mencionar, ainda, a controvérsia quanto à
necessidade ou facultatividade que qualifica o litisconsórcio: para Marcelo Abelha Rodrigues, a admitir-se
que o litisconsórcio enseja a ampliação do pólo passivo por ato do réu, o litisconsórcio, que seria facultativo
se formado em razão da demanda do credor, se converteria em necessário, pois o autor deveria se submeter
obrigatoriamente à vontade do demandado (ob. cit. p. 305); já Cândido Dinamarco assevera que o
litisconsórcio é facultativo, mas, por força do chamamento ao processo, o autor tem de “aceitar sem poder
repelir, embora na demanda tivesse pretendido dispensá-lo” (Litisconsórcio. 6. ed. São Paulo: Malheiros,
2001. p. 331).
38
Desta forma, homenageia-se o princípio da congruência ou da adstrição da sentença à demanda (art. 128 do
CPC).
é este quem pede a condenação; o demandado, suposto responsável, apenas requer que essa
mesma condenação, caso sobrevenha, se estenda ao terceiro.39
Procedimento
39
Sobre a inexistência de pretensão condenatória deduzida pelo chamante em face do chamado, confira-se
CARNEIRO, Athos Gusmão. ob. cit. p. 115.
40
Essa afirmação não deve surpreender o leitor. Basta que ele se recorde da reconvenção, ou das judicia
duplicia, para que hipóteses corriqueiras da dedução de pretensões pelo réu em face do autor originário lhe
venham à mente.
3 – carece de interesse de agir o devedor principal que intenta o chamamento
em face do fiador: além de lógico, é o que se extrai da parte final do art. 80 e dos incisos do
art. 77 do Código de Processo Civil;
Citado, o chamado poderá apresentar resposta, em que lhe é dado negar não
apenas a existência da dívida, mas também a qualidade de devedor principal ou co-devedor,
que lhe é imputada pelo chamante.
Note-se que, sendo um ato facultativo do réu, poderá este, se lhe convier,
não dar causa à intervenção do terceiro, aguardando o resultado do julgamento para, se
sucumbente, deduzir pretensão regressiva em face do devedor principal, do co-fiador ou
dos co-devedor.
44
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Litisconsórcio, assistência e intervenção de terceiros no processo do
trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 1995. p. 254.
45
Cf. o texto eletrônico já citado, Coisa julgada e intervenção de terceiros.
46
Apud TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Ob. cit. p. 264.
47
Idem, ibidem.
48
Idem, ibidem.
um dos integrantes de sociedade de fato49 ou, ainda, de um condômino de condomínio
irregular50.
[...]
55
JORGE NETO, Francisco Ferreira. Direito do trabalho. Bauru: Edipro, 1998. p. 161/163.
56
Este texto foi escrito em meados de 2004; antes, portanto, da promulgação da EC 45/04.
§ 3o. Compete ainda à Justiça do Trabalho executar,
de ofício, as contribuições sociais previstas no art.
195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes
das sentenças que proferir.
Mas o que dizer da regra do parágrafo único do artigo 942 do Código Civil,
segundo a qual “são solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas
designadas no art. 932”? Não poderia o empregador, demandado em processo que visa,
61
Repare-se que a fundamentação, nesse caso, se prenderia ao próprio ato do segundo empregado, não na
imputação de responsabilidade ao empregador por descumprimento do dever de vigilância e segurança, ínsito
ao seu poder diretivo. Porém, no fim das contas, é esse o dever que, consoante a lição de Sérgio Cavalieri
Filho, fundamenta a responsabilidade objetiva do empregador (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de
responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 196).
62
A respeito da inadmissibilidade de alteração objetiva no chamamento ao processo, confira-se
FERNANDES, Sérgio Ricardo de Arruda. Questões importantes de processo civil. Rio de Janeiro: DP&A,
1999. p. 363.
63
O artigo 80 do CPC, dispõe claramente que a sentença que julga procedente o pedido formulado pelo credor
importa na condenação dos devedores, isto é, de chamante e chamado.
processual trabalhista, o qual sugere que mutile-se o chamamento ao transportá-lo para o
processo do trabalho64.
64
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Litisconsórcio, assistência e intervenção de terceiros no processo do
trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 1995. pp. 268 e 287.
65
Ob. cit. p. 254.
66
Idem, p. 287.
67
Ibidem, p. 268.
Aliás, o próprio jurista se mostra vacilante em suas convicções ao lançar as
seguintes objeções:
68
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. ob.cit. p. 286/287.
69
No mesmo sentido, MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
p. 190.
70
Consoante a lição de Athos Gusmão Carneiro, faltará interesse jurídico ao chamante quando não puder
reaver a quantia eventualmente paga ao credor mediante a “execução do chamado” nos mesmos autos.
CARNEIRO, Athos Gusmão. ob. cit. p. 115.
71
Fosse a declaração anterior meramente incidental, não gozaria da autoridade da coisa julgada.
nova condenação72, iniciativa que – como já destacado – pode ser tomada a despeito da
provocação da intervenção do terceiro.
Chamamento ao processo?
72
Afinal, o título executivo anterior documentaria apenas o crédito do autor perante os co-réus.
73
Daí já ter decidido o TST que “o indeferimento de chamamento à lide não se constituiu em cerceamento de
defesa nem, tampouco, redundou em prejuízos materiais ao réu, à luz do artigo novecentos e treze do Código
Civil [de 1916]” (2a T., RR 16453/90, j. 16.12.91, rel. Vantuil Abdala).
74
DINAMARCO, Cândido Rangel. Litisconsórcio. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 333.
75
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Litisconsórcio, assistência e intervenção de terceiros no processo do
trabalho. p. 289.
76
Quanto ao litisconsórcio necessário, em que a ausência de citação do litisconsorte implica a ineficácia da
sentença (parte final do art. 47 do CPC), o Tribunal Superior do Trabalho, após proclamar que “o Direito
Romano permaneceu fiel, do primeiro ao último dia, ao princípio que faz do autor o dono absoluto da ação”,
se manifestou no sentido de que “na Justiça do Trabalho inexiste a figura do litisconsórcio necessário, exceto
na execução em que penhorado bem imóvel do casal (Christóvão Piragibe Tostes Malta, citado por Coqueijo
Costa, em Direito Judiciário do Trabalho)”. (Tribunal Pleno, ERR 3788/80, j. 09.08.84, rel. Marco Aurélio).
A conclusão da mais alta corte trabalhista não é absolutamente exata: basta que se pense que a perseguição de
“valores devidos pelos empregadores aos empregados [...] não recebidos em vida pelos respectivos titulares”
pode envolver litisconsórcio ativo necessário, desde que haja mais de um dependente habilitado “perante a
Previdência Social ou na forma da legislação específica” (art. 1o da Lei 6.858/80).
Em tais casos, quer-se geralmente trazer ao processo quem figurava na
relação de direito material como interposta pessoa, ou um terceiro a quem se atribui a
qualidade de verdadeiro empregador, ou, ainda, a quem se imputa a conduta lesiva da qual
teriam decorrido os prejuízos alegados pelo trabalhador: não se invoca solidariedade
passiva nem se pede a delimitação de responsabilidades, tampouco se cogita da
possibilidade de aquele que vier a satisfizer a dívida, sub-rogando-se nos direitos do credor,
direcionar a execução aos co-responsáveis.
77
Para Dinamarco, que vê a formação de litisconsórcio passivo facultativo nas hipóteses do art. 77 do CPC,
“só pela via e formas do chamamento ao processo é que se admite do réu a ampliação subjetiva do processo”.
Litisconsórcio. p. 332.
78
Tampouco o tem o juiz, adstrito que é ao princípio da demanda (CPC, art. 2o).
79
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou nesse sentido, acertando que “não é possível forçar o autor a
estender a ação a terceiros que não são obrigatoriamente partes na demanda, assim como coagir estes terceiros
à demanda, uma vez que não sejam litisconsortes necessários” (2 a. T., RE 44.657, j. 5.11.68, rel. Themístocles
Cavalcanti. v.u., RTJ 49/96) e “o juiz não pode impor a formação de litisconsórcio facultativo” (2 a. T., RE
80.582, j. 17.6.75, rel. Thompson Flores, v.u., RP 4/398, n. 143). Os exemplos estão em Litisconsórcio, ob.
cit., p. 329.
Caberá ao juiz, portanto, ponderar o interesse manifestado pelo demandado
em cotejo com os demais interesses e direitos em jogo, considerando a adequação da
anuência do autor diante do novo quadro que se instaurará, com todos os complicadores
que a ampliação subjetiva do pólo passivo poderá ensejar. A decisão, seja qual for, deverá
resguardar a paridade de armas e a efetividade do processo, e legitimar-se-á apenas se
evidenciar-se apta a proporcionar um resultado concreto e, sobretudo, justo.
Conclusão:
Além de tudo o que foi dito, insta, por fim, relembrar que a análise do
cabimento de qualquer figura peculiar ao direito comum – material e processual – junto aos
seus correlatos trabalhistas deve levar em conta, sempre, os fundamentos, princípios,
técnicas e métodos peculiares a estes últimos80.
82
Como bem frisou Jorge Luiz Souto Maior, “há de se reconhecer que a intervenção de terceiros no processo
do trabalho serve apenas para inserir complicadores no litígio, que impedem a efetivação do procedimento
oral e seus objetivos, sem trazer qualquer vantagem processual para partes, intervenientes e Justiça”. Cf.
Direito processual do trabalho: efetividade, acesso à justiça, procedimento oral. São Paulo: Ltr, 1998. p. 298.
83
A legislação posterior à CLT tende a vedar expressamente a intervenção de terceiros em procedimentos que
privilegiam a tempestividade como fator de efetividade do processo. Assim, o art. 280 do Código de Processo
Civil quanto ao procedimento sumário e o art. 10 da Lei 9.099/95, quanto aos Juizados Especiais. A Lei
8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) veda a denunciação da lide, facultando a dedução de pretensão
regressiva em processo autônomo, ainda que aproveitando-se dos mesmos autos (art. 88). Observe-se, no
entanto, que o inciso II do art. 101 do CDC assegura o chamamento ao processo do segurador pelo réu que
houver contratado seguro de responsabilidade, dispondo que “a sentença que julgar procedente o pedido
condenará o réu nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil”: a finalidade, aqui, é a de garantir a
solvabilidade do crédito pela imposição de condenação em obrigação de indenizar solidária ao devedor e ao
segurador; portanto, ao contrário do que ocorre no chamamento do CPC, o do CDC visa evidentemente à
proteção do consumidor, em homenagem ao princípio da igualdade material. Às diferenças teleológica e
axiológica, acresça-se o fato de que não há vínculo de direito material entre o segurador do fornecedor de
produtos ou serviços e o consumidor, para que definitivamente se constate que o chamamento ao processo do
Código de Defesa do Consumidor não é o mesmo chamamento ao processo do Código de Processo Civil, que,
como visto acima, pressupõe garantia simples, com vinculação direta entre o credor e o garantidor.
84
Essa característica do processo trabalhista é exaltada pelo professor Paulo Cezar Pinheiro Carneiro como
uma quebra de paradigma no direito processual nacional. Acesso à justiça: juizados especiais e ação civil
pública. pp. 40-41.
85
MENGER, Anton, apud CAPPELLETTI, Mauro. Giustiza e Societá. Milano:Edizioni di Comunita, 1977.
p. 330.
Referências bibliográficas:
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