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Ano Noo 02

Ano I,I, N 02
Dezembro
Dezembro de de 2009
2009

BUGEI
A Arte dos
ARMAS
ARMAS
Samurais
Sai, Nunte 1
e Jitte
CINEMA
Os 25 Anos de
O Kiai “Karatê Kid”

ESPECIAL
A Influência do
PERFIL
PERFIL Budismo Mahayana
Sobre o Wushu
Mestre Yang
Luchan

Tributo a
Noriyuki “Pat”
Morita
2
Novos Companheiros do Caminho
Editorial

Estamos de volta, embora um pouco distantes O Sensei Víctor López Megía


Megía, da Espanha, apare-
de nossa periodicidade desejada. Gostaríamos que ce pela primeira vez em nossa revista cedendo a foto de
BUDÔ fosse mensal, mas teremos que nos contentar Nunte-Bo que abre a matéria sobre o Sai. Sensei Megía é
com a bimestralidade, ao menos por enquanto. Vári- especialista em história do Karatê e Kobudô e já enviou sua
os motivos nos levaram a isso, tanto técnicos quanto primeira matéria, que será publicada na próxima edição. É
financeiros. Afinal, esta é uma revista com qualidade um prazer tê-lo conosco.
profissional. Gostaria também de contar com a SUA co- Trazemos nesta edição outros assuntos de interesse,
laboração, divulgando nossa revista para seus amigos e Kiai, Curiosidades e Pensa-
como o Sai e suas variantes, o Kiai
colocando-a em blogs e sites para download. Lembre-se de mentos, e os 25 anos do filme “Karatê Kid”
mentos Kid”. Tenho um
gratuita. Também queremos saber sua opinião, co-
que é gratuita carinho especial com este filme pois na época de seu lança-
mentários e sugestões de matérias
matérias, pois estamos sempre mento eu estudava Karatê Goju-R
Goju-Ryuyu e os treinamentos do
abertos aos nossos leitores. Nesta edição inauguramos a filme retratam com grande acuidade várias técnicas deste
seção de cartas e ficaremos esperando a sua para o próxi- estilo de Okinawa. A filosofia transmitida também marcou
mo número. toda uma geração de artistas marciais.
Esta edição está muito especial. Contamos com uma Temos também uma notícia, a última de 2009, sobre
matéria muito interessante da Sociedade Brasileira de a refilmagem (“remake” para os aficcionados) de… “The
Bugei
Bugei, organização dedicada à artes marciais tradicionais Karate Kid”! Mostramos algumas fotos e o link para o trailer
do Japão e com sede em Goiânia. Tivemos uma calorosa oficial do novo filme. Como regra geral, ABOMINO
recepção de Shidoshi Jordan
Jordan, atualmente desenvolvendo o refilmagens. Elas, em geral, são uma mistura de absoluta
Bugei na Espanha, e do Sensei Finotti
Finotti, responsável pelo falta de capacidade criativa com ânsia de lucros fáceis.
Bugei no Brasil. Temos certeza de que será uma longa e Neste caso, o problema é ainda pior pois trata-se de sim-
frutífera colaboração. ples pirataria de título, acredite. Leia a nota e vai saber do
Mais duas estréias, desta vez, internacionais. O que estou falando.
Mestr
Mestre ony
e TTony
ony, que nos concedeu uma entrevista publicada Para encerrar, gostaria de estender o convite a todos
no último número, estréia como colaborador regular de nos- os mestr es e pr
mestres ofessor es de ar
ofessores
professor tes mar
artes ciais para que com-
marciais
sa revista. Para os que perderam a última edição, Mestre partilhem seu conhecimento com todos nós. Enviem matéri- 3
Tony é herdeiro do Grão-Mestr
Grão-Mestre e Huang Y uW
Yu en
en, do Kung
Wen as para análise e, se forem aprovadas, serão publicadas
Fu Nam Pai e desenvolve seu trabalho atualmente na Áus- SEM CUSTO ALGUM. Verifiquem nossas normas de envio
tria. Nesta edição temos uma matéria especial dele sobre na página 27.
Budismo Mahayana e Artes Marciais. Excepcional e Boa Leitura.
imperdível! Montamos uma formatação diferente do restan-
te da revista para que as citações originais em chinês não Gilberto Antônio Silva
causassem confusão. Tudo em benefício de você, leitor. Editor

ARTES MARCIAIS,
FILOSOFIA,
CULTURA ORIENTAL,
COZINHA,
TRADIÇÕES,
CINEMA
E UM POUCO
DE TUDO DO
ORIENTE

Visite: http://vidaoriental.blogspot.com
06 Nesta Edição:
06 BUGEI - A Arte dos Samurais
10 O Kiai
15 Tributo a Noriyuki “Pat” Morita
20 ESPECIAL: A Influência do Budismo Mahayana
Sobre o Wushu

Seções
05 CARTAS / ÚLTIMAS
08 NEWS: Jiu-Jitsu Perde o Grande Mestre
Pedro Hemetério
09 CURIOSIDADES
09 PENSAMENTOS
12 CINEMA: Os 25 Anos de “Karatê Kid”
16 ARMAS: Sai, Nunte e Jitte
28 PERFIL: Yang Luchan

ESPECIAL

20

15 28

16 12

Esta revista é uma publicação de Editor: Gilberto A. Silva (Mtb 37.814)


Longevidade Produção e Diagramação: Studio 88
Revista digital do Caminho
Marcial e da Cultura Oriental www.longevidade.net Comente, opine, par participe:
ticipe:
ISSN 1516-3903 budo@longevidade.net
Agradecemos Muito boa a revista. Precisávamos de uma publicação sé-
Cartas
Parabenizo pelo trabalho realizado com a revista ria assim no Brasil. Só tragam mais matérias sobre técnicas
Budo, espero que haja continuidade. Estou a dispo- marciais e armas.
sição para receber os futuros números, bem como Gustavo Correia
para divulgá-los. Conheça o blog do ICSDA Brasil: Fortaleza - CE
http://icsdabrasil.blogspot.com
Rodrigo Müller Adorei a entrevista com o Mestre Tony e a matéria no tem-
South America Director plo budista. Espero que continuem com essa qualidade.
Brasil Director Aldine Carrasco Gonçalves
ICSDA São Caetano do Sul - SP
Cuiabá - MT

Karatê e Mestres Tai Chi Chuan


Gostei da revista e queria sugerir que viesse um Queria sugerir uma matéria sobre Tai Chi Chuan.
texto sobre a história do karatê-do e a vida de gran- Cláudia Lisboa
de mestres. Obrigado. São Paulo - SP
Sérgio Kreytz
São Paulo - SP Poderiam falar sobre Tai Chi Chuan na revista.
André P. de Souza
Olá, Sérgio. Suas sugestões foram anotadas e se- Curitiba - PR
rão disponibilizadas aos poucos, pois é muito ma-
terial. As biografias de Mestres começam a ser O Tai Chi Chuan está na pauta para as próximas edições.
publicadas nesta edição.

Participe você também! Envie sugestões e comentários para budo@longevidade.net.


As cartas poderão ser resumidas para melhor uso deste espaço.
5

Última de 2009
Quando uma refilmagem não é uma refilmagem?
Resposta: quando é um golpe de marketing! Estamos falando do lançamento, em
julho de 2010, do “novo” The Karate Kid. Como a história é diferente, a filmagem
foi feita na China, com um garoto com outro nome e um mestre chinês que luta Kung
Fu, fica-se a pergunta sobre o “karate” do título. A intenção era fazer o “The Kung
Fu Kid”, mas na última hora o nome do clássico com Pat Morita
foi mantido, mesmo sem ter NENHUMA relação com o filme.
Certo, tem Jackie Chan como o mestre, então a coi-
sa não está perdida. Mas o título, se for realmente mantido, é
um golpe baixo de Hollywood como não se via há muito tem-
po. O protagonista é um iniciante de sangue nobre: Jaden
Smith, filho de Will Smith (que também é o PAI AItrocinador,
digo, Produtor do filme). Vamos ver. Assista o trailer aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=jy3TwgpOfr0&feature=player_embedded
Capa

B
ugei é a Arte da Guerra. Presente em todas as civili

BUGEI
zações e considerada por muitos como parte da na
tureza humana, a guerra sempre movimentou a histó-
ria e a mente dos grandes estrategistas.
A Arte da Guerra... O entendimento sobre uma ex-
pressão tão abrangente pode se iniciar pela terminologia.
Bu é um kanji relacionado com o militarismo e a

A Arte dos marcialidade. Gei significa arte, performance. Assim, a jun-


ção de ambos – BuGei – pode ser interpretada como a arte
da guerra ou desempenho militar e engloba estudos que se

Samurais relacionam com o combate armado, desarmado e estraté-


gia, suas sub-especializações e também as artes ligadas ao
desenvolvimento mental e espiritual do guerreiro.
Compondo parte do Bugei, o Bujutsu denota a funci-
onalidade dessas artes e suas estratégias, ligando a práti-
ca à efetividade em se cumprir os objetivos relacionados.
Sensei Thiago Finotti de Moraes O Bugei tem suas raízes no Japão antigo e sua ori-
gem existia com fins puramente bélicos. Hoje, os objetivos
da perpetuação da arte estão voltados ao estudo e à manu-
tenção de uma tradição. Estudado em formato de discipli-
nas ou matérias, o fator comum que une todas é a busca
pela realidade e eficácia – a distinção das ilusões dentro por Ogawa Sensei . Por isso, é possível encontrar diferen-
do guerreiro e ao seu redor. ças no que tange ao Kakuto no Bujutsu, ou seja, as formas
Historicamente tratando, o apogeu militar do Japão reais de guerra praticadas pelos alunos de Ogawa Sensei
se deu na Era Tokugawa – também conhecida como Perío- em relação às do Kaze no Ryu. Assim se diz que desde a
do Edo (1603–1868), enquanto socialmente a nação esta- década de 70 nossa linhagem também se denomina Ogawa
va divida em quatro classes: comerciantes, artesãos, cam- Ryu. Shidoshi Jordan Augusto foi um dos poucos que rece-
poneses e samurai - a estes últimos cabia a função de ga- beu das mãos de Ogawa Hiroshi a graduação de Shidoshi
rantir a ordem nas terras de seu senhor. Era a eles atribuído e a permissão para ensinar a tradição da linhagem, dando
o direito de decisão sobre a vida e morte de outras pesso- início a anos de ensino até mudar-se para a Espanha e
as, usualmente sem necessidade de justificativas. Eram sim- fundar a EBS – European Bugei Society. Thiago Moraes es-
bolizados pela honra de seu nome e de seu Senhor, e pela tuda sob a orientação de Shidoshi Jordan Augusto e junto
espada. Preferiam a morte honrada a uma vida manchada ao seu direcionamento é responsável pela continuidade do
por algo que os tornasse indignos ou que lhes causasse trabalho da SBB – Sociedade Brasileira de Bugei, hoje
vergonha e embaraço diante de seu senhor, ao passo que presente em Escolas de Bugei e Universidades.
regia em suas relações o Bushido , um código de honra trans- Os estudos de Bugei na linhagem Ogawa estão com-
mitido de geração a geração. preendidos no Kobujutsu e no Taijutsu.
O Japão sempre foi um país recheado de guerras e Kobujutsu, traduzido literalmente como “Arte Velha
instabilidades, tentativas sucessivas de se alcançar o poder da Guerra” freqüentemente faz referência ao uso e prática
e destruir os clãs inimigos. Relatos mostram que a atividade de armas. Considerando o aspecto mais geral de Kobujutsu
da guerra e disputas civis eram algo tão presente naquele são nele encontradas várias artes: Kenjutsu – Arte da Espa-
povo que impressionavam mesmo aqueles que chegavam
da Europa, que por sua vez nunca foi reconhecidamente
uma terra pacífica. Ainda assim essa natureza bélica era
algo normal e natural para eles e enquanto observações
históricas descreviam os antigos japoneses como “um povo
viciado em guerras”, o Japão também era referido por eles
mesmos como “a terra da Grande Paz”. Ironicamente, era
comum se encontrar nomes de ruas e passarelas do tipo
‘Armadura’, ‘Elmo’, ‘Flecha’, etc. 7
Essa paixão pelo poder e pelo letal era acompanha-
da pela admiração pela graça das finas expressões da
natureza, pela vida delicada das cerejeiras, pela relação
com os templos energéticos naturais, pela busca da perfei-
ção na caligrafia e na pintura.
Toda essa combinação forjou uma forma muito pecu-
liar de se encarar a existência e suas transições. Sob essa
ótica, a arte marcial – faço aqui referência ao termo marci-
al no sentido original da palavra, remontando o Deus roma-
no da Guerra, Marte, e não apenas auto-defesa – abrem
portas para experimentações e um conjunto de vias que
despertam para a formação e retidão do caráter.
Enquanto Bugei pode ser entendido como qualquer
atividade militar, diversas escolas/linhagens (Bujutsu Ryu) da, Iaijutsu e Battojutsu – Arte do Saque e Corte, Tantojutsu
ensinavam suas artes por todo o Japão, não sendo possível – Arte da Faca, Yarijutsu (Sojutsu) – Arte da Lança, Bojutsu
precisar um número e cada uma dessas linhagens se carac- – Arte do Bastão Longo, Naginatajutsu – Arte da Naginata,
terizava por suas particularidades, sendo assim a cada es- antiga arma no formato de alabarda ou lança com lâmina
tilo atribuído um senso de unicidade ou identidade. no formato de espada, Tanbojutsu – Arte do Bastão Curto,
O Kaze no Ryu Bugei chegou ao Brasil com a Nawa no Gikkou – Artes com Cordas e outras.
família Ogawa, que segundo histórico interno da escola No currículo da escola, o estudo desarmado se dá
desembarcou no Porto de Santos em uma data imprecisa no Taijutsu, termo usado para designar as artes corporais –
em torno de 1935, estabelecendo-se no estado do Paraná. Tai significa corpo, Jutsu significa arte. Trata-se de uma for-
Sendo considerado um grande gênio em seu raciocínio e ma de luta bastante antiga, cujo cerne consiste em prepa-
marcialidade, existem indícios históricos que fazem refe- rar os praticantes para que o corpo se tornasse uma arma
rência ao desenvolvimento das técnicas do Kaze no Ryu extremamente perigosa e aperfeiçoar a tal ponto que per-
mitiria enfrentar qualquer situação sem mente esse desenvolvimen-
proteção além do próprio corpo. Na- to surgiu quando o bushi
turalmente, tudo isso dentro das reali- (guerreiro) perdia a Katana
dades da época e no limiar da reali- (espada) em campo de ba-
dade prática. talha e dificilmente encon-
Analisando a imensa quantida- traria outro recurso para se
de de possibilidades de conflitos que defender além do Sukima.
temos a partir desses conceitos, o Os movimentos circu-
Taijutsu se expandiu e evoluiu em uma lares são facilmente
miríade de formas, com o intuito de observáveis durante a exe-
abranger consistentemente as mais cução de Aikijujutsu repre-
diversas vantagens em combates, con- sentando o redire-
tando inclusive com sub-especializa- cionamento, o não conflito
ções contra adversários armados. A e a junção com a energia
eficácia das artes corporais no Japão Ki do inimigo. Porém nos es-
antigo se tornou tão marcante que o tudos voltados para a reali-
estudo chegou ao ponto de interagir dade da guerra as práticas
com ângulos, projeções, imobiliza- se tornam rígidas e
ções, chaves, impactos, traumas, tra- destrutivas, com atuações
ções e alavancagens que lhes davam condições de coloca- retilíneas que, compostas com o movimento circular atu-
rem-se supostamente contra qualquer adversário. am por meio de espirais e adquire uma violenta carac-
Em termos das classificações das artes no Taijutsu e terística.
suas naturezas, este é dividido sumariamente em três gran- Sua complexidade a consagrou como uma arte
des artes: o Jujutsu, o Aikijujutsu e o Kenpo. de nobres costumes. A dificuldade se encontra exata-
O Jujutsu, arte que teve origens no Kumi Uchi (ou mente na harmonia interior do praticante, não se dei-
Yoroi Kumi Uchi , no caso de usarem armadura) que por sua xando levar por qualquer sentimento ou emoção que
vez procurava levar os adversários ao solo e explorar as afetasse a sua técnica.
vantagens rápidas dessa situação. Já no Jujutsu, podemos Por outro lado, o Kenpo é uma arte que trabalha
8 encontrar uma grande quantidade de técnicas e imobiliza- com a agressividade e o fortalecimento corporal. A boa
ções, com maior enfoque no agarramento e o uso do chão preparação do corpo visava tornar suas partes em ar-
como arma. mas, por conseguinte capazes de absorver impactos.
O Aikijujutsu se baseia na utilização da energia inte- Sua filosofia consiste em encontrar harmonia entre a
rior Ki e na harmonia ou interação entre os oponentes e o naturalidade do corpo e sua agressividade.
guerreiro. Ainda que belo, o Aikijujutsu possui faces de gran- Torna-se interessante entender que existem estu-
de periculosidade. dos específicos dentro de Taijutsu que surgem como es-
Trabalha com o princípio do vazio, ou Sukima, que pecializações dentro de uma arte. É o caso, por exem-
em essência consiste em não permitir que a intenção do plo, do Koppojutsu, arte que estuda o ataque aos ossos
inimigo atinja seus objetivos e conta-se que fundamental- do corpo e estabelece uma ligação entre o Jujutsu e o
Aikijujutsu, uma vez que algumas de suas se-
qüências clássicas – Seiteigata – são usadas
tanto em uma arte quanto em outra.

Sensei Thiago Finotti de Moraes é formado em


Engenharia Eletrônica pela Universidade Federal
de Uberlândia. Iniciou seus estudos em artes
marciais ainda criança e estuda sob a orientação de
Shidoshi Jordan Augusto. Foi diretor do Centro
Integrado de Artes Marciais (CIAM), escola de artes
marciais, em 2002. Participou de vários cursos de
formação com Shidoshi Jordan Augusto, estando ao
seu lado em cursos internos, acompanhando-o em
eventos e viagens e estado nas principais revistas e
mídias do mundo sobre artes marciais. É o
responsável técnico da SBB no Brasil.
Pensamentos
“É mais útil acender uma vela do que amaldiçoar a escuri-
“A filosofia de nosso estilo pode ser resumida no nosso lema: dão” – Chuang Tzu, Filósofo Chinês
amar a pátria, não recuar um só passo na luta, ajudar os
fracos e obter a confraternização mútua” “É difícil ter uma vida longa com um nome famoso”
– Mestre Ranulfo Amorim, Hapkidô – Pensamento Ch’an

“ Ao estudar o Caminho, é difícil percebê-lo; ao percebê-lo, “O homem que alcançou o domínio de uma arte revela-o
é difícil preservá-lo. Quando se pode preservá-lo, é difícil em cada um de seus atos” – Provérbio Samurai
colocá-lo em prática” -
- Pensamento Ch’an “Para alimentar o coração não há nada melhor do que ter
poucos desejos” – Mencius, Filósofo Chinês
“Quando o professor é rigoroso, o caminho estudado é
honrado” - Pensamento Ch’an “Se você perseguir o conhecimento por milhares de dias,
não vai lhe valer mais do que um único dia de estudo apro-
“Nenhum homem confia em alguém que se mostre agressi- priado do funcionamento da mente. Se você não a estudar,
vo. E aquele em quem ninguém confia permanecerá solitá- você não será capaz de entender um simples pingo d’água”
rio e sem amparo” – Lieh Tzu, Sábio Taoísta – Huang Po, Sábio Chinês

“A filosofia aparece no caráter do praticante à medida em “Tzu-Kung perguntou em que consistia o Homem Superior.
que este evolui na técnica” – Shihan Makoto Nishida, Aikidô O Mestre disse:’Ele age antes de falar, e em seguida fala
de acordo com suas ações” – Confúcio
“…tudo o que tive foram aulas de técnicas e filosofia de
vida: nunca agredir ninguém, não freqüentar lugares onde “O Home Superior tem uma calma dignidade sem orgulho.
haja encrencas e viver sempre na serenidade” O homem comum tem orgulho sem calma dignidade”
– Mestre Tomeji Ito, Karatê - Confúcio
9

Curiosidades
Shiro Saigo, famoso lu- Os seis pontos brancos
tador do Kodokan que venceu alinhados que se vêem na ca-
vários Mestres de Jujitsu na beça raspada dos monges de
aurora do Judô, era Mestre em Shaolin representam os seis
Daito-Ryu Aikijujutsu e o primei- votos que eles tem que manter.
ro na linha sucessória do Gran- Esses pontos são feitos com a
de Mestre Tanomo Saigo, seu brasa de um incenso e refor-
pai. Ele desistiu de chefiar o çados pelo menos duas vezes
Daito-Ryu para se dedicar ao ao ano.
Judô, sendo substituído por Ao lado vemos o perso-
Sokaku Takeda na direção do nagem “Kulilin”, da série
Aikijujutsu. Posteriormente Dragon Ball. Note os seis pon-
Mestre Saigo abandonou tam- tos, que ele perdeu quando se
bém o Judô para se dedicar apenas ao Kyudô, a Arte Zen casou em “Dragon Ball Z” (tam-
do Arco e Flecha. Seu golpe principal, Yama-Arashi (“Vento bém deixou crescer o cabelo)
da Montanha”), era tido como invencível quando usado por
Saigo. Entre as centenas de artes marciais diferentes exis-
tentes na China, uma chama a atenção: trata-se do PAN
O sexto patriarca do Zen Budismo, Hui Neng, era QUAN BI. Esta é uma arte marcial que utiliza como arma –
um cozinheiro analfabeto do mosteiro quando foi reconhe- acreditem – os pincéis usados para escrever! Realmente, lá
cido como Patriarca pela sua profunda compreensão do na China a pena é mais forte do que a espada…
Zen.
O KIAI Gilberto Antônio Silva

O
Kiai é a técnica mais conhecida das artes marci
ais por ser a mais aparente, na forma de um grito
característico. Qualquer pessoa que tenha assisti-
do a um filme qualquer sobre artes marciais sabe do que
estamos falando. Mas pro trás do grito existe toda uma arte
muito complexa, mas que iremos abordar de forma bem
simplificada.
KIAI é uma palavra japonesa composta por dois
ideogramas (veja a figura). O primeiro, KI, pode ser tradu-
zido por espírito, sopro ou
mais comumente, energia.
Seria a energia universal que
permeia e toma parte em to-
das as coisas. O segundo, AI,
significa harmonia ou mais
precisamente, ficar junto. É
uma contração do verbo
“awasu”, que significa “unir”. Seu ideograma é formado
por um telhado ou tampa sobre um receptáculo, mostrando
a condição de se ficar “fechado” com alguma coisa ou fi-
10
car junto.
Como podemos perceber, Kiai significa “unir a ener-
gia”. Trocando em miúdos, Kiai pode ser entendido como a
liberação da energia (Ki) que estava armazenada, em har- fazemos um esforço muito grande nós soltamos naturalmen-
monia com o praticante (Ai). O Ki deve ser aumentado e te um Kiai, sendo que na maioria das vezes isso não passa
conservado no Hara, o centro de energia do ser humano, de um grunhido, como quando levantamos um grande peso
como se estivesse dentro de um pote tampado. Isso demons- ou quando os lenhadores cortam uma árvore. Esse som
tra que seu significado é muito mais profundo e cheio de gutural não é produzido completamente na garganta mas
nuances do que se imagina. parece vir de dentro, da barriga. Essa é a essência do Kiai!
O som que emitimos deve vir da região abdominal, do
Aspectos Energéticos HARA, e não da garganta e deve ser simultâneo com o
A base do Kiai está no Hara e na concentração total golpe! O que assistimos em muitos campeonatos de Karatê
do praticante nessa área, chamado de Haragei. Discutire- não passa de encenação para a platéia ou para dar a
mos o Hara e o Haragei em outra ocasião. entender ao juiz que o golpe teve força. Vemos até prati-
cantes soltarem o grito depois de darem as costas para o
O Grito oponente, retornando à sua marca. Bobagem! Não basta
Mas então onde fica o grito? gritar, mas deve haver certas qualidades presentes, como
O grito que se escuta constantemente nas artes mar- veremos a seguir.
ciais japonesas e coreanas é uma forma de se liberar o KI
para formar o “receptáculo” com o oponente e ao mesmo O Kiai como Arma
tempo funcionar como arma. Vamos por partes. Alguns autores consideram que todas as artes marci-
A respiração é de suma importância nas artes marci- ais japonesas que se utilizam do Kiai (e TODAS utilizam de
ais, como é de conhecimento comum. É através dela que uma ou outra maneira) deveriam ser enquadradas como
tiramos o KI do ar e controlamos o fluxo de energia em KIAI JUTSU (A Arte do Kiai), dada a sua importância. Mas
nossos movimentos, como por exemplo, quando expiramos o Kiai não é apenas algo “esotérico” como a influência do
ao mesmo tempo em que desferimos um golpe. Sempre que KI de um oponente a outro, mas possui também poder de
produzir síncopes, estas comprovadas cientificamente. Sua - O som deve nascer do HARA
força é tão grande que a arte do Kiai também é chamada - A postura da voz deve ser observada. Um tom auto-
de TOATE-NO-JUTSU (A Arte de Golpear à Distância). ritário, firme, é mais importante do que um grito muito alto
Uma síncope é um estado clínico em que há perda - É preciso que o grito seja carregado de emoção
mais ou menos completa da consciência e do movimento, - Deve ser súbito e intenso
com uma parada ou pelo menos diminuição das batidas - A distância deve ser entre 0,80 e 1,50 metro do
cardíacas, da circulação e dos movimentos respiratórios. oponente (para maior eficácia)
Tal estado pode ser induzido pelo Kiai, desde que executa-
do da maneira devida. Os nervos vegetativos do ouvido Psicologia e Medicina Chinesa
médio condensam-se em um plexo que se relaciona direta- Claro que também existe um efeito psicológico muito
mente com os nervos pneumogástrico e simpático. O siste- grande. Somos programados para evitar e temer ruídos al-
ma simpático estimula os órgãos a ele associados enquanto tos e repentinos. Várias criaturas fazem uso de sons para
o parassimpático atenua. O Pneumogástrico é um dos mais atemorizar seus inimigos, parecendo maiores e mais temí-
importantes nervos parassimpáticos, agindo sobre o cora- veis. Essa técnica é utilizada pelas tropas de choque da
ção, pulmões, estômago, intestinos, fígado, e outros órgãos. polícia, especializadas em dissolver tumultos. Eles se apro-
O nervo auditivo que parte do ouvido interno está em cone- ximam gritando ou batendo o cassetete no escudo, criando
xão direta com o sistema simpático. Qualquer estimulação um ruído que, mesclado à marcha ritmada, parece muito
do sistema parassimpático (como o pneumogástrico) causa ameaçador.
uma queda da atividade dos órgãos, enquanto uma A síncope física mencionada anteriormente pode ter
estimulação do sistema simpático acarreta uma estimulação sua eficiência ampliada pelos fatores psicológicos da inten-
física. Como podemos perceber, esses dois sistemas agem sidade e modulação do grito do Kiai, que nos despertam
antagonicamente. reações primitivas de fuga. Na medicina chinesa a emoção
Um estímulo muito intenso do ouvido médio pode pro- atribuída ao Rim é “medo” e a abertura do Rim se dá nos
vocar uma queda da pressão arterial, efeito que pode ser ouvidos. Logo, um som determinado pode alterar o equilí-
agravado com o mesmo fenômeno ocorrendo no ouvido brio energético do Rim, causando um princípio de pânico.
interno. Assim, um som intenso e repentino incidindo sobre
esses dois aparelhos delicados pode provocar uma síncope O Kiai Medicinal
por diminuição da pressão arterial e dos batimentos cardí- O Kiai também pode ser utilizado como agente
acos. Contam-se várias histórias de Mestres que podiam estimulador na recuperação de praticantes que sofreram 11
paralisar seus oponentes ou mesmo matá-los apenas com o síncopes. O grito emitido nestes casos é mais agudo, agin-
poder de seu Kiai! Mas para que o Kiai seja eficiente são do sobre o sistema nervoso simpático que estimula o siste-
necessários alguns fatores: ma cardíaco, acelerando os batimentos, e sobre o circula-
- Grito grave e gutural tório, dilatando os vasos sangüineos. O Kiai pode ser emi-
- Utilização da sílaba correta tido sozinho ou acompanhado de percussões no corpo do
paciente. Tais técnicas são cuidadosamente estudadas e
aplicadas numa arte denominada KUATSU.

Conclusão
Como pudemos ver, o Kiai está muito longe de ser
apenas um grito. Muitas vezes, aliás, ele é silencioso (quan-
do então é chamado de KENSEI). Grande parte das artes
marciais chinesas são silenciosas mas possuem o Kiai. Já
as coreanas o conhecem por KIHAP e as vietnamitas por
HET, utilizando-o muito.
Espero que você não se engane mais com a aparen-
te superficialidade do Kiai e estude e treine, treine, treine
muito nesta que é uma das artes maravilhosas do Oriente e
que está em processo de esquecimento.

Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo e Terapeuta Oriental,


estudioso de filosofia e cultura oriental desde 1977. Como jor-
nalista e pesquisador, estudou e teve contato nos anos 80 e 90
com os principais introdutores das artes marciais no Brasil. Pra-
ticou Karatê Okinawa Goju-Ryu, Aikidô e Tai Chi Chuan.
Cinema

Karatê
Kid
25 Anos

O
filme “Karatê Kid – A Hora da Verdade” foi um
estrondoso sucesso de bilheteria no cinema e um
fenômeno de aluguel no recém criado mercado
de videocassete. Produzido em 1983 e lançado em 1984,
trazia a história de um garoto, Daniel Larusso (protagonizado
por Ralph Macchio), que se muda com a mãe para a
Califórnia e se torna alvo de uma turma de baderneiros que
treinam artes marciais. Casualmente, o zelador do condo-
12 mínio onde mora é um Mestre em Karatê, o Sr. Kesuke Miyagi
(protagonizado por Pat Morita). Sr. Miyagi resolve treinar
o garoto na antiga arte marcial de sua família para que
Daniel possa se defender de seus oponentes. nal de Star Wars), Batman, Caçadores da Arca Perdida,
Sucesso de público e de crítica (foi indicado ao Os- Indiana Jones no Templo da Perdição, Indiana Jones e a
car e ao Globo de Ouro), o filme é memorável até os dias Última Cruzada ou filmes mais familiares e com lições de
atuais, tendo tido três coninuações: duas com os mesmos moral como E.T. O Extraterrestre, Os Caça-Fantasmas, De
protagonistas e uma quarta fita, desta vez com o Sr. Miyagi Volta para o Futuro I e II e Um Tira da Pesada I e II. Para
treinando uma garota, interpretada pela excelente Hilary entender um filme dessa época devemos ver as entrelinhas.
Swank – ganhadora de dois Oscars de Melhor Atriz por
“Meninos não Choram” e “Menina de Ouro”. “Karatê Kid” mostra basicamente que arte marcial
Muitas pessoas, especialmente praticantes de artes não é pancadaria e nem deve ser utilizado para coagir os
marciais, criticam duramente o filme por não ser “realista”. mais fracos. Que existe um código de honra dentro das
Mas muitas vezes isso é injusto. Em 1984 não assistíamos artes marciais e que ter grande eficiência marcial não sig-
ao festival de sangue e ossos quebrados que invadem os nifica sair por aí batendo em todo mundo. Que arte marcial
filmes de hoje. Era uma época em que as pessoas tentavam possui um significado espiritual, profundo, que deve ser
se firmar depois das mudanças de 60 e 70, ainda com o puxado de dentro de nós (como na cena em que Daniel tem
perigo do holocausto nuclear sobre nossas cabeças. O fil- que podar um bonsai). Também chama a atenção para o
me “O Dia Seguinte” (The Day After), lançado em 1983, fato de que as técnicas marciais estão integradas em nosso
causava grande impacto mostrando o que seria a devasta- dia-a-dia e que o artista marcial deve VIVENCIAR a sua
ção de uma guerra nuclear. Isso era mais assustador ainda arte em tudo o que faz. Este é o significado das hilárias
por ser uma realidade pronta a se fazer presente a qual- “tarefas” que Daniel tem que se submeter, como lixar o chão,
quer momento, e se necessitava de esperança. Nessa épo- pintar cercas e polir carros. No final, ele aprendeu técnicas
ca, os filmes de aventura eram a grande sensação, com marciais sem perceber. Ed Parker, o grande divulgador das
mocinhos combatendo inimigos cruéis como em O Império artes marciais na década de 60 e descobridor artístico de
Contra-ataca e O Retorno de Jedi (fechando a trilogia origi- Bruce Lee, expõe isso claramente em sua coleção “Infinite
Insights Into Kenpo”. Ele mostra que muitos gestos do dia-a- CURIOSIDADES DA PRODUÇÃO
dia podem se transformar em técnicas marciais, como o
levantar de um joelho para subir um lance de degraus. Se > O árbitro na luta final é Pat E. Johnson, especialista em
levantar mais alto o joelho e com mais velocidade, terá um artes marciais e parceiro de Chuck Norris no Tang Soo Do. Teve
golpe marcial. Pense nisso na próxima vez que for subir uma pequena participação em “Operação Dragão”, com Bruce
uma escada… Lee, mas preferiu ficar por trás das câmeras. Foi instrutor de vári-
O filme “Karatê Kid” também foi pioneiro em levar os astros de cinema e creditado como “instrutor de lutas/coreó-
as artes marciais para dentro do ambiente familiar. Até então grafo” para o filme.
·> “Miyagi” é o nome real do fundado do estilo Goju-Ryu
os filmes marciais eram muito violentos para a época. Mui-
de Karatê, Chojun Miyagi. Este é um dos estilos mais tradicionais
tos deles se pareciam com os filmes pornográficos: muito
de Okinawa e que serviu como inspiração para as técnicas mar-
ação e pouca história. “Karatê Kid” mostrou que existia ciais do filme.
CONTEÙDO nas artes marciais, um porquê de se fazer as ·> Os exercícios que Mr. Miyagi passa para Daniel são
coisas daquele jeito, uma forma de disciplina e desenvolvi- retirados de técnicas reais do estilo Goju-Ryu.
mento ideal para os mais jovens. Seu ritmo um tanto lento ·> O diretor de “Karatê Kid”, John G. A vildsen, foi o
Avildsen,
dá tempo ao espectador, não acostumado na época, para ganhador do Oscar de Melhor Diretor por “Rocky – Um Lutador”,
entender a filosofia por trás das técnicas marciais. Acredi- com Sylvester Stallone.
to que é nisso que reside a grande vitória desse filme – ·> O dublê de Pat Morita nas cenas de ação de “Karate
mostrar que existe mais do que chutes e socos em uma arte Kid” e da série de TV “Ohara” foi o lendário Fumio Demura,
marcial. Instrutor-Chefe da Japan Karate Federation Itosu-Kai in América e
É oportuno ressaltar que esta obra começou com uma presente em muitos filmes de ação. Sensei Fumio Demura é um
dos mais importantes instrutores de karate dos EUA desde os anos
simples observação do Produtor Jerry Weintraub, veterano
60.
com mais de 30 anos de Hollywood e produtor de “Rocky,
·> Ouve rumores de que o papel de “mestre-vilão” da
Um Lutador”, com Sylvester Stallone. Ele assistiu a uma re-
Cobra-Kai, brilhantemente interpretado por Martin Kove, havia
portagem de TV que mostrava um garoto que havia apren- sido oferecido à Chuck Norris mas ele havia recusado, pois mos-
dido Karatê para lidar com as perseguições que sofria na traria o Karatê sendo mal utilizado e ensinado. Tempos depois ele
escola (o hoje conhecido “bullying”). Ele procurou depois o desmentiu esse convite em uma entrevista, mas afirmou que caso
garoto e perguntou se ele era tão bom em lutas reais quanto tivesse sido convidado, recusaria pelos mesmos motivos. Mas ele
em torneios. O garoto respondeu: “Eu não luto. Não há ajudou a produção a encontrar artistas marciais para o filme.
razão para isso”. O produtor ficou impressionado com a ·> “The Karate Kid” era o nome de um personagem de 13
filosofia do menino. E nascia o embrião de um clássico do quadrinhos da DC Comic’s que aparecia na “Legião dos Super-
cinema. Heróis”. A DC, dona dos direitos autorais do personagem, deu
te a Guerra e se tornaram a unidade militar mais condecorada na
história dos EUA. Esta citação e o fato da família de Miyagi ficar
em um campo de concentração americano durante a Segunda
Guerra foram homenagens do elenco e dos produtores aos nipo-
americanos.
> O troféu original da competição “All Valley” é agora
parte da decoração do restaurante “Hollywood” na Euro Disney,
em Paris.
> A cena de abertura em “Karate Kid II” foi realizada no
término do primeiro filme. Apesar de não ter sido aproveitada na
montagem final, ela foi guardada para uma eventual seqüência.
> As filmagens de “Karatê Kid” começaram em 14 de
outubro de 1983 e duraram apenas 42 dias. Foi um filme de
baixo orçamento que levantou mais de 100 milhões de dólares
apenas nos EUA.
·> A banda de rock “Broken Edge” que fez a performance
de algumas das músicas da trilha sonora aparece no filme tocan-
uma permissão especial para utilização do nome no título do do na cena do baile de Halloween.
filme. Existe um agradecimento a eles nos créditos finais. ·> Ralph Macchio deu o nome de “Daniel” ao seu primei-
·> Elisabeth Shue, que fez a namorada de Daniel, inter- ro filho.
rompeu seus estudos em Harvard para estrelar o filme. ·> Karate Kid foi o vídeo mais alugado em 1985.
·> Pat Morita inicialmente foi desconsiderado para o pa- ·> Praticamente todas as locações utilizadas no filme exis-
pel principal por ser um comediante. Acabou ganhando “Mr. tem realmente.
Miyagi” por ser o melhor de todos que fizeram o teste. ·> Um dos alunos da Cobra-Kai no filme foi interpretado
·> A cena na praia foi a primeira filmada. por Chad McQueen, filho do grande astro Steve McQueen.
·> William Zabka (Johnny) não tinha experiência em artes ·> Karate Kid foi o 500º filme produzido em som Dolby e
marciais antes de ser escolhido para o filme. o primeiro a ser produzido em massa em Hi-Fi stereo quando
·> A famosa cena na qual o senhor Miyagi tenta pegar lançado em VHS. Está listado entre os 100 filmes mais inspiradores
uma mosca com pauzinhos (hashi) é uma referência ao filme do cinema.
“Miyamoto Musashi kanketsuhen: kettô Ganryûjima”, de 1956,
na qual uma cena similar aparece. Este filme é o final de uma
14 PRÊMIOS (1985)
trilogia sobre o grande samurai Miyamoto Musashi, estrelado
pelo astro japonês Toshiro Mifune Indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante – Pat Morita
·> O mesmo Toshiro Mifune foi cogitado para o papel de
Miyagi, mas se mostrou muito sério nos testes para o persona- Indicado ao Golden Globe por Melhor Ator Coadjuvante – Pat
gem, apesar de seu brilhantismo. Os produtores e o diretor queri- Morita
am alguém mais descontraído e menos “samurai” por ser um fil-
me familiar e não um épico de Kurosawa. Indicado ao Young Artist Awards por Melhor Ator Coadjuvante
·> O estúdio quis cortar a cena de embriaguez de Miyagi, em Filme Musical, Comédia, Aventura ou Drama – William Zabka
por ser indiferente ao desenrolar da história. O diretor Avildsen
discordou e lutou para manter a cena na edição final. Ela foi ·Vencedor do Young Artist Awards por Melhor Atriz Coadjuvante
responsável pela indicação de Pat Morita ao Oscar. em Filme Musical, Comédia, Aventura ou Drama – Elisabeth Shue
·> Durante as filmagens, em 1983, Ralph Macchio tinha
22 anos. Todos no elenco se surpreendiam com sua idade real. ·Vencedor do Young Artist Awards por Melhor Filme - Drama
Quando fez sua última participação, em Karate Kid III, estava
com quase 30 anos.
·> A canção que Miyagi entoa na celebração de seu ani-
versário é uma canção folclórica japonesa real que Pat Morita
ouvia quando criança.
·> O Chevrolet Conversível 1950 amarelo que Daniel po-
liu durante o treinamento e que recebeu de presente de aniversá-
rio de Miyagi foi dado realmente a Ralph Macchio pelo produtor
após as gravações, e ele ainda o mantêm.
> Os outros carros da coleção de Miyagi eram um DeSoto
1948, um Stuebaker 1952 e um Nash Rambler 1956.
> Durante a cena em que Miyagi fica bêbado, ele revela
que atuou na Segunda Guerra Mundial no 442º Regimento de
Combate do exército americano. Esta unidade existiu mesmo e
era constituída de nipo-americanos que lutaram na Europa duran-
Tributo
Noriyuki “Pat” Morita

P
at Morita foi um dos mais carismáticos astros de Hollywood. Come
diante capaz e ator versátil, teve mais de 160 trabalhos em sua
filmografia, entre filmes, dublagens e séries de TV. Participou de vári-
os clássicos da TV como “Columbo”, “Havaí 5-0”, “M*A*S*H”, “Police
Woman”, “Cannon”, “Kung Fu”, “Starsky & Hutch”, “O Homem do Fundo
do Mar”, “O Incrível Hulk”, “Magnum” e outros.
Noriyuki Morita nasceu em Sacramento, Califórnia, em 28 de
Junho de 1932. Filho de imigrantes japoneses que tinham uma pequena
loja de presentes em Chinatown, Morita desenvolveu tuberculose espi-
nhal aos 2 anos e passou a infância em hospitais até que um médico
efetuou uma cirurgia de ligamento de vértebras, nove anos depois. Ele
aprendeu a andar com 11 anos de idade. Durante a Segunda Guerra
Mundial Noriyuki Morita esteve com os pais em um campo de concentra-
ção americano (sim, eles também tinham campos de concentração) junto
com outros imigrantes orientais e suas famílias, por serem considerados
um “risco à segurança americana”. Como outras famílias, tudo o que
possuíam foi confiscado pelo governo e muitos ainda lutam até hoje para
reaver suas posses. Pat Morita era grande defensor da causa destes ame-
ricanos injustiçados pelo próprio governo. Durante a estada no campo de
concentração conheceu um padre católico de nome “Pat”, adotando de-
pois como nome artístico “Pat Morita”.
Depois da guerra a família gerenciou um restaurante chinês e ele entretinha os convidados contando piadas e
sendo mestre de cerimônias para jantares. Depois de formado na Armijo High School arrumou emprego como programa-
dor de computadores em uma empresa aero-espacial que projetava motores de foguetes. Aos 30 anos desistiu da progra-
mação de computadores e assumiu uma carreira solo de comediante “stand-up”.
No início dos anos 60 fez uma série de turnês pelo país e começou a aparecer em programas de TV. Começou a 15
ganhar fama e se consagrou no papel de “Arnold” na prestigiada série de TV “Happy Days”.
Depois de dezenas de participações em séries e filmes durante os anos 70 e 80, estrelou em 1984 o filme “The
Karate Kid”, que o elevou à categoria de astro de Hollywood e lhe valeu uma indicação ao
Oscar e outra ao Golden Globe. Apesar de usar o nome de “Pat Morita” há muitos anos, o
produtor de “Karate Kid”, Jerry Weintraub, sugeriu que ele fosse creditado com seu nome
real para soar mais nipônico.
Adorado e lembrado por todos como divertido e espirituoso, dizia sempre que havia
tido uma vida muito alegre e feliz. Alegria era seu modo de fazer as coisas.
Em 1994 ele recebeu uma merecida estrela na Calçada da Fama, no número 6633
da Hollywood Boulevard.
Noriyuki “Pat” Morita faleceu em Las Vegas em 24 de novembro de 2005, de causas
naturais. Deixou a esposa Evelyn e três filhas de um casamento anterior.

“The Match Game”, game show da TV “O Barco do Amor”, série de TV “M*A*S*H*”, série de TV
1976 1977 1974
Armas

Sai,
Nunte
e Jitte

16

Foto: cortesia do Sensei Víctor López Megía


Uma das armas mais interessantes do arsenal de Okinawa, o Sai e suas variações deve ser conhecido por todos
que estudam artes marciais seriamente. Incluímos também o Jitte, que apesar de não ser exatamente uma variação do Sai,
é muito similar em aparência e utilização.

Sai te à cruz suástica (chamada em japonês de “manji”). A


suástica é um desenho muito antigo, proveniente da Índia,
Uma das poucas armas e adotado como um dos símbolos do budismo. O Manji Sai
de metal do arsenal do em geral não possui empunhadura coberta, tendo pontas
Kobudô de Okinawa, o Sai é aguçadas nas duas extremidades o que lhe permite desen-
uma arma vistosa e muito bo- volver uma série de técnicas rápidas. Também se pode cha-
nita, bem como extremamen- mar de “Matayoshi Sai”, por ter sido divulgado pelo clã
te eficiente em várias situa- Matayoshi, lendários cultuadores do Kobudô em Okinawa.
ções. Foi inspirado pela forma do Nunte-Bo, arpão de Okinawa,
do qual Sensei Taira extraiu a ponta para utilizar como um
Suas origens estão co- Sai..
bertas de lendas, afirmando-
se inclusive que teria sido uma
espécie de grampo de cabe-
lo para os elevados pentea-
dos em moda em Okinawa.
Pesquisas mais recentes indicam que o Sai nasceu como
arma, propriamente dita, provavelmente com base em ar-
mas chinesas ou indonésias. Seus prolongamentos laterias
prendiam a lâmina da espada, chegando a quebrá-la num
giro de pulso.

Formado em síntese como um tridente com seu dente


central alongado, o Sai também é uma arma extremamente
pessoal, com dimensões similares à Tonfa (do cotovelo à 17
palma da mão). Confeccionado todo em metal, possui uma
alargamento ou bolinha na empunhadura, utilizada para
golpear o oponente como um “tsuki” (golpe de percussão).

O Sai pode ser utilizado em bloqueios, estocadas


(“tsuki”), apresamentos e chaves ou como arma de arre-
messo utilizando sua ponta afilada. Normalmente essa arma
era levada aos pares, utilizando-se uma em cada mão.
Consta que os praticantes que gostavam de arremessá-lo
costumavam andar com três armas destas, uma no cinto, de
reserva, para o caso de arremessar uma ou duas. O arre-
messo preferido era no pé do oponente, pregando-o ao
chão.
Nunte-Bo
Quando o Manji
Manji Sai Sai é preso na ponta de
um bastão (Bo) temos o
Uma forma parti- Nunte-Bo ou “arpão”.
cular de Sai, desenvol- Utilizado originariamen-
vido pelo Sensei te em pesca, acredita-se
Shinken Taira com base que sua origem seja chi-
em um ideograma visto nesa. Sua movimenta-
em um templo budista, ção é similar à de uma
onde um dos ganchos lança, mas o fato de que
laterais se projeta em um dos ganchos laterais
direção contrária, crian- está em uma direção
do uma forma semelhan-
oposta amplia sua versatilidade, podendo aparar, estocar
ou enganchar o oponente.

Jitte (Jutte)
Arma similar ao
Sai, mas com apenas
um gancho lateral acha-
tado, e utilizado em uma
só peça. Seu nome sig-
nifica “Dez Mãos” e sim-
boliza a força que pode
ser criada através da
alavanca. De origem
japonesa, era muito uti-
lizado por forças polici-
ais para desarmar um
oponente sem machucá-lo e pelos Samurais para enfrentar
a Katana. Possui cerca de 45 cm de comprimento em mé- Demonstração de Jitte (Ikkaku Ryu) na comemoração do dia
dia e seu cabo metálico é encordoado. do Samurai, em São Paulo, pelo Sensei Jorge Kishikawa.
News

Jiu-Jitsu perde o
Grande Mestre
18
Pedro Hemetério
Faleceu em 11 de outubro deste ano, aos 86
anos, o Grande Mestre Pedro Hemetério, uma das
lendas do Jiu-Jitsu brasileiro.
Formado por Carlos e Hélio Gracie, Pedro
Hemetério representava a primeira geração da mo-
dalidade em São Paulo e era Faixa Vermelha 9o Grau.
Ele sofria de problemas cardíacos e chegou a
ficar dois meses internado.

Conhecido como “homem-quiabo” pela facili-


dade com que escorregava pela guarda do oponen-
te para chegar em suas costas, Mestre Hemetério se
estabeleceu em São Paulo na década de 60 e ficou
famoso pelos desafios no estilo vale-tudo que
celebrizaram o Jiu-Jitsu.

Nossas condolências à sua família e a toda a


“família” do Jiu-Jitsu brasileiro.

Pedro Hemetério em pé (primeiro à esquerda) junto de Hélio


Gracie, Carlos Gracie, alguns de seus filhos e outros
lendários pioneros do Jiu-Jitsu Brasileiro
Quem
usa
Droga
não é
vítima.

É um
idiota.

Artes
19
Marciais
não
combinam
com
drogas.

NENHUMA.

NÃO USE
DROGAS

Campanha BUDÔ
20 Especial

A INFLUÊNCIA DO BUDISMO
MAHÂYANA SOBRE O WUSHU
Tony Garcia

A
arte marcial tradicional chinesa teve momentos de esplendor e decadência. O taoísmo nutriu desde tempos
imemoriais a prática do Wushu, principalmente nos estilos de tendência interna, com suas concepções filosóficas
emanadas da doutrina elaborada por Laozi (老子) y Zhuangzi (莊子),1 nas quais são patentes as noções
expostas no Yi Jing (易經),2 com alguns ingredientes da religião tradicional.

O período no qual nasce o fundador do budismo, Sidhârtha Gautama,3 foi marcado pelos fortes conflitos de uma
sociedade de classes, onde a diferença de castas4 e a opressão de um estado encravado sobre os privilégios da
minoria se abatiam sobre a ultrajada massa de seres em um mundo físico depauperado, dividido entre os laços de
sangue e a posição social.

Em sua origem o budismo não foi cimentado sobre as bases religiosas de interpretação do mundo que havia na época,
sua visão negava a autoridade dos Vedas e expulsava o barroco ritualismo dos deuses tradicionais, com a política de
portas abertas onde não era necessário nascer sob o teto de uma família brahmânica para acessar as amplas margens
do despertar.

Sua estrutura ideológica estava sustentada pela compreensão das Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho
Łctuplo:

As Quatro Nobres Verdades (Cattâri-ariya-saccâni) (四圣谛 - Si Shen


(Cattâri-ariya- Shen Di)

A VERDADE DO SOFRIMENTO (Dukkha-sacca) (苦谛 - Ku Di)

O nascimento, a enfermidade, a morte, a conexão que se estabelece com o que se ama, a separação do que se ama,
a não obtenção do que se deseja e tudo o que constitui uma causa de ligação, está circunscrito ao sofrimento e à dor.

A CAUSA DO SOFRIMENTO (Samudaya-sacca) (集谛 - Ji Di)

A busca do prazer, da novidade, as ânsias de satisfazer o deleite dos sentidos e o apetite, amarram o homem à roda
eterna da existência.

1Zhuangzi (aproximadamente de 369-286 a.C.). Filósofo taoísta, seu foco é uma elaboração posterior das teorias
expostas por Laozi. A essência do seu pensamento se fundamenta sobre a doutrina do Wu-wei (無為) ou “não ação”.
2 Yijing, (Livro das Mutações), originalmente titulado Zhouyi (周易 – As Mudanças de Zhou). Texto que condensa as
bases fundamentais da filosofia chinesa, assim como os conceitos das ciências naturais e médicas. Sua origem situa-se
entre a Dinastia Yin (1765-1122 a.C.) e a Dinastia Zhou (1122-256 a.C.).
3 Nascido no século VI a.C., Sidhârtha Gautama foi o filho maior do rei Suddhódana de Kapilavatthu, cidade situada

atualmente no Nepal. Sidhârtha é o nome de nascimento e Gautama o sobrenome familiar. Como pertenceu ao clã
dos Sâkya, o povo o chamava de Sâkyamuni (o sábio de Sâkya).
4 O sistema de castas foi criado pelos ários na Índia. Em sânscrito a palavra varna, utilizada para designar a casta,

significa “cor”. Os ários acreditavam-se superiores aos escuros dravidianos e às outras raças aborígenes. O sistema de
castas foi estabelecido para delimitar o acesso dos não ários através de uma estrita divisão de ocupações e
obrigações.
21 Especial

EXTINGUIR O SOFRIMENTO (Nirodhasacca) (灭谛 - Mie Di)

Mediante a extinção do desejo o homem se liberta da dor e do sofrimento.

O CAMINHO PARA CESSAR O SOFRIMENTO (Magga-sacca) (道谛 - Dao Di)

A via para alcançar a emancipação da dor passa pela prática impecável do „Caminho Łctuplo‰

Łctuplo (Magga) (八正道 - Ba Zheng Dao)


Caminho Łctuplo

VIS‹O CORRETA (Sammâ-ditthi) (正见 - Zheng Jian)

PENSAMENTO CORRETO (Sammâ sankapa) (正思维 - Zheng Si Wei)

PALAVRA CORRETA (Sammâ vâcâ) (正语 - Zheng Yu)

AÇ‹O CORRETA (Sammâ kammanta) (正业 - Zheng Ye)

MEIO DE VIDA CORRETO (Sammâ âjiva) (正命 - Zheng Ming)

ESFORÇO CORRETO (Sammâ vâyâna) (正精进 - Zheng Jing Jin)

ATENÇ‹O CORRETA (Sammâ sati) (正念 - Zheng Nian)

CONCENTRAÇ‹O CORRETA (Sammâ samâdhi) (正定 - Zheng Ding)

É evidente que o budismo original proposto por Sidharta foi uma corrente inédita para a época. Buddha
aceitou a ideia do ciclo das reencarnações e a retribuição das boas e más ações cármicas que já existiam antes dele,
mas com uma interpretação diferente. A ideia predominante de que os membros de uma casta reencarnam no mesmo
nível foi abolida. Ele acreditava que nada podia salvar o homem da penúria que lhe impõem a causa e o efeito, nem
mesmo os sacrifícios consequentes nem os rituais habituais que a caterva de deuses convencionais exigia, se o homem
não cuidava para que suas atitudes e ações fossem boas. O budismo proclamou uma moral baseada na consciência
plena do sofrimento de todos os seres vivos e na compaixão universal. Buddha não alimentou a crença em um Deus
pessoal que castiga as individualidades e exonera os pecados mediante obediência cega, mostrou-se resistente a
aceitar a eficiência da doutrina Védica, entretanto ensinou que o homem pode construir seu próprio carma5 em um ato
de completa responsabilidade sobre si mesmo. Esta revolucionária concepção foi aceita rapidamente pela faminta
massa de desesperados que, perseguidos pela dureza das crenças tradicionais, viram nesta luz o caminho da
liberdade incomensurável.

5 Carma (sânsc. Karma – ação). O termo é utilizado para denotar causa e efeito de uma atividade mental ou física,
seja a consequência desencadeada nesta vida ou em uma vida anterior.
22 Especial

A evolução histórica do budismo pode ser estabelecida em quatro períodos:

• Proclamação da doutrina de Sidharta Gautama (séculos VI-V a.C.).

• O budismo sofre interpretações, surgem Concílios e nasce o Budismo Hinayana (século IV a.C. ).

• O budismo Mahayana6 já está elaborado, acoplado a duas derivações fundamentais: o Madhyamaka e o


Yogakara (século I d.C.).

• Surgimento do budismo Tântrico, do Lamaísmo e do Vajrayana (depois do século VII).

No século XIII as chamas do budismo começam a extinguir-se na ¸ndia, mas o calor do seu conteúdo doutrinal havia
alcançado os cantos mais longínquos da ˘sia.

Na China os vestígios do contato com missionários budistas estabeleceram-se ao longo da Rota da Seda, um longo
trecho onde o intercâmbio comercial se fundia com as ideias, os costumes, as tradições e os fundamentos filosóficos e
religiosos das antigas culturas. Muitos monges hindus penetraram por esta via e difundiram entre a população o
budismo Mahâyana, nutrindo-se por sua vez com os primeiros rudimentos conceituais do taoísmo.

A afiliação do budismo com o lugar onde se cultivariam os aspectos mais destacados da arte marcial chinesa remonta
a 386-534 d.C., quando o imperador Xiao Wen Di (孝文帝) da dinastia Wei do Norte ordenou a construção de um
templo budista no condado de Deng Feng Xian (登封縣), provincia de
Henan, ao norte do monte Shao Shi (少室), para um monge indiano
chamado Bhadra. Ao construir o monastério com a ajuda dos
camponeses, plantaram nos arredores jovens pinheiros que protegiam o
monastério dos ventos. Por isso o lugar foi batizado com o nome Shaolin
(少林 - bosque jovem).

No ano 426 d.C., o imperador visitou Shaolin decretando que fosse


ampliado ainda mais com novas construções e proporcionou-lhe uma
guarnição permanente para a proteção contra assaltos de bandidos. Os
monges já não tinham que exaurir-se montando guarda dia e noite, e se
concentraram exclusivamente no autocultivo espiritual do dogma
religioso, em um sistema monárquico onde a meditação e a austeridade
de cerimônias e rituais eram privilegiadas. Nesta situação pouco
favorável para o cultivo físico, as artes de combate foram caindo no
esquecimento e não foi até a chegada de Damo que os conceitos do
Wushu se revolucionaram.

Antiga sala de treinamento no monastério de Shaolin

6 Mahâyana (大乘 - Grande Veículo). Corrente do budismo indiano do século I a.C., elaborada a partir dos conceitos
expostos pelo seu criador Sidhârtha Gáutama. Junto ao Hinayâna (小乘 - Pequeno Veículo), formam as duas escolas
fundamentais do budismo.
23 Especial

Pútidamo ou Damo (達摩), conhecido no Ocidente como Bodhidarma, e no Japão como Bodaidaruma ou Daruma,
nasceu aproximadamente no ano 470 d.C. na ¸ndia. Reconhecido como o vigésimo oitavo patriarca desde Sakyamuni,
o Buda, na linha de transmissão do budismo indiano e o primeiro patriarca do budismo Chan (禅),7 Damo foi discípulo
e sucessor de Prajñadhara 8 e mestre de Hui Ke (慧可), quem o sucedeu como segundo patriarca do budismo Chan na
China.

Convidado pelo imperador Liang Wu (梁武帝) para predicar sua doutrina, Damo chegou à China no ano 527 d.C., no
reinado do imperador Wei Xiao Ming (魏孝明帝). Após uma infrutífera prédica com o monarca, cruzou o rio Huang He
(黃河) em direção ao norte, dirigindo seus passos ao monastério de Shaolin. Sua chegada não agradou ao monge
principal que, intuindo os pontos de vista não convencionais do visitante, temia que fossem introduzidas reformas
religiosas em um sistema doutrinal que durante mais de cem anos havia permanecido fiel à tradição do Mahâyana. Por
estes motivos recusou a entrada de um monge indiano com ideias novas neste ambiente conservador. Segundo conta a
lenda, Damo retirou-se a meditar sob a cúpula de uma caverna próxima e, contemplando a parede de pedra,
submergiu-se no processo de autoconhecimento, vivendo neste recinto natural durante nove anos.9

Espantado pela silenciosa demonstração de perseverança e austeridade, o monge principal permitiu sua entrada no
templo. Damo comoveu-se pelo aspecto doente e o estado de fragilidade física dos devotos. Dedicou-se, então, à tarefa
de desenvolver vários sistemas de treinamento para corpo, mente e espírito,
escrevendo dois clássicos: o Yi Jin Jing, transformação dos músculos e tendões
e o Xi Siu Jing, limpeza de medula e cérebro.

Pela ordem da história poder-se-ia pensar que Damo elaborou seu trabalho
somente pela longa hibernação à que se submeteu durante nove anos frente
ao muro de pedra, mas a verdade é que o budismo, depois da morte do seu
fundador Sidharta Gautama, havia sofrido uma forte mudança em conteúdo e
forma. A assimilação abrangeu todas as teorias e práticas que os devotos
importavam de outras escolas, desde o brahmanismo até as sofisticadas
práticas do Yoga, inclusive os sistemas religiosos construídos posteriormente e
a herança das artes guerreiras dos Ksatriyas. Era de se esperar que a
mensagem que Sidharta proclamara, após alcançar a iluminação em sua
essência das „quatro nobres verdades‰, tivesse se fragmentado em um
complicado sistema de rituais, visualizações, mantras, posturas físicas,
oferendas e obrigações religiosas em um extenso panteão de deuses e
divindades.

Pórtico de entrada à caverna de Damo

7 Corrente budista surgida na China desde os séculos VI -VII d.C. mediante a fusão do budismo Mahâyana com o
taoísmo autóctone. Conhecida no Ocidente como budismo Zen.
8 Patriarca número vinte e sete do budismo hindu.

9 Esta passagem mostra a relevância que obteria nesta corrente do budismo a prática do Da Zuo (打坐 - combate

sentado), término que representa o esforço que demanda focar a mente para aquietar o discurso interno e
compreender a verdadeira natureza das coisas (Dhammas), obtendo a entrada à sabedoria (Paññâ) e a iluminação
espontânea (Citta). Este método condensar-se-ia no monastério de Shaolin com alguns treinos tradicionais de Qigong,
para despertar gradualmente o Dantian e fazer circular o Qi pela órbita celestial menor (小周天).
24 Especial

Já na célebre conversa que Damo manteve com o imperador delimitaram-se claramente os aspectos da sua teoria. O
imperador era um crente fervoroso e acreditava ser merecedor de certos méritos celestiais pelo seu apoio brindado à
construção de alguns templos e sua política de amparo ao budismo. Influenciado por essa tendência da classe
dominante a persuadir o clero para obter a aprovação divina, disse ao monge:

·Quais méritos obtive para minha próxima vida com a minha atitude de aprovação do budismo?

·Nenhum·respondeu Damo com voz cortante..

Contrariado, o imperador insistiu::

·Qual é o sentido da verdade suprema?

·Um vazio interminável, um esquecimento de si mesmo.

O imperador, obviamente não contando com semelhante resposta, engendrou outra estratégia de penetração na obtusa
natureza do seu hóspede.

·Quem está à minha frente?

·Não sei·disse Damo com indiferença.

Neste diálogo Damo mostra com clareza as bases de uma visão que rompe com os cânones do budismo hindu. Ele
não queria uma prática ritualista repleta de obrigações e rotinas onde o homem se esquece da própria
responsabilidade e de seu verdadeiro crescimento interior. Sabia que o ser humano busca a glória, ainda que
ajoelhando-se frente a uma imagem divina. O caminho do autêntico conhecimento baseia-se na sinceridade de dirigir
um esforço adequado sobre si mesmo. Nem carma, nem vida futura, rezas, pedidos, sacrifícios nem votos, podiam
elevar o ser humano sobre a atração permanente que o barro das paixões exerce. O autodomínio e a meditação
constante são as vias para descobrir que o pedaço de carvão de uma montanha pode-se transformar em um precioso
diamante quando polido com humildade e perseverança.

Com este substrato de conhecimento, Damo dispôs de uma ampla gama de informação para elaborar as bases de um
novo enfoque à prática do budismo. Só necessitava combinar corretamente a experiência da ¸ndia com os fundamentos
que o taoísmo lhe oferecia para ter em suas mãos um excelente material com o qual purificar o budismo indiano da
roupagem desnecessária e criar um método de crescimento físico, mental e espiritual de acordo com as leis universais.

Bodhidarma, além disso, não era partidário de um ascetismo passivo onde somente se cultiva a mente e o espírito, pelo
qual propôs um novo enfoque do budismo através de uma filosofia de vida desligada de todo ritualismo efêmero, em
um concentrado esforço para transformar a passividade ascética-religiosa em um exercício tenaz do corpo e do
espírito. O budismo Chan havia nascido com a tendência à busca da iluminação espontânea e sua carência de apego
por cerimônias e rituais.

Se analisarmos cuidadosamente o conteúdo do diálogo entre Damo e o imperador descobriremos os conceitos


fundamentais da filosofia do Wushu:

·Quais méritos obtive para minha próxima vida com a minha atitude de aprovação do budismo?

·Nenhum·respondeu Damo com voz cortante..


25 Especial

O imperador representa o homem cotidiano que é incapaz de realizar uma ação sem esperar um resultado. Este
estado universal de apego não é somente uma pintura histórica com mistura literária, é a imagem permanente do
homem amarrado ao poder: „é mais fácil passar um camelo pelo furo de uma agulha do que entrar um rico no reino de
Deus‰. Cristo não disse isso em vão. O rico queria atingir os confins celestiais com tudo o que não estava disposto a
renunciar. O homem sem vontade sempre tenta um pacto com deus e com o demônio, não pode – nem quer –
compreender que a verdade se mostra quando não temos nada a opor. No Wushu não há iniciação possível ao
domínio de si mesmo se antes não se está disposto a renunciar a tudo. Não há mérito algum com sua prática. Não há
prêmios nem troféus. O destino não é uma competição, é uma passagem pela vida e nestes confins não há espaço
para satisfações pessoais. Praticar Wushu da perspectiva de Damo é entrar pelo olho de uma agulha completamente
nu.

·Qual é o sentido da verdade suprema?

·Um vazio interminável, um esquecimento de si mesmo.

Aqui se expõe claramente a visão do budismo Zen: „sentar-se sem espírito de aproveitar.‰ Quando há abandono e
controle, a consciência atinge o sentido das coisas. O movimento do Wushu deve ser expresso desde o vazio. Não se
pode gerar uma reação verdadeira tentando elaborar a resposta desde o monólogo interno da mente. Somente quando
o guerreiro se esquece de si mesmo pode realizar a ação justa sem
satisfação nem arrependimento.

Wushu é a porta que acessa o inefável. O mesmo estado de


iluminação atingido no budismo é transferido à execução de um gesto
marcial. No Nanhua zhenjing 10 incentiva-se a „acostumar-se ao vazio
para conservar a vida‰. Toda a filosofia oriental nasce da concepção
do vazio.

·Quem está à minha frente?

·Não sei.

Assumir a vida sem ego é uma proeza dificilmente realizável. O homem


busca identificar-se com todas as coisas e não admite uma vida
impessoal. A verdadeira dimensão do ser humano não pode ser escrita
e guardada em um arquivo. Somos muito mais que essa ridícula
sombra que projetamos. O segredo da sabedoria consiste em
reconhecer a própria ignorância. Esta humildade é uma qualidade
fóssil em estado de extinção. O homem não se pode entender com a
lógica formal. Esta divide o antes e o depois e não pode entender que
seja ao mesmo tempo as duas coisas.

O autor com o monge Shi De Chao, no Bosque das Pagodas (Shaolin),


junto à lápide de pedra do reverendo monge Shi Suxi, falecido no ano 2002.

10Nanhua zhengjing (Livro canônico do país das flores do sul). Texto clássico da filosofia taoísta conhecido como
Zhuang Zi (莊子), que remonta ao século IV a.C.
26 Especial

„Não sei‰, é uma excelente alternativa para começar no caminho. O Wushu tradicional é a arte de enraizar-se, o que
significa: „viver integrado ao universo sem divisão nem fronteiras‰.

Damo não somente expôs este pragmático sistema de vida, mas também ensinou aos monges, com o Yi Jin Jing (sistema
de transformação de músculos e tendões), a construir um corpo físico e mental saudável e harmonioso, além de
aumentar a força, pela aplicação de uma teoria energética onde se combina a quietude com o movimento, a tensão
com o relaxamento e a concentração com a respiração. Enquanto que, com o Xi Sui Jing (limpeza de medula e
cérebro), transmitiu os métodos para elevar a capacidade de defesa do sistema imunológico contra os agentes
patógenos exógenos em um treinamento destinado ao fortalecimento da medula e dos ossos. Pela sua grande
complexidade o Xi Sui Jing permaneceu como um segredo dentro de seletos círculos do templo de Shaolin.

Damo também desenvolveu um sistema para o cultivo da força vital denominado Shi Ba Luo Han Quan (as dezoito
mãos do iluminado), o qual assentaria as bases para a criação de muitos estilos de Wushu, incluindo o famoso Wu Xin
Quan (boxe dos cinco animais), o San Shi Qi Shi (三十七式 – boxe das trinta e sete formas), o Hou Tian Fa (後天法 -
técnicas do céu posterior) e o Xiao Jiu Tian (小九天 - técnicas dos nove pequenos céus). Os três últimos desenvolveram a
tendência suave de Shaolin, onde os movimentos rápidos e vigorosos estavam
combinados com intervalos de fluidez e lentidão, em uma cadência
concentrada de espírito, mente, corpo e respiração.

Com o passar do tempo os monges descobriram que não somente fortaleciam


sua saúde senão que também o poder e a força aumentavam
consideravelmente a níveis nunca antes suspeitados. Os artistas marciais
assimilaram esse novo enfoque, criando novos sistemas na medida em que se
aperfeiçoava a teoria de Damo.

Podemos ver como a união do budismo Mahâyana com o taoísmo filosófico


e religioso deu lugar ao budismo Chan. Este sistema de atingir a claridade da
mente e a iluminação penetrou para sempre no caminho das artes marciais,
disseminando-se como uma onda expansiva pelo resto da ˘sia. Como era
possível integrar uma filosofia nascida da não-violência com um sistema
corporal de ataque e defesa? Por acaso o budismo podia conciliar o
desenvolvimento da paz interna com o ardor de um treinamento bélico? Este é
o enigma que Damo relegou à posteridade.

O autor junto ao monge Shi De Chao,


da trigésima primeira geração do monastério de Shaolin.

Mestre José Antonio Reys Garcia (Tony) é praticante de artes marciais desde os 11 anos de idade e desde 1981 pratica os estilos de Kung Fu
Shaolin do Sul. Neste momento tem a mais alta graduação e é o Vice-Presidente da Academia Huang Yu Wen Nam Pai Kung Fu, com sede em Tai
Shang, província de Guang Tong (China). Em 2007 foi nomeado pelo Grão-Mestre Huang Yu Wen como seu sucessor direto.
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andava com uma trouxa onde iam seus pertences e uma
Yang Luchan
Perfil
lança curta, desafiando os Mestres que encontrava pela

O
frente. O mais extraordinário é que afirmam que nunca ma-
Tai Chi Chuan muito deve a essa lendá chucou alguém durante seus combates. Conta-se que certa
ria figura: Yang Luchan, fundador do vez lutou com um Grande Mestre de Kung Fu em cima de
Estilo Yang. um muro e, depois de acertá-lo, segurou-o rapidamente pelo
Nascido em 1789 na província de Hebei, pé para que não caísse 4 ou 5 metros até o chão. Outra
Yang começou a prática das artes marciais ainda cri- história conta que foi desafiado pelo segurança de
ança, como é costume na China, aprendendo o um mandarim. Ele disse que podia atacá-lo a qual-
estilo de sua aldeia com o Mestre Liu. Após a quer momento e soltou uma gargalhada demora-
morte de seu pai serviu como soldado na milícia da. O segurança atacou e foi projetado longe
da aldeia até que seu Mestre lhe recomendou antes que a gargalhada de Mestre Yang aca-
que estudasse artes marciais com o Mestre Chen basse…
Changxin, expoente do Estilo Chen de Tai Chi Outra história interessante é a de
Chuan (NOTA: nessa época, o Tai Chi era uma Chang, um riquíssimo negociante do oeste de
técnica de combate, voltada para lutas reais. Pequim. Ouvindo histórias sobre as proezas
Apenas no início do século XX houve a nova de Mestre Yang Luchan, mandou que o convi-
conotação terapêutica). O problema era que o dassem à sua casa. Mas quando Mestre Yang
velho Mestre Chen só ensinava a arte aos mem- se apresentou o que se viu foi um homem
bros de sua família. Yang, então, se empregou franzino, baixo e vestido com roupas simples.
como criado da família e assistia o treinamento es- Dessa forma, foi tratado com indiferença e
condido, como ocorreu com diversos Grandes Mestres de descortezia por Chang, que lhe serviu um pouco de comi-
Kung Fu. Após muitos anos de práticas escondidas em seu da. Consciente do que acontecia, Mestre Yang pegou seu
quarto, ele foi descoberto e afinal convidado a aprender o vinho e foi beber em um canto isolado, o que enfureceu
estilo Chen oficialmente, o que fez por vários outros anos. Chang. Ele perguntou se Yang era tão bom assim e ele
Voltou finalmente à sua aldeia para ensinar o Tai Chi retrucou que haviam apenas 3 tipos de homens que não
Chuan, mas após um período indefinido, partiu para Pe- podiam sentir seus goles: homens de ferro, homens de bron-
quim (Beijing) para abrir uma escola, desenvolvendo seu ze e homens de madeira. Chang então trouxe um homem
28 próprio estilo. O estilo Yang fez grande sucesso e acabou gigantesco, forte como um touro, professor de seus guarda-
por ser ensinado aos oficiais manchus e membros da no- costas, para “experimentar” o poder de Yang Luchan. Este
breza. Com seus três filhos o assessorando (Yang Banhou, se levantou de má-vontade e foi atacado com a ferocidade
Yang Jianhou e Yang Fenghou), Mestre Yang Luchan propa- de um tigre. Mestre Yang apenas girou seu tronco, se esqui-
gou o Tai Chi Chuan na capital do império, abrindo cami- vando do golpe, e deu um “tapa” que jogou o grande ho-
nho para que outros Mestres de Tai Chi Chuan deixassem mem a várias dezenas de metros, caindo inconsciente. Per-
as aldeias e fossem para as cidades divulgar sua arte. Este cebendo o erro, Chang tratou-o com toda gentileza, servin-
ainda é o estilo mais ensinado em todo o mundo. do-lhe um verdadeiro Banquete Manchu completo!
Sua fama em combate lhe rendeu vários desafios. Em 1872 Mestre Yang Luchan chamou seus filhos e
Conta-se que podia arremessar seus oponentes a até 9 discípulos e deu-lhes as últimas instruções e recomendações,
metros de distância. Durante sua peregrinação à Pequim falecendo em seguida, aos 83 anos.

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