Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Nosso Deus é comunhão-unidade de três pessoas distintas que se amam tanto e tão bem
que são um só Deus. A distinção das pessoas não as leva a se dividirem e se isolarem
umas das outras, mas, ao contrário, é exatamente nessa distinção que se encontra a
riqueza de sua unidade. Por outro lado, a comunhão das três pessoas não as leva a se
confundirem e se misturarem, mas, ao contrário, é exatamente nessa comunhão que se
encontra a beleza de sua diversidade.
COMUNHÃO NA DIVERSIDADE
Trata-se de um modo único de ser e viver. Só Deus é assim. Nós humanos, seja pela
nossa natureza criada e, portanto, limitada no tempo e no espaço, seja principalmente
pelo nosso pecado e, portanto, pela mania de ver tudo de modo egoísta, nós humanos
não conseguimos viver desse modo, na plenitude do amor.
Trindade na Unidade, isto é, trindade de pessoas; por isso: três modos distintos de ser
o mesmo Deus, de o mesmo Deus ser. Só Deus é assim!
A TRINDADE É UM MISTÉRIO
Está claro que a nossa inteligência humana nunca alcançará o entendimento total e que a
nossa linguagem humana nunca conseguirá expressar claramente esse mistério. Não se
pode encaixar Deus dentro de nossos esquemas intelectuais e lingüísticos. Na verdade,
somos nós que estamos envolvidos por esse mistério. “É nele que temos a vida, o
movimento e o ser” (At 17,28).
Em Deus, nós existimos e vivemos. Estamos tão dentro desse movimento de amor e de
vida, que não conseguimos tomar distância necessária para o contemplar de fora. Não
podemos ter Deus diante de nós, como um objeto ao qual estudar e manipular, até
encaixá-lo em nossa cabeça.
O mistério de Deus-Trindade não é algo que se põe diante de nós como um enigma a
resolver. Se assim fosse, quando conseguíssemos resolvê-lo, deixaria de ser mistério,
deixaria de ser Deus!
Criados distintos uns dos outros, pela sexualidade, pela cultura, pelo temperamento,
pela constituição física e psicológica, as distinções entre nós não existem para nos
dividir e excluir-nos uns aos outros, mas para comungarmos uns com os outros o grande
desafio da vida: viver é amar e servir.
Por isso, quanto mais nos amarmos uns aos outros, mais seremos imagem de Deus-
Trindade, mais iremos compreendendo, também com a inteligência, o grande mistério
de Deus-Trindade, fonte e origem de toda a vida. “Todo aquele que ama nasceu de Deus
e conhece a Deus”. Mas, “aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é
amor” (1 Jo 4,7-8).
Refletindo
1.º De que modo manifestamos em nossas relações pessoais e sociais nossa fé no
mistério de Deus-Trindade?
Se Deus é comunhão, quando ele se revela aos israelitas, se revela como comunhão.
Eles é que não tinham condições espirituais e intelectuais de captarem a tripersonalidade
de Deus. Já era muito para eles entenderem que Deus é um só.
No meio de povos politeístas, que reconheciam e adoravam diversos deuses (de ambos
os sexos, para diversas situações...), os hebreus deram dois passos importantes.
O henoteísmo, isto é, o reconhecimento de que o seu Deus, Javé, é maior que os deuses
dos povos estrangeiros, superior a todos os deuses (Dt 10, 17; 1Cr 16,25).
DEUS É UM SÓ
Foi, portanto, um grande avanço, os judeus conseguirem captar a revelação de que Deus
é um só. A esse Deus é preciso amar de todo o coração e com toda a inteligência,
dedicando toda a vida pessoal e coletiva (Dt 10,12). Escutar-lhe a palavra e obedecer à
sua vontade, é o caminho da verdadeira vida (Dt 10,13).
Bom e piedoso judeu, Jesus nos ensinou que o mandamento dos israelitas - o amor a
Deus e, correspondentemente, o amor ao próximo -, vale também para os seus
discípulos, é a lei dos seus seguidores (Mt 22,34-40).
TRIPERSONALIDADE?
Ao lermos os escritos da Primeira Aliança, ficam algumas perguntas, que nós cristãos
poderíamos responder no sentido de uma preparação para a revelação trinitária.
Alguns exemplos:
• Quem era o anjo de Javé (Gn 16,7-12; 31,11-13; Ex 3,2-4; 14,19; 1Rs 19,5-7; 2Rs
1,3s), que acompanha o povo, ajuda os oprimidos, manifesta a sabedoria de Deus, às
vezes distinto, às vezes idêntico a Deus?
• Quem eram os três homens/anjos (Gn 18) que aparecem a Abraão em Mambré, às
vezes apresentados no singular, às vezes no plural, às vezes identificados com Javé, às
vezes distintos?
• Quem era a Sabedoria (Pr 1,20-33; 8,1—9,6; Jó 28,12-28; Eclo 24; Sb 6,12—8,1), que
grita nas praças, com uma existência quase autônoma com relação a Javé, co-ajudante
na criação do mundo?
• Quem era a Palavra (Sl 119,89; 147,15s; Sb 16,12), por meio de quem Deus cria tudo
e se manifesta em meio aos seres humanos?
• Quem era o Espírito (sopro, vento) (Is 4,4-6; 42,1-4; 61,1-3; Ez 11,19; 18,31; 36,26-
27; 37,1-14), por meio de quem Deus cria o mundo, escolhe os líderes políticos e os
profetas, se apossará do Messias anunciado e renovará os corações e toda a criação?
Mesmo que não possamos responder diretamente, afirmando ser uma ou outra das três
pessoas divinas, entendemos que são sinais que apontam para a revelação do Deus-
Trindade.
Nós, cristãos, acreditamos que Deus é amor, é comunhão de três pessoas distintas.
Cremos, não a partir de estudos científicos, especulações filosóficas, descobertas
racionais, mas a partir da revelação do próprio Deus.
Nunca saberíamos que Deus é comunhão, se ele mesmo não tivesse vindo a nós, se não
tivesse se manifestado, primeiramente ao povo de Israel e, depois, de modo definitivo,
através de Jesus Cristo, aos primeiros cristãos.
Revelação progressiva
É Jesus quem nos desvenda o mistério de Deus como comunhão de amor entre o Pai e o
Filho - que é ele mesmo - e o Espírito Santo.
Esta revelação está registrada nos escritos do Novo Testamento. Em nenhum lugar
desses escritos está afirmado expressamente que Deus é uma só natureza em três
pessoas, mas encontramos aí diversas referências ao ser e ao agir de cada uma das
pessoas, como três sujeitos de um mesmo projeto, três agentes de um mesmo desígnio,
que é a salvação da humanidade.
Ensinam apenas que toda a história da salvação é obra de três sujeitos distintos,
reconhecidos - todos os três - como Deus.
Desde a criação até o fim dos tempos, a humanidade e o universo estão envolvidos por
um plano misterioso de amor e de vida, desenvolvido por três sujeitos distintos.
Outro é o próprio Jesus de Nazaré, que se afirma como o Filho eterno do Pai, o Verbo
de Deus que desde sempre vive com o Pai na eternidade e um dia se fez homem para
nos salvar. Ele é o Enviado do Pai, o anunciador e iniciador do Reino de Deus, o amigo
dos pobres e pecadores, o pregador da justiça e da misericórdia, o Messias que não foi
aceito pelos chefes judeus, que foi levado à morte, que ressuscitou e foi exaltado à
glória do Pai.
Outro é o Espírito Santo, descido sobre Maria para fecundá-la como Mãe do Salvador,
vindo sobre Jesus para ungi-lo como Messias, enviado sobre os Apóstolos para
fortalecê-los na comunhão e na missão, chamado por Jesus de advogado e consolador,
enviado pelo Pai e pelo Filho para continuar a missão de Jesus de Nazaré, presente na
comunidade de fé, no coração dos fiéis e no mundo para tudo santificar e renovar.
Para refletir
1. Que diferenças há entre o Antigo e o Novo Testamento na maneira de Deus falar de
si e na maneira de os seres humanos falarem de Deus?
A REVELAÇÃO DO DEUS-TRINDADE
Nos Escritos Cristãos
Nós, cristãos, acreditamos que Deus é amor, é comunhão de três pessoas distintas.
Cremos, não a partir de estudos científicos, especulações filosóficas, descobertas
racionais, mas a partir da revelação do próprio Deus.
Nunca saberíamos que Deus é comunhão, se ele mesmo não tivesse vindo a nós, se não
tivesse se manifestado, primeiramente ao povo de Israel e, depois, de modo definitivo,
através de Jesus Cristo, aos primeiros cristãos. Somente em Jesus de Nazaré nos é
revelada a essência mesma de Deus.
Nos Escritos Judaicos foi revelada a unidade e a unicidade de Deus, mas, nos Escritos
Cristãos, nos é revelado que essa unidade se constitui de um movimento de vida de três
pessoas distintas.
É Jesus quem nos desvenda o mistério de Deus como comunhão de amor entre o Pai e o
Filho (que é Ele mesmo) – e o Espírito Santo.
Esta revelação está registrada nos escritos do Novo Testamento. Em nenhum lugar
desses escritos está afirmado expressamente que Deus é uma só natureza em três
pessoas.
Mas encontramos aí diversas referências ao ser e ao agir de cada uma das pessoas, como
três sujeitos de um mesmo projeto, três agentes de um mesmo desígnio, que é a salvação
da humanidade.
Estão mais interessados no seu agir, no seu Reino, naquilo que Deus-Trindade fez e
continua fazendo na história, em favor dos pequenos e pobres e de todo o povo.
Ensinam apenas que toda a história da salvação é obra de três sujeitos distintos,
reconhecidos – todos os três – como Deus.
PAI-FILHO-ESPÍRITO SANTO
Desde a criação até o fim dos tempos, a humanidade e o universo estão envolvidos por
um plano misterioso de amor e de vida, desenvolvido por três sujeitos distintos: Pai,
Filho, Espírito Santo.
Outro é o FILHO, Jesus de Nazaré, aquele que se afirma como o Filho eterno do Pai, o
Verbo de Deus que desde sempre vive com o Pai na eternidade e um dia se fez homem
para nos salvar, o enviado do Pai, o anunciador e iniciador do Reino de Deus, o amigo
dos pobres e pecadores, o pregador da justiça e da misericórdia, o Messias que não foi
aceito pelos chefes judeus, que foi levado à morte, que ressuscitou e foi exaltado à
glória do Pai.
Outro é o ESPÍRITO SANTO, descido sobre Maria para fecundá-la como Mãe do
Salvador, vindo sobre Jesus para ungi-lo como Messias, enviado sobre os Apóstolos
para fortalecê-los na comunhão e na missão, chamado por Jesus de advogado e
consolador, enviado pelo Pai e pelo Filho para continuar a missão de Jesus de Nazaré,
presente na comunidade de fé, no coração dos fiéis e no mundo para tudo santificar e
renovar.
Refletindo
1.º Como percebemos o agir das três pessoas da Santíssima Trindade, no pensamento
dos evangelistas e apóstolos?
3.º Como nos posicionamos diante das Três Pessoas, que agem também em nossa
história pessoal?
Os primeiros cristãos viveram o amor ensinado e vivido por Jesus. Como nos relatam os
Atos dos Apóstolos, no rimeiro retrato da comunidade, eram perseverantes em ouvir o
ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir o pão e nas orações..., eram
unidos e colocavam em comum todas as coisas, vendiam suas propriedades e seus bens
e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um (At 2,42.44-45).
Mais adiante, num outro retrato, se testemunha que a multidão dos fiéis era um só
coração e uma só alma (At 4,32).
Mas, se o coração tem razões que a própria razão desconhece, como diz o ditado
popular, é também verdade que o coração quer saber das coisas, quer entender com a
razão e a inteligência o sentido profundo de suas pulsações e paixões.
Apaixonados por Deus-Trindade, os cristãos dos primeiros séculos não diziam, como
nós dizemos hoje, que em Deus nós temos “uma só natureza em três pessoas”. Essa
expressão só apareceu no final dos anos 200. Até lá, eles simplesmente narravam as
maravilhas operadas pelas três pessoas. Ainda não faziam teologia como ciência, como
estudo racional da fé. Apenas repetiam, de todos os modos possíveis, nas celebrações
dos sacramentos, nas profissões de fé, na catequese e em todos os momentos da vida
cristã, o que cabia a uma ou outra pessoa divina.
TESTEMUNHANDO A TRINDADE
Saúda os destinatários de suas cartas com a fórmula utilizada, já naqueles tempos, nas
celebrações: a graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus e a comunhão do Espírito
Santo estejam com todos vocês (2 Cor 13,13; ver também: Rom 16,20-21; 1 Cor 16,23;
1 Tes 5,28; 2 tes 3,18).
Outros autores, além de Paulo, também testemunham a vida trinitária das primeiras
comunidades. Trazemos aqui apenas alguns exemplos.
Pedro inicia sua primeira carta lembrando a relação única de cada cristão e da
comunidade com a Trindade: “Escolhidos por Deus Pai, santificados pelo Espírito e
purificados pelo sangue de Jesus Cristo” (1Pd 1,2).
Judas Tadeu, em sua cartinha, estimula os cristãos a rezar no Espírito, manter-se no
amor do Pai e esperar a misericórdia do Filho (Jd 20.21).
João, na sua primeira carta, depois de lembrar que o Pai nos deu seu Filho e o Espírito
Santo, incentiva os cristãos a viverem na comunhão divina, definindo, pela única vez
em toda a Escritura, que “Deus é amor” (1 Jo 4, 8 e 16).
PARA REFLETIR
1.º Em que medida a vida atual de nossas comunidades reflete a vida das primeiras
comunidades?
2.º Em que devemos mudar paranos nos tornarmos mais semelhantes aos primeiros
cristãos?
Quem ama a Deus quer conhecê-lo sempre mais. Mesmo sabendo que nunca
conseguiremos encaixá-lo totalmente em nossos pensamentos e em nossa linguagem,
não podemos nos contentar, simplesmente, com o que nos é dito nos escritos bíblicos.
Acreditando em Jesus, que nos prometeu o Espírito da Verdade para nos encaminhar
ao conhecimento de toda a verdade (Jo 16,13).
Nós, cristãos, ousamos fazer perguntas e elaborar teorias a respeito de nossa fé. Não se
trata de desrespeito ao mistério. Ao contrário, a fé procura a inteligência, como nos
ensinam os mestres da teologia.
É preciso dar razões de nossa esperança e de nossa fé a todo aquele que os pedir (1 Pd
3,15). Por isso, partindo dos dados bíblicos, avançamos entre a reverência e a audácia
para entender também com a razão quem é e como é o nosso Deus.
EXPLICAR A FÉ
Nesse sentido, os primeiros cristãos foram logo desafiados a explicar a sua fé. A
primeira grande questão vinha do judaísmo. Diante dos judeus da Palestina e daqueles
que estavam espalhados pelas cidades do Império Romano, os cristãos se viram
envolvidos numa séria polêmica.
O judaísmo ensinava que Deus é um só, o Javé de Israel, Criador do mundo e Senhor
da história. Como então explicar aos judeus, de cuja fé e aliança os cristãos
participavam, que de fato Deus é um só, mas em três realidades distintas?
Outras questões vieram com o encontro dos cristãos com o mundo da cultura greco-
romana. Tiveram aí, diante de si, outras questões bastante empenhativas. A cultura
grega politeísta era bastante receptiva à existência de diversos deuses.
Como constatamos nos Atos dos Apóstolos, São Paulo elogiou a religiosidade dos
atenienses que erigiam altares para diversos deuses e, para não deixar nenhum de fora,
haviam até construído um altar ao Deus desconhecido (At 17,22-23).
Como explicar a esses povos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo não eram três novos
deuses, mas um só e o único Deus verdadeiro? A filosofia grega havia chegado à
conclusão de que Deus existe e é o Ser supremo, a Causa primeira de todas as coisas, o
Ordenador da harmonia cósmica, a simples Unidade.
Como anunciar a esses estudiosos que o Deus verdadeiro veio a nós na figura humana
e mortal de Jesus de Nazaré e, se é unidade, é também diversidade?
GNOSTICISMO
O gnosticismo (do grego gnosis = conhecimento) era uma espécie de filosofia de vida
que ensinava a necessidade de conhecer o sentido primeiro e último de todas as coisas,
encontrado somente em Deus e no mundo do além, do puramente espiritual. Segundo
essa filosofia, a matéria do mundo e do corpo humano eram más, conseqüência de
algum desvio acontecido no mundo do além.
Uma queda no mundo material, frágil e mortal teria sido o castigo por esse desvio.
Portanto, o bem seria alcançado com o conhecimento do mundo espiritual, o único
verdadeiro, e com a conseqüente rejeição e fuga do mundo e do corpo materiais, que
seriam somente carcaça e cadeia da alma prisioneira.
Um Deus que, livremente e por amor, criou esse mundo tão marcado pela fragilidade?
Um Deus que se fez homem, passou pelo sofrimento e pela morte e, ressuscitando, abriu
caminho para a ressurreição e a glorificação de todos os seres humanos e de todo o
mundo material?
Um Deus que sustenta e santifica a matéria, chamando-a, com o ser humano, à
divinização?
Refletindo:
1) Como essas questões continuam, ainda hoje, presentes no modo de pensar e viver de
nosso povo?
DEUS-TRINDADE: MODELO DE
COMUNIDADE
Por ser assim, amor, simplesmente amor, Deus-Trindade é modelo de comunidade.
Não somente modelo, mas também fonte e origem e inspiração para relações
comunitárias que sejam verdadeiramente humanas. Não somente modelo, mas
também crítica de todas as relações desumanas, opressoras e exploradoras,
injustas, egoístas e mesquinhas.
FRUTOS DO AMOR
O apóstolo João exulta de alegria ao anunciar essa descoberta: “Vejam que prova de
amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos/filhas de Deus. E nós de fato o somos! Se
o mundo não nos reconhece (e às vezes nós mesmos não nos reconhecemos), é porque
também não reconheceu a Deus” (1 Jo 3,1).
Criados por um Deus-Amor, nós somos frutos do amor. Nós já somos divinos,
embora, por causa da nossa condição terrena e mortal e, mais ainda, por causa das
rupturas do pecado, essa nossa condição divina fique obscurecida.
SER CRISTÃO
Ser humano e, mais ainda, ser cristão, é espelhar na terra a nossa origem trinitária.
Adaptando o ditado “tal pai, tal filho”, poderíamos dizer: “tal Deus-Amor criador, tal
ser humano-amor, tal humanidade-amor”.
Com o olhar da fé, podemos enxergar essa realidade no fundo de nossos próprios
corações, no rosto confiante das crianças, na face serena dos idosos e idosas, no sorriso
jovial da juventude e da adolescência.
SOMOS DIFERENTES
Afinal, como Paulo, nós sabemos em quem pusemos nossa confiança e nossa fé (2 Tim
1,12); como João, “nós reconhecemos o amor que Deus tem por nós e acreditamos
nesse amor” (1 Jo 4,16). Nós não somos como os outros, tristes e angustiados, “que não
têm esperança” (1 Tes 4,13).
A última palavra, nós bem sabemos, não será a do algoz, do tirano e do poderoso
prepotente. Mas será do Deus libertador e amigo, que da morte e da cruz faz brotar a
vida nova da ressurreição, que transforma a dor e o luto em força e energia para novos
tempos.
REFLETINDO:
1) De que maneira espelhamos no ministério catequético, na vida familiar e no serviço à
Igreja, o amor de Deus?
2) O que falta à nossa comunidade cristã e à nossa sociedade para serem sinais da
comunhão divina trinitária?
NA IGREJA PRÉ-CONCILIAR
Até o Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja era considerada mais pelo seu lado
institucional que pela sua dimensão de mistério. Era entendida como uma sociedade
perfeita, tão bem organizada como qualquer país ou cidade. Sabia-se quem a ela
pertencia, através de condições facilmente verificáveis: recepção do batismo e prática
dos outros sacramentos, obediência à hierarquia, disciplina moral.
NO CONCÍLIO VATICANO II
Na Constituição Dogmática sobre a Igreja, chamada Lumen Gentium (luz dos povos),
o Concílio Vaticano II lembra que a Igreja é, na terra, imagem da Trindade. Ela vem da
Trindade, vive na Trindade e vai para a Trindade. Sua origem, sua existência e sua meta
encontram-se na comunhão trinitária.
SINAL DO REINO
Ela não é uma organização qualquer, como um Estado, um partido político, uma
associação sindical, um clube social, um grêmio esportivo. As ciências humanas e
sociais, como a história e a sociologia, a política e a economia, entre outras, nunca
conseguirão captar o sentido mais básico e original da Igreja. Poderão estudá-la segundo
diversas abordagens, pois afinal ela é constituída de seres humanos. Em seus estudos,
poderão abrir muitas pistas e apontar muitas luzes, a fim de que ela consiga entender-se
a si mesma e cumprir sua missão. Mas, o único olhar que capta o núcleo central da
Igreja é o olhar da fé.
Somente quem crê em Deus-Trindade compreenderá o sentido e a missão da Igreja.
Assim, os pecados que cometemos contra a Igreja, tais como indiferença em participar
dos sacramentos, omissão quanto aos serviços pastorais, fechamento em grupos e
movimentos, maledicência e fofocas que provocam divisões, desrespeito às
lideranças..., são pecados cometidos contra a fé, a caridade e a esperança, isto é, as
virtudes teologais, que nos põem em relação cada vez mais direta com Deus-Trindade.
REFLETINDO:
2) De que modo poderemos colaborar para que a Igre ja reflita mais claramente a
comunhão trinitária?
COMUNHÃO TRINITÁRIA
Em seu mistério trinitário, Deus é uma comunidade, uma família, uma equipe, um
grupo. Deus é comunhão, convive e age em grupo eternamente. Deus decide tudo em
grupo, em equipe, porque tudo o que a Trindade santa faz é comum às três pessoas
divinas. Deus não vive separado, não é solitário, não é isolado, não é individualista.
Deus é comunhão do “eu” singular do Pai diante do “tu” do Filho, seu único e mais
perfeito interlocutor, ambos constituindo o “nós” do Espírito Santo, que é uma pessoa
em duas realidades de amor infinito, que se identifica como pessoa no amor do Pai e do
Filho, totalmente voltado a ser e garantir o amor entre os dois.
Deus, comunhão trinitária, criou o ser humano para a comunhão. Ninguém foi criado
para ser sozinho, para virar-se sozinho na vida. Todo ser humano é criado para ser
relacional, dialogal, comunicativo.
Desde sua criação, a pessoa humana é, por natureza, um ser social. Ao criar o ser
humano, na dualidade entre homem e mulher, Deus-Trindade inscreve neles o chamado
e a capacidade para a comunhão. Para corresponder a essa vocação inata no coração e
na constituição do ser humano, é preciso viver em comunidade, em grupo, em família.
Nenhuma das pessoas divinas existe para si, mas para as outras duas. Cada pessoa
divina se define como alguém, isto é, encontra sua identidade e personalidade,
exatamente na relação com as outras duas. Cada pessoa divina vive eternamente para as
outras duas, com as outras duas, a partir das outras duas.
Também a maior glória da Trindade é a vida comunitária do ser humano, de modo que
todos e cada qual possam ser verdadeiramente humanos, isto é, dialogais, comunitários.
Assim, quanto mais humanos, mais divinos e trinitários nós seremos.
Nessa direção e meta comum a toda a humanidade, a Igreja é por excelência um farol,
uma baliza, um sinal. Ela é a comunhão dos que vivem trinitariamente, a exemplo das
pessoas divinas.
Por isso, qualquer que seja a paróquia, o setor de pastoral, o movimento, o grupo, o
organismo, de que alguém participe, sua primeira missão é favorecer a criação de uma
Igreja cada vez mais ministerial, ecumênica, solidária, missionária.
Quem se isola em grupinhos e panelinhas ofende, não somente a Igreja e sua ação
pastoral, mas agride violentamente o manancial trinitário de onde tudo brota.
REFLETINDO:
1) Quais os sinais que existem entre nós, na nossa ação Pastoral de que somos imagem
de Deus-Trindade?
FAMÍLIA
A primeira imagem-símbolo que nos vem à mente é a da família bem constituída, onde
temos três categorias de pessoas (pai, mãe, filhos), cada uma com carismas e encargos
próprios. Também podem ser sinais da Trindade uma comunidade, um grupo de oração
e reflexão, um grupo de amigos, onde as pessoas são diferentes, mas têm objetivos
comuns, onde as alegrias são multiplicadas e os sofrimentos divididos, onde se aprende
a conviver e a lutar juntos pela solução dos problemas. São ainda símbolos muito
comuns da Santíssima Trindade:
a) três anéis entrelaçados, que podem ser vistos soltos para visualizar a Trindade das
pessoas, ou sobrepos tos para visualizar a unidade do ser divino;
b) três velas acesas num só fogo;
c) três pessoas abraçadas numa ciranda alegre e festiva;
d) vaso de três flores da mesma espécie em três cores diversas;
e) o triângulo eqüilátero.
O QUADRO DE RUBLEV
Outra imagem muito bonita é o quadro do artista russo, ortodoxo, dos três homens de
Mambré, hóspedes de Abraão, figuras de Javé. No relato do Gênesis (capítulo 18), a
própria linguagem trai o fascínio do mistério, às vezes usando o singular, às vezes o
plural, para contar o fato. No quadro, o pintor Rublev, do século XIV, apresenta os três
com rosto idêntico para mostrar a mesma identidade, mas com roupagens e posições
diferentes para indicar a distinção de cada um.
Um outro quadro é o dos três círculos entrelaçados, um desenhado com a mão aberta
para baixo para representar o cuidado providencial do Pai, outro com a cruz para
simbolizar a entrega amorosa do Filho e outro com a pombinha para significar a
liberdade irradiante do Espírito.
NATUREZA
Muitos elementos da natureza podem ser apreciados em sua ternariedade (três aspectos).
Nas plantas vemos: na raiz, o Pai que dá segurança e sustento; no tronco, o Filho que se
apresentou como videira pela qual nos vem a graça; no fruto, o Espírito Santo com seus
dons e carismas.
Na água temos três estados que lembram: no sólido/gelo, o Pai fundamento de todas as
coisas; no líquido/fluidez, o Filho em sua caminhada pelo mundo; no gasoso/vapor, o
Espírito Santo em sua presença misteriosa em todas as coisas.
Na água temos ainda três formas: a fonte, na qual percebemos o Pai, origem de todas as
coisas; o rio, no qual vislumbramos o Filho que vem do Pai e atravessa o mundo; o mar,
no qual entrevemos o Espírito Santo, a confluência de todas as nossas ações.
Três astros marcam profundamente nossa existência: o sol, que é imagem do Pai que
nos aquece em seu amor; a terra, que é símbolo do Filho no qual e a partir do qual
temos a vida; a lua, que é sinal do Espírito Santo a nos iluminar as mentes nas noites
escuras da fé.
O espaço é tridimensional: a altura nos recorda o Pai que está no alto dos céus; a
largura nos lembra o Filho que veio a nós no espaço e no tempo; a profundidade nos
indica o Espírito Santo que infunde o amor em nossos corações.
REFLETINDO:
1) Como estes símbolos nos ajudam a entender o misté- rio de Deus-Trindade?
2) Qual desses símbolos é o mais interessante? Por quê?
3) Que outros símbolos poderíamos acrescentar?
SPIRITUALIDADE TRINITÁRIA
Integrada e Integradora
Se o nosso Deus é Trindade, toda a nossa espiritualidade deveria ser trinitária. Os
cristãos entendem sua espiritualidade não como um conjunto de ações religiosas,
fechadas num mundo intimista de sacristia, mas como estilo de vida segundo o Espírito
de Deus. Um estilo, um jeito de viver, que perpassa todas as relações humanas, desde a
interioridade pessoal, passando pela família e comunidade, até atingir a sociedade e o
cosmos.
Os cristãos se sabem sempre diante de três pessoas: Abbá, Ieshuá e Ruah (Pai, Jesus e
Espírito, na língua hebraica, uma das línguas da revelação bíblica)! Cada uma delas nos
enriquece com os dons e carismas próprios de sua personalidade, de sua identidade e de
sua peculiar presença e ação na criação e na história. Mas não se pode, sob pena de
perdermos a característica trinitária da fé cristã, exagerar a relação com uma só das
pessoas divinas, menosprezando as outras.
A Ele nos dirigimos horizontalmente, como um de nós. Ele é Emanuel, Deus conosco,
no meio de nós, entre nós. Um Deus feito homem em tudo, nas fraquezas e
obscuridades de nossa natureza frágil e mortal, mas que venceu o pecado, que não se
deixou manipular pelas tentações da idolatria do ter mais, poder mais, gozar mais a
vida, em detrimento dos outros.
Nós o amamos nos irmãos e irmãs, sobretudo, nos mais pequenos e pobres, com quem
ele quis se identificar. Sua presença permanente entre nós, na Eucaristia e na Palavra, na
comunidade e nos pobres, nos pastores e servidores de sua Igreja, é um apelo constante
e intransferível ao empenho pela transformação da realidade do mundo pecador em
novos céus e terra.
Ele é o Deus dentro de nós, mais íntimo a nós que nós a nós mesmos. E como ele está
em mim, está também em cada qual de meus irmãos e irmãs, de qualquer raça ou
cultura, igreja ou religião. Faz-me/faz-nos sentir a beleza e o encanto da filiação divina.
Promove a alegria, o louvor, a festa. Como ele é na Trindade o laço do amor entre Pai e
Filho, garantindo a perfeita unidade na plena distinção entre os dois, assim ele me/nos
induz ao diálogo com o diferente, me/nos ensina a apreciar a singularidade na
pluralidade, a unidade na diversidade.
REFLETINDO:
IGREJA: ÍCONE DA
TRINDADE
Numa linguagem teológica, diz-se que a origem da Igreja está no próprio mistério de
Deus-Trindade. Numa linguagem histórica, menciona-se a história de Jesus de Nazaré
como início da Igreja. Essas duas linguagens se implicam mutuamente, porque Jesus de
Nazaré é a presença humana do Deus eterno em nossa história.
A IGREJA E A TRINDADE
A Igreja tem sua origem, seu sentido e sua meta no mistério de Deus-Trindade. Ela vem
da Trindade, vive na Trindade e vai para a Trindade. Ela é na terra a imagem da
Trindade celeste. A Igreja é o ícone da Trindade. A comunhão perfeita das três pessoas
divinas é a semente, a raiz, o tronco, a seiva da comunhão da Igreja. Poderíamos dizer
que as três pessoas divinas são os primeiros membros da Igreja, o cerne da comunhão
eclesial.
Os três divinos são distintos entre si, numa distinção que não leva à divisão, mas sim à
comunhão mais plena. Assim a Igreja é a comunhão, embora imperfeita, na diversidade
de povos, línguas e nações, de carismas e dons, de vocações e ministérios. As três
pessoas divinas comungam entre si o mesmo amor, a mesma liberdade e consciência, o
mesmo poder e glória, numa comunhão que não anula as diferenças, que não reprime as
distinções.
IGREJA: COMUNHÃO E DIVERSIDADE
Também a Igreja não é um caldeirão que tudo massifica numa geléia geral, pondo todos
numa mesma forma. É na diversidade que se encontra a beleza da Igreja. Diversidade na
comunhão, comunhão na diversidade. Tal Trindade, tal Igreja. É claro, com as devidas
diferenças. A comunhão trinitária é eterna e, por isso, plena e perfeita. A comunhão
eclesial é humana e histórica e, por isso, imperfeita e peregrina.
A NOVA ALIANÇA
Historicamente falando, a Igreja tem sua origem na revelação histórica desse Deus-
Trindade. Desde que criou o mundo, Deus já quis a Igreja, previu a unidade de todos os
seus filhos e filhas na comunhão com Cristo. É a Igreja na ordem da criação. Mas, como
a aliança da criação com a humanidade foi rompida pelo pecado humano, Deus escolheu
o povo de Israel, com quem fez uma aliança de presença e de palavra, de lei e de
promessa. Temos aí a Igreja, sob a ordem da lei.
Mas é com Jesus Cristo que Deus-Pai estabelece a nova e eterna aliança com a
humanidade. Como anunciador da Boa Notícia do amor do Pai aos pobres e do Reino de
justiça para todos, ele reuniu ao seu redor um grupo de pessoas que nele acreditaram,
seguindo-o em sua prática de solidariedade com os marginalizados e de denúncia das
idolatrias do dinheiro e do poder. Um grupo que pode ser apresentado em forma
dinâmica de concentração e expansão: multidões, setenta e dois discípulos, doze
apóstolos, três amigos íntimos, um líder.
A NOVA IGREJA
Foi quando o próprio Jesus lhes apareceu ressuscitado, confirmando sua missão
messiânica, infundindo-lhes seu Espírito, enviando-os a anunciar a todo o mundo o seu
Evangelho, prometendo-lhes sua presença permanente entre eles e elas.
A Igreja nasce das duas mãos do Pai: de Jesus de Nazaré e do Espírito Santo, da cruz e
do cenáculo, da Páscoa e de Pentecostes, do sangue derramado pelo coração aberto do
Mestre e do fogo descido sobre a cabeça dos discípulos.
Para refletir: