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DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
Orientador:
Prof. Doutor José Luis Garcia
MARÇO 2006
Resumo
Assistimos nos últimos anos à intensificação da utilização das TIC, quer na esfera do
trabalho, quer na esfera do lazer. Partindo da problematização da interdependência que se
estabelece entre as TIC e as sociedades, é equacionado o modo como a Internet é integrada na
actividade regular dos jornais enquanto mass media, nomeadamente salientando o necessário
enquadramento económico, técnico e cultural que medeia essa apropriação, considerando que
esta é fruto do encontro entre um universo técnico e um universo social, cada um com as suas
lógicas, sendo necessárias adaptações da parte de ambos.
Abstract
For the past few years we have witnessed an increase in the use of ICTs, both in the
work and in the leisure spheres. From the standpoint of the intertwining of ICTs and societies,
this document approaches the way in which the Internet is used in the regular activity of
newspapers as Mass Media, namely by underlining the economic, technical and cultural
frameworks that underlie such integration; an integration which is the point where a technical
universe meets a social universe, each with its own logics, making it necessary for either side
of the equation to adapt to the other.
Palavras-chave:
sociedade da informação, tecnologias da informação e comunicação, internet,
jornalismo
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«(…) no último quarto do século XX (…) o panorama da Comunicação Social
portuguesa transformou-se profundamente: registaram-se mudanças
complexas no sistema global dos media, extensivas a todos os seus
sub-sistemas, desde as estruturas organizativo-empresariais, aos modos de
financiamento e sustentação (…), aos processos técnicos e tecnológicos de
“fabrico” de informação, à recomposição social dos agentes produtores da
informação (…) e aos próprios circuitos e formas de interacção dos media
com os seus públicos/audiências» (Media, Jornalismo e Democracia, 2002;
p.62).
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INDICE
09 - 1. introdução
10 - 2. problemática
10 - 2.1. ecos de hipodermismo
12 - 2.2. uma abordagem multidimensional
13 - 2.3. uma clivagem decisiva no seio da comunicação
14 - 2.3.1. as técnicas analógicas de Comunicação Social e a cultura da
argumentação
15 - 2.3.2. as técnicas digitais de Comunicação Social e a cultura da evidência
17 - 2.4. dois campos no seio das TIC
19 - 2.5. o campo dos media: o jornalismo enquanto objecto de estudo
22 - 3. aspectos metodológicos
22 - 3.1. objecto empírico
22 - 3.2. instrumentos de recolha de dados
24 - 4. a modernidade
24 - 4.1. enquadramento económico da imprensa em portugal
26 - 4.1.1. a rentabilidade online
28 - 4.2. enquadramento técnico e social da imprensa em portugal: a internet
33 - 4.3. representações da internet
37 - 4.4. potencialidades técnicas do Jornalismo na Internet
38 - 4.4.1. o imediatismo e a reutilização de conteúdos
46 - 4.4.2. a hipertextualidade e a rotina da imprensa escrita como metáfora
52 - 4.4.3. a multimedialidade e a rotina da imprensa escrita como metáfora
58 - 4.4.4. a interactividade e a rotina da imprensa escrita como metáfora
67 - 4.5. outros eixos de diferenciação online v. papel
76 - 4.6. outros papéis: os vínculos contratuais
77 - 4.7. outros papéis: o horário
79 - 5. conclusões
79 - 5.1. dimensão económica
80 - 5.2. dimensão social
81 - 5.3. dimensão técnica
81 - 5.3.1. uma falácia actual que é uma falsa novidade
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83 - 5.3.2. aproveitamentos observados
84 - 5.4. epílogo
87 - 6. bibliografia
98 - 7. anexo 1
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INDICE DE QUADROS
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51. Quadro nº21 - Presença de ilustrações audio e/ou vídeo nas páginas interiores, por
publicação e ambiente
52. Quadro nº22 - Representação do carácter multimedia de uma notícia, por publicação
52. Quadro nº23 - Representação da natureza audio de um site de um medium, por publicação
53. Quadro nº24 - Representação da presença de fotografias no site de um medium, por
publicação
54. Quadro nº25 - Representação da presença de imagens video no site de um medium, por
publicação
54. Quadro nº26 - Representação da presença de imagens video no site de um medium, face à
formação específica dos inquiridos para utilização da Internet
56. Quadro nº27 - Possibilidade de envio de uma notícia por e-mail, por publicação
58. Quadro nº28 - Possibilidade de comentário a uma notícia, por publicação
58. Quadro nº29 - Representação da interactividade das edições online face às edições em
papel, por publicação
59. Quadro nº30 - Representação da interactividade do site do medium do inquirido, por
publicação
60. Quadro nº31 - Representação da interactividade entre jornalistas e públicos, por
publicação
60. Quadro nº32 - Representação do contacto com a redacção do medium do inquirido através
do seu site, por publicação
61. Quadro nº33 - Representação da disponibilização do endereço de e-mail no site de um
medium, por publicação
62. Quadro nº34 - Hábitos de leitura de e-mail recebido dos públicos, por publicação
62. Quadro nº35 - Hábitos de resposta a e-mail recebido dos públicos, por publicação
64. Quadro nº36 - Âmbito geográfico das notícias de primeira página, por ambiente
64. Quadro nº37 - Âmbito geográfico das notícias de primeira página, por publicação e
ambiente
65. Quadro nº38 - Âmbito geográfico (recodificado) das notícias de primeira página, por
publicação e ambiente
66. Quadro nº39 - Tema das notícias de primeira página das publicações generalistas, por
ambiente
66. Quadro nº40 - Tema das notícias de primeira página das publicações desportivas, por
ambiente
67. Quadro nº41 - Tema das notícias de primeira página das publicações generalistas, por
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publicação e ambiente
68. Quadro nº42 - Autoria das notícias de primeira página, por ambiente
69. Quadro nº43 - Autoria das notícias de primeira página, por publicação e ambiente
71. Quadro nº44 - Fontes citadas nas notícias de primeira página, por publicação e ambiente
72. Quadro nº45 - Utilização de fonte anónima nas notícias de primeira página, por
publicação e ambiente
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1. INTRODUÇÃO
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2. PROBLEMÁTICA
De há sessenta anos a esta parte, e com particular incidência nas duas últimas décadas,
muito tem sido alegado relativamente ao papel desempenhado pelas Tecnologias de
Informação e Comunicação nas nossas sociedades. Apesar da natureza total de que as TIC se
revestem e de que, por essa razão, deve revestir-se igualmente a sua abordagem, a profusão
bibliográfica sobre elas produzida até meados dos anos 70 revelava a persistência de alguns
equívocos, avaliando incorrectamente o papel de variáveis como as condições de produção
dos conteúdos transmitidos e os contextos de recepção (BRETON, PROULX, 2000; p.196).
Ainda hoje subsistem - e prosperam - ecos desse hipodermismo em enunciados com
preconceitos ideológicos, quer de sentido progressista quer de sentido apocalíptico, bem como
posicionamentos que generalizam fenómenos a partir da desconsideração da sua
especificidade contextual. Em comum entre uns e outros encontra-se o facto de assumirem,
em grande medida, o redutor prisma do objecto, neutralizando o papel das características do
sujeito que o opera e da pluralidade de dimensões de contexto nas quais se joga o quotidiano
das práticas das populações e das instituições. Partindo de uma lógica de ruptura e
descontinuidade social (ATTON, 2002: p.134/135), as TIC são frequentemente concebidas
como promotoras de uma nova sociedade. Para o ilustrar alega-se, por exemplo:
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conjunto de descontinuidades verificadas entre um espaço de fluxos no qual se jogam
processos permanentes e instantâneos de concentração de informação e poder, e um
espaço de lugares (onde esses processos produzem efeitos e onde a maior parte da
experiência, construção e partilha de significados tem lugar) (CASTELLS, 1997);
• de uma perspectiva das representações e das práticas dos indivíduos, é afirmado que as
TIC representam um dos principais catalizadores da mudança social uma vez que lhes
é atribuída a transformação das práticas dos cidadãos (WEBSTER, 2001: 2),
designadamente a capacidade de garantir uma maior reciprocidade entre os agentes
que as utilizam (MCCARTHY, SMITH e ZALD, 1996: p.295; DIANI, 2001: p.120).
As TIC são, nesta perspectiva, muito mais que uma extensão das formas existentes de
comunicação dado oferecerem uma variedade de oportunidades anteriormente
inexistentes, nomeadamente modos de organização e mobilização sociais mais rápidos
e baratos, e um canal liberto dos constrangimentos associados a outros media
(PICKERILL, 2001: p.142). A Internet, enquanto infra-estrutura emblemática da
Sociedade em Rede, deve, segundo alguns autores, ser considerada não apenas um
recurso tecnológico mas também uma tecnologia social através da qual se
transformam as relações sociais existentes e se criam novos modos de interacção e de
organização social (CIBERFACES, 2000).
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órgãos de Comunicação Social desempenhará um importante papel na definição do seu modus
operandi, pelo que alguns autores, na senda do trabalho de Horkheimer e Adorno, defenderam
a recuperação da conceptualização do sistema dos media enquanto complexo industrial
cultural (BRETON, PROULX, 2000; p.222).
Relativamente à dimensão técnica, importa reter das análises de McLuhan e
Baudrillard a crítica que produziram sobre a neutralidade cultural atribuída à técnica uma vez
que, com também Schiller afirmou, a neutralidade da técnica se perde a partir do momento em
que o seu desenvolvimento é, em grande medida, o fruto dos interesses das elites políticas,
económicas e técnicas, sejam elas nacionais ou internacionais (citado em BRETON,
PROULX, 2000; p.231). A inovação técnica resulta, segundo White, de uma complexa
interdependência entre esta e o contexto social, cultural, político e económico (White, citado
em BRETON, PROULX, 2000; p.200). Paralelamente, a utilização de uma tecnologia
pressupõe, em certa medida, a subscrição da cosmovisão - ou, se preferirmos, da narrativa -
que lhe subjaz, com efeitos por exemplo ao nível da representação do interesse em sujeitar um
determinado conteúdo à lógica de uma forma, e mais concretamente ao formato digital.
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desenvolvimentos técnicos estiveram, ao longo da História, associados a determinadas
mudanças sociais; outra bem diferente é presumir, em presença dos primeiros, que
estão em curso as segundas. É mais plausível, em primeiro lugar, considerar que
nenhuma mudança social ocorre com a mesma velocidade do desenvolvimento
técnico; em segundo lugar, que até agora apenas as áreas já tecnicizadas e
abstratizadas – como a economia e as ciências exactas – adoptaram tout court estas
técnicas; e em terceiro lugar, reconhecer que o acesso às TIC não é universal, o que
significa que a essa desigualdade corresponde outra ao nível das capacidades dos
indivíduos de, através dessas tecnologias, transformarem as suas vidas e, portanto, que
a sua introdução contribui frequentemente para o aprofundamento de hiatos sociais
(DIANI, 2001: p.126; DORDOY e MELLOR, 2001: p.174; MANSELL, 2001;
NORRIS, 2001: p.12; PICKERILL, 2001: p.143; LYON, 1992; SILVERSTONE,
2002);
• em termos técnicos, importa recordar que qualquer forma de determinismo técnico
situa a tecnologia fora do sistema social - e exercendo efeitos exógenos sobre este -
quando ela constitui na realidade um produto social em constante adaptação (LYON,
1992: p.10). Nas palavras de Rocher, «(...) a importância histórica do factor técnico
tem de ser interpretada no seu quadro global[;] não se pode apreciar a influência real
da tecnologia sem ter em conta o contexto cultural em que se insere» (ROCHER,
1989: p.25-29);
• em termos comunicacionais, é importante ter presente que a intensificação potencial
da regularidade com que a comunicação é estabelecida - permitida pelas infra-
estruturas técnicas - não elimina o problema colocado pelo conteúdo a comunicar,
cujo entendimento tem de ser partilhado pelos interlocutores, sejam estes seres
humanos ou máquinas, sob pena de a própria comunicação não ser possível
(LUHMANN, 1993).
Neste sentido, quaisquer avaliações do papel desempenhado pelas TIC nas sociedades
modernas necessitam de uma legitimidade analítica que só pode advir de uma abordagem que
as contextualize política, económica, cultural e tecnicamente.
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Com o desenvolvimento das ciências e das técnicas na Modernidade surge no domínio
da Comunicação uma clivagem entre uma cultura da argumentação própria do Homem – que
assiste a sua inter-subjectividade, a partir de técnicas analógicas de comunicação -, e uma
cultura da evidência herdeira de um cientismo demonstrativo-racional - que pouco atende às
especificidades dos interlocutores e que compreende fundamentalmente técnicas lógico-
digitais de comunicação. O próprio termo latino na génese da ideia de “informação” –
informatio – compreendia originalmente duas acepções, uma remetendo para o conteúdo
(instruir e transmitir conhecimento) e outra para a forma (atribuir um formato ou formatar o
conhecimento), numa distinção já clara entre os domínios social e técnico ou, se preferirmos,
entre o domínio do sujeito e o do objecto (BRETON, PROULX, 2000; p.23, 47, 50/51 e 70).
ARGUMENTAÇÃO
O livro impresso, produzido pela primeira vez no século XV, emerge da confluência
de três dinâmicas específicas: «(…) do novo espírito técnico, do desenvolvimento do espírito
mercantil e da circulação das ideias (…) humanistas (…)” (BRETON, PROULX, 2000;
p.52). Apesar de tornado materialmente possível pela convergência de três factores de ordem
técnica – o desenvolvimento da tipografia, o aperfeiçoamento dos transportes e respectivas
infra-estruturas, e os progressos verificados no domínio dos serviços postais – o
estabelecimento do livro impresso mecanicamente resulta sobretudo de um contexto
económico, social e intelectual favorável, em que a circulação de ideias alimentada por
oficinas de cópia manual de manuscritos era já uma realidade (BRETON, PROULX, 2000;
p.54/55), o que permitiu que o seu conteúdo constituísse objecto de opinião, comentário e
discussão.
É certo que a invenção da Imprensa decorreu igualmente da disponibilidade dos
suportes materiais necessários, nomeadamente a substituição do pergaminho pelo papel, mais
adequado ao novo processo de reprodução de textos. Mas a disponibilidade material e técnica
não poderia conduzir, por si só, ao desenvolvimento que a Imprensa conheceu no
Renascimento. O desenvolvimento e o impacto conhecidos pela Imprensa durante o
Renascimento não tiveram lugar, por exemplo, no caso chinês, essencialmente por questões
de natureza social. Algumas das transformações sociais pretendidas na Europa – e que
haveriam de ser amplificadas pelo texto impresso – como a mobilidade social ascendente
permitida pela educação, já existiam na sociedade chinesa, não promovendo, por essa razão, a
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mesma adesão ao novo método de transmissão de conhecimento. Por outro lado, também a
organização feudal burocrática existente na sociedade chinesa obstava a que os mercadores
concretizassem qualquer aspiração a essa mobilidade social ascendente – contrariamente ao
sistema de valores ocidental, baseado na procura sistemática de lucro com vista à promoção
do estatuto social, o que consequentemente implicava interesse no desenvolvimento de
sistemas de execução técnica cada vez mais eficazes. Neste sentido, «(…) afigura-se mais
sensato explicar o nascimento da Imprensa pela convergência do movimento de renascimento
intelectual e do espírito mercantil (…)» (BRETON, PROULX, 2000; p.56-59).
Mas outros contextos exerceram igualmente influência observável sobre o
desenvolvimento da Imprensa enquanto técnica de Comunicação Social: a Religião –
designadamente a Reforma e, em certa medida, também a Contra-Reforma – viria a
impulsionar a Imprensa enquanto meio de reforço da relação do crente com as Escrituras.
Também a Revolução Francesa impulsionou o desenvolvimento da Imprensa, na dimensão da
valorização dos indivíduos-cidadãos politicamente activos, uma vez que a Comunicação
Social assumiu neste período um duplo papel que ainda hoje mantém: o de informar o cidadão
e, com isso, permitir o desempenho informado da sua actividade política; e o de ligação dos
cidadãos entre si, contribuindo não apenas para a sua partilha de mínimos denominadores
comuns mas, através deles, para a possibilidade de estabelecimento de troca das opiniões,
argumentações e inter-subjectividades nas quais podem fundar-se consensos (BRETON,
PROULX, 2000; p.66-68).
Um dos impactos observáveis do cientismo no campo das técnicas da Comunicação
Social é precisamente a emergência da ideia de objectividade, baseada na desqualificação
cartesiana do debate enquanto processo de clarificação da verdade, submetendo à cultura da
evidência um conteúdo que decorre de uma pluralidade de perspectivas e valores subjectivos:
os profissionais dos media tornam-se progressivamente receptores de um neo-hipodermismo
técnico (BRETON, PROULX, 2000; p.124/125).
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processo. Na sequência da intensificação das actividades comerciais e das relações mercantis
entre regiões (primeiro) e Estados (mais tarde), a quantificação das mercadorias e
contabilização respectiva dos seus valores, por um lado e o recenseamento populacional, por
outro, tornaram a mecanografia e os seus processos de recolha e tratamento de dados
estatísticos uma actividade de extremo relevo económico, político e social. Paralelamente, o
seu suporte – cartões perfurados – prestava-se a múltiplas utilizações e interpretações dado
prefigurar um código passível de ser utilizado para representar qualquer tipo de informação
(BRETON, PROULX, 2000; p.91/92).
Também o Renascimento produziu transformações na representação do mundo, do
comportamento humano e das suas finalidades: valores como o utilitarismo e o cientismo
assumiram uma centralidade que favoreceria, de então em diante, uma cultura progressista
técnica, de onde resulta o desenvolvimento de um conjunto de ciências exactas – de que é
paradigma o método cartesiano – baseadas na demonstração e evidência experimentais,
rompendo com as representações existentes do conhecimento, da comunicação enquanto
prática, e da memória enquanto espólio inseparável do ser humano (BRETON, PROULX,
2000; p.61).
Estas transformações encontram-se, também, na génese da ideia de uma linguagem de
base matemática que fosse não apenas potencialmente universal mas passível de permitir a
transferência do conhecimento humano para um suporte exterior ao seu corpo, de onde
passaria a estar disponível para qualquer indivíduo e, potencialmente, a qualquer “máquina
comunicante”. Esta natureza exacta e matemática do método científico produziu efeitos
significativos ainda a outro nível: a cultura experimental que lhe está associada permitiu uma
representação ainda mais matematizada do mundo que a de Galileu, estabelecendo deste
modo um novo paradigma interpretativo (BRETON, PROULX, 2000; p.70-72 e 90).
Também a Industrialização se traduz num desenvolvimento sem precedentes de
técnicas de Comunicação Social, entre as quais o telégrafo. Uma das aplicações do cálculo no
domínio da Comunicação Social veio precisamente a ser a comunicação à distância,
designadamente através do telefone: os primeiros relés telefónicos surgidos no final dos anos
30 funcionavam precisamente segundo uma lógica binária, permitindo não apenas a
comunicação mas a realização de operações de cálculo à distância e o estabelecimento das
primeiras redes de comunicação, vindo a estar igualmente na origem dos primeiros
computadores (BRETON, PROULX, 2000; p.69 e 94-96).
Em meados da década de 40, na sequência de desenvolvimentos verificados durante o
século XIX nas actividades em torno do cálculo e das suas aplicações e, paralelamente, no
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domínio da mecanografia, é criado o primeiro computador, uma máquina capaz de calcular –
computar – e organizar de forma automática, a partir de determinado conjunto de instruções,
todo o tipo de informações, integrando desta forma as capacidades do cálculo e da
mecanografia (BRETON, PROULX, 2000; p.88 e 96).
É da criação, da década de 40, de um novo ramo da Ciência dedicado ao estudo de
fenómenos de Comunicação, designado Cibernética, que data a maior parte da argumentação
produzida actualmente em torno de uma Sociedade da Informação. Entre as primeiras
questões debatidas pelos cibernéticos encontravam-se as que diziam respeito à analogia entre
o comportamento humano e o de certos dispositivos técnicos, para cuja análise poderiam ser
aplicados os modelos explicativos do primeiro (BRETON, PROULX, 2000; p.100-102).
A partir do modelo conceptual proposto por Wiener, os comportamentos passariam a
ser explicados em função da natureza das trocas de informação estabelecidas com o meio
envolvente: será este o seu entendimento da Comunicação enquanto objecto comum a todas
as ciências. A partir deste momento, a especificidade de um organismo enquanto sistema de
trocas de informação – seja o seu suporte humano ou técnico – passa a ser determinada pela
complexidade dessas trocas. A própria sociedade ou mesmo a divisão celular que se encontra
na origem da vida passaram a ser representadas enquanto sistemas complexo de troca e
reprodução de padrões de informação: «a comunicação tornava-se (…) um modo de definição
universal que servia para descrever qualquer actividade organizada» (BRETON, PROULX,
2000; p.104/111 e 112).
A transformação mais significativa ocorrida no domínio das técnicas de Comunicação
Social é, pois, o conjunto de efeitos despoletados pela emergência de um novo paradigma
digital, concebido como a sinergia entre inovações em três dimensões distintas: na dimensão
técnica, o surgimento da electrónica como técnica de base, que permite um tratamento lógico
e automático da informação; na dimensão filosófica, uma nova forma de representação do
mundo enquanto sistema complexo de trocas de informação; na dimensão político-económica,
uma nova organização social e o combate à entropia enquanto desafios estratégicos
(BRETON, PROULX, 2000; p.122/123).
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um destes campos possui características próprias, definidas em torno de eixos de
diferenciação: a cultura que lhes está associada; os habitus dos profissionais que integram; e o
objecto sobre o qual incide a sua actividade.
O campo da informática - ou seja, da informação tratada de forma automática - é o
campo por excelência da cultura da evidência. Nele o conceito informação associa-se
essencialmente com o cariz material ou formal que assume, isto é, o modo como a sua
natureza numérica ou digital facilita o seu tratamento. Quanto à natureza dos profissionais
deste campo, a sua formação em Engenharia leva-os a centrar-se precisamente nos
dispositivos de tratamento da informação enquanto fins, sejam estes os aparelhos físicos
(hardware) ou os programas/descodificadores (software) utilizados, e na eficácia com que
esse tratamento é concretizado (BRETON, PROULX, 2000; p.115-122).
O campo dos media, que possui origens históricas mais antigas de entre os três campos
identificados, compreende uma considerável diversidade de práticas comunicativas, da
oralidade à imagem, coligindo as características associadas à cultura da argumentação.
Privilegia-se na actividade dos media a comunicação social em detrimento da comunicação
interpessoal. Quanto às especificidades dos profissionais deste campo, prendem-se com uma
formação em Ciências Humanas, em torno das regras e dos valores da referida cultura da
argumentação, abordando as técnicas essencialmente enquanto meios (BRETON, PROULX,
2000; p.114-119).
Estes campos tendem, na actualidade, a convergir ao longo de dois eixos, um
infra-estrutural e outro super-estrutural. Por um lado, em termos de infra-estrutura, dada não
só a digitalização e a utilização do computador mas também o que este torna possível,
nomeadamente o tratamento e armazenamento digital de materiais sonoros, escritos ou
filmados, para além da transferência destes materiais através das redes tornadas possíveis
pelas inovações no domínio das telecomunicações. Por outro lado, em termos
super-estruturais, dada a transformação, em curso desde os anos 40, da auto-representação da
sociedade, designadamente a ideia de organização societal como função da optimização das
trocas comunicativas ocorridas no seu interior – sinal da emergência de um novo projecto
ideológico-civilizacional: a ideologia da comunicação (BRETON, PROULX, 2000;
p.116/117). A este respeito vale a pena citar novamente Breton e Proulx:
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também parte (…) de um sistema de valores cujo enunciado central afirma
que o conjunto dos fenómenos naturais, biológicos, sociais e humanos (…) é
materialmente cálculo lógico. Esta posição filosófica “neo-mecanicista” (…)
é um dos elementos constitutivos da ideologia da comunicação. (…) sem a
progressão das representações da sociedade segundo as quais ela deveria
passar a organizar-se em torno da informação e da comunicação, talvez não
tivesse bastado o (…) argumento da eficácia da electrónica» (BRETON,
PROULX, 2000; p.124 e p.126).
- os jornais constituem um dos media mais antigos, tendo sido neles que a profissão
jornalista se estabeleceu e consolidou, pelo que constituem o exemplo mais duradouro
de actividade jornalística. Apesar das transformações conhecidas ao nível do conteúdo
e formato, a plataforma papel manteve-se ao longo do tempo com características
específicas. De entre estas destacam-se o carácter da primeira página – onde se
encontram os títulos das principais histórias do dia –, o desenvolvimento de cada uma
das histórias deixado para as páginas seguintes, tematicamente organizadas, a escrita
concisa dos artigos decorrente da disponibilidade de espaço inerente à utilização de
papel, e a associação de valores como a objectividade, a novidade, e a
contextualização a cada notícia (BOCZKOWSKI, 2002; KECK, 2000: p.1; MCNAIR,
1998);
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estabelece contacto com a esfera política: o conhecimento detido pelos cidadãos
relativamente a alguns problemas sociais é muitas vezes o resultado da assimilação e
interpretação, por parte dos media, de determinadas situações, conferindo-lhes
visibilidade e incluindo-os na agenda política. Paralelamente, o seu conteúdo e o grau
de liberdade de expressão com que operam espelham algumas das características da
sociedade em que se encontram inscritos (PAKULSKI, 1995: p.73; MELUCCI, 1995:
p.114/115; NEVEU, 1996: p.97/98; CROOK, PAKULSKI, WATERS, 1992: p.148;
GIBBINS, REIMER, 1999: p.106);
Paralelamente, cinco aspectos da Internet tornam o seu estudo relevante para o campo
específico do Jornalismo: o formato digital do seu conteúdo, o qual pode ser infinitamente
copiado, mantendo a qualidade original; o facto de a comunicação que permite ser mediada
por computador; o facto de essa comunicação ser potencialmente interactiva, esbatendo a
distinção entre emissor e receptor; o facto de o seu conteúdo assumir a forma de hipertexto,
com ligações a outros conteúdos textuais, gráficos ou sonoros; e a facilidade crescente da sua
utilização, nomeadamente desde a criação do browser (HEINONEN, 1999: p.36-41).
Se “(...) o desenvolvimento tecnológico é um dos mais importantes factores (...) que
definem e moldam o contexto social do Jornalismo” não devemos, contudo, estabelecer uma
relação causal directa entre a tecnologia disponível e a prática jornalística uma vez que, por
um lado, importa não colocar a tecnologia fora do âmbito cultural de cada sociedade; por
outro lado, a disponibilidade de tecnologia não conduz necessariamente à sua adopção pelos
jornalistas, uma vez que essa incorporação é sobretudo definida em termos de uma
racionalidade económica; por último, o impacto da tecnologia sobre o discurso jornalístico é
mediado pelas regras particulares da prática jornalística (HEINONEN, 1999: p.24/25 e 33).
Assim sendo, defendo que quatro factores de mudança se fazem sentir sobre o
Jornalismo: de natureza socio-cultural (sobretudo ao nível dos efeitos das transformações
sociais sobre as características dos leitores e dos tipos de consumo que praticam); de natureza
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económica (ao nível das opções decorrentes do contexto de mercado, tomadas em termos de
orientação empresarial dos jornais); de natureza tecnológica (com o desenvolvimento de
plataformas e infra-estruturas de utilização); e de natureza normativa profissional
(HEINONEN, 1999: p.21/25).
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3. ASPECTOS METODOLÓGICOS
Para abordar a articulação entre a Internet e a Imprensa escrita, constituí uma amostra
de publicações, utilizando para esse efeito o conceito de Imprensa constante da Lei de
Imprensa de 99, art.s 9ºao art. 14º (inclusivé)1 e do Decreto-Lei nº 74/82, art. 2º: publicações
portuguesas, de espectro nacional, periódicas, de informação geral ou, se preferirmos, os
jornais portugueses generalistas de âmbito nacional, de maior circulação e/ou com a maior
frequência de consulta na Internet, sendo excluídos deste grupo os portais, os jornais
gratuitos, e os jornais de conteúdo essencialmente sensacionalista, sexual ou de mínimo
denominador cultural comum (ROCHA, 1999: p.49).
Subjacente a esta escolha esteve a possibilidade de aferição das tendências e práticas
mais estabelecidas no meio jornalístico de Imprensa, em detrimento dos desenvolvimentos
mais vanguardistas neste domínio, cuja comparabilidade seria compreensivelmente inferior.
Por outro lado, a dimensão dos orçamentos destes jornais permitir-lhes-á, à partida, decidir
que estratégia editorial seguir no meio online, por oposição a jornais de menor dimensão cuja
estratégia seria mais negativamente determinada por maiores constrangimentos orçamentais.
Partindo da Evolução Trimestral da Audiência Média de Jornais Diários de
Informação Geral no período 96/02, compilada pelo Bareme Imprensa Marktest, e de dados
relativos ao share de popularidade dos sites portugueses obtidos junto do Observatório da
Comunicação e da Marktest, serão analisadas as edições em papel de cinco jornais
portugueses: os diários generalistas Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de
Notícias, e Público; e o semanário Expresso. Paralelamente, serão analisadas as edições
online dos mesmos jornais, como se encontravam às nove e vinte horas de cada um dos dias
sete dias das semanas de 2 a 7 de Março, 15 a 21 de Março, e 29 de Março a 4 de Abril.
1Onde as publicações são classificadas quanto à forma, conteúdo, fim, regime temporal, nacionalidade, conteúdo e
âmbito geográfico (ROCHA, 1999: p.46-54).
22
Por um lado, para abordar a dimensão das condições de produção, recorri à aplicação
de inquéritos por questionário aos jornalistas de cada medium, de forma a apreender, quer as
representações destes face não só à sua actividade mas também ao lugar ocupado nesta pela
Internet, quer as reais utilizações dadas a esta TIC.
Por outro lado, realizei uma análise do conteúdo das publicações consideradas
mediante a aplicação de um livro de código, elaborado de forma concertada com todos os
países participantes na Acção COST A20 mas adaptado à realidade portuguesa de modo a
considerar certas nuances ausentes do formato normalizado que necessariamente possuía para
se adequar a uma análise transnacional2.
A análise incidirá sobre os conteúdos presentes na primeira página e respectivo
desenvolvimento nas páginas interiores, na sequência do trabalho de Ha e James, de Kenney,
e de Li. A utilização da primeira página como objecto permite evitar os enviesamentos
provocados pelas diferentes dimensões que o site de cada jornal pode assumir, criando desta
forma uma amostra cuja comparabilidade é superior. Paralelamente, permite analisar os
conteúdos considerados de maior relevo de entre a agenda noticiosa disponível, por cada
redacção (HA e JAMES, 1998; KENNEY, 2000; LI, 1998).
2 Em anexo.
23
4. A MODERNIDADE
A História dos media confunde-se com a História da Imprensa. Como afirma Nobre-
Correia, estes «têm primeiro um estatuto de propriedade individual (…) [e] constituem uma
actividade artesanal (…) que tem antes de mais por objectivo o combate filosófico, político
ou cultural». Entre 1830 e 1870 a Imprensa industrializa-se, passando os media a ela
associados a pertencer a associações com interesse na sua utilização como suporte de opinião
e debates. Emerge simultaneamente a empresa familiar como forma de organização e
propriedade desses media, cujo principal móbil é a rentabilidade e a principal forma de a
garantir a publicação de factos (e não de opiniões). No início do século XX surgem os
primeiros grupos empresariais monomedia (AAVV, 2002: p.85).
Entre os séculos XIX e XX, a utilização de TIC pelos media é condicionada por
diversos factores: ao nível ideológico, a rápida circulação da informação torna-se, para muitos
autores, central, quer em termos estritos no domínio da Comunicação Social, quer em termos
latos na sociedade como um todo, encontrando-se entre os exemplos de contextos sociais e
políticos que favoreceram esta posição as duas Grandes Guerras, a crise económica
despoletada pelo crash bolsista de 1929, e a dinâmica interna e coexistência externa dos
regimes totalitários; ao nível das consequências decorrentes da progressiva mercantilização
da sua actividade, ditada por um contexto de liberalismo político (que impõe a liberdade de
Imprensa como princípio orientador da acção do poder político) e económico (que visa
dinamizar a Economia através da sua desregulamentação), o que veio a tornar não apenas
possível mas progressivamente necessário o recurso à publicidade como fonte de receita; ao
nível especificamente técnico, o desenvolvimento de técnicas de comunicação relativas à
transmissão de dados (como o telégrafo) influenciam o modo como a informação chega ao
público, designadamente permitindo às agências noticiosas a adaptação de algumas das suas
rotinas nesse sentido (BRETON, PROULX, 2000; p.76-86).
24
Aquando da queda do regime salazarista, a situação da Imprensa escrita pode ser
descrita da seguinte forma:
25
domínio dos grandes grupos económicos. Pelo contrário, deu-lhes maior sustento”
(CORREIA, 2000: 3).
Perante este cenário, são tendências gerais deste período 1) uma vitalidade editorial
significativa observada ao nível das publicações de carácter popular ou temático, 2) uma
contracção do consumo da Imprensa generalista, 3) retraimento do investimento em
iniciativas editoriais online, 4) ascensão relativa do info-entretenimento e de critérios de
rentabilidade por contraste a critérios de objectividade noticiosa, com consequente pressão
sobre o jornalista, 5) aumento da concentração horizontal e vertical de meios de Comunicação
Social, e a internacionalização do seu capital (CORREIA, 2001).
Quase todos os media, mesmo os de natureza estatal, são hoje conduzidos como
empresas. Com a chegada da Internet, novos problemas são colocados a um mercado no qual
a concorrência intra- e inter-media era já considerável: várias empresas de outros sectores
fazem a sua entrada no meio jornalístico, seduzidas pela exploração de modos de produção e
distribuição menos onerosos, bem como de novas fontes de receita, e pelo estabelecimento de
novas audiências com a sua subsequente sobreposição às associadas ao meio das edições em
papel, alterando a geografia económica do sector (HEINONEN, 1999: p.42; KAMERER,
BRESSERS, 1998: p.2; CHYI, LASORSA, 2002: p.94).
No meio jornalístico empresarial é sobretudo a rentabilidade económica o factor que
determina as opções tomadas, e não a disponibilidade tecnológica. Como afirma Sauter a
questão da sobrevivência de iniciativas noticiosas online não decorre da qualidade do
Jornalismo praticado mas do quadro empresarial em que se encontram inscritas, sendo a
adaptação das rotinas de produção de conteúdos aos tipos de consumo determinada
maioritariamente pelo seu custo. Contudo, poucos são os jornais cuja presença online gera
lucro. Na realidade, várias foram já as iniciativas jornalísticas online mal sucedidas ou cuja
rentabilidade se revelou reduzida (LUTFI, 2002: p.18; MAYNARD, 2000: p.12; SAUTER,
2000: p.31; HEINONEN, 1999: p.78).
Neste sentido, o modelo empresarial de cada medium online dependerá das suas
características e do mercado para o qual quer direccionar-se, pelo que provavelmente não
existirá um único modelo mas sim vários. O lote de modos de financiamento direccionados
para os jornais online compreende os seguintes formatos: 1) a subscrição, pouco atractiva para
utilizadores da Internet habituados a conteúdos gratuitos e que apenas funciona para
26
publicações especializadas; 2) a cobrança por conteúdos individualizados, nem sempre viável
dadas as limitações tecnológicas ainda existentes; 3) as receitas publicitárias, modo mais
frequente mas cuja receita real é difícil de contabilizar, produzindo por essa razão um retorno
cada vez menor, 4) os anúncios classificados, que apelam à base local/regional de leitores,
constituindo uma das fontes de receita das quais os jornais não abdicam; e 5) as comissões
sobre o comércio online, constituindo a publicidade trans-media no seio de um mesmo grupo
económico (tornando audiências de rádio leitores, e leitores em telespectadores) uma das
fontes de receita mais recentes (KAMERER, BRESSERS, 1998: p.4; POOLE, 2001: p.9;
POOLE, 2001: p.11).
Outras formas de geração de receitas incluem a comercialização de acesso a arquivos,
a venda de acesso à Internet ou a criação e alojamento de sites, e a venda de conteúdos para
outros media. Esta última forma pode, aliás, constituir o futuro do financiamento dos jornais
online: para Regan, as receitas dos jornais online virão cada vez menos da publicidade e serão
cada vez mais a soma de várias fontes, pelo que as iniciativas noticiosas online deverão ver a
si próprias cada vez mais como fornecedoras de conteúdos e menos como simples jornais. A
este cenário não será certamente estranho o facto de não serem as notícias a gerar
directamente as receitas mas, muitas vezes, a rentabilização da sua audiência (REGAN, 2000:
p.8/9; MENSING, 1998: p.2-5; WEIR, 2000: p.37).
Alguns autores consideram ainda que os conteúdos noticiosos são cada vez mais
preparados e apresentados como bens de consumo com vista à maximização do seu apelo o
que, associado aos mecanismos de medição de visualizações e consequente gestão da
rentabilidade de certos artigos, poderá mercantilizar em excesso o conteúdo noticioso,
aproximando-o de um produto para entretenimento (POOLE, 2001: p.12; RAINIE, 2000:
p.17).
De um primeiro olhar sobre as edições estudadas resulta a constatação de que à altura
da recolha destes materiais todas as edições para a Internet eram de acesso gratuito, com a
excepção da edição do Record, a qual requeria um registo prévio – com consequente cedência
de alguns dados pessoais – para acesso gratuito aos artigos.
Quanto aos aspectos visíveis das estratégias de financiamento destes media, a primeira
nota dá conta da inexistência, na primeira página, e com a excepção do Correio da Manhã, de
anúncios de emprego ou classificados, seja na versão em papel, seja na versão para a Internet:
o facto de apenas existirem – e somente em algumas edições – hiperligações para secções de
classificados é já um indicador da pouca expressão que esta fonte de receita pode possuir no
financiamento de um jornal no nosso país.
27
Já relativamente a publicidade comercial, o valor médio de anúncios encontrado revela
um cenário diferente para cada suporte, observando-se um número ligeiramente superior de
anúncios na versão para a Internet mercê do recurso a Pop-ups (anúncios que surgem na sua
própria janela, aparte da janela em que a página para a Internet se encontra). No entanto, caso
optássemos por desconsiderar esse recurso, o valor médio de anúncios para ambas as edições
seria o mesmo – dois –, praticamente sem desvio no caso das edições em papel mas com
particularidades assinaláveis no caso das páginas para a Internet: enquanto o site de A Bola
não possuiria qualquer anúncio, os sites do Público e Record possuiriam cinco.
Quanto às práticas de auto-promoção, a quantidade de itens observados nesta categoria
é ligeiramente superior no caso das edições em papel – três para dois –, sem variações
significativas em qualquer dos casos. No entanto, é digno de registo o facto de, por esta razão,
existirem tantas referências ao próprio medium ou ao seu grupo económico como a receitas
publicitárias externas.
Ainda neste domínio, e atendendo à disponibilização de conteúdos em mais de um
formato, enquanto as versões em papel nada referem sobre o assunto nas suas primeiras
páginas, esta estratégia apenas muda em menos de metade das edições para a Internet, e
essencialmente para o caso de edições via e-mail (newsletters), gratuitamente enviadas.
Quanto à disponibilização de réplicas de edições em papel no formato Acrobat, apenas o
Público e o Expresso apostam neste modelo, utilizando-o como forma de captação de receitas
dado cobrarem por este serviço. Formatos adicionais apenas existem no caso da edição do
Record para a Internet, consubstanciada no envio de alertas SMS.
De acordo com dados da ANACOM (2002), estima-se que cerca de 16% da população
portuguesa não saiba o que a Internet é ou para que serve; 21% já utilizou, sendo que apenas
28
15% dos inquiridos a utilizam regularmente. No entanto, se excluirmos as quatro não-
respostas, todos os jornalistas revelam utilizar a Internet no emprego, apresentando-se o
Record como a única publicação onde foram encontrados inquiridos que não se servem desta
TIC em casa
Ainda de acordo com a ANACOM, e à semelhança do verificado para a utilização do
computador, o acesso à Internet parece ser mais frequente no âmbito das actividades
profissionais ou académicas dos inquiridos. Entre as razões apontadas pelos jornalistas
inquiridos para o início da utilização da Internet conta-se sobretudo a necessidade
profissional, encontrada em 50% dos casos, sendo a motivação seguinte (em termos de
incidência) a curiosidade própria, com aproximadamente 34% de respostas afirmativas.
Quanto às plataformas de acesso utilizadas, a maioria utiliza o computador de
secretária (aproximadamente 80%), sendo já muito assinalável a percentagem de utilizadores
com acesso a partir de computador portátil (pouco mais de metade). O telemóvel e o PDA são
ainda plataformas marginais de acesso, com valores inferiores a 10%. São desportivas as
publicações com maior incidência de aparente substituição/compatibilização do computador
de mesa pelo computador portátil: A Bola e Record. O Correio da Manhã, por seu turno,
parece ser o jornal cuja redacção mais se encontra fixa.
Segundo a Marktest (2002), são os portugueses com idade até 35 anos os que mais
utilizam este medium, totalizando cerca de 76% dos utilizadores em 1997 e aproximadamente
74% em 2002 – valor tanto mais significativo quando este escalão etário representa apenas
38% de toda a população. É também em torno dos 35 anos que se distribui a idade dos
jornalistas inquiridos.
Report
29
Em termos de média etária, não parece existir grande diferença entre os dois tipos de
redacção (tradicional e online). Individualmente considerados, apenas Expresso e O Jogo
apresentam valores etários médios superiores nas redacções para as edições online, ainda que
boa parte deles apresente valores de desvio-padrão etário considerável.
A análise das médias etárias em função da posição hierárquica revela, como seria de
esperar, médias inferiores para os jornalistas (34,55 anos) que para os editores (38,65 anos).
Entre as redacções com o corpo de jornalistas mais envelhecido encontram-se as publicações
consideradas de referência, ou seja, Público e Expresso, sendo a do Correio da Manhã e do A
Bola as mais jovens.
Report
30
Ainda segundo a Marktest, são os estudantes os que mais praticam esta utilização –
44% do total de inquiridos em 1997, e 36% em 2002 –, encontrando-se largamente
sobre-representados nesta população específica face a sua representação na população
portuguesa. Situação semelhante conhece a representatividade dos quadros médios ou
superiores que, constituindo 26% dos inquiridos em 1997 e 22% em 2002, se encontram
igualmente sobre-representados. Estes indícios de info-exclusão são igualmente ilustrados
pelos dados da ANACOM, segundo os quais se verifica a existência de um contacto com a
Internet apenas para os inquiridos com formação ao nível do 9º ano ou superior, sendo a sua
utilização frequente para quase metade dos inquiridos com formação superior.
No que diz respeito à instrução dos jornalistas inquiridos, aproximadamente ¾
revelam possuir formação completa de nível médio ou superior, sendo que esta formação se
encontrava ainda em curso para 25% da amostra. Somadas estas duas situações, ascende a
perto de 100% o volume de profissionais da informação que possui formação académica ou
profissional pelo menos iniciada, o que indicia um forte investimento na formação superior
dos jornalistas portugueses, bem como a importância atribuída a esta dimensão por parte das
publicações.
Entre os jornalistas com formação de nível médio ou superior, a opção temática mais
frequente é pela área da Informação e Jornalismo, revelada por mais de dois terços dos
inquiridos, pelo que a nota de destaque neste domínio é o facto de aproximadamente um terço
dos jornalistas ser recrutado noutras áreas. No entanto, a formação de topo – Mestrado ou
Doutoramento – já revela uma incidência diferente da verificada para os jornalistas com
preparação ao nível das Ciências Sociais e das Ciências Empresariais.
ID3 Medium * P3r Nível de escolaridade mais elevado que completou (recodificado)
Crosstabulation
31
Quanto à formação quando articulada com a redacção de trabalho actual, observa-se
uma tendência para o recrutamento para a redacção online de jornalistas sem formação
superior terminada (31.6% face a 26.1% na redacção tradicional), sobretudo no Record e n’O
Jogo – possivelmente estagiários, confirmando o modo como esta pode constituir plataforma
de aprendizagem e inserção no médium.
Correio da Manhã, Jornal de Notícias e Expresso apresentam redacções online nas
quais todos os jornalistas inquiridos possuem formação superior terminada, superior portanto
ao verificado nas respectivas redacções tradicionais; já a redacção tradicional do Público
apresenta mais jornalistas com formação superior terminada face ao observado na redacção
online. Entre os desportivos, não foi verificada variação neste capítulo.
P11r Redacção em que exerce funções (recodificada) * P3r Nível de escolaridade mais elevado que completou
(recodificado) * ID3 Medium Crosstabulation
32
Em suma, os jornalistas apresentam-se inseridos no sub-grupo específico de utilização
muito intensiva e já implantada da Internet, no escalão etário apontado para esse sub-grupo,
suplantando contudo a escolaridade a ele associada. Retém-se igualmente a expressão da
iniciação por interesse próprio face à iniciação por necessidade profissional (34% para 50%
das respostas).
ID3 Medium * P28 28. O jornalista que não sabe utilizar a Internet é pouco valorizado pelo
mercado de trabalho Crosstabulation
Quadro nº6 - Representação da Internet como factor de valorização profissional, por publicação
33
À excepção de Público, Correio da Manhã, e A Bola, observa-se uma relação de
proporcionalidade directa entre escolaridade e conceptualização das competências net-related
como valorizadoras do jornalista.
P3r Nível de escolaridade mais elevado que completou (recodificado) * P28 28. O jornalista que não sabe utilizar a Internet é pouco valorizado
pelo mercado de trabalho * ID3 Medium Crosstabulation
Quadro nº7 - Representação da Internet como factor de valorização profissional, por publicação e escolaridade
Entre a idade e esta valorização profissional pela Internet parece existir uma relação de
proporcionalidade invertida: é entre os mais jovens que esta tese mais colhe, configurando
34
portanto um quadro de apreciação positiva da Internet entre os mais escolarizados e os mais
jovens, que apenas no Expresso e n’O Jogo não se confirma.
Os dados relativos à importância que os jornalistas atribuem à Internet no desempenho
das suas funções actuais indicam também uma conceptualização extremamente positiva:
aproximadamente 80% revela considerá-la importante ou muito importante.
Contudo, importa constatar que cerca dos 40% dos inquiridos que a consideram
importante discordam (pelo menos em parte) da tese de que o jornalista não info-literado é
desvalorizado pelo mercado de trabalho, posição que assume o valor de aproximadamente
20% entre os que a consideram muito importante.
Esta valorização é ligeiramente superior entre os títulos generalistas – sobretudo o
Correio da Manhã e o Expresso – descendo o seu valor ligeiramente no caso dos desportivos –
sobretudo n’A Bola, em que a importância que lhe é atribuída parece equipará-la às restantes
ferramentas.
Individualmente considerados, os media agrupam-se da seguinte forma: de um lado,
aqueles cuja adesão à tese da valorização profissional pela Internet aumenta com o grau de
importância atribuída a essa TIC, no qual se incluem Público, DN, Expresso, A Bola e
Record; do outro lado, aquelas cuja adesão a essa tese diminui entre os que consideram a
Internet mais importante, e que incluem os restantes media.
Não deixa, apesar de tudo, de surpreender, sobretudo se tivermos em conta a
valorização positiva feita da Internet, o facto de a grande maioria dos jornalistas inquiridos –
93% – não possuir formação específica para a sua utilização; mesmo no título no qual essa
formação atinge o valor mais alto – o Correio da Manhã – menos de 15% dos jornalistas a
possuem.
35
Quanto ao tipo de formação frequentada e à origem da iniciativa da sua frequência, o
que pode ser dito é que o empregador – ou seja, o médium – promove, ainda que com a
reduzida frequência que já constatámos, a formação dos seus profissionais, fazendo-o
sobretudo a um nível iniciático, ficando desta forma ao critério do jornalista a prossecução
dessa formação por iniciativa própria. Público e Expresso são os únicos jornais com
investimento neste domínio – toda a formação revelada pelos jornalistas foi promovida por
estes media –, destacando-se ainda o facto de o Expresso ser o único que promoveu uma
formação avançada ao nível do webjornalismo. Toda a formação revelada pelos jornalistas do
Correio da Manhã, Jornal de Notícias, Record e O Jogo foi frequentada por iniciativa própria
dos jornalistas, enquanto que nenhum dos inquiridos do Diário de Notícias e d’A Bola revelou
ter frequentado qualquer formação específica para a Internet.
Ainda que a formação seja vista como uma necessidade por aproximadamente 82%
dos inquiridos, particularmente entre os jornalistas do CM, JN, e O Jogo, o facto é que mais
de 60% não pretende frequentá-la. São os jornalistas sem formação revelada neste domínio –
A Bola e DN – estão entre os que mais revelam pretender frequentá-la, ainda que com valores
próximos dos de quem não tem esse interesse ou necessidade. Paralelamente, são sobretudo
os jornalistas mais jovens os que recusam frequentar nova formação, dada a posse de
competências nesta área que já detêm, excepção feita ao Record. É também aos mais
escolarizados que corresponde o menor interesse, como demonstra o verificado nas redacções
de Público, DN, Expresso e Record. Já CM, JN e O Jogo afinam pelo diapasão inverso.
Entre as razões apontadas para este desinteresse contam-se sobretudo a desvalorização
dos conhecimentos adquiridos através dessa formação por falta de necessidade dessa
competência.
Em suma, fica como primeira nota o facto de a maior parte dos jornalistas, pese
embora a utilização que revelam fazer da Internet, não possuir formação específica para a sua
utilização. Para além disso, não obstante o facto de a posse de competências para a sua
utilização ser considerada valorizadora da condição profissional e da cotação do jornalista no
mercado de trabalho – particularmente entre os jornalistas mais jovens e mais escolarizados –,
a verdade é que a maioria dos jornalistas – novamente sobretudo os mais jovens e
escolarizados – não demonstra interesse em frequentar essa formação. Paralelamente, conclui-
se que mesmo nos casos marginais em que essa formação foi frequentada, apenas ao nível
36
iniciático ela foi promovida pelo empregador, ficando o seu aprofundamento ao critério do
interesse particular de cada jornalista.
37
actualizações da TSF) e A Bola (que possui uma secção à parte para esta finalidade) não
possuem “notícias de última hora” na sua primeira página.
Segundo Heinonen, existem duas práticas associadas ao Jornalismo na Internet: a
primeira corresponde à rentabilização do investimento já realizado em conteúdos através da
sua reutilização em suportes diferentes; a segunda já prevê a transformação das práticas
jornalísticas pela criação de novos conteúdos que maximizem as vantagens deste novo
medium (HEINONEN, 1999: p.43/44) e que constituem, para Deuze, o verdadeiro Jornalismo
online, concebido exclusivamente para publicação na Internet (DEUZE, 2001: p.2).
Apesar de a Internet possibilitar a criação de um novo produto, a abordagem mais
frequente ao Jornalismo online traduz-se na reutilização online dos conteúdos do jornal em
papel (DEUZE, 2002: p.1). Quinn e Trench identificam como tendências actuais no
Jornalismo online poucos sinais de emergência de um novo paradigma jornalístico decorrente
da adopção de novas tecnologias, até porque a adopção de mecanismos que potenciem a
interactividade e a personalização é ainda marginal, assinalando a manutenção dos principais
traços característicos da prática jornalística (QUINN E TRENCH, 2000: p.42). Segundo Chyi
e Lasorsa – para quem a característica dominante da relação entre jornais em papel e jornais
online é também a partilha de conteúdos –, os jornais online raramente existem enquanto
entidades independentes, servindo a edição em papel como fornecedor de conteúdos por
excelência para a edição online. Contudo, o reaproveitamento tem gerado algumas críticas,
sobretudo quando se trata de importar directamente conteúdos sem os alterar ou adaptar
minimamente ao novo medium, uma vez que as percentagens de conteúdo escrito
originalmente para as edições online são, regra geral, baixas (CHYI, LASORSA, 2002:
p.93/94).
Para Heinonen, a maioria dos jornais online possui poucas características distintas,
nomeadamente quando comparadas com as dos seus congéneres em papel. Este cenário deve-
se, em seu entender, ao facto de a prática jornalística não ter ainda conhecido grandes
transformações (HEINONEN, 1999: p.73) dada a importação das práticas do jornal em papel
para o jornal online que se observa e que constitui, para Keck, a utilização do jornal em papel
como metáfora (KECK, 2000: p.1). No entanto, o insucesso da migração de práticas
jornalísticas herdadas do Jornalismo tradicional para o meio online tem sido a pedra-de-toque
do sector. As características do meio tradicional – sobretudo a credibilidade e exactidão dos
seus conteúdos – nem sempre são compatíveis com os traços distintivos do meio online –
essencialmente a velocidade de actualização de conteúdos (Katz citado em Giles, 2000: p.3).
Apesar de constituir um aproveitamento medíocre das potencialidades da Internet, a
38
reprodução online dos conteúdos do jornal em papel tem como vantagens o facto de tornar o
estabelecimento no meio virtual mais fácil e menos oneroso, enquanto que a transferência da
identidade e credibilidade do jornal em papel para o novo meio o torna apelativo para o leitor
(KECK, 2000: p.1). O processo de estabelecimento de serviços noticiosos online é, aliás,
caracterizado por nuances como 1) o facto de os media já estabelecidos no meio tradicional
serem os principais operadores no meio online, dados os seus recursos económicos –
nomeadamente capacidade de investimento – e informativos – arquivos e redes de contacto já
existentes, e 2) o relacionamento bi-unívoco possível entre produtores/distribuidores de
conteúdos e os seus consumidores, podendo o jornalista deixar de ter a última palavra para ter
a primeira (KATZ citado em GILES, 2000: p.3).
Mas nem só por decisões economicistas são determinados os conteúdos dos jornais
online: há que atender às barreiras logísticas que se levantam à utilização mais ambiciosa das
potencialidades da Internet, como questões relativas à produção de conteúdos (falta de
recursos humanos e materiais especializados) e à sua distribuição (recursos materiais e know-
how deficientes da parte dos leitores) (KAMERER, BRESSERS, 1998: p.4). Paralelamente,
entre os constrangimentos tecnológicos que se levantam para a exploração das potencialidades
da Internet para o Jornalismo online encontram-se a capacidade de armazenamento de
informação, a velocidade de acesso, e a existência de plataformas de acesso e recepção
capazes (SPARKS: p.8).
Paralelamente, a incorporação das TIC nas rotinas editoriais pode estar a ser
bloqueada precisamente por não estar conforme ao modus operandi dos jornalistas; na
ausência de rentabilidade visível, apenas as tecnologias que se adaptem são realmente
adoptadas (SINGER, 1998: p.4), sem produzir alterações assinaláveis nas práticas.
Relativamente ao reaproveitamento de conteúdos noticiosos da edição em papel para a
edição electrónica, a análise das primeiras páginas indicia, em termos médios, valores
semelhantes para essa prática (51.8%) e para a criação de conteúdo novo (48.2%). Mas
observando as publicações individualmente, apenas no DN essa equiparação se mantém,
oscilando a amostra entre a utilização da edição online para actualização da actualidade
noticiosa verificada no Público e no Record, e a reutilização recorrente da matéria noticiada
na edição em papel observada para as restantes publicações – com particular expressão n’A
Bola.
39
ID4 Suporte * C130 Artigo apresentado na primeira página da
edição em papel * ID3 Medium Crosstabulation
Quadro nº9 - Reutilização de peças jornalísticas nas primeiras páginas das edições online e papel, por publicação
40
Por um lado, o título das notícias destacadas revela uma tendência para a reutilização
(em 79.6% dos casos), e a ordem dos parágrafos que as constituem é, na maior parte dos
casos, a mesma (97% das peças). Individualmente, é no Público (71.1% das peças) e no JN
(89%) que a prática de reutilização do título menos é utilizada. Mais uma vez, é também
apenas na edição online do Público que o texto é organizado de forma diferente da verificada
na edição em papel, em 50% dos casos.
Por outro lado, observa-se a existência de um relativo equilíbrio entre as notícias que
possuem o mesmo número de ilustrações (44.2%) e as que possuem menor número na edição
electrónica (54.9%). Para este ascendente contribui a realidade observada para os títulos da
Lusomundo e o Expresso – sobretudo os primeiros –, nos quais a ausência de imagem
associada ao texto da notícia é a regra. Paralelamente, somente em 10% das peças do Público
esse número é superior nas edições online.
Quadro nº10 - Comparativo entre o número de ilustrações gráficas das edições online e papel, por publicação
41
ID3 Medium * P86e 86e. Uma das cinco mais importantes
características do site de um Media é emitir em
directo/em actualização permanente Crosstabulation
Quadro nº11 - Representação da actualização permanente de uma edição online, por publicação
São os jornalistas mais jovens e os mais escolarizados os que menos concordam com
esta ideia. Paralelamente, são os jornalistas com formação para a Internet os que mais
concordam com esta valorização da actualização permanente, ainda que por escassa margem.
Quadro nº12 - Representação da actualização permanente de uma edição online face à formação específica para
utilização da Internet
42
própria prática dos sites respectivos: apenas os jornalistas do Público e CM – precisamente os
jornais cujo site mais é actualizado - concordam com esta posição, o que significa que a
ausência de actualização parece ser criticada pelos restantes. Estranha parece ser a posição
dos inquiridos no Record, que tendem a desvalorizar esta dimensão do site do seu
empregador, contrastando fortemente com o verificado n’A Bola.
Quadro nº13 - Representação da actualização permanente da edição online do medium do inquirido, por
publicação
43
ID3 Medium * P58 58. A notícia online deve ser construída de raíz, e não reproduzir a notícia da
edição tradicional Crosstabulation
Quadro nº14 - Representação da notícia online quanto à sua origem, por publicação
Se entre a distribuição etária não são visíveis tendências claras, já quanto à articulação
do posicionamento sobre esta questão com a escolaridade se nota que a crítica da reutilização
de conteúdos parece aumentar ligeiramente com a escolaridade. São, por outro lado, aqueles
que frequentaram formação específica para a Internet os que mais concordam com esta prática
de reutilização.
Quanto à articulação entre rapidez e rigor, dois terços dos inquiridos consideram ser
possível compatibilizá-los, sendo que apenas menos de 5% concordam ser impossível fazê-lo.
Entre os mais cépticos quanto a esta compatibilização contam-se os jornalistas do CM e DN,
constituindo o Expresso o caso em que ela mais é defendida. Entre os desportivos, é no
Record que esta compatibilização reúne menos adeptos.
ID3 Medium * P51 51. Rapidez e instantaneidade são incompatíveis com rigor e exactidão
Crosstabulation
44
É sobretudo entre os jornalistas mais jovens e mais escolarizados que a
compatibilização do imediatismo com o rigor informativo surge como mais difícil de obter,
parecendo ser mais defendido entre os mais experientes. Contudo, os que possuem formação
específica nesta área tendem a considerar essa compatibilização possível.
Em síntese, não obstante a criação de conteúdo novo para a edição online verificado
em alguns dos jornais analisados – destacando-se a actualização encontrada no Público e no
Expresso, e também o Record –, ressalta da análise uma tendência geral para o
reaproveitamento dos conteúdos da edição em papel no ambiente electrónico, ou seja, título,
conteúdo dos parágrafos, referências e ilustrações, ainda que no caso destas últimas a
passagem do primeiro suporte para o segundo implica tendencialmente o seu
desaparecimento. O facto de a própria ordem dos parágrafos não conhecer alteração diz bem
da prática de maximização dos proveitos gerados a partir de trabalho já produzido para a
edição em papel, e a relativa ausência de alteração do seu formato indicia também a
prevalência, enquanto visão/metáfora orientadora, da organização do texto como feito na
redacção da edição em papel.
Quanto aos valores e práticas dos jornalistas a este respeito, a actualização da edição
online reúne um significativo consenso como prática a seguir; note-se, no entanto, o facto de
serem os jornalistas mais jovens e mais escolarizados os mais críticos desta ideia. Em linha
com este dado, a reprodução de conteúdos surge como negativa para a maior parte dos
inquiridos, defendida sobretudo (novamente) pelos jornalistas mais velhos, os mesmos que
consideram possível a compatibilização entre rapidez e rigor informativo. Realce ainda para o
facto de serem os jornalistas dos sites mais actualizados os que mais consideram positiva essa
prática.
45
do leitor com a descrição do artigo para depois o desenvolver (HARPER, 1998: p.5) – até
porque, como observa DeVigal, os leitores de informação online consomem primeiro o título
de uma notícia e só depois as imagens que lhe estão associadas (DEVIGAL).
Em termos médios, a disposição das notícias na primeira página apresenta-se
significativamente diferente nas edições em papel ou para a Internet: enquanto nas primeiras a
disposição dos conteúdos noticiosos não parece obedecer a qualquer organização por temas
(verificado em 91.7% dos casos), o mesmo já não se verifica nas segundas (apenas 45.4%).
Contudo, estratégias muito diversas se observam a este respeito quando atendemos à
especificidade de cada um dos jornais considerados. Entre os diários generalistas, Correio da
Manhã e Diário de Notícias optam por referir na primeira página da sua edição online o
enquadramento temático respectivo de cada notícia ausente da sua congénere tradicional; já
Público e Expresso reproduzem na edição para a Internet a ausência de enquadramento
temático encontrado na primeira página da edição em papel, primando igualmente o Jornal de
Notícias por essa ausência,em contraciclo com o verificado para o outro título da Lusomundo
considerado. Entre os desportivos, Record segue a linha de CM e DN no aproveitamento do
novo ambiente de publicação para a explicitação da secção temática a que corresponde cada
notícia, enquanto que A Bola e O Jogo reproduzem online a ausência de tematização da
primeira página em papel.
Relativamente ao número de itens contabilizados por primeira página em cada um dos
ambientes analisados, ele é superior no suporte electrónico, quer em valor total (1349 para
1070) quer em valor médio (6.3 para 4.7). Este dado pareceria indiciar que o incremento de
espaço para publicação seria aproveitado em Portugal. No entanto, uma análise caso a caso
não confirma esta assumpção. Público, CM, JN e Expresso apresentam menor número de
notícias na sua primeira página online face à sua congénere em papel, sendo o DN o único de
entre os generalistas que contraria esta prática. Entre os desportivos, o Record apresenta
número superior de items na edição online, O Jogo aproximadamente o mesmo, e A Bola um
número inferior.
46
Report
ID5 Item
ID3 Medium ID4 Suporte N Mean
Público Papel 124 3,94
Online 117 3,46
Total 241 3,71
Correio da Manhã Papel 141 4,20
Online 100 3,00
Total 241 3,70
Jornal de Notícias Papel 182 5,39
Online 156 4,42
Total 338 4,94
Diário de Notícias Papel 166 4,79
Online 280 7,65
Total 446 6,59
Expresso Papel 47 8,34
Online 103 3,55
Total 150 5,05
A Bola Papel 107 3,70
Online 84 2,50
Total 191 3,17
Record Papel 140 4,29
Online 340 10,49
Total 480 8,69
O Jogo Papel 163 4,88
Online 169 4,83
Total 332 4,86
Total Papel 1070 4,71
Online 1349 6,30
Total 2419 5,60
Quadro nº16 - Número de itens contabilizados por primeira página, por publicação
47
casos muito concretos. Com efeito, e em primeiro lugar, o valor médio de acréscimo
observado de editoriais ou comentários resulta de um enviesamento suscitado pelo conteúdo
do Expresso e do Record - nos quais esse acréscimo é, de facto, significativo - pelo que não se
confirma o grau dessa tendência nas restantes publicações consideradas. Em segundo lugar, a
tendência para conteúdos mais "directos" destacados na primeira página assume particular
relevo no Público e também, como seria de esperar face ao anteriormente disposto, no
Expresso - cuja edição em papel é a única a apresentar conteúdos exclusivamente
desenvolvidos na primeira página: as chamadas breves.
ID4 Suporte * C021 Tipo de Item (página interior) * ID3 Medium Crosstabulation
Quadro nº17 - Tipos de continuação, nas páginas interiores, dos itens da primeira página, por publicação e por
ambiente (online/papel)
48
A política de hiperligações pode ainda ilustrar o enquadramento empresarial de um
jornal online – caso as mesmas apontem exclusivamente para o mesmo jornal ou outras
iniciativas do mesmo grupo económico (PARKER, 1998: p.5) – e a sua política de captação
de leitores – caso se constitua simultaneamente como jornal e como portal recolector de
conteúdos. Paralelamente, dado permitir uma multiplicidade de trajectos por entre o conteúdo
noticioso, possibilita a passagem de uma “audiência de muitos” para uma “audiência de um”,
ou seja, que cada leitor possa viajar por cada conteúdo da forma que entender (GIUSSANI:
p.2).
Verificam-se práticas de self-referencing semelhantes entre suportes diferentes da
mesma publicação: mais de 70% das notícias analisadas nas edições online e mais de 90% nas
edições em papel não compreendem qualquer referência ou link para conteúdos na mesma
edição. Contudo, e ainda em termos médios, o mesmo não se verifica quanto à lógica interna
do site dado que não foram observadas referências mais que residuais a conteúdos nele
presentes.
Duas realidades foram constatadas, em termos individuais..
Por um lado, as que dizem respeito a referências num suporte a partir do outro. Neste
domínio, e entre as publicações generalistas, merece menção o facto de o JN contrastar com a
restante amostra ao apresentar menos referências para outros conteúdos na sua edição online
que na sua congénere em papel. Nos restantes títulos, ainda que o DN e o CM apresentem
links para outros conteúdos nos desenvolvimentos de notícias apresentadas nas primeiras
páginas, a verdade é que apenas um link é contabilizado em qualquer dos casos; somente O
Jogo e o Público apresentam mais de um link com essa finalidade (sobretudo no caso do
primeiro).
49
ID4 Suporte * c100r Quantidade de referências / links a informação a uma edição do
mesmo jornal, no mesmo ambiente * ID3 Medium Crosstabulation
Quadro nº18 - Número de referências/links a informação numa edição da mesma publicação, no mesmo
ambiente
Por outro lado, e quanto a cross-referencing entre suportes diferentes de uma mesma
publicação, os valores observados são muito baixos para qualquer um dos títulos
considerados: acréscimos para Público, Expresso e JN (único que os possuía na edição em
papel), decréscimo no Record, e manutenção da ausência de referências desta natureza nas
restantes publicações.
Mais de 70% dos jornalistas não consideram a hipertextualidade uma mais valia,
sendo que apenas n’A Bola a distribuição desta valorização se aproxima sequer da equidade.
Os outros desportivos são, aliás, os jornais onde esta valorização é menos lisonjeira.
50
ID3 Medium * P86b 86b. Uma das cinco mais importantes
características do site de um Media é ter hiperligações a
outros media Crosstabulation
Quadro nº19 - Representação das hiperligações a outros media numa edição online, por publicação
São sobretudo os jornalistas mais jovens os que menos consideram relevante esta
dimensão. Contudo, os mais escolarizados e com formação específica para a Internet possuem
uma representação tendencialmente mais positiva, ainda que negativa no cômputo geral,
provavelmente mais no sentido de avaliar o seu potencial que propriamente a utilização que
dele é feita.
51
hipertextualidade é actualmente medíocre (2001: p.4/5). Esta ausência de hiperligações pode,
em parte, ser explicada pela fraca valorização que delas é feita pela maior parte dos
jornalistas, sobretudo os mais jovens.
52
apresenta, na página inicial, imagens com maior frequência, seguindo a este nível a mesma
estratégia da edição tradicional.
Quadro nº20 - Presença de ilustrações audio e/ou vídeo na primeira página, por publicação e ambiente
53
ligeira redução na sua utilização observada n'A Bola ao desaparecimento completo das
ilustrações verificado no JN, tendo em conta a forte incidência contabilizada na sua edição
tradicional.
Quadro nº21 - Presença de ilustrações audio e/ou vídeo nas páginas interiores, por publicação e ambiente
54
ID3 Medium * P64 64. A notícia online deve combinar texto, imagem estática, som, e imagem em
movimento Crosstabulation
55
São os jornalistas mais jovens, mais escolarizados e com formação na Internet os que
parecem valorizar a presença de som nos sites dos media. A própria presença de fotografias
nos sites não parece colher grande simpatia por parte dos jornalistas inquiridos: mais de 80%
não a consideram como uma das cinco mais importantes características desses sites, sendo
sobretudo os desportivos os que mais a valorizam, para além do CM.
56
ID3 Medium * P86l 86l. Uma das cinco mais importantes
características do site de um Media é disponibilizar peças
acompanhadas de imagens video Crosstabulation
Quadro nº25 - Representação da presença de imagens video no site de um medium, por publicação
Na distribuição etária e por grau de escolaridade não são visíveis tendências claras,
mas entre os jornalistas com formação específica para utilização da Internet contam-se mais
vozes no sentido da valorização do vídeo como elemento da peça noticiosa, mas novamente
com valores apesar de tudo marginais - 15.4% para 6.3%.
Quadro nº26 - Representação da presença de imagens video no site de um medium, face à formação específica
dos inquiridos para utilização da Internet
57
Resumindo, ainda que a natureza multimédia de uma notícia surja nas respostas de
mais de 85% dos jornalistas (sobretudo os mais velhos) como algo desejável, constata-se uma
redução da utilização da fotografia como elemento associado a / referenciado em cada peça
noticiosa, algo que é coerente com a desvalorização que dela é feita por parte dos jornalistas
quando considerada isoladamente. Sem grande surpresa face ao tipo de jornalismo em análise
– imprensa escrita –, observa-se também não apenas a ausência de utilização e de valorização
do vídeo como recurso, mas ainda do áudio.
58
Genericamente, o número total de itens de interactividade é, em média, superior nas
primeiras páginas das edições para a Internet, numa relação de quatro para dois. Contudo, e
mais uma vez, esta tendência esconde variações casuísticas dignas de registo: são novamente
os desportivos O Jogo e Record que apresentam maior incidência deste tipo de item na
primeira página – nove na edição online para apenas um na edição em papel. Nos restantes
casos não existem variações observáveis ou dignas de realce, à excepção do Público, cuja
edição para a Internet possui na sua primeira página apenas metade dos items presentes na
primeira página da edição em papel.
Apenas a possibilidade de envio da peça através de correio electrónico, oferecida
especificamente no meio online, parece ter alguma expressão, tendo sido contabilizada em
mais de dois terços das notícias contabilizadas. Com a excepção do DN, a possibilidade de
envio da peça por correio electrónico é verificada precisamente para os mesmos jornais nos
quais se possibilita o comentário, com expressão semelhante.
Quadro nº27 - Possibilidade de envio de uma notícia por e-mail, por publicação
59
Em termos de uma interactividade de contacto, as potencialidades interactivas do
novo medium transformam igualmente o carácter do jornal online, o qual deixa de ser um
produto para se tornar um lugar (GIUSSANI: p.4). No entanto, e novamente, é preciso
distinguir entre a facilitação do estabelecimento do canal de comunicação e a existência de
mínimos denominadores simbólicos entre os interlocutores, necessários ao estabelecimento de
comunicabilidades.
Observa-se que apenas a edição online d’A Bola não possui qualquer sondagem de
opinião ou possibilidade de comentar notícias. Fóruns apenas se observam nas edições online
do Público, Diário de Notícias e Jornal de Notícias, iniciáveis pelo jornal e pelos leitores no
primeiro caso, exclusivamente iniciados pelo jornal nos casos dos diários da Lusomundo.
Estes últimos diários são igualmente, a par do Expresso, os únicos que referem na sua
primeira página uma secção específica de cartas dos leitores.
Em relação à disponibilização de ferramentas de auscultação da opinião dos leitores,
os valores médios observados segundo o suporte considerado indicam uma preferência pela
afixação de comentários isolados (possível em 48.9% das peças), em detrimento de sondagens
directamente relacionadas com a peça noticiosa em questão e do incentivo à troca de
impressões entre leitores (ambos ausentes em todas as peças) – mesmo considerando que a
possibilidade de enviar comentários permite, muitas vezes, a constituição de um fórum sem
que tal seja promovido sob essa designação.
Simultaneamente, a promessa da interactividade de contacto, designadamente através
da publicação dos endereços de email dos jornalistas, tem sido de difícil cumprimento,
podendo ser considerada uma falsa promessa e uma expectativa irrealista dado que não só o
seu escrutínio consome tempo valioso – não sendo possível aos jornalistas dar a atenção
individualizada implícita na disponibilização dos seus endereços de email a cada leitor – mas
também pelo facto de a maior parte do correio recebido muitas vezes não ser considerado
relevante – sem prejuízo da sua utilidade em domínios como o estabelecimento de contacto
com fontes (BAYÉ, 2000: p.29; SEIBEL, 2000: p.28).
O comentário directo ao autor da peça não é, em média, possível dada a ausência
quase completa de referência ao seu endereço de correio electrónico – excepção a um caso
verificado na edição em papel do Público.
Entre os jornais generalistas, a possibilidade de envio de comentários ao conteúdo
noticioso destacado nas primeiras páginas conhece dois cenários bem distintos: oferecida pelo
Público, Correio da Manhã e Expresso – com particular incidência neste último –, ela não
existe nas restantes publicações, ou seja, nas detidas pelo grupo Lusomundo. Entre os
60
desportivos, apenas é disponibilizada pelo Record, publicação com a maior incidência de toda
a amostra. Neste domínio, portanto, assumem o comentário como imagem de marca o
Expresso e o Record.
ID3 Medium * P75 75. As edições online permitem maior interactividade com o público que as
edições tradicionais Crosstabulation
61
Quadro nº29 - Representação da interactividade das edições online face às edições em papel, por publicação
São sobretudo os jornalistas mais jovens e que possuem formação específica para a
Internet os que mais aderem a esta ideia; ainda que o mesmo não aconteça entre os mais
escolarizados. No entanto, mais de 82% dos jornalistas reconhece que a interactividade não
constitui um dos aspectos mais importantes do site do médium no qual exercem actividade
profissional. Apesar de marginal, a importância desta dimensão é perfilhada por alguns
inquiridos nas redacções do CM, JN e Record, e recusada sobretudo no DN, A Bola e O Jogo.
A distribuição por idade não apresenta grandes variações face aos posicionamentos
relativamente à valorização da dimensão de interactividade em análise, ainda que esta última
aumente entre os mais escolarizados. No entanto, o reconhecimento de que este potencial não
é explorado é ligeiramente superior entre os inquiridos que possuem formação específica para
a Internet.
A mesma valorização da interactividade com os leitores se verifica numa outra
questão, para cerca de 80% dos inquiridos, sobretudo os mais jovens e os que possuem
formação específica para utilização da Internet. Destacam-se CM, JN, A Bola e Record na
adesão a esta ideia, mas não deixa de surpreender a posição dos inquiridos dos jornais com
62
redacções online mais fortes – Público e Expresso – , onde a discordância com esta ideia
assume algum significado estatístico.
ID3 Medium * P76 76. O Jornalismo na Internet deve ser fortemente marcado pela interacção
entre jornalistas e públicos Crosstabulation
Quadro nº32 - Representação do contacto com a redacção do medium do inquirido através do seu site, por
publicação
63
São os jornalistas mais jovens e mais escolarizados os que mais reconhecem esta
limitação, bem como os jornalistas sem formação específica para a Internet.
Uma das razões pelas quais a resposta – e a interactividade ela própria – não parece
ser fomentada será, porventura, a resistência à divulgação dos endereços pessoais de correio
electrónico encontrada entre os inquiridos: mais de 93% não consideram essa informação uma
das mais importantes dos sites dos media, sendo esta posição perfilhada por todos os
jornalistas inquiridos nas redacções do Correio da Manhã e A Bola.
Quadro nº33 - Representação da disponibilização do endereço de e-mail no site de um medium, por publicação
São os jornalistas menos escolarizados e sem formação para a Internet os que mais se
opõem a esta ideia, a qual colhe igualmente junto de alguns dos mais jovens.
Quanto à prática efectiva dos inquiridos a este respeito, a primeira nota vai para o
facto de quase metade da amostra – 45% – efectivamente não ler o correio electrónico
enviado pelos leitores. Entre os que lêem, essa prática é de intensidade assinalável: mais de
90% desses inquiridos lê tudo ou quase tudo o que lhe é enviado, destacando-se neste
particular o Expresso e dois dos três desportivos.
64
ID3 Medium * P79_2 79.2. Lê o e-mail que recebe do público?
Crosstabulation
Quadro nº34 - Hábitos de leitura de e-mail recebido dos públicos, por publicação
São sobretudo os jornalistas mais velhos, menos escolarizados mas com mais
formação específica para a Internet os que lêem o correio que os leitores enviam.
No entanto, e face ao facto de que a verdadeira interactividade implica diálogo, ou
seja, resposta ao correio electrónico recebido, a percentagem de jornalistas inquiridos que
responde a tudo o que recebe desce para cerca de metade da amostra, surgindo já cerca de
14% que assumem não responder a qualquer e-mail. É sobretudo no CM e n’A Bola que a
prática de não responder mais colhe, sendo o Público, DN, Expresso e O Jogo os que mais
respondem.
Quadro nº35 - Hábitos de resposta a e-mail recebido dos públicos, por publicação
65
que os inquiridos com formação específica para a Internet respondem mais aos contactos
estabelecidos pelos leitores.
66
ou os seus cidadãos e actividades económicas com cidadãos, agentes ou instituições sedeadas
fora do país.
Quadro nº36 - Âmbito geográfico das notícias de primeira página, por ambiente
Quadro nº37 - Âmbito geográfico das notícias de primeira página, por publicação e ambiente
67
Quanto ao ênfase na consideração de notícias da actualidade internacional - ou que a
relacione com agentes nacionais - refira-se a ligeira quebra do Público online, e o aumento
considerável do Expresso e do Record, sendo que este último apresenta uma redução do
número de notícias de natureza nacional na sua primeira página electrónica bastante
significativa - cerca de 51%.
Quadro nº38 - Âmbito geográfico (recodificado) das notícias de primeira página, por publicação e ambiente
Relativamente ao tema versado pelas notícias destacadas nas primeiras páginas sob
observação, importa considerar separadamente as publicações generalistas das de pendor
desportivo.
Quanto aos jornais generalistas, não são observáveis modificações muito significativas
em função dos suportes considerados: conteúdos que abordam questões de Saúde / Segurança
Social, Ambiente / Planeamento, e Administração Interna surgem destacados com menor
frequência nas faces das edições electrónicas, nas quais são referidos com maior frequência
assuntos do âmbito da Defesa.
68
C072 Tema * ID4 Suporte Crosstabulation
Quadro nº39 - Tema das notícias de primeira página das publicações generalistas, por ambiente
Quadro nº40 - Tema das notícias de primeira página das publicações desportivas, por ambiente
69
de Planeamento Territorial. O Público confirma a redução de temas de Planeamento mas não
a que diz respeito a assuntos de Administração Interna - mas sim Defesa -, rementendo
Cultura, Ciência e Sociedade para outras zonas do site que não a primeira página e
enfatizando o Desporto. O CM enfatiza também o Desporto, reduzindo a incidência de temas
de Administração Interna. O DN surge como única publicação cujo destaque de temas de
Saúde e Administração Interna na primeira página online é marcadamente inferior ao da sua
congénere tradicional, sublinhando mais temas de Cultura. O Expresso, mercê da dimensão da
primeira página da sua edição em papel, apresenta nela temas de Economia com maior
frequência do que na edição electrónica, destacando com maior incidência assuntos do âmbito
da Administração Interna, Defesa, Política, e Cultura - estratégia a que não será estranho o
facto de possuir uma edição online diária, na qual o desenvolvimento destes temas pode ser
feito com maior desafogo em termos de espaço editorial.
Quadro nº41 - Tema das notícias de primeira página das publicações generalistas, por publicação e ambiente
70
ID4 Suporte * C080 Autoria Crosstabulation
Uma análise individual das publicações consideradas permite esclarecer com maior
detalhe os contornos das duas tendências atrás referidas. Em primeiro lugar, o único jornal
com referência explicitamente assumida na edição em papel à citação integral do texto dos
feeds das agências noticiosas - o CM - recorre com menor intensidade a esse expediente na
respectiva edição online; é, todavia, o Público, a publicação cuja redacção electrónica recorre
intensivamente à reciclagem dos conteúdos disponibilizados pelas agências de notícias - mais
de metade dos conteúdos noticiosos destacados em www.publico.pt o são, descendo para
menos de 25% o número de artigos assinados por jornalistas e ascendendo a esse valor o
número de peças não assinadas. Em segundo lugar, e considerando as restantes publicações, a
nota de maior relevo vai para o facto de A Bola apresentar sem assinatura a quase totalidade
das peças na sua edição online.
71
ID4 Suporte * C080 Autoria * ID3 Medium Crosstabulation
Quadro nº43 - Autoria das notícias de primeira página, por publicação e ambiente
72
escrita, conferências de Imprensa, agentes directamente envolvidos no conteúdo
noticiado, ou representantes de entidades públicas ou privadas;
• a utilização de fontes anónimas, observada em aproximadamente 13% das peças
destacadas nas primeiras páginas das edições tradicionais, cai para perto de metade
em termos percentuais – 8% – nas edições electrónicas.
73
Report
Mean
C091 Fontes
adicionais:
representante
C090 Fontes de
C081 Fontes C089 Fontes adicionais: organização
adicionais:C085 Fontes C086 Fontesadicionais:representante não-governa C088 Fontes C092 Fontes
edição em adicionais:C082 Fontes C087 Fontes C083 Fontes C084 Fontesadicionais:personalidadedo Governo ou mental e C093 Fontesadicionais: adicionais:
papel / onlineoutra fonte adicionais: adicionais: adicionais: adicionais: conferênciadirectamenteorganizaçãonão-empresaadicionais:documentação agência
ID3 Medium ID4 Suporte respectiva online outro jornal revista rádio televisão de imprensa envolvida empresarial rial cidadão escrita noticiosa
Público Papel ,00 ,02 ,10 ,00 ,00 ,05 ,30 ,15 ,23 ,21 ,05 ,51 ,13
Online ,03 ,00 ,07 ,00 ,04 ,05 ,15 ,04 ,15 ,10 ,01 ,24 ,53
Total ,02 ,01 ,09 ,00 ,02 ,05 ,23 ,10 ,20 ,16 ,03 ,38 ,32
Correio da Manhã
Papel ,01 ,01 ,02 ,00 ,01 ,05 ,05 ,27 ,19 ,24 ,09 ,23 ,01
Online ,02 ,00 ,00 ,00 ,01 ,09 ,04 ,25 ,22 ,26 ,10 ,28 ,00
Total ,01 ,00 ,01 ,00 ,01 ,07 ,05 ,26 ,20 ,25 ,09 ,25 ,00
Jornal de Notícias
Papel ,00 ,01 ,02 ,00 ,01 ,04 ,08 ,23 ,40 ,19 ,05 ,31 ,05
Online ,00 ,01 ,03 ,00 ,01 ,06 ,13 ,18 ,35 ,18 ,05 ,32 ,05
Total ,00 ,01 ,02 ,00 ,01 ,05 ,11 ,20 ,38 ,19 ,05 ,32 ,05
Diário de Notícias
Papel ,00 ,02 ,04 ,00 ,02 ,04 ,27 ,13 ,26 ,13 ,03 ,38 ,03
Online ,00 ,00 ,06 ,00 ,03 ,04 ,32 ,14 ,25 ,10 ,00 ,30 ,05
Total ,00 ,01 ,05 ,00 ,02 ,04 ,30 ,14 ,25 ,11 ,01 ,33 ,04
Expresso Papel ,00 ,02 ,06 ,00 ,04 ,04 ,04 ,04 ,23 ,06 ,00 ,26 ,02
Online ,02 ,02 ,23 ,00 ,12 ,13 ,43 ,12 ,28 ,12 ,08 ,25 ,24
Total ,01 ,02 ,15 ,00 ,08 ,09 ,27 ,08 ,26 ,09 ,04 ,26 ,14
A Bola Papel ,00 ,02 ,00 ,00 ,02 ,02 ,07 ,20 ,16 ,02 ,01 ,01 ,00
Online ,00 ,03 ,00 ,00 ,01 ,01 ,05 ,25 ,16 ,01 ,01 ,00 ,00
Total ,00 ,02 ,00 ,00 ,02 ,02 ,06 ,22 ,16 ,02 ,01 ,01 ,00
Record Papel ,01 ,04 ,01 ,00 ,02 ,04 ,14 ,13 ,23 ,01 ,01 ,10 ,00
Online ,01 ,03 ,09 ,00 ,02 ,04 ,06 ,15 ,21 ,01 ,01 ,03 ,01
Total ,01 ,03 ,07 ,00 ,02 ,04 ,08 ,14 ,22 ,01 ,01 ,05 ,00
O Jogo Papel ,00 ,02 ,04 ,00 ,01 ,02 ,05 ,22 ,17 ,02 ,01 ,02 ,00
Online ,00 ,01 ,02 ,00 ,01 ,02 ,05 ,22 ,17 ,02 ,01 ,02 ,00
Total ,00 ,02 ,03 ,00 ,01 ,02 ,05 ,22 ,17 ,02 ,01 ,02 ,00
Total Papel ,00 ,02 ,03 ,00 ,01 ,04 ,13 ,18 ,24 ,12 ,03 ,23 ,03
Online ,01 ,01 ,06 ,00 ,02 ,05 ,15 ,16 ,23 ,08 ,02 ,16 ,08
Total ,00 ,02 ,05 ,00 ,02 ,04 ,14 ,17 ,23 ,10 ,03 ,19 ,06
Quadro nº44 - Fontes citadas nas notícias de primeira página, por publicação e ambiente
3 Cf. Anexo 2.
74
• JN e DN apresentam variações apenas residuais nos agentes e materiais
consultados;
• Record: recurso mais frequente, na edição online, a outras publicações como
fontes.
Quadro nº45 - Utilização de fonte anónima nas notícias de primeira página, por publicação e ambiente
75
A grande maioria dos inquiridos manifesta pouca adesão à tese da transformação dos
vínculos contratuais dos jornalistas em virtude da entrada da Internet nas redacções: pouco
mais de 15% defendem esta ideia. Destaca-se a posição dos jornalistas inquiridos na redacção
d'O Jogo, a única na qual a maioria das respostas obtidas foi no sentido do reconhecimento de
uma relação directa entre a utilização regular da Internet na actividade jornalística e a
alteração do vínculo contratual associado a esta última. Na imprensa escrita, e para além do
caso d'O Jogo, os pólos encontrados são os jornalistas do Expresso - apenas quatro por cento
consideram existir tal paralelo - e os d'A Bola - vinte e cinco por cento dos seus jornalistas
defendem essa relação.
Articulando estes dados com o enquadramento da formação dos jornalistas, verifica-se
ser entre os que detêm formação superior que o impacto da entrada da Internet nas redacções
sobre os vínculos contratuais é considerado menos relevante: apenas O Jogo contraria esta
tendência, a qual assume particular expressão no DN.
Entre a imprensa escrita descortina-se igualmente uma tendência: uma relação de
proporcionalidade inversa estabelecida entre a idade e a importância conferida à Internet
como factor de transformação da qualidade do vínculo contratual dos jornalistas portugueses.
Curiosamente, na imprensa escrita - que apresentara a única tendência genérica visível - não
foi observada uma tendência definida, mesmo quando são consideradas separadamente as
publicações generalistas e desportivas.
Relativamente à situação contratual dos próprios inquiridos, a primeira nota fica no
facto de o impacto da Internet ser considerado superior nos vínculos alheios face aos vínculos
próprios. Entre a imprensa escrita o que se verifica é um impacto já significativo reconhecido
pelos jornalistas d’O Jogo, sendo ainda de destacar a frequência com que surge a não-
resposta, sobretudo na redacção d’A Bola. Apenas o DN apresenta uma posição unânime a
este respeito, desconsiderando esta TIC como variável relevante para a transformação da
realidade contratual dos jornalistas.
Em termos médios, parece ser entre os mais escolarizados que a ideia do impacto da
Internet sobre os vínculos contratuais mais colhe.
Considerando a idade como variável paralela à influência atribuída pelos jornalistas à
Internet na transformação dos seus vínculos contratuais, não é discernível qualquer tendência
em termos médios. Analisando estes media individualmente, a única nota que merece menção
é o facto de serem tendencialmente os nascidos após 1970 a reconhecerem relação entre esta
TIC e o seu enquadramento contratual.
76
4.7. OUTROS PAPÉIS: O HORÁRIO
Sobre uma hipotética relação entre o recurso à Internet com ferramenta de trabalho e a
carga horária dos jornalistas, a grande maioria considera que a mesma não existe. Entre os que
reconhecem a sua existência, são em maior número médio relativo os que defendem ter
ocorrido um aumento da carga horária de trabalho.
Excepção feita ao JN e a O Jogo, todos os media cujos jornalistas inquiridos
reconhecem a existência de relação entre estas duas variáveis o fazem no sentido da promoção
do incremento da carga horária de trabalho dos jornalistas.
Articulando a idade dos inquiridos com as variáveis sob escrutínio é visível, em
termos médios, uma tendência: são os jornalistas mais jovens que consideram maior o
impacto da Internet sobre a carga horária dos jornalistas em geral. Esta tendência assume
particular relevância entre os nascidos na década de 80, sub-amostra na qual nos
aproximamos da paridade entre os que consideram existir essa relação e os que a descartam,
sendo igualmente nesta categoria que a relação é concebida como reduzindo o número de
horas de trabalho.
Apenas o JN apresenta valores conclusivos a este respeito, primando os restantes
media por valores que não permitem concluir da existência de uma tendência explícita.
Já considerando a formação superior dos jornalistas, o cenário verificado apresenta
como tendência uma importância maior atribuída à Internet quanto transformadora do horário
das redacções entre os detentores de formação mais avançada.
Analisados individualmente, merece menção o facto de não existir uma tendência
generalizada em qualquer sentido quando consideramos cada media dentro do seu tipo: por
exemplo, os jornalistas afectos às redacções de DN, A Bola e Record não traduzem esta
tendência geral.
Em segundo lugar, confirma-se a excepção JN no que diz respeito à influência da
Internet no sentido de aumentar a carga horária de trabalho jornalístico, quando a sua
existência é reconhecida.
Quanto ao impacto que os inquiridos consideram ter sido produzido sobre o seu
horário a partir do momento em que se banaliza o recurso à Internet como ferramenta de
trabalho, a tendência mantém-se para a desconsideração deste impacto. No entanto, é
constatado um valor mais elevado para a representação do impacto no horário próprio que no
verificado para os horários alheios.
77
Individualmente considerados, apenas n’O Jogo são contabilizados valores absolutos
de desconsideração da existência de uma relação entre a entrada da Internet nas redacções e as
transformações nos horários de trabalho dos jornalistas. Destaque para os valores encontrados
no Expresso, único médium no qual a maior parte dos inquiridos afirma que o seu horário de
trabalho foi transformado com o recurso à Internet, e novamente no sentido do incremento.
Menção ainda ao CM e A Bola, nos quais esta importância é sublinhada com algum ênfase.
Em termos médios, o impacto da Internet sobre os horários dos jornalistas aumenta
com a idade dos inquiridos; apenas A Bola e o Record apresentam uma tendência definida, no
sentido de enfatizar essa relação entre os jornalistas mais jovens - todos no mesmo sentido
observado para os horários alheios.
Relativamente à formação enquanto variável explicativa da representação que os
inquiridos projectam àcerca do impacto da entrada da Internet nas redacções sobre o seu
horário de trabalho, os media da amostra apresentam traços de continuidade entre o impacto
atribuído à Internet sobre os horários dos jornalistas em geral e dos jornalistas inquiridos.
Na imprensa escrita, e entre as publicações generalistas, DN e Expresso apresentam
tendências de mudança em função da propriedade dos horários: o impacto da Internet sobre os
horários dos inquiridos não é conclusivo no primeiro caso, e no segundo esse impacto é
projectado como maior nos horários terceiros que nos próprios à medida que a formação
aumenta. Público, CM e JN alinham pelo diapasão da projecção de um aumento da influência
da Internet sobre os horários de todos os jornalistas com o incremento da formação detida
pelos inquiridos. Nos desportivos, e com a exclusão d'O Jogo dado o valor absoluto
observado para a desconsideração de qualquer articulação entre a entrada da Internet nas
redacções e o horário de trabalho dos jornalistas, enquanto A Bola apresenta um conjunto de
inquiridos cuja posição atribui maior peso a esta relação, no domínio do seu horário, à medida
que a sua formação aumenta - em contraciclo com o verificado para os horários alheios -, já o
Record mantém na consideração dos horários dos seus jornalistas a tendência contabilizada
para o que os mesmos projectam sobre os horários dos jornalistas em geral, isto é, uma
relação entre as variáveis aqui abordadas que diminui de intensidade à medida que a
escolarização aumenta.
78
5. CONCLUSÕES
Não foi inocente a escolha da expressão “o ruído das luzes” para título deste
documento. Com efeito, considero que mais que a persistência de ecos do hipodermismo dos
quais dei já conta, persiste um discurso que é, na prática, muitas vezes meta-propaganda no
modo como apregoa a transformação constante e irreversível das vidas, ao jeito de
postulados de uma natureza mais ideológica que científica. E a frequência com que surge esse
discurso constitui, em muitos casos, um ruído de luzes que não apenas se torna uma
self-fulfilling prophecy mas que também, por essa razão, dificulta o vislumbre da realidade
dos factos e vai permitindo que essa visão ideologicamente comprometida se insinue.
À mudança social não deve corresponder uma única ordem de factores explicativos:
não seria possível sustentar, por exemplo, que as transformações sociais na origem do
Renascimento tenham resultado essencialmente do desenvolvimento da tecnologia que
permitiu a reprodução mecânica do livro impresso: tal tese, para além de constituir uma
simplificação abusiva da realidade histórica e de atribuir um papel ao livro impresso que este
não possuiu – uma vez que a sua utilidade se revestia sobretudo de uma natureza
contabilistico-administrativa (primeiro) e religiosa (segundo) – desconsidera, enquanto
vectores de transformação social, fenómenos de mutação civilizacional que remontam ao
século XII, como o acréscimo da concentração populacional urbana ou a intensificação dos
contactos de natureza bélica e cultural que as Cruzadas constituíram (BRETON, PROULX,
2000; p.53). Daí a preferência que manifesto por uma abordagem multi-dimensional, que se
sintetiza conclusivamente nos parágrafos seguintes.
79
pelos grupos económicos a que pertencem. Apesar de a constituição de sinergias possibilitar a
racionalização de custos e serviços, o aumento da capacidade negocial, e o investimento em
iniciativas cuja rentabilidade não é imediata, o aproveitamento destas potencialidades situa-se
sobretudo na maximização dos proveitos gerados a partir de conteúdos já existentes, muitas
vezes em detrimento da qualidade dos conteúdos disponibilizados (CORREIA, 1999: 2-5): à
implantação numa nova plataforma não está a corresponder, de um modo geral, a criação de
conteúdo novo.
«As causas de muitas patologias actuais dos media têm raízes bastante antigas.(…)
Existe um continuum que não pode ser ignorado»
(Media, Jornalismo e Democracia, 2002; p.119-121).
80
mediamorfose4, cuja tónica é colocada na manutenção do respeito de um modus operandi já
inscrito no código jornalístico e com provas dadas em termos de eficácia, continuando o
jornal em papel a ser responsável pela geração das receitas e o jornalista a ser o gatekeeper
por excelência, com um papel cada vez mais central num mundo de excesso de informação
(HEINONEN, 1999: p.74-76). A centralidade do papel do jornalista enquanto gatekeeper
evoluiu e está a adaptar-se à nova realidade, no sentido da mediação e organização de
informação, facilitando a troca de ideias, devendo os jornais deixar de se considerar gestores
de monólogos (BRECKENRIDGE, 2000: p.26).
De acordo com os dados, a maior parte dos jornalistas, pese embora a utilização que
revelam fazer da Internet, não possui formação específica para a sua utilização. Para além
disso, não obstante o facto de a posse de competências para a sua utilização ser por eles
considerada valorizadora da sua condição profissional e da sua cotação no mercado de
trabalho – particularmente entre os jornalistas mais jovens e mais escolarizados –, a verdade é
que a maioria dos jornalistas – novamente os mais jovens e escolarizados – não demonstra
interesse em frequentar essa formação. Paralelamente, conclui-se que mesmo nos casos
marginais em que essa formação foi frequentada, apenas ao nível iniciático ela foi promovida
pelo empregador, ficando o seu aprofundamento ao critério do interesse particular de cada
jornalista.
4 “(...) a evolução tecnológica dos media (...) num sistema interdependente” (FIDDLER, 1997).
81
Apesar da aparente novidade da valorização do papel da Comunicação, a
argumentação que sustenta essa apreciação remonta, na realidade, ao período após a Segunda
Guerra Mundial (BRETON, PROULX, 2000; p.271). O conceito de comunicação que
emergiu com a Modernidade assenta sobre três novas visões, com efeitos cumulativos. Em
primeiro lugar, a transformação produzida pelos primeiros cibernéticos na representação
técnico-filosófica do Homem, o qual passa a ser definido enquanto dispositivo comunicante
reflexivo, auto-poiético (BRETON, PROULX, 2000; p.272). Em segundo lugar, e dado o
contexto de conflito bélico à escala mundial existente à data e em grande medida
impulsionado pelas aplicações militares da ciência, a transferência para o território da
comunicação dos “adversários” a combater de então em diante – fenómenos específicos deste
domínio como o ruído, a entropia, a desordem. Por último, e com base nos anteriores, a
projecção de um novo ideal de sociedade, a sociedade da comunicação, centrada na
circulação da informação e acentuando, por essa razão, a importância do papel de todos os
agentes envolvidos em processos de tratamento e difusão de informação, que se trata do
Homem quer de outras “máquinas comunicantes” (BRETON, PROULX, 2000; p.272).
Três ordens de argumentos foram – e ainda são – accionados em prol do
desenvolvimento e aplicação das técnicas de comunicação. Em primeiro lugar, a
argumentação filosófico-ideológica que reconceptualiza o Homem a sociedade como redes
complexas de trocas informativas organizada em torno da ideia de comunicação entre
nódulos. Neste sentido, esta ordem de argumentos iniciada na década de 40 vê esta
conceptualização como o incontornável e inevitável caminho a seguir, na senda da
modernização das sociedades, fazendo-se ouvir ainda hoje. Em segundo lugar, e como
expressão desta inevitabilidade, a argumentação economicista surgida na década de 70 que
considera as técnicas de comunicação como o objecto ou mercadoria capaz de impulsionar os
mercados económicos e, dessa forma, constituir solução para crises económicas. Por último,
consequência da impregnação da sociedade por esta ideologia, a argumentação de natureza
cultural que, face à adopção presumivelmente generalizada das técnicas de comunicação – de
que é exemplo a microinformática –, defende que o desenvolvimento técnico se tornou
necessário para responder às necessidades dos utilizadores, cujo número se encontra em
expansão contínua. Nesta fase, é visível um investimento argumentativo em técnicas
consideradas simultaneamente de utilização inevitáveis e acessíveis (BRETON, PROULX,
2000; p.293/296), traduzido igualmente na conceptualização das telecomunicações como o
“sistema circulatório” da cosmovisão dominante, no qual se assegura e através do qual se
controla a circulação e distribuição da informação (BRETON, PROULX, 2000; p.298). Neste
82
sentido, é importante recolocar o debate, e considerar que as TIC, um conjunto de processos
que complementa e potencialmente aumenta as oportunidades para a socialização,
mobilização, síntese e partilha de conhecimento, e acção política (ATTON, 2002: 133),
intensificam os processos em curso na ordem capitalista, mas não assinalam qualquer
transição para um novo paradigma social tecnológico (DORDOY e MELLOR, 2001: 181).
Sem prejuízo da criação de conteúdo novo para a edição online verificada em alguns
dos jornais analisados, ressalta da análise uma tendência geral para o reaproveitamento dos
conteúdos da edição em papel no ambiente electrónico. O facto de a própria ordem dos
parágrafos não conhecer alteração diz bem da prática de maximização dos proveitos gerados a
partir de trabalho já produzido para a edição em papel, e a relativa ausência de alteração do
seu formato indicia também a prevalência, enquanto visão/metáfora orientadora, da
organização do texto como feito na redacção da edição em papel. Apesar de a actualização da
edição online reunir um significativo consenso entre os jornalistas como prática a seguir;
note-se, no entanto, o facto de serem os mais jovens e mais escolarizados os mais críticos
desta ideia. Em linha com este dado, a reprodução de conteúdos surge como negativa para a
maior parte dos inquiridos, defendida sobretudo (novamente) pelos jornalistas mais velhos, os
mesmos que consideram possível a compatibilização entre rapidez e rigor informativo.
Relativamente à utilização do espaço virtual adicional para publicação, apenas
algumas publicações alteram a sua prática de enquadramento temático de cada notícia,
apresentando uma parte significativa das publicações um número menor de notícias nas suas
primeiras páginas online. O maior aproveitamento observado neste domínio encontra-se na
substituição de títulos por teasers. As edições online não apresentam também diferenças face
ao encontrado nas edições em papel quanto ao aproveitamento de hiperligações para fact
checking, A fraca utilização da hipertextualidade traduz-se também na ausência frequente de
hiperligações que relacionem peças noticiosas, confirmando-se a perspectiva de Deuze, para
quem o aproveitamento da hipertextualidade é actualmente medíocre (2001: p.4/5), o que
pode ser explicado pela fraca valorização que delas é feita pela maior parte dos jornalistas,
sobretudo os mais jovens.
Ainda que a natureza multimédia de uma notícia surja nas respostas de mais de 85%
dos jornalistas (sobretudo os mais velhos) como algo desejável, a utilização da fotografia
como elemento associado a / referenciado em cada peça noticiosa surge com menor
83
frequência no ambiente online, algo que é coerente com a desvalorização que dela é feita
quando considerada isoladamente pelos jornalistas. Sem grande surpresa face ao tipo de
jornalismo em análise – imprensa escrita –, observa-se também não apenas a ausência de
utilização e de valorização do vídeo como recurso, mas ainda do áudio.
O reenvio de peças noticiosas por correio electrónico e o comentário isolado a notícias
se assumem como o essencial das mais-valias nas edições online face ao observado nas
edições em papel. Paralelamente, mesmo tendo em conta a valorização positiva feita da
interactividade enquanto conceito junto dos jornalistas, estes reconhecem na sua grande
maioria o facto de que este potencial não está a ser convenientemente explorado. Por outro
lado, não obstante o facto de 80% dos jornalistas inquiridos (os mais jovens) concordarem –
pelo menos em parte – com a ideia de que o jornalismo online deve ser marcado pela
interacção entre jornalistas e leitores, mais de 93% (os mais jovens) reconhece que o
estabelecimento da mesma não é facilitado – sensivelmente a mesma percentagem que
reconhece o facto de a divulgação de endereços pessoais de correio electrónico não ser uma
prioridade no médium em que trabalham. Em termos de prática individual, quase metade dos
inquiridos não lê o correio dos leitores que recebe. Sem prejuízo de a esmagadora maioria dos
que lê o fazem a tudo o que lhes chega (sobretudo os mais velhos), respondem a apenas
metade, e 14% a nada o fazem. Assim, nem toda a comunicação estabelecida por intermédio
de jornais online pode ser considerada interactiva: a verdadeira interactividade não se reduz a
uma resposta (cenário frequente nas secções de correio dos leitores) mas pressupõe o
estabelecimento de um verdadeiro diálogo e feedback (Schultz, 1999: p.3/4).
5.4. EPÍLOGO
A Internet e o seu impacto sobre os Mass media devem ser considerados como mais
um (e não “o”) episódio na História da transformação dos meios de comunicação, causada
pela complexa acção combinada de necessidades apercebidas, pressões competitivas e
políticas, e inovações tecnológicas. Importa reconhecer a importância da Internet mas (e
sobretudo) importa relativizá-la contextualizando-a, sob pena de menosprezarmos a complexa
teia multidimensional de factores subjacentes ao processo evolutivo – e não revolucionário ou
unilateral – através do qual agentes sociais incorporam artefactos técnicos no seu quotidiano
(BOCZKOWSKI, 2004: p2). No caso específico do jornalismo, esta teia de factores
compreende dinâmicas económicas, técnicas e culturais/simbólicas: ao nível económico, os
efeitos sobre a actividade jornalistica produzidos pelo incremento de custos de produção e
distribuição, da concorrência entre media do mesmo tipo e, fundamentalmente, de tipos
84
diferentes pelo mesmo mercado de leitores e de publicidade; ao nível técnico dados os
constrangimentos associados à desigual distribuição de plataformas de acesso e de
competências no âmbito da info-literacia – quer no caso dos jornalistas, quer no caso dos
leitores; ao nível cultural/simbólico, dado o modo como a apropriação de artefactos técnicos é
feita a partir de uma cultural profissional particular, e as flutuações verificadas ao nível das
características e opções de consumo dos leitores:
Neste sentido, não obstante o interesse de que a Internet se reveste para a imprensa –
novo mercado, com oportunidades de segmentação de perfis de consumo e respectiva
personalização de produtos e conteúdos, com vista à geração de novas receitas –, estamos
claramente numa fase de reutilização de conteúdos das edições em papel, complementada pela
exploração de algumas das potencialidades do novo meio, como a utilização de hipertexto, e
uma aposta na interactividade e personalização dos mesmos), provavelmente em virtude de a
85
evolução do Jornalismo online em Portugal não ter vindo a pautar-se por uma ruptura com o
Jornalismo tradicional.
86
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7. ANEXO 1
98
O RUÍDO DAS LUZES: JORNALISMO E INTERNET EM PORTUGAL
PEDRO PEREIRA NETO
99