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Brasília, 2005
“A idéia da Educação Permanente não é recente.
Já Lao-Tsé, filósofo chinês – o descobridor da dialética –
dizia sete séculos antes de Cristo, que
‘todo estudo é interminável’.”
Moacir Gadotti (1987)1
O SUS tem assumido um papel ativo na reorientação das estratégias e dos modos de cuidar, tratar e
acompanhar a saúde individual e coletiva, e tem sido capaz de provocar importantes repercussões nas
estratégias e modos de ensinar e aprender.
Espera-se que a educação seja uma ferramenta em prol da construção de um processo de formação que
contribua para a transformação das práticas pedagógicas em saúde, visando à organização dos serviços,
na perspectiva de se estabelecer um trabalho articulado entre o SUS e instituições formadoras. A
qualificação e humanização da atenção à saúde aos usuários do sistema contribuem para fortalecer a
eqüidade e a consolidação do SUS.
Essa concepção exige um olhar de maior integração e ação conjugada das diferentes áreas temáticas e
propicia processos cooperativos entre as instituições formadoras e o sistema de saúde, sendo um desafio
permanente a construção de processos de educação integrados e sustentáveis.
1
GADOTTI, Moacir. Educação e Poder. Ed. 7. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1987, p. 94.
Em nosso país, a saúde é o setor que vem sendo submetido ao mais significativo processo de reforma
do Estado, protagonizado por importantes segmentos sociais e políticos, cuja ação é fundamental desde
o movimento pela reforma sanitária até a proposta de concretização do SUS. Por essa razão, as várias
instâncias do SUS devem cumprir um papel indutor no sentido das mudanças, tanto no campo das
práticas de saúde como no campo da formação profissional. Uma proposta de ação estratégica que
contribua para transformar a organização dos serviços e da formação, as práticas de saúde e as práticas
pedagógicas implica trabalho articulado entre sistema de saúde (em seus vários níveis de gestão),
instituições formadoras e organizações da sociedade civil.
A formação e a gestão do trabalho em saúde não podem ser consideradas questões simplesmente
técnicas, já que envolvem mudanças nas relações, nos processos, nos produtos e principalmente nas
pessoas. São questões técnico-políticas e implicam a articulação de ações para dentro e para fora das
instituições de saúde. Para que se concretize, a educação permanente requer ações no âmbito da
formação técnica, da graduação, da pós-graduação, da organização do trabalho, da interação com as
redes de gestão e serviços de saúde e com controle social.
Os serviços como espaços de aprendizagem deverão ver atendidas, pelos gestores e formadores, suas
necessidades de planejamento e gestão, de forma a tornar sua estrutura e processo de trabalho
adequados à nova realidade. Especial atenção será exigida para a formulação de novos pactos de
trabalho, capazes de absorver as demandas de cuidado às pessoas e populações, o ensino e a produção
do conhecimento nesses espaços e no conjunto da rede de atenção à saúde.
Na perspectiva da educação permanente e da significação dos processos de formação às necessidades
em saúde, à integralidade do atendimento e à rede de cuidados, é necessário que as instituições
formadoras também realizem importantes iniciativas inovadoras na área do planejamento e gestão
educacional (intra-institucional).
Metodologia da Problematização
Ela está pautada na teoria educacional de Paulo Freire, segundo a qual o indivíduo é considerado
possuidor de uma “vocação para sujeito da história e não para objeto” dela, de forma que, por meio da
educação, pode-se chegar à solução de problemas e à mudança da realidade posta.
Freire propõe que a relação entre o educador e o sujeito da aprendizagem deve ser horizontal e se dar
por meio do “diálogo amoroso”, da vivência de ambos, compartilhando seus problemas e sua
linguagem. Essas situações seriam trabalhadas por meio da problematização da realidade, com o
objetivo de criar conscientização. Essa conscientização levaria a ações político-sociais visando à
“libertação de todos os homens da opressão”.
Superar as concepções tradicionais de educação e constituir uma cultura crítica entre educadores e
profissionais dos serviços de saúde, capaz de levar adiante práticas inovadoras e ativas neste terreno,
são questões consideradas fundamentais para a efetivação das mudanças necessárias à formação
técnica, de graduação, de pós-graduação e para a implementação da educação permanente em saúde.
Os processos educativos não podem tomar como referência apenas a busca eficiente de evidências para
diagnóstico, cuidado, tratamento, prognóstico, etiologia e profilaxia das doenças e agravos, mas devem
dar atenção também à busca de condições de atendimento às necessidades de saúde das pessoas e das
populações, da gestão setorial e do controle social em saúde. A atualização técnico-científica é apenas
um dos aspectos da qualificação das práticas. A formação, porém, deve englobar também aspectos da
produção de subjetividades, produção de reflexão crítica, de habilidades técnicas e o adequado
conhecimento do SUS.
Além disso, o trabalho em saúde guarda especificidades importantes: é um trabalho de escuta, pois a
interação entre profissional de saúde e usuário é determinante para a qualidade da resposta assistencial;
a incorporação tecnológica é premente e constante; os novos processos decisórios repercutem na
concretização da responsabilidade técnico-científica, social e ética quanto ao cuidado, tratamento ou
acompanhamento em saúde.
Como recontextualizador crítico, o facilitador deve incorporar essas reflexões ao seu cotidiano de
trabalho, constituindo-as em um pano de fundo balizador para suas ações, uma vez que seu papel é
acompanhar e facilitar a reflexão crítica sobre os processos de trabalho das equipes que operam no
SUS, em todos os níveis.
Diante do exposto, conclui-se que são desafios para a implantação de educação permanente: promover
a articulação entre os vários atores envolvidos com as ações de educação em saúde; pactuar estratégias
para a implementação das ações; identificar novos parceiros, de forma a facilitar a integração e a troca
de experiências entre eles; contribuir para a ampliação das relações entre os processos educativos dos
trabalhadores da saúde; fomentar a gestão setorial, o desenvolvimento institucional e o controle social
da saúde.
O Programa Nacional de DST e Aids entende que a pactuação com as esferas estadual e municipal, no
campo da saúde, é fundamental para o fortalecimento do papel da gestão descentralizada. Essa
pactuação ocorre, sobretudo, por meio dos programas estaduais e municipais de DST/aids os quais
articulam suas ações com outras áreas técnicas da saúde e intra-setorialmente. As instituições
formadoras e organizações da sociedade civil também são importantes parceiras na implementação de
ações educativas no SUS.
Prioridades do PN-DST/AIDS:
1. Ampliação da cobertura e garantia de acesso:
- aos insumos de prevenção para a população em geral, priorizando as populações sob maior
risco e vulnerabilidade;
9. Aprimoramento dos mecanismos de gestão que promova a eficiência das ações e o exercício
dos direitos de cidadania;
Os preceitos da política de educação permanente são os pilares de todas as capacitações realizadas pela
UDHI. Os passos a serem percorridos e as demandas consideradas em um planejamento de capacitação
levam em conta a realidade, as prioridades, a descentralização e as parcerias governamentais e não-
governamentais para alcançar os objetivos propostos.
1) A realidade local;
2) As metas estabelecidas;
3) Os indicadores de saúde;
4) Os problemas que acontecem no cotidiano do trabalho referentes à atenção à saúde e à organização
do trabalho;
5) As demandas dos usuários do SUS;
6) A intersetorialidade das ações;
7) A atenção integral, humanizada e de qualidade.