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2007
• INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 3
• CONCLUSÃO ......................................................................................................................15
• REFERÊNCIAS ...................................................................................................................16
1. Introdução
A relativização da imunidade de jurisdição dos entes de direito público
externo é questão comumente enfrentada pelos tribunais pátrios, que, por vezes, cedem à
tentação de atribuir às regras de fixação da competência inscritas na Constituição de 1988
autoridade para justificá-la1. Contudo, é relevante delimitar as verdadeiras causas da
mitigação da imunidade, buscando-as na evolução do direito internacional público, sob
pena de confundirem-se conceitos básicos da teoria geral do processo e os limites
territoriais da eficácia do direito nacional – e este é o objetivo do presente trabalho.
Para tanto, analisar-se-ão, nas próximas linhas, temas pertinentes aos planos
interno e internacional, amparando a pesquisa na doutrina e na jurisprudência e esperando-se,
por fim, demonstrar o que está por detrás do atual reconhecimento de imunidade meramente
relativa aos entes de direito público externo.
2. Jurisdição e competência:
Tem-se comumente conceituado competência como o limite ou a medida de
1
Cf., por exemplo, o trecho da seguinte ementa do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região:
“IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. [...]Com o advento da Constituição
Federal de 1988, o seu artigo 114 veio a estabelecer expressamente a
competência da justiça do trabalho para julgar dissídio envolvendo ente
de direito público externo, não prevalecendo mais a teoria da imunidade
jurisdicional no caso de demanda trabalhista ajuizada por súdito local
contra representação diplomática estrangeira.” RO 08846-93. 3. Turma.
Relator: Juiz Paulo Roberto Capanema da Fonseca. DORJ 11-05-2001, P.
III, S. II, 3. Recorrente: Centro Pan-Americano de Febre Aftosa.
Recorrido: Cleber de Souza Isidoro.
6
Idem, p. 167-8.
Muito apropriadamente, Alexandre Freitas Câmara faz notar que a questão
concernente à competência “não é de quantidade de jurisdição, mas dos limites em que cada
órgão jurisdicional pode legitimamente exercer esta função estatal”7.
Ora, se trata-se de limites para o exercício de um poder (neste caso, o poder-
dever de prestar a tutela jurisdicional), está-se a falar de legitimação, não de capacidade. Ao
contrário da incapacidade, que se estende à prática de todos os atos da vida civil, a ausência
de legitimação é específica para determinados atos.
A propósito, a lição de Orlando Gomes:
É, pois, legitimação para a realização de certos atos que a lei atribui ao juízo
ao fixar a sua competência, visando a dar praticabilidade e, assim, viabilidade à prestação
da tutela jurisdicional. Assim entendida, a competência deixa de espelhar qualquer
comprometimento em relação à quantidade de jurisdição atribuída a cada órgão
jurisdicional, evidenciando, porém, a necessidade de se impor limites ao exercício da
função estatal por questão de ordem prática.
Pode-se, pois, conceituar a competência como a delimitação da legitimação
dos órgãos judicantes para o exercício da função jurisdicional, ou, seguindo Alexandre
Freitas Câmara, como o conjunto de limites dentro dos quais cada órgão do Judiciário
pode legitimamente exercer a função jurisdicional.
7
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito processual civil. 1. vol. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1998. p. 95.
8
GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 14 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. P. 142/143.
objetivo, funcional e territorial na tarefa de fixação da competência9.
Em breves linhas, podemos afirmar que o critério objetivo subdivide-se em
competência em razão do valor da causa e da matéria, referindo, respectivamente, ao valor
necessariamente atribuído por força do art. 258 do CPC e à natureza da pretensão deduzida
em juízo.
Pelo critério funcional, a competência é distribuída de acordo com a função
exercida no curso de um mesmo processo, por um ou diferentes juízos. Assim, temos o
juízo deprecante e deprecado, o juízo originário e os tribunais, o juízo perante o qual se
desenvolve a atividade de conhecimento e a de execução.10
Finalmente, na fixação da competência territorial ou de foro, leva-se em
conta a localização do órgão jurisdicional legitimado para apreciar a causa.
Diz-se, ainda, da competência em razão da pessoa, ou seja, fixada em
função de uma específica qualidade da(s) parte(s) ligitante(s).
Para os fins deste trabalho, importa-nos a fixação da competência segundo os
incisos I e II do artigo 109 e I do art. 114 da Constituição da República:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I. As causas em que a União, entidade autárquica ou empresa
pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidente
de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;
II. as causas entre Estado estrangeiro ou organismo
internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente
no País;
[...]
9
Idem, p. 96.
10
A questão da competência na execução é controvertida. Pires Chaves, Campos Batalha, Rezende Filho e
outros entendem-na material (Cf. PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista. 8. ed. São Paulo:
LTr, 1998. p. 51). Para Carnelutti, “já que em razão da distinta natureza da lide muda também a estrutura do
processo, esta é uma competência na qual se confundem os caracteres da competência funcional e material”
(CARNELUTTI, Francesco. Instituições do processo civil. 1. vol. Campinas: Servanda. 1999. p. 269)
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I. as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os
entes de direito público externo e da administração pública
direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios.
Extrai-se de tais regras que (a) as causas que envolvam entes de direito público
externo em litígio com a União, entidade autárquica, empresa pública federal, Municípios ou
pessoa residente ou domiciliada no País serão submetidas à Justiça Federal, desde que (b) não
sejam oriundas da relação de trabalho – caso em que serão apreciadas pela Justiça do
Trabalho. Releva salientar, ainda, que as causas relativas a acidente do trabalho inscrevem-se
na competência residual do Poder Judiciário dos Estados, e que os entes internacionais de que
está-se a tratar não estão, por óbvio, sujeitos à falência ou à legislação eleitoral.
A questão que ora se põe é: são as regras constitucionais acima que conferem
ao Estado brasileiro jurisdição sobre entes de direito público externo e organismos
internacionais? A resposta é negativa; afinal, como já explicitado, essas regras versam sobre
competência, ou seja, sobre os limites nos quais os juízos exercem legitimamente a jurisdição,
não sobre a jurisdição em si mesmo considerada. Se fixam-se limites para o legítimo exercício
da jurisdição, é porque esta preexiste a tais limites. Mais: a Constituição integra o direito
interno e, portanto, suas regras e princípios não impõem-se aos entes de direito público externo
e organismos internacionais, já, a par da questão da soberania, a criação das normas é obra
direta de seus destinatários.11
Que fenômeno, então, autoriza a Constituição pátria a reconhecer a
possibilidade de moverem-se demandas judiciais em face de pessoas jurídicas de direito
público externo? O primeiro passo para responder-se a esta questão está na identificação das
fontes do direito internacional público.
11
REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
p. 1.
De acordo com José Francisco Rezek12, no Estatuto da Corte da Haia, primeiro
tribunal vocacionado a resolver litígios entre os Estados sem qualquer limitação de ordem
geográfica ou temática, estão relacionados como fontes: os tratados, os costumes e os
princípios gerais do direito. O estatuto refere também à jurisprudência e à doutrina como
meios auxiliares na determinação das regras jurídicas, e faculta, sob certas condições, o
emprego da eqüidade.13
Tratando-se a imunidade de jurisdição de fenômeno jurídico atinente ao plano
internacional, é entre essas fontes – e não fontes de direito interno – que deve-se identificá-lo.
Refere o mesmo autor que não há qualquer norma escrita que confira
imunidade absoluta de jurisdição aos Estados, encontrando-se nas Convenções de Viena
dispositivos que apenas asseguram tais prerrogativas aos diplomatas e cônsules, na medida em
que aos negociadores daquelas convenções pareceu supérfluo objetivar uma antiga norma
costumeira segundo a qual um Estado soberano não poderia ser forçosamente submetido, na
condição de parte, à jurisdição de outro14.
Esse antigo costume, expresso pelo aforismo par in parem non habet judicium,
em sua origem medieval era voltado à pessoa do monarca e de seus agentes (par in parem non
habet imperium) e, com o passar do tempo e o deslocamento da noção de soberania do rei para
o Estado moderno, teve sua finalidade direcionada à proteção das relações diplomáticas,
evitando que atos judiciais coercitivos fossem utilizados como represálias em função de
12
Idem, p. 9.
13
Dispõe o artigo 38 do Estatuto:
“1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsia
que lhe forem submetidas, aplicará:
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras
expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o
direito;
c) os princípios gerais do direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) sob reserva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos
juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação
das regras de direito.
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão “ex
aequo et bono”, se as partes com isso concordarem.”
O fato de o Estatuto não contemplar as decisões unilaterais dos Estados e aquelas tomadas pelos organismos
internacionais é irrelevante para os fins deste estudo.
14
REZEK, José Francisco. op. cit. p. 173.
decisões alienígenas contrárias aos interesses de um determinado Estado. 15 Seu
reconhecimento pela jurisprudência deu-se sobretudo no século XIX, quando os tribunais das
mais variadas nacionalidades, embora com algum grau de divergência, passaram a aplicá-lo
em larga escala, contribuindo para o desenvolvimento progressivo da noção doutrinária da
imunidade de jurisdição.
A princípio, dava-se ao costume em tela a nota de absoluto 16, isentando os
entes de direito público externo e organismos internacionais – salvo expressa renúncia da
imunidade - de toda e qualquer demanda judicial em face deles proposta, com inspiração no
conceito “hobbesiano-maquiavélico ex parte príncipe de soberania”17. Assim, não submetiam-
se à jurisdição local caso viessem a descumprir a legislação local, muito embora sujeitos a
esta quando atuando em território estrangeiro. Jurisprudência brasileira ainda recente espelha
esse entendimento, como revela a seguinte ementa:
15
ALVES, Laerte Meyer de Castro. Imunidade de jurisdição dos estados estrangeiros em matéria trabalhista
no Brasil. disponível em < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8115>. Acesso em 10 Dez 2006.
16
Segundo Meyer de Castro, op. cit., tal pensamento enraizou-se na jurisprudência a partir do julgamento do
caso The Schooner Exchange vs McFaddon pela Suprema Corte norte-americana, em 1812.
17
VIEIRA, Oscar Vilhena. Imunidades de jurisdição e foro por prerrogativa de função. Disponível em <
http://dhnet.org.br/direitos/sip/tpi/textos/tpi_vilhena.html> Acesso em 10 Dez 2006.
Não é difícil de imaginar que o caráter absoluto atribuído ao princípio
sacrificava significativas aspirações de justiça social, já que, graças à expansão do liberalismo,
os Estados passaram a celebrar os mais variados contratos privados com particulares, que
viam-se em situação de inferioridade ao pleitear o cumprimento de obrigações eventualmente
inadimplidas pelos entes estatais estrangeiros ou seus representantes, cabendo salientar que
“quase todos os postulantes da prestação jurisdicional, frustrados ante o reconhecimento da
imunidade, eram ex-empregados de missões diplomáticas e consulares, desejosos de ver
garantidos seus direitos trabalhistas”.18
Assim, pouco a pouco a questão da imunidade de jurisdição passou a ser
enfrentada com um grau de rigidez não tão acentuado já na metade do século XX sendo
comum que nos grandes centros de negócios negasse-se imunidade até mesmo aos
representantes diplomáticos e agentes consulares – protegidos, como já referido, pelas
Convenções de Viena – quando os atos por ele praticados não se inserissem nas atividades
típicas de diplomacia ou serviço consular.
Iniciou-se desta forma a tendência jurisprudencial de análise casualística com
base na separação entre os atos de império e os atos privados ou de mera gestão, excluindo-se
os praticantes destes últimos da proteção absoluta até então conferida. Ementa recente espelha
o entendimento que já ganhava força naquela época:
18
REZEK, José Francisco. op. cit. p. 174.
Marc Gerber. Fonte: < http://www.trtrio.gov.br/cgi-
bin/om_isapi.dll?
clientID=3459&E1=&E10=&E2=&E3=&E4=&E5=&E6=Imu
nidade%20de%20Jurisdi
%e7%e3o&E7=&E8=&E9=&advquery=%5bField
%20TITULO%3aImunidade%20de%20Jurisdi%e7%e3o
%5d&infobase=JURIS4.NFO&record={618C}&recordswithhi
ts=on&softpage=Doc_Frame_Pg > Acesso em 16 DEZ 2006.
19
ALVES, Laerte Meyer de Castro. op. loc. cit.
Argentinos (Argentina, 1995).20
A seguinte ementa, extraída do acórdão proferido no agravo 4107/05-4 do
Tribunal da Relação de Lisboa (Relatora Maria João Romba), ilustra bem o desenvolvimento
da jurisprudência a respeito do tema ora tratado:
I - Configura acção de indemnização fundada em responsabilidade civil,
emergente do incumprimento de uma obrigação acessória do contrato de
trabalho – como é a obrigação contributiva perante a Segurança Social – ou,
pelo menos, fundada no enriquecimento sem causa (art. 473º e segs. do CC),
e não execução para pagamento coercivo das contribuições à
Segurança Social, como à primeira vista se poderia pensar, aquela em que
um trabalhador demanda a entidade patronal pedindo a respectiva
condenação a pagar à Segurança Social as contribuições relativas à
actividade
prestada ao seu serviço durante certo período, como forma de obter a
reparação, por reconstituição natural, do prejuízo causado ao A. pelo
comportamento da R. que consiste na omissão de tal pagamento, o que, pela
repercussão que necessariamente terá no valor da pensão de velhice a que o
A. terá direito, é causa adequada do prejuízo que se traduz na diferença
entre o valor da pensão calculada com base em todos os salários que auferiu
ao longo da sua carreira profissional e da pensão calculada sem considerar
os salários do período em causa.
20
Segundo Laerte Meyer de Castro Alves, que relaciona essas normas no artigo já citado, “fazendo-se uma
análise dos dois mais importantes documentos de direito internacional sobre imunidades dos Estados (o
Projeto de Convenção da CDI sobre Imunidades dos Estados e a Convenção Européia de 1972) podemos
concluir que em termos gerais, os Estados estrangeiros não fazem jus às imunidades: quando atuam como
particular em atividades industriais, comerciais, financeiras ou de prestação de serviços; em litígios oriundos
de contratos de trabalho ou de prestação de serviços (salvo se o objeto for o recrutamento, a renovação ou
reintegração do contratado) celebrados com indivíduos nacionais ou habitualmente residentes no Estado do
foro, em que o trabalho ou serviço seja executado neste, desde que os indivíduos não sejam nacionais do
Estado empregador ou tenham sido admitidos para exercerem funções estreitamente relacionadas com a
autoridade governamental; em ações de indenização por danos causados a pessoas ou bens materiais no
território do Estado do foro, nas quais seja apurada a responsabilidade civil do Estado estrangeiro; em
procedimentos que envolvam direitos reais ou estejam relacionadas à propriedade ou posse de bens imóveis;
em questões sucessórias onde o Estado recebeu bens a título não oneroso e em procedimentos falimentares de
empresas onde o Estado figure como sócio, acionista ou proprietário; em demandas que tenham como objeto
bens incorpóreos concernentes a direitos autorais, intelectuais e industriais; ao participar de uma sociedade
comercial ou outro ente dotado de personalidade jurídica que tenha sede, filial ou agência no Estado do foro,
em conflitos que versem sobre o relacionamento do Estado com a própria sociedade ou com os outros
participantes, desde que estes não sejam somente outros sujeitos de personalidade internacional; em lides
envolvendo operações de navios de propriedade do Estado que não sejam utilizados para fins governamentais;
na hipótese do Estado se submeter à arbitragem, cujos procedimentos decorram no território do Estado do
foro ou quando o seu direito seja aplicável, exceto conste diferente previsão no compromisso arbitral.
II- Porque a competência do Tribunal se afere pelos termos em que o
A. delineia a causa, é competente para esta acção o Tribunal do Trabalho,
por se tratar de uma acção emergente de uma relação de trabalho
subordinado, já que, subjacente ao comportamento ilícito e culposo
imputado
ao R., ou pelo menos ao enriquecimento ilegítimo do mesmo, está uma
obrigação legal que só existe porque entre as partes vigorou um contrato de
trabalho.
III- Face ao objecto da acção tal como ficou delineado, o prazo de
prescrição a considerar é o previsto para os créditos resultantes
do contrato de trabalho e da sua violação ou cessação (art. 38º nº 1 da
LCT) e não o previsto no art. 49º da Lei de Bases da Segurança Social (L. nº
32/2002).
IV- A imunidade jurisdicional dos Estados é um princípio de direito
internacional público, corolário da igualdade dos Estados, que
visa garantir o respeito pela soberania.
V- Se alguma vez tal princípio teve carácter absoluto, tem vindo
a perdê-lo, sendo hoje dominante na doutrina e na
jurisprudência internacionais a concepção restrita da imunidade judiciária
dos Estados.
VI- De acordo com a teoria restrita da imunidade, importa saber se o
caso em litígio diz respeito à actividade soberana do Estado (jure imperii)
ou a actos de natureza privada, que poderiam ser de igual modo praticados
por um particular (jure gestionis).
VII- A actuação do Estado estrangeiro que, enquanto empregador, omitiu
o pagamento à Segurança Social das contribuições relativas a um
seu trabalhador subordinado, sem funções de responsabilidade no
serviço público prestado pelo Consulado, configura um acto jure gestionis,
não beneficiando, pois, de imunidade
jurisdicional.
VIII- O mesmo não vale relativamente às acções de impugnação
de despedimento colectivo, na medida em que o fundamento para o
despedimento se enquadre numa reestruturação dos serviços consulares, em
conformidade com orientações do respectivo Ministério das Relações
Exteriores, por esse acto configurar um verdadeiro acto de soberania (jure
imperii) relativamente ao qual tem cabimento a invocação da
imunidade jurisdicional, falecendo assim à jurisdição portuguesa
competência internacional para conhecer do litígio.21
Como se vê, a orientação internacional corrente é de reconhecer imunidade de
jurisdição aos praticantes de atos de império – “a um domínio regido seja pelo direito das
gentes, seja pelas leis do próprio Estado estrangeiro: suas relações com o Estado local ou co
terceira soberania, com seus próprios agentes recrutados de origem, com seus súditos em
matéria de direito público”22 - sejam ou não arrolados de forma mais ou menos taxativa, em
normas escritas, quais atos estariam excluídos de tal conceito.
Essa orientação foi definitivamente reconhecida pela jurisprudência brasileira a
partir do voto condutor do então ministro Francisco Rezek, proferido no caso Genny de
Oliveira vs. Embaixada da República Democrática Alemã. Eis a ementa do acórdão do Pleno
do Supremo Tribunal Federal, relatado pelo Ministro Sidney Sanches:
6. Conclusão
Com este trabalho, espera-se ter demonstrado, ainda que sucintamente,
como a evolução das regras costumeiras do Direito Internacional Público – e não as regras
constitucionais de fixação competência – levou à relativização do conceito de imunidade de
jurisdição dos entes de direito público externo e organismos internacionais no Brasil,
especialmente no que concerne à fase de conhecimento.
O tema é extenso, ainda que se o tenha delimitado ao máximo; portanto, não
se espera tê-lo esgotado, mas sim aberto portas para novos questionamentos.
Cabe acrescentar que, por força das Convenções de Viena de 1961 e 1963,
os bens afetos à representação diplomática ou consular gozam de inviolabilidade; logo,
somente poderão ser penhorados e alienados por via judicial caso haja expressa renúncia a
essa proteção por parte do Estado estrangeiro. Mas essa é uma outra história.
7. Referências: