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FAFIDAM BISEKATECA on LAMO| & ¢ a ‘SUMARIO Comrie © D96b; Rebeno Lobo Conta @ EB E Capa: Projo grifico de Pawicia Conta «ZB Composigio: Art Line Produgbes Grificas Leda ey 8 38 PREFACIO 7 APRESENTAGAO 11 PRIMEIRA PARTE ~ AS REDES GEOGRAFICAS 1. Repensando a Teoria das Localidades Centrais 15 2. As Redes de Localidades Centrais nos Paises Subdesenvolvidos 41 3. Origem e Tendéncias da Rede Urbana Brasileira: Algumas Notas 93 4, Dimensées de Andlise das Redes Geogréficas 107 ISBN 85-286.0590-6 graf. 2. Beal = Geografis 1. 96.2039 Suse” 2039 cbu=s1 SEGUNDA PARTE —O ESPAGO URBANO “Todos os dieitos reservados pela: 5, Processos Espaciais e a Cidade 121 6. © Espago Urbano: Notas Teérico-Metodolégicas 145 BCD UNIAO DE EDITORASS.A. ‘Av. Rio Branco, 99 ~ 208 andar ~ Centro ; 4 20040-004 ~ Rio de Janciro~ RY 7.Meio Ambiente e a Metropole 153 8. O Espaco Metropolitano e sua Dinémica 171 Tels: (OXX21)263-2082 ~ Fax: (OXX21)263-6112 parcial desta obra, por TERCEIRA PARTE — A REGIA zagio por exctito da Editors 9, Regio: A Tradigao Geografica 183 A Organizacio Regional do Espago Brasileiro 197 ‘Atendemos pelo Reembolco Postal. 3. ORIGEM E TENDENCIAS DA. Rape URBANA BRASILEIRA: ALGUMAS Notas I Em primeiro lugar cumpre explicitar 0 que enten- jomos por rede urbana. Em termos genéricos a rede bana constitui-se no conjunto de centros urbanos fun- jonalmente articulados entre si. £, portanto, um tipo urticular de rede na qual os vértices ou ns so os dife- intes nticleos de povoamento dotados de fungées urba- as, € 08 caminhos ou ligacdes os diversos fluxos entre wes centros.t A analogia acima necessita esclarecimentos, O tipo de rede a que nos referimos, a rede urbana, é um produ- ial, historicamente contextualizado, cujo papel al & 0 de, através de interagdes sociais espacializa- das, articular toda a sociedade numa dada porgéo do ‘espaco, garantindo a sua existéncia e reproducao. Em razo da desigual espaco-temporalidade dos processos sociais, da qual a rede urbana é simultanea- mente um reflexo e uma condicao, verifica-se a existén- cia de diversos tipos de redes urbanas de acordo com 0 padrao espacial, a complexidade funcional dos centros € 0 grau de articulacao interna e externa de cada rede. Os trabalhos de Smith e Gottman? constituem exemplos de estudos que evidenciaram a existéncia de redes urba- nas em diversos contextos histérico-espaciais. Neste sentido néo aceitamos os modelos formais de Christaller, Lésch e Zipf como referéncias dotadas de om ROBERTO LOBATO CORREA universalidade3 Semelhantemente, néo endossamos a tese da existéncia de redes urbanas organizadas e desor- ganizadas, tese que est apoiada em pardmetros arbitré- rios, derivados de modelos hipotético-dedutivos e nor- mativos, ou apoiada em visao etnocéntrica, européia e norte-americana, da urbanizagao. Entendemos que para haver rede urbana trés con- digdes minimas devem ser satisfeitas. Primeiramente tratar-se de uma sociedade vivendo em economia de mercado, com transagdes comerciais envolvendo bens produzidos localmente e bens produzidos externamen- te. Isto pressupde uma minima divisao territorial do tra~ balho. Em segundo lugar deve haver pontos fixos no espago onde, de modo permanente ou temporario, as transagdes s4o realizadas. Esses pontos fixos, por outro lado, tendem a apresentar outras atividades que garan- tema possibilidade das transagées serem realizadas. Em terceiro lugar deve haver um minimo de interaces entre esses pontos fixos, interagdes que refletem e ratifi- cam uma diferenciacao hierarquica e/ou em termos de especializacao produtiva entre eles Todas as sociedades que apresentam as condigées acima especificadas possuem redes urbanas. Assim, pode-se falar de uma rede urbana no mundo greco- romano ou na Baixa Idade Média, cada uma delas apre- sentando caracterfsticas préprias, inseridas nas respecti- vas organizagdes espaciais. Na organizagéo espacial do capitalismo do final do século XX, caracterizada entre outros aspectos pela globalizacao-fragmentacao, 0 mundo exibe grande diversidade de redes urbanas, assim como 0 fato de cada centro urbano participar simultaneamente, ainda que com intensidades diferentes, de diversas redes urbanas. TRAJETORIAS GEOGRAFICAS 95 Him cada uma delas desemperha um papel distinto. As grandes corporagdes multifuncionais e multilocalizadas, struturadas em redes, desempenham poderoso papel ha (re)definigao funcional dos centros e na natuteza e tensidade da integragao de cada rede na economia glo- Jal que possui poucos centros de gestéo do territério, cabegas de redes urbanas de abrangéncia mundial § IL A rede urbana brasileira, pela sua amplitude e iversidade, constitui-se em rico laboratério para 0 estudo da dinamica espacial da sociedade brasileira. /amos, nestas notas, ressaltar as seguintes caracterfsti- articuladas entre si: a complexidade genética, os iversos padrdes espaciais, a crescente complexidade uncional de seus centros ¢ os diversos tipos e intensida- des de integracao interna e externa. As caracteristicas ‘cima apontadas resultam de um proceso complexo de criagdo e evolugéo dos centros urbanos, processo esse que tem sido marcado por uma desigual espaco-tem- lidade. A COMPLEXIDADE GENETICA ‘A rede urbana brasileira 6 constitufda por um con- into de centros datados de diversos momentos. Co- stem no mesmo espago cidades criadas na primeira ade do século XVI, no inicio da colonizacao, e cida- les nascidas na década de 1980, enquanto outras mais (0 criadas no inicio do século XXI, na ainda nao 96 ROBERTO LOBATO CORRS, esgotada “fronteira do capital”, a Amaz6nia, A redi urbana brasileira ndo esté, assim, totalmente elaborada, A coexisténcia, no presente, de niicleos urba criados em momentos diversos atesta a acdo de diverso processos capazes de gerarem centros urbanos em pos distintos. Delineia-se entio uma complexidad. genética da rede urbana brasileira’. A complexidade traduz-se também pela diferencia- - go entre os centros urbanos no que se refere aos agen= tes e propésitos imediatos da criagao. A criacao de micleos estrategicamente localizados, € sob a protecio de um forte, & entrada de uma baia ou junto foz de um rio, constitui-se em um padrao de ctiagfo urbana visando a protecao do litoral e da via de penetracao para o interior que em breve seria conquista- do e povoado. Salvador, Rio de Janeiro e Belém séo exemplos dessas criagdes urbanas coloniais. A ctiagao de micleos ou o desenvolvimento de fun- Ges urbanas junto a uma atividade econémica foi regra geral na génese da rede urbana brasileira: junto a uma sede de engenho de acticar, de um seringal, de uma mina ou garimpo, de uma capela em fazenda, de uma fabrica ‘éxtil, a uma pousada de tropas de burros ou no entron- camento de rotas de comércio. Os exemplos sao numero- 0s e, muitas vezes, revelados pela toponimia urbana. Entre os agentes criadores de cidades esto a coroa _ portuguesa e o Estado brasileiro. As Provincias e os Estados da Unido também criaram nticleos urbanos, alguns dos quais com 0 propésito de transferir velhas e acanhadas capitais provinciais ou estaduais: Teresina em lugar de Oeiras, Aracaju em substituigao a Sao Crist6vao, Belo Horizonte substituindo Ouro Preto e Goiania a Goiés. TRAJETORIAS GEOGRAFICAS 7 ‘As empresas de colonizagao também criaram cida- des. Londrina no Norte do Parand é um exemplo; outras estao localizadas no Planalto Ocidental paulista” e outras, mais recentes, na fronteira amaz6nica, como se exemplifica com Ouro Preto do Oeste em Rondénia e Alta Floresta e Sinop em Mato Grosso. Empresas industriais e de mineragéo criaram cida- cles, “company towns”, estreitamente dependentes de suas atividades e decisbes: Joao Monlevade (Belgo Mi- neira), Volta Redonda (CSN), Harmonia (Klabin), Cara- jas (CVRD) e Porto Trombetas (Mineracao Rio Norte) sao apenas alguns dos muitos exemplos. Finalmente, andnimos fazendeiros, “pedes” rurais, camponeses, comerciantes, madeireiros e garimpeiros criaram centenas e centenas de niicleos urbanos. Impor- tante também foi o papel das ordens religiosas. ‘A complexidade genética da rede urbana brasilei- ra, aqui apenas esbocada, é reveladora da existéncia de diversos padrdes espaciais, da crescente complexidade funcional de seus centros e da complexa integracao interna e externa dos centros da rede urbana. Os DIVERSOS PADROES ESPACIAIS ‘A rede urbana brasileira nao pode ser descrita a partir de um tinico padrao espacial, seja ele tipicamente christalleriano, dendritico ou oferecendo algum tipo particular de arranjo espacial; as densidades de centros, por sua vez, variam desde as altas densidades de certas reas do Sudeste, como a regio urbano-industrial pau- lista, do Sul, como as zonas “coloniais” antigas gaticha e catatinense, e do Nordeste como o Agreste pernambu- ‘cano, as baixas densidades de centros das regides escas- samente povoadas como 0 Sertao nordestino. 98 ROBERTO LOBATO CorRE, RAJETORIAS GEOGRAFICAS 98 ‘Assim, padrao espacial e complexidade funcional 0 correlatos, indicadores de um proceso de transfor- Ingo da sociedade e de sua organizacio espacial, da a rede urbana é uma de suas mais importantes ianifestagdes e condicionantes. Os diversos padrdes espaciais so reveladores, on de uma superposigio, ora de uma justaposicao, de pro’ cessos criativos de niicleos urbanos verificados em mo: mentos distintos e com propésitos também diversos, configurando no presente uma rede extremamente com: plexa.s Ao que tudo indica, o primeiro padrao espacial da rede urbana brasileira foi o padrao dendritico, caracteri zado por uma cidade litordnea criada para ser primeira mente um ponto de defesa do litoral e uma via de pene- tracdo para o interior; posteriormente, transforma-se ponto de apoio para a penetracao e conquista do inte rior. A partir dela sao criadas outras cidades subordina: das de modo sistemitico a centros urbanos localizados jusante ou na diregao da cidade litoranea: as cidad “bocas de Sertao” e “pontas de trilhos” sao exemplos d centros do interior. A rede urbana amazénica até 1960, aproximada mente, caracterizava-se por apresentar um padrao espa’ cial dendritico, comandada por Belém. As transforma: bes verificadas na Amaz0nia, sobretudo a partir d 1970, introduziram maior complexidade a rede urbai originando novos padrées espaciais nao mais definido, pela rede fluvial nem por ligagées exclusiva com capital paraense? A rede urbana das éreas industriais do Sudeste, es pecialmente aquelas do Vale do Paraiba e da area pro» ma & metrépole pauilista — Santos, Jundiat, Sorocaba Campinas — assim como pelo eixo que se estende di Campinas a Ribeirao Preto, caracteriza-se por forte ten- déncia a uma coalescéncia fisica e forte integracdo fun- cional. Trata-se de um padrao espacial de areas urbano’ industriais originador de “corredores” urbanizados. (CRESCENTE COMPLEXIDADE FUNCIONAL 98 CENTROS A rede urbana brasileira caracterizava-se até a iegunda Guerra Mundial por um limitado grau de iversificag4o funcional de seus centros. Diferenciavam- # entre si sobretudo no que se refere ao papel que lesempenhavam como lugares centrais, distribuindo e servigos, e como centros de comercializacao mento da produgao rural de suas hinterlan- Alguns centros dispunham, adicionalmente, de ie funcao de residéncia de fazendeiros, enquanto uitros tinham atividades industriais ou outra funcao jpuco usual. Através da posigo de um dado centro na hierar- a urbana derivava-se a sua importancia na rede de 's, A divisdo territorial do trabalho era, em termos , dada pelas fungdes centrais distribuidas segundo modelo hierarquico do tipo christalleriano. A industrializagao, a melhoria geral da circulagio, mento de uma estratificagao social mais mplexa, criando niveis de demanda mais diferencia- Ws, a modernizagao do campo e a incorporacao de Was Areas, levaram a uma complexificagéo funcional Ws centros urbanos brasileiros, A posi¢ao de cada cen- na hierarquia urbana néo é mais suficiente para des- ‘er e explicar a sua importancia na rede de cidades. 100 ROBERTO LOBATO CORR a ociais, vai se traduzir, segundo as diversas redes urba- hs, em tipos e intensidades distintos. Este 6, sem diivi- in, 0 caso dos diversos segmentos da rede urbana brasi- » E necessario que se considere suas especializacées fuk cionais, sejam industriais ou vinculadas aos servica muitos dos quais criados recentemente. A divisao territorial do trabalho entre os centr urbanos amplia-se. Potencialidades funcionais latent emergem ou sio efetivamente criadas. Ao mesmo tem Po muitos centros perdem parte de suas fungdes. Si equenos nticleos urbanos que tinham sido criados, determinadas condigdes de demanda e circulagéo. Mul tos pequenos centros, antigos e novos, caracterizam: como reservat6rios de forga-de-trabalho rural. A complexidade funcional crescente vai trad se, entre outros aspectos, no fato de que cada cent situa-se simultaneamente em pelo menos duas red Uma constituida por localidades centrais e na qual centro tem uma posig&o (metrépole, capital r centro sub-regional, centro de zona, centro local) § outra, menos sistemética e mais irregular, na qual cad centro desempenha um papel singular e/ou compl mentar a outros centros. Um exemplo é suficiente: cidade paulista de Franca é simultaneamente um cent sub-regional subordinado a Ribeirao Preto e um centii industrial especializado na produgao de calgados m culinos para o mercado nacional e internacional. Complexidade funcional implica em diversos tip e graus de integracao dos centros. A integragao, contudo, é relativamente recente ido se pensa em rede urbana nacional. Criada a par- de cidades litoraneas fundadas antes da constituicao Je suas respectivas hinterlandias, formou-se uma orga- aco urbana descrita pela metéfora de um arquipéla- qual, no ambito de cada “ilha”, foi instituida uma do tipo dendritico, centrada na cidade litoranea. O desfazer desse padrao dendritico foi gradual e jesigualmente realizado, pressupondo uma similar (cdo através das cidades “bocas de Sertao” e “pon- 145 de trilhos” do interior. A crescente divisdo territorial ip trabalho e a necesséria ampliagao das articulacées regionais — via telegrafica, ferrovidria, rodovidria pelas modernas e sofisticadas redes de comunicagdes gerou uma rede urbana efetivamente nacional. Foi no yp0s-guerra, e sobretudo a partir do forte processo de trializacao da década de 1950, que a rede urbana brasileira foi efetivamente integrada. Nesta integracio lias metrépoles nacionais emergiram, Rio de Janeiro e io Paulo, resultantes de processos que se realizaram tempos e espacos distintos, mas que tiveram uma uircial sineronia e que foram focalizados em dois cen- {10s urbanos distintos. A partir da década de 1970 a rede urbana brasilei- caracterizada por uma complexidade genética, por yersos padrdes espaciais e por uma crescente comple- le funcional, caracteriza-se por uma integrag4o que enta novos padrdes de desigualdades, Vejamos guns aspectos dessa integracao desigual. A INTEGRAGAO INTERNA E EXTERNA. Qualquer rede urbana tem entre seus atributos cessérios alguma integracdo interna e externa que, em. 280 da desigual espaco-temporalidade dos processo ROBERTO LOBATO CORRR) A integracdo da rede urbana 6 mais complexa § intensa. Nao mais é marcada exclusivamente por i Ses do tipo descrito pela teoria das localidades cent trais, mas inclui também interagées de complementa dade no ambito de uma mais complexa divisdo territo rial do trabalho na qual h4 numerosas especializacd funcionais que definem intimeros centros urbanos. A complexidade envolve tipos de relagdes que, jd eram existentes no passado, “tornaram-se mai sas, operacionalmente mais modernas e eficaze: ainda mais, generalizadas por todo 0 territério nacio nal;19 passaram também a realizar-se “em diferent direcées, abrangendo centros que se situam em regi néo-contiguas entre si. Intensidade, generalizagio e contigiiidade, que foram viabilizados pela difusto modemnos e eficazes meios de comunicagéo implant dos pelo Estado”) ‘A complexidade da integragio envolve, por out lado, o fato de cada centro urbano fazer parte de redes de cidades, redes vinculadas aos miiltiplos ps corporacées multifuncionais e multilocal proprias organizadas sob a forma de rede, Assim, relacionava-se quase que exclusivamente com u tinica metrépole regional, atualmente relaciona-se tai bém com outras metrépoles, diversas capitais region e mesmo com alguns pequenos centros longinquament localizados.!2 ‘A continuidade do processo de industrializag que se difundiu parcialmente pelo interior, a mod zagao do campo gerando o seu esvaziamento de ho [MAJETORIAS GEOGRAFICAS jens ao mesmo tempo que introduzia novas demandas ‘idades, as transformagOes na estrutura comercial, was vias de circulago de mercadorias e 0s novos jwios de telecomunicagées constituem um conjunto ar- lado de fatores vinculados ao grande capital e a acéo Fstado, que afetaram os tipos e a intensidade da in- yragéo da rede urbana brasileira. A integracio é, assim, desigual. A metrépole pau- a emergiu claramente como centro maior da rede shana. Assim, a guisa de exemplo, em 1990 Sao Paulo sentava niimero maior de ligaces telef6nicas inter- iclonais que 0 Rio de Janeiro: a relagao era de 100 para )) Com as demais capitais estaduais a relagao favorecia js ainda a metrépole paulista: 100 a 43.13 A rede urbana do Sudeste, por outro lado, apresen- ue mais integrada que os outros segmentos da rede nacional. As ligagdes entre Sao Paulo e as capi- iy regionais de sua hinterlandia so mais intensas que iolas entre as demais metr6poles regionais e suas res- tivas capitais regionais. No Ambito do Sudeste, contudo, a intensidade das iloracdes espaciais também varia, evidenciando um junto urbano-industrial que, tendo como foco a me- le paulista, irradia-se para a Baixada Santista, o Vale raiba paulista, a cidade de Sorocaba e o “corredor” wtitufdo por Jundiaf, Campinas, Americana, Santa bara do Oeste (e uma extensao na diregéo de icicaba), Limeira, Rio Claro, S40 Carlos, Araraquara e jrdio Preto. As interagdes espaciais nesta regiao s40 nsas, evidenciando relag6es de subordinaco e com- \entaridade. Assim, as interagbes entre Ribeirao Jo e Araraquara, Campinas e Piracicaba e Sao José dos uinpos e Taubaté so mais intensas que aquelas entre 108 ROBERTO LOBATO CORR] Belo Horizonte, de um lado, e Montes Claros, Juiz Fora, Governador Valadares e Te6filo Otoni, de outro. A desigual integracao da rede urbana brasile que foi ampliadamente ratificada nos ultimos 20 a: revela claramente os resultados de um processo. desenvolvimento capitalista que, longe de gerar w tendéncia a homogeneizagao social e da organiza espacial, acentua as diferencas entre os diversos se; mentos da rede urbana brasileira, revelando, através Veja-se a este respeito P. Haggett e RJ. Chorley, Network Analysis rede urbana, uma efetiva integracao de parte da pop’ Geography, Nova York, Saint Martin Press, 1969. Os autores lagao ao sistema social e, simultaneamente, uma men¢ identificam trés tipos de redes que interessam A geografia em integragao, sendo exclusao, de parcela importante dj paral rade it vor, am clea oan heresies: 49 Uiae BE populacso. rmeiras descrevem arranjos espaciais da rede urbana. Consulte-se Carol A. Smith, “Causes and Consequences of Central-Place Types in Western Guatemala” e “Exchange ‘Systems and the Spatial Distribution of Blites: The organization of Stzaification in Agrarian Societies", in Regional Analysis, org. Carol A. Smith, Nova York, Academie Press, 1976, respectiva- mente nos volumes 1 e 2. Veja-se também Jean Gottman “Orbits: Ancient Mediterranean Tradition of urban Network”, in Since Megalapots, org. Jean Gottman ¢ Robert A. Harper, Johns Hopkins University Press, Baltimore, 1990. Nesse artigo considera a vida urbana na regiao do Meditersineo Noras REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS New Haven, Yale University Press, 1954, ¢ Behavior and the Principle of Least Effort, ‘Cambridge, Addison-Wesley, 1949. Corréa, A rede urbana, S20 Paulo, Editora Atica, 1989, Ver M. Santos, “Os espagos da globalizacao”, in Anais do 3° Simpésio Nacional de Geografia Urbana, Associacio dos Geégrafos Brasileiros, Rio de Janeiro, 1993 e RL. Corréa, “Corporagéo e Espaco: Uma Nota”, Revista Brasileira de Geografia, 53(1), 1991. Sobre a origem das cidades brasileiras consulte-se A. de Azeve- do, “Vilas e cidades do Brasil Colonial: Ensaio de Geografia Hu- mana Retrospectiva”. Anais da Associagio dos Gedgrafas Brasileiros, 9(1), 1957 e PP, Geiger, A evolugio da rede urbana brasileira, Rio de 106 ROBERTO LOBATO CORREA 4, DIMENSOES DE ANALISE DAS REDES GEOGRAFICAS* Janeito, CBPE, 1963, que analisam o assunto para o conjunto das cidades do pais. 7. Veja-se 0 classico Pioneiros e fazendeiros de Sao Paulo de P. Monbeig, Si0 Paulo, Hucitec-Polis, 1984, que analisa o processo de valorizagao do Oeste paulista (e Norte paranaense), incluindo a génese da rede urbana 8, Sobre o assunto em pauta consulte-se 0 eldssico estudo de C.D. Harris e E. Ullman, “The Nature of Cities” de 1945 e reimpresso Por rede geografica entendemos “um conjunto de localizagées geogréficas interconectadas” entre si “por um certo ntimero de ligagdes"l, Este conjunto pode ser constituido tanto por uma sede de cooperativa de pro- dutores rurais e as fazendas a ela associadas, como pe- Ins ligagdes materiais e imateriais que conectam a sede de uma grande empresa, seu centro de pesquisa e de- yenvolvimento, suas fabricas, depésitos e da rede urbana da Amazénia”, Revista Brasileira de Geagrafi, 4963), 1987. Estas relagdes so as seguintes: migragdes rurais-urbanas e entre cidades, comercializagio e ben urbana, op. cit. e ainda do mesmo autor “Novas dimens6es geogrificas do urbano no Brasil”, conferéncia apresentada no I io Nacional de Geografia Urbana, Rio Claro, outubro de publicada no Boletin de Geografia Teorétca, ano 21, n? 42, banco e os fluxos de informagées que circulam entre elas, pela sede da Igteja Catdlica, as dioceses e paré- 11. Veja-se RL. Corréa, “Novas dimensées geogréficas do urbano no Brasil”, op. ci. 12, Sobre o assunto consulte-se Milton Santos, Metamorfoses do esparo Ihabitado, Sao Paulo, Hucitec, 1988, sobretudo o capitulo 4 e RL, Corréa, “Novas dimensées geogréficas do urbano no Brasil’, opi. 13, Cristina Lontra Nacif, Rede urbana do Sudeste: Uma anélise através dos fluxos tlefonicos. Dissertacdo de Mestrado, Programa de P6s- Graduagio em Geografia, UFRJ, 1993. 14, Cristina Lontra Nacif, op, cit, iio. Hé, em realidade, intimeras e variadas redes que Twcobrem, de modo visivel ou ndo, a superficie terrestre. ‘As redes, em realidade redes geogréficas, jé foram nganizadas com base em localizagdes e caminhos tem- jorérios das hordas primitivas. Estiveram presentes nos resente estudo incorpora parte do texto introdutério da Mesa Redonda luxos e Territérios, apresentado no 3° Simpdsio Nacional de [ogratia Urbana, Rio de Janeiro, setembro de 1993 e o texto, de mesmo »apresentado no 4° Simpésio Nacional de Geografia Urbana, Fortaleza, Satubro de 1995, 5, Processos EsPAcIals E A CIDADE* eee Vista como uma forma de organizagao do espaco pelo homem, a cidade pode ser considerada, de acordo com Harvey!, como a express4o concreta de processos sociais na forma de um ambiente fisico construido sobre 0 espaco geografico. Expresso de processos sociais, a cidade reflete as caracteristicas da sociedade. Esta defi- niga tem o mérito da universalidade, quer em termos de tempo, quer de espaco, enquadrando tanto as cidades cerimoniais da China antiga, as cidades maia e aszteca, como o burgo medieval, a cidade colonial e a metrépole moderna. Esta tiltima constitui-se em um produto da econo- mia de mercado, afetada direta ou indiretamente pela industrializagio, e da complexa sociedade estratificada que emerge?. Como tal, a metr6pole moderna constitui- se em importante local de acurnulagao de capital e onde as condig6es para a reproducio da forca-de-trabalho podem mais plenamente ser realizadas. Tais processos sociais produzem forma, movimento e contetido sobre 0 espago urbano, originando a organizacao espacial da metrépole. Esta organizacéo caracteriza-se por usos da terra extremamente diferenciados tais como 0 da area central, éreas industriais e 4reas residenciais diversas, ¢ ‘Publicado originalmente na Revista Brasilia de Geogrfia, 41(9}'100-110, 1979. im ROBERTO LOBATO CORRE MAJETORIAS GEOGRAFICAS 123 pelas interacdes como fluxo de capital, migracdes did rias entre local de residéncia e local de trabalho, e deslo’ camento de consumidores, que permitem integrar ess: diferentes partes. Entre processos sociais, de um lado, e organizacao espacial de outro, aparece um elemento mediador, que yiabiliza que os processos sociais originem forma, movi= mento e contetido sobre o espaco. Este elemento viabili- zador constitui-se em um conjunto de forgas que atuam 20 longo do tempo e que permitem localizagées, reloca- lizagdes e permanéncia das atividades e populacao, sobre 0 espaco urbano. Sao os processos espaciais, res- ponséveis imediatos pela organizacdo espacial comple- xa que caracteriza a metrépole moderna. Tais processos so postos em aco pelos atores que modelam a organi- zagio do espaco, proprietérios dos meios de producao, proprietérios de terras, empresas imobilidrias e de cons- trugdo, associadas ou nfo ao grande capital, e o Estado, conforme apontam, entre outros, Form, Harvey e Capel’, Cada um destes atores tem sua propria estraté- gia e entre os trés primeiros ha conflitos que séo, em maior ou menor grau, resolvidos pelo Estado, simulta- neamente ator e arbitro destes conflitos. 1: economistas como Hurd e Haig, socidlogos da Es- la de Ecologia Humana como Park e McKenzie, e ge6- ‘afos urbanos como Colby. Constituem tais processos ccelentes descrigbes do que ocorre na cidade em ter- 10s de organizacao e reorganizacéo do espaco, ainda ile se possa criticar muitas das interpretagdes dadas. leste aspecto acredita-se que € necessério repensar em {urmos explicativos 0 que tais processos descrevem. Este artigo pretende ndo somente apresentar esses processos espaciais como também propor algumas ques- Wes a respeito de tais processos em relagdo ao Brasil. 1 CENTRALIZAGAO ‘Uma caracterfstica comum da metrépole moderna sncia de uma rea onde se concentram as princi- ides comerciais e de servigos, bem como os terminais de transportes interurbanos e intra-urbanos. 4rea, conhecida como Area Central, resulta do pro- cesso de centralizagao, indubitavelmente um produto da economia de mercado levado ao extremo pelo capita- lismo industrial. A emergéncia da Area Central é concomitante a ampliagao das relagdes entre a cidade e 0 mundo exter- no a ela, que se verifica a partir do advento da Revolu- gio Industrial, e é uma das résultantes em termos espa- Os processos espaciais sao os seguintes: I. centralizagao; I. descentralizacao; TIL coesao; ciais das diversas inovagdes que apareceram®. A partir IV. segregagao; da segunda metade do século XIX as ferrovias passaram V. _ invasiio-sucessao; e a desempenhar papel crucial nas relagdes interurbanas e VI. inércia, inter-regionais. A localizacao dos terminais ferrovidrios fazia-se o mais proximo possivel um do outro, e préxi- mo, onde havia, do terminal maritimo, garantindo assim minimizacao de deseconomias de transbordo. e foram colocados em evidéncia desde a segunda meta~ de do século XIX e sobretudo na primeira metade deste, mat ROBERTO LOBATO CORRE, Proximas a estes terminais vao se localizar aquela atividades voltadas para o mundo exterior, comérci atacadista e depésitos, induistrias nascentes e em expan: 840, e servicos auxiliares. Estas atividades criaram eno me mercado de trabalho na érea, fazendo com que esta se transformasse também no foco de transportes intra- urbanos. A emergente Area Central passou a desfrutar, assim, da maxima acessibilidade dentro do espaco urba~ no. Esta acessibilidade foi respons4vel pelos mais eleva- dos valores da terra urbana que af se encontram, o que Jevou a uma competigdo pelo uso da terra. Nesta com- Peticdo safram vitoriosas aquelas atividades que podiam transformar acessibilidade em lucro, suportan- do pagar o alto valor da terra’, Entre estas atividades esto 0 comércio varejista em expansio, ponto final do processo de distribuigio da crescente produgio indus- trial”, e novos servigos cuja 4rea de mercado era todo 0 espaco urbano ow a hinterlandia da cidade. A concentragio de atividades nesta area represen- ta, pois, a maximizacao de externalidades, seja de aces- sibilidade, seja de aglomeracio. Do ponto de vista do capital a Area Central constituia, na segunda metade do século XIX e ainda hoje, para muitas atividades, uma localizagao 6tima, racional, que permitiria uma maximi- zagao de lucros. _ DESCENTRALIZACAO Historicamente este proceso é mais recente que 0 de centralizacéo, e aparece como uma medida, esponta- nea ou planejada, visando diminuir a excessiva centrali- zacao, causadora de deseconomias de aglomeracio, a saber: TRAJETORIAS GEOGRAFICAS 25 * aumento constante do valor da terra, impostos e alu- guis, afetando certas atividades que perdem capaci- dade de se manterem localizadas na Area Central; ® congestionamento e alto custo do sistema de trans- portes e comunicagdes, que dificulta e onera as inte- ragGes entre firmas; * dificuldade de obtencao de espaco para expansio; © restrigdes legais implicando na auséncia de controle do espaco; © auséncia ou perda de amenidades, afetando ativida- des e populacao de alto status; mas também deve-se as presses contra determinados tipos de uso da terra, como indtistrias poluentes, por exemplo. A descentralizacao esté também associada ao cres- cimento da cidade, tanto demogréfica como espacial- mente, aumentando as distncias entre a Area Central e as novas Areas ocupadas. Neste caso pode se verificar ou 0 aparecimento de firmas novas que j& nascem des- izadas ou a criagao de filiais de firmas localiza- das centralmente, as quais, em funcao da competicao entre elas procuram uma localizacao junto ao jé distante mercado consumidor. Mas, como Colby$ indica, para que a descentraliza- ‘80 se verifique é necessério que haja atragio por parte das reas nao centrais. Esta atragéio aparece através de caracteristicas que, em parte, s4o opostas Aquelas da Area Central: 126 ROBERTO LOBATO CORREA. * terras néo-ocupadas, a baixo prego e impostos * infra-estrutura implantada * facilidades de transportes © qualidades atrativas do sitio, como topografia e dre- nagem * amenidades fisicas e sociais * “threshold” ou mercado minimo capaz de suportar a localizagao de uma atividade descentralizada. A descentralizagao implica em uma diminuicao relativa da acessibilidade da Area Central, e aumento relativo da acessibilidade de outros locais, a qual esté associado 0 desenvolvimento dos meios de transporte intra-urbanos mais flexiveis, 0 caminhao e o automével. Alguns dos locais periféricos ao centro tornam-se répli- cas em menor escala da Area Central, enquanto outros Passam a concentrar inchistrias, novas ou descentraliza- das, originando, respectivamente, subcentros comerciais € Areas industriais nao-centrais®, Este processo de descentralizacao 6, entretanto, extremamente complexo, caracterizando-se por uma seletividade em termos de: * Atividades, no sentido de que algumas atividades apresentam uma maior tendéncia a descentralizagao que outras, como € 0 caso da industria em geral em oposigio & atividade de administracio; RAJETORIAS GEOGRAFICAS st * Tempo, no sentido de que, em relagdo a uma mesma atividade, ha uma seqiéncia de descentralizagao. ‘Assim, no caso da indtistria, as primeiras a abando- narem a Area Central so aquelas consumidoras de espago e poluentes; no caso do comércio varejista e servigos descentralizam-se primeiramente aquelas fir- mas que atendem a demandas mais freqiientes, e a seguir aquelas associadas a demandas menos fre- qiientes, que necessitam de uma localizacio central; » Divisio territorial de fungdes, no sentido de que ativi- dades que comportam varias fungdes complementa- res, mas com demandas diferentes de espaco, bem como com capacidades diferentes de pagar pela terra que ocupam, tendem a descentralizar aquelas fungdes consumidoras de espago e/ou pequena capacidade de pagar a tetra, enquanto outras fungdes permane- cem na Area Central. Exemplos desta descentraliza- ‘cdo funcionalmente seletiva encontram-se no caso da industria em que a sede social permanece com locali- zagao central e 0 estabelecimento de produgao se des- centraliza, e no caso de depésitos de grandes firmas comerciais que sao relocalizadas fora da Area Central, af permanecendo o estabelecimento de ven- das varejistas. Entretanto a associagao e escala das atividades pode impedir a descentralizacao, se uma das partes associadas exigit uma localizacao central. Assim, uma pequena firma de confecgdes pode permanecer na Area Central, associando a loja varejista na parte da frente do prédio que ocupa e 0 setor de produgio nos fundos; a divisio territorial de fungdes neste caso, dada a escala de atividade, aumentaria, pelo menos, 05 custos gerenciais. 18 ROBERTO LOBATO CORREA * Tamanho de cidade, isto é, comeca a se verificar a partir de uma dimensio urbana dada que pode variar em fungio das peculiaridades do espaco fisico, do sis~ tema de transportes intra-urbano, das fungdes urba- nas e do nivel de renda da populacao, isto implican- do em poder aquisitivo e mobilidade espacial:0, Do ponto de vista do capital a descentralizacao insere-se no proceso de acumulaco. No caso de firmas comerciais a competigao entre elas leva a procura de uma localizagao mais acessivel ao mercado consumidor e espacialmente disperso. A descentralizacéo minimiza competicéo e garante a reproducdo do capital. Mais ainda, através da descentralizagao verifica-se a expansao dos negécios localizados na Area Central sobre dreas urbanas nao centrais, expansio esta que pode levar ao desaparecimento de firmas locais e ao estabelecimento de uma rede integrada de lojas dirigidas a partir da Area Central. Desse modo, a cidade reproduz internamente a lista que se verifica em escala No caso de firmas industriais, além das vantagens da nova localizagao, as operagdes de descentralizacao sao acompanhadas da venda do terreno do antigo esta- belecimento, permitindo grandes lucros, e em muitos casos, de uma minimizacao de custos na medida em que parte ou toda a infra-estrutura da nova localizacéo € paga pela comunidade. Porém, na medida em que a descentralizacao industrial desorganiza os fluxos residéncia-local de trabalho, implicando em custos adi- cionais para a mao-de-obra, ela representa desecono- mias para a forca-de-trabalho, especialmente se a des- centralizacio industrial no for acompanhada de uma reestruturagao residencial. TRAJETORIAS GEOGRAFICAS 29 A descentralizagao aparece como um process espacial associado as deseconomias de aglomeragao da Area Central, ao crescimento demogréfico e espacial da cidade, inserindo-se no processo de acumulagéo de capital. De certa forma repete o fendmeno de ceritraliza- 0 tornando a organizacao espacial da cidade mais complexa, com o aparecimento de subcentros comer- ciais e areas industriais nao-centrais. Ill CoErsAo Este processo foi descrito por Hurd em 190312, ao mostrar que no setor varejista do centro da cidade ha uma tendéncia das lojas do mesmo tipo se aglomerarem apesar de nao manterem negécios entre si. Segundo Hurd, esta aglomeracao forneceria garantias para todas as lojas porque haveria em diresao aquele setor uma atragdo maciga de consumidores. O processo de coes4o ou economias de aglomeracao tende, em realidade, a gerar conjuntos de atividades espacialmente coesas devido a: * apesar de nao manterem ligacdes entre si, lojas vare- jistas da mesma linha de produtos formam um con- junto que cria atrag4o para o consumidor que, es do interessado em um determinado produto, tera alternativas para escolha; © a presenga de lojas de linhas de produtos diferentes, formando um conjunto espacialmente coeso pode induzir a compras de produtos que o consumidor no previa; 130 ROBERTO LOBATO CoRR®, RAJETORIAS GEOGRAFICAS 131 * complementaridade, onde muitas atividades tend ase localizar juntas por terem atividades que se com: pletam, como lojas de confecgées e fabricagao, com: Panhias de seguros, bancos e sedes sociais de firmas, indtistrias com ligagées funcionais entre si como insuc ‘mos e bens intermediétios; lue 0 processo de coesdo pode se verificar simultanea- wente com os processos de centralizacao e descentrali- \¢80, gerando 0 aparecimento de 4reas especializadas lentro do espaco urbano, tornando assim sua organiza lo espacial mais complexa. Como modo através do Iual a relagéo custo-beneficio tende a favorecer a repro- ico do capital, 0 processo de coesio insere-se na * ctiagio de escala para o aparecimento de atividades nha da acumulacao. necessérias, que uma firma sozinha no conseguiria induzir. E 0 caso de pequenas industrias que se aglo- meram e assim justificam 0 aparecimento de indtis- trias de bens intermediérios ou de servicos como de \V SEGREGAGAO, transportes; * que muitas atividades exigem contatos pessoais face-a-face, troca de informagGes e por isso se agru- Pam, como € 0 caso das sedes sociais das grandes empresas. Neste caso a acessibilidade é fundamental © a reducio da distancia entre as firmas 6 crucial, Haig argumenta, jd na década de 1920, que o modo econémico de se produzir acessibilidade ou reduzir o efeito da distancia 6, para as atividades de adminis- tracdo, através da construgdo de arranha-céus!3, A conseqiiéncia deste proceso de coesao € a cria~ ‘$80 de éreas especializadas tanto no interior do centro de negécios como os distritos varejista, atacadista e financeirolt, como em Areas nao-centrais, onde apare- cem distritos de grande concentragéo de consultérios médicos, ou ruas especializadas no comércio de moveis ou automéveis e autopecas!5, ou ainda em distritos industriais especializados. E preciso, portanto, notar Enquanto os trés processos acima descritos referem- sobretudo as atividades industriais, comerciais e de vigos, 0 proceso de segregacdo refere-se especial- & questo residencial, relacionando-se muito mais, portanto, & reprodugio da forca-de-trabalho. A segrega- jlo é um processo que origina a tendéncia a uma organi- Jo espacial em Areas de “forte homogeneidade social lerna e de forte disparidade social entre elas”'6. Estas ‘as segregadas tendem a apresentar estruturas sociais que podem ser marcadas pela uniformidade da popula- ‘glo em termos de renda, status ocupacional — operarios, ¢mpregados de escritérios, profissionais liberais, direto- 10s de firmas — instrucao, etnia, fase do ciclo de vida — fasais com criangas, casais idosos, solteiros — e migra- glo, podendo-se falar em Areas sociais caracterizadas, por exemplo, por bairros operdrios com residéncias uni- Iomiliares modestas, por bairros de classe média com ‘apartamentos, de baixa classe média ou pobres em pré- dios deteriorados ou em favelas etc.17 As diferengas sociais entre estas Areas uniformes dlevem-se essencialmente ao diferencial da capacidade ae ROBERTO LOBATO CORI WAJETORIAS GEOGRAFICAS 19 que cada grupo social tem em pagar pela residéncia ‘outra mercadoria, a terra, também sujeita aos meca- ocupa. Em outros termos, as éreas uniformes refl mos de mercado, que sua produgao é lenta, artesanal de um lado, a distribuigao da renda da populacio, € cara, excluindo parcela ponderAvel da populacao, é de outro, 0 tipo de residéncia e a localizacéo da mesma \otar que diferentes solugdes tem sido encontradas termos de acessibilidade e amenidades. Em realidad para se ter acesso a residéncia: os corticos, as favelas, a segregagdo parece constituit-se em uma projecao es basa modesta construfda pouco a pouco na periferia cial do processo de estruturagao de classes, sua repr metropolitana sio exemplos de solucdes espontaneas, ‘so, € a produgio de residéncias na sociedade capitalist ‘enquanto os conjuntos habitacionais construfdos pelo De acordo com Harvey'8 a sociedade capitalista joverno constituem a aparente solugao oficial”®. segunda metade do século XX apresenta trés fors: Em relagio ao onde morar é preciso lembrar que asicas que levam a uma estruturagao de classes: existe uma diferenciagao espacial na localizacao das resi- ‘uma forga priméria, que vem da relacio entre capital’ déncias vistas em termos de conforto e qualidade. Esta trabalho, e que pode levar a uma estrutura dicotémi diferenca reflete, em primeiro lugar, um diferencial do de classes; (2) uma forga residual que é originada de f valor da terra, que varia em fungio da acessibilidade e mas pretéritas de modos de produciio, ou do contat amenidades. Os terrenos de maior valor so ocupados geografico entre um modo de producéo dominante pelas melhores residéncias, enquanto a medida que o va~ um modo subordinado de produgio, e que se traduz ni Jor da terra diminui, a qualidade das residéncias diminui. existéncia de uma aristocracia da terra, campesinato, O como e 0 onde se fundem arian ee grupos marginalizados que podem ou no ser incorp déncia & homogeneizagio do conterido social os baie rados a estrutura do capitalismo avangado; e (3) for ros, a qual assume maior uniformidade nos extremos, derivativas que emergem devido as necessidades di isto € nos grupos de renda mais elevada mais baixa. : reservar os processos de acumulacao de capital atravé Harvey ao discutir 0 significado da segregacao, da inovagao tecnolégica e mudancas na organizacdo argumenta que: social. Tais forgas geram, em termos de grupos, uma fragmentacao da classe capitalista e proletaria, classes distintas de consumo e emergéncia de uma classe média que nao é de todo homogénea. Sio estes grupos, para os quais hé um diferencial de renda, que vo se localizar no espaco urbano, ¢ para isto se defrontam com 0 problema do como e onde: morat: Tendo em vista que a habitac&o constitui, no sis- tema capitalista, uma mercadoria especial, que depende * “a diferenciacao residencial deve ser interpretada em termos de reprodugio das relagées sociais dentro da «© as Areas residenciais fornecem meios distintos para a interagao social, a partir da qual os individuos deri- vam seus valores, expectativas, habitos de consumo, capacidade de se fazer valer (market capacity) e estado de consciéncia; 134 ROBERTO LOBATO CORRI * diferenciacdo residencial significa acesso diferencia a recursos escassos necessarios para se adquirir op tunidades para ascensao social. As oportunidad como educacao, podem estar estruturadas de que um bairro de classe operdria seja “reproduzido’ em outro bairro na préxima geracao. A diferenciagai social produz comunidades distintas com valo: Pr6prios do grupo, valores estes profundamente liga dos aos cédigos moral, lingiiistico, cognitivo, e que fazem parte do equipamento conceitual com 0 qual 0 individuo “enfrenta” o mundo. A estabilidade de um. bairro e do seu sistema de valores leva a reprodugao e permanéncia de grupos sociais dentro de estruturas residenciais. * segregacao, quer dizer, diferenciacao residencial segundo grupos, significa diferencial de renda real — proximidade as facilidades da vida urbana como Agua, esgoto, areas verdes, melhores servigos educa- cionais, e auséncia de proximidade aos custos da cidade como crime, servigos educacionais inferiores, auséncia de infra-estrutura etc. Se jé existe diferenca de renda monetaria, a localizagao residencial implica em diferenca maior ainda no que diz. respeito A renda real.” Entretanto a segregacdo nem sempre € rigida, e por meio da imagem que certos bairros projetam e da espe- culacao imobiliéria, 6 possivel que nao apresentem forte carater de segregacéo"!, Mas possivel que esta reduzi- da segregacio jé esteja indicando a agao de outro pro- cesso, o de invasao-sucessao. RAJETORIAS GEOGRAFICAS 135, INVASAO-SUCESSAO- O processo de invasao-sucessao, como o anterior, std associado sobretudo a questao residencial, ainda que possa afetar as atividades tercidrias e industriais®. oi verificado empiricamente que, no espago urbano, ha bairros que séo habitados, durante um certo perfodo de lompo, por uma classe social, e que a partir de um certo momento verifica-se a “invaséo” de pessoas de outra classe social, via de regra, de classe inferior aquela que tupa o bairro. Inicia-se entao a saida da populacao pre- existente e a chegada de novo contingente, ou 0 proces- 40 de invasdo-sucessao. Tal proceso foi proposto pela escola de Ecologia Humana e corresponde a uma analo- ia com a ecologia vegetal, em que se substitui o concet- o de equilibrio entre espécies e o meio fisico, sua ruptu- 1a € novo equilfbrio, por equilibrio entre valor dos imé- yeis e capacidade de grupos sociais em pagar por estes iméveis?, Enquanto descricao 0 processo de invasao-suces- silo € verdadeiro, e a presenca de guetos negros nas ci- dades norte-americanas e areas deterioradas, via de re- ‘gra proximas do centro de negécios, ou em deterioragao, nas grandes cidades latino-americanas, atestam a exis- tencia do processo em questao. Ao nivel explicativo, en- tretanto, as interpretagdes da escola de Ecologia Hu- mana so criticaveis. Em realidade, por que grupos de alta renda aban- donam suas ricas residéncias, procurando novas areas, enquanto uma populacao de renda inferior ocupa 0 bairro, transformando, em muitos casos, as residéncias, em corticos? 1 ROBERTO LOBATO CORR |\JBTORIAS GEOGRAFICAS 135 * diferenciacdo residencial significa acesso diferencia INVASAO-SUCESSAO a recursos escassos necessérios para se adquirir op tunidades para ascensao social. As oportunidad como educagio, podem estar estruturadas de que um bairro de classe operdria seja “reproduzido em outro bairro na préxima geraco. A diferencia social produz comunidades distintas com valores préprios do grupo, valores estes profundamente liga dos aos cédigos moral, lingiiistico, cognitivo, e que fazem parte do equipamento conceitual com 0 qual 0 \dividuo “enfrenta” o mundo. A estabilidade de um, e do seu sistema de valores leva a reprodugéo & permanéncia de grupos sociais dentro de estruturas residenciais. O proceso de invasio-sucesséo, como 0 anterior, i associado sobretudo A questdo residencial, ainda ie possa afetar as atividades tercidrias e industriais”?. i verificado empiricamente que, no espago urbano, ha jrros que sao habitados, durante um certo perfodo de mpo, por uma classe social, e que a partir de um certo momento verifica-se a “invaséo” de pessoas de outra dlasse social, via de regra, de classe inferior aquela que ‘ocupa o bairro. Inicia-se entéo a safda da populacéo pre- existente e a chegada de novo contingente, ou 0 proces- 40 de invasio-sucessao. Tal proceso foi proposto pela escola de Ecologia Humana e corresponde a uma analo- segregacao, quer dizer, diferenciacao residencial com a ecologia vegetal, em que se substitul o concel- segundo grupos, significa diferencial de renda real — 9 de equilibrio entre espécies e 0 meio fisico, sua ruptu- proximidade as facilidades da vida urbana como a e novo equilibrio, por equilibrio entre valor dos im6- Agua, esgoto, éreas verdes, melhores servigos educa- veis e capacidade de grupos sociais em pagar por estes cionais, e auséncia de proximidade aos custos da moveisrs. cidade como crime, servigos educacionais inferiores, Enquanto descri¢éo 0 processo de invasao-suces- auséncia de infra-estrutura etc. Se ja existe diferenga sao € verdadeiro, e a presenca de guetos negros nas ci- de renda monetatia, a localizacao residencial implica dades norte-americanas e éreas deterioradas, via de re- em diferenca maior ainda no que diz respeito a renda gra préximas do centro de negécios, ou em deterioragio real.” nas grandes cidades latino-americanas, atestam a exis- \éncia do processo em questo. Ao nivel explicativo, en- tretanto, as interpretagdes da escola de Ecologia Hu- ‘mana sao criticéveis. Em realidade, por que grupos de alta renda aban- donam suas ricas residéncias, procurando novas éreas, enquanto uma populacéo de renda inferior ocupa 0 bairro, transformando, em muitos casos, as residéncias em cortigos? Entretanto a segregacdo nem sempre é rigida, e por meio da imagem que certos bairros projetam e da espe- culacio imobilidria, é possivel que nao apresentem forte caréter de segregagao2!. Mas é possivel que esta reduzi- da segregacéo jé esteja indicando a ac&o de outro pro- cesso, o de invasdo-sucessao. ROBERTO LOBATO CORR A explicagio parece residir, de um lado, na ne sidade de se manter 0 processo de produgao de resi cias para a populacao de alta renda, produgio essa remunera melhor o capital imobiliério. Criam-se, assit novos bairros nos subtirbios ou no setor de amenidac da cidade, enquanto as reas abandonadas pela popul gio de alta renda so ocupadas por uma populac vida pelas vantagens locacionais ou pelo prestigio reat, No caso de dreas proximas ao centro de negéci por outro lado, onde a deterioragao dos iméveis ‘maior, adiciona-se 0 fato de que as atividades de localit zacao central nao s6 incitaram a safda da populacao alta renda, mas também, sua expansdo espacial a part do centro, cria para os proprietdrios dos iméveis a pos sibilidade de esperar a valorizagio, para depois ven« a residéncia ou o terreno para firmas que necessitam localizagao central. Enquanto isto, no convém inves no imével, que passa a ser alugado a uma populacéo renda inferior, Avida de uma localizagao central. A para: isacao da expansdo lateral do centro de negécios, devi do em grande parte ao processo de descentralizacéo, leva a uma muito remota possibilidade de valoriza do bairro jé deteriorado”. A implicagaio do processo de invasdo-sucessdo resis de no caréter mutével do contetido social das Areas resi denciais que constituem uma cidade. pacial da cidade na medida em que certos usos da terra TRAJBTORIAS GEOGRAFICAS 197 permanecem em certos locais, apesar das causas que justificaram a sua localizagdo terem cessado de atuat. Esta inércia deve-se a uma série de fatores, entre eles aquilo que Firey denomina de “simbolismo e sen- timento”, ou seja, a existéncia de valores que levam a permanéncia de localizagdes e usos da terra que nao mais obedecem a uma racionalidade econémica. A insti- tucionalizagio da inércia, quando se verifica 0 “tomba- mento” de areas ou bairros, constitui um caso em extre- mo. Também fundamental para a permanéncia de loca- lizagées e usos nfo-racionais segundo a ética do capital esté a irregular difustio de informagies e sua tradugio no nfvel de individuos e grupos que percebem 0 meio ambiente de modo particular, nao apresentando um comportamento que reflita uma racionalidade econdmi- a7, Adicionalmente, a inércia de certos usos da terra pode revelar as dificuldades de uma relocalizagao que, a ‘médio prazo, poderia gerar maiores beneticios; tal pare- ce ser 0 caso de muitas pequenas firmas que néo supor- tam os custos diretos e indiretos de uma relocalizagéo. ‘Mas € preciso considerar que o processo de inércia pode ter seus limites. A partir de um determinado momento, deseconomias externas podem se ampliar levando a uma das alternativas, fechamento ou relocali- zacio. Na realidade, a inércia pode ser, em muitos casos, entendida como uma decisio mais demorada na reloca- lizagdo, e isto pode depender da escala de tempo em que a constatagao do processo ¢ feita. ‘A implicacao do processo de inércia sobre a organi- zag&o do espaco intra-urbano € a de cristalizagio de cer- tos usos da terra que aparecem como nao-racionais. 138 ROBERTO LOBATO CORRE, VI ALGUMAS QUESTOES E fora de dtivida que o material te6rico e empiric sobre processos espaciais associados a organizaci espacial da cidade proveniente de paises onde o capi« talismo atinge um estégio avangado. O que dizer destes ‘tmesmos processos para o caso brasileiro, onde, infeliz= mente, pouco se conhece sobre a questao. A guisa de concluir este trabalho, pretende-se apresentar algumas questdes sobre os processos espaciais, tendo em vista 0 aso brasileiro. * Como e quando os processos de centralizagio, des centralizacao e coesdo, que afetam a localizacao de atividades industriais, comerciais e de servigos, asso- ciando-se assim & acumulacao de capital, atuaram e atuam nos diversos grupos de tamanho e tipos de cidades brasileiras? * Como emerge uma Area Central sob condigées indi- retas de industrializagao, e como a industtializacao remodela essas Areas Centrais surgidas em fase pré- industrial e colonial? * Como os subcentros comerciais apareceram pelo es- aco intra-urbano das grandes cidades brasileiras, le- vando-se em consideragio que elas se diferenciam no que tange ao nivel de renda de suas populagées, e ainda, que dentro de uma mesma metrdpole ha extre- ma diferenciag&o do contetido social dos bairros? * Qual € a natureza desses subcentros que servem a 4reas com populagées de poder aquisitivo diferente? |AJBTORIAS GEOGRAFICAS 199 Como e quando os processos de segregagao e inva- slio-sucessdo atuaram e atuam no quadro urbano bra- i? Serd que se pode identificar claramente a existéncia de tais processos em todo o espaco urbano de uma dada metropole? Que implicagbes teré a resposta a esta questao sobre o processo de mobilidade social e reprodugao da forca de trabalho? * Que atores atuam e como atuam, modelando a orga- nizagao do espaco urbano em seus diversos setores — frea de amenidades, éreas industriais, areas periféri- cas esterilizadas e sob especulagao e areas periféricas com loteamentos populares? * Como a politica habitacional, ao interferit no proces- 0 de acumulagao e reprodugio da forga de trabalho, repercute na organizacao do espaco? Estas so apenas algumas das questdes que se pode levantar sobre processos espaciais. Certamente outras podem e devem surgir, e as respostas a elas for- necerao uma maior compreensio da organizacao do espaco das cidades brasileiras. 6. O Espaco URBANO: Notas TEORICO-METODOLOGICAS* O espaco urbano, visto enquanto objetivagao geo- gtéfica do estudo da cidade, apresenta, simultaneamen- te, varias caracterfsticas que interessam ao ge6grafo. 6 fragmentado e articulado, reflexo e condigao social, e campo simbélico e de lutas./O espaco urbano pode ser assim submetido a diferentes andlises pelos geégrafos, cada uma delas privilegiando uma das caracteristicas acima apontadas sem, contudo, excluir as demais. Evidencia-se a riqueza de abordagens com que o espaco urbano pode ser considerado. © espaco urbano aparece, no primeiro momento de sua apreensio, como um espaco fragmentado, caracteri- zado pela justaposigao de diferentes paisagens e usos da terra. Na grande cidade capitalista estas paisagens sos originam um rico mosaico urbano constitufdo pelo mticleo central, a zona periférica do centro, areas indus- subcentros tercidtios, 4reas residenciais distintas em termos de forma e contetido, como as favelas e os condominios exclusives, areas de lazer e, entre outras, aquelas submetidas & especulagao visando a futura expansao. O arranjo espacial da fragmentaco pode variar mas ela ¢ inevitével. Publicado originalmente no Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, 21(42), 101-103, 1981, 146 ROBERTO LOBATO CORRI |AJETORIAS GEOGRAFICAS 47 Essa fragmentagao 6 decorrente da ago dos div Mas o espaco urbano ndo é apenas fragmentado. sos agentes modeladores que produzem e consome, \ultaneamente articulado. Fragmentagio e articula- espaco urbano: proprietérios dos meios de produca lo sfo caracteristicas complementares. Com articulagao sobretudo os grandes industriais, proprietétios fundil quer dizer que cada uma das partes da cidade man- rios, promotores imobiliérios, Estado e grupos social in relagdes com as demais, ainda que sejam de nature- exclufdos. A agdo desses agentes, que obedece a u intensidade variaveis. Através da articulagdo 0 logica que ¢ simultaneamente prépria e geral, produz go urbano ganha unidade, originando um conjunto diferentes fragmentos que compdem o mosaico urbano, lado cujo foco de atticulacao tem sido 0 miicleo A fragmentacio, entretanto, nao se realiza de um; intral da cidade que, entre outras fungbes, realiza as de vez para sempre, apesar da forte inércia das forma esto das atividades. espaciais fixadas pelo homem. Ao contrério, esta sendo ‘A articulagio manifesta-se empiricamente através sempre refeita. Por derivar da dinémica de acumulagao lo fluxos de veiculos e de pessoas. Estdo associados as de capital, das necessidades mutéveis de reproducao loperagdes de carga e descarga de mercadorias diversas, das relacdes sociais de producio e dos conflitos de clas- os deslocamentos cotidianos entre dreas residenciais e Se, @ agio dos agentes modeladores gera mucangas de 5 diversos locais de trabalho, aos deslocamentos para contetido e/ou das formas das diversas teas, de modo hea sig quai deceit ex vac lpn Ha bie te are novos pacirbea de fregmentagio do espago urban fas aos parentes e amigos, e as idas ao cinema, culto emergem, desfazendo total ou parcialmente os antigos ¢ os ce Conca ane cutee chenrie pevos ash ne pele eee teres ‘A articulagSo manifesta-se também de modo me- ied Ocetae sobre a fragmentacao do espaco urbano pe vistyel, No caplialiemo, nae ihe sae copetirs ung, tadicao ra, peopratia ten ora Qes espaciais envolvendo a circulagio de decis6es e wwestimentos de capital, mais-valia, salérios, juros, ren- ser definidos como estudos sobre o uso da terra. Tém i ‘i A sido realizados preponderantemente de acordo com as envolvendo ainda a prética clo poder e da ideologia ‘om sua dimensio espacial. abordagens positivista e positivista Iégica. Contudo, a O a i E conveniente frisar que essas relacées espaciais fragmentagao do espago urbano é susceptivel de ser 5 f abordada segundo outras matrizes teérico-metodo- sao de natureza social, tendo como matriz a propria légicas. Nesse sentido no aceitamos a tese da aderéncia Bociedade de classes e seus processos. Sao assim capa- inevitével entre um dado objeto do mundo real e um zes de revelar uma faceta da sociedade capitalista que dado método de andlise e interpretagao, apesar da préti- se caracteriza, entre outros aspectos, por uma enorme ca que muitas vezes evidencia 0 contrério. Cada objeto mobilidade espacial. Por outro lado, ao se desvendar a natureza articulada do espaco urbano, concretiza-se 0 segundo momento de sua apreensdo. pode ser considerado segundo diferentes abordagens te6rico-metodol6gicas. us ROBERTO LOBATO CORJ RAJETORIAS GEOGRAFICAS a = Os estudos sobre articulac&o no ambito do 4 indo, de um lado, a desigualdade social expressa no urbano dizem respeito a temas como o deslocament ces80 desigual aos recursos basicos da vida e, de outro, consumidores, a jornada para o trabalho e a: {ferencas locacionais das diversas atividades que se io realizados ¢ am na cidade. Em segundo lugar, ressalte-se que 1 ser reflexo social e porque a sociedade apresenta dinamismo, o espaco urbano é também mutével, dis de uma mutabilidade que 6 complexa, com ritmos e \tureza diferenciados. Mas é preciso considerar que a ida transformacao o espaco urbano se mantém desi- metodolégicas. ainda que as formas espaciais e o arranjo delas te- ‘Ao se constatar que 0 espaco urbano é simulta nham sido alterados. Mantém-se, ainda, fragmentado e mente fragmentado e articulado, e que esta fragmet Brticulado, fo articulada é a expresso espacial de proces O espaco urbano é também um condicionante sociais, introduz-se o terceiro momento de apreensio di social. Este € 0 quarto momento de sua apreensao. O espaco urbano: o de ser um reflexo da sociedade. Assi condicionamento se da através do papel que as obras © espaco da cidade capitalista é fortemente dividido ef fixadas pelo homem, as formas espaciais, desempe- reas residenciais que tendem a segregacéo, refletind nham na reprodugio das condigées de produgio e das complexa estrutura social em classes, prépria do capil relagdes de produgdo. Assim, a existéncia de estabeleci- lismo. A jornada para o trabalho, por outro lado, apan mentos industriais juntos uns dos outros, ¢ realizando entre si vendas de matérias-primas industrialmente ricadas, constitui-se, pelas vantagens de estarem jun- F conveniente lembrar, contudo, que o espagi s, em fator que viabiliza a continuidade da producao, urbano é um reflexo tanto de agdes que se realizam nk isto €, a reproducio das condigdes de producto. O presente, como também daquelas que se realizaram n\ mesmo papel condicionante de reproducao das ativida~ passado e que deixaram suas marcas impressas nas fo des tercidrias se pode dizer do nticleo central da cidade mas espaciais presentes. Nesse sentido 0 espaco urband e dos subcentros terciarios. pode ser o reflexo de uma seqiiéncia de formas es} ‘As dreas residenciais segregadas, por sua vez, re- que coexistem lado a lado, cada uma sendo origindti presentam papel ponderdvel no processo de reproducao de um dado momento. das relagdes de produgio, no bojo do qual se reprodu- FE conveniente também ressaltar dois outros aspee zem as diversas classes sociais e suas fungées. Assim, de tos, Em primeiro lugar 0 espaco urbano capitalista um bairro habitado pela elite dirigente espera-se que es- fundamente desigual: a desigualdade constitui-se teja sendo forjada a préxima geragio de dirigentes. O caracteristica prépria do espaco urbano capitalista, re mesmo se espera dos bairros populares das periferias dos estudos sobre fragmentacao do espaco urbano, ti apresentado fortes vinculagdes com o sistema de jamento urbano. Contudo, a temética em tela é passi\ de ser abordada através de outras matrizes teér ce como conseqiiéncia da fragmentagio capitalista qu separou lugar de trabalho de lugar de residéncia, 150 ROBERTO LOBATO CORR! RAJETORIAS GEOGRAFICAS 151 8 classes e grupos etério, étnico etc. Este é 0 quinto jomento de sua apreensio. Tniciados com os estudos de percepgao espacial, a jatureza simbélica do espaco urbano ganha forca, Jenova-se com a geografia humanistica que coloca em léncia o significado dos lugares para diferentes i ‘yiduos, como, por exemplo, nos mostra Joao Baptista Verreira de Mello em sua tese sobre 0 espaco cari lecantado pelos compositores da mtisica popular brasi- lojra. Esta é uma via extremamente fértil para pesquisas om geografia urbana, na qual se introduz uma dimen- ‘sio complementar as das outras abordagens. Mas 0 cotidiano e 0 futuro acham-se enquadrados 1m contexto de fragmentacao do espaco urbano. Frag- mentacao na qual verificam-se sensiveis diferengas no sue diz respeito as condigbes de existéncia e reproducao slo social. Fortemente associada aos niveis de renda moneté- Via, a fragmentagao do espago urbano e sua consciéncia ena desembocam em conflitos sociais como as greves perérias e particularmente os denominados movimen- 08 sociais urbanos. O espago da cidade é assim, ¢ tam- m, 0 cenario e o objeto das lutas sociais, pois estas, sam, afinal de contas, 0 direito & cidade, a cidadania Jena e igual para todos. © espago urbano converte-se, sim, em campo de lutas. Este é 0 sexto momento de Jia apreensao. Os estudos focalizando 0 espago urbano como impo de lutas so relativamente recentes na geografia. Como que por definicao adotam uma perspectiva emi- jemente critica, fundada no materialismo hist6rico ¢ \ético. Os movimentos sociais urbanos tém se consti- de estudos sobre 0 espaco metropolitanas. Os bairros, lugares de residéncia, s80 locais de reprodugao dos diversos grupos sociais. Os lugares de trabalho e lugares de residéncia, mactofragmentagio e reflexos sociais, assim identifi dos, passam a ter um papel comum, o de serem foco reproducdo das condigées de producao e das relacdes ciais de produgao. Estao, assim, novamente articulados, Aceitar 0 fato do espaco urbano ser simultane; mente reflexo e condicionante social ja implica na ad 40 de uma postura critica, uma postura fundamenta no materialismo histérico e dialético. Aceitar e incorpo rar esse papel do espaco urbano nos nossos estudos um passo fundamental para a sua compreensao. E a tar a hipotese bésica de Henri Lefébvre sobre a naturez do espaco urbano, Fragmentado, articulado, reflexo e condicionant social, 0 espaco urbano é também o lugar onde os di rentes grupos sociais vivem e se reproduzem. Iss envolve, de um lado, 0 cotidiano e o futuro. De outro, envolve crengas, valores, mitos, utopias e conflitos cri dos no bojo da sociedade de classes e em parte projet dos nas formas espaciais: monumentos, lugates sagra- dos, uma rua especial, uma favela, lugares de lazer et Formas espaciais em relagao as quais o homem desen: volve sentimentos, cria lagos de afeigao ou delas desgo: ta, atribui-lhes a propriedade de proporcionar felicidad ou status, ou associa-as a dor ou pobreza. A fragmenta: Sao e a articulacéo do espaco urbano, seu cardter di teflexo e condigao social sao vivenciados e valorado das mais diferentes maneiras pelas pessoas. O espaco urbano torna-se, assim, um campo simbélico que t dimens0es e significados variéveis segundo as diferen’ ido na via preferenc: 12 ROBERTO LOBATO CoRRpy urbano enquanto campo de lutas. Acreditamos, ent tanto, que outras manifestagdes das lutas sociais pod ser geograficamente estudadas, ampliando o temari dos estudos sobre 0 espaco urbano visto como cam de lutas. Oespago enquanto objetivagio geogréfica do est do da cidade apresenta varias facetas que permite, seja estudado de modo multivariado. Esta multivariabi lidade constitui-se em riqueza que foi gestada, de lado, pela propria realidade e, de outro, pela pratica d gedgrafos. As vitias vias de estudo do espaco urbano sentam momentos de apreensao de sua natureza. ordem com que estes momentos se verificam pode, ni entanto, variar: Mas quero crer que, de acordo com hist6ria do pensamento geografico, a seqiiéncia i da parece ter sido a mais corrente. 7. MEIO AMBIENTE E A METROPOLE* MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE A historia da ago humana sobre a superficie da Terra pode ser vista como sendo a hist6ria da criagéo de uum cada vez. mais complexo meio ambiente, com uma rica variedade de formas espaciais articuladas entre si, e no qual a natureza primitiva parece estar ausente, dado que na produgao do ambiente matérias-primas indus- trialmente produzidas sao crescentemente utilizadas. Por meio ambiente entendemos, segundo a viséo da geografia humana, o conjunto de trés aspectos interliga- dos. Em primeiro lugar é 0 resultado material da aco humana, tratando-se da segunda natureza, da natureza transformada pelo trabalho social. A materialidade social assim criada constitu, de lo, um reflexo dos conflitos sociais e, de outro, é 0 resultado do desenvolvi- mento das forgas produtivas, que gera novas tecnolo- ggias, novos meios de produgéo de ambientes. Os campos agricolas, caminhos e o habitat rural so exemplos tipi- cos e cléssicos dessas criagdes pelo homem. Esto inclu das também, entre outros exemplos, as encostas devasta- Turismo e Esportes, Colesdo Biblioteca Carioca, vol. 21,27-36, 1992,

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