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TV DESTINO

14/04/2008
Central Destino de Produção Cap. 32

FOGO SOBRE TERRA


Novela de
Walter de Azevedo

Inspirada no original de
Janete Clair
Colaboração de
Eduardo Secco

Escrita por
Walter de Azevedo
Likem Queiróz

Direção
Claudio Boeckel e Marco Rodrigo

Direção Geral
Luiz Fernando Carvalho

Núcleo
Luiz Fernando Carvalho
Personagens deste capítulo

LEONOR TALITA MADALENA


GILBERTO SAUL CHRISTIANE
VINÍCIUS BALBINA JANE
ARTHUR ZORAIDE DIOGO
CHICA ZULMIRA EDUARDA
PEDRO HEITOR
ZÉ MARTINS ADALGISA
BÁRBARA BRENO

Atenção
“ Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA e por conter informações confidenciais, não
poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer meio, sem o prévio e expresso
consentimento da mesma.No caso de violação do sigilo, a parte infratora estará sujeita às penalidades previstas em
lei e/ou contrato.”
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 2

CENA 01. LOJA. INT. MANHÃ

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR. LEONOR PERPLEXA COM O


QUE ACABOU DE OUVIR.

LEONOR — Como é?

GILBERTO — (Sem graça) Foi isso mesmo que você ouviu, Leonor. Por favor, passe
no escritório e assine os papéis.

LEONOR — Não! Espera aí! O senhor não pode fazer isso, seu Gilberto! Como,
demitida?

GILBERTO — Leonor, por favor, não torne as coisas mais difíceis do que elas já são.

GILBERTO SAI ANDANDO, MAS LEONOR O ACOMPANHA. TODOS NA LOJA


COMEÇAM A PRESTAR ATENÇÃO.

LEONOR — Tornar as coisas difíceis?! O senhor vem falar isso pra mim? Seu
Gilberto, o senhor sabe o que está acontecendo comigo! Sabe que o meu
filho está no hospital e...

GILBERTO — Então volte para o hospital. Fique com o seu filho. Ele está precisando
de você.

LEONOR — Eu preciso do meu emprego, seu Gilberto! Como é que eu vou


sustentar o meu filho, ainda mais agora? Eu não estou entendendo. Foi
alguma coisa que eu fiz? O senhor sempre elogiou o meu trabalho,
sempre disse que eu era o seu braço direito.

GILBERTO — Leonor, eu vou ser sincero.

LEONOR — Por favor.

GILBERTO — Eu não posso ficar com uma funcionária que falta, que se atrasa, uma
funcionária com a qual eu não posso contar, ainda mais em um cargo de
confiança.

LEONOR — E desde quando eu falto? Sempre cumpri o meu horário, Tá certo que
hoje eu...

GILBERTO — Leonor, sejamos realistas. De agora em diante isso vai acontecer


sempre. Com o seu filho nesse estado, ele vai precisar de todos os
cuidados. Fique ao lado dele.

LEONOR — (Irritada) Ficar ao lado dele? E como eu faço pra sustentar o meu
filho? Como eu faço pra colocar comida na mesa?
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 3

GILBERTO — Leonor, seu filho tem um pai. Pelo que eu me lembro, você sempre
disse que ele é fazendeiro, tem dinheiro.

LEONOR — Eu não quero ajuda do meu ex-marido!

GILBERTO — Eu sinto muito, Leonor. Eu é que não posso ser prejudicado. (p) Passe
no escritório.

CONSTRANGIDO, GILBERTO SAI. LEONOR ESTÁ SEM REAÇÃO, NÃO ACREDITA NO


QUE ACABOU DE ACONTECER. COMEÇA A CHORAR E AS PESSOAS A OBSERVAM
COM PENA.

CORTA PARA

CENA 02. HOSPITAL. QUARTO. INT. MANHÃ

VINÍCIUS DORME ENQUANTO ARTHUR FALA AO CELULAR.

ARTHUR — Eu entendo que o senhor esteja com peso na consciência, seu


Gilberto. (p) Claro que o senhor não precisa se preocupar. Eu não vou
deixar faltar nada pra Leonor e muito menos pro meu filho. Eu sei que
pode parecer que o senhor fez uma maldade, mas no final das contas, foi
o melhor.

VINÍCIUS ACORDA E ARTHUR PERCEBE.

ARTHUR — Eu...vou ter que desligar. Mas o senhor fica sossegado que vai dar
tudo certo. Até logo.

ARTHUR DESLIGA O CELULAR E VAI ATÉ O FILHO.

ARTHUR — Bom dia, meu filho.

VINÍCIUS — Bom dia.

ARTHUR — Dormiu bem?

VINÍCIUS — Dormi. (p) Cadê a mamãe?

ARTHUR — Foi trabalhar. Você sabe como a sua mãe é caxias. Eu acho que ela
deveria ficar aqui ao seu lado, mas a vida é dela.

VINÍCIUS — Ela precisa trabalhar, pai.

ARTHUR — Ela precisa é ficar ao seu lado.

VINÍCIUS — Era só o que me faltava. Ser um estorvo ainda maior pra minha mãe.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 4

ARTHUR — Vai começar com essa besteira de estorvo? Escuta aqui. O que você
acha de passar uma temporada na fazenda?

VINÍCIUS — Pra que? Pra eu andar à cavalo?

ARTHUR — Filho! Eu to pensando em você ficar uns tempos lá comigo. A fazenda


é um lugar tranqüilo. Claro que eu vou comprar tudo o que você for
precisar pra fisioterapia, contrato uma enfermeira. O que você acha?

VINÍCIUS — Sei lá. Duvido que a minha mãe concorde.

ARTHUR — A gente pode tentar convencer ela. O que você acha? Nós dois juntos,
enchendo bastante a dona Leonor. Quem sabe a gente não consegue?

VINÍCIUS SORRI.

ARTHUR — Olha que sorriso bonito. Sabe que o primeiro que eu vejo no seu rosto
desde que eu cheguei aqui em Cuiabá?

VINÍCIUS — Eu não tenho tido muitos motivos pra rir, né pai?

ARTHUR — Eu sei. Eu sei, mas isso vai passar. Confia no seu pai! (p) E aí?
Vamos tentar convencer a cabeça dura da Leonor?

VINÍCIUS — (Sorrindo) Vamos.

FICAMOS NO SORRISO CÚMPLICE DOS DOIS.

CORTA PARA

CENA 03. DIVINÉIA. CAMPO. EXT. MANHÃ

ATENÇÃO SONOPLASTIA: “ACONTECÊNCIAS” – CLÁUDIO NUCCI. STOCK-SHOTS


MOSTRANDO O CAMPO, GADO, ETC.

CORTA PARA

CENA 04. SÍTIO DE ZÉ MARTINS. COZINHA. INT. MANHÃ

CONTINUAÇÃO DA CENA 33 DO CAPÍTULO 31. PEDRO SURPRESO POR CHICA TER


JOGADO UMA XÍCARA NELE.

PEDRO — Tá doida, Chica?

CHICA — (Brava) Tô. Tô doida por te jogado só uma xícara! Devia de tê jogado
o bule! Com o café fervendo!

PEDRO — Café? Ocê deve de tê bebido é uma cachaça. Uma só não!

CHICA APANHA O BULE.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 5

CHICA — Agora ocê vai leva na cabeça!

PEDRO SAI APRESSADO PELA PORTA DA COZINHA.

CORTA PARA

CENA 05. SÍTIO DE ZÉ MARTINS. SALA. INT. MANHÃ

PEDRO VEM CORRENDO DA COZINHA COM CHICA ATRÁS. ELA CARREGA O BULE
DE CAFÉ.

PEDRO — Chica, para com isso! Ocê tá doida?

CHICA — Doida eu tava quando aceitei ficá noiva com um peão pilantra e
desavergonhado que nem ocê!

PEDRO — Mas o que foi que eu fiz?

CHICA — Pilantra, desavergonhado e ainda por cima sonso! Então a belezinha


num sabe o que foi que fez de errado?

PEDRO — Claro que não!

CHICA — Quem sabe se eu rachá a sua cabeça com o bule, ocê num lembre?

PEDRO — Chica Martins, ocê nem brinca com uma coisa dessa!

CHICA — Eu vô lhe mostra quem é que tá brincando!

CHICA JOGA O BULE. PEDRO SE ABAIXA E ELE ACERTA ZÉ MARTINS, QUE ESTÁ
ENTRANDO. CORTE PARA O OLHAR ASSUSTADO DE CHICA.

CHICA — Pai!

CORTA PARA

CENA 06. FAZENDA DE HEITOR. QUARTO DE BÁRBARA. INT. MANHÃ

APARTAMENTO DE TALITA.SALA. INT. MANHÃ

BÁRBARA ESTÁ DORMINDO. O CELULAR TOCA. ELA PROCURA COM AS MÃOS, ATÉ
QUE CONSEGUE ENCONTRAR E ATENDE. A CENA CORRE NOS DOIS CENÁRIOS

BÁRBARA — Alô.

TALITA — Esqueceu das amigas?

BÁRBARA — Boa noite pra você também.

BÁRBARA SE SENTA NA CAMA.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 6

TALITA — Boa noite? Bárbara, você sabe que horas são?

BÁRBARA — A hora eu não sei, mas ainda é cedo demais pra me acordar.

TALITA — Nossa, eu nunca imaginei que esse final de mundo fosse tão animado.

BÁRBARA — Animado? Como assim, perua? Já tá trabalhada na vodka?

TALITA — Pelo jeito você foi dormir tarde. Alguma balada?

BÁRBARA — Talita, acorda pra vida! A única balada que tem por aqui é a missa de
domingo. Eu fui dormir tarde porque meu pé não parava de doer.

TALITA — Por que?

BÁRBARA — Porque a sua amiga linda e loira se estabacou de cima do cavalo.

TALITA — Você caiu do cavalo?

BÁRBARA — Cair foi pouco. Eu voei por cima do cavalo.

TALITA — Menina! Machucou muito?

BÁRBARA — Quebrei o pé. Mas podia ter sido pior.

TALITA — Graças a Deus!

BÁRBARA — Amiga, você precisava ter visto a cena! O cavalo disparou com a
musa aqui em cima. O bicho que nem um doido pelo pasto e a louca aqui
gritando por socorro.

TALITA COMEÇA A RIR.

BÁRBARA — Isso! Dá risada! Tira uma da cara da amiga.

TALITA — Desculpa. Na hora deve ter sido horrível.

BÁRBARA — E foi. Acontece que nem tudo é desgraça na vida de Bárbara


Gonzaga. A coisa tinha que ter um saldo positivo.

TALITA — O que aconteceu?

BÁRBARA — Aconteceu que eu fui salva por um príncipe encantado montado num
cavalo.

TALITA — Príncipe? Como assim perua?

BÁRBARA — Um príncipe. Tá certo que ele foi meio lento. Chegou depois que eu já
tinha voado do cavalo, mas enfim. O que interessa é que ele me
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 7

perseguiu, tentando me salvar. Depois foi todo cuidadoso, me colocou no


cavalo dele, me levou pra fazenda, depois pro hospital.

TALITA — Bofe?

BÁRBARA — Bofíssimo. Sabe aquele tipo rural, que cheira a madeira. Másculo. Um
sonho. Um pouquinho capiau.

TALITA — Mas isso não é problema. É só pedir pra ele não abrir a boca.

BÁRBARA — Quanto preconceito nesse coração! Só tem um probleminha, que eu


nem sei se é um problema.

TALITA — Qual?

BÁRBARA — Ele é irmão do meu irmão.

TALITA — Como é?

BÁRBARA — Pois é. Uma coisa meio tragédia grega. Diz se eu não ia ficar diva
num modelito Sófocles?

AS DUAS RIEM.

TALITA — Mas você ficou com ele?

BÁRBARA — Não. Ele é muito bobinho. Tímido. Adorei.

TALITA — Logo você, que gosta de caras mais atirados.

BÁRBARA — Pois é, menina! Sempre tive pavor de homem assim, mas esse...ele
tem uma coisa a mais. Quando eu tava lá caída no chão, abri o olho e vi
aquele homem parado, olhando pra minha cara...confesso que eu tremi.

TALITA — Olha só. Vai se apaixonar pelo peão, amiga?

BÁRBARA — Apaixonar é um pouco forte, mas que eu achei ele uma graça, eu
achei.

TALITA — Quem sabe não é esse peão que vai laçar o seu coração...indomável!

AS DUAS RIEM.

BÁRBARA — A seguir cenas dos próximos capítulos.

CORTA PARA

CENA 07. CLUBE RECREATIVO. SALÃO. INTERIOR. MANHÃ

BALBINA ESTÁ GUARDANDO ALGUMAS GARRAFAS NO BAR. SAUL ENTRA.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 8

SAUL — Com licença.

BALBINA — Seu Saul! Já não era sem tempo. A Zulmira tá aflita lhe esperando.

SAUL — É. Eu me atrasei um pouco.

ZORAIDE APARECE, VINDA DA COZINHA, MAS NINGUÉM A VÊ. FICA ESCONDIDA


ESCUTANDO TUDO.

BALBINA — Não tem problema. Vamos lá dentro que a Zulmira tá no quarto.

SAUL — (Reticente) Lá dentro...no quarto?

BALBINA — É. (p) Ah, seu Saul, pelo amor de Deus. O senhor tá achando que
alguém vai lhe atacar lá dentro? Se ainda fosse um rapagão na flor da
idade.

SAUL — Claro que não é isso, mas...

BALBINA — Zulmira prefere que a conversa seja lá dentro. Assim não corre o risco
de ninguém ouvir.

SAUL — Bem, se é assim.

BALBINA — O senhor me acompanhe.

BALBINA E SAUL ENTRAM NO CORREDOR.

ZORAIDE — O que será que a Madrinha quer falar com o advogado de tão
importante assim? E que não quer que ninguém escute. Ah, mas eu vou
saber o que é!

ZORAIDE ENTRA SORRATEIRAMENTE NO CORREDOR.

CORTA PARA

CENA 08. CLUBE RECREATIVO. QUARTO DE ZULMIRA. INT. MANHÃ

ZULMIRA E SAUL SENTADOS. BALBINA AO LADO.

BALBINA — Bom, eu vou deixar ocês à vontade pra podê conversa.

ZULMIRA — Eu quero que você fique, Balbina. Quero que saiba tudo o que vai ser
dito nessa conversa.

BALBINA — Tá certo.

CORTA PARA

CENA 09. CLUBE RECREATIVO. CORREDOR. INT. MANHÃ


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 9

ZORAIDE SE APROXIMA DA PORTA DO QUARTO E COLA A ORELHA, TENTANDO


OUVIR ALGUMA COISA.

CORTA PARA

CENA 10. CLUBE RECREATIVO. QUARTO DE ZULMIRA. INT. MANHÃ

CONTINUAÇÃO DA CENA 08. ZULMIRA, SAUL E BALBINA CONVERSANDO.

SAUL — Dona Balbina esteve lá em casa, me adiantou alguma coisa, mas eu


ainda não entendi como a senhora quer...

ZULMIRA — Como eu quero fazer? Da forma mais rápida possível, Dr. Saul.

SAUL — Mas essas coisas não podem ser feitas com pressa.

ZULMIRA — Mas vai ter de ser assim. (p) Eu preciso muito da sua ajuda, Dr. Saul.
(p) Eu estou morrendo.

REAÇÃO ESPANTADA DE SAUL.

CORTA PARA

CENA 11. CLUBE RECREATIVO. CORREDOR. INT. MANHÃ

ZORAIDE SURPRESA AO OUVIR O QUE ZULMIRA ACABOU DE FALAR.

ZORAIDE — (Surpresa) Morrer? A Madrinha vai morrer?

ZORAIDE VOLTA A COLAR O OUVIDO NA PORTA.

CORTA PARA

CENA 12. CLUBE RECREATIVO. QUARTO DE ZULMIRA. INT. MANHÃ

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 10. ZULMIRA CONVERSANDO COM SAUL E


BALBINA.

SAUL — Morrer? Mas do que é que você está falando?

ZULMIRA — É isso mesmo. Eu estou morrendo. (p) Há alguns meses eu


descobri...Eu descobri que tenho câncer no intestino. Quando foi
diagnosticado já estava avançado. Não havia nada a fazer.

BALBINA — Também não é assim. Ocê que é cabeça dura!

ZULMIRA — Balbina colocou na cabeça que se eu tivesse feito o tratamento tinha


me curado.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 10

SAUL — Mas você não fez tratamento? Não está tomando nenhum remédio,
nada?

BALBINA — Nada. Vê se pode. Cansei de falar, de brigar com ela.

ZULMIRA — Não foi pra vocês me passarem sabão que eu chamei os dois aqui. (p)
Eu conversei com o médico. Ele me disse que estava avançado. Não
havia muito o que fazer. Era uma questão de tempo. Eu não vou passar o
pouco que eu ainda tenho de vida jogada em uma cama, dopada com
remédio. Sei que tá errado, que não se deve fazer isso, mas é uma opção
minha! E não quero mais discutir.

SAUL — Está bem. Se você prefere assim.

ZULMIRA — Eu não prefiro. É assim.

SAUL — E o que você quer que eu faça?

ZULMIRA — Dr. Saul, na minha vida eu consegui juntar algum dinheiro. Não é
muita coisa, mas consegui fazer um pé de meia. Além disso, tenho o
clube recreativo. Eu não tenho filhos, não tenho nenhum parente. Quero
deixar no papel tudo o que eu quero que aconteça com o que é meu.

SAUL — Um testamento?

ZULMIRA — Isso. Eu quero fazer um testamento.

CORTA PARA

CENA 13. CLUBE RECREATIVO. CORREDOR. INT. MANHÃ

ZORAIDE CONTINUA OUVINDO ATRÁS DA PORTA.

ZORAIDE — Testamento? Ué, mas eu não sabia que a madrinha tinha dinheiro. Isso
é coisa de gente rica.

CORTA PARA

CENA 14. PREFEITURA. ANTE SALA. INT. MANHÃ

ADALGISA ORGANIZANDO ARQUIVOS NO ARMÁRIO. HEITOR CHEGA.

HEITOR — Bom dia.

ADALGISA — (Surpresa) Dr. Heitor? Bom dia.

HEITOR — Breno tá aí?

ADALGISA — Está, sim senhor.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 11

HEITOR — Sozinho?

ADALGISA — Está. Eu vou avisar que...

HEITOR — Não precisa avisar.

HEITOR ENTRA NA SALA.

CORTA PARA

CENA 15. PREFEITURA. SALA DE BRENO. INT. MANHÃ

BRENO ESTÁ LENDO O JORNAL E HEITOR ENTRA. BRENO, ESPANTADO, SE


LEVANTA.

BRENO — (Surpreso) Heitor?

HEITOR — Como vai, Breno? Trabalhando muito?

BRENO FICA SEM GRAÇA.

BRENO — Eu não sabia que você já estava em Divinéia. Vamos nos sentar.

BRENO E HEITOR SE SENTAM.

HEITOR — Eu resolvi de última hora.

BRENO — Mas já corriam uns boatos pela cidade dizendo que você passaria uma
temporada por aqui.

HEITOR — Sei. O povinho dessa cidade continua desocupado e falando da vida


dos outros. Por isso que continua nessa miséria.

BRENO — (Sem graça) Cidade pequena. Sabe como é.

HEITOR — Sei. Eu não vim aqui pra ficar falando desse povinho. Nós precisamos
ter uma conversa séria, Breno. Uma conversa sobre a construção da
hidrelétrica aqui em Divinéia.

REAÇÃO DE ESPANTO DE BRENO.

CORTA PARA

CENA 16. CUIABÁ. EXT. MANHÃ

STOCK-SHOTS MOSTRANDO A CIDADE.

CORTA PARA

CENA 17. APARTAMENTO DE LEONOR. SALA. INT. MANHÃ


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 12

ATENÇÃO SONOPLASTIA: “BATENDO NA PORTA DO CÉU” – ZÉ RAMALHO.


LEONOR ENTRA. AR CANSADO, DESAMPARADA. COLOCA A BOLSA EM CIMA DA
MESA E SENTA NO SOFÁ. NÃO SABE O QUE FAZER DIANTE DOS OBSTÁCULOS QUE
A VIDA ESTÁ LHE COLOCANDO. VÊ O PORTA RETRATO DO FILHO E SE EMOCIONA.
OLHA PARA A PAREDE, ONDE EXISTE UMA IMAGEM DE NOSSA SENHORA. SUA
EXPRESSÃO MUDA PARA UM MISTO DE TRISTEZA E RAIVA. LEVANTA, APANHA A
IMAGEM DA SANTA E JOGA LONGE. ALGUNS SEGUNDOS OFEGANTE E DEPOIS VAI
PARA O QUARTO.

CORTA PARA

CENA 18. APARTAMENTO DE LEONOR. QUARTO DE LEONOR. INT. MANHÃ

ATENÇÃO SONOPLASTIA: A MÚSICA DA CENA ANTERIOR CONTINUA. LEONOR


ENTRA APRESSADA NO QUARTO. EM CIMA DA CÔMODA EXISTEM MAIS ALGUMAS
IMAGENS DE SANTO, JESUS E ARTIGOS RELIGIOSOS. LEONOR OLHA COM RAIVA E
COM O BRAÇO DERRUBA TUDO. DEPOIS COMEÇA A PEGAR OS PEDAÇOS QUE
SOBRARAM E JOGAR CONTRA A PAREDE. DEPOIS DE UM TEMPO, CANSADA,
AJOELHA CHORANDO.

LEONOR —Por que o senhor fez isso com o meu filho? Por que está fazendo isso
comigo? O que foi que eu fiz pra merecer tudo isso? Um marido canalha,
um casamento fracassado! Por que eu?! Será que o senhor só coloca
sofrimento na minha vida? O meu filho não merece passar por isso! Não
merece! O que mais o senhor quer de mim?! O que mais? (p) Como eu
vou cuidar do meu menino sem trabalho?

LEONOR DEITA NO CHÃO, CANSADA, SEM ESPERANÇA.

LEONOR —(Chorando) Me ajuda. Eu preciso de ajuda. Eu não agüento mais.

CAM NUM PLANO GERAL, MOSTRANDO LEONOR CHORANDO NO CHÃO.

CORTA PARA

CENA 19. HOSPITAL, QUARTO DE VINÍCIUS. INT. MANHÃ

VINÍCIUS NA CAMA VENDO TELEVISÃO E ARTHUR PREOCUPADO, NÃO PARA DE


OLHAR O RELÓGIO. O FILHO PERCEBE.

VINÍCIUS — O que foi, pai?

ARTHUR — O que?

VINÍCIUS — Tá aí andando de um lado pro outro, não pára de olhar o relógio. Tá


esperando alguém?
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 13

ARTHUR — Não. Quer dizer, tô! Tô esperando um telefonema lá da fazenda.


Coisa de trabalho. (p) Filho, eu já volto.

ARTHUR SAI.

CORTA PARA

CENA 20. HOSPITAL. CORREDOR. INT. MANHÃ

ARTHUR SAI DO QUARTO E FECHA A PORTA,

ARTHUR — Onde que tá a Leonor? A essa hora já era pra ela ter voltado! O
homem lá disse que mandou ela embora. Já devia estar aqui. (p) Será que
ele voltou atrás? Não, não pode ser! (p) Calma, Arthur. Não adianta ficar
assim. O jeito é esperar.

CORTA PARA

CENA 21. SÍTIO DE ZÉ MARTINS. SALA. INT. MANHÃ

ZÉ MARTINS DEITADO NO SOFÁ COM PEDRO E CHICA AJOELHADOS AO SEU LADO.


PEDRO COLOCA UMA BOLSA DE ÁGUA NA TESTA DE ZÉ.

CHICA — (Preocupada) Ai, meu Deus! Eu matei o meu pai!

PEDRO — Matou nada, Chica! Deixa de fazê drama!

CHICA BATE COM O PANO DE PRATO NO BRAÇO DE PEDRO.

CHICA — Ocê num fala assim comigo! É tudo curpa sua!

PEDRO — Para de me bater, Chica!

ELA PARA

PEDRO — Culpa minha! Sei! Você que é doida, taca o bule na cabeça do infeliz
do velho e a culpa é minha!

CHICA — Eu não joguei no meu pai! Eu joguei nocê! Se ocê tivesse ficado
quieto no lugar, num tinha acertado o pobre do meu pai!

PEDRO — Tá! Você queria que eu ficasse quieto pra tomar com o bule na
cabeça?

CHICA — Queria! Queria porque ocê merece! Meu pai que não merecia,
coitado. Paizinho, fala comigo, pelo amor de Deus.

PEDRO — E eu posso saber porque eu mereço?

CHICA — Porque é sem vergonha!


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 14

PEDRO — Chica, ocê andou bebendo?

ZÉ MARTINS SE MEXE NO SOFÁ E GEME.

PEDRO — Acho que ele tá acordando.

CHICA — Pai?

ZÉ MARTINS ABRE OS OLHOS. ESTÁ ATORDOADO, PERDIDO.

ZÉ MARTINS — O que foi?

PEDRO — O senhor tá bem?

ZÉ MARTINS — Tô um pouco zonzo...e com dor de cabeça.

PEDRO — Viu o que você fez, Chica?

CHICA — Ocê cale essa boca antes que eu perca as estribera de novo!

ZÉ MARTINS — Será que ocês pode falá um pouco mais baixo?

CHICA — Claro que pode, paizinho. Ocê descurpa nóis.

ZÉ MARTINS — Mas...o que foi que aconteceu?

PEDRO — Aconteceu que a maluca da sua filha lhe taco o bule de café no meio
da testa.

ZÉ MARTINS — Mas o que foi que eu fiz?

CHICA — Não fez nada, paizinho. Não escuta o que esse sonso tá falando não.
Nunca que eu ia tacá o bule na sua cabeça. Eu taquei na cabeça do Pedro,
mas ele abaixou e...pegou no senhor.

ZÉ MARTINS — Chica Martins, ocê tá ficando maluca?

ZÉ SE SENTA NO SOFÁ, AINDA SENTINDO DORES.

CHICA — Tá doendo muito?

ZÉ MARTINS — O que é que ocê acha, Chica?

PEDRO — É melhor leva o senhor pro hospital.

ZÉ MARTINS — Eu não vô pra hospital nenhum!

CHICA — Mas, pai...


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 15

ZÉ MARTINS — Num tem mais. Já cai de muito boi brabo pra me preocupa com uma
pancadinha dessa na cabeça. Vô só fica um tempo aqui inté a zonzeira
passá.

PEDRO — Se o senhor prefere assim.

ZÉ MARTINS — Prefiro. E agora ocês dois trata de tê uma conversa e botá os pingo
nos i.

CHICA — Eu num tenho nada pra falá com esse caboclo!

PEDRO — Ah, não? Eu venho aqui conversa com ocê, ocê tenta me acerta e
agora ainda faz doce?

CHICA — E eu lá sou mulhé de fazê doce? Eu num quero fala com ocê porque
ocê é um sujeitinho...

PEDRO — Não me interessa! Não quero sabê mais! Vou lhe dizer uma coisa,
Chica Martins: Quem não quer mais falar com você agora, sou eu!

PEDRO VAI ATÉ A PORTA.

ZÉ MARTINS — Pedro, ocê se acalme. Os dois tão nervoso. Ocês precisa de conversá,

PEDRO — Eu também achava isso, seu Zé. Mudei de idéia. Num quero nem mais
ouvi a voz da sua filha. Eu vou trabalhar.

PEDRO SAI. CHICA ESTÁ SURPRESA COM A REAÇÃO DE PEDRO.

ZÉ MARTINS — Viu? Tá vendo o que ocê fez?

CHICA — Eu?

ZÉ MARTINS — É! Ocê sim! Sua jumenta empacada!

CHICA — Pai!

ZÉ MARTINS — Num deixo nem o moço se explica!

CHICA — O que ele fez num tem explicação! Eu vi!

ZÉ MARTINS — Muitas vez, o que a gente vê, num é o que parece! E ocê sabe disso
muito bem!

CHICA — Sei?

ZÉ MARTINS — Sabe! Aquele tranquêra que ocê arranjou e que lhe levou daqui
parecia se todo certinho, todo apaixonado e deu no que deu!
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 16

CHICA — O senhor sabe que eu num gosto de falá nesse assunto. Num gosto de
lembra dessa época.

ZÉ MARTINS — Ocê gosta de aponta os mau feito dos outros, mas não gosta que falem
dos seus. Eu acho que ocê devia lembra de tudo que lhe aconteceu, sim!
Sabe por que? Pra vê se aprendia alguma coisa! E agora ocê vai trata da
sua vida e me deixe aqui em paz!

CHICA, SEM GRAÇA, VAI PARA A COZINHA. PELA EXPRESSÃO DE ZÉ, PERCEBE-SE
QUE ELE SE ARREPENDEU DE TER SIDO TÃO DURO, MAS NÃO VOLTA ATRÁS.

CORTA PARA

CENA 22. SÍTIO DE ZÉ MARTINS. COZINHA. INT. MANHÃ

ATENÇÃO SONOPLASTIA: “SINÔNIMOS” – CHITÃOZINHO & XORORÓ E ZÉ


RAMALHO. CHICA ENTRA, MAGOADA COM O QUE O PAI DISSE. APANHA UM PANO
E COMEÇA A PASSAR NA PIA. LUTA CONTRA O CHORO, MAS ACABA DEIXANDO AS
LÁGRIMAS CORREREM.

CORTA PARA

CENA 23. SÍTIO DE ZÉ MARTINS. ESTRADA. EXT. MANHÃ

ATENÇÃO SONOPLASTIA: CONTINUA A MÚSICA DA CENA ANTERIOR. PEDRO


ANDANDO EM RITMO LENTO, MONTADO EM SEU CAVALO.

PEDRO — Ela pensa que é quem pra me trata daquele jeito? Acabou, Chica
Martins! Acabou! Já agüentei muita coisa sua. Essa eu não vou agüentar.
Ela que vá ter os ataques dela pros lados de outro!

PEDRO FAZ COM QUE O CAVALO COMECE A CAVALGAR. SAINDO EM VELOCIDADE.

CORTA PARA

CENA 24. PREFEITURA. SALA DE BRENO. INT. MANHÃ

BRENO E HEITOR CONVERSANDO.

HEITOR — E agora só falta mesmo colocar a mão na massa.

BRENO — (Preocupado) Então a coisa já tá assim? Já tá tudo certo?

HEITOR — Claro que está, homem! O deputado do seu partido não lhe avisou?

BRENO — Não.

HEITOR — Estranho. Vai ver é porque estava tudo sendo feito no mais absoluto
sigilo. Bom, o que interessa é que a hidrelétrica foi aprovada e que agora
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 17

nós precisamos nos reunir e resolver alguns pontos. Preciso falar com o
Viriato e com o Arthur. Podemos marcar uma reunião pra hoje.

BRENO — O Coronel Arthur não está em Divinéia. Foi pra Cuiabá.

HEITOR — Volta quando?

BRENO — Não sei. O menino dele parece que caiu de uma cachoeira e está no
hospital sem poder andar.

HEITOR — Não me diga!

BRENO — Pois é. Uma coisa muito triste.

HEITOR — Então eu preciso pensar em um jeito de falar com ele o quanto antes.
Nem que eu tenha de ir até Cuiabá.

BRUNO — Bom, mas isso tudo ainda vai levar um tempo.

HEITOR — Que levar tempo, Breno? Tá louco? Isso tem que começar o quanto
antes. É muito dinheiro envolvido! Não dá pra ficar esperando. (p) O que
me preocupa é a leitura do relatório de impacto ambiental pra população.

BRENO — (Assustado) A gente...vai ter de ler esse relatório...pra população?

HEITOR — Vai, mas não precisa ficar preocupado.

HEITOR SE LEVANTA.

HEITOR — Confia em mim que tudo vai dar certo. Vai ser bom pra todos nós.

BRENO TAMBÉM SE LEVANTA.

HEITOR — Eu vou ligar pro Arthur e depois entro em contato com vocês. Até
porque eu não posso ficar muito tempo aqui. Eu...tenho um compromisso
agora.

BRENO — Eu vou avisar o Vidigal que você está na cidade.

HEITOR — Avise, mas não adiante nada, afinal de contas ele é da oposição.

BRENO — Pode deixar. Da minha boca não sai nada.

HEITOR — Tá certo. Até depois.

BRENO — Até.

HEITOR CUMPRIMENTA BRENO E SAI. O PREFEITO, PREOCUPADO, VOLTA A


SENTAR.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 18

BRENO — Eu tô perdido. A população vai me matar. Já tô até me vendo


pendurado em praça pública. Isso não vai dar certo.

CORTA PARA

CENA 25. CLUBE RECREATIVO. QUARTO DE ZULMIRA. INT. MANHÃ

SAUL OLHANDO ALGUNS DOCUMENTOS. BALBINA E ZULMIRA AGUARDAM.

SAUL — Então, além da conta no banco e de alguns investimentos, você tem


esse imóvel que também é um estabelecimento comercial.

ZULMIRA — Eu sei que é pouca coisa, mas é tudo que eu consegui na minha vida.

SAUL — Eu vou fazer algumas anotações pra poder redigir o documento.

SAUL APANHA UM BLOCO DE ANOTAÇÕES E UMA CANETA E COMEÇA A


ESCREVER.

SAUL — Quem vão ser os beneficiários?

ZULMIRA — Metade dos investimentos devem ficar com a Balbina.

BALBINA — (Espantada) Eu? O que é isso? Tá doida, mulher?

ZULMIRA — Doida eu seria se não lhe deixasse nada depois de tantos anos de
amizade e dedicação.

BALBINA SE EMOCIONA.

ZULMIRA — E não vá começar a chorar. Fazer isso tudo aqui é muito pior do que
eu imaginava.

BALBINA ENXUGA AS LÁGRIMAS.

SAUL — Depois eu preciso dos documentos da dona Balbina. Quem mais var
ser beneficiado no testamento?

ZULMIRA — Todo o resto, casa, negócio, economias, vão ficar no nome da


Madalena. Ela é a minha herdeira.

CORTA PARA

CENA 26. CLUBE RECREATIVO. CORREDOR. INT. MANHÃ

ZORAIDE SURPRESA E BRAVA AO OUVIR QUE MADALENA É A HERDEIRA.

ZORAIDE — Madalena?! Eu não acredito nisso! Não acredito que essa lambisgóia
vai herdar tudo isso aqui! Não pode ser!
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 19

ZORAIDE OUVE A PORTA DO QUARTO DE MADALENA SE ABRINDO E AFASTA-SE


DO QUARTO DE ZULMIRA. MADALENA ENTRA NO CORREDOR.

MADALENA — Zoraide, você por acaso viu a Tiana?

ZORAIDE — (Com raiva) E eu por acaso tenho cara de vigia?

MADALENA — Nossa, Zoraide. Eu só lhe fiz uma pergunta.

ZORAIDE — Você é muito da folgada! Se quiser saber de Tiana, que procure!

ZORAIDE ENTRA NERVOSA EM SEU QUARTO, DEIXANDO MADALENA SURPRESA.

MADALENA — Que bicho mordeu essa menina?

CORTA PARA

CENA 27. CLUBE RECREATIVO. QUARTO DE ZORAIDE. INT. MANHÃ

ZORAIDE ENTRA BATENDO A PORTA, COM MUITA RAIVA. SENTA NA CAMA,


SEGURA O TRAVESSEIRO E COMEÇA A CHORAR DE ÓDIO.

ZORAIDE — Não pode ser! Madalena não pode virar dona do Clube! Ela não
merece! Ainda por cima, essa desgraçada me odeia. Vai me botar pra
fora daqui. (p) Eu não posso deixar isso acontecer. Preciso pensar num
jeito de não deixar a Madalena herdar o clube.

CORTA PARA

CENA 28. CLUBE RECREATIVO. SALÃO. INT. MANHÃ

ATENÇÃO SONOPLASTIA: “QUANDO O AMOR ACONTECE” – NANA CAYMMI.


HEITOR ENTRA NO SALÃO, OBSERVANDO TUDO, COMO SE TENTASSE RECONHECER
UM LUGAR QUE NÃO VÊ HÁ ALGUM TEMPO. MADALENA ENTRA.

MADALENA — Tiana! Tiana, você tá...

MADALENA CONGELA AO VER HEITOR. ELE SORRI PARA ELA E ABRE OS BRAÇOS.

HEITOR — Tô aqui, minha morena. Vim lhe ver.

MADALENA ABRE UM SORRISO. EM SLOW MOTION, MADALENA CORRE PARA


HEITOR E SE JOGA EM SEU BRAÇOS. OS DOIS SE BEIJAM. CENA VOLTA AO
MOVIMENTO NORMAL.

MADALENA — Eu não acredito que você está aqui comigo. Que tá me abraçando, me
beijando.

HEITOR — Mas eu estou.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 20

MADALENA — Eu nunca pensei que saudade pudesse doer, mas dói! Dói muito.

HEITOR — Você acha que eu não sei disso? Cada dia que eu passa longe de você
é um sofrimento.

MADALENA ENCHE A BOCA DE HEITOR DE BEIJOS.

HEITOR — Eu sinto falta do seu cheiro, do seu gosto.

OS DOIS VOLTAM A SE BEIJAR.

MADALENA — Então vem matar essa saudade. Vem sentir o meu gosto. Vem sentir o
gosto do meu amor.

MADALENA PUXA HEITOR EM DIREÇÃO AO CORREDOR.

CORTA PARA

CENA 29. VANCOUVER. CANADÁ. EXT. MANHÃ

ATENÇÃO SONOPLASTIA: “NEVER SURRENDER” – COREY HART. STOCK-SHOTS


MOSTRANDO A CIDADE DE VANCOUVER DE MANHÃ. TERMINA COM TOMADA DO
PRÉDIO DE DIOGO E CHRISTIANE.

CORTA PARA

CENA 30. APARTAMENTO DE DIOGO. SALA. INT. MANHÃ

CHRISTIANE SENTADA NO SOFÁ, TOMANDO UMA CANECA DE CAFÉ E COM CARA


DE POUCOS AMIGOS. NÃO ESTÁ COM UMA APARÊNCIA BOA. JANE ENTRA, VINDA
DA RUA.

JANE — Pronto. Já levei a Vivi pra escola.

JANE OLHA O ESTADO DE CHRISTIANE.

JANE — Minha filha, você ainda está assim?

CHRISTIANE — Assim como? De pijama, descabelada? Não vou sair mesmo. Vou
ficar em casa.

JANE SE SENTA AO LADO DA FILHA.

JANE — Claro que vai sair. Eu quero comprar umas coisas, ir ao shopping,
almoçar fora. Você pode morar aqui, mas eu não. Sou turista.

CHRISTIANE — Mamãe, eu não estou com a menor vontade de sair de casa hoje.

JANE — Mas vai sair! Não vou deixar você ficar prostrada desse jeito dentro
de casa. Vai levantar, tomar um banho, se arrumar e sair comigo.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 21

CHRISTIANE — Eu não tenho vontade.

JANE — Christiane, para com isso! Você não pode se entregar desse jeito.

CHRISTIANE — Fácil falar.

JANE — Não é fácil falar e nem fazer, mas você não pode continuar se
comportando desse jeito. Filha, você está transformando a sua vida num
inferno.

CHRISTIANE — O Diogo tá transformando a minha vida num inferno.

JANE — É o Diogo?

CHRISTIANE — É. Se ele tivesse ficado aqui...

JANE — Se é o Diogo quem transforma a sua vida num inferno, então eu tenho
uma solução bem simples. Peça o divórcio!

CHRISTIANE OLHA ESPANTADA PARA A MÃE.

JANE — Se ele lhe faz mal, não faz o menor sentido vocês continuarem
casados.

CHRISTIANE — A senhora não fala isso nem brincando.

JANE — Eu não estou brincando, Christiane. Se você não consegue viver com
o Diogo, então vocês não podem mais ficar casados.

CHRISTIANE — Mas eu consigo viver com ele! Aqui, no Canadá, eu consigo!

JANE — Então o seu casamento depende do lugar onde vocês estão? Que
casamento é esse, minha filha?

CHRISTIANE — É o meu casamento!

JANE — Isso não é casamento!

CHRISTIANE — É sim! Esse é o jeito que eu encontrei de ser feliz! No Brasil aquelas
vagabundas viviam cercando o Diogo! Se eu ficasse...

JANE — E o que lhe garante que aqui elas não cercam? Ou você acha que
vagabunda só existe no Brasil?

CHRISTIANE FICA SEM SABER O QUE DIZER.

JANE — Meu amor, o seu casamento não pode existir apenas porque vocês
moram nesse ou em outro lugar. Se o Diogo quiser te trair, vai trair. Vai
trair aqui, nos Estados Unidos, na Inglaterra e até no Brasil.
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 22

CHRISTIANE — Não fala isso, mãe! Eu não quero ouvir!

JANE — Mas precisa. Christiane, já está na hora de você ter uma postura de
adulta diante dessa relação.

CHRISTIANE — Vai me chamar de imatura, que nem o Diogo?

JANE — E por acaso você está sendo madura?

CHRISTIANE FICA EM SILÊNCIO DURANTE UM TEMPO.

JANE — Filha, se você continuar agindo dessa forma, vai perder o Diogo. Ele
não vai agüentar ser sufocado desse jeito por muito tempo. Ninguém
agüenta.

CHRISTIANE — A senhora tá dizendo que eu faço mal pro Diogo.

JANE — Eu estou dizendo que ninguém é feliz ao lado de uma pessoa que não
demonstra confiança, de uma pessoa que reage às adversidades de uma
forma tão radical quanto você reage. Eu não queria estar lhe dizendo
essas coisas, filha. Eu sei que estou sendo dura, mas alguém precisa falar.
Você precisa acordar pra realidade.

CHRISTIANE — Eu tô tão cansada, mãe. Cansada de tudo. Às vezes eu acho que não
vou conseguir.

CHRISTIANE COMEÇA A CHORAR E JANE A ABRAÇA.

CORTA PARA

CENA 31. FAZENDA DE HEITOR. ESCRITÓRIO. INT. TARDE

DIOGO SENTADO, PENSATIVO.

DIOGO — Quem será aquela mulher? (p) Diogo, você é um homem casado. Não
deveria ter beijado a moça.

DIOGO SORRI. EDUARDA BATE NA PORTA E ENTRA.

EDUARDA — Posso entrar?

DIOGO — Claro.

EDUARDA SENTA NA FRENTE DE DIOGO.

EDUARDA — Pensou o almoço inteiro quieto, pensativo. Aconteceu alguma coisa?

DIOGO — Impressão sua.

EDUARDA — É?
FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 23

DIOGO — Bom...talvez eu tenha ficado quieto demais mesmo. Tenho que decidir
algumas coisas e...não sei o que fazer.

EDUARDA — Se você quiser conversar.

DIOGO — Eu agradeço, mas acho que não adiantaria muito. Mesmo assim,
obrigado.

EDUARDA — Tá certo. Mudando de assunto, seu tio acabou de ligar.

DIOGO — O que ele queria?

EDUARDA — Eu, você e o André na beira do Jurapori.

DIOGO — Agora?

EDUARDA — Não. Daqui a duas horas.

DIOGO — Tá mais do que na hora da gente trabalhar, né?

EDUARDA — Pois é. Eu tô me sentindo de férias. Bom, vou deixar você sozinho


com os seus pensamentos.

EDUARDA SAI.

CORTA PARA

CENA 32. FAZENDA DE HEITOR. SALA. INT. TARDE

BÁRBARA SENTADA LENDO UMA REVISTA. EDUARDA SAI DO ESCRITÓRIO E VAI


ATÉ ELA.

EDUARDA — Se divertindo muito?

BÁRBARA — Demais, minha amiga. Olha só o meu ar de satisfação. Super


movimentado aqui. Acabou de passar um mosquito.

EDUARDA — De falta de mosquito você não pode reclamar.

EDUARDA SE SENTA.

BÁRBARA — Se pelo menos eu não tivesse com esse gesso, poderia passear pelos
campos, andar a cavalo...

EDUARDA — Ser salva por um peão bem bonito.

BÁRBARA — Você pegou o objetivo do comentário. Adoro.

EDUARDA — Você ficou mesmo interessada no Pedro.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 24

BÁRBARA — Não sei. Não vou dizer que fiquei indiferente. Eu catava, lógico...mas
acho que é só isso.

EDUARDA — Esse “acho” que é o problema.

BÁRBARA — Já pensou? Eu, Bárbara, uma mulher do mundo, apaixonada por um


peão? A Caras nunca mais ia querer me fotografar.

EDUARDA — Aí é que você se engana. Tô até vendo a manchete: Socialite


apaixonada por peão de boiadeiro.

BÁRBARA — É verdade. Vai ser tendência.

AS DUAS RIEM.

EDUARDA — Pena que...ele tem esse gênio que todo mundo fala. É uma pessoa
difícil.

BÁRBARA — É estranho falarem essas coisas dele. O Pedro foi tão gentil comigo.

EDUARDA — Porque você é mulher.

BÁRBARA — Pode ser, mas tem alguma coisa no olho dele, uma ternura, não sei.

EDUARDA —(Sorrindo) Ternura no olho. Olha que isso tá me cheirando a paixão.

BÁRBARA — Isola, minha amiga. De paixão eu tô fora. Falando em Pedro, achei o


Diogo tão quietinho hoje.

EDUARDA — Eu também. Acabei de falar isso pra ele no escritório.

BÁRBARA — Ele tá lá?

EDUARDA — Tá.

BÁRBARA — Vou lá bater um papo com o meu irmão.

EDUARDA — Quer ajuda pra ir até lá.

BÁRBARA — Não. Eu consigo. Obrigada.

BÁRBARA LEVANTA E VAI ATÉ O ESCRITÓRIO. BATE NA PORTA E ENTRA.


EDUARDA OBSERVA.

EDUARDA — Eu ainda não sei se esse interesse da Bárbara pelo Pedro é bom ou não
pra mim.

CORTA PARA

CENA 33. FAZENDA DE HEITOR. ESCRITÓRIO. INT. TARDE


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 25

DIOGO E BÁRBARA CONVERSANDO.

BÁRBARA — Tá assim por que não sabe o que decidir?

DIOGO — Também. Se eu aceitar, você sabe o perrengue que vai ser, não sabe.

BÁRBARA — Sei. A Christiane vai fazer um escândalo. Mas Diogo, isso não vai ser
bom pra você, pra sua carreira?

DIOGO — Pra carreira vai, mas e o resto?

BÁRBARA — Diogo, você sabe que eu não gosto da Christiane. Nunca gostei. Não
acho que ela tenha o direito de te atrapalhar desse jeito. É uma coisa boa
pra você e que eu tenho certeza que você tá querendo.

DIOGO — Eu não digo nem pelo trabalho, mas eu tô louco pra voltar pro Brasil.
Sinto muita falta. Por mais que a vida no Canadá seja boa, não é a minha
terra, não é a minha casa.

BÁRBARA — Meu irmão, você foi embora do Brasil por causa da Christiane. Tá
vivendo no Canadá por causa dela. Você já se sacrificou demais. Será
que não tá na hora de ela retribuir isso? Não tá na hora da Christiane se
sacrificar por você?

DIOGO — A Christiane? Nós estamos falando da mesma pessoa?

BÁRBARA SORRI TRISTE.

BÁRBARA — Você tá com ela por causa da Vivi, não é?

DIOGO — Não sei. Sinceramente, eu não sei. Não sei se ainda gosto dela, não sei
se sou feliz, não sei de nada. Tô completamente perdido.

BÁRBARA — Eu acho que só o fato de você ter esse monte de dúvidas já responde
muita coisa.

BÁRBARA SEGURA A MÃO DO IRMÃO.

BÁRBARA — Acho que tá na hora de você dar uma virada na sua vida, e a
Christiane vai ter de aceitar isso, qualquer que seja a sua decisão.

DIOGO — Sabe qual é o meu medo? O de que ela cometa uma loucura.

BÁRBARA — Loucura?

DIOGO — A Christiane já tentou se matar.


FOGO SOBRE TERRA Capítulo 32 Pag.: 26

BÁRBARA OLHA SURPRESA PARA DIOGO. A IMAGEM SE CONGELA, UMA PAREDE


DE LABAREDAS TOMA CONTA DA TELA E SE TRANSFORMA EM UM GRANDE MURO
DE TERRA SÊCA.

FIM DO CAPÍTULO

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