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Caius Brandão

Considerar o papel da ciência no desenvolvimento do que Husserl entendeu por


‘crise’ da humanidade européia.

A ciência é a força motriz desta ‘crise’. Ela surge como ramo da filosofia que, de
certa forma, define o próprio espírito europeu. A partir de uma elaboração sofisticada da
linguagem, a filosofia pré-socrática promoveu o encontro entre logos e physis, abrindo
espaço para a reflexão conceitual e o pensamento teórico, reveladores da racionalidade
nutrida e expandida pelos filósofos pré-socráticos e seus aprendizes. Juntos eles
alcançam a capacidade de criar um novo modo de ser no mundo antigo. Um modo em
que a vontade de conhecer o sentido de tudo o que existe não se satisfaz com dogmas e
opiniões, mas lança mão da razão para exigir a argumentação lógica. Destarte, o espírito
europeu trouxe à luz um novo ‘mundo’ e com ele uma nova forma de ser na ‘vida’. Não
a vida fisiológica, mas a vida espiritual que tem fins infinitos e compreende os fins dos
indivíduos e nações que formam essa nova unidade espiritual. A essência (télos) deste
espírito é uma idéia infinita que tende “o vir-a-ser espiritual global”. O télos é a unidade
necessária entre mundo, espírito e vida, e é realizado pela Elerguéia. Veremos adiante
como o télos é importante para a ‘saúde’ do espírito.
No seu berço, a filosofia ocidental adota uma forma subjetiva de compreender o
mundo. Para Husserl, a filosofia que nasceu com os pré-socráticos toma o mundo
circundante como uma multiplicidade de mundos entrelaçados por relações espirituais.
O espírito europeu é compreendido com as lentes da infinitude, geradora de um télos,
logo, de um propósito também infinito que se realiza na cultura (linguagem, arte,
guerra, etc.). A filosofia pré-socrática foi uma revolução cultural porque ali se
inaugurava a cultura de “um puro interesse pelo conhecimento... interesse puramente
teórico.” Lá não existiam cientistas, mas sim filósofos da natureza. Mas que condições
possibilitaram o surgimento destes sábios? Mesmo que admitamos as possíveis
influências de pensadores e religiosos asiáticos e egípcios sobre a filosofia grega e
assim desvendamos o ‘milagre’ do gênio clássico, teremos ainda que admitir a
importante contribuição – da filosofia grega antiga e da forma de ser no mundo deste
povo que a criou – para o que Husserl chama de espírito europeu.
Mas a partir da renascença, que significou também o renascimento da ciência
após séculos em obscuridade na Idade das Trevas, a verdade passa a ser elaborada não
mais a partir de uma concepção subjetiva de mundo, própria do gênio clássico, mas por
um rigoroso racionalismo que busca a certeza matemática para as verdades de uma
natureza objetificada, medida e controlada. Isso cria as condições necessárias para o que
Husserl chama de “verdadeira revolução na dominação técnica da natureza.” Neste
ponto, Husserl adverte que apenas a ciência da natureza pode se abstrair completamente
do elemento espiritual. A natureza, assim compreendida, é um “um mundo fechado por
si.” Já ao escolher a consciência como objeto de estudo, a ciência do espírito pode no
máximo se pretender exata, enquanto não fundamentar uma “ciência eidéica
(Wesenslehre) do espírito puramente como espírito, que investigue os elementos e as
leis absolutamente universais que regem a espiritualidade, com o fim de obter
explicações científicas conclusivas.”
Com o espírito europeu se distanciando do seu próprio télos e a ciências
seguindo um caminho orientado exclusivamente pela práxis e não mais pela filosofia,
como ciência global que fundamenta todas as ciências particulares, assistimos na
modernidade o ‘objetivismo’ do método científico promovendo o modo de pensar
‘científico-natural’ e o conseqüente agravamento da crise do espírito europeu. Nesta
crítica ao objetivismo das ciências, Husserl tem como alvo principal o que ele chama de
naturalização do espírito. Para ele é absurda a tentativa de transformar o espírito (que é
infinito) num objeto fundado na corporeidade como parte de uma natureza em si
mesma. A consequência desta forma de pensar é o dualismo psico-físico que propõe a
explicação do espírito no plano meramente físico. Husserl é categórico ao criticar as
ciências do espírito que buscam objetividade ao submeter o elemento espiritual (a
consciência) à forma espácio-temporal.
Como vimos anteriormente, é o espírito que cria mundo e o espírito europeu está
em crise, mas então que tipo de mundo pode criar esse espírito enfermo? Quando a
‘Europa’ aprofunda o distanciamento de seu próprio “sentido racional da vida” (télos),
ela sucumbe na “hostilidade ao espírito e na barbárie.” Husserl foi ele próprio vítima
desta barbárie, quando sob as rédeas de regimes autoritários, o espírito europeu investiu
contra a cidadania de judeus e promoveu o holocausto. Ao criticar o objetivismo do
saber científico-natural, Husserl se atenta ao perigo da ‘especialização’, do “saber
parcial” sobrepujando o “saber universal”. De fato, a modernidade deu início à
formação de especialistas (experts) em saberes compartimentalizados. Com o advento
da Segunda Guerra Mundial, o detentor do saber científico, o cientista-perito, ergue-se
com um poder avassalador sobre a humanidade como um todo. Neste sentido, Julius
Robert Oppenheimer, diretor do projeto Manhattan que desenvolveu a primeira bomba
atômica, nos parece aqui ser um caso exemplar.
Aquilo que levou os europeus a este estado de crise aguda, para Husserl, foi o
seu total escárnio ao télos do genuíno espírito europeu. Na prática, isto se dá com a mais
completa objetificação do mundo por certo tipo de ciência que carece de fundamentação
universal, ou seja, filosófica. Desta forma, demonstramos as razões para a conclusão, já
sinalizada no início deste trabalho, de que as ciências modernas desempenham um papel
de força motriz no desenvolvimento da crise do espírito europeu.

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