Pede-se e dá-se: O vento em breve Dá? Flor! Que custa um beijo? A vida foge, Não tenha pejo: A vida é hoje, Vá! Amor!
Um beijo é culpa, Guardo segredo,
Que se desculpa: Não tenhas medo Dá? Pois! A borboleta Um mais na face, Beija a violeta: E a mais não passe! Vá! Dois...
Um beijo é graça, Oh! Dois? Piedade!
Que a mais não passa: Coisas tão boas... Dá? Vês? Teme que a tente? Quantas pessoas tem a Trindade? É inocente... Três! Vá!
Guardo segredo, Três é a conta
Não tenha medo... Certinha e justa... Vê? Vês ? Dê-me um beijinho, E que te custa? Dê de mansinho, Não sejas tonta! Dê! Três!
Como ele é doce! Três, sim: não cuides
Como ele trouxe, Que te desgraça: Flor, Vês? Paz a meu seio! Três são as Graças Saciar-me veio, Três as virtudes; Amor! Três.
Saciar-me? Louco... As folhas santas
Um é tão pouco, Que o lírio fecham, Flor! Vês? Deixa, concede E não o deixam Que eu mate a sede, Amor! Manchar, são... quantas? Três!
João de Deus As mãos Urgentemente
Com mãos se faz a paz se faz a guerra É urgente o amor.
Com mãos tudo se faz e se desfaz É urgente um barco no mar. Com mãos se faz o poema e são de terra Com mãos se faz a guerra e são a paz É urgente destruir certas palavras, Ódio, solidão e crueldade, Com mãos se rasga o mar com mãos se lavra Alguns lamentos, Não são de pedra estas casas mas de mãos Muitas espadas. E estão no fruto e na palavras As mãos que são o canto e são as armas. É urgente inventar alegria, Multiplicar os beijos, as searas, E cravam-se no tempo como farpas É urgente descobrir rosas e rios As mãos que vês nas coisas transformadas E manhãs claras. Folhas que vão no vento, verdes harpas. Cai o silêncio nos ombros e a luz De mãos é cada flor, cada cidade Impura, até doer. Ninguém pode vencer estas espadas É urgente o amor, é urgente Nas tuas mãos começa a liberdade. Permanecer.
Manuel Alegre Eugénio de Andrade
Aprofundamento da Leitura – “Urgentemente”
1. Identifica a expressão- chave do poema.
2. Faz o levantamento dos verbos que, no poema, se opõem ao verbo destruir. 3. Atenta no apelo feito pelo sujeito poético. 3.1.De que apelo se trata? 3.2.De que processo se serve o sujeito poético para realçar esse apelo? 4. Atenta agora na relação vida / morte. 4.1.Faz o levantamento dos vocábulos que pertencem ao campo lexical de vida e de morte. 5. Explica a escolha dos verbos inventar ( o quê? ) e permanecer ( para quê?). 6. Explica a simbologia das seguintes palavras, no contexto do poema. - espadas - searas - rios - manhãs claras - beijos / rosas 7. “Urgentemente” é um poema dos anos 50. A realidade social e política, no nosso país, era diferente da que temos hoje. Comenta a actualidade / intemporalidade do poema.