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SOBRE O NADA

Setembro 2007

NOSSO COLUNISTA RELEMBRA PARTE DA HISTÓRIA DO


CONHECIMENTO HUMANO PARA TRATAR DE UMA DAS QUESTÕES
MAIS COMPLEXAS DA CIÊNCIA MODERNA: O QUE HÁ NO VAZIO DO
ESPAÇO?

Marcelo Gleiser,
de 48 anos, é professor do Dartmouth College, nos Estados Unidos,
e autor de cinco livros sobre ciência e conhecimento

Imagino que, ao ler o título desta coluna, o leitor deve estar


pensando que perdi de vez a cabeça. “Sobre o nada? Ele vai
escrever o quê sobre isso? O nada é o nada e pronto!” Não se
esqueçam da música de Gilberto Gil: “É sempre bom lembrar que
um copo vazio está cheio de ar”. O vazio, ou melhor, o nada, não é
nada trivial. Aliás, entender o nada é uma das questões mais
complexas da ciência moderna. E, também, uma das mais antigas.

Aristóteles, o grande filósofo grego que viveu no século 4 a.C., dizia


que “a natureza odeia o vazio”. Ele acreditava que o espaço vazio
não existia. O cosmo seria preenchido por uma substância
misteriosa chamada de quintessência ou éter, a mesma que, em
densidades maiores, compunha o Sol, a Lua e os demais objetos
celestes. O nome quintessência vem do fato de essa substância ser
o quinto tipo de matéria, existente apenas no espaço. Na Terra, tudo
era composto de quatro elementos: terra, água, ar e fogo.
Aristóteles respondia aos atomistas, filósofos que propuseram um
mundo completamente diferente: para eles tudo era feito de
átomos,, partículas indivisíveis que podiam se combinar para formar
tudo o que existe. Os atomistas diziam que os átomos eram
“plenos” e que se movimentavam no vazio, a ausência de
substância. O vazio era o que chamaríamos de nada.

A história da física poderia ser compreendida como uma história do


nada. Por incrível que pareça, a controvérsia inicial no tempo dos
gregos permanece até hoje. Isaac Newton, por exemplo, era um
atomista. Já o francês, René Descartes, que morreu em 1650,
quando Newton tinha oito anos, não acreditava no vazio. Usando
suas belas leis da mecânica e da gravitação, Newton provou que,
ao menos no Sistema Solar, o espaço era mesmo vazio. Parecia
que os atomistas estavam certos.

Tudo embolou no século 19, quando o escocês James Clerk


Maxwell provou matematicamente que a luz era uma onda
eletromagnética propagando-se a 300 mil quilômetros por segundo.
De onde vinha essa luz? De oscilações de cargas elétricas no
coração da matéria – em 1870, apesar da suspeita de muitos, ainda
não se sabia que a matéria era mesmo feita de átomos. Quando
você atira uma pedra numa lagoa, vê as ondas propagando-se em
círculos concêntricos. Essas ondas são oscilações na água,
resultado da transferência de energia da pedra para a água. Até
então, achava-se que todas as ondas se propagam em um meio
material. As ondas de som, por exemplo, propagam-se no ar – por
isso explosões no espaço não fazem barulho, algo que Hollywood
recusa-se a aceitar. Qual era o meio em que as ondas de luz se
propagam?

Ninguém sabia. Porém, como a luz das estrelas atravessa


distâncias enormes, o espaço não pode ser vazio. Daí que os
cientistas postularam a existência de um meio material
preenchendo todo o espaço que chamaram de ... éter! (Aristóteles
deve ter sorrido no paraíso dos filósofos.) Foram 40 anos de agonia
tentando encontrar esse éter, sem sucesso. Só em 1905, para alívio
de alguns e desespero de muitos, Einstein provou, com sua teoria
da relatividade especial, que o éter não existe: a luz se propaga no
espaço vazio. (Agora foi a vez de Newton sorrir no paraíso dos
físicos).

Fim da história? De jeito algum! Em 1998, astrônomos descobriram


que galáxias muito distantes estão se afastando com velocidade
acelerada, como se uma misteriosa força antigravitacional agisse
sobre elas, a energia escura. O que pode estar causando isso?
Ninguém sabe. Mas, seja o que for, é algo que preenche todo o
espaço. Um dos candidatos recebeu até o nome de quintessência.
Parece que o espaço vazio está mesmo cheio de éter.

Fonte:
Revista Galileu – edição 194 – setembro 2007 – página 35

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