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O documento discute a existência de discriminação racial no Brasil. Afirma que a ideia de igualdade racial devido à miscigenação e a noção de democracia racial são mitos, e que a discriminação racial ainda é presente no país, apesar de ser frequentemente negada. Aponta que os negros ainda são considerados minoria no Brasil, apesar de serem quase metade da população, e que enfrentam desigualdades no acesso à educação, trabalho e respeito à dignidade.
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Titolo originale
A DISCRIMINACAO RACIAL NO BRASIL - VERDADES E MITOS.pdf
O documento discute a existência de discriminação racial no Brasil. Afirma que a ideia de igualdade racial devido à miscigenação e a noção de democracia racial são mitos, e que a discriminação racial ainda é presente no país, apesar de ser frequentemente negada. Aponta que os negros ainda são considerados minoria no Brasil, apesar de serem quase metade da população, e que enfrentam desigualdades no acesso à educação, trabalho e respeito à dignidade.
O documento discute a existência de discriminação racial no Brasil. Afirma que a ideia de igualdade racial devido à miscigenação e a noção de democracia racial são mitos, e que a discriminação racial ainda é presente no país, apesar de ser frequentemente negada. Aponta que os negros ainda são considerados minoria no Brasil, apesar de serem quase metade da população, e que enfrentam desigualdades no acesso à educação, trabalho e respeito à dignidade.
R. Deputado Bernardino Sena Figueiredo, n 797 apto. 301 Cidade Nova Belo Horizonte MG CEP 31170-210 Tel.: (31) 3484-5960 93965960 E-mail: barbaralobo@hotmail.com
1. INTRODUO
Muito se discute a respeito da existncia de discriminao racial no Brasil. Os que admitem a sua existncia, afirmam que nos deparamos com vrias atitudes racistas, diariamente. J os que no admitem a existncia de discriminao racial no Brasil, fundamentam seu pensamento na idia de que aqui um pas de mestios e que a verdadeira discriminao refere-se classe social, e no cor da pele. Partindo da idia de que aqui h discriminao racial, demonstraremos que a idia de igualdade em razo da miscigenao, bem como a democracia racial so mitos, para, assim, demonstrar a necessidade e urgncia das aes afirmativas como forma de combate discriminao racial no Brasil.
2. DISCRIMINAO RACIAL
Segundo a Conveno Internacional para a Eliminao de todas as Normas de Discriminao Racial da ONU, ratificada pelo Brasil em 27 de maro de 1968, a discriminao racial, conforme seu artigo 1: significa qualquer distino, excluso, restrio ou preferncia baseada na raa, cor, ascendncia, origem tnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e/ou exerccio, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos poltico, econmico, social, cultural ou qualquer outra rea da vida pblica".
1 PUC-MG
J o termo preconceito, refere-se discriminao que no exteriorizada. A discriminao racial, tambm pode ser tratada como segregacionismo, aqui entendida conforme o Aurlio, ou seja, poltica ou atitude poltica de segregao racial. Neste trabalho esses termos sero tratados como sinnimos, ou seja, o conceito de preconceito com o qual trabalharemos o objetivo, o exteriorizado. Entendemos por discriminao qualquer atitude atentatria ao direito fundamental de igualdade; ao igual direito de oportunidades e chances; ao pluralismo caracterstico do Estado Democrtico de Direito; e democracia, entendida aqui, como acima explicitado, como a possibilidade de todos os indivduos participarem de forma ativa e eficaz na construo da sociedade.
2.1 A populao afro-descendente no Brasil
Para melhor compreenso do nosso estudo, necessrio que analisemos a populao negra no Brasil: no censo elaborado pelo IBGE, no ano 2000, foram contados 169.799.170 brasileiros, destes 6,1% so pretos, e 38,9% so pardos, ou seja, 45% da populao brasileira, 76.419.233 pessoas se enquadram nos classificados afro-brasileiros. Neste trabalho, usaremos este termo e o termo negros para designar essa populao. Ao analisarmos esses nmeros, nos vem a pergunta se existe tal quantidade de negros no Brasil, por qu ainda so considerados minorias? A resposta a essa pergunta ser respondida neste trabalho quando tratarmos da discriminao racial em nosso Pas. Mas, como breve esclarecimento, nos utilizaremos de um dos significados da palavra minoria contido no Dicionrio Aurlio, que por si s, dispensa quaisquer outros comentrios: 4. Antrop. Sociol. Subgrupo que, dentro de uma sociedade, considera-se e/ou considerado diferente do grupo maior e dominante, em razo de caractersticas tnicas, religiosas, ou de lngua, costumes, nacionalidade, etc., e que em razo dessas diferenas no participa integralmente, em igualdade de condies, da vida social.
A populao negra do nosso Pas se v tolhida em vrios direitos fundamentais, como a educao, o trabalho e o respeito sua dignidade. Mais abaixo, com dados numricos, comprovaremos porque os negros ainda so considerados minoria no Brasil.
2.2 Discriminao racial no Brasil
No Brasil, costuma-se acreditar em um convvio racial harmonioso, acredita-se, inclusive, que em nosso Pas no existe distino de raas devido mestiagem. Mas no bem assim, no dia a dia podemos notar, sem consulta a qualquer pesquisa ou dado estatstico, que a maioria dos pobres so negros, o que mais abaixo provaremos que no se trata de mera coincidncia. Percebe-se que, em nosso Pas, o mais difcil admitir-se preconceituoso, mas atitudes inconscientes nos revelam um racismo latente, manifestado em pequenos gestos como se perguntar como uma menina to branquinha namora esse nego, ou usar termos tais como crioulo, macaco quando se fala dos negros, e vrios outros exemplos presenciados na nossa sociedade. Com muita propriedade Lilia Moritiz Schuwarcz, trata do tema ao afirmar que: (...) ningum nega que exista racismo no Brasil, mas sua prtica sempre atribuda a outro. Seja da parte que age de maneira preconceituosa, seja daquela de quem sofre com o preconceito, o difcil admitir a discriminao e no o ato de discriminar. Alm disso, o problema parece ser o de afirmar oficialmente o preconceito e no o de reconhec-lo na intimidade. Tudo isso indica que estamos diante de um tipo particular de racismo, um racismo silencioso e sem cara que se esconde por trs de uma suposta garantia da universalidade e da igualdade das leis e que lana para o terreno privado o jogo da discriminao. Com efeito, em uma sociedade marcada historicamente pela desigualdade, pelo paternalismo das relaes e pelo clientelismo, o racismo s se afirma na intimidade. E da ordem do privado, pois no se regula pela lei, no se afirma publicamente. No entanto, depende da esfera pblica para sua explicitao, numa complicada demonstrao de etiqueta que mistura raa com educao e com posio social e econmica. Preto rico no Brasil branco, assim como branco pobre preto, diz o dito popular. No se preconceitua um vereador negro, a menos que no se saiba que um vereador; s se discrimina um estrangeiro igualmente negro enquanto sua condio estiver pouco especificada. (SCHUWARCZ, 1998, p.181).
O preconceito racial no Brasil faz parte da sua histria, do seu passado escravista a uma abolio que pouco modificou a situao dos negros da poca, que se reflete at hoje na permanncia dos negros nas funes subalternas. A abolio no significou real libertao dos negros, tendo em vista que, para sobreviverem, ainda tinham que estar submissos. No Brasil, foi amplamente difundida a idia da democracia racial, ou seja, a mestiagem, o pensamento de que no Brasil no existem raas, de que somos um povo miscigenado; essa idia se mostra como um mito a partir da observao de que no Brasil existe um preconceito racial, este preconceito visto como a crena em que h diferena entre as raas, inclusive, a supremacia da raa branca sobre a negra, a difuso desse pensamento s contribui para a perpetuao do racismo velado, presente em nossa sociedade.
Vrios autores criticam com muita razo esse mito da democracia racial, to disseminado, propagando uma igualdade que se mostra falsa e irreal. Esse mito poderoso mecanismo de dominao ideolgica falaciosa de que a populao brasileira, por ser miscigenada est aberta a contatos inter-raciais. A escravido que existiu no Brasil no foi vista s no passado; est ainda presente nos nossos preconceitos. Velamos o racismo que praticamos e o atribumos sempre ao outro. No Brasil no h grandes conflitos raciais, acredita-se aqui na boa convivncia entre as raas, o que disfara a prtica da discriminao. A respeito do mito da democracia racial o autor Joaze Bernardino tambm emite uma opinio com a qual concordamos: Diante desta realidade social estruturada pelo mito da democracia racial e pelo ideal de branqueamento, manteve-se intacto o padro de relaes raciais brasileiro, no sendo posto em prtica nenhum tipo de poltica que pudesse corrigir as desigualdades raciais. Isto aconteceu desta forma simplesmente porque a interpretao hegemnica acerca das relaes raciais brasileira, at mesmo entre setores progressistas, no identificava nenhum problema de justia racial. Estava vedada, portanto, a possibilidade de interveno organizada na realidade, restando populao de cor a via da infiltrao pessoal, que obviamente no possui alcance coletivo.(BERNARDINO, [200-], Disponvel em: <http://www.scielo.br/pdf/eaa/v24n2/a02v24n2.pdf>)
O mito da democracia racial visto pelos vrios autores como obstculo a uma discusso sobre a necessidade de se adotar medidas que eliminem a discriminao racial, conforme Eduardo Oliveira: Como herana ideolgica, o mito da democracia racial nos persegue at hoje. Ele continua sendo base da crena nacional na inexistncia de mecanismos de discriminao e se coloca como um eterno obstculo ao debate sobre as relaes raciais e culturais no Pas. No iderio da democracia racial criou-se na figura do mestio um tipo ideal, capaz de diluir as caractersticas especficas (culturais e biolgicas) dos diferentes conjuntos identitrios. Entretanto, no podemos deixar de lembrar que este tipo ideal foi pensado, acima de tudo, como resposta ao potencial conflito da oposio branco-negro, numa sociedade fundada sob o signo da desigualdade entre as duas raas atravs do escravismo. Se o iderio da miscigenao tira do branco seu teor de "pureza", ele retira do elemento negro o direito existncia - deve-se considerar a influncia da tese do embranquecimento entre ns.(OLIVEIRA, 1997)
O autor Sales Augusto dos Santos sintetiza de forma sbia e peculiar a discriminao racial no Brasil: Discriminamos os negros mas resistimos a reconhecer a discriminao racial que praticamos contra esse grupo racial.()o racismo est no outro bairro, na outra empresa, na outra universidade, na outra cidade, no outro estado, em outro pas, entre outros, menos em ns mesmos. Ns, por mais que os dados estatsticos oficiais e no oficiais nos indiquem abismais desigualdades entre negros e brancos, achamos que no temos nada a ver com isso, pois a maioria absoluta dos brasileiros s v o racismo dos outros e nos outros, nunca neles mesmos. (SANTOS, 2003, p.86)
Abaixo veremos o tratamento dado ao racismo pelas legislaes brasileiras, bem como o racismo em nmeros.
2.3 Formas de discriminao racial
O racismo se apresenta nas mais diversas formas: na educao, cultura, trabalho, etc. Por isso a discriminao deve ser analisada sob vrios aspectos: socioeconmicos, antropolgicos, culturais e psicolgicos; para que se formulem polticas para sua eliminao.
2.3.1 Discriminao na educao
A discriminao na educao se apresenta sob vrios aspectos: a inacessibilidade dos negros educao de qualidade; o racismo praticado pelos colegas e professores; a forma de se tratar a histria do Brasil omitindo a participao do negro nas modificaes do Pas, entre outras. Sobre a discriminao nas escolas escreve Guimares: No h como negar que o modelo eurocntrico calcado em valores e interesses hegemnicos tem marginalizado e relegado outros saberes e, especificamente, o saber africano e afro-brasileiro para alm do status de cientificidade e que isso refora a distncia do aluno afro-descendente das suas razes, acentuando sua evaso e repetncia e, por que no dizer, sua excludncia da escola.(GUIMARES, 2003, Disponvel em: <http:// www.anped.org.br/24/T03410943430938.doc>)
A discriminao racial na educao apresentada em nmeros pelo IBGE, permitindo a observao da proporo da desigualdade na educao no nosso Pas, o que no deixa dvida acerca das diversidades raciais existentes:
Tabela 1 - Proporo de pessoas de 25 anos ou mais de idade de 15 a 17 anos de estudos por cor ou raa e Unidades da Federao 2001 Unidades da Federao Populao Total Populao Branca Populao Afro- descendente Brasil 7,7 10,2 2,5 Minas Gerais 5,9 8,9 2,3 Fonte: IBGE/PNAD Microdados. Elaborao IPEA/Disco.
Notas: Populao afro-descendente composta de pretos e pardos. Dados da PNAD excluem a populao rural dos estados de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap
Quanto ao analfabetismo, segundo dados do IBGE, o analfabetismo no Brasil em torno de 19%, enquanto na populao negra a taxa sobe para 40%.
2.3.2 Discriminao no Trabalho
No trabalho, o racismo tambm assume diversas formas: a inacessibilidade a empregos; a inacessibilidade a cargos de chefia, conseqentemente a manuteno dos negros em funes subalternas; as diferenas salariais, o que, segundo Santos (2001), seriam as discriminaes ocupacional e salarial. No trabalho ainda h uma forma encontrada pelos empregadores de velar a discriminao racial apresentada com o uso do termo boa aparncia como forma de seleo de empregados, o que, para o referido autor, seria uma discriminao em razo da imagem. Observa-se que na grande maioria dos casos o termo boa aparncia se refere, pelas escolhas finais, a pessoas da cor branca ou seja, segundo essas pessoas, os negros no teriam a boa aparncia desejada. Verificando os nmeros, analisamos a desproporo entre a populao branca de empregados domsticos e a negra, bem como, entre a populao branca que empregadora comparada com a negra, no nos possvel inferir que existe igualdade racial no Brasil.
Tabela 2 - Distribuio percentual da populao ocupada de 25 anos ou mais de idade por posio na ocupao segundo a cor ou raa Brasil - 2001 Posio na Ocupao Populao Total Populao Branca Populao Afro-descendente Total 100 100 100 Funcionrio Pblico 8,0 8,8 6,8 Com carteira 29,6 32,3 26,3 Sem carteira 14,4 12,3 17,3 Conta prpria 26,7 25,6 28,0 Empregador 5,3 7,1 2,8 Empregado domstico 7,6 6,3 9,4 Outros 8,4 7,6 9,3 Fonte: IBGE/PNAD Elaborao IPEA/DISOC
Nota: Populao afro-descendente composta de pretos e pardos. Exclusive a populao rural dos Estados de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap.
Analisando-se a ocupao dos trabalhadores brasileiros comparativa por raas, a discriminao tambm se apresenta, como acima descrevemos. A questo da boa aparncia, pode ser comprovada ao observarmos os trabalhadores do comrcio, aqui entendidos como vendedores, atendentes, etc., h grande desproporo entre as populaes.
Tabela 3 - Distribuio percentual da populao ocupada de 25 anos ou mais de idade por cor ou raa segundo o setor de atividade - 2001 Setores de Atividade Populao Total Populao Branca Populao Afro- descendente Total 100 100 100 Industria de transformao 11,7 13,2 9,8 Construo civil 6,8 5,5 8,5 Comrcio 13,2 14,4 11,6 Administrao pblica 5,4 5,8 5,0 Agropecuria 19,8 15,9 25,0 Servios 20,3 19,1 21,8 Outros 22,7 26,1 18,4 Fonte: IBGE/PNAD Elaborao IPEA/DISOC Nota: Populao afro-descendente composta de pretos e pardos. Exclusive a populao rural . Sobre a expresso boa aparncia e o seu real significado nos fala Santos: Durante muito tempo e, em parte, ainda hoje, em pleno incio do 3 o milnio, falou- se em boa aparncia. Essa foi a forma de vetar o acesso de negras e negros para as mais diferentes funes. Se pensarmos no que deve ser boa aparncia: porte fsico e sade, boa parte da populao brasileira, independentemente da etnia a que pertence, estaria fora do mercado de trabalho. O conceito de beleza existente no Brasil o pas com maior mescla racial do mundo olimpicamente branco e de preferncia loiro mesmo. como se aqui fosse uma espcie de escandinvia tropical. No se fala e nem se escreve a respeito de boa aparncia tanto quanto se pensa. Contudo, esse conceito continua no imaginrio das pessoas. Hoje, talvez um pouco menos do que em um passado recente. Este passado no do sculo 19; da dcada passada. Nos anos 80, os profissionais de Recursos Humanos foram denunciados por estarem usando em suas fichas de seleo de pessoal o famoso e malfadado cdigo 4. Fazia parte da trama o prprio SINE (Sistema Nacional de Emprego). O cdigo citado identificava a cor do candidato para que assim a empresa interessada, de posse da ficha, pudesse, antecipadamente, dispor de um
argumento para dizer: a vaga j foi ocupada; aguarde ser chamado; no foi possvel desta vez etc. O cdigo 4 se encaixa como uma luva ao exemplo do avio bombardeiro B-2, que no visto pelos radares, e que por essa invisibilidade causa um estrago considervel. O povo negro foi lesado barbaramente por essa prtica racista durante muito tempo. Os discriminados desconfiavam e sofriam os efeitos da prtica sem decodificar por completo como se dava a operao. As perdas continuam para os negros e os cdigos adquiriram novas configuraes.(SANTOS, 2001)
Ao compararmos a diferena de renda, no teremos mais dvida quanto existncia do racismo no mercado de trabalho, e ainda que ocorre no Brasil como um todo e se repete nas regies do Pas (em algumas a renda da populao branca chega a ser o dobro da populao negra):
Tabela 4 - Mdia da renda da ocupao principal por cor ou raa Brasil e Grandes Regies 1992-2001 Populao Total Populao Branca Populao Afro- descendente Brasil e Grandes Regies 1992 2001 1992 2001 1992 2001 Brasil 416,0 534,7 535,7 691,9 260,8 332,2 Norte 382,7 494,1 537,3 705,4 318,3 410,1 Nordeste 237,0 301,5 357,5 456,3 190,3 237,2 Sudeste 530,9 676,9 633,3 812,7 331,1 406,4 Sul 412,4 532,3 439,4 563,1 253,5 340,7 Centro-Oeste 421,3 605,5 556,8 823,3 300,0 428,9 Fonte: IBGE/PNAD Microdados Notas: Exclusive a populao rural dos Estados de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap. Em regies com populao reduzida pode ocorrer problemas amostrais.
A discriminao racial no trabalho mais sentida pelas mulheres que tambm arcam com a discriminao de gnero, esta ainda presente na sociedade brasileira, apesar de todos os avanos legislativos e da consolidao da mulher no mercado de trabalho, bem como a inverso de papis presentes na atualidade, em que a mulher se apresenta, muitas vezes, como a principal responsvel pelos custos da famlia e fonte de renda primordial na nossa sociedade. Os nmeros nos permitem observar que o racismo se mostra mais cruel aliado ao sexismo.
Tabela 5 - Mdia da renda da ocupao principal por sexo e cor ou raa Brasil e Grandes Regies 1992-2001 Populao Branca Populao Afro-descendente Homens Mulheres Homens Mulheres Brasil e Grandes Regies 1992 2001 1992 2001 1992 2001 1992 2001 Brasil 624,5
790,9
398,6
567,4
294,5
360,5
194,0
284,2 Norte 604,6
795,7
424,2
575,1
348,2
454,0
255,7
328,4 Nordeste 398,9
514,3
274,4
383,7
214,9
255,9
135,3
205,0 Sudeste 726,5
922,1
490,3
678,6
380,2
439,6
249,9
352,5 Sul 541,1
656,7
299,9
439,9
290,2
377,3
196,2
278,9 Centro-Oeste 638,6
937,4
423,0
666,3
325,9
469,1
249,5
362,8 Fonte: IBGE/PNAD Microdados Notas: Exclusive a populao rural dos Estados de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap. Na regio norte pode ocorrer problemas amostrais, devido a populao reduzida.
2.3.3 Outras formas de discriminao
Como dito acima, a discriminao ao se apresentar sob vrias formas nos fornece dados comprovadores das diferenas raciais. Poderamos rechear nosso trabalho de exemplos que comprovem esses fatos, mas para que no fique enfadonho no usaremos todos os dados que temos disposio, porm, importante demonstrar como os nmeros nos indicam que a discriminao racial existe, e que a democracia racial um mito, para ento percebermos a necessidade das aes afirmativas. A tabela abaixo nos mostra que: (...) a racializao tem sido um dado constituivo das relaes sociais no Brasil, isto , ela no uma inveno de nenhum movimento social ou de intelectuais. Sua apario no espao pblico deve ser medida no apenas pelas manifestaes pacficas e construtivas de grupos negros, mas sim pela branquitude perene da elite dominante.(SILVA, 2003, p.51)
Tabela 7-Evoluo da proporo de pobres por cor ou raa Brasil 1992-2001 Populao Total Populao Branca Populao Afro- descendente Brasil e Grandes Regies 1992 2001 1992 2001 1992 2001 Brasil 40,7 33,6 28,9 22,4 55,3 46,8 Norte 52,8 44,3 39,7 33,6 58,3 48,4 Nordeste 65,7 57,4 54,7 46,9 70,0 61,9 Sudeste 27,4 21,5 21,3 15,6 39,1 32,1 Sul 32,3 23,3 28,8 20,4 51,3 38,9 Centro-Oeste 33,7 24,7 26,8 17,4 39,8 30,2 Fonte: IBGE/PNAD Elaborao IPEA/DISOC Nota: Populao afro-descendente composta de pretos e pardos. Exclusive a populao rural dos Estados de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap. Em unidades da federao com populao reduzida pode haver problemas amostrais. Os dados apresentados acima so dignos do comentrio do Professor Cruz: Se no convivemos com legislaes racistas como os EUA e a frica do Sul (apartheid) ou mesmo o horror vivido na Alemanha nazista, est mais do que claro que as oportunidades e o padro de vida dos negros muito inferior ao da mdia da sociedade brasileira.(CRUZ, 2003, p. 141)
2.4 O tratamento dado ao racismo pelas legislaes brasileiras
O racismo tratado na Constituio da Repblica, em leis federais, estaduais e municipais; busca-se nessas legislaes a sua punio bem como a preveno de que tais prticas aconteam. O que se nota, porm, a pouca aplicabilidade dessas leis e dos princpios constitucionais. Na Constituio, h vrios dispositivos alguns j citados - impeditivos da prtica do racismo, mas merecem ateno especial os seguintes: Art. 5, XLI a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades fundamentais; XLII- a prtica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito pena de recluso, nos termos da lei.
Art. 7- So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria da sua condio social: XXX- proibio de diferena de salrios, de exerccio de funo e de critrios de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
Art. 227 dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e conivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso.
A Constituio se mostra amplamente desrespeitada quando analisamos os dados acima, o que nos permite concluir que sua aplicabilidade est sendo reduzida pelas prticas sociais, o que inadmissvel para a concretizao do Estado Democrtico de Direito e seu ideal de cidadania. Sobre o que nos fala a professora Carmem Lcia: A Constituio lei e Lei feita para se aplicar, para se respeitar, para se cumprir, imponha ela uma absteno ou um comportamento comissivo do Estado ou mesmo de outra pessoa. Constituio no sugere, determina e o que ela ordena para se cumprir mais ainda no que se refere s condutas das quais dependam a viabilidade do exerccio de direitos fundamentais por ela declarados e assegurados.(ROCHA, 1999, p.42)
No permitido ao Estado e sociedade retirar a eficcia ou reduzir a aplicabilidade dos direitos fundamentais, pois assim estaramos infringindo ponto basilar do Estado Democrtico de Direito, qual seja, a supremacia da Constituio. Entendemos que a Constituio deve ser aplicada na sua totalidade e de forma integral e sistmica com o ordenamento jurdico. O racismo repudiado pela Repblica Federativa do Brasil nas suas relaes internacionais, conforme o art. 4, VIII, ou seja, inadmissvel que esta forma de discriminao ainda exista na sociedade brasileira. Existem algumas leis federais tambm tratando do tema, aqui enumeradas: a Lei n 7.716 de 05 de janeiro de 1989, a tambm conhecida por LEI CA, visa a tutelar a igualdade racial, descrevendo punies para crimes que configurem racismo: Art. 1 Sero punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminao ou preconceito de raa, cor, etnia, religio ou procedncia nacional. Nesta lei esto previstos vrios crimes e penas ao racismo. Lei n 9.459 de 15 de maio de 1997, que corrige e modifica alguns artigos da lei acima citada. Lei 8.081 e a Lei 8.082 de 03 de junho de 1994, que introduziram no Artigo 140 do Cdigo Penal o pargrafo 3: Artigo 140- Injuriar algum, ofendendo-lhe a dignidade ou decoro. Pena: deteno de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Pargrafo 3 - Se a injria consiste da utilizao de elementos relacionados raa, cor, etnia, religio ou origem: Pena: recluso de 1 (um) a 3 (trs) anos e multa.
Lei 9.455 de 07 de abril de 1997, a chamada Lei da Tortura prev em seu artigo 1, inciso I, letra c: Constitui crime de tortura: I constranger algum com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou mental: c) em razo de discriminao racial ou religiosa.
Lei n 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que obriga a temtica Histria e Cultura Afro-Brasileira na Rede de Ensino. Lei n 10.678 de 23 de maio de 2003, que cria a Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade Racial, da Presidncia da Repblica. Em 2003, o senador Paulo Paim, apresentou um projeto de lei n3.198/00 que seria o Estatuto da Igualdade Racial, em defesa dos que sofrem preconceito ou discriminao em funo de sua etnia, raa e/ou cor, porm, o projeto ainda no foi aprovado, o que um ponto a menos para a populao afro-descendente, que teria sua disposio um forte instrumento de combate a discriminao racial. O Brasil signatrio do tratado internacional da Conveno sobre a eliminao de todas as formas de discriminao racial, de 1968, que segundo a Constituio da Repblica, deve ser aplicado: Art. 5, 2: Os direitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte. A respeito da aplicabilidade dos tratados, Hdio Silva Jnior: Tal como qualquer lei federal, o tratado internacional vincula, fixa direitos e deveres e obrigaes para a Unio, Estados, Distrito Federal, municpios e, naturalmente, particulares.(SILVA JNIOR, 2003, p. 110). Essa conveno resultou em um tratado que visa eliminao de todas as formas de discriminao racial, estabelecendo metas a serem cumpridas, como por exemplo, a proibio do apartheid ou de qualquer outro tipo de segregao racial. Na Declarao Universal dos Direitos Humanos, tambm presente o repdio discriminao racial, conforme seu art. 2: Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declarao, sem distino de qualquer espcie, seja de raa, cor, sexo, lngua, religio, opinio poltica, ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condio.
Quanto aplicabilidade das leis de combate ao racismo, a partir da diferenciao entre preconceito e discriminao, o professor Hdio Silva Jr (2000), afirma que o preconceito no passvel de punio, tendo em vista se tratar do pensamento no exteriorizado. Nesse caso
caberia, segundo o autor, a tentativa de persuaso por meio da mdia, do sistema educacional e outros instrumentos, dando enfoque tolerncia, ao pluralismo e diversidade. J contra a discriminao, entendida pelo o autor como a exteriorizao do preconceito, caberia a sano, a punio. Para aqueles que incentivassem a pluralidade, por meio de cotas ou outras aes, o autor sugere sanes premiais.
3. CONCLUSO
O princpio da igualdade consagrado constitucionalmente, portanto, deve ser observado na sua integridade para que se atenda aos fundamentos do Estado Democrtico de Direito de se construir uma sociedade fraterna. Analisando-se as estatsticas apresentadas, pudemos ver que o mito da democracia racial ainda existe no Brasil, mas que no tem fundamento, pois, o racismo ainda prtica visvel em nossa sociedade e merece que vrias foras se voltem para sua erradicao. A discriminao visvel em todos os segmentos da nossa sociedade, como visto acima, educao, mercado de trabalho, e outras atitudes cotidianas que demonstram que, apesar do segregacionismo brasileiro no ser to evidente como em pases tais como frica do Sul e Estados Unidos, ele existe de forma velada e no menos cruel, da ser necessrio o seu reconhecimento para que se lute para o seu fim.
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