Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
23 DE DEZEMBRO
A pobreza que o Senhor nos pede a todos não é sujeira, nem miséria, nem
desleixo, nem preguiça. Essas coisas não são virtude. A pobreza que o cristão
tem que viver deve ser uma pobreza ligada ao trabalho, ao cuidado da casa e
dos instrumentos de trabalho, à ajuda aos outros, à sobriedade de vida. Por
isso já se disse que “foram sempre o melhor exemplo de pobreza esses pais e
essas mães de família numerosa e pobre que se desfazem pelos filhos e que
os mantêm com o seu esforço e constância – muitas vezes sem voz para dizer
a ninguém que passam necessidades –, criando um lar alegre onde todos
aprendem a amar, a servir, a trabalhar”5.
II. OS POBRES a quem o Senhor promete o Reino dos céus8 não são todos
os que padecem necessidade, mas aqueles que, tendo ou não bens materiais,
não se sentem presos a eles. É uma pobreza segundo o espírito, que deve ser
vivida em qualquer circunstância da vida. Eu sei viver na abundância – dizia
São Paulo – e sei viver na fome e na escassez9.
O homem pode orientar a sua vida para Deus, usando de todas as coisas
materiais como meios, ou pode ter como fim o dinheiro e a riqueza nas suas
múltiplas manifestações: desejos de luxo, de comodidade desmedida, ambição,
cobiça... São dois fins inconciliáveis: Não se pode servir a dois senhores10. O
amor à riqueza desaloja violentamente o amor a Deus: não é possível que
Deus possa habitar um coração que já está cheio de outro amor. A palavra
divina fica afogada no coração do rico, como a semente que cai entre
espinhos11. Por isso não nos surpreende ouvir o Senhor ensinar que é mais
fácil a um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que a um rico entrar no
Reino dos céus12. E como é fácil, se não se está vigilante, que o espírito de
riqueza invada o coração!
A Igreja tem-nos recordado sempre, desde o seu início até os nossos dias,
que o cristão deve estar de sobreaviso quanto ao modo de utilizar os bens
materiais, e “chama a atenção dos seus filhos para que cuidem de orientar
rectamente os seus afectos, a fim de que não aconteça que o uso das coisas
do mundo e o apego às riquezas, contrário ao espírito de pobreza evangélica,
os impeça de alcançar a caridade perfeita. Lembra-lhes a advertência do
Apóstolo: Os que usam deste mundo não se detenham nele, porque os
atractivos deste mundo passam (cfr. 1 Cor 7, 31)”13. Quem se apega às coisas
da terra não só perverte o seu uso recto e destrói a ordem estabelecida por
Deus, mas, além disso, fica com a alma insatisfeita, prisioneira desses bens
materiais que a tornam incapaz de amar verdadeiramente a Deus.
É tão importante esta virtude para um cristão, que bem se pode dizer que
“quem não ama e vive a virtude da pobreza não tem o espírito de Cristo. E isto
é válido para todos: tanto para o anacoreta que se retira para o deserto, como
para o simples cristão que vive no meio da sociedade humana, usando dos
recursos deste mundo ou carecendo de muitos deles...”14
(1) Lc 14, 33; (2) cfr. Mt 4, 2; (3) cfr. Mt 17, 23-26; (4) Mt 8, 20; (5) S. Josemaría Escrivá,
Questões actuais do cristianismo, 3ª ed., Quadrante, São Paulo, 1986, n. 111; (6) Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Sobre a liberdade cristã e a libertação, 22-III-
1986, 66; (7) 2 Cor 8, 9; (8) Mt 5, 3; (9) Fil 4, 12; (10) Mt 6, 24; (11) Mt 13, 7; (12) Mt 19, 24;
(13) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 42; (14) S. Josemaría Escrivá,
Questões actuais do cristianismo, n. 110; (15) ibid., n. 111; (16) ibid., n. 110.